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A Importância da Habitação na Saúde

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Academic year: 2021

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A Importância da Habitação na Saúde

e

na Reprodução do Trabalhador

(Brasileiro)

Graziela de Oliveira*

A habitação é um dos elementos imprescindíveis na reprodu-cão da força de trabalho.

Para manter e desenvolver a sua força de trabalho, o homem necessita abrigar-se. 0 tipo de abrigo varia segundo a época histó-rica considerada, segundo as condições econômico-materiais da sociedade. As condições de moradia dependem, ainda, das exi-gências impostas pelos membros da sociedade, ou seja, do seu grau de organização política.

A moradia preenche, pois, não apenas uma necessidade, como também uma exigência cultural. Necessidade e exigência são de-terminadas pelo mesmo contexto sócio-cultural.

As condições materiais da habitação agem de diversas formas sobre a saúde do indivíduo.

Uma habitação insalubre, com pouca ventilação e pouca ilumi-nação prejudica diretamente a saúde de seus habitantes. No caso brasileiro, a doença de Chagas, por exemplo, está intimamente ligada as condições materiais da habitação.

A exigüidade da moradia pode, por sua vez, impedir o isola-mento de um indivíduo enfermo dos outros membros do grupo arriscando, assim, pela simples falta de espaço habitacional, a saúde dos demais. A moradia condiciona, ainda, o comportamento do indivíduo. Onde não há oportunidade de privacidade pode surgir um comportamento repressivo e reprimido.

A habitação é um bem de consumo mediatizado pelo dinheiro. Habitar não é um pressuposto, mas sim um resultado do trabalho. Isto 6, na sociedade capitalista onde a apropriação dos bens neces-

(2)

sários à reprodução do indivíduo não é condição para o trabalho,

mas resultado do trabalho, o trabalhador primeiro tem que

tra-balhar, para depois, então, habitar. O indivíduo não trabalhador — o capitalista não necessita trabalhar para habitar, pelo simples

fato de ser ele o proprietário das condições objetivas de trabalho e clue possibilitam a produção da habitação.

0 consumo da habitação depende, pois, da quantidade de dinheiro que o indivíduo pode dispor, ou, em outras palavras, do seu poder aquisitivo.

Resumidamente, as condições de habitação no Brasil se

en-contram da seguinte maneira:

1. Qualidade da habitação

0 IBGE distingue dois tipos de habitação: duráveis e rústicas.

Como duráveis são classificadas as habitações com as seguin-tes características: "...paredes de tijolos, pedra, adobe ou madeira aparelhada; cobertura de telha, zinco ou laje de concreto; piso de madeira, cimento, ladrilho ou mosaico".

As habitações rústicas, por sua vez, são aquelas nas quais predominam "paredes e cobertura de taipa, sapé, madeira não

aparelhada, material de vasilhame usado e piso de terra batida." 1

Segundo as estatísticas do IBGE, em 1970 havia 17.628.699 habitações no Brasil. Destas, 13.007.920 foram classificadas como

duráveis e 4.620.799 (26%) como rústicas. (1)

Em 1978, a situação era a seguinte: de 23.100.567 habitações, 20.041.817 eram duráveis e 3.058.750 eram rústicas.( 2)

No espaço de oito anos houve tanto um aumento no número total de habitações como no de habitações duráveis e uma redução

no número de habitações rústicas. Mesmo assim é grande o nú-mero de moradias cuja qualidade do material de construção não

corresponde ao estágio do desenvolvimento material alcançadc,

pelo Pais nem às condições mínimas necessárias para a preser-vação da saúde.

Embora os dados estejam globalizados e não discriminem os

habitantes por faixas de renda, não é demasiado inferir-se que as

(3)

cipalmente pelas camadas de baixo poder aquisitivo.

Junto com a qualidade da habitação, deve ser vista a condição sanitária da mesma.

1.1

— Condição sanitária

das

habitações

Do total de habitações existentes em 1970, 6.953.647 não

pos-suíam nenhum tipo de instalação sanitária. Em 1976 esse número

sofreu um pequeno decréscimo, passando para 6.266.477.( 1 ) Em relação ao tratamento de esgoto, a situação era a seguinte, no total do Pais: em 1960, 1970, 1973, respectivamente, o percen-tual de habitações com canalização/sistema de esgoto/fossa sépti-ca era de 23,8%, 26,6% e 39,1%.( 3)

Embora sofrendo ligeiros aumentos, o percentual de habita-pões que possui tratamento de esgoto ainda é muito pequeno. A

insuficiência de canalização e/ou de fossas sépticas é

especial-mente grande nas áreas rurais. Em 1970 apenas 1,7% das habita-pões rurais eram providas de fossas. Em 1978, esse percentual aumentou para 3,0%. (2 )

No que se refere ao abastecimento d'água, nos anos de 1950, 1970 e 1973 apenas 15,6%, 33,3% e 41,1% das habitações no Brasil

possuíam Agua corrente (Agua da rede geral, de fontes, etc).(3) 0 destino dos dejetos e o tipo de abastecimento d'água das

habitações são clq grande importância não apenas para a saúde dos moradores das respectivas habitações mas também para a saúde

da comunidade em geral. Dejetos lançados a céu aberto contri-buem para a disseminação de epidemias na comunidade, assim

como o uso de águas não tratadas, estagnadas em tonéis e/ou em outros recipientes.

1.2 — Tamanho da habitação em relação ao número de moradores

Do total de 17.628.699 habitações existentes em 1970, 498.641 (1,82%) eram de um único cômodo, 1.697.186 (9,6%) tinham dois

cômodos e 2.941.854 (16,6%) tinham três cômodos. O número de

(4)

Habitações de n° de pessoas p/habitação 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 e + FONTE: IBGE, ,Anuário Estatístico do Brasil - 1978.

Um grande número de indivíduos-exatamente 2.1'9.436, isto

6,

23% da população, em 1970, morava em condições impróprias para o desenvolvimento da sua personalidade. Esta parte da popu-lação é forçada a viver em habitações superlotadas, onde as pes-soas necessitam reprimir-se em vários aspectos, para que não

ocor-ram freqüentemente conflitos abertos, o que é normal sob tais condições de moradia. A tranquilidade para leitura ou para

intros-pecção, para o descanso depois de uma jornada de trabalho, muito dificilmente pode ser encontrada, principalmente nas habitações

de um só cômodo.

Uma habitação de um só cômodo, onde dez pessoas dormem,

comem, cozinham etc; 6 uma cela onde elas vegetam e se atrofiam. Em 1970 havia, por exemplo, 3.236 moradias de um só cômodo

que abrigavam dez pessoas. Havia ainda 3005 moradias de 1 so

cômodo, onde moravam onze e mais pessoas.

2 - Condições de moradia

Quanto As condições de moradia, 10.631.603 habitações eram

próprias, 3.355.117 eram alugadas e 3.641.974 eram habitadas sob

condições diversas.

2.1 - Relação de aluguel

Uma pesquisa da PUC-RJ nos oferece uma visão dos pregos de

aluguel no Brasil.

cômodo 2 cômodos 3 cômodos

(5)

Segundo esta pesquisa o prego médio do aluguel variou-em

Salvador, por exemplo, no ano de 1977, de acordo com os bairros da cidade. 0 aluguel em um bairro urbanizado, que dispõe de transporte coletivo, canalização, serviços públicos, como escola, 6,

na regra, mais caro do que em outros bairros menos urbanizados que não dispõem de infra-estrutura físico e social. 0 aluguel ainda é condicionado por outros fatores e varia dentro de um mesmo ano considerado.

No terceiro quartel de 1977 o aluguel variou em Salvador entre

Cr$ 2.726,00 e Cr$ 6.384,00. No último quartel do ano a variação foi de Cr$ 2.976,00 a Cr$ 6.723,00.( 4)

No mesmo período, no Rio de Janeiro, o aluguel variou entre Cr$ 2.799,00 e Cr$ 7.066,00, o que representava 252% e 639% do

salário mínimo da época. No último quartel a variação do aluguel

foi de Cr$ 3.014,00 a Cr$ 7.637,00 e perfazia 272% e 690% do salário

mínimo oficial.

A diferença nos preços se relaciona às diferenças no tamanho das habitações de aluguel, na qualidade e na localização das

mesmas.

No Rio de Janeirc, por exemplo, o aluguel de uma moradia de um (1) cômodo num bairro da zona sul (a zona melhor provida de infra-estrutura) custava em janeiro de 1978 Cr$ 3.588,00. Um ano mais tarde, em 1979, custava Cr$ 4.739,00, o que indica uma varia-cão de prego de 32,1%.

0 aluguel mais caro, em 1978 — para uma moradia de 5 cô-modos -- na zona sul era de Cr$ 15.135,00 e perfazia 970% do salá-rio mínimo da época. 0 aluguel mais barato, por sua vez, era de Cr$ 2.408,00, para uma moradia de dois cômodos na zona suburba-na 7. Este preço. perfazia 154% do salário mínimo. A zona (subur-bana 70 considerada na pesquisa dista de 2h a 2h30min de ônibus

ou de trem do centro da cidade.

Em todos os casos, os aluguéis das habitações (*) situavam-se num nível superior ao do salário mínimo. Assim, para um grande (*) Estes dados são baseados nos anúncios de jornais e nas ofertas de agências

(6)

número das famílias trabalhadoras não resta outra solução que não seja abrigar-se numa habitação favelada e ou periférica. Em 1977, por exemplo, enquanto o salário minimo era de Cr$ 1.106,40, o aluguel mais barato era de Cr$ 2.799,00. Em 19780 salário minimo era de Cr$ 1.560,00 e o aluguel mais barato era Cr$ 2.408,00; em 1979, para um salário minimo de Cr$ 2.268,00, o aluguel mais baixo era de Cr$ 3.458,00.0)

3. Habitação favelada e habitação periférica

Os altos presos de aluguel no perímetro urbano obrigam as fa-milias trabalhadoras a buscar uma habitação na favela e/ou na periferia da cidade.

As habitações periféricas podem ser duráveis ou rústicas, pro-vidas de instalações sanitárias ou não. Todas, no entanto, ficam afastadas do centro da cidade, obrigando o trabalhador a empreen-der uma viagem de 2 a 3 horas até o seu local de trabalho, aumen-tando, assim, a sua jornada de trabalho, e seu cansaço físico e mental, devido, entre outras coisas à precariedade do sistema de transportes coletivos. As habitações faveladas, por seu turno, são geralmente rústicas, construídas com material aproveitado — madeira, zinco, papelão, etc. e em terrenos apropriados pelos mo-radores. Raramente ocorre que uma habitação favelada esteja ligada aos sistemas de esgoto e de abastecimento d'água.

No Rio de Janeiro por exemplo, havia 350 favelas no ano de 1979. Nestas favelas viviam mais de 1.000.000 de pessoas.(5) Segundo uma outra fonte (6/ o número de favelas era de 321, onde em 180.000 moradias viviam 1,4 milhões de pessoas, isto 6, 25% da população total do Estado do Rio de Janeiro.*

Em 1979, surgiram 19 novas favelas num único bairro do Rio de Janeiro, onde 5.078 moradias foram levantadas(7) 0 surgimento de

favelas dá conta entre outras coisas, da insuficiência do salário em cobrir as necessidades de moradia.

(7)

3.1 — Infra-estrutura e situação higiênica

Os serviços públicos geralmente não se encarregam do sanea-mento e urbanização de áreas faveladas. Assim, os serviços de esgoto e canalização e tratamento do lixo são praticamente inexis-tentes. As favelas localizadas sobre palafitas — em áreas de charco ou de maré, como a favela da Maré na Baia de Guanabara, são as que estão mais expostas a endemias e epidemias.

De modo geral, pois, as condições habitacionais da classe trabalhadora brasileira prejudicam a manutenção a manutenção da força de trabalho do trabalhador e de sua família contribuindo para um desgaste prematuro da sua saúde.

A política habitacional 6, indiretamente, política de saúde. privilégio do acesso à moradia que dispõe de infra-estrutura higiê-nica-sanitária ás camadas de poder aquisitivo 6, ao mesmo, um subprivilégio das camadas de baixo poder aquisitivo no acesso a condições saudáveis de moradia e respectivamente na manutenção de sua saúde. A existência do trabalhador está na dependência da venda de sua força de trabalho. Para continuar vendendo a sua força de trabalho e, portanto, continuar existindo na sociedade capitalista, o trabalhador precisa manter a sua força de trabalho em condições normais de saúde e lutar para impedir um desgaste prematuro de sua fonte de renda, ou seja, de sua força de trabalho. Melhores condições de habitação atendem, então, tanto os interes-ses do capital quanto os do trabalho. Em condições de oferta abundante de trabalho, em que um trabalhador desgastado pode ser facilmente substituído por outro, mais jovem e mais saudável, a exigência de melhores condições de moradia extrapola o campo do especificamente econômico.

REFERENCIA

1. IBGE, Anuário Estatístico do Brasil — 1978. 2. Idem, 1980.

3. Banco Mundial. Brazil, Human Resources Special Report. Washington D.C. 1979.

4. PUC-RJ/NEURB. Pesquisa sobre a evolução dos aluguéis. Rio, janeiro de 1979.

Referências

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