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Ética, Cidadania e Direitos Humanos

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Academic year: 2022

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Ética, Cidadania e Direitos Humanos

Disciplina na modalidade a distância

3ª edição revista

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Campus UnisulVirtual Avenida dos Lagos, 41 Cidade Universitária Pedra Branca Palhoça – SC - 88137-100 Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279- 1271

E-mail: cursovirtual@unisul.br Site: www.virtual.unisul.br Reitor Unisul

Gerson Luiz Joner da Silveira Vice-Reitor e Pró-Reitor Acadêmico

Sebastião Salésio Heerdt Chefe de Gabinete da Reitoria

Fabian Martins de Castro Pró-Reitor Administrativo Marcus Vinícius Anátoles da Silva Ferreira

Campus Sul

Diretor: Valter Alves Schmitz Neto Diretora adjunta: Alexandra Orsoni Campus Norte

Diretor: Ailton Nazareno Soares Diretora adjunta: Cibele Schuelter Campus UnisulVirtual Diretor: João Vianney

Diretora adjunta: Jucimara Roesler

Equipe UnisulVirtual

Avaliação Institucional Dênia Falcão de Bittencourt Biblioteca

Soraya Arruda Waltrick

Capacitação e Assessoria ao Docente

Angelita Marçal Flores (Coordenadora) Caroline Batista Cláudia Behr Valente Elaine Surian Noé Vicente Folster Patrícia Meneghel Simone Andréa de Castilho Coordenação dos Cursos Adriano Sérgio da Cunha Aloísio José Rodrigues Ana Luisa Mülbert Ana Paula Reusing Pacheco Bernardino José da Silva

Eduardo Aquino Hübler Fabiana Lange Patrício (auxiliar) Fabiano Ceretta

Franciele Arruda Rampelotti (auxiliar)

Itamar Pedro Bevilaqua Jairo Afonso Henkes Janete Elza Felisbino João Kiyoshi Otuki Jucimara Roesler Lauro José Ballock Luiz Guilherme Buchmann Figueiredo

Luiz Otávio Botelho Lento Marcelo Cavalcanti Marciel Evangelista Catâneo Maria da Graça Poyer

Maria de Fátima Martins (auxiliar) Mauro Faccioni Filho

Michelle Denise D. L. Destri Moacir Fogaça

Moacir Heerdt Nélio Herzmann Onei Tadeu Dutra Patrícia Alberton Raulino Jacó Brüning Rose Clér Estivalete Beche Rodrigo Nunes Lunardelli Criação e Reconhecimento de Cursos

Diane Dal Mago Vanderlei Brasil Desenho Educacional Carolina Hoeller da Silva Boeing (Coordenadora)

Design Instrucional Ana Cláudia Taú

Carmen Maria Cipriani Pandini Carolina Hoeller da Silva Boeing Cristina Klipp de Oliveira Daniela Erani Monteiro Will Flávia Lumi Matuzawa Karla Leonora Dahse Nunes Leandro Kingeski Pacheco Lucésia Pereira

Silvana Souza da Cruz Viviane Bastos Acessibilidade Vanessa de Andrade Manoel Avaliação da Aprendizagem Márcia Loch (Coordenadora) Karina da Silva Pedro Lis Airê Fogolari Design Visual

Vilson Martins Filho (Coordenador)

Alice Demaria Silva

Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro Diogo Rafael da Silva Edison Rodrigo Valim Fernando Roberto Dias Zimmermann Higor Ghisi Luciano Pedro Paulo Alves Teixeira Rafael Pessi

Disciplinas a Distância Enzo de Oliveira Moreira (Coordenador)

Gerência Acadêmica Márcia Luz de Oliveira Bubalo Gerência Administrativa Renato André Luz (Gerente) Marcelo Fraiberg Machado Naiara Jeremias da Rocha Valmir Venício Inácio Gerência de Ensino, Pesquisa e Extensão Moacir Heerdt

Gerência de Produção e Logística

Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)

Ana Paula Pereira Francisco Asp Gestão Documental Janaina Stuart da Costa Lamuniê Souza

Logística de Encontros Presenciais

Graciele Marinês Lindenmayr (Coordenadora)

Aracelli Araldi Hackbarth Daiana Cristina Bortolotti Daiane Teixeira Douglas Fabiani da Cruz Fabiana Pereira Fernando Steimbach Letícia Cristina Barbosa Marcelo Faria Simone Zigunovas Formatura e Eventos Jackson Schuelter Wiggers Logística de Materiais Jeferson Cassiano Almeida da Costa (Coordenador)

Carlos Eduardo Damiani da Silva Geanluca Uliana

Luiz Felipe Buchmann Figueiredo

Monitoria e Suporte Adriana Silveira Anderson da Silveira Andréia Drewes André Luiz Portes

Bruno Augusto Estácio Zunino Caroline Mendonça

Claudia Noemi Nascimento Cristiano Dalazen Ednéia Araujo Alberto Fernanda Farias Jonatas Collaço de Souza Josiane Leal

Karla Fernanda Wisniewski Desengrini

Maria Eugênia Ferreira Celeghin Maria Isabel Aragon

Maria Lina Moratelli Prado Poliana Morgana Simão Priscilla Geovana Pagani Rafael Cunha Lara Tayse de Lourdes Cardoso Relacionamento com o Mercado

Walter Félix Cardoso Júnior Secretaria de Ensino a Distância

Karine Augusta Zanoni

Albuquerque (Secretária de ensino) Andréa Luci Mandira

Andrei Rodrigues Carla Cristina Sbardella Djeime Sammer Bortolotti Franciele da Silva Bruchado James Marcel Silva Ribeiro Jenniffer Camargo Liana Pamplona Luana Tarsila Hellmann Marcelo José Soares

Micheli Maria Lino de Medeiros Rosângela Mara Siegel Silvana Henrique Silva Vanilda Liordina Heerdt Vilmar Isaurino Vidal Secretária Executiva Viviane Schalata Martins Tenille Nunes Catarina (Recepção) Tecnologia

Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coordenador)

André Luis Leal Cardoso Júnior Jefferson Amorin Oliveira Marcelo Neri da Silva Phelipe Luiz Winter da Silva

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Este livro didático corresponde à disciplina Ética, Cidadania e Direitos Humanos.

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância,

proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a um aprendizado contextualizado e efi caz.

Lembre-se que sua caminhada, nesta disciplina, será acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fi ca

caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores e instituição estarão sempre conectados com você.

Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como:

telefone, e-mail e o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem, que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e recebido fi ca registrado para seu maior controle e comodidade.

Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual

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José Dimas d’Avila Maciel Monteiro

Palhoça

Design instrucional

Carmen Maria Cipriani Pandini Daniela Erani Monteiro Will

Viviane Bastos

3ª edição revista

Ética, Cidadania e Direitos Humanos

Livro didático

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170A54 Marim, Caroline Izidoro (Org.)

Ética, cidadania e direitos humanos: livro didático / Caroline Izidoro Marim, Fernanda Frizzo Bragato; José Dimas d’Avila Maciel Monteiro; design Instrucional: Carmen Maria Cipriani Pandini, Daniela Erani Monteiro Will, Viviane Bastos. – 3. ed. rev. – Palhoça : UnisulVirtual, 2008.

164 p.: il.; 28 cm.

Inclui bibliografi a.

1. Ética. 2. Cidadania. 3. Direitos humanos. I. Monteiro, José Dimas d’Avila Maciel. II. Pandini, Carmen Maria Cipriani. III. Will, Daniela Erani Monteiro. IV. Bastos, Viviane. IV. Título.

Edição – Livro Didático Professor Conteudista

Caroline Izidoro Marim Fernanda Frizzo Bragato José Dimas d’Avila Maciel Monteiro

Design Instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini Daniela Erani Monteiro Will (3ª edição revista)

Viviane Bastos

Projeto Gráfi co e Capa Equipe UnisulVirtual

Diagramação Rafael Pessi Edison Valim (3ª edição revista)

Revisão Ortográfi ca Heloísa Mano Dornelles

Ficha catalográfi ca elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul

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Apresentação . . . 03

Palavras dos professores . . . 09

Plano de estudo . . . 11

UNIDADE 1 – Cidadania e Direitos Humanos: aproximações preliminares . . . .17

UNIDADE 2 – Fundamentos éticos e morais do comportamento humano . . . . 39

UNIDADE 3 – Ética Aplicada . . . 67

UNIDADE 4 – Fundamentos fi losófi cos e políticos dos Direitos Humanos . . . 89

UNIDADE 5 – Direitos Humanos . . . .117

Para concluir o estudo . . . .145

Referências . . . .147

Sobre os professores conteudistas . . . .155

Respostas e comentários das atividades de auto-avaliação . . . .157

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É com grande alegria que produzimos este material, com ele podemos apresentar-lhes questões da mais alta relevância social; temas como os que agora você vai estudar estão na ordem do dia e constituem os fatores mais poderosos de transformação social. Infelizmente, no mundo em que vivemos o que se vê com grande freqüência é a ausência de ética nas relações, o

desrespeito aos direitos mais básicos do ser humano e a falta do exercício de cidadania.

Os problemas que a sociedade vive, atualmente, estão intimamente ligados à ignorância sobre os temas tratados neste livro e estão relacionados, também, à pouca

importância atribuída a eles no decorrer da história.

Raros são os sistemas formais de educação no Brasil que percebem a importância da introdução da Filosofia e da Ética no ensino de suas disciplinas técnicas. É importante percebermos que os temas em estudo nesse curso não são noções isoladas, ao contrário, devem permear a conduta do ser humano, como um paradigma no desempenho e no entendimento de qualquer objeto de estudo. É certamente com este intuito que escrevemos este livro didático para vocês párea que sirva de

instrumento de estudo e para que seus princípios sejam vivenciados no cotidiano.

Bom estudo!

Os professores.

(10)
(11)

O plano de estudos visa a orientar você no

desenvolvimento da disciplina. Nele você encontrará elementos que esclarecerão o contexto da disciplina e sugerirão formas de organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se

complementam, portanto, a construção de competências se dá sobre a articulação de metodologias e por meio das diversas formas de ação/mediação.

São elementos desse processo:

o livro didático;

„

o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem

„

– EVA;

Atividades de avaliação (auto-avaliação, à

„

distância e presenciais).

Ementa

Fundamentos éticos e morais do comportamento

humano. Panorama das relações humanas na sociedade.

Ética, moral e sociedade. Ética como prescrição de condutas. Ética nas organizações. Código de ética.

Cidadania. Direitos humanos: aspectos fi losófi cos, históricos, jurídicos, políticos e sociais. As declarações Internacionais. Direitos humanos e a Constituição Brasileira de 1988. Direitos humanos no Brasil:

atualidade e desafi os. Grupos vulneráveis: igualdade

(12)

Objetivos da disciplina

Identifi car e compreender os princípios fundamentais

„

que norteiam o debate sobre ética, cidadania e direitos humanos, fazendo o resgate de conceitos importantes da ética e da política, tais como: liberdade, igualdade e justiça, observando como eles constituem a base para o debate sobre cidadania e direitos humanos.

Examinar historicamente os aspectos fi losófi cos,

„

históricos, jurídicos, políticos e sociais dos direitos humanos, com vistas a refl etir sobre questões, tais como: os direitos humanos no Brasil e na sociedade multicultural, declarações internacionais de direitos humanos, relação cidadão e Estado e ética na Administração Pública.

Conteúdo programático/objetivos

Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que você deverá alcançar ao fi nal de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade defi nem o conjunto de conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à sua formação.

Unidades de estudo: 5

Unidade 1 – Cidadania e Direitos Humanos: aproximações preliminares A primeira unidade do livro didático visa à compreensão das diversas relações que o homem, enquanto cidadão, estabelece com o mundo, isto é, com a cidade, partindo da refl exão acerca dos fundamentos éticos e políticos que norteiam o debate sobre cidadania e direitos humanos. Pretende, também, esclarecer o que compreende a esfera pública e a esfera privada e qual a abrangência de nossa participação como cidadãos, nessas esferas.

E fi naliza o debate, situando-lhe em torno de algumas questões atuais e desafi os sobre os direitos humanos, que se encontram intimamente ligados ao debate moderno sobre a cidadania.

(13)

Unidade 2 – Fundamentos éticos e morais do comportamento humano Esta unidade proporciona condições para que se possa diferenciar ética de moral, defi nir o conceito e os estudos em ética, conhecer as principais teorias éticas, bem como para se perceber a

importância do estudo da ética no século XXI.

Unidade 3 – Ética Aplicada

Com esta unidade você conhecerá as aplicações práticas da ética em nosso cotidiano pessoal, profi ssional e social, ressaltando as relações entre ética e direitos humanos. Visa, ainda, relacionar a ética com a administração pública, situar o debate contemporâneo sobre ética na administração pública, relacionando-a aos princípios administrativos; e oportunizar uma compreensão do papel que os códigos de ética desempenham no âmbito de atuação dos agentes públicos.

Unidade 4 – Fundamentos fi losófi cos e políticos dos direitos humanos Na Unidade 4, conheceremos as principais razões políticas e fi losófi cas que propiciaram o surgimento dos direitos humanos na Modernidade, observando que os direitos humanos, como valores voltados para a proteção e a promoção da dignidade humana, nem sempre existiram na história da humanidade, porque a pessoa, enquanto indivíduo, não ocupava uma posição central na sociedade. Por isso, observaremos como os direitos humanos passaram a fazer sentido politicamente, a partir das teorias do contrato social pensadas por fi lósofos como Hobbes, Locke, Rousseau e Kant para explicar as relações do homem com o mundo. Partindo da mesma forma de explicar a sociedade e o Estado, estudaremos como o poder se insere nessa relação e produz os discursos de verdade, aos quais o direito está intimamente ligado.

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Unidade 5 – Direitos Humanos

Na quinta Unidade, observaremos um panorama geral das principais questões ligadas aos direitos humanos. Em relação aos aspectos históricos, entraremos em contato com as primeiras idéias que, mais tarde, contribuíram para a formação da moderna teoria dos direitos humanos. Poderemos observar, ainda, como se deu o processo de afi rmação dos direitos no século XVII e as subseqüentes fases de evolução até nossos dias. Quanto aos aspectos jurídicos, estudaremos as formas e os instrumentos de sua efetivação no sistema internacional e brasileiro de proteção dos direitos humanos. Conheceremos, também, a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, de 1948, para o processo de universalização e afi rmação dos direitos humanos. E, por fi m, situaremos o debate dos direitos humanos em face do fenômeno do multiculturalismo.

Agenda de atividades/ Cronograma

Verifi que com atenção o Espaço UnisulVirtual de

„

Aprendizagem – EVA e se organize para acessar

periodicamente o ambiente da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorização do tempo para a leitura, da realização de análises e sínteses do conteúdo e da interação com os seus colegas e tutor.

Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço

„

a seguir as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA.

Use o quadro para agendar e programar as atividades

„

relativas ao desenvolvimento da disciplina.

(15)

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

(16)
(17)

1

Cidadania e Direitos Humanos:

aproximações preliminares

Objetivos de aprendizagem

Compreender as diversas relações que o homem

„

estabelece com o mundo, isto é, do cidadão com a cidade.

„ Identifi car os fundamentos éticos e políticos que norteiam o debate sobre cidadania e direitos humanos.

„ Esclarecer o que compreende a esfera pública e a esfera privada e qual a abrangência de nossa participação como cidadãos nessas esferas.

Conhecer os principais desafi os sobre os direitos humanos.

„

Seções de estudo

Seção 1 Cidadania.

Seção 2 A esfera pública e a esfera privada.

Seção 3 Direitos humanos: atualidades e desafi os.

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Para início de estudo

Quando falamos de cidadania, estamos falando do ser humano e de sua relação com outros seres humanos em sociedade. Por isso, nosso estudo se inicia com questões fi losófi cas que procuram apresentar quais são os fundamentos históricos da cidadania, ou seja, como se constitui a relação cidadão/cidade.

Você conhecerá também alguns problemas que norteiam o debate fi losófi co sobre a cidadania, por meio de questões que compreendam quais são nossos papéis enquanto cidadão, na esfera pública e na esfera privada.

Portanto, esta unidade tem como foco a refl exão fi losófi ca sobre os aspectos históricos que norteiam o debate sobre cidadania e direitos humanos e sobre os fundamentos éticos e políticos que deles decorrem, bem como o debate sobre desafi os contemporâneos sobre os direitos humanos, enfatizando o problema do multiculturalismo.

SEÇÃO 1 - Cidadania

O pensamento fi losófi co, geralmente, não é considerado a-

histórico, sem pátria, nem acima do bem e do mal. Ao contrário, parece estar contextualizado, possui identidade, relaciona-se com o mundo ao qual pertence. Aliás, vale ressaltar que a fi losofi a é fi lha da sociedade, identifi ca-se com ela e com o ser humano. Os conceitos de sociedade e de ser humano são, por conseqüência, questões fi losófi cas. Tais questões serão abordadas a seguir.

Primeiramente, o ser humano é, de um modo, a medida para que a sociedade, cidade-estado (polis), esteja organizada e conduza seus cidadãos e seu povo ao bem comum. O pano de fundo dessa organização é a relação entre cidade/cidadão. Uma das imagens mais recorrentes para se compreender o que representa essa

relação, neste contexto, é a imagem da embarcação: assim como o timoneiro consegue guiar sua embarcação por rota segura, mesmo em águas turbulentas, observando a posição dos astros, que é “fi xa”, os seres humanos também podem guiar a vida da cidade e sua própria vida. Ora, se há ordem no céu, deve haver

Por utilizar o mar em diversas atividades, as imagens, envolvendo tal contexto, é comum entre os gregos.

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ordem na cidade, deve haver leis universais que organizam a vida da sociedade e promovam o bem comum.

Desde os gregos, a relação entre cidade/cidadão, polis/povo, ocupou boa parte das refl exões fi losófi cas. Uma das questões centrais era a refl exão sobre a condição humana e uma possível natureza social do ser humano, ou seja, se os seres humanos eram naturalmente inclinados à vida em grupo, em comunidade.

A tese que alimentou tal possibilidade foi sustentada por

Aristóteles. Afi rma Aristóteles, na obra Política (1997, p.15): “O homem por natureza é um animal social”. Mas como entender isso?

A natureza, segundo Aristóteles, deu ao homem a disposição para a vida em sociedade, e se todas as coisas tendem a realizar sua natureza, pode o homem concluir que deveria realizá-la, pois é através dessa realização que os seres humanos visam a alcançar um bem, ou seja, seria contra a natureza humana viver fora da sociedade. Isso indica uma relação indissociável entre o ser humano e a sociedade, entre o cidadão e a polis (cidade-estado).

Mas o que é polis? Você acabou de ver que signifi ca

“cidade-estado”. O que mais você sabe sobre polis? Sistematize a seguir, antes de prosseguir. Escreva tudo o que sabe, sem se preocupar se está certo ou errado.

Uma tese contrária a esta é a dos Contratualistas, como você observará na Unidade 4.

Você estudará que essa visão foi profundamente alterada na Modernidade, com a afi rmação do individualismo.

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Segundo Aristóteles (1997), toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda comunidade se forma com vistas a algum bem se todas as comunidades visam a algum bem, é evidente que a mais importante de todas elas, e que inclui todas as outras, tem mais que todas este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade política.

O bem a que se refere Aristóteles é o bem comum, forjado na base de toda cidade, devendo ela promovê-lo e dar condições aos seus cidadãos de alcançá-lo. Na obra Ética a Nicômaco (1095b), Aristóteles considera que a fi nalidade da ciência política é o bem do homem, que é mais desejável alcançá-lo ou persegui-lo para uma cidade do que para um único homem. Este bem do homem é a felicidade, e é na cidade que o homem se realiza, se identifi ca, se torna feliz. É uma via de mão dupla: não há homem feliz sem a cidade o ser; não há cidade feliz sem o homem o ser. Para ajustar tal via, Aristóteles considerava que os homens deveriam ser educados para agirem de modo bom, mediante o hábito de ações virtuosas, que forma seu caráter, contribuindo para o bem da cidade.

A afi rmação de Aristóteles pode auxiliar na compreensão de seu pensamento: “Não são os mais belos e os mais fortes que conquistam a coroa, mas os que competem (pois é dentre estes que hão de surgir os vencedores), também as coisas nobres e boas da vida só são alcançadas pelos que agem retamente”.

(1999, 1099 a).

Outro fi lósofo grego que se dedicou a investigar a relação entre homem e sociedade foi Platão. Com sua Alegoria da Caverna, em seu livro A República, Platão dizia que, para atingir o bem, era necessária a sabedoria. Este percurso não era somente de ida, pois caberia ao fi lósofo retornar à caverna para “governá-la”.

Ela é, também, a imagem da cidade, onde muitos não sabem o que fazem, precisam ser “resgatados” da ignorância a fi m de compreenderem seu papel na polis.

Não há como “fugir” dela, há como melhorá-la.

Num pequeno texto chamado Críton (1994, p. 109), Platão descreve um memorável diálogo entre Sócrates e as “leis da República”, a respeito da insistência de Críton para que Sócrates fugisse da prisão. Dizem as leis da República:

Você verá, na Unidade 2, a base da Ética de Virtudes, que tem como fundamento parte do pensamento de Aristóteles.

Veja o texto da Alegoria da Caverna no Saiba Mais dessa unidade.

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Sócrates, o que vais fazer? Levar teu projeto a cabo não implica destruir-nos completamente, uma vez que de ti dependem, para nós, as leis da República e a todo o Estado? Acreditas que um Estado pode subsistir quando as sentenças legais nele não tem força e, o que é mais grave, quando os indivíduos as desprezam e destroem?

A possibilidade de fuga de Sócrates poria, segundo as leis, toda a cidade em perigo. Por quê? Porque cidadão e polis são indissociáveis, ao menos como ideal. Os interesses privados claramente confrontam-se com os interesses públicos, muitas vezes justos. Mas, em Platão, não há dúvida, a ação isolada pode implicar prejuízo para o bem comum e, com isso, para toda a cidade.

O diálogo Criton ilustra claramente a relação cidadão-cidade na Grécia Antiga, na medida em que nenhum direito individual é invocado contra a má aplicação das leis as quais devem ser preservadas, mesmo que disso decorram injustiças a um determinado indivíduo.

Será que é possível viver dessa maneira?

A Metáfora da Nau

Outro aspecto que contribui para compreendermos a relação entre cidadão e cidade na Grécia Clássica foi a metáfora da Nau. Por sua característica geográfi ca, a Grécia sempre teve o mar como aliado e, talvez por isso, usou-o como imagens freqüentes para dar explicações acerca do mundo. Numa delas, um timoneiro de uma nau (barco), mesmo diante de um mar revolto, conseguia guiá-la ao destino desejado, orientando-se pela posição dos astros no céu. Mesmo diante das mudanças dos ventos, das marés e de toda intempérie, a nau era conduzida a seu destino. Ora, se havia ordem nos astros no céu, por sob o

Você estudará que, na Modernidade, muitos autores justifi cam a desobediência civil com base na preservação de direitos individuais, o que não se mostrava coerente na Grécia Antiga.

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certo, ainda que cercado por tempestades, o ser humano pode conduzir suas vidas pública e privada, guiando-as pelas leis que a relação cidade/cidadão deve constituir para alcançar o bem comum. Mas Aristóteles faz um alerta:

Quem quiser realizar de maneira conveniente uma investigação sobre a melhor forma de governo, deverá necessariamente decidir primeiro qual é o modo de vida mais desejável para os habitantes da cidade, pois enquanto houver incerteza a propósito deste ponto também haverá incerteza quanto à melhor forma de governo.

(Política, Livro VII)

Há, desse modo, uma expressiva consideração sobre a relação cidade/cidadão: o ser humano em sociedade pode organizar sua vida, e essa organização é inerente à sua condição.

Nesse sentido, a metáfora da Nau pode nos levar a refl etir sobre os conceitos de administração, ordenamento, condução, controle. Hoje, tais conceitos são lugar comum nas mais diversas atividades humanas, como: administrar um negócio e a própria vida; ordenar processos industriais; conduzir políticas públicas;

controlar gastos e a violência urbana.

Com base no que você aprendeu sobre a fi losofi a política grega, refl ita sobre a condição do homem nesse tipo de sociedade e em que bases se assentava o direito nessa época.

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Na Modernidade houve uma espécie de “revolução copernicana”

no modo de compreender a relação do homem com a sociedade, graças a uma visão de mundo que privilegiava o indivíduo em relação à coletividade. Isso está intimamente ligado à nova conformação antropocêntrica de mundo a partir do século XV e XVI, que resultou numa reformulação do modo de pensar o Estado, a sociedade e o direito, com o surgimento da categoria

“sujeito de direito” atribuída ao homem, decorrendo daí a idéia moderna dos direitos subjetivos, invocáveis principalmente contra o Estado que cada vez mais interferia nas relações humanas.

No Renascimento europeu, em torno do século XIV, irrompeu um novo modo de conceber certos aspectos da cultura ocidental marcando o momento inicial da história moderna européia. O Renascimento foi palco das grandes descobertas marítimas, da reforma Protestante, da física newtoniana e das teorias revolucionárias de Copérnico e Galileu Galilei e, portanto, aparece como um momento privilegiado da humanidade ocidental, anunciando uma revelação laica.

O “humanismo” ganhou destaque nesse momento, afi rmando- se, defi nitivamente, como o discurso da supremacia do homem enquanto indivíduo e frente ao grupo/sociedade, substituindo o sistema teleológico da sociedade antiga e o sistema mental hierárquico da sociedade medieval por uma perspectiva

individualista. Essa perspectiva parte de um conjunto de valores inerentes à natureza humana, que podem ser identifi cados no princípio da dignidade humana. Propôs, assim, uma consciência puramente humana de que não se pode submeter o homem a opressões e alienações, ainda que essa “idealização do humano”

tenha levado à tendência do perfeito e do excelente, traduzindo- se, em geral, não mais que a dimensões aristocráticas e

nobiliárias.

Perpassando o pensamento moderno, o humanismo sustentou-se em diversas teorias de grandes pensadores da época, marcadas, principalmente, por concepções universalistas e racionais.

René Descartes defi niu o homem como ser racional de cuja

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pelo homem, resgatando-o, assim, do obscurantismo. Descartes supõe a superioridade do homem sobre todos os bens desejados.

A expressão “Penso, logo existo” exprime o valor superior do homem em relação a tudo o que ele pode fazer e pensar.

A atribuição de valor individual do homem pode ser percebido também em Locke, ao priorizar os direitos existentes antes do pacto social em relação à coletividade e ao Estado Civil, a quem o autor reconhece um poder apenas limitado de ingerência na esfera privada do indivíduo. Segundo sua teoria, o Estado nasce como produto da vontade de homens livres que se unem com o fi m de garantir seus direitos de liberdade e propriedade adquiridos no hipotético estado de natureza, onde os mesmos, embora existentes, eram precários.

A idéia do direito natural foi retomada da escolástica clássica e tomista, cujo pressuposto era a ordem e a regulação natural do cosmos ao qual o homem estava integrado e subordinado. Como percebemos, partia-se, na Antiguidade Clássica, da existência de um mundo harmonioso, um justo universal tanto humano quanto físico, no qual cada um encontraria seu lugar previamente fi xado pelo grande plano da Natureza, como se estivesse desenhado de antemão em um projeto arquitetônico.

No entanto, o renascimento da idéia do direito natural pressupôs uma inversão de signifi cado do termo “natureza das coisas”, passando-se a compreendê-lo como referência a racionalidade e liberdade humanas: o direito restará radicado na razão individual, como uma qualidade moral do homem, pois a razão é o que representa a natureza humana. O homem moderno libertou- se dos laços e regras sociais, na medida em que somente sua racionalidade - e não os papéis pré-defi nidos na ordem social - determinava a sua condição de ser no mundo, pois, de “simples peça” de um todo organizado, transformou-se em ser dotado de liberdades pessoais e naturais.

Ao reconhecer a liberdade inata do homem, já não se admite submetê-lo aos papéis pré-defi nidos pelo grupo, senão

reconhecer-lhe direitos à livre consciência e ao desenvolvimento racional de sua personalidade. Sob esse contexto, o direito passou a equiparar-se a um poder de vontade garantido ao sujeito, alterando profundamente, na modernidade, a relação do cidadão com a cidade. A construção do discurso em torno da

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fi gura central do homem determinou, portanto, o surgimento das categorias jurídicas que norteiam a aplicação e a formulação das normas jurídicas dos atuais sistemas jurídicos do Ocidente e as formas e comportamentos políticos e sociais da atualidade.

SEÇÃO 2 – A esfera pública e a esfera privada

Vamos dar um pouco mais de atenção à frase apresentada:

“Não há homem feliz sem a cidade o ser; não há cidade feliz sem o homem o ser”. Como podemos perceber, ao falarmos em cidadania, estamos falando de ética e política e, como diziam os gregos, as duas eram inseparáveis e uma dependia da outra.

Assim, agora é importante percebermos melhor qual a relação da ética com a cidadania, como o comportamento ético é a base para sermos cidadãos plenos.

O que signifi ca ser cidadão? Ser cidadão signifi ca ser sujeito de direitos e deveres. Cidadão é, pois, aquele que está capacitado a participar da vida da cidade, da polis, isto é, de agir politicamente, transformando a cidade e se transformando a partir dela.

E o que tem a ver a ética com a cidadania?

Para se responder a essas indagações, é preciso considerar um elemento especifi co em torno do qual gira a questão, o homem enquanto indivíduo é visto como um indivíduo egoísta, que elege quais são os seus valores morais enquanto indivíduo, elegendo muitas vezes apenas o que o agrada e o que o favorece. Mas, enquanto cidadão, isto é, sujeito coletivo, é uma pessoa moral, que possui direitos e deveres escolhidos socialmente, os quais cada indivíduo possuirá sempre em detrimento de outros.

Como assinala Marx, “O direito do homem à liberdade não se baseia na união do homem com o homem, mas, pelo contrário, na separação do homem em relação a seu semelhante. A

liberdade é o direito a esta dissociação, o direito do indivíduo

Para o fi lósofo iluminista, Immanuel Kant, não existe bondade natural, pois, por natureza, somos egoístas, ambiciosos, destrutivos, agressivos, cruéis, ávidos de prazeres, que nunca nos saciam e pelos quais matamos, mentimos, roubamos. Portanto, é justamente por isso que precisamos do dever

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Desse modo, o verdadeiro exercício de cidadania somente é possível quando conseguimos conciliar o homem individual que conhece seus valores pessoais, mas que, ao estabelecer relações de convívio com os outros homens, em sociedade, reconhece que ele se torna livre ao reconhecer no outro sua liberdade, tornando-se, assim, um cidadão ético, um indivíduo consciente e responsável, que tomará como seu próprio ideal o ideal de toda a humanidade.

Na Antiguidade greco-romana e também na Idade Média, não se conhecia a distinção entre esfera pública e privada que se tornou patente na Modernidade a partir da consagração da concepção contratualista de Estado e sociedade.

Até o século XVI, aproximadamente, não se concebia a idéia do homem como indivíduo, o que veio a ocorrer com a consolidação do individualismo. O individualismo é um modo de conceber o homem centrado na fi gura do indivíduo que se caracteriza como uma unidade referencial básica da sociedade. Estabelece um discurso de valorização do indivíduo e sua supremacia frente ao grupo e aos demais, a partir da aceitação de um conjunto de valores inerentes à natureza humana, que podem ser identifi cados no princípio da dignidade humana. É, assim, uma atitude que privilegia o indivíduo em relação à coletividade.

Anteriormente à formação das sociedades modernas, o homem, enquanto indivíduo, era uma abstração frente ao grupo. Quando Aristóteles diz que o homem é um animal político, ele pretende dizer que, à diferença de outros animais, o homem não pode viver senão em sociedade.

Embora os gregos conhecessem a distinção entre a esfera social, à qual pertence a política, a esfera individual, à qual pertence a ética, e entre a vida ativa, que se desenvolve na sociedade, e a vida contemplativa, que se refere ao indivíduo isolado, não se preocupavam com a distinção dos vários âmbitos no interior da esfera social, reconhecidos na modernidade. Isso porque a polis grega era o grande ente onde toda a sociedade se resumia, pouco importando as individualidades dentro do todo harmônico do qual faziam parte. Essa era a visão teleológica do Estado e da Sociedade.

Logo, a cidadania na Antiguidade implicava o exercício de direitos e deveres no espaço da polis, criando o elo entre o

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homem livre e a cidade, ou seja, no espaço do mútuo convívio das pessoas (livres) e que interessava à ética e à política.

Circunscrevendo-se o exercício da cidadania à esfera da polis, não importava a separação entre público e privado.

Vamos, agora, contextualizar esse debate na modernidade e pós- modernidade, substituindo a relação cidadão/cidade, presente na polis grega, pela relação entre esfera pública e esfera privada.

Ao fazer esse deslocamento, passamos o debate para os séculos XVIII, XIX e XX e percebemos que a idéia de cidadania assume nova feição.

Na modernidade, a separação entre público e privado passou a determinar a essência e a forma de exercício da cidadania. A cidadania já não está mais ligada à condição que se tem na cidade e no Estado (a polis grega), mas à condição humana mesma do indivíduo, e passa a ocorrer em esferas distintas: no espaço público, onde o indivíduo é cidadão, e no espaço privado, onde o indivíduo é simplesmente pessoa. Daí a distinção entre direito público e direito privado e o surgimento da fi gura do sujeito de direitos.

Na modernidade, no período das revoluções burguesas, se acreditava que o poder político era formado por uma esfera

pública impessoal, ou seja, por instituições que eram separadas da sociedade civil e reguladas pelo Estado. Já na pós-modernidade, a crença no poder do Estado é derrubada e os micropoderes, disciplinadores da vida privada e da sociedade civil, são revelados.

Assim, enquanto a modernidade se preocupa com os direitos individuais, a pós-modernidade passa a se preocupar com as minorias, isto é, mulheres, homossexuais, negros, idosos, etc. Na modernidade, os conceitos principais são a igualdade e a liberdade, mas, na pós-modernidade, esses conceitos são substituídos pelos conceitos de dignidade e alteridade. Desse modo, na Modernidade percebe-se que a cidadania ainda ostentava traços antigos, na medida em que só o cidadão era titular de direitos e deveres, enquanto hoje, na pós-modernidade, a cidadania, através do reconhecimento universal dos direitos humanos, passou a poder ser exercida na esfera internacional,

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Sistematize o que você sabe acerca da condição do homem, enquanto indivíduo, na esfera da jurisdição internacional (leia-se, os Tribunais internacionais).

É importante perceber que há diferenças no modo de entendermos a cidadania, ou a relação homem/sociedade, ou esfera pública e esfera privada, do ponto de vista político, por isso tantas formas de governo foram experimentadas ao longo de nossa história. Mas ainda vivemos o mesmo confl ito de como conciliar o meu desejo ao do outro, como ser livre, respeitando a liberdade do outro. Por isso, na próxima unidade, aprofundaremos o debate ético, para compreendermos quais são os fundamentos éticos e morais do comportamento humano.

SEÇÃO 3 – Direitos Humanos: atualidades e desafi os

Os direitos humanos são aqueles que, historicamente, foram identifi cados ou reconhecidos aos seres humanos, pelo simples fato de serem eles o que são. Costuma-se identifi car suas origens fi losófi cas e políticas aos acontecimentos históricos e às teorias jusnaturalistas e contratualistas da Modernidade Européia (séculos XVII e XVIII), como se observará no Estudo da

Unidade 5. Em virtude de sua gênese histórica, destaca-se, dentre suas principais características, a concepção de direito preexistente à sociedade e ao Estado, já que a imagem de homem criada nesse contexto histórico era a individualista.

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A visão dos modernos sobre o Estado e a Sociedade alterou-se profundamente em relação aos antigos, sobretudo os gregos, que viam uma indissociável e necessária ligação entre a esfera pública e a privada. Na Modernidade, essa relação passou a ser concebida como um contrato, em que cada homem alienava parcela de sua autonomia em favor do Estado, cujo papel se resumiria a garantir a não intervenção no domínio privado dos cidadãos, mantendo intocáveis os direitos já presentes no hipotético Estado de Natureza.

No processo de afi rmação dos direitos humanos, destacam-se a Declaração dos Direitos da Virgínia e a Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776), além da Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), onde as liberdades individuais adquiriram contornos bem delimitados. Os direitos liberais aí previstos possuíam nítida conotação burguesa e desencadearam o espírito individualista que norteiam as relações sociais até hoje.

A concepção individualista dos direitos humanos levou Marx a afi rmar que esses (droits de l’homme) nada mais eram que os direitos do membro da sociedade burguesa, isto é, do homem egoísta, separado do homem e da comunidade. A conclusão marxista decorre do fato de ser a liberdade o direito humano por excelência. Segundo Marx, a liberdade consiste no direito de fazer e empreender tudo aquilo que não prejudique o outro, ou seja, é um direito que se baseia, não na união do homem com o homem, e sim na separação deste em relação ao seu semelhante.

Por outro lado, entendia que a aplicação prática deste direito era a propriedade privada - fundamento da sociedade burguesa -, que nada mais é do que “desfrutar do patrimônio e dele dispor arbitrariamente”.

Devido às transformações sócio-políticas ao longo do século XIX, com a revolução industrial e emergência do capitalismo e das classes sociais, e do século XX, com o surgimento de confl itos de dimensões mundiais ou globais, os direitos humanos foram assumindo uma nova feição e

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no século XIX, quando os direitos civis já haviam conquistado substância sufi ciente. Não se tratava de formação de um novo conceito de direitos e sim de doação de velhos direitos a novos setores da população. No século XVIII, os direitos políticos eram defi cientes no conteúdo e na distribuição, tanto que o direito ao voto era monopólio de grupos estritamente identifi cados com o poder econômico.

Por outro lado, o aprofundamento do pensamento liberal,

caracterizado pelo apego aos valores do individualismo, andou de mãos dadas com a alteração radical no modo de vida promovida pela industrialização. O processo industrial fez surgir as classes operárias e o fenômeno da urbanização, os quais acabaram refl etindo na concentração do trabalho imposta pelo modelo industrial e produtivo, bem como na relação desse com a qualidade de vida das pessoas.

O modelo jurídico liberal teve como reação a profusão das idéias socialistas, onde emergiu uma nova concepção de Estado, que passou a ter funções positivas, assumindo um papel regulador e promotor do bem-estar, sobretudo após 1945. O Estado passou a assumir importante papel no terreno dos direitos humanos, devido aos direitos conquistados pelos novos setores da sociedade e à necessidade de promoção dos mesmos, negada pelo modo de produção capitalista que privilegia a concentração de riqueza e a exclusão da maioria.

O surgimento dos direitos sociais e o alargamento dos direitos políticos representaram a inserção do Estado na questão dos direitos humanos e esse foi o grande desafi o do século XX, pois poucas Nações conseguiram responder a essa demanda. É o caso dos Estados Unidos da América e de alguns países da Europa, sem contar o Japão, a Austrália e a Nova Zelândia. O restante do mundo continuou convivendo com a negação sistemática dos direitos humanos sociais e políticos à grande maioria da população que, por isso, não desfrutaram sequer de seus direitos de liberdade.

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Enquanto no século XX, buscava-se responder às demandas dos novos direitos ou dos velhos direitos aos novos setores da população, os confl itos bélicos de ordem global, as inovações tecnológicas, o crescente autoritarismo dos Governos, entre outros fatores, revelaram ao mundo a situação de violação generalizada dos direitos humanos sob novas formas, como poluição ambiental, exclusão ou extermínio de minorias, genocídios e exploração econômica dos povos.

A resposta encontrada foi a crescente positivação dos direitos humanos, seja em âmbito interno, com a previsão nas respectivas Constituições dos Países, seja no âmbito internacional, a partir de 1945, com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e seus sucessivos Pactos e Declarações Internacionais de Direitos Humanos. O conteúdo das novas prescrições baseou-se na amplitude global e difusa das violações dos direitos humanos, levando a Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, de 1948, a proclamá-los universais, isto é, de validade universal. No entanto, existe ampla divergência em torno do reconhecimento do caráter universal dos direitos humanos.

Dentre as principais objeções à sua universalidade, pode-se destacar:

a) a idéia dos direitos humanos está ligada a pressupostos válidos apenas para os povos europeus;

b) a idéia dos direitos humanos ignora a diversidade cultural e a base social das identidades pessoais, logo, pressupõe dissocialização e aculturação dos seres humanos;

c) a noção dos direitos não é encontrada em muitas sociedades, pois é um conceito recente, até mesmo nas sociedades ocidentais e inerente à Modernidade Européia. Por outro lado, o crescente reconhecimento jurídico dos direitos humanos não representou o fi m das violações, pois essas se mantiveram freqüentes.

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Portanto, no início do novo século os desafi os que os direitos humanos enfrentam transcendem a crítica de Marx, pois, formalmente, pode-se admitir que seu reconhecimento é

generalizado e não apenas limitado ao homem burguês, devido à ampla adesão dos Países aos pactos e Declarações Internacionais de Direitos Humanos. Hoje, podemos concluir que os direitos humanos convivem com os seguintes problemas:

a) apesar de tantas declarações internacionais e legislações nacionais, asseguradoras dos direitos humanos, as violações dos direitos humanos crescem e os Estados, ou mesmo a ordem internacional, não dispõem de mecanismos efetivos para a sua garantia e promoção;

b) fi losofi camente, muitos sustentam que seu fundamento é individualista e, por isso, contestam qualquer

possibilidade de validez universal, negando a

possibilidade de serem invocados como meio de proteção de muitos povos.

Como se pode perceber, a concepção moderna de direitos humanos foi sendo alterada ao longo do tempo, ao passo que hoje representam uma categoria de direitos que abriga e protege a existência e o exercício das diferentes capacidades do ser humano e que encontram, na idéia de dignidade humana, o seu ponto convergente. Hoje, podemos dizer que são direitos humanos, não apenas o direito à liberdade e à vida, mas também o direito à saúde, à educação, à moradia, ao meio ambiente saudável, entre outros. Por isso, os valores que norteiam a afi rmação e a prática dos direitos humanos são a dignidade e a alteridade, de modo que os direitos humanos se inserem na sociedade como um componente ético, implicando, além da participação do Estado, um comprometimento da sociedade e da comunidade internacional.

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Síntese

Nesta unidade, você percebeu que a idéia de cidadania não é nova, que ela nasceu na Grécia, antes de Cristo, e tinha como principal objetivo mostrar a relação direta entre o homem e a polis, isto é, segundo Aristóteles, a natureza deu ao homem a disposição para a vida em sociedade, e viver fora da sociedade seria contra a natureza humana. Portanto, não há homem feliz sem a cidade o ser; não há cidade feliz sem o homem o ser.

Você também teve a oportunidade de esclarecer as mudanças ocorridas na idade moderna e pós-moderna, em que o debate sobre a cidadania passa a ser travado na discussão sobre esfera pública e esfera privada, ocorrendo uma substituição do modelo grego, que dá mais atenção ao bem comum, para o nascimento de uma sociedade de direitos individuais na modernidade e, posteriormente, de minorias na pós-modernidade.

Em relação aos direitos humanos, você pôde compreender que seu surgimento está atrelado, fi losófi ca e politicamente, aos acontecimentos da Modernidade Européia (séculos XVII e XVIII). Porém, as transformações ocorridas na sociedade nos séculos posteriores fi zeram com que os direitos humanos assumissem novos papéis e alcançassem um número cada vez maior de seres humanos, a ponto de serem considerados, hoje, direitos universais. Por dependerem de atuação estatal, por estarem ligados a pressupostos fi losófi cos amplamente contestáveis do ponto de vista universal e por representarem um núcleo de tensão nas relações sociais, os direitos humanos têm encontrado grandes desafi os para verem-se implementados na prática.

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Atividades de auto-avaliação

1. Por que, para os fi lósofos gregos, cidadão e polis são indissociáveis?

2. Quais são as principais mudanças da relação esfera privada e esfera pública na modernidade e na pós-modernidade?

3. Aristóteles considera que a fi nalidade da ciência política é o bem do homem, e é mais desejável alcançá-lo ou persegui-lo para uma cidade do que para um único homem. Explique a partir da frase de Aristóteles, qual a relação entre ética e cidadania.

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4. Quais os principais avanços e as principais difi culdades de implementação dos direitos humanos na atualidade?

Saiba mais

1) Para aprofundar as questões abordadas nesta unidade, você poderá consultar as seguintes obras:

ARISTÓTELES.

„ Ética a Nicômaco. 2. ed. Brasília:

Ed. Universidade de Brasília, 1985.

BOFF, L.

„ Ética da Vida. Brasília: Letra Viva, 2000.

„ , Saber Cuidar. Petrópolis: Vozes, 2000.

CHAUÍ, Marilena.

„ Convite à fi losofi a. São Paulo:

Ática, 1998.

„ , Público, Privado, Despotismo. In: Novaes (org), Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

BORGES, Maria de Lourdes et al.

„ O que você precisa

saber sobre Ética. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

GIANOTTI, José A.

„ A Moralidade Pública

e Moralidade Privada. In: Novaes (org). Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

HABERMAS, J.

„ Consciência moral e agir comunicativo.

Trad. Guido A. de Almeida. Rio de Janeiro: Tempo

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MILL, John Stuart.

„ O Utilitarismo. São Paulo:

Iluminuras, 2000.

PLATÃO.

„ A República. 8. ed. Lisboa: Fund. Calouste Gulbenkian, 1996.

RAWLS, John.

„ Uma teoria da justiça. Lisboa: Presença, 1993.

SAVIANI, Dermeval.

„ Conferência no “Congresso

Nacional de Educação para o Pensar e Educação Sexual”. Florianópolis, 2001.

TUGENDHAT, E.

„ Lições sobre Ética. 4. ed.

Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1996.

2) Sugestão de fi lmes:

Diários de motocicleta – O fi lme, com direção de Walter Salles, conta a história de Che Guevara (Gael García Bernal), quando era um jovem estudante de Medicana que, em 1952, decide viajar pela América do Sul com seu amigo Alberto Granado (Rodrigo de la Serna). A viagem é realizada em uma moto, que acaba quebrando após 8 meses. Eles então passam a seguir viagem por meio de caronas e caminhadas, sempre conhecendo novos lugares. Porém, quando chegam a Machu Pichu, a dupla conhece uma colônia de leprosos e passa a questionar a validade do progresso econômico da região, que privilegia apenas uma pequena parte da população. Este fi lme propicia uma refl exão sobre como nos constituímos, enquanto sujeitos, nas relações com os outros, enquanto fazemos o nosso próprio caminho.

A Praia – “Em um hotel barato de Bangcoc, Richard (Leonardo DiCaprio) conhece Françoise (Virgine Ledoyen) e Étienne (Guillaume Canet), um casal de franceses. Ele também encontra Patolino (Robert Carlyle), um viajante mais velho, marcado por anos de sol e drogas. De forma paranóica, Patolino conta a Richard a improvável história de uma ilha secreta, um paraíso na Terra, a praia perfeita sem a presença de turistas. No dia seguinte, Richard encontra um mapa desenhado à mão da ilha descrita por Patolino, preso na sua porta. Ele vê nisto “algo diferente”, pois não pretende fazer a mesma coisa que todos os outros turistas; assim, Richard vai

Sinopse extraída do site: http://

adorocinema.cidadeinternet.com.

br/fi lmes/a-praia/a-praia.htm

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procurar Patolino e descobre que ele se suicidou, cortando os pulsos. Richard persuade Françoise e Etienne a se juntarem a ele em uma viagem, seguindo o mapa de Patolino. Para irem até “a praia”, eles arriscam suas vidas ao nadarem, em mar aberto, de uma ilha para outra, se arrastando e correndo de guardas armados, que vigiam uma plantação de maconha, e pulando de uma cachoeira, mas ao chegarem ao sonhado destino encontram uma pequena comunidade de viajantes, que, como eles, encontraram “a praia” e vivem em segredo.

Eles recebem as boas-vindas do grupo, e esta parte da ilha paradisíaca se torna a casa deles, deixando para trás o mundo que conheciam. Mas na realidade este céu na Terra não é tão perfeito. Confl itos pessoais e ciúmes criam uma violenta rivalidade, e trágicos eventos dividem a comunidade. Bastante isolado e transtornado, Richard não sabe o que fazer, pois o sonho se tornou um pesadelo, e o paraíso virou um inferno.

Agora sua única meta é partir. Mas a fuga não será fácil, pois “a praia” é um lugar secreto, que alguns defenderão até a morte.”

O fi lme proporciona uma discussão interessante sobre a constituição do sujeito, tanto pela resistência e sujeição à ditadura da comunidade, quanto pela resistência e sujeição aos apelos do consumo.

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2

Fundamentos éticos e morais do comportamento humano

Objetivos de aprendizagem

Diferenciar ética de moral.

„

Defi nir o conceito e os estudos em ética.

„

Conhecer as principais teorias éticas.

„

Perceber a importância da ética no séc. XXI.

„

Seções de estudo

Seção 1 Moral e Ética.

Seção 2 Teorias éticas.

Seção 3 Ética em tempo de Globalização.

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Para início de estudo

Falar sobre ética é uma tarefa entusiasmante, pois percebemos a grande contribuição que ela pode dar à vida em sociedade, mas, ao mesmo tempo, ela pode nos revelar o longo caminho que ainda temos a trilhar para que alcancemos a felicidade.

A ética é um dos temas mais trabalhados no pensamento fi losófi co contemporâneo. Talvez, neste espaço de tempo

compreendido entre o fi m do século que passou e início deste, a humanidade esteja mais preocupada com esse conjunto de normas e regras morais de conduta e comportamento, em decorrência do grande “vazio moral”. Até mesmo na guerra e entre os bandidos há a necessidade de se estabelecerem regras, se imporem limites, de aprendermos a nos relacionar uns com os outros, dentro desse estreito presente.

Em todos os âmbitos da sociedade pós-moderna, são imperativas a discussão e a refl exão sobre inúmeras questões, como a ética dos negócios, a bioética, a ética na Internet. No campo da ciência e da técnica, discute-se o papel dos cientistas e das pesquisas, questionando-se se elas são neutras. Discute-se eticamente a eutanásia, o uso de grãos transgênicos e suas conseqüências para a saúde humana, a manipulação genética capaz de criar clones animais e, quem sabe, até clones humanos.

A ética não é apenas uma abstração acadêmica, não consiste em apenas criticar (julgar) os vícios ou virtudes de terceiros, mas em fazer uma análise dos próprios vícios e virtudes, além de discutir como legitimar a ação profi ssional de cada grupo perante o conjunto da sociedade.

É fundamental discutir nosso papel na sociedade, pois nenhuma profi ssão e nenhum profi ssional conseguirão se manter ilesos perante o conjunto da sociedade. Hoje, lutamos cada vez mais para garantir nossos direitos como profi ssionais e cidadãos, portanto precisamos assumir uma posição coerente com as duas condições pelas quais somos sujeitos dentro da sociedade. Em um momento assumimos a posição do profi ssional que respeita os direitos dos cidadãos, em outro, somos o cidadão que quer ser respeitado.

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Notamos, desse modo, que, no rastro da globalização, o conceito de cidadania passa a ser um valor universal, não apenas nas

relações das empresas e profi ssionais com seus consumidores, mas com o meio ambiente em geral, seja artifi cial, cultural ou natural.

É fundamental que nos percebamos como uma partícula nesse imenso ecossistema, que precisa dele e que pode defendê-lo.

Por isso, precisamos formar pessoas críticas de suas próprias profi ssões, que tenham a visão abrangente, para entenderem qual o seu papel profi ssional no novo milênio e que adquiram a capacidade de interagirem com outros setores e de atenderem às expectativas da opinião pública.

SEÇÃO 1 - Moral e Ética

A ética vem do berço? O que você acha?

Registre suas impressões para depois continuar a discussão. Use o espaço abaixo.

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Na introdução da unidade, você percebeu a importância da ética para a vida em sociedade.

Mas será que é possível dizer que todos nós somos éticos, ou há uma diferença que faz com que digamos que, em uma determinada situação, um sujeito agiu eticamente e, em outro caso, não?

Para responder a essa questão, é necessário diferenciar senso moral de consciência moral. Primeiramente, quando falamos que todos os humanos são seres morais, estamos falando que todos nós temos um senso moral diante dos acontecimentos da vida, mas ter consciência do signifi cado de nossos atos é bem diferente.

O atual governo federal tem como principal campanha a “Fome Zero”, uma luta contra a fome. Diante dessa luta, fi camos sensibilizados quando vemos, em reportagens da TV, cenas em que aparecem crianças e adultos do nosso sertão nordestino que não têm ao menos água para beber.

A sensação que temos é de indignação diante da realidade brasileira e do descaso de nossas autoridades, para solucionar um problema tão antigo e freqüente em nossa história. De certo modo, também nos sentimos responsáveis por aquelas crianças e, movidos pela solidariedade, participamos de campanhas contra a fome; no inverno, de

campanhas do agasalho, etc. Nesse caso, podemos dizer que os sentimentos despertados e as ações praticadas são frutos de nosso senso moral. Portanto, todos seres humanos têm senso moral.

Entretanto, se perguntarem a você se é correta a eutanásia, podem surgir as seguintes questões: Se a pessoa estiver sentindo dores fortes, é correto desligar as máquinas que a mantêm viva?

É preferível deixá-la morrer? É correto existir uma lei que proíba a eutanásia, ou há casos em que ela pode ser correta?

Podemos agir de acordo com nossas crenças, mas como um médico deveria se portar diante de tal situação? É difícil responder a essas questões, pois nossa decisão afeta os outros e temos dúvida quanto ao que realmente é correto. Nossa consciência moral é colocada à prova, pois devemos saber o que

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nos levou a considerar tal ação como certa ou errada, devemos justifi car nossos atos para as outras pessoas e sermos responsáveis por nossas escolhas. Devemos apontar as razões que nos levaram a considerá-la correta.

Quando nos vemos diante de situações que nos suscitam dúvidas sobre a forma correta de conduzirmos nossas ações, levamos em consideração os valores que adquirimos ao longo de nossas vidas, porque nossos pais ou professores nos ensinaram, ou porque nossa religião diz o que é certo e o que é errado, ou porque nós temos realmente consciência de nossos atos? Valores como justiça, honra e generosidade são a base para avaliarmos o que é correto.

Mas o modo como nos portarmos diante deles é variável, pois, quando apenas seguimos o que é correto porque nossos pais nos ensinaram, não temos ainda consciência do real valor de agir de acordo com eles.

Isso é ter ética ou moral? Para você, o que é ética e o que é moral? Sistematize sua resposta no espaço abaixo antes de prosseguir.

Ética:

Moral:

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“O senso e a consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos, intenções, decisões e ações , referidos ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade.”

(CHAUÍ, 1997, p. 335)

Vamos ver a diferença entre ética e moral e situá-las no contexto de estudo?

O que é Ética?

Costume, modo de ser ou caráter. Área de estudo da fi losofi a que se propõe a pensar as ações humanas, seus princípios e normas, buscando distinguir entre o bem e o mal.

O que é Moral?

Costumes, valores e obrigações adquiridos por hábito e

compartilhados por um grupo ou sociedade em um determinado tempo histórico.

O termo ética vem da palavra grega ethos e pode ter dois

signifi cados, pois na língua grega existem duas vogais para nossa vogal “e”, a vogal epsilon, que é breve, e a vogal eta, que é longa.

Por isso, ethos, com a vogal longa, signifi ca costumes, e com a vogal breve, caráter, isto é, temperamento ou modo de ser de um sujeito.

Quando defi nimos ethos, por costume essa defi nição é equivalente a moral, que vem do latim mores, que também signifi ca costume.

Portanto, nesse caso, moral e ética tratam da mesma questão, dos costumes de um determinado grupo ou sociedade, dos valores que elegemos coletivamente como corretos.

Mas, ética também é defi nida como modo de ser ou caráter, mostrando seu caráter individual, no qual o sujeito admite os valores aceitos por sua sociedade como sendo seus também, pois entende seu signifi cado e sabe qual a importância de agir de acordo com eles. Assim, pode-se dizer que ele realmente é virtuoso.

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Portanto, ética difere de moral, pois chamamos de moral os costumes que são adquiridos por hábito, de cujo signifi cado o sujeito não tem consciência, o que não acontece com o sujeito ético, que sabe e conhece por que age de acordo com um determinado valor ou princípio.

Qual é o papel da ética?

Fazer a análise dos valores, pensar seus fundamentos, sua origem e fi nalidades. O campo da ética procura defi nir o agente ético, ao atribuir responsabilidade ao sujeito, que livremente decide e escolhe o que faz e tem consciência dos princípios que elege como correto. A ação ética é norteada pelas idéias de bem e mal, justo e injusto, virtude e vício. Assim, uma ação só será ética se consciente, livre e responsável; será virtuosa se realizada em conformidade com o bom e o justo; se for livre, só o será se for autônoma, isto é, se resultar de uma decisão interior do próprio agente e não de uma pressão externa através da punição, ou estímulo. (CHAUÍ, 1997)

Quando agimos moralmente?

Podemos dizer que agimos moralmente em todos os momentos, mas isso não signifi ca que sempre estamos sendo éticos. Vamos analisar o exemplo da farra do boi, ainda praticada em Santa Catarina:

Ao avaliarmos a prática da farra do boi, podemos considerá-la correta do ponto de vista moral, já que a prática desse ritual é considerada boa e valorosa.

Mas, quando avaliamos do ponto de vista ético, podemos argumentar que o interesse de os animais não sentirem dor deve ser levado em consideração.

Quando colocamos nossa espécie como superior à dos animais, estamos sendo especistas, pois tanto nós como os animais somos seres sensíveis à dor e temos o mesmo interesse em não senti-la.

Na próxima unidade, você conhecerá a relação entre ética e direitos humanos e verá como há direitos humanos que são universais, isto é, direitos que são válidos para qualquer ser humano, independente dos costumes culturais de sua sociedade.

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