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SAÚDE MENTAL NA MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE

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Academic year: 2022

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Volume 5 – Edição 1 - 2021

SAÚDE MENTAL NA MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE

Eduardo Carvalho de Souza1; Fabiana Regina Henriques2; Geraldo Magela Nogueira Marques3;

Mara Rúbia Ignácio de Freitas4

1 Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Guarujá, São Paulo, Brasil. Docente do Curso de Medicina. ecsouza@unaerp.br

2 Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Guarujá, São Paulo, Brasil. Docente do Curso de Enfermagem, Fisioterapia e Medicina. fhenriques@unaerp.br

3 Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Guarujá, São Paulo, Brasil. Docente do Curso de Medicina. gmarques@unaerp.br

4 Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Guarujá, São Paulo, Brasil. Docente do Curso de Medicina. mfreitas@unaerp.br

Seção: Saúde

Formato: Revisão Bibliográfica

Resumo

Este artigo tem como principal objetivo discorrer sobre o ensino na disciplina Medicina de Família e Comunidade. A pesquisa de abordagem qualitativa consiste em um levantamento bibliográfico apresentando estudos sobre a Saúde Mental na Atenção Primária à Saúde, área que presta assistência de forma integral aos pacientes, às famílias e à comunidade. As demandas de saúde mental estão presentes em diversas queixas trazidas pelos pacientes que chegam aos serviços de saúde, em especial, na atenção primária que tem como princípio e objetivo possibilitar o primeiro acesso ao sistema de saúde. A formação médica envolve conhecimento teórico, científico e prático, bem como, a capacidade de estabelecer uma relação humanizada dos profissionais com seus pacientes. A pesquisa mostrou que a disciplina de Medicina de Família e Comunidade pode ser vista como um eixo norteador dos princípios de Atenção Primária à Saúde e coloca o discente de medicina em contato com temas relacionados à subjetividade humana, conceitos, teorias e práticas de uma medicina voltada para o tratamento dos aspectos biopsicossociais dos pacientes.

Palavras-chave: Saúde Mental; Atenção Primária; Medicina de Família e Comunidade.

Abstract

The main objective of this article is to discuss teaching in the discipline Family and Community Medicine. The research with a qualitative approach consists of a bibliographic survey presenting studies on Mental Health in Primary Health Care, an area that provides comprehensive assistance to patients, families and the community.

The mental health demands are present in several complaints brought by patients who arrive at health services, especially in primary care, whose principle and objective are to enable the first access to the health system. Medical training involves theoretical, scientific and practical knowledge, as well as the ability to establish a humanized

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relationship between professionals and their patients. The research showed that the discipline Family and Community Medicine can be seen as a guiding axis of the principles of Primary Health Care and puts the student in contact with themes related to human subjectivity, concepts, theories and practices of a medicine focused on treatment the biopsychosocial aspects of the patients.

Keywords: Mental health; Primary attention; Family and Community Medicine.

Section: Health

Format: Bibliographic Review

1 INTRODUÇÃO

A Medicina de Família e Comunidade (MFC) é definida como a especialidade que oferece assistência à saúde de forma continuada, integral e abrangente, às pessoas, às suas famílias e à comunidade (GUSSO, 2019).

A prática da MFC é orientada por princípios que direcionam ações com maior proximidade do profissional de saúde com as necessidades integrais dos pacientes, familiares e comunidade.

Diante disso, o médico de família e comunidade deve ser um clínico qualificado para adentrar na comunidade e na vida cotidiana das pessoas, coordenar os cuidados, seja na equipe de cuidados primários, seja nos demais níveis de atenção.

O atendimento humanizado do médico e dos demais profissionais de saúde, especificamente, na saúde mental, tem como premissa reconhecer o protagonismo dos envolvidos no processo de saúde-doença. A saúde mental apresenta conceitos complexos e historicamente influenciados por contextos sócio-políticos e pela evolução de práticas em saúde neste campo.

A Saúde Mental integra as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) desde 1948 quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) ampliou seu conceito de saúde que anteriormente tinha foco nos aspectos biológicos e passou a considerar também as questões subjetivas dos sujeitos (BRUSCATO, 2014 apud OMS, 2021).

As Políticas Públicas em Saúde Mental reformuladas trouxeram um novo olhar sobre o doente e a doença mental. A psiquiatria deixou de considerar a doença mental como motivo para segregação e afastamento do indivíduo do convívio social banindo o modelo hospitalocêntrico na assistência e contemplando o modelo biopsicossocial que possibilita uma visão holística e considera os aspectos biológicos, psicológicos e

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sociais dos indivíduos, bem como a importância da aproximação da família e do convívio social.

Em 1987 foi inaugurado o primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) em São Paulo e em meados de 1989 foram implantados os Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) com a proposta de atendimentos 24 horas, voltados para o acolhimento dos egressos dos hospitais psiquiátricos.

Segundo Bruscato 2014 apud Stockinger 2007, “a ideia era trazer o ´louco` para a sociedade, fazê-lo conviver como o diferente, com o múltiplo, resgatar-lhe a cidadania.” (BRUSCATO, 2014, p.63 apud STOCKINGER, 2007, p.66)

Na II Conferência Nacional de Saúde Mental de 1990 foi firmado o compromisso do Brasil na reestruturação dos serviços da psiquiatria na rede de Atenção Primária à Saúde.

Com a reorganização dos serviços, novos equipamentos e dispositivos de saúde foram criados, visando a reinserção social do indivíduo em seu meio familiar e social, deslocando-o dos hospitais psiquiátricos para a comunidade e ampliando o conceito de ´doença` para ´o indivíduo e seus déficits de habilidades` e de ações individuais para ações coletivas (BRUSCATO, 2014).

Conforme afirma Bruscato, 2014 apud Hirdes, 2009:

A Reforma Psiquiátrica Brasileira, através da criação de novos dispositivos em Saúde Mental, assim como através da inserção das ações de saúde mental na Saúde Pública, possibilita novas abordagens, novos princípios, valores e olhares às pessoas em situação de sofrimento psíquico, impulsionando formas adequadas de cuidado à loucura no âmbito familiar, social e cultural (BRUSCATO, 2014, p. 65 apud HIRDES, 2009, p.304).

Assim, vemos que a Reforma Psiquiátrica trouxe novos impactos na construção cotidiana das ações terapêutico-reabilitatórias dos profissionais da saúde, bem como uma mudança paradigmática de como a própria sociedade vê o doente mental.

2 OBJETIVOS

O objetivo geral deste artigo é discorrer sobre o ensino na disciplina Medicina de Família e Comunidade, apresentando o percurso histórico dos conceitos de Saúde Mental e das Reformas Psiquiátricas que resultaram no formato atual dos serviços em saúde.

Os objetivos específicos compreendem:

● apresentar os conceitos de saúde mental;

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● apresentar breve histórico das reformulações das Políticas Públicas em Saúde Mental;

● refletir sobre a importância da especialidade Medicina de Família e Comunidade e da capacitação dos discentes do curso de medicina para esta prática.

3 MATERIAL E MÉTODOS

O artigo compreende uma pesquisa descritiva realizada por meio de revisão bibliográfica, utilizando-se de informações disponíveis em livros acadêmicos, artigos científicos e sites oficiais que abordam sobre Saúde Mental e a especialidade Medicina de Família e Comunidade. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de Abordagem Qualitativa que se fundamenta em dados coletados nas interações interpessoais, na coparticipação das situações dos informantes e analisadas com base teórica buscando significação. Em pesquisas de Abordagem Qualitativa “o pesquisador participa, compreende e interpreta” (CHIZZOTTI, 2000, p.52).

A pesquisa qualitativa propicia a utilização de métodos que auxiliem a uma visão mais abrangente dos problemas, pois supõe o contato direto com o objeto de análise e um enfoque diferenciado para a compreensão da realidade.

Segundo Denzin e Lincoln (2006) a pesquisa qualitativa é um conjunto de atividades práticas e interpretativas que dão visibilidade ao mundo uma vez que cabe ao pesquisador apresentar o entendimento e/ou interpretação dos fenômenos a partir dos significados que as pessoas atribuíram a ele. Conforme destacam os autores:

A pesquisa qualitativa envolve o estudo do uso e a coleta de uma variedade de materiais empíricos - estudo de caso; experiência pessoal; introspecção;

história de vida; entrevista; artefatos; textos e produções culturais; textos observacionais, históricos, interativos e visuais — que descrevem momentos e significados rotineiros e problemáticos na vida dos indivíduos. Portanto, os pesquisadores dessa área utilizam uma ampla variedade de práticas interpretativas interligadas, na esperança de sempre conseguirem compreender melhor o assunto que está ao seu alcance. (DENZIN E LINCOLN, 2006, p.17).

O levantamento bibliográfico contribuiu para uma visão geral sobre a Atenção Primária à Saúde e as assistências à saúde mental e permitiu reflexões acerca da importância da disciplina Medicina de Família e Comunidade para a capacitação dos discentes do curso de medicina para uma prática profissional humanizada.

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4 REFERENCIAL TEÓRICO - SAÚDE MENTAL

O objeto de estudo da saúde mental é o sofrimento psíquico e o objetivo das práticas de Saúde Mental compreende a criação de condições para estabelecer o equilíbrio e proporcionar uma interação social saudável e produtiva do indivíduo com a sociedade.

Para abordarmos sobre saúde mental consideramos importante clarificar os conceitos de “Normal” e “Patológico” e como estes conceitos sofrem variações e concepções com o passar do tempo e com as mudanças advindas da Reforma Psiquiátrica e da sociedade.

Os conceitos de “Normal” podem compreender, estado de saúde orgânica, normalizar, impor uma exigência a uma existência; conforme a norma, conforme a regra; regular, que é usual, comum, natural. Entretanto considera-se esse conjunto de conceitos como um “Mito da Normalidade”, pois atualmente não se coloca mais o

“normal” de um lado e a “Loucura” e as “Patologias” de outro.

O conceito de Normal e Patológico é relativo. Determinadas áreas de conhecimento científico estabelecem padrões de comportamento ou de funcionamento do organismo sadio ou doente, porém, esses padrões se referem às médias estatísticas do que deve se esperar do organismo ou da personalidade, enquanto funcionamento e expressão individual.

A partir do século XX houve uma mudança de olhar que considerou uma variação qualitativa do normal. A medicina deixou de ser apenas a medicina dos fenômenos orgânicos e passou a ser também a medicina dos fenômenos mentais.

De acordo com Bock (2002) a normalidade:

Do ponto de vista cultural, o que numa sociedade é considerado normal, adequado, aceito ou mesmo valorizado, em outra sociedade ou em outro momento histórico pode ser considerado anormal, desviante ou patológico.

(BOCK, 2002, p.353)

A existência do normal ou patológico pode ser identificado na relação social, nas normas e nos comportamentos ditos como esperados. No entanto, o ser também inclui a doença. Por essa razão devemos utilizar mais a ideia de que estamos doentes e menos a ideia de que somos doentes. Assim como saúde não significa necessariamente ausência de doença.

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A doença é compreendida como um processo sociocultural e de experiência vivida. As concepções de saúde refletem valores sociais dominantes da cultura e da época. A experiência corporal é mediada pela cultura e as sensações do corpo não são separadas do significado da percepção de todo o processo.

Desta forma, ações relativas à saúde e doença devem considerar características de diferentes grupos sociais e tratar o tema "doença e cultura" em termos de uma relação entre o indivíduo e a cultura na qual está inserido.

Esse manifesto cultural pode ser visto, entre outras formas, através dos serviços da Atenção Primária de Saúde oferecidos às comunidades, que ao conhecê-lo podem intervir e promover saúde de modo mais abrangente.

5 RESULTADO E DISCUSSÃO

5.1 Ensino da Medicina de Família e Comunidade e Saúde Mental para estudantes de Medicina

A medicina propõe-se a formar indivíduos com perspectiva humanista, que além do conhecimento, adquiram capacidades de autoaprendizagem e desenvolvimento de atitudes e habilidades relacionais para um desempenho competente, crítico e ético.

De Marco (2010) diz que:

Estamos preocupados com a informação e com a formação do médico.

Chamarei de formação tudo o que atinge e compõe o indivíduo, ou seja, a pessoa do médico, além da informação que lhe é oferecida e proporcionada durante os 6 anos de seus estudos. (DE MARCO, 2010, p.85)

Assim, a humanização das práticas assistenciais perpassa papéis e funções profissionais e assumem responsabilidades maiores que favorecem o indivíduo em formação e à sociedade.

O modelo biopsicossocial enfatiza que os aspectos biológicos, psicológicos e sociais devem ser considerados na prevenção e promoção de saúde. As intervenções no campo da saúde demandam preparo dos discentes futuros médicos para um olhar integral de seus pacientes.

As diretrizes da Reforma Psiquiátrica e de Reabilitação Psicossocial são fundamentais para nossas experiências de ensino, pesquisa e prática. Esse conjunto de saberes ou aporte teórico permitirá uma discussão da presença da subjetividade nas ações de cuidado cotidiano de saúde mental [...]

(MACHADO; COLVERO; RODOLPHO, 2018. p.29).

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Estudar a doença mental neste enfoque psicossocial significa considerá-la como um produto da interação das condições de vida social com a trajetória de cada indivíduo (sua família, demais relações sociais e suas experiências), além de sua estrutura psíquica.

Ensinar a cuidar das subjetividades em saúde mental é acolher a angústia do aprendiz discente diante daquilo que escapa ao registro do conhecer, aprender, saber pronto e acabado, é fomentar o estranhamento e a curiosidade, permitir a dúvida, buscar o comprometimento, questionar as verdades absolutas e, assim, lado a lado, acompanhá-lo nessa experimentação. (MACHADO; COLVERO; RODOLPHO, 2018. p.35)

Considerar a integralidade ou totalidade humana significa considerar o homem em todas as suas expressões: visíveis, invisíveis, singulares e genéricas. As expressões visíveis são demonstradas através de nossos comportamentos no mundo externo, as invisíveis correspondem aos nossos conteúdos internos, como os sentimentos, as expressões singulares referem-se à unicidade do indivíduo, e, as expressões genéricas são aquelas consideradas produto e expressão de relações sociais.

Nesta relação entre o cuidador e o cuidado esta subjetividade se apresenta em forma de empatia, consideração e ética social; características fundamentais a serem desenvolvidas pelos estudantes e futuros profissionais da área de saúde.

5.2 Atenção Básica e a Saúde Mental: um território de aprendizagem e acolhimento biopsicossocial.

As demandas de saúde mental estão presentes em diversas queixas trazidas pelos pacientes que chegam aos serviços de saúde, em especial na Atenção Primária.

Isso acontece pelo fato da Atenção Primária ter como um de seus principais objetivos possibilitar o primeiro acesso das pessoas ao Sistema de Saúde.

A Atenção Primária tem importante papel no diagnóstico precoce, início e manutenção de um tratamento e na reabilitação psicossocial, podendo abordar quadros relativos a transtornos de ansiedade, transtornos de humor, psicose e abuso de substâncias (especialmente o alcoolismo), por serem as demandas mais frequentes dos serviços de Atenção Primária à Saúde.

Apesar de existirem várias profissões especializadas para o cuidado do sofrimento psíquico, a Saúde Mental na Atenção Primária pode e deve ser realizada

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por qualquer outro profissional da saúde. O que unifica este papel é o território, a coleta de demandas e o acolhimento. Dentre as ações que o profissional da atenção primária pode oferecer podemos citar: proporcionar ao paciente a oportunidade de pensar e refletir sobre si mesmo, exercitar boa comunicação reconhecendo os limites de entendimento do paciente, empatia, escuta compreensiva, proximidade com a realidade do paciente, suporte na medida certa e dentro das atribuições cabíveis.

As ações na saúde mental devem promover condições para melhoria de vida que não se restrinja apenas à cura, mas também ao favorecimento da integração social de forma saudável.

No campo da saúde mental podemos contar com dispositivos comunitários como grupos terapêuticos, operativos, a abordagem familiar, as redes de apoio social, os grupos de convivência, os grupos de geração de renda, entre outros.

Este acolhimento é visto como uma potência que transmite segurança, tranquilidade, redução de tensões, gerador de esperança, redução de dúvidas e angústias. O desenvolvimento destas interações é construído no cotidiano dos encontros entre profissionais de saúde, pacientes e familiares.

Os chamados sintomas sem explicação médica (SEM) são frequentes na prática assistencial dos médicos de família e comunidade e geralmente apresentam alguma forma de sofrimento emocional associado que necessita ser corretamente diagnosticado e cuidado (GUSSO, 2019).

Como metodologia de assistência humanizada, citamos que a utilização da metodologia clínica centrada na pessoa (MCCP) mostra-se adequada no cuidado às pessoas.

Gusso (2019) destaca que essa metodologia envolve o acolhimento, a escuta e a facilitação para que o paciente possa compreender e elaborar seu sofrimento emocional, pois, desta forma, abre-se o caminho para que resultados positivos sejam obtidos com as intervenções.

A disciplina Medicina de Família e Comunidade presente no currículo do curso de medicina possibilita que o discente tenha acesso a conteúdos práticos, através da observação, da análise de casos reais, da problematização, do levantamento de hipóteses e propostas de intervenção, colocando-o em maior proximidade com a realidade da prática médica.

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Outro foco importante da disciplina Medicina de Família e Comunidade é o de desenvolver no discente um olhar para a importância da análise familiar no qual o paciente está inserido, como meio de compreensão global dos problemas apresentados por ele.

A dinâmica familiar, as condições de moradia, os hábitos de vida da família, o histórico familiar e clínico, trazem elementos significativos e auxiliam nos encaminhamentos e intervenções do campo da saúde.

Gusso (2019) aponta que, entre eles, se destacam eventos geradores de estresse e conflitos interpessoais, histórias de agressão, abuso físico e sexual, dependência de álcool e drogas por parte do paciente ou integrante da família.

Desta forma, os médicos de família e comunidade devem estar aptos a compreender fatores psicológicos, psicossociais, biológicos e contextuais na atenção primária à saúde, propiciando apoio e instrumentos terapêuticos que reforce no paciente a autoestima, o empoderamento, o interesse pela saúde e pela vida.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na pesquisa e reflexões realizadas, vê-se que, dentre os desafios vivenciados pelos estudantes do curso de medicina, encontra-se o preparo para lidar com demandas adversas que fidelizam uma atuação profissional generalista e capaz de oferecer cuidado biopsicossocial.

A disciplina Medicina de Família e Comunidade pode ser vista como um eixo norteador dos princípios de Atenção Primária à Saúde e coloca o discente em contato com temas relacionados à subjetividade humana, conceitos, teorias e práticas de uma medicina voltada para o tratamento físico e psíquico de pacientes.

A formação humanizada propicia o confronto do discente consigo próprio à medida que este necessita ampliar seus conhecimentos sobre o ser humano, a interação familiar, o sofrimento físico e psíquico e a apresentar adequação na aplicação das práticas médicas aprendidas em sua formação.

Vimos através da pesquisa que grande parte das pessoas com doenças mentais procuram os serviços públicos de saúde em decorrência de problemas psiquiátricos.

Esses problemas com frequência, associados a privações, à pobreza, à exclusão social e à falta de conhecimento sobre as doenças mentais por parte dos pacientes,

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contribuem para a composição da gravidade e ampliação do quadro de doença mental.

Embora as preocupações relativas às ações de saúde mental, na Atenção Primária à Saúde, sejam voltadas para a prevenção, a escuta compreensiva e o acolhimento mostram-se importantes ações para atenção, contribuindo para identificação das demandas e colocando de forma efetiva e breve, muitas vezes o paciente e a família em tratamento.

Aqui, vemos o médico circulando nas demandas comunitárias, saindo do “lugar comum” ou dos hospitais, clínicas e consultórios e colocando seu conhecimento teórico, científico e prático à serviço da comunidade.

Espera-se que as reflexões apresentadas neste artigo possam contribuir para um posicionamento interno frente ao cuidado do sofrimento psíquico, além do físico para os futuros médicos ou demais profissionais atuantes na Atenção Primária.

7 REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde mental / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em:

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_34_saude_m ental.pdf. Acesso em: 22 abr. 2021.

BOCK, ANA MERCES BAHIA. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia.

13.ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

BRUSCATO, Wilze Laura. A psicologia na saúde: da atenção primária à alta complexidade. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2014.

CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 5.ed. São Paulo: Cortez, 2001. 164p.

COELHO, Maria Thereza Ávila Dantas.; ALMEIDA FILHO, Naormar de. Normal e patológico, saúde doença: revisitando Canguilhem. Physys: Revista de Saúde Coletiva, n. 09, v. 01, p, 13-36, 1999. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/physis/v9n1/02.pdf. Acesso em: 11 abr. 2021.

DEMARCO, Mario Alfredo (org.). A face humana da medicina: do modelo biomédico ao modelo biopsicossocial. 2.ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010.

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DENZIN, N.K. E LINCOLN, S.L. A disciplina e a prática da pesquisa qualitativa.

In: O planejamento da pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2006.

FRITZEN, Silvino José. Relações humanas interpessoais: nas convivências grupais e comunitárias. 18.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti; DIAS, Lêda Chaves. Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019.

MACHADO, Ana Lúcia; COLVERO, Luciana de Almeida; RODOLPHO, Juliana Reale Caçapava. Saúde Mental: cuidado e subjetividade. [Livro eletrônico]. v.2. São Caetano do Sul, SP: Difusão, 2018.

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