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GT16 Migrações internacionais: Estado, controle e fronteiras

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Academic year: 2022

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42º Encontro Anual da ANPOCS

GT16 Migrações internacionais: Estado, controle e fronteiras

Resolução ou Aprofundamento do “Paradoxo da Gestão Migratória” no Brasil? A Nova Lei da Migração (Lei 13445/17) e a Inserção Brasileira no Contexto do Sul Global

Dimitri FazitoEmail: dfazito@gmail.com

Professor Adjunto, Departamento de Sociologia, UFMG Gisela P. ZapataEmail: gpzapata@cedeplar.ufmg.br

Professora Adjunta, Departamento de Demografia / CEDEPLAR, UFMG

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Neste trabalho procuramos avançar duas questões paralelas e correlacionadas na literatura atual sobre a gestão migratória internacional no contexto da globalização contemporânea, e que se aplicaria também ao Brasil:

1) o estabelecimento de um debate sobre o “paradoxo da gestão migratória”

(Hollifield, 1992; Jopkke, 1998; Castles, 2004; Reis, 2004; Zolberg, 2006;

Arcarazo e Freier, 2015) responsável pela crítica e denúncia da incongruência entre os discursos e práticas de estados nacionais e sociedades que proferem, de um lado, discursos de acolhimento geral dos imigrantes, contando inclusive com legislações liberais sobre a mobilidade humana, e de outro lado, políticas e práticas administrativas e sociais discriminatórias, fortemente restritivas e reprodutoras da seletividade de grupos imigrantes pautadas em diferenças étnico-raciais, religiosas, por gênero, capital cultural, etc. Tais paradoxos estariam se intensificando e se tornando mais e mais complexos no contexto globalizado das democracias modernas, aprofundando uma figuração fortemente hierarquizada (em termos de prestígio social) e excludente, na qual os estados e sociedades operam em conjunto na reprodução do controle social e da desigualdade situando grupos de imigrantes regularizados e em condição de irregularidade (“ilegais”, em busca de asilo, deslocados internos, indocumentados, etc). As ambiguidades de gestão refletiriam, de fato, os descompassos entre os fatos da política que estão ligados essencialmente à questão da soberania dos estados, frente às novas demandas impostas pela dinâmica sócio-demográfica e político-econômica da modernidade e a dificuldade relativa de lidar com o controle das populações em movimento (Reis, 2004; Castles, 2004).

Isto nos remente a uma segunda questão amplamente discutida na literatura sobre as migrações internacionais, 2) onde as revisões críticas nas últimas duas décadas investigam o que poderia ser definido como a emergência de uma “governamentalidade das migrações” (Tazzioli, 2010; Fassin, 2011;

Walters, 2015), a constituir um eixo central da biopolíticacontemporânea que tornaria o fenômeno das mobilidades humanas um “veículo estratégico” para o controle social sobre as populações a partir dos discursos e práticas de estado para a constituição das identidades, das fronteiras nacionais, e da própria

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corporeidade de migrantes e não-migrantes. Deste modo, um poderoso isomorfismo institucional poderia estar se difundindo globalmente entre os estados democráticos sob o disfarce modernista de racionalidade, pluralismo cultural e hospitalidade no reconhecimento oficial e com propostas de “cuidados e atenção” aos direitos humanos de migrantes, mas que, de fato, operaria novas estratégias biopolíticas e anatomopolíticas no pleno exercício do controle cotidiano das disposições e ações das pessoas em movimento entrefronteiras securitizadas (Walters, 2015; Fazito, 2017).

Da convergência destas duas importantes questões definimos nosso objeto de estudo a partir do caso brasileiro, isto é, investigando a história das migrações internacionais no Brasil que expressam a relação das politicas (discursos e práticas) de estado e o reflexo e impacto da gestão migratória na sociedade nacional – em especial, temos como objetivo principal entender aqui se, e como,as recentes “mudanças paradigmáticas” (?), prometidas pela nova Lei de Migração 13445/17, estariam a indicar o “paradoxo da gestão migratória”

naquele sentido definido por Arcarazo e Freier (2015) no contexto sulamericano (ver também, Mármora, 2010), segundo o qual uma “virada liberal” da gestão migratória internacional, com discursos oficiais dos estados de acolhimento geral do estrangeiro,seria obliterada pelas práticas administrativas e sociais restritivas, direcionadas quase que exclusivamente aos imigrantes internacionais do Sul Global (como se pode constatar recentemente em relação aos imigrantes haitianos e venezuelanos no Brasil, por exemplo. Fernandes et al. 2014; Véran et al. 2014).Em síntese, a partir da análise comparativa histórica, pretendemos oferecer um quadro analítico que indique criticamente se o longo processo de formulação, debate com a sociedade civil, arranjo político e homologação da nova Lei de Migração pelo estado brasileiro em 2017, converge para o caso do

“paradoxo da gestão migratória” tal como definido por Arcarazo e Freier (2015).

Além disso, apresenta-se também como objetivo específico, quais seriam as chances de sucesso, potencial e efetivo, a ser atingido com a homologação da nova Lei, dada a constatação do paradoxo em ação no Brasil em correspondência com a intensificação de uma figuração globalizada dos

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descompassos entre aumento de fluxos migratórios internacionais e políticas ambíguas (Reis, 2004).Em outras palavras, se ocorre uma mudança de direção radical entre as políticas de estado e sua aderência às demandas da própria sociedade brasileira, poderíamos esperar um caminho diferente na construção da hospitalidade global e constituição de novas identidades globais plenas de cidadania no Brasil do século XXI?

Finalmente, a partir do anterior procuraremos também explorar um segundo objetivo específico relacionado e que se refere à tentativa de entendermos a contribuição histórica das migrações internacionais no Brasil para a fundamentação de uma governamentalidade na qual a migração se constitui como um dos eixos principais para a produção e gestão do território e identidade nacional no contexto da globalização. Em outros termos, acreditamos que para entendermos porque no século XXI o Brasil se apresenta de maneira (liberal populista? Aracarazo e Freier, 2015) aparentemente receptiva aos fluxos de imigração, e de fato se torna um destino efetivo para a imigração internacional (especialmente fluxos do Sul Global), devemos necessariamente entender a dinâmica da biopolítica e anatomopolítica que acompanha a história dos deslocamentos de população, os desdobramentos econômicos, políticos e culturais da sociedade que permitem a incorporação do poder pelo estado brasileiro e consequentemente a securitização dos deslocamentos dentro de fronteiras nacionais e controle social efetivo sobre os corpos em movimento (Bassanezi e Beozzo, 1995; Patarra, 2005; Bógus e Fabiano, 2015; Fazito, 2017).

Enfim, procuramos mostrar que a nova Lei da Migração 13445/17 expressa, de fato, um longo processo civilizador em termos eliasianos, uma evolução social no sentido do controle da população brasileira para a formatação do território (suas fronteiras) e de uma identidade nacional que, simultaneamente, domestica os espaços de uma violência de estado (a governamentalidade) através de um mascaramento em termos do paradoxo da gestão migratória. Esse processo deverá oferecer limitações consideráveis à aplicação plena da nova Lei de Migração.

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Paradoxo da Gestão Migratória e Mudança Paradigmática na América do Sul no Século XXI

Com o intuito de investigar o “paradoxo da gestão migratória” (Hollifield, 1992; Cornelius, Martin e Hollifield, 1994; Castles, 2004; Boswell, 2007), Arcarazo e Freier (2015: 663) identificam três tipos de “tensões” (lacunas ou hiatos) nas politicas migratórias que ajudam a explicar porque muitas vezes as ações político-administrativas oficiais dos governos produzem resultados diversos e discrepantes dos esperados em termos de fluxos e estoques da migração: 1) primeiro, a lacuna discursiva que identifica as discrepâncias existentes entre os objetivos estabelecidos nos discursos oficiais e os resultados das políticas (legislação e documentos administrativos emitidos); 2) segundo, a lacuna de implementação, isto é, a diferença entre as políticas e legislação oficial publicadas e a sua real implementação na prática; e 3) terceiro, a lacuna de eficácia que diz respeito ao grau de aderência das políticas implementadas e os resultados efetivos obtidos (em específico, a resultante dos fluxos de migração).

A lacuna de eficácia é o problema da correspondência empírica entre o desenho da política e o impacto real que ela obteve. Em geral, aponta para uma política ineficaz para atingir determinados objetivos na gestão migratória.

Contudo, segundo Acarazo e Freier, em geral, o debate sobre o paradoxo da gestão comete o erro de explicar todo caso de incongruência e discrepância como um problema de eficácia (em outras palavras, um problema de

“incompetência administrativa”, ver Castles, 2004).

Já o problema da lacuna de implementação tem a ver fundamentalmente com o contexto sócio-histórico do regime de mobilidade e a capacidade de ação do estado e sociedade civil em torno da gestão das migrações. Eventualmente, o paradoxo da gestão pode ser causado pela incapacidade do estado prover adequadamente os instrumentos jurídico-administrativos ou recursos públicos (como infraestrutura material e recursos humanos), por exemplo, para a aplicação e realização das políticas projetadas. Também é possível que uma

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sociedade civil mais organizada seja capaz de elaborar e pautar demandas sociais inclusivas pelo reconhecimento de direitos aos quais o estado não tem capacidade efetiva de responder de forma eficiente – a defasagem entre demandas e capacidade de resposta do estado pode gerar imperfeições variadas, como a promulgação de legislação restritiva e mesmo persecutória ou, ao contrário, uma legislação ampliada e inclusiva ao ponto de ser irrealizável.

Ambos os resultados da imperfeição política são identificadas como respostas populistas (oportunistas) de governos, seja com viés reacionário ou liberal (Arcarazo e Freier, 2015; Geddes, 2008; Boswell, 2007).

Arcarazo e Freier se dedicam fundamentalmente ao estudo do paradoxo de gestão migratória causado especialmente por hiatos discursivos das políticas públicas destinadas ao controle da migração, porque em geral aliteratura aponta este tipo de lacuna como o mais evidente nas tensões das políticas anunciadas e efetivamente implementadas nos governos europeus (Jopke, 1998; Boswell, 2007). O paradoxo mais frequentemente analisado tem viés liberal e diz respeito às incongruências entre os discursos políticos restritivos dos governantes no Norte Global (frequentemente devido às forças econômicas impeditivas) e a implementação de políticas ampliadas na recepção de imigrantes (como resultado, muitas vezes populista, da demanda regional do mercado laboral, ver Hollifield, 1992). Tal discrepância entre discurso e prática governamental tem como resultado elevadas taxas de imigrantes em situação de irregularidade e imperfeições quanto à segurança e controle de fronteiras. Porém, ainda como resultado de hiatos discursivos no ciclo de políticas de gestão migratória, Arcarazo e Freier (2015: 665) sugerem que no caso da América do Sul, ocorre um paradoxo reverso, pois em diversos países sulamericanos (e o Brasil, em particular) é possível observar, recentemente, a ocorrência de discursos políticos “populistas” dos governos que propõem a abertura das fronteiras, recepção irrestrita e integração ampla do estrangeiro, sendo que na prática da implementação e eficácia das políticas migratórias identificam-se divergências e imperfeições que levam a uma grande seletividade da imigração, gerando situações complexas de profundo descontentamento tanto da sociedade civil nacional quanto da população imigrante que se encontra muitas vezes em

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situação de irregularidade e profunda vulnerabilidade (como é o caso mais notório dos refugiados e imigrantes com visto humanitário, como no caso de haitianos, senegaleses, sírios e outros).

Os autores destacam que as políticas sociais de imigração não são homogêneas, assim como os governos (ou melhor seriam os estados?) que em termos de tecnologia política e micropolítica constituem campos ou topologias relacionais complexas e diversas, com consequências reais na “ponta final”

onde o poder de estado se apresenta para a ação cotidiana da regulação (Walters, 2015). Assim, levando em conta a complexidade dos diversos fatores que integram o longo processo social e histórico de constituição das políticas de gestão migratória, parece mesmo prudente aceitar a definição de Arcarazo e Freier (2015: 663) sobre o ciclo de políticas públicasda migração que implicaria, 1) o momento de unificação discursiva em torno de um discurso oficial de governo que confere unidade e homogeneidade a uma ou a um conjunto de propostas que visam a regulamentação das mobilidades; 2) o momento de implementação da proposta de acordo com os diversos fatores operacionais das políticas que restringem ou ampliam o foco e os instrumentos de ação, e fomentam as disputas e consensos em torno do que é “possível” e “desejável”

determinar normativamente (os chamados policy outputs, ou “implementos de políticas”); e 3) o momento de efetivação da proposta de política de gestão na realidade prática que envolve fatores de logística, infraestrutura e organização política cotidiana (os chamados policyoutcomes, ou “resultados de políticas”).

Assim, a partir de uma análise comparativa relativamente simples, torna- se evidente a mudança no sentido das políticas de gestão migratória nospaísessulamericanos, que teriam iniciado então um novo ciclo de políticas, inclusivas e não restritivas, a partir do começo dos anos 2000, a partir da convergência de dois fatos conjunturais significativos: primeiro, a consolidação do MERCOSUL como bloco regional econômico, político e social, que torna efetiva a liberação da circulação de pessoas no espaço intra-regional; segundo, uma mudança política nas eleições de governos de diferentes países da América do Sul com orientação desenvolvimentista e social-democrata (Arcarazo e Freier, 2015 666-7; Mármora, 2010). Também podemos adicionar

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um terceiro fator, demográfico por definição, que tem a ver com o refluxo, ou pelo menos uma estabilização do fluxo de emigrantes internacionais especialmente a partir da crise global de segurança em 2001, e que recoloca em evidência uma demanda renegada pelos governos sulamericanos no século XX sobre as políticas de reinserção dos retornados internacionais.

Em contraste com o ciclo anterior da gestão migratória, marcado pela equalização das políticas de imigração ao paradigma de securitização das fronteiras e manutenção da ordem pública nos governos ditatoriais, ArcarazoeFreier identificam a partir do início do século XXI nos países sulamericanos um ciclo de políticas de imigração marcadamente liberalizantes no plano discursivo dos governos e, simultaneamente, restritivos, seletivos e até populistas na implementação e eficácia destas políticas. Assim, os autores relatam a emergência de um paradoxo reverso liberalizante neste novo ciclo de gestão migratória, quando os discursos políticos dos governos oferecem mais do que efetivamente é consagrado à execução e realização das propostas em relação às demandas da sociedade civil e dos imigrantes internacionais, em particular. Além disso, a defasagem entre as propostas inclusivas e não- restritivas e sua realização constrangida e seletiva em função dos perfis de imigrantes e pressões da sociedade civil (daí o sentido do termo aplicado às políticas “populistas”), teriam como consequência imediata o aumento do contingente de imigrantes em situação de irregularidade nos países da América do Sul nas últimas duas décadas, intensificando especialmente o problema da integração de imigrantes do Sul Global, que agregam um perfil étnico-racial, religioso e sócio-econômico muitas vezes distintos das classes incluídas socialmente nestes países (IOM, 2010).

O Caso da Gestão Migratória no Brasil: perspectivas histórico-sociais sobre o Processo Civilizador das mobilidades

Antes de centrarmos nossa análise da mudança paradigmática da gestão migratória no Brasil em direção à liberalização (e consequente exposição ao

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paradoxo reverso apontado por Arcarazo e Freier, 2015) que culmina com a promulgação da Nova Lei de Migração 13.445/17, gostaríamos de frisar que nossa investigação é fundamentalmente histórico-comparativa e interpretativa.

Contudo, trabalharemos aqui dentro de uma perspectiva analítica buscando estudar sistematicamente os mecanismos sociais que facultam a convergência dos fatores destacados. Isto é, de um lado, os mecanismos que possibilitam a emergência e desenvolvimento do “paradoxo da gestão migratória”; de outro lado, a consecução no longo processo histórico daqueles mecanismos que engendram a “governamentalidade das migrações internacionais” que operam no Brasil do século XXI. A partir da análise de fatos históricos relativos aos deslocamentos humanos (tanto no nível macro quanto micro sociológicos) e suas interdependências com os aspectos da dinâmica demográfica, econômica, política e cultural, esperamos apresentar um quadro sistemático e interpretativo sobre as trajetórias das políticas migratórias de estado e as trajetórias da sociedade brasileira com relação ao tratamento e convívio social com os imigrantes internacionais.

Aqui é importante salientar a divergência quanto ao método e modelo proposto por Arcarazo e Freier (2015) que fazem efetivamente a análise dos discursos políticos aderentes à gestão migratória, mas não levam em conta os fatores relacionais que engendram as próprias políticas em termos discursivos e de ação prática. Os hiatos discursivos são analisados em si mesmos, sem a comparação sistemática com os mecanismos sociológicos definidos no campo das interações macro e micro sociais, econômicas, demográficas, culturais e políticas.

Como hipótese de trabalho fundamental propomos que o “paradoxo da gestão migratória” no século XXI se apresenta como produto direto de uma figuração sócio-histórica(em seu sentido pleno eliasiano, Elias, 2000) na qual, tanto o caráter cultural nacional (que diz respeito ao desenvolvimento de um sentido histórico de hospitalidade e acolhimento que responde à hierarquia de estabelecidos e outsiders), quanto o processo demográfico, econômico e político de deslocamento e ocupação territorial, são remodelados no Brasil a partir do

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último quarto do século XX em diante – tendo como grande evento social e histórico todo o processo que estabelece a nova Constituição cidadã de 1988.

Este fato, ao mesmo tempo queestabelece as bases sociais e políticas fundamentais do que poderia mais tarde se configurar como políticas migratórias liberais e populistas, também leva necessariamente a um descompasso empírico relativo, de uma lado, à pluralização e organização sempre mais abrangente da sociedade civil brasileira em torno das demandas por reconhecimento de direitos (emancipação) e sua concomitante “transformação social” e, de outro lado,ao fortalecimento de instrumentos da biopolítica que projetam novos arranjos político-institucionais, jurídico-administrativos (como as diversas macro ou micro reformas administrativas nos 3 poderes da República brasileira) e novas tecnologias micropolíticas (como as disposições cada vez mais frequentes e “normatizadas” de interação social entre pessoas de diferentes origens sociais na “ponta do estado”).

Este descompasso que evidencia complexidade e inovação social nos parece a melhor evidência para a consolidação de uma novíssima agenda da governamentalidade das migrações no estado brasileiro, revelando internamente uma disposição paradoxal que, ao mesmo tempo, restringe, seleciona e exclui determinados corpos e mobilidades regulamentando-os, e também usa os mesmos procedimentos para reforçar representações e discursos oficiais globalizantes e modernizantes de integração e emancipação dos “deslocados” de maneira geral.

Em outras palavras, como sugere Walters (2015), pensar as migrações a partir da perspectiva sobre a governamentalidade nos habilita fazer a reflexão crítica sobre as ações e instrumentos biopolíticos de estado que se adaptam aos novos tempos (de intensa mobilidade e pluralidade dos deslocados da Terra) e engendram novas formas de dominação (em certo sentido, paradoxais) em que a aparente “abertura e inclusão” leva ao fechamento real de “fronteiras das diferenças” – como podemos pensar especialmente no paradoxo de ampliação das políticas de abertura e inclusão no Brasil, mediante todos os avanços na

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legislação em se tratando dos vistos humanitários e de refúgio, e ao mesmo tempo as recentes “convulsões sociais” nas margens da fronteira norte do Brasil onde uma batalha civilizatória emerge a partir da entrada de venezuelanos, e põe a nu o paradoxo da governamentalidade e tecnologias micropolíticas que fazem negar os princípios civilizatórios originais por aqueles indivíduos e coletividades que deveriam defendê-los (caso notório do Juiz de primeira instância no estado de Roraima que autoriza o tratamento discriminatório do poder público em relação aos imigrantes venezuelanos impedindo sua entrada e estabelecimento em território nacional, contraditando a própria Lei 13.445/17 a qual deveria defender, ver El País, 2018).

Contudo, partindo de uma reflexão inicial, podemos conceber o deslocamento das populações humanas como o resultado de uma dialética entre o inato e o adquirido no que se refere inclusive ao inefável sentido da dominação (Elias, 1991). Registros históricos (arqueológicos, genéticos e linguísticos) revelam que os deslocamentos humanos tomaram parte decisiva na evolução biológica e cultural da humanidade (Gamble, 1993; Hoerder, 2002;

Manning, 2005; Cavalli-Sforza, 2001), possibilitando o desenvolvimento cognitivo, afetivo e instrumental em um longo processo civilizador instaurador do controle dos corpos (em movimento).

Deste modo, a teoria social pode aqui contribuir para nossa reflexão sobre como as migrações se constituíram como forças decisivas no processo de construção da própria civilização contemporânea. Afinal, os deslocamentos desde as origens da humanidade facultaram a difusão de conhecimento, instituições sociais, recursos estratégicos, e até mesmo material genético, a partir dos contatos interculturais que passaram a ocorrer cada vez com maior frequência e intensidade nas transações entre as populações humanas de diferentes regiões (Hoerder, 2002; Manning, 2005). Além disso, aqui também sugerimos que as migrações teriam operado ao longo dos séculos como um

“instrumento civilizador”, contribuindo para a incorporação de novos valores sociais, hábitos, discursos e práticas atuantes no longo processo de regulação e desenvolvimento do autocontrole na vida social (Elias, 2011). Neste sentido, a

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sociogênese da mobilidade humana deve ter contribuído tanto para o processo civilizador de longa duração (campo especial da biopolítica, com o empoderamento do aparelho do estado na regulação da reprodução dos corpos), quanto o desenvolvimento de novas interações sociais ajustadas às distâncias incorporadas podem ter ocorrido para regular novas sensibilidades corporificadas (campo especial da anatomopolítica, por exemplo, o caso dos asilados que arriscam a própria condição de existência ao adquirirem

“deliberadamente” uma doença com o intuito de sensibilização dos agentes públicos que concedem visto humanitário) (Ticktin, 2011; Foulcault, 2016).

Assim, podemos identificar nas migrações uma sociogênese específica e reguladora dos corpos, emoções e afetos cotidianos que se estabelecem e se vinculam durante o longo processo civilizador das sociedades, pois os deslocamentos organizados em um “projeto migratório” colocam em contato diversas fontes individuais e coletivas de produção das sensibilidades, enraizadas num território em construção e, portanto, indefinido e em constante transformação.

Variados tipos empíricos da mobilidade humana ao longo da história produziram e produzem interações sociais e institucionais específicas na sociedade e também no estado moderno: migração (voluntária e forçada), colonização, exploração, viagens, fugas, exílios, peregrinações, campanhas militares, missões diplomáticas, deportações, migrações médicas, etc. (Gamble, 1993; Manning, 2005; Hoerder, 2002; Harzig e Hoerder, 2009; Fernandez- Armesto, 2007; Castles e Miller, 2009; Roberts e Sheper-Hughes, 2011). O desenvolvimento tecnológico de transportes e comunicações no processo de Globalização acentuou ainda a compressão espaço-temporal aprofundando aheteronomia dos corpos, distâncias e movimentos (Harvey, 1991; Bauman, 2000; Sheller e Urry, 2006), fato este que tem ampliado o campo de conflitos entre os diversos atores sociais que disputam a legitimidade do movimento entre fronteiras nacionais regulamentadas e excludentes.

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Igualmente, em paralelo podemos visualizar esse processo civilizador ocorrido no Brasil, desde sua ocupação e colonização pelos portugueses, os conflitos transculturais empenhados pelo tráfico de escravos africanos e indígenas, as diversas campanhas militares e diplomáticas levadas a cabo pelo estado brasileiro em diferentes momentos da história com o objetivo de consolidação do território e identidade nacional, e o processo demográfico de expansão e distribuição espacial da população associado ao desenvolvimento dos vetores econômicos que tiveram como resultado a lenta, mas paulatina consolidação da interiorização da sociedade brasileira e conquista da segurança nacional das fronteiras internacionais no interior sulamericano.

Em particular, as bases demográficas e sociais da formação do estado- nação brasileiro são marcadas pela migração internacional, que impactou decisivamente a dinâmica demográfica brasileira, tanto no sentido do crescimento e consolidação de um estoque populacional nacional ao longo da colonização, quanto da ocupação territorial propriamente dita, que garantiu ao estado colonial a expansão e soberania de suas fronteiras. Começando com a chegada dos portugueses no século XVI, o país foi um importador líquido de pessoas, principalmente europeus e escravos africanos, até a década de 1930 – entre 1501 e 1875 o Brasil teria importado algo superior à 5,8 milhões de trabalhadores escravos do continente africano, e entre 1875 e 1930, com a mudança da governamentalidade na construção do estado republicano, e a aplicação de políticas “modernas” de “branqueamento”, algo em torno de 4 milhões de novos imigrantes internacionais – especialmente, portugueses, italianos, espanhóis, alemães, sírio-libaneses e japoneses –aportaram em terras brasileiras (Frazão, 2017: 1106 e ss.).

Esses fluxos imigratórios foram atraídos pela alta demanda de mão de obra da empresa agrícola no sistema de plantations, entre os séculos XVI e XIX,e pela incipiente industrialização a partir do último quarto do século XIX, especialmente após a abolição da escravatura; assim como por uma combinação de políticas de incentivo à imigração de europeus no esforço de

“branquear a raça” e a extensão de subsídios aos recém-chegados para a

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ocupação (e defesa) de grandes extensões do território nacional, inclusive “para o interior”, já ao final do século XIX e início do século XX. Tais disposições do governo evidenciam a mudança de orientação da governamentalidade do estado nacional que havia então redefinido sua racionalidade e práticas burocráticas no sentido republicano do Moderno Estado de Direito, como princípio fundamental para as ações planejadas e coordenadas sobre o controle populacional, em especial o “controle de corpos em movimento” visando a ocupação (compulsória ou não) dos territórios menos desenvolvidos e mais distantes do controle estatal.

Nas primeiras décadas do século XX, na sequência da I Guerra Mundial e da Grande Depressão, o Brasil sofreu um declínio progressivo dos fluxos imigratórios internacionais devido à reconfiguração global das forças políticas, econômicas e demográficas (redução do excedente populacional da Europa e Estados Unidos da América (EUA), ao mesmo tempo em que o Brasil iniciava sua transição demográfica com a redução da mortalidade e aumento de sua população nativa), e a questão foi perdendo importância na agenda social, econômica e política do país. De fato, a imigração internacional deixa de ocupar o cerne das políticas populacionais e o foco se move para a questão dos deslocamentos internos da mão-de-obra nacional associados aos novos vetores econômicos que organizam o espaço produtivo e passam a configurar o território brasileiro com todas suas clivagens sociais, econômicas e culturais. Neste contexto, o Brasil se torna virtualmente uma “população fechada”, isto é, imune às variações de fluxos migratórios internacionais e, consequentemente, durante quase cinco décadas as questões relativas à “gestão migratória” ficam quase exclusivamente restritas ao controle dos deslocamentos internos da massa de trabalhadores (Brito, 2000 e 2006).

Isso começou a mudar na década de 1980, no contexto de uma ditadura militar, quando houve uma mudança radical no sentido dos fluxos migratórios e um número significativo de brasileiros começou a emigrar, principalmente para os EUA, Japão e Paraguai ao mesmo tempo em que o regime de exceção erigia barreiras à entrada de imigrantes internacionais.

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Em meados dos anos 1990, a emigração internacional de brasileiros atinge seu ápice, enquanto a entrada de imigrantes, em especial os sulamericanos (bolivianos, peruanos, colombianos, argentinos e paraguaios), começa a se intensificar (Carvalho, 1996; Carvalho e Campos, 2006; Oliveira, 1996; Patarra, 2005). Na virada do século, houve uma profunda mudança tanto quantitativa como qualitativa no panorama migratório brasileiro, em termos do volume e composição dos fluxos. Embora a migração internacional, em termosabsolutos, não seja um fenômeno massivo, dada a dimensão do país, é um fenômeno importante que tem reconfigurado o Brasil como um país tanto de imigração como de emigração e trânsito de migrantes no contexto da globalização.

Podemos dizer que a história dos deslocamentos das pessoas na formação do território brasileiro, também é constituída pelas ideias, práticas e experiências institucionais diversas que embasaram as Leis e Políticas Migratórias. Assim, não é possível dissociar os processos factuais da distribuição territorial das populações sem considerar a forma como o estado brasileiro procurou “gerenciar” (controlar) o movimento das pessoas no seu cotidiano, além da forma como as pessoas que viviam a sociedade nacional responderam aos mecanismos de força utilizados para sua indução ao movimento ou assentamento.

Por tanto, as dinâmicas sócio-demográficas, políticas e econômicas do Brasil tem sido em alguma medida, subproduto da promulgação e implementação, implícita ou explícita, de políticas migratórias ao longo do tempo. Após a política de importação massiva de mão de obra escrava para a economia extrativista e canavieira no período colonial, a primeira politica migratória formal do Brasil foi desenhada já em 1815 durante o governo imperial de Dom Pedro I, a qual contemplava explicitamente um „projeto civilizatório‟. A política centrava-se na extensão de subsídios governamentais à imigração de cidadãos Europeus – continente que iniciava seu processo de transição demográfica, e que naquele momento produzia seu maior excedente

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populacional –, especialmente portugueses, italianos, alemães e suiços, para o estabelecimento de núcleos de colonização sobretudo no Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Bahia e Pernambuco (Levy, 1974). Esta imigração serviria a três propósitos: a ocupação e defesa do vasto território nacional, a instalação e desenvolvimento do setor agrícola e o projeto de criação de uma nação civilizada „branca, culta e capaz‟. Porém, uma combinação de problemas estruturais, como uma deficiente infraestrutura técnica – necessária para o acesso e locomoção de pessoas e a comercialização de bens das atividades extrativas e agrícolas – e a alta incidência de doenças tropicais e elevada mortalidade dentre os novos colonos, levou ao abanando desta politica na década de 1830 (Seyfert, 2002).

Depois de um período de redução dos fluxos imigratórios, a politica de subsídios à imigração ressurge na década de 1870 no contexto da transição de um sistema econômico escravocrata a um sistema capitalista de produção movido pelos interesses dos cafeicultores. Além de necessidades econômicas, esta nova política continuava respondendo ao imperativo eugênico, pois ainda que se ampliasse o leque de países de origem dos imigrantes, o foco continuava sendo o recrutamento de europeus brancos, dessa vez, italianos, bascos, poloneses, russos, espanhóis e japoneses. Depois de um período de relativo sucesso desta política, o Brasil experimentou uma drástica redução dos seus fluxos imigratórios como consequência da erupção da I Guerra Mundial, a crise do café a partir dos anos 1920, e subsequentemente da Grande Depressão dos anos 1930. A década de 1930 constitui um ponto de referência temporal importante em termos da drástica redução da imigração estrangeira e o início dos intensos movimentos migratórios internos que caracterizaram, daí em diante, a distribuição espacial da população no pais. Também é uma data importante no sentido de marcar a consolidação de um novo ciclo de gestão migratória que configura uma governamentalidade conservadora e fortemente restritiva, divergente dos ciclos anteriores.

Neste período surgem as primeiras medidas restritivas à entrada e permanência de estrangeiros no território nacional, produto do desconforto de

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alguns setores hegemônicos com à „falta de assimilação e integração‟ cultural dos colonos e a conformação de enclaves étnicos. Desta feita, foram promulgados decretos como a Lei dos 2/3, que reservava essa proporção de vagas nas empresas aos nativos brasileiros, e a implementação de quotas – com relação ao volume de estrangeiros presentes no pais – em 1934 e 1937 (Oliveira, 2015). Assim, o Brasil manteve-se praticamente fechado às trocas populacionais com o resto do mundo desde o segundo quarto do século XX até final dos anos 70.

É interessante notar aqui que, ao contrário do que propõem Arcarazo e Freier (2015), ao menos no caso do Brasil, especialmente entre 1930 e 1990, o ciclo de políticas migratórias no estado brasileiro sugere uma gestão implacável quanto à securitização interna das fronteiras, expansão e consolidação do mercado de trabalho interno, disposição tanto discursiva quanto prática de políticas restritivas, excludentes e anti-populistas, e muito menos liberalizantes.

Aqui não há paradoxo em termos da governamentalidade. Durante décadas, após todo o período colonial aparentemente leniente com relação ao controle dos corpos e mobilidades, o estado brasileiro se torna efetivamente restritivo e cioso do controle interno, também de caráter civilizador em termos de controle social das corporalidades e suas disposições de uso.

De fato, podemos aqui já identificar a “antecipação” da globalização político-institucional, responsável por um forte processo de isomorfismo institucional no sentido da modernização da governamentalidade global que viria a se estabelecer definitivamente a partir da Segunda Guerra Mundial, e abriria espaço para o estabelecimento de uma “burocracia global” no concerto das Nações civilizadas e pacificadas,orientadaspelo projeto de dominação do Norte Global (cujo centro de expansão se vincula ao Sistema Nações Unidas e, posteriormente, os arranjos institucionais da ordem econômica que estabelecem o Sistema Banco Mundial – Meyer et al. 1997; Boli e Thomas, 1997; Sklair, 2002). Portanto, parece mais provável que as políticas de migração da maior parte do século XX no Brasil, corresponderam fortemente a um processo de isomorfismo institucional que visava estabelecer e reconhecer a posição do

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Brasil na hierarquia geopolítica global (periférica e subalterna), cuja orientação clássica reforçava uma governamentalidade agressiva no controle dos corpos em movimento e a “securitização identitária” com o fechamento e vigilância das fronteiras e estrangeiros.

Este processo se estabelece formalmente com a Lei do Estrangeiro de 1934, vai se tornando mais agudo ao longo do período ditatorial a partir de 1964 e se completa definitivamente com a Lei 6.815/1980, o chamado Estatuto do Estrangeiro em 1980, o qual caracterizava o imigrante como uma „ameaça à segurança nacional‟, solidificando o nacionalismo promovido pelo regime de exceção. Esta governamentalidade responde aos efeitos econômicos adversos da crise do petróleo e à escalada da crise da dívida Latino-americana que leva à hiperinflação, com o endurecimento efetivo da gestão migratória contida no Estatuto do Estrangeiro suprimindo o reconhecimento dos direitos mais extensivos da pessoa humana – mas é preciso ressaltar que estava de acordo ainda com os princípios da gestão migratória internacional no sentido do controle da circulação de corpos, embora o processo de flexibilização iniciado nos anos 1970, a partir das demandas neoliberais ainda subterrâneas sobre a desregulação do mercado de trabalho internacional, apresentasse já seus primeiros sinais de mudança na governamentalidade global das migrações.

A partir dos anos 1980, a política do governo brasileiro se torna fortemente restritiva e burocratizada no sentido de usar recursos legais para evitar, escrutinizar e controlar os fluxos de entrada. Paralelamente, a crise inflacionária também provoca a modificação dos vetores migratórios ao abrir as comportas da emigração internacional de brasileiros, incentivando a saída de uma parcela significativa da força de trabalho nacional para os EUA, Europa e Japão em busca de uma alternativa econômica e social viável. Esse fluxo emigratório ocorre devido à profunda crise econômica, a estagnação do crescimento, o excesso de oferta de mão de obra regional – produto do boom demográfico do pós-guerra no Brasil –, e a pobreza e a ausência de perspectivas de mobilidade social para uma parcela significativa da população (Oliveira, 2015; Patarra, 2005, 2012).

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Porém, simultaneamente ocorrem também mudanças políticas e sociais já em meados da década de 1980 que irão apontar demandas de uma sociedade civil cada vez mais protagonista e diversa. Com a nova Constituição de 1988, abrem-se espaços importantes para um futuro questionamento da governamentalidade das migrações no Brasil. Ainda que as disposições jurídico- institucionais não fossem percebidas de fato em todo seu potencial naquele momento, podemos dizer que ali na Carta Magna e na reconfiguração sócio- histórica da sociedade civil brasileira estavam presentes os germes da mudança paradigmática da gestão migratória que tomaria caminho a passos lentos, graduais mas inequívocos em direção à consolidação de uma nova governamentalidade das migrações no século XXI.

Assim, nas últimas décadas do século XX e inicio deste século, houve uma profunda mudança tanto quantitativa como qualitativa no panorama migratório Brasileiro – em termos de volume e composição dos fluxos e também em termos da infraestrutura jurídico-institucional da governança.De um lado, com o fortalecimento das instâncias de governo do bloco regional sulamericano, o MERCOSUL, e o avanço dos acordos sobre a livre circulação de pessoas no espaço intra-regional; e de outro lado, o paulatino sucesso dos governos (e particularmente dos governos brasileiros)no desenvolvimento sócio-econômico (controle inflacionário, combate à pobreza e ampliação das demandas por trabalho no mercado interno nacional), criaram o substrato necessário para um intenso incremento e diversificação da origem dos imigrantes e dos motivos da migração – dos fluxos imigratórios tanto de países sulamericanos, como de outras nações do Sul e Norte Global.

Também houve um reposicionamento geopolítico brasileiro no século XXI (protagonismo do estado brasileiro na arena global), que suscitou uma nova orientação da gonvernamentalidade do Estado nacional quanto à “gestão dos corpos em movimento” se adequando aos mais recentes princípios emancipatórios da modernidade em termos de reconhecimentos de direitos.

Assim, a atenção diplomática estratégica devotada ao caso dos fluxos de

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refugiados e irregulares (em especial, Haitianos, Sírios, Venezuelanos, etc.) que passaram a aportar no Brasil com maior intensidade, junto com a forte imigração de mão-de-obra necessária à ampliação e complexificação do mercado interno de trabalho brasileiro, demandou do governo brasileiro (a partir especialmente do início do segundo Governo Lula) uma rearticulação profunda sobre a gestão migratória, dando atenção inclusiva à situação relativamente crítica dos brasileiros emigrados internacionalmente (em especial, aqueles que buscavam estabelecer sua vida nos EUA e Espanha – e os conflitos advindos da gestão restritiva em relação a brasileiros naqueles países).

A re-emergência do Brasil como destino atrativo das migrações internacionais em anos recentes tem suas bases na relativa estabilidade política e econômica vivenciada pelo país nas últimas duas décadas. Neste sentido, o posicionamento do Brasil como a sexta maior economia do mundo – impulsionado pelo boom dos commodities nos mercados internacionais, o crescimento expressivo de investimentos públicos e privados em infraestrutura, energia, e petróleo (pré-sal) e a expansão do mercado de consumo nacional ligado à inclusão social e econômica de populações historicamente marginalizadas–; além do redirecionamento da política externa brasileira para um novo papel de liderança regional – BRICS, UNASUR –, a intensificação do processo de integração regional no âmbito do Mercosul e a profunda recessão nos principais países do Norte Global, contribuíram para estas mudanças.

Mais recentemente, a alta visibilidade do Brasil como anfitrião da Copa Mundial de Futebol e dos Jogos Olímpicos, favoreceu também a construção de uma imagem do país como uma nova terra de oportunidades no âmbito internacional. Esta “nova” governamentalidade, em sintonia com o reposicionamento e liderança global do Brasil durante o Governo Lula, estimulou o desenvolvimento de uma nova (ainda que explícita) política brasileira com viés humanitário, que se materializou na aprovação no congresso da Lei de Anistia Migratória 11.961 de 2009, a qual regularizou o status migratório de aproximadamente 24.000 estrangeiros até então em situação irregular no território nacional.

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Mais recentemente, em um contexto de velhas e novas demandas de uma sociedade civil cada vez mais diversa, plural e multivocalizada, foi promulgada a Nova Lei de Migração, materializando uma resposta institucional, em sintonia com a Constituição de 1988, ao novo cenário migratório nacional.

Todo engajamento da sociedade civil com as instituições de Estado nos últimos quase 40 anos, representam uma mudança paradigmática que deixa para trás os antigos Estatutos restritivos, pois a proposta de novos regimentos e arranjos institucionais sintonizados com o programa democrático da Constituição Cidadã representa o desafio inovador da governamentalidadeno sentido do reconhecimento de direitos e inclusão social e, portanto, coloca questionamentos críticos ao funcionamento regular dos tradicionais conselhos executivos das políticas migratórias, como é o caso do Conselho Nacional de Imigração (CNIg), criado em 1980 e lotado no Ministério do Trabalho e Emprego.

Assim, a Nova Lei de Migração promove grandes expectativas positivas quanto à renovação e adequação burocrática às demandas inclusivas de uma sociedade pluralista na busca de soluções efetivas e mais democráticas para problemas cotidianos relativos aos direitos humanos dos “corpos em movimento”.

A Nova Lei de Migração: afinal, aprofundamento ou resolução de um paradoxo?

A Lei de Migração 13.445 implementada em dezembro de 2017, estabelece direitos e deveres para imigrantes e turistas no Brasil e, pela primeira vez, incorpora explicitamente os brasileiros no exterior à política nacional. A Lei avança significativamente no tratamento da questão migratória em todas as suas dimensões, especialmente com relação às fronteiras, ao trânsito, entrada, retorno, readmissão, integração e reintegração de migrantes com base na proteção dos direitos humanos. O projeto foi aprovado tanto no Senado como na Câmara de Representantes com amplo consenso entre os diferentes partidos políticos e foi alvo de diversas audiências públicas junto à sociedade civil e no

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Legislativo, além de ter recebido contribuições de diversos organismos públicos, do terceiro setor e de entidades sociais. A nova Lei, em conjunto com a Lei de Refúgio de 1997, a qual incorporou no ordenamento jurídico brasileiro a Convenção de 1951, relativa ao Estatuto dos Refugiados, seu Protocolo de 1967 e a Convenção de Cartagena de 1984, e a lei sobre tráfico de pessoas de 2016, coloca o Brasil em uma posição de vanguarda na proteção dos direitos do migrante.

A Lei inova ao reconhecer o imigrante, independentemente de sua nacionalidade, como um sujeito de direitos, e promove o combate à xenofobia e a não-discriminação como princípios centrais da política migratória brasileira, em completa oposição ao Estatuto do Estrangeiro de 1980 que via o migrante como uma ameaça à segurança nacional. Dentre outras coisas, a Lei reconhece a contribuição histórica e atual dos migrantes para o desenvolvimento econômico e cultural do Brasil, moderniza o sistema de recepção e registro dos migrantes e inclui artigos específicos para os apátridas, e, ainda que não contemple o direito ao voto para o imigrante, prevê o seu direito se manifestar politicamente.

Além disso, também garante aos povos indígenas o direito à livre circulação em terras tradicionalmente ocupadas, independentemente das fronteiras criadas posteriormente. Assim, a nova legislação está em acordo com os compromissos humanitários contraídos pelo Brasil no âmbito internacional e com a Constituição de 1988, que prevê igualdade de tratamento e acesso aos serviços públicos a todos os residentes no Brasil, sejam brasileiros ou imigrantes. Por tanto, a nova legislação vai na contramão das tendências observadas no Norte global, onde assistimos a um perverso processo de criminalização tanto dos migrantes como do próprio ato de migrar, da negação de todo tipo de direitos, inclusive nos países mais liberais da Europa, à construção de barreiras físicas e simbólicas aos movimentos migratórios, ao aumento de um discurso anti-imigração carregado de ódio que vincula levianamente a migração ao terrorismo e retrata os migrantes como uma ameaça à identidade e soberania nacional.

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A questão que nos colocamos desde o início deste trabalho é, em que medida, essa mudança paradigmática no sentido da governamentalidade das migrações no Brasil, pode engendrar de fato um paradoxo reverso como o apontado por Arcarazo e Freier (2015)? Se de fato, há um processo contínuo de isomorfismo institucional globalizante talvez esperássemos neste momento um retraimento das políticas e, neste sentido, deveríamos considerar a Nova Lei de Migração de 2017 como o resultado tardio das mudanças iniciadas na sociedade brasileira há mais de 30 anos, que acentua o descompasso ou defasagem dentro do campo político-socialentre as demandas da sociedade civil e as ações da governamentalidade do estado brasileiro.

Deste modo, podemos também interpretar a Nova Lei de Migração como o resultado de um longo processo civilizador difundido na e pela sociedade civil nacional, cujo marco inicial é a Constituição de 1988 e trespassa diversos eventos posteriores no campo jurídico-institucional do estado brasileiro – sendo os dois eventos mais importantes nesse processo histórico a promulgação da Lei de Refúgio de 1997 e a Lei de Anistia de 2009, que antecipam o que viria a se realizar institucionalmente com a Nova Lei de Migração de 2017.

No entanto, a implementação da nova lei terá que lidar sim, com algumas contradições internas, tanto no plano discursivo quanto das práticas da micropolítica na “ponta final do estado” no tratamento da vida cotidiana de imigrantes, especialmente refugiados e aqueles em situação de irregularidade.

De um lado, o estado brasileiro mantém tecnologias políticas funcionais de controle dos corpos assim como na época da ditadura. Por exemplo, a Polícia Federal continua responsável pelo controle das fronteiras e pela implementação da política migratória (concessão de vistos, autorizações temporárias e permanentes de residência, etc.), reforçando uma lógica restritiva da antiga governamentalidade em relação à gestão migratória. Por outro lado, a aprovação da lei ocorreu em um contexto de erosão das bases do Estado Democrático de Direito no Brasil, uma vez que assistimos a um processo de demolição e retirada massiva de uma série de direitos sociais, políticos e

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econômicos que foram conquistados depois de muita luta e consagrados na Constituição de 1988, revelando uma reconfiguração sócio-histórica determinante com a polarização político-ideológica na arena pública que coloca em dúvida os caminhos institucionais a serem seguidos pelo estado brasileiro desde 2016 pelo menos.

Assistimos ao acirramento de velhas disputas que agora transbordam do estado e da sociedade civil, fomentando eventos tensionados na realização das políticas de gestão das migrações. Talvez as lacunas (ou discrepâncias) nas políticas migratórias identificadas não se restrinjam apenas ao hiato discursivo (discursive gap) identificados por Arcarazo e Freier (2015) como o principal problema do paradoxo reverso nos países sulamericanos. Ao menos no Brasil, podemos dizer que a Nova Lei de Migração chegou num momento onde as tensões na sociedade civil brasileira levam a problemas de interpretação e aplicação das leis que parecem refletir toda a disputa político-ideológico sobre a governabilidade do estado. Assim, quando um juiz federal de primeira instância decide sobre a interpretação das normativas de acordo com as pressões sociais e políticas sofridas cotidianamente, o paradoxo de fato não é um paradoxo, mas o problema real de uma sociedade em disputa e incapaz de implementar efetivamente as políticas estabelecidas na Lei.

Assim, como ficou claro com os 20 vetos impostos pelo Presidente Temer na hora de sancionar a Lei, dentre eles a retirada do conceito de migrante e o artigo que concedia anistia aos estrangeiros residindo de forma irregular no país, e o Decreto 9.199/17 que a regulamenta, a reviravolta na vida político- institucional no país coloca à prova e compromete os avanços consagrados na legislação efetiva – e neste sentido, sim, podemos considerar a emergência de um paradoxo incômodo que aponta o estabelecimento de uma moderna governamentalidade que reproduz uma forma de dominação sobre os corpos em movimento para além das estruturas imediatas de estado, e colocam as migrações como um “recurso” estratégico das novas tecnologias políticas de controle das populações (ver, Walters, 2015: 14-5).

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Especificamente, o ato normativo permite uma interpretação extremamente conservadora da Lei – especialmente, nas “pontas do estado”

que gestam a micropolítica na interação entre demandantes e demandados, pessoais deslocadas reais e agentes públicos também reais –, que ignora a maioria das sugestões dadas durante as audiências e consultas públicas, apresenta sérias lacunas em termos das condições de acesso e garantia de direitos dos imigrantes e de modo geral, desvirtua grande parte dos avanços contidos na Nova Lei.

Dentre outras questões, o Decreto posterga a regulamentação de artigos importantes da nova Lei, como a emissão de vistos e autorizações de residência por razões humanitárias – uma das insígnias da politica migratória brasileira –, mantém termos como „imigrante clandestino‟ e deixa aberta a possibilidade de prisão de migrantes em situação irregular – medida contrária ao artigo 123 da própria Lei –, e dificulta a reunião familiar e a obtenção de visto de trabalho – deve-se ressaltar o poder dessa micropolítica que faculta à mudança interpretativa e dos próprios implementos da política migratória no sentido da restrição e exclusão, reestabelecidas por um governante (ilegítimo no processo político a partir de 2016) que segue passos em direção contrária aos governos anteriores que, segundo a classificação de Arcarazo e Freier (2015), sugeriam políticas de gestão populistas e liberalizantes como fonte do paradoxo reverso.

Enfim, embora a Nova Lei de Migração represente um avanço muito significativo do reconhecimento de direitos fundamentais às pessoas migrantes, revelando um ganho notável no processo civilizador quando o estado e a sociedade civil consolidam um caminho ético no sentido da construção comunitária harmoniosa, simultaneamente, constatamos que o estado mantém mecanismos de controle político dos corpos em movimento, e evidenciam a reformulação estratégica da governamentalidade quanto à gestão migratória – mantendo, portanto, as disputas em torno dos direitos humanos dos migrantes – porque, de fato, este movimento político possui ressonância na própria sociedade nacional conflagrada.

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Conclusões

Este projeto de trabalho ainda se encontra numa etapa essencial de rastreamento e formatação dos dados históricos para aprofundamento das reflexões analíticas e interpretações sobre a realização do paradoxo reverso.

Acreditamos que a nova Lei de Migração terá muitas dificuldades em termos de implementação efetiva pelo estado brasileiro, especialmente devido ao momento atual de grande conflagração político-institucional. A perspectiva é crítica, pois, de outro lado, dada a inserção do Brasil no Sul Global, percebemos um crescimento efetivo das tensões cotidianas em torno de uma consciência política da sociedade civil brasileira e os novos deslocamentos internacionais das últimas duas décadas. Enquanto a fragmentação social e política, permite o surgimento e fortalecimento das consciências, também assistimos ao acirramento da disputa de reconhecimento aos direitos como um todo. As demandas da sociedade civil organizada têm causado impacto considerável sobre a os arranjos da governamentalidade da migração a partir do estado nacional que não é homogêneo e uniforme em suas dimensões dentro da fronteira nacional. Embora, dado o reposicionamento geopolítico do Brasil no contexto da Globalização, seja possível esperar maior fortalecimento dos movimentos de base da sociedade civil (especialmente ONGs humanitárias pelos direitos dos migrantes e trabalhadores), ao mesmo tempo observamos o recrudescimento da violência como política legitimada socialmente quando usada contra o “diferente” (tornado inimigo desumanizado).

Neste sentido, esperamos encontrar um desfecho diferente do paradoxo da gestão migratória que pode levar ao desmoronamento da arregimentação atual e conduzir efetivamente a uma governamentalidade que produz fragmentação e imprevisibilidade no tratamento geral das questões migratórias, com ilhas de forte alinhamento humanitário na gestão pública das mobilidades, e outros espaços no polo oposto da opressão e violência contra os corpos da diversidade.

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