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Jéssica Dantas de Medeiros QUESTÃO RACIAL E O PAUPERISMO: RELAÇÃO E FUNDAMENTOS SOCIO- HISTÓRICOS NA REALIDADE BRASILEIRA. Natal, UFRN.

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Academic year: 2022

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Jéssica Dantas de Medeiros

QUESTÃO RACIAL E O PAUPERISMO: RELAÇÃO E FUNDAMENTOS SOCIO- HISTÓRICOS NA REALIDADE BRASILEIRA.

Natal, UFRN.

2013

(2)

JÉSSICA DANTAS DE MEDEIROS

QUESTÃO RACIAL E O PAUPERISMO: RELAÇÃO E FUNDAMENTOS SOCIO- HISTÓRICOS NA REALIDADE BRASILEIRA.

Monografia apresentada ao Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Tassia Rejane Monte dos Santos

Natal, UFRN 2013

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Catalogação da Publicação na Fonte.

UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA Medeiros, Jéssica Dantas de.

Questão Racial e o pauperismo: relação e fundamentos socio-históricos na realidade brasileira/ Jéssica Dantas de Medeiros. - Natal, RN, 2013.

110f.

Orientadora: Prof.ª M. Sc. Tassia Rejane Monte dos Santos.

Monografia (Graduação em Serviço social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Serviço social.

1. Questão racial – Monografia. 2. Movimentos sociais - Monografia. 3. Políticas sociais - Monografia. 4.

Capitalismo - I Monografia. Santos, Tassia Rejane Monte dos. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

III. Título.

RN/BS/CCSA CDU 364:316.347

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Jéssica Dantas de Medeiros

QUESTÃO RACIAL E PAUPERISMO

Monografia apresentada ao Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

__________________________________

Ms. Tassia Rejane Monte dos Santos - UFRN (Orientadora)

____________________________________

Drª Maria Regina de Ávila Moreira – UFRN (Membro Examinadora)

____________________________________

Drª Andréa Lima da Silva – UFRN (Membro Examinadora)

Natal, 10 de junho de 2013.

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A minha amada mãe Maria de Lima, pelo amor e dedicação.

A minha venerada vó Geracina de Lima, pelo cuidado e ternura incondicional a mim

dedicados durante parte de sua vida.

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AGRADECIMENTOS

A todos que contribuíram para a construção e realização deste trabalho ficam expressos aqui o meu agradecimento, especialmente:

À Professora Tássia Rejane Monte, pela orientação, pelo aprendizado e apoio em todos os momentos indispensáveis.

Aos meus amigos e colegas de turma, pela ampla troca de experiências e companheirismo no decorrer desses quatro anos de curso.

A todo o corpo docente do Departamento de Serviço Social, especialmente Aos professores Regina de Ávila, João Dantas e Rosangela Alves pela dedicação e comprometimento com uma formação profissional que ultrapassa o âmbito profissional, incidindo também em nossas vidas. Aos bibliotecários e toda a equipe técnica da UFRN pela ajuda incondicional ao longo dessa minha caminha na universidade.

Agradeço, principalmente, as minhas eternas e amadas amigas pelo carinho recíproco e companheirismo compartilhado durante esses quatro anos. Sou muito grata a Klésia, Vanessa, Ana Carolina, Aline, Priscilla e Miclécia por fazerem parte da minha história de vida e por estarem comigo em todos os momentos. Muito aconteceu nesses quatro anos e, vocês estiveram comigo em nos momentos mais intensos da minha vida, tanto os piores e como nos melhores, obrigada pelo amor e por não me abandonarem!

A minhas amadas amigas Jéssica Roberta, Gabriela Nascimento e Maria das Graças por estarem sempre presentes em minha vida. Agradeço também a Judson Nascimento, Alysson, Allan, Sandrinho, Rogério, João Carlos pelo carinho e paciência.

A minha mãe Maria de Lima, a quem dedico este trabalho. É dela de onde vem toda a força que me motiva a lutar, resistir e a vencer todos os desafios cotidianos.

A minha vó Geracina Lima, que já não está mais entre nós, mas que sempre cuidou e orou por mim para que eu conseguisse sempre a realização dos meus sonhos.

A minha família, a qual sinto tanta falta de ter por perto, mas que sempre me apoiam em todos os momentos da minha vida. A minha prima Luciene Dantas, a quem considero como uma mãe. Obrigada por me proteger, me amar e, por me ensinar os princípios e valores que fazem parte da minha vida.

Ao meu amor, por toda a felicidade e pelos momentos de alegrias, te amo! A todos que, de alguma forma, contribuíram para esta realização deste trabalho: Um muito Obrigado!

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Eu – Mistério Sou um mistério.

Vivo mil mortes Que todos os dias Morro Fatalmente.

Por todo mundo O meu corpo retalhado Foi espalhado aos pedaços Em explosões de ódio

E ambição E cobiça de glória.

Perto e longe Continuam massacrando-me a carne Sempre vida e crente No raiar dum dia Que há séculos espero.

Um dia Que não seja angustia Nem já esperança.

Dia Dum eu – realidade.

(AGUSTINHO NETO, 1947)

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RESUMO

Este trabalho é resultado de uma pesquisa científica de cunho qualitativo, na área do Serviço Social, sobre a questão racial no Brasil. Apreendida a partir da análise das categorias de exploração e pauperismo, constructos analíticos fundamentais para crítica das estruturas sociais vigentes, constatamos que a questão racial se assenta em contradições sociais e raciais necessárias à reprodução da sociedade do capital. Um dos principais objetivos dessa investigação foi analisar a questão racial, a partir do desvelamento das condições objetivas de vida da população negra no país, sedimentadas no pauperismo, cujas evidências vem sendo historicamente, camufladas pelo sustentáculo ideo-conservador do que a sociologia crítica brasileira denominou de “mito da democracia racial”. Para tanto, como recurso teórico- metodológico realizamos uma revisão bibliográfica, bem como uma análise crítica de dados estatísticos, acerca da população brasileira, os quais auxiliaram na apreensão e reflexão sobre as problemáticas raciais e seus determinantes sociais, tendo em vista a pesquisa sobre a relação entre a questão racial e o pauperismo no Brasil. Os resultados mostram que as desigualdades raciais existentes no país estão ligadas diretamente ao pauperismo da população negra no Brasil, podendo ser compreendida como resultado de uma formação sócio-histórica brasileira fundada nas crueldades e abusos legitimados pelo regime escravocrata deste o tempo da colonização, sendo fomentada pelo desenvolvimento da sociabilidade capitalista, a qual vem utilizando a reatualização do racismo como meio de atender suas necessidades, tendo repercussões até os dias atuais. Apresentamos ainda uma breve análise das expressões do movimento negro, formas de resistência e luta da população negra frente às desigualdades raciais que incidem no preconceito e discriminação racial e de cor postas nas condições objetivas e subjetivas de vida da população negra pauperizada. Por isso, ratificamos, ainda que contraditoriamente, dado os limites e desafios que perpassam as políticas públicas, a necessidade de ampliação e consolidação de políticas universais, bem como de ações afirmativas, no enfrentamento à questão racial. Nesse sentido, compreendemos que a organização coletiva expressa por muitas lutas e resistências se constitui na principal maneira de superar as problemáticas raciais, a qual deve ser pautada na crítica às bases que produzem e reproduzem as desigualdades sociais e, consequentemente, as opressões raciais.

Palavras-chave: Questão racial. Pauperismo. Capitalismo. Movimentos sociais. Políticas Sociais Afirmativas.

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ABSTRACT

This work is a result of scientific research of a qualitative nature, in the field of Social Work, on the issue of race in Brazil. Seized from the analysis of the categories of exploration and pauperism, analytical constructs central to criticism of existing social structures, we found that the racial issue rests on social and racial contradictions necessary for social reproduction of capital. A major objective of this investigation was to analyze the racial question, from the unveiling of the objective conditions of life of the black population in the country, sedimented in pauperism, whose evidence has been historically, camouflaged by mainstay ideo- conservative than the critical sociology Brazilian named the "myth of racial democracy."

Therefore, as a resource theoretical and methodological conducted a literature review and a critical analysis of statistical data on the population, which assisted in the apprehension and reflection on the problems of racial and social determinants, in order to research on the relationship between the racial and pauperism in Brazil. The results show that racial inequalities in the country are linked directly to the pauperism of the black population in Brazil, can be understood as the result of a socio-historical formation Brazilian founded the cruelties and abuses this slave regime legitimated by the time of colonization, being promoted the development of capitalist sociality, which has been using the reviving of racism as a means to meet their needs, with repercussions to the present day. We also present a brief analysis of the expressions of the black movement, forms of resistance and struggle of black people face racial inequality that focus on prejudice and racial discrimination and color put in the objective and subjective conditions of life of the black population lives in extreme poverty. Therefore, ratify, even contradictory, given the limits and challenges that underlie public policies, the need for expansion and consolidation of universal policies and affirmative action, in dealing with the issue of race. In this sense, we understand that the collective organization expressed through many struggles and resistance constitutes the main way to overcome racial issues, which should be based on critical bases that produce and reproduce social inequalities and thus racial oppression.

Keywords: racial issue. Pauperism. Capitalism. Social movements. Social Policy Statements.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Participante da marcha do Movimento Negro Unificado, em São Paulo, novembro de 1979.

78

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Pessoas de 10 anos ou mais de Idade, por cor ou raça e as classes de rendimento nominal mensal – Brasil – 2010.

58

Tabela 2 Valor médio do rendimento mensal total nominal das pessoas de 10 anos ou mais de idade, residentes em domicílios particulares permanentes, por cor ou raça. – 2010

63

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LISTA DE SIGLAS

CECAN Grupo Afro-Latino América, Câmara do Comércio Afro-Brasileiro.

CUT Central Única dos Trabalhadores.

FIES O Fundo de Financiamento Estudantil.

FNB Frente Negra Brasileira.

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

INSPIR Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial.

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

MNU Movimento Negro Unificado.

MUCDR Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial (MUCDR).

ONU Organização das Nações Unidas.

PCB Partido comunista Brasileiro.

PIB Produto Interno Bruto

PME Pesquisa Mensal de Emprego.

PNSIPN Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.

PRN Partido da Reconstrução Nacional.

PROUNI Programa Universidade para Todos.

PT Partido dos Trabalhadores.

REUNI Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais.

SPM Secretária de Políticas para Mulheres.

SUS Sistema Único de Saúde.

TEN Teatro Experimental do Negro.

UDN União Democrática Nacional.

UHC União dos Homens de Cor.

UNESCO Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura.

Unifem Fundo das Nações Unidas para as mulheres.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO. 13

2. A QUESTÃO RACIAL NO BRASIL: CONSIDERAÇÕES ACERCA DA FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA.

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2.1. O LUGAR DO NEGRO NA SOCIEDADE BRASILEIRA: O RACISMO COMO ELEMENTO CONSTITUTIVO DO SISTEMA DE DOMINAÇÃO CAPITALISTA.

25

2.2. PAUPERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO NEGRA E MITO DA

DEMOCRACIA RACIAL: DESVELANDO OS FUNDAMENTOS SÓCIO- HISTÓRICOS.

45

3. INCONFORMISMO E RESISTÊNCIA: EXPRESSÕES DE LUTA DA POPULAÇÃO NEGRA NO BRASIL.

69

3.1. CONSCIÊNCIA POLÍTICA E MOVIMENTO NEGRO NO BRASIL. 71 3.2. POLÍTICAS DE ENFRENTAMENTO A QUESTÃO RACIAL:

CONQUISTAS, LIMITES E DESAFIOS HISTÓRICOS.

88

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS. 101

5. REFERÊNCIAS 104

(13)

1. INTRODUÇÃO

"Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados pelo caráter, e não pela cor da pele.”

Martin Luther King (1963).

Este estudo analisa a questão racial e os determinantes histórico-sociais que condicionam a questão do negro na realidade social brasileira. Tendo por centralidade o estudo da categoria pauperismo para a apreensão da questão racial no país. Nesse sentido, mesmo compreendendo as problemáticas raciais como sendo determinadas por aspectos histórico-culturais, psicológicos, sociais, políticos-ideológicos e econômicos, centralizamos na crítica à sociabilidade capitalista, o qual se constitui como essencial a produção e reprodução das condições de pauperização de vida da classe trabalhadora e população negra no Brasil.

Assim, no presente estudo centralizamos nossa análise na apreensão das problemáticas raciais e em seus determinantes histórico-sociais, tendo por componente basilar a compreensão do pauperismo como elemento cotidianamente presente nas condições de vida das população negra na realidade social brasileira. Ponderando também que essas populações não são passíveis à barbárie social que as afronta, pois não somente sofrem as determinações das precárias condições de sobrevivência, mas se mostram resistentes e organizados politicamente a partir do questionamento e enfrentamento às situações de desigualdades sociais e raciais, que vem historicamente constituindo as determinações do racismo. Assim analisamos no decorrer do trabalho que as principais lutas e conquistas dos movimentos anti- racistas, especialmente, dos movimentos Negros no Brasil, apresentam mediações que tecem ações jurídico-formal, tais como Leis e políticas públicas. Mesmo com factíveis limites, são conquistas importantes para o processo de afirmação social da diversidade racial no país.

A desvalorização do negro no processo de construção social, fruto de um racismo que marca a cultura brasileira deste os tempos coloniais e, que consequentemente rebate na condição desigual do negro na sociedade brasileira atualmente. E que embora, muitos estudos ganhem grandes repercussões, tal como o estudo de Florestan Fernandes, impresso no clássico livro “Integração do Negro na Sociedade de Classes” de 1978, compreendemos a importância de estudos sobre a questão racial que fomentem reflexões e o debate sobre esta temática, que embora tenha raízes no período colonial, ainda se constitui em um tema bastante atual, visto que a configuração da questão racial na atualidade sobrevém enquanto dificuldades na vida social de muitas mulheres e muitos homens negros.

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Diante disso, compreendemos a importância deste estudo para a reafirmação dos princípios defendidos pelo projeto ético político do Serviço Social, tendo em vista que a construção de uma nova sociabilidade, como luta maior para superar as desigualdades sociais intrínsecas ao sistema do capital, tendo em vista o fortalecimento das resistências e lutas políticas para alcançar uma efetiva igualdade racial, enquanto pressuposto para a emancipação humana. Pois compreendemos que não há emancipação humana com discriminação, desigualdade social e racial e privação de liberdade.

No tocante a relevância acadêmica, este estudo é importante para promover a maior apreensão da realidade social, em peculiar a questão racial, com o intuito de oferecer subsídios para intervenções profissionais mais qualificadas no sentido de promover o enfrentamento a preconceitos e discriminações raciais. Tendo em vista, os princípios fundamentais do código de ética do Serviço Social (1993) que objetivam a defesa intransigente dos direitos humanos, a consolidação da cidadania, defesa da democracia, justiça e igualdade social.

Para a realização dos nossos estudos, tendo em vista o conhecimento e análise dos principais elementos que perpassam a “questão racial” no Brasil, buscamos apreender o pauperismo para analisar as particularidades desta questão na sociabilidade do capital.

Realizamos uma análise baseada na teoria social marxista, compreendendo que o objeto da presente pesquisa é fruto das contradições do sistema de produção capitalista, e a população pesquisada também concebe todas as contradições sociais existentes em nossa sociedade as quais são inerentes ao capitalismo. Nesse sentido, não reduzimos a questão racial a dimensão economicista ou política, pois também compreendemos esta como sendo permeada e determinada por aspectos totalizantes que influem na cultura, ideologia e demais instâncias sociais. No entanto, de maneira concisa, centralizamos nossas análises na crítica as relações sociais reproduzidas pelo modo de sociedade vigente, como meio de depreender o objeto dessa análise. Assim, centralizaremos na apreensão dos determinantes universais que interferem na questão racial no Brasil, mas também ponderamos as particularidades e singularidades que determinam as relações raciais no país.

No tocante a dimensão teórico-metodológica, a pesquisa foi construída, a partir de estudos das teorias sociais e da interlocução com trabalhos científicos acerca desta temática, através do levantamento e estudo bibliográfico, bem como na análise de dados estatísticos, sobretudo, das últimas pesquisas divulgadas pelo IBGE. Nesse sentido, dentre os principais autores utilizados ao longo deste trabalho, fazemos referência às contribuições de Octavio Ianni para a reflexão crítica sobre o “lugar” do negro no Brasil, articulando a outras reflexões

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empreendidas por autores como Florestan Fernandes, Abdias Nascimento com o objetivo de fomentar reflexões a cerca da questão racial e suas implicações para uma construção sociohistorica do “Lugar” da população negra no Brasil. Utilizamos Karl Marx para compreender os fundamentos da categoria pauperismo no marco da sociabilidade capitalista.

Para tanto, foi imprescindível a análise do processo da formação histórica e sociocultural da população brasileira, ponderando o período sócio-histórico brasileiro conhecido por “descobrimento”, quando o Brasil teria sido “descoberto” pelos portugueses, emergente a partir das grandes navegações no século XVI no processo de expansão do capitalismo, compreendendo este momento histórico como responsável pela formação das bases que apoiaram a construção das relações raciais no país.

Dessa forma, buscamos compreender a questão racial no Brasil desde a sua gênese, sendo necessário ponderarmos sobre o período de colonização, o qual é caracterizado pelo regime escravista. E a escravidão, segundo Neto e Braz (2010) podem ser compreendidos a partir do surgimento do excedente econômico e sua apropriação por aqueles que passaram a explorar os produtores diretos, emerge, então, o modo de produção escravista. E no Brasil, este modo de produção é caracterizado em primeiro momento, pela escravidão dos indígenas, e mais intensamente, em um segundo momento, a partir da escravidão do negro africano, conforme aponta Carvalho (2007) e Prado Junior (2000). Carvalho (2007) reconhece que a colonização foi um empreendimento do governo colonial aliado a particularidades, contendo uma conotação comercial, a qual estava associada ao desenvolvimento de uma sociabilidade pautada no capital.

De acordo com Netto e Braz (2010), quando se analisou a possibilidade de um homem produzir mais do que consome é o que se evidenciou o quanto era compensador escravizá-lo.

O excedente produzido por escravos torna-se mercadoria, e a partir disso, o comercio começa a se desenvolver com o surgimento da atividade mercantil. Assim depreendemos que o período colonial já nasce no sistema econômico capitalista. E nesse sentido, o negro ao mesmo tempo em que se constitui em produtor de excedentes, também se constitui em uma mercadoria. E é a partir dessa lógica que o tráfico negreiro foi incentivado, dentre outros motivos, por ser uma atividade extremamente lucrativa (conforme Prado, 2009), e da necessidade de mão-de-obra para a realização da vantajosa atividade de produção de açúcar.

Diante disso, Carvalho (2007) analisa que os escravos são importados, inicialmente, na segunda metade do século XVI, e processo prosseguiu ininterrupta até 1822, tendo em vista suprir a mão-de-obra necessária para a produção de riquezas sob a exigência do sistema econômico capitalista no período colonial, tendo em vista sua expansão na Europa.

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Para Prado Junior (2000), o também lucrativo tráfico africano foi intensificado ainda para incremento da mão-de-obra para trabalho escravo depois das “leis pombalinas” (Lei de proteção aos indígenas), sendo considerado como um tipo de escravidão mais “tranquila”, visto que a escravidão do negro era justificada e aceita tanto do ponto de vista legal, a qual tinha respaldo do Estado, quanto do ponto de vista ideológico e religioso.

Nesse contexto, para entendemos a gênese da questão racial no Brasil, foi necessário compreendermos o desenvolvimento do sistema capitalista, o qual possui interferência no país já no período de expansão do regime político colonialista. É nesse período que surge o negro africano no contexto nacional, para sustentar o processo de expansão do sistema capitalista comercial na Europa, a partir da necessidade, por parte dos colonos e produtores agrícolas, de mão de obra para trabalhar nas fazendas produtoras de cana-de-açúcar. Denotando, a partir disso, o estabelecimento de um processo chamado “tráfico negreiro”, no qual os coloniais obrigavam populações negras a saírem do seu continente de origem (o continente africano) para terem sua força de trabalho e seus corpos escravizados no Brasil, sendo obrigados a viajar em péssimas condições nos navios negreiros. Dando início a um dos processos mais cruéis e desumanos da história brasileira: o processo de escravidão da população negra.

Assim, analisamos que a escravidão dos negros no Brasil marca um período socio- histórico permeado de opressões e dominações moldado pelo modo de organização social e político vigente, que legitima a dominação de uma raça sobre outra. E nesse sentido, Fainello, Scolaro (2007) discorrem sobre a escravidão no Brasil:

A escravidão desenraizava o negro de seu meio social e desfazia seus laços familiares. Além dos trabalhos forçados, ele era usado como reprodutor de escravos: era preciso aumentar o rebanho humano do senhor de engenho.

(FAINELLO; SCOLARO; FÉLIX; BORGES; CONCEIÇÃO, 2007, p.8).

Segundo Hasenbalg (1979), o domínio coercitivo dos senhores sobre os escravos de forma cruel e desumana, está associado à ascensão da economia de plantação, que na época do Brasil colônia já era firmada em bases do modo de produção capitalista, embora houvesse as questões da tradição cultural.

Sendo assim, compreendemos ao longo deste trabalho que o processo de escravização do negro africano no Brasil constitui-se em um processo de “abuso” de sua força de trabalho, e também, como meio de destituí o negro de sua condição de pessoa humana, assim como toda a sua objetividade e subjetividade enquanto sujeito social. Portanto, compreendemos que historicamente, a partir da escravidão, houve uma impetuosa tentativa de destituí os negros de sua cultura, de seus valores religiosos, políticos, por meio da sua exploração e opressão em

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todos os âmbitos da sociedade. Esse processo culminou na construção social do que analisamos como o “lugar” do negro nesta sociabilidade, como sendo um lugar de subalternidade e de pauperização de sua situação de vida.

Ao ponderar a sociedade escravista, Fernandes (2010), analisa que alguns estudiosos da escravidão têm encarado suas relações com o capitalismo da perspectiva das sociedades metropolitanas. No entanto, Fernandes (2010, p. 39) afirma que como conexão imediata da escravidão o capitalismo se desenvolveu não nas sociedades metropolitanas em geral, mas

“naquelas sociedades que podiam preencher hegemonia através do poderio político-militar e financeiro-comercial”. De acordo com Fernandes (2010), a escravidão se insere, com relativa rapidez, entre os pré-requisitos tanto da eclosão capitalista modernizadora, quanto da formação e consolidação do capitalismo comercial. Segundo o autor, a escravidão não apenas alimentou a crise do regime escravocrata e senhorial, a qual foi responsável pelo seu desaparecimento, como também a construiu, “sem a persistência da escravidão e a transferência do excedente econômico que ela gerava para as cidades a “história” seria inexequível”, ou seja, a escravidão do negro no Brasil esta articulada diretamente ao desenvolvimento do sistema econômico capitalista e, mais que isso, para que esse sistema se expandisse foi necessário descaracterizar o negro enquanto pessoa humana (o qual era assim como qualquer homem, detentor das mesmas necessidades básicas e das mesmas limitações físicas, psicológicas, sociais, culturais, espirituais) para encobri-lo de resignificados pejorativos associados ao estigma da cor da pele, para poder justificar sua exploração violenta durante 300 anos de escravidão no Brasil. Além de usar a violência para obrigá-lo a produzir riquezas excedentes, as quais foram apropriadas pelos senhores coloniais e constituíram-se na base para a construção sociohistorica e econômica da sociedade brasileira.

Assim, compreendemos que a escravidão da população negra esteve associada ao modo de produção capitalista como uma forma lucrativa de exploração da força de trabalho, que se caracterizou a partir da coisificação do negro e transformação de sua pessoa humana em mercadoria para cultivo apenas de um sistema econômico pautado em contradições, e afirmação de um sistema social centrada no poder de uns, em detrimento ao direito a liberdade e dignidade humana a uma população historicamente subalternizada.

Nesse sentido, Florestan Fernandes (2010), compreende o período de colonização brasileiro, como sendo possível estabelecer dois tipos de confronto: o primeiro, apanhando as fases socioeconômicas da evolução do sistema de produção e de dominação econômica, e o segundo confronto permite considerar as fases de evolução do sistema social de poder. Ou seja, a escravidão vai perpassar e servir como base para a evolução e expansão do sistema de

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produção capitalista no Brasil e para a evolução da política, a qual se constitui em duas eras de emancipação: a primeira referente à continuidade do Estado Senhorial, e outra referente à construção de um Estado burguês. É a partir dessa perspectiva que tentamos compreender os determinantes históricos que incidiram diretamente nas condições atuais de vida da população negra, compreendendo estes determinantes político-econômicos como basilares para a apreensão das relações raciais desiguais estruturadas no país, a qual incide na exploração e pauperização da população negra.

Analisamos também que ao longo desse período de escravização da população negra, muitas revoltas sugiram nas fazendas e muitos escravos eram capturados ou mortos durante a fuga, mas os que conseguiam fugir constituíam os quilombos (comunidades onde viviam a população negra que conseguia fugir das senzalas). Ou seja, o negro também reagiu à escravidão buscando sua liberdade, tendo em vista a conquista de uma vida digna. Havia aqueles que conseguiam comprar sua “liberdade” ao contrair a Carta de Alforria, no entanto, não tinham oportunidades e sofriam preconceitos e discriminações da sociedade. Nesse sentido, analisaremos essas revoltas já como expressões de um inconformismo de sua condição de escravo e as primeiras expressões do surgimento de uma organização da população negra a qual culminou na emersão do um movimento negro no país.

Essa realidade começa a mudar quando, em meados do século XIX, a escravidão no Brasil passou a ser contestada pela Inglaterra em consonância com as crescentes mudanças socioeconômicas mundiais, tendo em vista a expansão e o desenvolvimento do sistema capitalista. Assim, era necessária a superação da ordem social escravista para ampliar a produção de riquezas e adquirir lucros, seria agora, fundamental a existência de “homens livres” os quais pudessem também comprar mercadorias, e ainda serem “livres” para vender sua força de trabalho.

Em 1888, a escravidão foi proibida no Brasil a partir do estabelecimento tardio da Lei1 Áurea. No entanto, esse importante marco legal que institui uma liberdade formal para os escravos negros, na realidade é o mesmo que mascara a continuidade de explorações, opressões e discriminações, e que nega oportunidades econômicas e condições dignas de vida à população negra. A partir desta Lei, o Estado reconhece a liberdade do negro (liberdade formal), mas não reconhece os danos causados pela escravidão à vida dessas pessoas, as quais

1 Analisamos que a lei da abolição da escravatura brasileira foi permeada por interesses contraditórios dos movimentos mais progressistas, liberais e abolicionistas que pertenciam a segmentos modernos burgueses da época. E nesse sentido, analisamos que a lei de abolição da escravatura foi instituída tendo em vista o desenvolvimento e consolidação do sistema econômico capitalista no Brasil.

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continuam aprisionadas pela falta de oportunidades, pela falta de amparo do Estado, pelo racismo fruto de preconceitos e discriminações contra os negros, associado ao acirramento das desigualdades sociais produzidas e reproduzidas pelo sistema capitalista.

Com o fim do sistema escravista no Brasil, se iniciam algumas transformações econômicas e políticas no país decorrente do desenvolvimento de um novo modo de produção, as quais repercutem nas relações de trabalho. Iniciam assim, a relação de trabalhador assalariado caracterizado pela compra e venda da força de trabalho. Mas, também analisamos a mudança no pensamento e cultura relacionados à questão racial no país, as quais são essencialmente relevantes, no entanto, incapazes de resolver a questão do negro nessa sociedade de classes.

No entanto, o modo de sociabilidade é o mesmo, mas em sua fase concorrencial. E o sistema capitalista continua a se caracterizar pela contradição entre capital e trabalho a qual lhe é fundante em todo o mundo, bem como a apropriação privada da terra e dos meios de produção e da riqueza social que é gerada de forma coletiva, os quais geram desigualdades sociais inerentes a este modo de produção. Assim, ponderamos que esse modo de produção se sustenta a partir do trabalho explorado e alienado. E a partir desse processo de apropriação privada da riqueza socialmente produzida, que compreendemos a existência da divisão da sociedade em classes sociais, onde concebemos a sociedade capitalista como arena de lutas entre classes, de um lado, a classe burguesa detentora dos meios de produção e, de outro, a classe proletária a qual possui apenas a sua força de trabalho para vender e garantir sua condição de vida. Dessa forma, salientamos que este sistema se constitui a partir de uma estrutura bárbara, desigual, individualista que propicia discriminações e opressões reguladas na dominação de uma classe hegemônica sobre outra.

Sendo assim, mesmo com o fim o sistema escravista, o trabalho na sociedade capitalista continua a ser um trabalho explorado. Segundo (trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!) Marx dizia que o trabalhador na sociedade capitalista esta sendo explorado tal como fora na sociedade escravocrata e na feudal. E a partir disso, ponderamos uma contradição na

“liberdade” estabelecida aos escravos em 1888, a qual liberta os negros de uma sociedade escravista (onde deveriam obedecer a um dono), mas os aprisionam na sociabilidade capitalista, a qual continua a depender do trabalho explorado. Assim, o negro deixa de ser escravo, mas continua a ser explorado na condição de trabalhador assalariado. Constituindo a

“liberdade formal” em uma ideologia para mascarar a constante condição de exploração do trabalho da população negra no Brasil até os dias de hoje.

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Compreendemos assim, que a questão racial no Brasil está associada à categoria do pauperismo no sistema capitalista. Visto que, segundo Santos (2007), Karl Marx foi que sempre criticou a “mistificação” da sociedade capitalista e criou a teoria do pauperismo, a qual é capaz de envolver as lutas dos trabalhadores tanto contra a pobreza quanto contra a desigualdade. Conforme Santos (2007, p.1), esta categoria está “calcada na centralidade das categorias trabalho, alienação/fetichismo e exploração”. E o negro no Brasil historicamente, sempre esteve em uma situação subalternidade, sendo uma população constituinte basicamente da classe trabalhadora, e nesse sentido sua condição social e política também é determinado pelo pauperismo existente no modo de sociabilidade vigente, além dos determinantes culturais.

Segundo Netto (2001), o fenômeno do pauperismo surge no século XIX durante a primeira onda de industrialização na Europa, mediante a instauração do capitalismo em seu estagio industrial-concorrencial, sendo expresso pela intensificação da pobreza e desigualdade social, dando início as primeiras lutas de classe. A partir disso, vemos que o pauperismo não se constitui em uma condição insueta no capitalismo, mas sim, em um fato inerente a este sistema, o qual necessita das desigualdades sociais para se sustentar.

E é nesse modo de sociabilidade que as opressões e desigualdades raciais ganham força, sendo no pauperismo um dos elementos para pensar a questão racial, a qual se manifesta também a partir do racismo. Segundo Jaccoud (2008), no Brasil o racismo nasce associado à escravidão, porém é exasperada após a sua abolição, quando ele vai se estruturando como discurso baseado em teorias racistas, expressa por meio do projeto de branqueamento que vigorou no Brasil até os anos 1930, quando foi substituído pela ideologia de democracia racial. E nesse contexto histórico, que o negro é posto em um “lugar”

subalternização e discriminação, sendo construído socialmente um “lugar” para o negro.

Conforme Jaccoud (2008) ainda, a questão racial passa por efetivas mudanças em nosso país, a partir da disseminação da ideologia de democracia racial, cujo termo surge na década de 1940 e amplia-se em 1950 com a divulgação da obra de Gilberto Freyre. Jaccoud (2008, p.51) nos ajuda a pensar a democracia racial como reinvenção de “uma história de boa convivência e paz social” no país. Quando na verdade, a ideia de democracia racial serve como escudo ao preconceito racial, ao invés de promover seu enfrentamento, a qual passa a ser criticada no final do século XX, pelo movimento negro e por muitos teóricos, tais como Fernandes (1978) quando em 1965 utiliza a compreensão de “Mito da democracia racial”, para realizar a crítica a ideologia de democracia racial como forma de mascarar o preconceito racial existente em nosso país.

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Sob essa perspectiva, realizamos algumas reflexões sobre o mito da democracia racial estabelecida no Brasil, elencando o racismo enquanto expressão de preconceito e descriminação os quais afligem a população negra.

O “mito da democracia racial” pode ainda ser nacionalmente desmistificada por dados estatísticos, os quais denunciam a desigualdade racial existente no Brasil. Esses dados denunciam que, embora a população Brasileira seja composta por cerca de 51% de negros, cerca de 13% dos negros com idade de a partir de 15 anos são analfabetos, por exemplo, sendo que apenas 10% da população brasileira são analfabetos.

E no Brasil, segundo dados do IBGE – Censo 2010 o número da população que se declara negra ou parda cresceu cerca de 70% em uma década. Estes dados não são suficientes para desmistificar ideologias de desvalorização da população negra, bem como de sua cultura, contribuição social, e a afirmação de uma identidade negra consciente e livre por parte da população brasileira. A população negra ainda não tem formada uma identidade racial, construída a partir de uma história de luta e resistência essencial na construção da sociedade brasileira. Ainda possuímos uma população negra que nega sua origem, pois é uma população extremamente oprimida e discriminada socialmente.

Historicamente, pontuamos que poucas ações foram realizadas para o enfrentamento ao racismo e como meio de promoção da igualdade e democracia no Brasil. No entanto, compreendemos a instituição da Constituição Federal 1988 como um avanço formal também para o enfrentamento da questão racial no país, quando estabelece em seu art. 5ª que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]”. Em 1989, quando se estabelece a Lei nº 7.716/89 que criminaliza as praticas de racismo no país. E mais recentemente, em 2010, no Estatuto da Igualdade Racial (2010) estabelecido pela Lei nº 12.288, na qual institui a efetivação da igualdade de oportunidades e a defesa de direitos a população negra.

Destarte, analisamos o Estatuto da igualdade racial como é um importante avanço, embora seja um marco legal que surge tardiamente. Explanaremos adiante que sua materialização depende de transformações sociais que vão além de aspectos legais, perpassando aspectos socioculturais e histórico-políticos inerentes à formação brasileira e ao projeto societário vigente.

Dividimos nosso trabalho em duas seções: na primeira intitulada de “A Questão Racial no Brasil: Considerações Acerca da Formação Sócio-Histórica”, no qual analisaremos os determinantes sócio-históricos os quais se constituíram como pilares para a construção das relações raciais desiguais entre brancos e negros no país. Diante disso, realizamos uma

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reflexão sobre o “lugar” do negro na sociabilidade de classes, compreendendo esta como determinante das condições paupérrimas de vida da população negra; e na segunda, definida com o “Inconformismo da População Negra: Expressões de Luta e Resistência”, realizaremos uma análise sobre o inconformismo da população negra como propulsor para sua organização e construção de uma consciência política e do movimento social negro atuante frente aos preconceitos, dominações e discriminações raciais reproduzidas nas relações raciais brasileiras, bem como sua importância na conquista de direitos e superação efetiva dessas desigualdades, tendo em vista a transformação da sociedade. Por último, discorreremos sobre nossas considerações finais a respeito deste trabalho, tendo em vista, analisar os resultados alcançados e propor caminhos para o estabelecimento da igualdade racial.

Assim, a principal motivação para a realização desta pesquisa se apresenta pela própria complexidade da problemática racial existentes no país. As desigualdades raciais perpassam todas as relações raciais no Brasil, sendo profundamente necessário analisarmos todos os determinantes sociais que permeiam a produção e reprodução das discriminações e preconceitos raciais que incidem diretamente na vida da população negra no Brasil. A motivação principal é depreender elementos da realidade social para fomentar a reflexão crítica sobre os resultados dessa pesquisa, sendo essencial para que possamos pensar em estratégias e meios de intervenção sociais frente a essas problemáticas, as quais são essenciais para a compreensão das relações sociais engendradas neste modo de sociabilidade capitalista, mas não são igualmente analisadas como outras expressões da “questão social”. Dessa forma, na sociedade do capital a questão racial ganha materialidade semelhante às problemáticas estabelecidas pela contradição entre o capital e trabalho, tais como a pauperização, exploração e dominação da classe trabalhadora (a qual neste país é composta principalmente pela população negra), mas que também apresenta questões singulares, pondo a questão racial como um grande enigma, a ser necessariamente desvendado como pressuposto para a compreensão e atendimento das necessidades sociais desses cidadãos nos limites do marco capitalista.

A presente pesquisa tem relevância social por se tratar de uma temática que têm materialidade na vida social de grande parte da população brasileira. E nesse sentido, analisamos que esta pesquisa foi essencial para a apreensão sucinta das reais condições de vida da população negra, caracterizadas por situações de precáriedade e pauperização. Assim sua apreensão na totalidade brasileira, é compreendida aqui como fundamental, também, para fomentar as lutas e resistências das populações negras, movimentos sociais negros e outras entidades organizadas frente ao racismo e as discriminações raciais. Assim, os movimentos

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sociais negros terão mais um subsídio para o fortalecimento de suas reivindicações e pressões do Estado, tendo em vista à conquista de direitos e políticas sociais que proporcionem melhores condições objetivas e subjetivas de vida a população negra.

Do ponto de vista acadêmico, analisamos que a produção de conhecimentos é essencial ao enfrentamento das problemáticas que afligem a humanidade e, este se constitui em um dos papéis da universidade. Nesse sentido, depreendemos que a questão racial no país é uma grande problemática posta na sociedade de classes, sendo imprescindível seu estudo e pesquisa sobre seus determinantes microestruturais e macroestruturais para a fundamentação da crítica para uma intervenção social qualificada na vida da população negra que tem suas condições de vida incididas pelo pauperismo, pelo preconceito, discriminação, opressão e exploração.

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2 CAPÍTULO – A QUESTÃO RACIAL NO BRASIL: CONSIDERAÇÕES ACERCA DA FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA.

“o Brasil moderno parece um caledeidocópio de muitas épocas, faz de vida e trabalho, modos de ser e pensar. Mas é possível perceber as heranças do escravismo predominando sobre todas as heranças”. (IANNI, 2004, p.61).

Ao analisarmos as particularidades da questão racial, podemos compreendê-la como elemento cerne na discussão sobre desigualdades sociais no Brasil, a partir da análise da formação sócio-histórica brasileira.

Compreendemos a questão racial ainda, como uma refração da “questão social”, a qual se expressa enquanto pauperização, exploração e desigualdades da população negra. E para entender todos os rebatimentos da questão racial na atualidade, torna-se necessário analisarmos a questão racial como uma problemática que têm determinantes históricos na construção sócio-histórica da população brasileira, respaldada pelo modo de produção capitalista.

No Brasil, a classe trabalhadora, foi construída socialmente e amparada por uma cultura e modo de sociabilidade que legitimava a exploração e a expropriação da riqueza produzida pela mão de obra negra. Trata-se do modelo de acumulação capitalista, em sua fase mercantil/comercial, caracterizada também pela colonização de povos e territórios e, teve, na particularidade brasileira, uma conformação assentada pelo regime escravocrata, cuja base social de trabalho explorado era baseada na mão de obra negra de origem africana. Assim, compreendemos que, no Brasil, a questão social está intimamente ligada à questão racial.

Nesse sentido, devemos compreender a questão racial imbricada na história da formação da sociedade brasileira como consequência das desigualdades econômicas, políticas e culturais engendradas pela produção e reprodução de relações sociais contraditórias inerentes à sociabilidade do capital que condicionam a vida da população negra desde o período de colonização até a contemporaneidade.

Deste modo, compreendemos a necessidade de dividir essa seção em dois tópicos centrais. Na primeira subseção, realizaremos uma reflexão crítica sobre os desdobramentos sócio-históricos, ideoculturais, políticos e econômicos os quais contribuíram para a produção e reprodução da questão social e racial, ou seja, para a discriminação, preconceito racial e pauperização da população negra no Brasil.

Ao analisarmos a questão racial e seus rebatimentos socioeconômicos na condição de vida da classe trabalhadora, compreendemos que esta se relaciona diretamente a situação de

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pauperização da população negra na sociedade brasileira. Assim, na segunda subseção, discutiremos sobre a pauperização do negro na sociedade brasileira, tomando a questão racial como expressão da questão social, compreendendo seus desdobramentos na contemporaneidade, assim como o acirramento das desigualdades sociais e pauperismo da classe trabalhadora e, os determinantes sociopolíticos que incidem na situação de exploração da população negra nesta sociedade.

2.1. O LUGAR DO NEGRO NA SOCIEDADE BRASILEIRA

São profundos os laços que envolvem a questão racial a história da formação social brasileira, construída a partir das contradições sociais essenciais do desenvolvimento capitalista.

Desse modo, a questão racial se expressa na conjunção social de exploração da força de trabalho, pauperização das condições de produção e reprodução da vida social. Marcado por concepções de “raça”, discriminações e opressões motivadas por ideologias e culturas pautadas no assentimento das desigualdades raciais e de classes sociais, os quais são condicionantes da situação de desproteção à população negra na contemporaneidade, cuja sua compreensão se enceta a partir da produção e reprodução histórica de determinantes culturais- ideológicos baseadas na inferioridade e “desumanidade” do negro, assim como pelo condicionamento da acumulação capitalista a partir da legitimidade do “abuso” da força de trabalho da população negra deste o período Colonial, Império até a República, conforme aponta Ianni (2004, p.85) ao compreender que “a historia da formação social brasileira registra a desigualdade enquanto uma realidade concreta do Brasil Colônia ate os dias atuais”.

E ao analisarmos a questão racial nos referimos à condição social do negro no desenvolvimento da sociabilidade brasileira, compreendendo o caráter histórico e dinâmico das relações sociais. Conforme Ianni (2004) amplos elementos da questão racial no Brasil dizem respeito ao negro. E podemos compreender esta referência ao considerarmos as bases sócio-históricas e político-econômicas que fomentaram a Formação social brasileira. E nesse sentido, afirmamos que a construção social brasileira foi estruturada a partir das relações sociais desiguais que colocam o negro em situação de pauperismo no âmbito social, político e econômico. Conforme aponta Ianni:

Sim, grande parte da questão racial no Brasil diz respeito ao negro, como etnia e categoria social, como a mais numerosa “raça”, no sentido de categoria criada socialmente, na trama das relações sociais desiguais, no jogo das forças sociais,

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como as quais se reiteram e desenvolvem hierarquias, desigualdades e alienações.

(IANNI, 2004, p. 143).

Ianni (2004) discorre sobre a questão racial no Brasil a qual se referencia, principalmente ao negro, embora consideremos que a questão racial também possa se referir a outras formas de “abusos” incididos a outras “raças” (como exemplo, o “massacre”

consolidado contra o índio brasileiro no período colonial). Contudo, o autor enfatiza a questão racial como problemática do negro estruturada a partir da formação social brasileira, compreendida ainda a partir das particularidades sociais e históricas que legitimaram as desigualdades e alienações acometidas a população negra, as quais negaram o negro como etnia e como categoria social. O que nos leva a refletir ainda, sobre as selvagerias investidas historicamente contra os costumes, valores e as crenças da população africana, a qual embora tenha sido negada e criminalizada, têm seus elementos eternizados na nossa cultura a partir do processo de formação social do Brasil.

A população negra é marcada por discriminação, opressão e preconceito de raça, gênero e de classe social frutos de discriminações e preconceitos estabelecidos socialmente, e nesse sentido, Silva (2009, p.196) confirma que as desigualdades de classe e a desigualdade racial no Brasil contemporâneo são expressões da herança do processo histórico, a que se acrescem, atualmente, outros determinantes nesse processo. E pensar na questão racial como sendo fundada a partir de relações capitalistas contraditórias, as quais foram construídas historicamente adjuntas a formação sócio-histórica brasileira e, cujas refrações que se apresentam até os dias atuais, significa refletirmos sobre os principais determinantes que contribuíram para o advento e aprofundamento dessas desigualdades raciais, bem como para pensarmos qual é “lugar” ocupado pelo negro nesta sociabilidade.

Segundo Silva (2009), para Ianni (2004) a população negra sempre ocupou lugares mais vulneráveis e “invisíveis”, seja no âmbito social, político, econômico ou cultural. E para analisarmos qual o espaço ocupado pela população negra em nossa sociedade, assim como apreender a totalidade e suas principais demandas e reivindicações, é indispensável ponderarmos alguns elementos destacados por Ianni (2004) dentre os quais:

[...] a incorporação do negro à sociedade brasileira como força escrava de trabalho, a formação e desenvolvimento das castas, a formação social escravocrata, os “mitos particularmente cruéis” criados pela “elite” dominante sobre a história da sociedade brasileira e, por fim, a longa história de alienação e a ideologia racial evasiva que se consolidou na sociedade brasileira em vários setores. (IANNI, 2004 apud SILVA, 2009, p.195).

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Assim, Ianni (1978) nos ajuda a compreender as peculiaridades da formação social brasileira, tendo em vista a sociedade escravista e o seu processo abolicionista no país, cujas características determinam as particularidades de integração e antagonismo raciais construídos posteriormente ao processo de abolição da escravidão do negro e ininterrupto contemporaneamente em nossa sociabilidade.

A incorporação do negro à sociedade brasileira sucedeu-se enquanto trabalhador escravizado, cuja sua força de trabalho era à base da produção e expansão de plantações e engenhos nas colônias. Ianni (1978) compreende que esse processo de escravização do africano foi suscitado pelo processo de acumulação produtiva e consequente desenvolvimento do capitalismo comercial, o qual provocou uma intensa acumulação de capital nos países metropolitanos (principalmente nos países da Europa), a partir da exploração e expropriação da riqueza socialmente produzida pelos africanos escravos, cuja consequência se materializa no modo como foram estruturadas as relações sociais no período colonial. Assim, Ianni (1978) compreende um paradoxo:

O mesmo processo de acumulação primitiva, que na Inglaterra estava criando algumas condições histórico-estruturais básicas para a formação do capitalismo industrial, produzia no Novo Mundo a escravatura, aberta ou disfarçada. (IANNI, 1978, p.4).

Da mesma forma Fernandes (2010, p.37) analisa a questão racial considerando sua historicidade e sua conexão direta ao desenvolvimento do sistema capitalista. E nesse sentido, o autor discorre que o Brasil conheceu, em sua história colonial e independente, várias formas de escravidão. E acompanhando a história, analisamos que a escravidão do negro se estruturou a partir de determinações dos vários “ciclos econômicos” (Fernandes, 2010, p. 37), assim também compreendemos que a escravidão e “libertação” do negro estão essencialmente articuladas ao processo de desenvolvimento e manutenção do modo de produção capitalista.

Não obstante, Nascimento (1978, p.49), compreende que o escravo foi essencial para o começo da história econômica do Brasil quanto um país estabelecido sob o “signo do parasitismo imperialista”. Estima-se que cerca de 4.000.0002 de africanos foram importados para o Brasil (NASCIMENTO, 1978, p. 49), os quais foram essenciais para a produção das riquezas da colônia, cujos seus excedentes significaram o lucro exclusivo da aristocracia branca e a oportunidade de acumulação necessária para o desenvolvimento das relações

2 Número estimado apresentado por Nascimento (1978, p.49), o qual será retomado adiante.

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econômicas capitalistas. Deste modo, o africano escravizado representou o pilar central na construção sócio-histórica da sociedade brasileira.

O africano escravizado construiu as fundações da nova sociedade com a flexão e a quebra da sua espinha dorsal, quando ao mesmo tempo seu trabalho significava a própria espinha dorsal daquela colônia. (NASCIMENTO, 1978, p. 49).

No entanto, contrapondo- se a isto, Gilberto Freyre, a partir da teoria luso-tropicalista3, compreende que os portugueses obtiveram êxito em criar uma alternativa avançada de civilização, supunha que “a história registrava uma definitiva incapacidade dos seres humanos (os “selvagens” da áfrica, índios...) em erigir civilizações importantes nos trópicos”

(NASCIMENTO, 1978, p. 42). Quando na verdade, foram os escravos os principais propulsores da construção da civilização nas colônias. E no tocante as reflexões realizadas por autores como Gilberto Freyre, Oliveira Viana, Nestor Duarte e Fernando de Azevedo, Fernandes (2010) critica a unilateralidade dos conhecimentos obtidos por esses autores.

Segundo Fernandes (2010, p. 71), “essa unilateralidade nasce da redução do macrocosmo social inerente à ordem estamental e de castas ao micro social inerente a plantação ou engenho e à fazenda”, dessa forma os autores desconsideram a totalidade, o contexto histórico estrutural e seus determinantes.

Conforme Florestan Fernandes (2010, p.40), a escravidão “se insere entre os pré- requisitos tanto da eclosão capitalista modernizadora, quanto da formação, consolidação e diferenciação do capitalismo comercial”. Desta forma, o modo de produção capitalista, cujos primeiros indícios de sua emersão sobrevêm a partir da essencial obtenção da produção de um excedente econômico, envolveu a produção e reprodução de relações escravistas como meio de ascensão do desenvolvimento das forças produtivas e para a produtividade do trabalho, por meio da escravização do africano no Brasil, tendo em vista a usurpação de sua força de trabalho.

[...] Na essência do funcionamento e dos movimentos do escravismo, enquanto formação social, está um singular processo: a violência e a repressão abertas são exigências políticas, sociais e culturais de ralações de produção organizadas para poduzir mais-valia absoluta, produto esse que aparece direta e explicitamente como expropriação. (IANNI, 1978, p. 39).

Para compreendermos a relação estabelecida entre o capital comercial e a consolidação do trabalho escravo no Brasil, precisamos analisar as relações sociais de poder estabelecidos

3 Conforme Nascimento (1978, p. 42), Gilberto Freyre foi fundador da teoria luso-tropicalismo, a qual se constitui em uma ideologia que prestou serviços ao colonialismo português.

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no período colonial caracterizado pelo controle direto da Coroa ao Brasil. E nesse sentido, compreendemos a escravidão da força de trabalho do negro como sustentação da expansão do capitalismo comercial na Europa a partir da invasão a novas terras e expropriação de toda a riqueza delas produzidas.

Foi o capital comercial que comandou a consolidação e a generalização do trabalho compulsório no Novo Mundo. Toda a formação social escravista dessa área estava vinculada, de maneira determinante ao comercio de prata [...] e outros produtos coloniais. (IANNI, 1978, p.6).

Assim, escravidão do negro africano no Brasil foi estabelecida devida sua conveniência ao sistema econômico que se instaurava ainda no período colonial e vinculado ao capital comercial Europeu, o qual se sustentava por meio da exploração da força de trabalho do negro e da extração de seu produto excedente.

E para compreender a escravização de negros e índios, Ianni (1987, p.10) também analisa a escravidão como sendo uma forma de prender o trabalhador aos meios de produção, para que estes produzissem todas as mercadorias necessárias ao capital comercial. Assim, se estes fossem assalariados poderiam invadir as terras devolutas disponíveis, podendo se transformar em produtores autônomos. Essa teoria constituiu-se, inclusive, em um dos principais motivos do estabelecimento da Lei de terras4 em 1850, articulado diretamente ao desenvolvimento das relações sociais capitalistas.

Dentre as questões que fomentam a discussão sobre a escravidão no Brasil, são abordadas também por Ianni (1987, p. 10 e 11) a necessidade de escravos devido à ausência de mão de obra nas metrópoles para o desenvolvimento da produção de riquezas nas colônias;

E o fato de ser um negócio bastante lucrativo para os comerciantes ligados ao tráfico de negros da África ao Novo Mundo.

A partir disso, compreendemos a essencialidade da escravidão do negro para a construção sócio-historica brasileira, o qual foi fundamental para acender a produção de riqueza e acúmulo de excedente econômico necessário ao sistema, sendo assim, responsável pela sustentação, e ao mesmo tempo, pelo desmoronamento do sistema colonial e senhorial.

A escravidão do negro foi essencial também à crise final da produção escravista e senhorial, pois conforme Florestan Fernandes (2010, p.40) dela também irrompe a negação do regime escravocrata e senhorial, não através da atuação revolucionaria das massas escravas,

4 Por isso, que a questão racial também se constitui em uma problemática estreitamente articulado a questão agrária no Brasil.

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mas por crises e rupturas que converteram o abolicionismo numa “revolução de branco para branco”, a partir do surgimento e expansão de uma nova ordem social a qual estrutura as novas relações de poder entre as classes sociais incidindo no desenvolvimento de um Estado burguês e reconfiguração das relações econômicas entre o Brasil e países da Europa.

Ela alimentou essa crise, inclusive no plano construtivo, já que sem a persistência da escravidão e a transferência do excedente econômico que ela gerava para as cidades (segundo ritmos históricos lentos) a história ocorrida seria inexequível.

(FERNANDES, 1978, p. 41).

No entanto, compreendemos a existência de outras concepções que incidem diretamente em um artifício na negligencia das análises sobre as relações sociais escravistas e senhoriais no Brasil. Há compreensões que tendem a “romantizar” o processo de crise do regime escravista no Brasil, as quais ressoam entre o senso-comum a partir da apreensão social de ideologias postas pelas classes dominantes. Essas ideologias apresentam o processo abolicionista da escravidão no Brasil enquanto um processo unilateral, sendo reconhecido somente enquanto um acontecimento histórico incidido apenas pela ação “revolucionária”

massiva de homens brancos e negros depreendendo a escravidão como a perpetuação do regime colonial. Reconhecemos esse processo histórico, pois não podemos recusar a contribuição das lutas a favor da abolição da escravidão do negro, advindo do próprio inconformismo e resistência do escravo. Porém, segundo Fernandes (2010, p. 40), a atuação revolucionaria das massas escravas não chegaram a ocorrer como “fator tópico” das transformações históricas, mesmo porque os escravos eram impedidos, por sua condição objetiva e subjetiva marcada por sua exploração, precarização e subordinação aos senhores escravos, da possibilidade de construção de uma consciência política transformadora de sua condição de vida, imposta pela escravidão. E os abolicionistas constituintes da “raça”

dominantes mais preocupados com os benefícios econômicos incididos pela abolição da escravidão. Na significação da abolição em seu histórico-estrutural, esta “foi sempre um negocio de brancos, o resultado dos antagonismos entre os interesses da casta dos senhores brancos e os interesses da burguesia branca emergente” (IANNI, 1978, p 40).

Perdeu-se de vista, assim, o que a escravidão, que aparecia de modo visível como o principal esteio de perpetuação de tudo o que era colonial e senhorial, representava para a emergência, a consolidação e a irradiação do que era capitalista e moderno.

(FERNANDES, 2010, p. 41).

Desta forma, a articulação entre o regime escravocrata e suas funções econômicas pode ser compreendida, a partir das análises das funções econômicas da escravidão realizadas

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por Fernandes (2010), tendo em vista, o contexto histórico-estrutural a partir do sistema de produção e de dominação econômica, compreendendo uma reconstrução analítica desde a base econômica até as estruturas sociais de poder. E o autor também abrange as funções sociais da escravidão, a qual esta necessariamente, relacionada “as determinações e implicações da base econômica sobre o sistema social de poder e de dominação política”

(FERNANDES, 2010, p.43).

No que se referem às funções sociais da escravidão, esta era erigida adjunto de relações de poder e dominação política, sendo estabelecidas no regime escravocrata a partir da estratificação social em estamentos e castas distintas, onde o núcleo central era ocupado pela

“raça branca” dominante e ao redor os escravos índios, negros e mestiços. (FERNANDES, 2010, p. 64).

E a partir desse arranjo social, foram estabelecidos técnicas de controle e repressão criados pelo sistema escravocrata para legitimar as crueldades estabelecidas contra o negro escravo. Mesmo que as relações econômicas tenham sido determinantes ao estabelecimento da escravidão no Brasil, este apenas conseguiria se manter diante de toda a sua contradição, a partir do desenvolvimento de relações sociais centralizadas no poder e dominação.

Isto é, as transformações sociais escravistas tornaram-se organizações político- economicas altamente articuladas, com os seus centros de poder, princípios e procedimentos de mando e excussão, técnicas de controle e repressão. (IANNI, 1978, p.13).

Assim, para dissimular e manter as contradições sociais inerentes ao processo de escravidão no Brasil e ao desenvolvimento das forças produtivas na Europa, segundo Ianni (1978, p.13), a sociedade colonial cria e recria mecanismos de dominação que eram materializados por meio da força coerciva altamente violenta e, por meio da disseminação de ideologias que legitimavam socialmente a escravidão do negro e reprimiam qualquer resistência ou ação política para preservar a produção e reprodução da ordem social escravista.

O modo como era organizado as formações sociais no regime escravista implicavam em um processo de alienação do trabalhador escravo, fomentada a partir da difusão de inverdades de que o negro era física e moralmente subordinado ao senhor de escravos em sua atividade produtiva e em suas atividades religiosas e culturais (IANNI, 1978, p.13):

Nessas formações sociais, as unidades produtivas [...] estavam organizadas de maneira a produzir e reproduzir, ou criar e recriar, o escravo e o senhor, a mais-

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