• Nenhum resultado encontrado

Acordo de Basileia III : uma análise sobre sua efetividade na prevenção de crises financeiras

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Acordo de Basileia III : uma análise sobre sua efetividade na prevenção de crises financeiras"

Copied!
88
0
0

Texto

(1)

Brasília - DF

2015

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós-Graduação

Stricto Sensu

em Economia

ACORDO DE BASILEIA III: UMA ANÁLISE SOBRE SUA

EFETIVIDADE NA PREVENÇÃO DE CRISES FINANCEIRAS

(2)

DIANA MARIA DE FREITAS VASCONCELOS

ACORDO DE BASILEIA III: UMA ANÁLISE SOBRE SUA EFETIVIDADE NA PREVENÇÃO DE CRISES FINANCEIRAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto

Sensu em Economia da

Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Economia.

Orientador: Prof. Dr. Benjamin Miranda Tabak

(3)

Ficha elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UCB V331a Vasconcelos, Diana Maria de Freitas.

Acordo de Basileia III: uma análise sobre sua efetividade na prevenção de crises financeiras. / Diana Maria de Freitas Vasconcelos – 2015.

86 f.; il.: 30 cm

Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2015. Orientação: Prof. Dr. Benjamin Miranda Tabak

1. Direito. 2. Acordo de Basileia III. 3. Crise financeira. 4. Regulação bancária. I. Tabak, Benjamin Miranda, orient. II. Título.

(4)
(5)
(6)

AGRADECIMENTO

(7)

RESUMO

Referência: Vasconcelos, Diana. Acordo de Basileia III: uma análise sobre sua efetividade na prevenção de crises financeira. 86 fls. Dissertação de mestrado (Mestrado em Economia) – Universidade Católica de Brasília, Brasília-DF, 2015.

Este trabalho tem como objetivo analisar como está sendo a implantação do Acordo de Basileia III e avaliar sua efetividade na prevenção de eventuais crises financeiras. Os acordos de Basileia foram se aprimorando e adaptando-se às necessidades corroborando a hipóteadaptando-se de que a regulação internacional é necessária nos marcos da globalização financeira, mas precisa se adaptar continuamente às inovações e crises. Deste modo, analisa-se as possíveis falhas reveladas pelo Acordo de Basileia II no momento de eclosão da crise e o que o Acordo de Basileia III se propõe a resolver. Neste sentido, apresentamos os termos do novo acordo realçando alguns aspectos interessantes e controversos das principais mudanças por ele introduzidas. Também verificamos como estão sendo os movimentos do Brasil, dos Estados Unidos e da União Europeia para convergir ao padrão internacional estabelecido, revelando a importância de que cada país, além de implementar as regras internacionais, possa agregar a estas regras características particulares para aprimorar sua regulação. Por fim, torna-se possível avaliar se a nova regulamentação, face aos desafios da regulamentação prudencial, supervisão e monitoramento da atividade bancária, é ou não eficaz para constituir e fortalecer uma barreira de proteção que consiga prevenir o surgimento e os impactos de crises financeiras.

(8)

ABSTRACT

Reference: Vasconcelos, Diana. Basel III: an analysis of its effectiveness in preventing financial crises. 2015. 86 pp. Universidade Católica de Brasília - UCB, Brasília-DF, 2015.

This work aims to analyze how has being the implementation of Basel III and evaluate its effectiveness in preventing financial crises. The Basel agreements have been improving and adapting to the needs supporting the hypothesis that international regulation is needed in the framework of financial globalization, but have to continually adapt to innovations and crises. Thus, we analyze the possible failures revealed by the Basel II Agreement at the time of outbreak of the crisis and what the Basel III aims to solve. In this sense, we present the terms of the new agreement highlighting some interesting and controversial aspects of the main changes introduced by him. We also verified how has being the movements of Brazil, the United States and the European Union to converge to the international standards established, revealing the importance of each country, besides implement international rules, on add to these particular characteristics rules to improve their regulation. Finally, it was possible to assess whether the new regulations, faced to the challenges of prudential regulation, supervision and monitoring of banking, is or not effective to establish and strengthen a protective barrier that can prevent the appearance and impact of financial crises.

(9)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Cronograma de implantação de Basileia III...23 Figura 1 – Gap Crédito x PIB e crescimento do PIB de 1986 a

2009...48

Quadro 2 – Circulares BCB para Basileia

III...56

Quadro 3 – Cronograma requerimento de capital no

Brasil...59

(10)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Teste de Johansen – capital e reservas bancos alemães...41 Tabela 2 - Correlação entre o crescimento do PIB (yt) e o gap de crédito em relação ao PIB (zt) e crescimento do PIB (yt) e o amortecedor de capital

contracíclico (bt) para os países

(11)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

2 POR QUE BASILEIA III ... 12

2.1 A CRISE ... 12

2.2 POSSÍVEIS FALHAS DE BASILEIA II ... 16

2.3 COMO BASILEIA III SE PROPÕE A RESOLVER ... 21

3 COMO É BASILEIA III ... 32

3.1 QUAIS ASPECTOS SÃO INTERESSANTES OU CONTROVERSOS ... 32

3.2 COMO ESTÁ SENDO BASILEIA III NO BRASIL ... 55

3.3 O QUE OS OUTROS PAÍSES ESTÃO FAZENDO ... 65

3.3.1 Estados Unidos ... 68

3.3.2 União Europeia ... 72

4 ANÁLISE CRÍTICA ... 77

5 CONCLUSÃO ... 81

(12)

1INTRODUÇÃO

Após a crise de 2008, o ambiente regulatório da atividade bancária tem implantado medidas e reformas com vistas ao seu fortalecimento e consequente prevenção a possíveis crises financeiras e econômicas. Nesse contexto, temos a aplicação de novas regras e políticas macroeconômicas, requisições do Comitê de Basileia de Supervisão Bancária (BCBS) para consolidação dos dados e ampliação da estrutura de governança, a fim de mitigar o risco de assimetria de informações entre as instituições financeiras e reguladoras.

Considerando o sistema financeiro atual em constante aprimoramento das regras que visam proporcionar um mercado cada vez mais seguro e com mecanismos para suportar crises, alguns fatos são relevantes: basear-se em cenários de crises passadas não torna o ambiente mais controlável já que crises não são eventos previsíveis; o fluxos de capital cross country tem se intensificado deixando os bancos sujeitos a diferentes restrições regulamentares, com perda de competitividade e pressão sobre os reguladores, o que dificulta aplicar efetivamente as regras sugeridas pelo BCBS.

Ao contrário da realidade econômica quando do crash de 1929, as economias atuais são globalmente interligadas e interdependentes. Deste modo, a crise financeira de 2008 afetou todas as economias do mundo pela via de contágio dos produtos financeiros e colocou uma grande questão que importa ao BCBS responder: como reforçar as defesas do setor bancário face a choques financeiros futuros?

O objetivo deste trabalho se concentra em analisar como está sendo a aplicação das mais recentes regras de Basileia de modo a verificar sua efetividade face ao seu objetivo de prevenção de novas crises.

(13)

Deste modo, analisa-se a evolução do sistema financeiro face a crise de 2008, tomando-se conhecimento das forças e fragilidades dos acordos de Basileia realçando algumas das principais evoluções e desafios apresentados ao setor bancário.

Sabe-se que o Acordo Basileia II, divulgado em 2004, baseou-se no princípio de que os bancos deveriam adequar sua estrutura de capital aos riscos que assumem e que é responsabilidade dos bancos centrais a supervisão dos bancos. Também teve por objetivo reforçar a disciplina de mercado através da crescente transparência nos relatórios financeiros bancários.

Com a crise do sistema financeiro em 2008 a importância da regulação bancaria foi renovada. Daí foi formulado o Acordo de Basileia III com o intuito de tornar o sistema financeiro mais resiliente, reduzir custos de crises bancárias e amparar o crescimento sustentável do setor.

(14)

2 POR QUE BASILEIA III

2.1 A CRISE

Quando observamos corridas bancárias, intervenções de grande escala do governo no sistema bancário e falhas comuns que induzem os bancos ao descumprimento de suas obrigações, realização de fusões ou encerramento de suas atividades, podemos estar diante de uma crise no sistema financeiro.

Para Demirguc-Kunt e Detragiache (1998) um episódio evidencia uma situação de crise quando detém pelo menos uma das seguintes condições: "(i) a proporção de ativos não performados para ativos totais no sistema bancário é superior a 10%; (ii) o custo de recuperação da operação é de pelo menos 2% do PIB; (iii) problemas do setor bancário resultam em uma nacionalização em grande escala de bancos; (iv) ocorrem extensas corridas bancárias ou medidas de emergência como o congelamento de depósitos, feriados prolongados e garantias de depósitos generalizadas, são adotadas pelo governo em resposta à crise ".

Mesmo com essa caracterização, Gavalas (2015) considera que as crises bancárias podem não ser reconhecidas a tempo, já que intervenções como nacionalização de bancos e apoio por parte dos governos podem mascarar o assunto e retardar a percepção de sua existência. Além disso, os parâmetros a serem observados requerem uma crise grande e barulhenta o suficiente para serem identificados em eventos de mercado ou de crédito.

Corroborando com essa análise, Uhde e Heimeshoff (2009) consideram que a crise bancária pode ser um indicador preciso da força do setor bancário, mas essa percepção pode ser distorcida pelas seguintes razões: (i) as crises bancárias são definidas e anunciadas de forma diferente entre os países; (ii) os

reguladores podem ser menos inclinados

(15)

O histórico de crises passadas se constitui numa ferramenta útil para evitar crises futuras, no entanto, na crise iniciada em 2007 uma questão comum foi por que as lições da Grande Depressão não foram assimiladas de forma que as instituições surgidas naquela época fossem capazes de prevenir que a situação se repetisse, já que o mundo não experimentava uma crise tão severa desde a quebra da bolsa em 1929, ocorrida 70 anos antes?

Em resumo, o nascedouro da crise se deu quando a política de expansão do crédito, promovida pelo Federal Reserve, gerou as hipotecas subprime, os credores passaram a vender essas hipotecas aos bancos de investimento, que combinavam várias delas em derivativos chamados de Obrigações de Dívida Garantida (CDO), e vendendo estes CDO a investidores do mundo todo. Os credores não se importavam se os mutuários seriam capazes de saldar estas dívidas, elas continuavam sendo passadas adiante, mediante falsas promessas. A desregulação havia também afrouxado os limites da alavancagem, portanto, o número de empréstimos subprime continuava crescendo, tornando-se o preferido dos bancos de investimento.

Na sequência, a crise percorre o seguinte caminho, de acordo com Uhde e Heimeshoff (2009): liberalização financeira, excessiva assunção de riscos por instituições financeiras, regulamentação ineficaz por reguladores ingênuos, rápido crescimento do crédito, falência de bancos e contágio de instituições saudáveis.

Diante dos fatos, Greenspan (2013) avalia que houve uma subestimação dos riscos e uma complexidade crescente, que tornou difícil a fiscalização. Assim, temos a causa da crise recente na desregulação: a revogação de leis que já existiam e a não criação de leis que deveriam controlar a crescente financeirização, sendo inevitável pelo funcionamento imprudente que vinha sendo adotado pelo sistema financeiro submerso numa série de dificultadores macroeconômicos.

(16)

de risco. Este aumento do endividamento pode implicar ainda num aumento no número de empréstimos para clientes de baixa qualidade e em valores de garantia de qualidade inferior. Isto por sua vez pode levar a um aumento das perdas de empréstimos.

Gestão de risco financeiro é difícil no melhor dos tempos, mas especialmente na presença de incerteza econômica e crises financeiras. O cenário da globalização em 2007 contava com a internacionalização do setor bancário e das decisões econômicas, a transnacionalização dos capitais e a dissociação entre economia real e economia financeira o que deixava o sistema político nacional e convencional com grande dificuldade para estabelecer regras estáveis e consistentes para a atuação dos agentes econômicos, no entanto a economia prejudicada tinha na intervenção e na regulação a saída para controlar os abusos da financeirização e restaurar a confiança da sociedade em seus governantes e na economia.

Greenspan (2013), reconhece que apesar da ruptura de nossos sofisticados modelos de gestão de riscos e apesar do fracasso das agências de classificação de risco, o sistema financeiro teria resistido se o terceiro baluarte contra a crise, o sistema regulatório, tivesse funcionado de forma eficiente. Ou seja, se o sistema financeiro operasse dentro de certos limites previamente definidos seria possível evitar, ou pelo menos atenuar as crises.

No quase colapso do sistema financeiro vivenciado na crise recente, os bancos ao redor do mundo sofreram enormes perdas comerciais. Conforme o BCBS (2011), as perdas para muitos bancos ultrapassaram os requisitos mínimos de capital estabelecidos para as carteiras de negociação pelo seu enquadramento inicial de 1996. Tais perdas sugerem que os sistemas de gestão de risco com base no quadro original eram ineficazes na prevenção dos bancos tomarem riscos substanciais em suas carteiras de negociação.

(17)

para compreender melhor os mecanismos que impulsionam a pró-ciclicidade do sistema financeiro e elaborar instrumentos de política que possam atenuá-lo.

Entre meados de 2008 e final de 2010, as principais instituições bancárias globais relatam depreciações acumuladas até a quantia de US$1,3 trilhões. O impacto cumulativo ao longo de 2008-10 sobre a atividade econômica nas economias avançadas mais atingidas ultrapassou os 10% dos respectivos PIB e as taxas de desemprego média subiram de cerca de 5% para quase 9%. Entre meados de 2008 e meados de 2009, o PIB mundial retraiu-se 1,6% pela primeira vez na memória recente (BCBS, 2010c).

Jokivuolle et al. (2015) identificaram elementos para caracterizar essa crise como pró-cíclica e, muitas vezes precedida de crescimento excessivo do crédito, além de considerarem que “a crise é normalmente desencadeada por um choque que resulta em uma desaceleração econômica e até mesmo um crescimento negativo, sendo que o decrescimento da produção em conjunto com a alta dívida corporativa e doméstica forma uma combinação tóxica que pode ser considerada a principal razão para eventuais perdas nos empréstimos”.

A recente crise financeira evidenciou deficiências na gestão de financiamento e de liquidez nas instituições financeiras, os bancos em muitos países sofreram escassez de liquidez devido ao deslocamento dos mercados de financiamento do banco de atacado. Os bancos mais vulneráveis financiaram ativos de longo prazo com a dívida de curto prazo e não foram capazes de rolar seus empréstimos (Acharya e Merrouche, 2013).

(18)

Enfim, a crise global teve diferentes impactos econômicos e as perspectivas diferem entre os países, dependendo da força dos seus quadros de política macroeconômica e da natureza das suas ligações externas, mas em meio aos seus percalços deverá restar um benefício: o sistema financeiro tende a melhorar. O conceito neoliberal de que o excesso de regras desfavorece a atividade bancária e reduz seus lucros entrou em colapso, a auto regulação provou mais uma vez que não funciona e os países deverão agir de forma coordenada para solucionar e prevenir futuras crises.

Esse contexto motiva a criação de novas regras no âmbito do quadro regulamentar de Basileia III para os bancos, as quais abordaremos após avaliarmos os aspectos do acordo de Basileia II que estava vigente quando surgiu a crise.

2.2 POSSÍVEIS FALHAS DE BASILEIA II

Os Acordos de Basileia representam um marco no que tange às estratégias de regulação bancária aplicadas ao redor do mundo. O segundo acordo muda o foco regulatório da liquidez para a solvência das instituições financeiras, com base na percepção de que era primordial criar mecanismos que evitassem crises sistêmicas no setor bancário (e seu transbordamento para a economia como um todo). Para tal, estabeleceu-se a exigência de requisitos de capital definidos em função dos riscos dos ativos detidos pelos bancos. De acordo com De Bandt e Hartmann (2000), o objetivo essencial desta forma de regulação prudencial é que, ao longo do tempo, as trajetórias de expansão do ativo ponderado pelo risco e do capital próprio cointegrem, isto é, evoluam na mesma direção e na mesma magnitude, de modo que, em uma situação extrema, diante de uma súbita desvalorização dos ativos de uma instituição financeira, a mesma seja capaz de honrar suas obrigações com terceiros (notadamente, outros bancos) sem gerar maiores impactos no sistema como um todo.

(19)

de 2008 e o quadro regulamentar que tinha sido formulado e implementado ao longo dos últimos 20 anos sob os acordos de Basileia I e II confiou excessivamente na vigilância das instituições financeiras individualmente. Ele não conseguiu captar a contribuição de risco sistêmico, que é considerado como o risco resultante do comportamento coletivo das instituições financeiras que têm efeitos significativos sobre a economia real.

O Acordo de Basileia, criado em 1988, definiu uma legislação uniforme transfronteiriça que devia ser seguida por todos os bancos, estabelecendo um nível máximo de risco que estes podiam suportar, dentro do mínimo exigido para que pudessem competir internacionalmente com objetivo declarado de fomentar "a solidez e a estabilidade do sistema bancário internacional" e "reduzir as desigualdades competitivas" entre o sistema bancário, segundo Lyngen (2012). O Basileia I exigiu um pequeno aumento do capital de reserva das instituições financeiras para poder conceder empréstimos, se fosse maior, o aumento desse capital de reserva poderia ter evitado o colapso derivado do forte aumento na tomada de riscos nos últimos anos, mas “em nenhum lugar do mundo desenvolvido as entidades regulatórias exigiriam das maiores instituições uma reserva de capital adequada” (Greenspan, 2013).

O regulamento criou um método de cálculo de ativos ponderados pelo risco dos níveis de capital regulamentar com base no princípio de que estes devem refletir o grau de risco de seus ativos. Lyngen (2012) acredita que Basileia I tenha facilitado a arbitragem regulatória, permitindo a arbitrariedade pela simplificação do método de classificação de ativos utilizados na determinação dos requisitos de risco e de capital, de forma que certos ativos de risco econômico diferentes tivessem o mesmo peso no cálculo do risco de Basileia I.

(20)

Mundial, os quais passaram a exigir a existência do acordo como critério para aprovação de empréstimos.

O Acordo de Basileia II trouxe a possibilidade de avaliação dos clientes e das garantias dos contratos de crédito, medindo sua exposição a riscos. Apesar de ter sido muito abrangente na regulamentação de capital com modelos de quantificação dos riscos sofisticados, ele não conseguiu prever e proteger o sistema bancário das crise financeira de 2007 (Acharya et al.,2011).

Basileia II, concluído em junho de 2004, tentou abordar estas questões através da introdução de novos métodos de medição de risco, impondo requisitos de capital mais elevados para os bancos com ativos de maior risco e reconhecendo os problemas de Basileia I para definição de capital e seus requisitos de divulgação insuficientes. O segundo acordo estabeleceu uma estrutura de três pilares que consistem em requisitos mínimos de capital, revisão da supervisão e disciplina de mercado. Para Lyngen (2012), a opção padronizada para avaliação de risco fornecida por Basileia II, que incorporava rattings de crédito externos foi considerada a principal razão do seu fracasso em prever a crise 2007-2009. Além dessa opção, as avaliações poderiam ser feitas com base em modelos internos, na qual bancos mais sofisticados seriam autorizados a utilizar os seus modelos próprios de gestão de riscos na determinação de seus índices de requerimento de capital. Porém, apesar de Basileia II combater a arbitragem regulatória possível graças ao método excessivamente simplista de Basileia I para medição de risco e definições frouxas do capital, Lyngen (2012) argumenta que o ímpeto por trás de Basileia II foi o desejo de grandes bancos internacionais de se envolver em arbitragem regulatória usando novos métodos de medição de risco.

(21)

considerado no quadro da regulação de capital e durante a crise financeira uma cascata de risco de liquidez desaguou em risco de solvência; fazendo o Federal Reserve, o Banco Central Europeu (BCE), o Banco da Inglaterra, o Banco do Japão e o Banco Nacional da Suíça, em conjunto, injetar US$ 2.740.000 milhões para atender aos requisitos de liquidez. (IMF, 2009)

Outro aspecto a ser considerado é que Basileia II mostrou-se pró-cíclica; nos bons tempos, quando os bancos estavam indo bem e o mercado estava disposto a investir o capital, Basileia II não impôs requisito adicional de capital aos bancos. Por outro lado, em tempos estressados, quando os bancos necessitaram de capital adicional e os mercados estavam desconfiados para fornecê-lo, Basileia II exigiu aos bancos um maior aporte. Durante a crise, foi a falta desse capital adicional que forçou grandes bancos internacionais em um ciclo vicioso de desalavancagem, deixando os mercados financeiros globais apreensivos e economias ao redor do mundo em recessão.

Como Chianamea (2015) esclarece, um dos objetivos na elaboração de Basileia II foi a aproximação entre capital regulamentar, que as normas impõem, e capital econômico, que os bancos entendem como necessário. O capital regulamentar ao se aproximar do capital econômico pode exacerbar os ciclos econômicos ou, em outras palavras, tal realimentação do ciclo econômico ocorreria devido à exigência de o capital ser proporcional ao risco de perda com inadimplências, atribuído pelos bancos aos seus clientes. Nos períodos recessivos, por exemplo, avalia-se que o risco de inadimplência é maior e, portanto, maior a perda de valor dos ativos de crédito, que leva a um capital exigido maior, restringindo a alavancagem dos bancos e aprofundando a recessão.

(22)

(2005) explica de modo claro a forma como o capital econômico pode ser pró-cíclico:

No núcleo desta tensão está a endogeneidade do valor. Em outras palavras, a evolução da relação valor/riscos ao longo do tempo não é exógena do modo como ela é percebida em um dado instante de tempo, e estas percepções influenciam o comportamento e a produção. E reações aos valores de mercado podem, ao longo do tempo, gerar variações indesejáveis que podem resultar em instabilidade financeira [...] Por exemplo, quando os preços dos ativos sobem, os agentes podem ser inclinados a tomar mais riscos (aumentar alavancagem), já que sentem que sua riqueza aumentou e as restrições financeiras foram reduzidas. Isto, por sua vez, pode aumentar os preços dos ativos ainda mais. Se o processo for demasiadamente longo, os valores dos ativos e alavancagem irão além de níveis sustentáveis e a sobre extensão resultante em algum ponto terá de ser corrigida, com a reversão do processo. A menos que o sistema tenha armazenado um colchão suficiente durante a fase de expansão, surgirão pressões consideráveis sobre o sistema financeiro e haverá aumento da instabilidade financeira.

Consequentemente, se o capital regulamentar se aproximar do capital econômico, que sofre os efeitos da endogeneidade do valor, ambos serão pró-cíclicos. A solução, para Borio, está em armazenar um colchão de capital, durante a euforia, que seria liberado durante a fase pessimista do ciclo de forma a amortecê-lo: isto é, exigir mais capital do que o mercado supõe necessário na euforia e exigir menos no pessimismo.

O acordo de Basileia II, alimentou um debate sobre a natureza cíclica da regulação e da possibilidade de a regulação ampliar os ciclos de negócios (Grosse e Schumann, 2014). Por conseguinte, a crise econômica e financeira iniciada em 2007, que evidenciou deficiências na gestão de financiamento e de liquidez nas instituições financeiras (Dietrich et al., 2014), deu uma razão adicional ao BCBS para revisar seu quadro regulamentar em Basileia III (BCBS, 2011).

(23)

valorização para instrumentos financeiros, implementar programas de testes de estresse sólidos e gerir concentrações de risco de forma mais eficaz.

Além disso, Kero (2011) ressalta que o acordo é o conjunto mais extenso das exigências de capital e foi principalmente projetado para cuidar da solvência individual dos bancos. Por isso, ele era quase exclusivamente microprudencial em sua natureza sendo esse um dos seus maiores fracassos demonstrado pela crise de 2008: ignorar a importância macroeconômica de um sistema bancário frágil. Marcos regulatórios microprudenciais, centrados sobre a solidez das instituições financeiras consideradas isoladamente e sem considerar os efeitos de variáveis macroeconômicas e exposições a fatores de risco comuns, foram identificados entre os culpados da crise.

Cada uma das normas de Basileia utiliza exigências de capital como um componente integrante da sua estrutura regulatória. O fracasso do quadro de Basileia II para prevenir a crise, ou para indicar ainda que o fracasso generalizado do sistema financeiro foi um risco, é, portanto, uma questão que pode entravar a implementação de Basileia III.

2.3 COMO BASILEIA III SE PROPÕE A RESOLVER

Basileia III estabelece um novo conjunto de normas globais para adequação de capital e liquidez das organizações bancárias, representando um passo crucial no reforço das regras de capital subjacentes às operações bancárias, com vista a reduzir a probabilidade e a gravidade de uma crise sistêmica.

As novas exigências de estabilidade de capital conhecidas como "Basileia III" foram desenvolvidas pelo BCBS, motivado pela crise financeira de 2008, e divulgadas em 2009, gerando uma grande quantidade de debate entre os decisores políticos, reguladores, banqueiros, bem como pesquisadores e profissionais sobre como lidar com o impacto da regulamentação de capital e alavancagem (Dietrich et al., 2014).

(24)

realizadas tanto na carteira bancária quanto na carteira de negociação e fortalecimento da orientação no Pilar II (processo de revisão da supervisão). No ano seguinte uma série de iniciativas foram tomadas pelo BCBS com o objetivo de melhorar a capacidade do setor bancário para absorver choques decorrentes de estresse financeiro e econômico e para reduzir o risco de contágio do setor financeiro para a economia real. Assim, em 2010, foram publicadas diretivas de orientação de Basileia III com melhorias nas questões regulamentares, reforço da estabilidade financeira, estabelecimento de índice de alavancagem e de amortecedores de capital. Estes seriam facilitados pelos avanços das técnicas de gestão de risco e mensurações de liquidez baseado em risco (Hakura e Cosimano, 2011).

Nessa ordem, o Comitê de Basileia publicou uma série de documentos para abordar especificamente o risco de contraparte em operações com derivativos, fortalecendo os padrões de liquidez e um quadro de risco de mercado. Ao consolidar todos estes documentos, o BCBS lançou "Basel III: A global regulatory framework for more resilient banks and banking system", em dezembro de 2010 e revisto em junho de 2011, que contém um novo conjunto de regras destinadas a reduzir a probabilidade e a gravidade de uma crise no setor bancário, ao mesmo tempo sustentando a estabilidade financeira sistêmica.

Com base nos novos requerimentos os bancos passarão a ser obrigados a:

- Deter mais capital e ativos de alta qualidade para limitar os riscos associados à concessão de crédito e negociação de ativos, visando torná-los mais resistentes a choques financeiros;

- Melhorar seus processos de Gerenciamento de Risco e Governança;

- Promover a disponibilização de Ativos de Alta Qualidade em Amortecedores constituídos para fazer frente a perdas durante crises econômicas;

- Promover o Aumento de Liquidez dos Bancos de forma a possibilitar a cobertura de desencaixes em período de estresse;

(25)

Os requerimentos de capital em Basileia III possuem as seguintes características:

- Capital Nível 1 (Tier 1): estabelecido em 6%, refere-se às reservas básicas de capital de um banco, calculadas de acordo com o grau de risco dos ativos da instituição;

- Capital Principal (Core Tier 1): estabelecido em 4,5 %, inclui o Capital social, constituído por cotas ou por ações ordinárias e ações preferenciais não resgatáveis e sem mecanismos de cumulatividade de dividendos, e por lucros retidos, deduzidos os valores referentes aos ajustes regulamentares;

- Capital de Proteção: somado ao capital principal (Core Tier 1), tem por objetivo evitar que capital seja esgotado rapidamente em tempos de crise. Na prática, esse "colchão" eleva a cota mínima de capital principal (Core Tier 1) para 7%;

- Capital Contracíclico: tem por objetivo forçar os Bancos a construir um "colchão" adicional quando houver sinais de expansão excessiva do crédito. Essa nova proteção poderá chegar a até 2,5% em ações ou outro capital capaz de absorver perdas. Deverá ser utilizado apenas quando as autoridades supervisoras nacionais detectarem que o mercado de crédito está em turbulência.

Em linhas gerais, o capital total mínimo ponderado pelo risco foi mantido em 8%, mas também subirá para 10,5% com os 2,5% do capital de proteção. Em cima disso será acrescentado outro colchão, chamado de capital contracíclico, que poderá variar de 0% a 2,5% e será adotado de acordo com as circunstâncias econômicas de cada país. Na soma total, o índice mínimo pode chegar a 13%. Assim, a definição de capital é fortalecida a partir do aumento da qualidade da base de capital da instituição e do aumento do foco sobre sua qualidade.

(26)

novos valores dos requerimentos de capital. Assim, cria-se um cenário onde as instituições financeiras poderão realizar uma transição gradual para os novos parâmetros mínimos a serem observados, sem que haja impactos negativos sobre a oferta de crédito e a liquidez dos mercados.

Quadro 1 – Cronograma de Implantação de Basileia III

2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Capital Principal 3,5% 4,0% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5%

Capital Nível I 4,5% 5,5% 6,0% 6,0% 6,0% 6,0% 6,0%

Capital Total 8,0% 8,0% 8,0% 8,0% 8,0% 8,0% 8,0%

Capital de Conservação - - - 0,625% 1,25% 1,875% 2,5%

Capital Total+Capital de

Conservação 8,0% 8,0% 8,0% 8,625% 9,25% 9,875% 10,5%

Capital Contracíclico - 0,625% 1,25% 1,875% 2,5% 2,5% 2,5%

Capital Total + Capital de Conservação +

Capital Contracíclico 8,0% 8,625% 9,25% 10,5% 11,75% 12,375% 13,0%

Fonte: BCBS.

(27)

Além disso, o Comitê de Basileia propôs um amortecedor contracíclico que seria imposto quando, na opinião das autoridades nacionais, o crescimento do crédito agregado for tão rápido quanto a construção de risco de todo o sistema. Isso ajudaria a reduzir o risco de que o crédito disponível seja limitado por requisitos de fundos próprios regulamentares e poderia ajudar a absorver as perdas.

Com relação a alavancagem, que mostra o quanto um banco está endividado em relação a seu capital próprio, a cota deve impedir que os bancos se excedam na concessão de empréstimos de alto risco e leva em conta o valor nominal dos ativos (sem ponderação por risco), sendo seu índice limitado a 3%, o que significa que, para R$3,00 de capital, a instituição só poderá ter R$100,00 de ativos. Segundo Jayadev (2013), esse índice atua como uma medida de recuo para reduzir o risco de um acúmulo de alavancagem excessiva na instituição e no sistema financeiro como um todo, limitando os potenciais efeitos erosivos de modelos de risco do capital contra os riscos reais. Para Lyngen (2012) trata-se de uma medida adicional de adequação de capital independente dos rattings de crédito ou de mensurações internas de risco. Esse índice compõe as medidas macroprudenciais de Basileia III, mudando o foco essencialmente microprudencial dos regulamentos anteriores.

Além disso, Basileia III reforça o quadro de risco de crédito de contraparte em instrumentos de risco de mercado. Isso inclui o uso de parâmetros de entrada estressados ao determinar a exigência de capital para risco de descumprimento de crédito pela contraparte.

Basileia III introduz a necessidade de uma gestão mais efetiva do risco de liquidez, criando dois novos índices, o Índice de Cobertura de Liquidez (LCR) que tem por objetivo impedir que bancos transformem créditos de curto prazo em créditos de longo prazo através de refinanciamento e o Índice de Liquidez de Longo Prazo - Net Stable Funding Ratio (NSFR), com o objetivo de incentivar os Bancos a financiarem suas atividades com fontes mais estáveis de captação.

(28)

���= ���������������������������

������������������ (30 ����)

A revisão de janeiro 2013 expandiu a definição de ativos líquidos de alta qualidade e modificou as suposições sobre as entradas e saídas de dinheiro (BCBS, 2013a). Mais especificamente, o LCR (uma medida de liquidez do ativo) identifica a quantidade de ativos líquidos desonerados e de alta qualidade que os bancos precisam para sobreviver por um mês sem acesso a financiamento, enquanto continuam sendo capazes de compensar as saídas de caixa.

A norma exige que o valor da razão não seja inferior a 100%, ou seja, o estoque de ativos líquidos de alta qualidade deve, pelo menos, ser igual ao total projetado para saídas líquidas de caixa. Dessa forma, a fim de dar cumprimento à presente relação, os bancos terão de reequilibrar os seus empréstimos e depósitos, junto com recompra e acordos de compra reversa para ativos líquidos (Figuet, 2015).

Por sua vez, o NSFR foi concebido para promover o financiamento de longo prazo dos ativos e atividades de organizações bancárias e requer uma quantidade mínima de fontes estáveis de financiamento de um banco em relação aos perfis de liquidez dos ativos, bem como o potencial de liquidez contingente incorridos de compromissos fora de balanço, ao longo do horizonte de um ano. Assim, o seu numerador é composto pelas captações estáveis da instituição (ASF) e as obrigações com vencimento efetivo igual ou superior a um ano e seu denominador é composto pela soma dos ativos que não possuem liquidez imediata e pelas exposições fora de balanço, multiplicados por um fator que representa a sua potencial necessidade de captação - Required Stable Funding - (RSF).

����= ������������çõ�����á����������í����

������������çõ�����á����������á����

(29)

vencimento mais longo, de forma a aumentar a resiliência dos bancos durante períodos de estresse. Assim, como esclarece King (2013), os bancos que não cumprem o NSFR precisam reduzir a necessidade de financiamento dos ativos e aumentar as fontes de financiamento estáveis.

Por conseguinte, em conformidade com as novas normas, o NSFR também pode impactar o desempenho do banco, com a redução da rentabilidade e a redução das margens de crédito, bem como os efeitos sistêmicos (Avaliação do Grupo Macroeconômico, 2010). Dietrich et al. (2014) consideram que essa estratégia poderia, por sua vez levar a uma disponibilidade limitada de crédito e, assim, reduzir a atividade econômica.

As regras de Basileia III podem representar a primeira tentativa dos reguladores internacionais de introduzir normas mínimas para a liquidez e o risco de liquidez, que tem sido central em modelos de corridas bancárias, regulação de capital e contágio financeiro (Allen e Gale, 2000). A proposta trouxe um conjunto mais abrangente de medidas para enfrentar descasamentos de liquidez tanto de curto prazo como de longo prazo, na avaliação de Dietrich et al. (2014). Cabendo ressaltar, segundo Jayadev (2013), que as implicações aqui se referem aos tipos de mercados de curto prazo atualmente disponíveis para fornecer liquidez aos bancos, os tipos de mercados de longo prazo necessários, o custo dos depósitos e o impacto sobre a rentabilidade dos bancos.

(30)

Constitui-se um desafio da nova regulação financeira, tanto para os países individualmente quanto à nível global, organizar os múltiplos reguladores de forma que não haja prejuízo da fiscalização e da jurisdição, que acabaria por tornar as leis criadas sem efetividade. Sendo assim, é imprescindível que a nova regulação exija uma maior transparência dos agentes envolvidos no mercado financeiro, tendo como finalidade a preservação da confiança, que é o alicerce do bom funcionamento do sistema. É necessário identificar as habilidades, conhecimentos e experiência necessários para supervisionar a implementação de Basileia III e estabelecer as prioridades nacionais, no sentido de complementar as reformas regulatórias com forte supervisão no local, ou seja, dentro de bancos, juntamente com a avaliação externa que incorpora o foco macroprudencial.

Basileia III fornece muitas inovações em diversas áreas que ressaltam a sua preocupação de evitar as reiteradas crises, focando, segundo Rossignolo (2013), em exigir mais capital e reduzir o grau de alavancagem, além da busca de coerência entre as políticas de distribuição e os padrões de conservação de capital aliado a uma definição mais rigorosa de capital, seja microprudencial (quadro específico da empresa) com uma regulamentação que irá ajudar a aumentar a resiliência das instituições bancárias individuais para períodos de estresse, ou de componentes macroprudenciais (estrutura baseada em risco sistêmico), que envolvem riscos que podem acumular-se em todo o setor bancário, “trazendo à luz inclusive uma questão levantada após a crise sobre qual seria o custo econômico e o benefício da implementação dos novos instrumentos macroprudenciais” (Kero, 2011).

A perspectiva do micro/macroprudencial traz consigo a necessidade de reforçar os mecanismos de governança para a estabilidade financeira. Caruana (2010) esclarece que “a comunicação aberta e uma cooperação estreita entre as funções de estabilidade fiscal, monetária e financeira deve permitir uma maior coerência entre objetivos microprudenciais, macroprudenciais e instrumentos de políticas monetárias.

(31)

bons tempos, Grosse e Schumann (2014) concluem que a regulamentação de um conjunto de regras macroprudenciais estável deverá prever a criação de um incentivo para atenuar os efeitos negativos de comportamento pró-cíclico, e não ampliar ainda mais os seus efeitos.

De acordo com Kero (2011) o comportamento dos bancos é, em essência, pró-cíclico independentemente da natureza dos requisitos de capital ser de mercado ou regulamentar. A razão é que os bancos, preocupados com a probabilidade de retorno do recurso e aumento do risco, tendem a diminuir os empréstimos em recessões. O oposto é verdadeiro, quando há expansão. Assimetrias de informação e falhas de mercado são um componente chave do comportamento pró-cíclico dos bancos. Os requisitos de capital regulatório podem amplificar o efeito de choques exógenos se o banco não é capaz de levantar capital novo ou é especialmente caro para fazê-lo durante as recessões.

Confrontado com lucros muito baixos ou mesmo negativos, os bancos talvez fiquem descapitalizados e, a fim de satisfazer as exigências de capital, eles reduzam os empréstimos. Na verdade, uma das razões para o aumento das reservas de capital em recessão poderia ser que os bancos não querem ficar aquém da exigência de capital mínimo, a fim de evitar as sanções por parte das autoridades e do próprio mercado de capitais, por isso que Basileia III introduz conceitos que permitem uma maior flexibilidade do amortecedor de capital (Grosse e Schumann, 2014), projetado para assegurar que o sistema bancário tenha uma proteção contra perdas potenciais futuras, quando o excesso de crescimento do crédito agregado seria associado a uma acumulação de risco de todo o sistema. (BCBS, 2011).

(32)

Embora a perspectiva de todo o sistema não possa ser circunscrita a ela, a maioria das medidas políticas têm incidido sobre a pró-ciclicidade. A maior parte da regulamentação eficiente deve levar à melhor alocação de capital na economia e ao mesmo tempo deve ser capaz de suavizar os ciclos de negócios. A ferramenta importante nessa área são os amortecedores de capital contracíclico que podem ser impostos sobre os requisitos básicos se a tendência da proporção entre o crédito privado e o PIB crescer muito. Jokivuolle et al. (2015) entendem que o objetivo do amortecedor de capital contracíclico é proporcionar capital adicional contra riscos acrescidos de crédito dos bancos, devido à maior alavancagem do setor privado na economia, e assim contribuir para a estabilização da economia. Em particular, o BCBS introduziu amortecedores de capital contracíclicos acima dos requisitos mínimos de capital que os bancos são obrigados a construir em condições econômicas flutuantes, segundo Lasio (2013), e algumas jurisdições - incluindo a UE - decidiram ir além das ferramentas anticíclicas de Basileia, introduzindo mais e diferentes instrumentos macroprudenciais.

Tomados em conjunto, o capital de conservação e amortecedores contracíclicos foram projetados para mitigar a tendência do sistema financeiro para amplificar os altos e baixos da economia real (pró-ciclicidade) e aumentar a resiliência do setor bancário, tendo em conta as interligações e exposições comuns entre as instituições financeiras. O BCBS acredita que essas medidas macroprudenciais devem ser perseguidas de forma eficaz para limitar o risco de todo o sistema.

(33)

de supervisão eficazes, bem como mecanismos formais e informais de intercâmbio de informações e de avaliação mútua.

Basileia III concentra-se na estabilidade do capital (Chalermchatvichien, et al., 2014) e para Sbârcea (2014) os benefícios de Basileia III são de longo prazo e por isso superam os custos da sua aplicação, porque um sistema bancário estável é a pedra angular de um desenvolvimento sustentável.

(34)

3 COMO É BASILEIA III

3.1 QUAIS ASPECTOS SÃO INTERESSANTES OU CONTROVERSOS

Como vimos, o propósito de Basileia III é reduzir a probabilidade e gravidade de uma crise no setor bancário e reforçar a estabilidade financeira global, a partir de uma mudança na estrutura de capital, o qual deve obedecer a um nível de adequação de exigências, um nível mínimo de liquidez e da introdução de requisitos de alavancagem, principalmente. A lógica então é que os bancos mantenham certos níveis de capital, para assim terem um colchão de reservas que lhes permitam solvência em caso de perdas importantes.

Para Prates (2013), a regulação financeira pode ser mais uma questão de lidar com as consequências que emergem de uma crise no setor bancário do que uma questão de tentar evitar as causas que podem levar a ela, ou seja, a regulamentação seria uma resposta, considerando que regras sempre vêm depois de fatos, sendo portanto pensadas e criadas face a uma realidade que existiu um dia, mas pode não existir mais. Assim, o autor considera que tentar aplicar regulação a todas as situações que possam levar a uma crise financeira vai inevitavelmente produzir um excesso de regulamentação, o que ele não considera juridicamente uma boa opção, pois o número crescente de regras pode sobrecarregar as autoridades de supervisão, uma vez que terão não só de avaliar adequadamente se as instituições sujeitas à regulação observam todas as regras relevantes, mas também identificar as violações relacionadas e punir os infratores sem espalhar danos colaterais no sistema financeiro, uma vez que a liquidez e a estabilidade são questões sensíveis no setor financeiro.

(35)

acordos regulatórios mutuamente benéficos e que consequentemente gerem menos benefícios para a comunidade como um todo.

Nesse contexto, Singer (2004), partindo da ideia de que o sucesso dos mercados nacionais é geralmente tido como um parâmetro para avaliar o sucesso do regulador, indica a existência de um conflito, pois ao tempo em que os reguladores desejam promover a confiança dos investidores, que geralmente cresce com a adoção de regulamentações mais severas e um foco sobre a estabilidade financeira, também têm interesse na competitividade internacional de seus bancos, o que normalmente significa menos regulamentação e mais foco no crescimento e lucros.

O relatório do BCBS sobre o impacto de Basileia III (2010a) admite que os novos regulamentos podem afetar o ritmo de crescimento dos bancos. Os opositores ao novo acordo acreditam que o aumento das exigências de divulgação de informações e de utilização de normas mais rigorosas de qualidade das reservas de capital vão diminuir as oportunidades de arbitragem regulamentar, trazendo impacto negativo na rentabilidade dos bancos, que anteriormente se beneficiavam com o uso de tal arbitragem. Interessante observar que, de acordo com Lyngen (2012), a possibilidade de arbitragem regulatória foi um dos pontos reavaliados do acordo de Basileia II, mas Basileia III ainda utiliza métodos de avaliação de riscos semelhantes aos de Basileia II para determinar os requisitos de capital, gerando novas discussões no âmbito do BCBS até que se consiga de fato sanar este aspecto, que foi uma das causas da recente crise financeira.

Outro ponto levantado pelos opositores é a exigência do terceiro acordo de que os bancos aumentem significativamente suas reservas de capital e alterem sua composição para essas reservas, o que, de acordo com Lyngen (2012), pode diminuir a rentabilidade das instituições reguladas e ter implicações negativas para a disponibilidade e o custo de financiamento dos bancos.

(36)

excessivamente dispendiosos, daí podemos entender a pressão que os bancos, recém saídos de uma crise financeira que deixou a economia global severamente enfraquecida e criou grande incerteza econômica, fazem sobre os reguladores nacionais.

Com o intuito de mapear os efeitos de Basileia III nos requisitos de capital e de liquidez sobre os empréstimos bancários de cross-country para as economias de mercado emergentes, Figuet et al (2015) selecionaram 6 pontos de pressão, aplicaram um GMM sobre o período de 1999-2010 e evidenciaram que o novo regulamento pode resultar em uma diminuição global de 20% no retornos de créditos transfronteiriços.

Para tanto, incialmente definiram variáveis a serem utilizadas em testes econométricos que, do ponto de vista macroeconômico, podem expressar os custos das novas exigências introduzidas em Basileia III, além da mera questão de mudanças nos spreads das taxas de juros bancários. E, em seguida, o papel desses custos foram avaliados empiricamente sobre o cumprimento da regulação para os bancos estrangeiros na determinação de seus retornos sobre as operações transfronteiriças realizadas em economias de mercado emergentes.

Figuet et al (2015) utilizaram dados estatísticos disponibilizados pelo BIS e que possuem detalhes abrangentes e coerentes sobre créditos bancários transfronteiriços. O estimador GMM, que abrange o período de 1999 a 2010, foi usado em uma amostra de 30 economias de mercado emergentes (África e Oriente Médio: Egito, Líbano, Marrocos, Nigéria, Arábia Saudita, África do Sul e Estados Árabes Emirates; América Latina: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru, Venezuela; Ásia: China, Índia, Indonésia, Malásia, Filipinas, Coréia do Sul, Tailândia; Europa: Bulgária, República Checa, Hungria, Polônia, Romênia, Rússia, Turquia e Ucrânia) para fornecer uma avaliação empírica dos determinantes de créditos bancários transfronteiriços detidos por bancos internacionalmente ativos localizadas em 16 países desenvolvidos (Austrália, Bélgica, Canadá, França, Alemanha, Hong Kong, Itália, Japão, Luxemburgo, Holanda, Cingapura, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos).

(37)

��,� =���,�−1+���,�+��+��,�

onde ��,� são os fluxos de créditos bancários transfronteiriços detidos

pelos países desenvolvidos numa economia de mercado emergente “i”, no momento t, ��,�−1 é a variável dependente defasada, ��,� são as variáveis

explanatórias, �� o país não observado efeito fixo e ��,� os erros específicos de

observação.

Depois foi adotada uma matriz de covariância robusta, ou seja, com parâmetros estimados, assintoticamente eficientes sem hipótese sobre a sua distribuição ou a validade do modelo, o que de acordo com Figuet et al (2015), permite considerações sobre a estrutura heterocedástica dos resíduos e a autocorrelação dentro de painéis. Também foram aplicados teste de especificação habituais: Testes AR(1) e AR(2) (Arellano–Bond), estatística J Hansen e estatística e diferença Sargan/Hansen. Para investigar presença de raízes unitárias foram aplicados testes de segunda geração: Maddala e Wu (1999) e Pesaran (2007). Como nenhuma série contém raiz unitária, não foi necessário nenhum teste de cointegração.

Com relação às variáveis, os autores esclarecem que o fluxo de crédito foi medido usando o montante bruto dos créditos cross country pendentes vis-à-vis todos os setores de atividade num determinado país ao final do ano. Esses fluxos consistem em 80% dos empréstimos transfronteiriços de bancos residentes em um determinado país desenvolvido “i” (i = 1,.,.,. 16) a todos os setores em países emergentes “j” (j = 1,.,.,. 30) no tempo t (T = 1999,..., 2010). Os 20% restantes consistem em obrigações, instrumentos do mercado monetário etc.

Na avaliação de Figuet et al (2015) o modelo desenvolvido salienta a importância de rentabilidade para as instituições bancárias não apenas por serem capazes de financiar os mutuários, mas também para prosseguir a sua atividade, desenvolver seu capital, aumentar seu patrimônio e contrair dívidas a taxas satisfatórias.

(38)

máxima de 19,08% na arrecadação de créditos bancários transfronteiriços realizada em países emergentes, sendo o índice de alavancagem o de maior impacto negativo sobre esse retorno, dentre os elementos regulatórios de Basileia III.

A proposta do artigo de Gordon et al (2013) é comparar: (i) a eficácia relativa dos sistemas de gestão de risco para controlar risco de cauda com base no quadro original e no quadro revisto de Basileia III; e (ii) a adequação relativa destes quadros no estabelecimento de requisitos mínimos de capital.

O quadro regulamentar revisto exige o uso do VaR, teste de estresse e VaR estressado, mas a exigência de capital mínimo associado a carteira de negociação de um banco depende unicamente de seu VaR e VaR estressado.

Para avaliar a eficácia de um sistema de gestão de risco com base em várias contenções, Gordon et al (2013) examinaram se as restrições impedem a seleção de todas as carteiras com as perdas de eficiência substanciais em relação à fronteira média do cVaR, sendo a perda de eficiência de uma carteira a diferença entre: o seu cVaR e o cVaR da carteira nesta fronteira com o mesmo retorno esperado. Assim, se um conjunto de restrições se opõe a todas as carteiras com as perdas de eficiência substanciais selecionadas, ele é eficaz no controle do risco da cauda. No entanto, se o conjunto de restrições permite a seleção de carteiras com perdas de eficiência substanciais, então não é efetivo para controlar o risco de cauda. Sobre essa questão, os autores evidenciaram que na utilização do quadro de regulamentação revisto o controle de risco de cauda foi menos eficiente, mostrando que a nova regulação não é necessariamente melhor que a original.

(39)

Gordon et al (2013) acharam que as relações do cVaR para o mínimo capital exigido nas carteiras de negociação pode ser superior a 50% por cento no quadro original e o cVaR estressado pode exceder em 100%. Em comparação, quando utilizaram o quadro revisado, os índices de exigência de capital no cVaR ficaram a menos de 30% e o cVaR estressado a menos de 35%.

O modelo utilizado por Gordon et al (2013) é descrito a seguir:

Ao definir VaR, foi fixado um nível de confiança de � ∈ �1

2, 1�. Seja ��� o retorno randômico do portfolio w. Seja 1, <�2,� <⋯ ��,�os valores que

�̃� ≡ −��� pode assumir em todos os estados, onde �� ≤ � é o número desses valores. Daí se define como único índice:

�=1�� ��,� ≥ � >∑��=1�−1��,�, (1)

onde ,� ≡ �[�̃� =��,�]. Note que enquanto �� depende de w, se

escreve ao invés de ,�. O Portfolio VaR a um intervalo de confiança 100α

é dado por:

��,� ≡ ��,�. (2)

Isso implica em:

����� ≥ −��,�� =���̃� ≤ ��,�� ≥ �, (3)

����� >−��,�� =���̃� < ��,�� <� (4)

Ao definir CVaR, o portfólio w’s CVaR no intervalo de 100α de confiança

é dado por:

��,� ≡1−�1 [(∑��=1� ��,�− �)��,�+∑�=��� +1��,���,�]. (5)

Equações (2) e (5) implicam que (a) , ≥ �, e (b) , >�, se �[�� <

−��,�] > 0.

A definição do VaR estressado é similar a definição do VaR, mas usa um conjunto de �̅ estados estressados, denotados por Ω� onde Ω� ⊂ Ω. A probabilidade do estado s condicional em Ω� é denotados por � ≡ � [�|Ω�].

Fixado um nível de confiança �� ∈(1

(40)

⋯ �̅��,� denota os valores ordenados que �̃� pode assumir em estado

estressado, onde �� ≤ �̅ é o número desses valores. Defina ���� como único índice:

�=1���� ���,� ≥ �� >∑���=1��−1���,�, (6)

Note que enquanto ���� depende de w, se escreve ���� ao invés de ����,. O Portfolio VaR a um intervalo de confiança 100�� é dado por:

����,� ≡ �̅����,�. (7)

Isso implica em:

����� ≥ −����,�|Ω��=���̃� ≤ �̅����,�|Ω�� ≥ ��, (8)

����� >−����,�|Ω��=���̃� <�̅����,�|Ω��< ��, (9)

Para efeito de comparação, os resultados de Gordon et al (2013) indicaram que quando as vendas a descoberto não são permitidas, os resultados sugerem que um sistema de gestão de risco baseado no novo quadro regulatório tende a ser menos eficaz em controlar o risco da cauda do que um sistema baseado na estrutura anterior. No entanto, os requisitos mínimos de capital do quadro anterior são notavelmente maiores do que aqueles do quadro mais recente. Assim, o quadro revisto melhora a estrutura original no que diz respeito à adequação de capital para negociação de carteiras.

Já quando as vendas a descoberto são permitidas, o peso para cada classe de ativo deve ser limitado entre -50% e 150% e o índice de alavancagem de um portfólio é definido como a soma dos seus pesos positivos. Neste caso, os resultados são similares àqueles em que não é permitida venda a descoberto.

(41)

respeito à adequação de capital para carteiras de negociação, ou seja, há custos e benefícios na proposta de Basileia III.

Considerando que o comportamento cíclico dos bancos é uma das preocupações do BCBS tratadas no seu novo quadro de Basileia III, Grosse e Schumann (2014) avaliam o efeito de impactos macroeconômicos sobre o capital e reservas de bancos alemães, entre 1997 e 2012 que são reportados ao Bundesbank em uma base mensal, usando uma estimativa do capital econômico mensal dos bancos para verificar a existência de pró-ciclicidade nos bancos alemães.

De acordo com Grosse e Schumann (2014), uma das soluções propostas pelo novo regulamento foi a introdução de um amortecedor anticíclico que garante o requisito de capital do setor bancário tendo em conta o ambiente macroeconômico em que os bancos operam (BCBS, 2011). Assim, o BCBS tenta resolver o paradoxo de regulamentação em que a exigência de um capital mínimo é pouco útil para mitigar risco quando existem sanções se os requisitos não forem atendidos (requisitos mínimos estritos de capital podem prejudicar a economia pela redução de empréstimos, por exemplo, causando mais problemas aos bancos, um círculo vicioso com uma desestabilização do sistema bancário como consequência).

Os requisitos de capital variáveis no tempo podem levar a uma redução deste problema, se os bancos estiverem autorizados a chamar os seus amortecedores quando houver necessidade. Grosse e Schumann (2014) identificaram estudos empíricos dos ciclos de negócios que abordam um excesso no amortecedor de capital, deixando-os acima do requisito mínimo regulamentar. Sobre essa questão, fazem distinção entre bancos de curta e longa visão. Enquanto os bancos míopes não irão acumular reservas de capital adicionais durante uma retomada da economia, a fim de tirar proveito de oportunidades de negócios, bancos que enxergam mais a frente irão fazê-lo.

(42)

que começa em Setembro de 1997 e termina com dezembro de 2012, eventos mais recentes e dramáticos como a quebra do Lehman Bank e da crise da dívida europeia estão incluídos.

Para avaliar a existência de pró-ciclicidade, Grosse e Schumann (2014) aplicaram um modelo de série temporal vetorizado para relacionar o capital com um indicador econômico que representa o ciclo de negócios. Na primeira etapa da análise, determinaram a classificação de cointegração com um teste de Johansen; num segundo passo, estimaram os vetores de cointegração, com intuito de avaliar o relacionamento de longo prazo entre as variáveis explicativas.

A tabela 1 apresenta estatísticas teste de Johansen dos logs diferença das três séries, incluindo 12 defasagens.

Tabela 1 – Teste de Johansen – capital e reservas bancos alemães.

Estatística teste 10% 5% 1%

r ≤ 2 11,82 10,49 12,25 16,26

r ≤ 1 31,76 22,76 25,32 30,45

r = 0 54,99 39,06 42,44 48,45

Fonte: Grosse e Schumann (2014)

Os resultados encontrados por Grosse e Schumann (2014) sugerem um comportamento pró-cíclico do setor bancário alemão no período examinado, então os bancos aumentam suas reservas de capital durante uma crise econômica, mas diminuem suas reservas durante uma ascensão econômica. Considerando que a literatura está convencida de que isto amplia o ciclo de negócios, um conjunto sólido de regras macroprudenciais deverá prever a criação de um incentivo para atenuar os efeitos negativos de comportamento pró-cíclico.

Admitindo a necessidade de regulamentação macroprudencial para capital, Lasio (2013) sugere uma base teórica para essa regulação e para o amortecedor de capital anticíclico de Basileia III. Trata-se de um modelo em que os banqueiros devem empreender um esforço particularmente caro para reduzir a probabilidade de choques adversos em seus ativos e a consequente liquidação forçada de suas posições (risco de deterioração).

(43)

em expandir seus balanços. No entanto, o aumento da demanda por ativos e preços também eleva a recompensa da liquidação, reduzindo, eventualmente, o esforço pelo equilíbrio ótimo. A correção para essa situação de liquidações ineficientes pode estar na exigência de capital regulamentar, a qual deve ser alta quando o risco dos ativos é baixo.

O trabalho analisa a interação entre micro e macro variáveis para melhorar a compreensão do ciclo financeiro e toma a distorção dos incentivos em bons tempos da economia como alicerce do modelo proposto, o qual vai mostrar que essa distorção pode gerar uma crise financeira com queda dos preços de ativos e uma crise de crédito.

A ausência de regulamentação, situação em que alguns banqueiros preferem baixos esforços, é avaliada por Lasio (2013) como uma estratégia de pouca eficiência, uma vez que aumenta o custo esperado do investimento no projeto inicial, no qual o valor esperado do projeto inicial de um banqueiro comportado é q – 1 e de um banqueiro que se esquiva é q – 1 – (1 – π)c, onde c é o custo de reinvestimento e (1 – π)c é a perda de peso morto. De acordo com esta análise, foi examinado o caso em que uma autoridade reguladora é delegada a preservar os incentivos definindo um requisito de fundos próprios, forçando os banqueiros, que exerceriam baixos esforços, a permanecerem inativos.

Partindo da condição:

� ≥ ��� ���− �+�

� − ��� �

1− � −(� −1) +�(�

��)+ 1− �+

o requerimento de capital que exclui baixo esforço no equilíbrio é:

�� = �� − �+�

� − �� [�

1− � −(� −1) +�(�

)+ 1− �+

onde é o preço de equilíbrio associado que satisfaz a condição de equilíbrio de mercado:

���� −1 +− �� − �+

(44)

Trata-se de uma situação de incentivos e compensações para os banqueiros, segundo Lasio (2013), em que a exigência de capital afetaria a tomada de riscos. Banqueiros com patrimônio inicial de � >�� podem ser ativos, como se espera que eles sejam para exercer esforço elevado. Banqueiros com � ≤ �0 decidem voluntariamente não expandir seus balancetes e ficam inativos.

Lasio (2013) admite que a intervenção reguladora afeta o equilíbrio ao considerar que o preço de equilíbrio do mercado é uma função da exigência de capital que determina a massa de bancos ativos. O requisito de capital incrementa

18T: quanto maior o preço, piores os incentivos, maior a

exigência de capital. Na condição de equilíbrio de mercado, o efeito do requerimento de capital sobre o preço: quanto maior eR, menor a demanda

agregada de bens, menores ��.

Para mostrar que o requerimento de capital é pró-cíclico, Lasio (2013) considera o comportamento de um banqueiro com patrimônio ���, em situação de equilíbrio de requisito de capital quando o risco está no nível z e supõe um declínio infinitesimal de tamanho .

No caso em que a autoridade não ajusta a exigência de capital, o novo equilíbrio será tal que: (i) o novo equilíbrio de mercado de preços de ativos

��� − ∆� cresce sobre ��� e (ii) uma massa positiva de banqueiros procuram baixo esforço.

Dessa forma, Lasio (2013) identifica uma combinação dos dois efeitos no novo equilíbrio: os preços dos ativos mais elevados acabam por comprometer incentivos, diminuindo o valor líquido do esforço. Portanto, o banqueiro com patrimônio

R mudaria de alto para baixo esforço. Resultado

que sugere que a entidade reguladora deve aumentar a exigência de capital para evitar fuga no equilíbrio.

Lasio (2013) ressalta ainda que a diferença:

� ≡ ��−∆− � �� > 0

(45)

incentivos sejam reforçadas em condições favoráveis através de requisitos de capital mais elevados, que atuam como medidas macroprudenciais adicionais.

A necessidade de mitigar a pró-ciclicidade do mercado financeira, traz à tona a importância da aplicação de uma abordagem macroprudencial pelos reguladores. Lasio (2013) considera que a discussão tem sido em grande parte do lado da política, enquanto os fundamentos teóricos de dispositivos macroprudenciais geralmente têm sido negligenciados. No modelo que ele propôs, o setor financeiro enfrenta uma regulamentação de capital que acaba afetando sua alavancagem e o equilíbrio dos preços dos ativos, de forma que o objetivo da regulamentação de capital é garantir que os banqueiros concentrem esforços em suas atividades de gestão de risco, limitando assim a probabilidade de uma deterioração da qualidade dos ativos dos seus balanços.

Por fim, Lasio (2013) destaca que os resultados encontrados dão suporte teórico para o amortecedor anticíclico de Basileia III e para a introdução de novos instrumentos macroprudenciais. Importante ressaltar que, para serem efetivos, tais instrumentos não podem estar voltados apenas para o acúmulo de amortecedores a serem utilizados quando, por alguma razão exógena, os tempos ruins cheguem. Mais que isso, a regulamentação macroprudencial se mostra eficaz na correção de uma série de distorções relacionadas a interação de reforço mútuo entre as posições do balanço das instituições alavancadas, aumentando os preços dos ativos e incentivando um sólido gerenciamento de risco.

De acordo com BCBS (2011), um dos elementos mais desestabilizadores da crise foi a amplificação pró-cíclica dos impactos financeiros em todo o sistema bancário, os mercados financeiros e a economia. Com a quantidade de créditos na economia aumentada, o que foi seguido por um aumento das perdas no crédito, os bancos adotaram uma posição prudente imediatamente, resultando em uma restrição na oferta de crédito. Tais ações intensificaram a crise inicial, empurrando a economia para uma recessão mais profunda, com o declínio dos preços dos ativos e elevação do nível de empréstimos improdutivos (Kauko, 2012).

(46)

e sistemas de supervisão e argumenta que há um trade-off para os bancos entre ser prudente e aumentar o lucro.

O amortecedor de capital anticíclico é uma medida preventiva que obriga os bancos a reforçar o capital gradualmente à medida que os desequilíbrios no mercado de crédito se desenvolvem. Assim, ele é projetado para evitar viés pró-cíclico dos bancos, o que é inerente à regulação, e assegurar que o sistema bancário tenha um amortecedor de capital para protegê-lo contra perdas potenciais futuras, quando o excesso de crescimento do crédito agregado é considerado como associado a um acúmulo de risco de todo o sistema.

Partindo da proposta desenvolvida por Basileia III para atenuar o carácter pró-cíclico e minimizar todo o sistema de risco através do estabelecimento de um amortecedor de capital anticíclico, os autores avaliam a decisão de utilizar os amortecedores com base em duas abordagens: (i) o índice agregado de crédito em relação ao PIB, indicador mais natural do ciclo de negócios agregado de uma economia, e (ii) o crescimento agregado do crédito real, ciclo muitas vezes definido com referência à disponibilidade de crédito.

Para Braslins e Arefjevs (2014), a relação crédito x PIB fornece uma normalização da variável crédito para ter em conta o fato de que a oferta e procura de crédito crescem em linha com o tamanho da economia. Além disso, existe uma forte ligação histórica entre crescimento mais rápido do crédito em relação ao crescimento do PIB e crises bancárias.

Numa abordagem top-down, a análise mostra que as melhores variáveis como sinais para o ritmo e a dimensão do acúmulo dos amortecedores não são necessariamente as melhores para embasar a decisão de quando utilizá-los e com qual intensidade.

(47)

no setor bancário, quando uma liberação rápida e considerável dos amortecedores é desejável.

A metodologia de cálculo apresentada por Basileia III inclui as seguintes etapas para determinar a relação crédito x PIB, o seu desvio em relação a sua tendência de longo prazo e o nível de amortecedor de capital anticíclico:

1) Calculando a relação crédito x PIB.

Índice r (t) = CREDIT (t)/GDP (t) x 100%

CREDIT (t) é uma medida ampla do crédito ao setor privado e não financeiro no período t, enquanto representa o Produto Interno Bruto. Ambos são definidos em termos nominais, para o ano t, e as autoridades nacionais são aconselhadas a calcular esta relação numa base trimestral.

2) Calculando o GAP entre crédito e PIB.

Nesta fase, a relação de crédito x PIB é comparada com sua tendência de longo prazo, sendo este igual a GAP. Se houver uma grande diferença positiva, ou seja, o índice de crédito em relação ao PIB for significativamente acima da sua tendência, isso pode indicar que o nível de crédito na economia pode ter excedido sua taxa de crescimento. O GAP (t) no período t para cada país é calculado como a relação de crédito x PIB menos a sua tendência de longo prazo TREND (t):

GAP (t) = Índice (t) – TREND (t)

Onde TREND (t) é uma aproximação da média da relação crédito x PIB, com base nos valores históricos de cada economia.

3) Transformando o GAP crédito x PIB em indicador para amortecedor de capital adicional.

Imagem

Tabela 2: Correlação entre o crescimento do PIB (yt) e o gap de crédito em relação ao PIB (zt)  e crescimento do PIB (yt) e o amortecedor de capital contracíclico (bt) para os países

Referências

Documentos relacionados

Precisando: o valor óhmico lido entre a tomada + e o Faston que comanda os cabos pretos deve ser igual a &lt; 4 ohm Se tal não acontecer numa das duas leituras

Relatório de Monitorização do Programa Eu e os Outros 2014 Página 9 O programa de formação de reciclagem incidiu maioritariamente sobre a apresentação das Linhas

Na maioria das vezes, os livros didáticos são o único material impresso de que muitos alunos brasileiros dispõem (Fundação IBGE, 1982, apud CARLINI-COTRIM &amp; ROSEMBERG,

Their publication also provides an account of what appears to be a novel ELISA that has recently been used in the Simuliidae and Onchocerciasis Laboratory of the Oswaldo

No Super Intensivo você contará com 384 aulas*, conteúdo totalmente baseado no GPS DA PROVA (análise estatística dos tópicos mais recorrentes das disciplinas) para que você domine

O objetivo deste trabalho foi caracterizar a faciologia orgânica e determinar o estágio de evolução térmica para caracterização do potencial de geração de hidrocarbonetos de 23

This background prediction method is tested by applying it to a control sample of events in which jets are misidentified as photons, obtained by selecting photon candidates that

A decisão de dotar o Porto de Leixões com um novo terminal de passageiros, como forma de colocar a região norte do país na rota dos grandes cruzeiros internacionais, motivou