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REDAÇÃO VERSUS PRODUÇÃO TEXTUAL

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Academic year: 2021

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REDAÇÃO VERSUS PRODUÇÃO TEXTUAL

Autora: Joice Pilar de Carvalho Souza1

Coautora: Lucimara Grando Mesquita2

RESUMO

Os conceitos de redação x produção textual pode ser semelhante em alguns aspectos, entretanto, na prática, estes conceitos são bem distintos. O artigo em pauta terá como essência a experiência do projeto de extensão Redação e Letramento: a produção de texto como produção de sentido promovido pelo Centro de Linguagens e Letramentos (CELL) do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais – Campus São João del-Rei. O objetivo do projeto é levar aulas de produções textuais às escolas públicas, partindo da premissa de que, a grande dificuldade dos alunos dessas escolas é voltada para as “temerosas” redações. Considerando a dificuldade de trabalhar este gênero dissertativo-argumentativo em sala, o projeto é realizado por alunas extensionistas para auxiliar o professor de língua portuguesa e mediar os alunos a construírem suas produções textuais a partir das cinco competências de avaliação do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Nesta perspectiva, partimos do pressuposto de que o ponto de vista dos alunos acerca da concepção do que é redação escolar passa a se diferir a partir do momento em que o discente se vê como protagonista da sua própria escrita, tornando-se mais próximo e crítico diante da aquisição do processo de escrita. A partir disso, a produção textual contribuirá para que o estudante se perceba como um autor crítico e competente diante dos desafios da habilidade discursiva.

Palavras-Chave: Redação. Produção textual. Extensão.

Introdução

O conceito de redação e produção de textual são convergentes diante de um ponto de vista escolar, porém, há divergências em suas aplicações. O conceito de redação se distancia da realidade cotidiana e social do aluno, em outras palavras, para que o discente adquira uma qualidade discursiva, ele deve ter a oportunidade de desenvolvê-la dentro de seu próprio tempo, o que não acontece em salas de aula. Pois as redações escolares, muitas vezes, são encaradas como uma forma de “colaborar” com a distribuição de pontos, e não há uma mediação durante o processo de escrita dos discentes.

Desse modo, os alunos escrevem de forma “mecânica”, as redações são recolhidas e devolvidas com sugestões de melhora. Neste ínterim não cabe uma metodologia que aproxime

1 Graduanda do 8° período de letras - IF SUDESTE MG – Campus São João Del-Rei 2 Graduanda do 8° período de letras - IF SUDESTE MG – Campus São João Del-Rei.

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os estudantes do processo de escrita. Assim torna-se necessário mostrar aos discentes um modo de aproximação da escrita com as questões sociais vivenciadas por eles.

Tendo em vista o aluno como protagonista de seu processo de escrita, o artigo em pauta visa aproximar os educandos por meio da dialogicidade com seus textos, e por meio deles, oportunizar aos discentes o (re) conhecimento de seus lugares no discurso, por meio do gênero dissertativo-argumentativo através de produções textuais.

Redação ou Produção textual: uma discussão acerca da prática de escrita

A produção textual nas escolas acontece com menos frequência que a redação. Pois, para que os alunos produzam uma redação, há a escolha do tema a ser aplicado, e em seguida, os discentes escrevem aplicando o mínimo de seus conhecimentos, sem ao menos, terem a oportunidade de dialogarem a respeito do tema. Este modo de encarar o método para esta forma de aplicar as típicas redações levam os alunos a produzirem algo sem ter conhecimento acerca do gênero. A autora Conceição, (2000) menciona um projeto de pesquisa a respeito da escrita, o público alvo foi um número significativo de alunos que estavam prestes a fazer vestibular, e por meio do objeto a ser estudado, foi constatado o perfil de uma “redação escolar”.

Desta forma, a autora diz que este resultado se refere a baixa qualidade discursiva, a qual possui um grande número de estereótipos, ou seja, faltam comandos de elaboração semântica da escrita e dialogicidade. Com isso pode-se constatar que para os alunos houve uma trajetória embasada em dúvidas em relação ao processo de escrita durante o ensino fundamental, na qual não houve esclarecimentos para que os discentes pudessem perceber que, para alcançar uma escrita de qualidade, é necessário que haja um processo de aquisição e de “treino”. Por isso foi constatado essa baixa qualidade discursiva nas redações, como cita a autora.

Os resultados destas pesquisas levam a considerar que o conceito de redação remete a uma etapa final de falhas no processo de aquisição semântica da escrita textual. Isto posto, ela menciona as qualidades discursivas, citadas por (Guedes,1994). A qualidade discursiva está relacionada a um conjunto de comandos que determinam a relação que o texto, vai estabelecer com o interlocutor, por meio de um diálogo entre a produção textual os interlocutores. Desta forma, a autora aborda os seguintes conceitos entorno do processo de aquisição para alcançar uma qualidade discursiva.

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A Unidade temática para (Guedes,1994) a unidade temática refere-se a uma delimitação do que será discutido na produção textual. Neste aspecto, o projeto Redação e

Letramento: a produção de texto como produção de sentido visa dar oportunidade aos alunos

do ensino médio a conhecer a opinião dos colegas de classe e expor as suas experiências acerca do tema abordado, por meio de debates.

Considera-se que, através da realização destes debates, aperfeiçoam seus argumentos sobre os temas apresentados. Por meio da mediação de um discente-extensionista, eles têm a oportunidade de conhecer opiniões- argumentativas diferentes das suas convicções e a aceitar as diversidades de experiências. Acredita-se também que estes momentos, colaboram para o amadurecimento dos discentes.

Outro conceito abordado por Conceição (2000) é a objetividade, a qual refere-se ao fornecimento de informações para que o interlocutor compreenda o que está (ou será) dito. Através da mediação do discente-extensionista, há o esclarecimento dos possíveis reflexos que determinados argumentos podem causar. Nessa perspectiva, parte-se do pressuposto de que, a escrita muitas vezes, é encarada pelo aluno, como algo transparente, e mesmo que ele não tivesse tido a intenção de dizer algo, é por meio do sentido do que estiver escrito, que o leitor compreenderá. Por isso, é tão importante traçar caminhos sólidos para alcançar a construção de argumentos.

Sobre o que envolve a objetividade, a autora afirma “prever as possíveis dúvidas e as objeções e fornecer todas as informações que julga necessárias para sanar tais dúvidas e todos os argumentos que refutem tais objeções”. (CONCEIÇÃO, 2000, p.113), em seguida ela cita o terceiro conceito.

A concretude refere-se à confrontação do que o texto diz e o conhecimento prévio do interlocutor sobre o assunto. (Conceição, 2000) diz que esta qualidade discursiva:

Possibilita que o leitor confronte o que o texto diz com o particular sentido que já tem construído para si, e, no diálogo com o texto, experimente sentimentos, emoções, questionamentos produzidos e dessa relação interlocutiva novos conhecimentos são produzidos.’ (CONCEIÇÃO, 2000, p.113).

O questionamento também é um conceito citado por Conceição (2000) apud Guedes (1994). A autora afirma que para que o texto seja compreendido como uma qualidade discursiva (produção textual) é necessário que seja apresentado ao interlocutor um problema. Ou seja, o leitor deve se sentir “incomodado” de alguma forma, para que seu interesse pela leitura proposta seja despertado. Sobre o questionamento autora diz; “ser necessário para que um texto fuja aos padrões das típicas redações escolares. (Conceição, 2000, p.113).” As aulas

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de produções textuais do projeto acontecem na semana seguinte após o debate, pois durante as aulas os discentes produzem os textos, alguns em sala, outros como dever de casa, seguindo as orientações das especificidades de construção do gênero dissertativo-argumentativo.

Diante desses conceitos atribuídos às qualidades discursivas, pode-se considerar que o conhecimento empírico sobre redação se difere do conhecimento empírico de produção

textual. Assim, pode-se afirmar que a mediação do discente-extensionista se torna

fundamental para que o objetivo dos debates e das aulas de produção textual alcancem o objetivo estabelecido. Pois a primeira metodologia (aulas de produções textuais) complementam a segunda (os debates).

Produção de texto: motivação ou obrigação

A respeito da importância ímpar de um mediador acerca das aulas de produção de texto, (MENEGASSI, 2003) diz que para o aluno se sentir incentivado a escrever, ele teria que encontrar uma motivação. Ou seja, o que eles fazem em sala de aula, sem direcionamento e consequentemente sem retorno, não condizem com a expectativa deles como estudantes. O autor afirma “numa situação natural de escrita, normalmente realizada fora da escola, no convívio social que lhe exige uma manifestação escrita que lhe permite a comunicação necessária à sobrevivência social” (MENEGASSI, 2003, p. 2). Neste seguimento, apresentamos três sugestões de como abordar a produção textual em salas de aula.

Nesta perspectiva Menegassi (2003) problematiza os comandos que o professor adquire em salas de aula. O primeiro é a intencionalidade do texto a ser produzido nas escolas. Pois o professor determina a realização da produção textual, mas não apresenta os caminhos que levam a finalidade do texto a ser produzido. Neste ínterim, a finalidade da produção textual diante da perspectiva do projeto, é de que o discente se veja capaz de desenvolver a escrita através de uma ótica dissertativa- argumentativa para o processo seletivo do Exame Nacional do Ensino Médio.

Em seguida o autor menciona a ausência da apresentação básica à especificidade do

gênero aos alunos, pois sem o conhecimento da especificidade do gênero, o discente pode

criar abordagens que não cabem em determinado gênero textual. Pois durante as primeiras aulas, é percebido que este equívoco acontecia nas produções, algo comum quando se trata de um gênero textual de que o estudante não conhece. O terceiro comando o autor o define como

circulação do texto produzido, desse modo, ele sugere que a escola exponha as produções em

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sinta-se mais motivado a desenvolver suas produções. As atuações no projeto, como o público alvo é o Ensino Médio, esta sugestão não condiz com as expectativas da faixa etária.

O quarto comando do professor, segundo o autor, é a delimitação do interlocutor, esta proposta, evitará que o aluno tenha a sensação de que “escreve para ninguém ler” neste comando os discentes irão direcionar o tipo de linguagem e para quem vão escrever. O autor afirma que, com a determinação de um interlocutor para o texto, facilitará a adequação lingüística e podemos considerar que a construção de padrões que remetem a redação será quebrada. Pois a partir destas adaptações metodológicas, os estudantes irão perceber que eles podem traçar caminhos na escrita para que eles mesmos possam identificar o seu lugar no discurso. Ou seja, na sociedade.

O lugar do discurso na sociedade podemos relacionar ao conceito denominado letramento, que segundo Soares (1999), é definido como “o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita. ” (SOARES,1999, p.3). Ou seja, por meio das sugestões acima, há o caminho para alcançarmos a construção de um indivíduo letrado.

É válido ressaltar que as abordagens temáticas acerca das aulas de produções textuais, possuem um cunho multidisciplinar, pois para que o aluno tenha o esclarecimento sobre as propostas argumentativas, é necessário que o mediador (discente–extensionista ou o professor) conheça a temática abordada. Desse modo, afirmamos que o conteúdo das aulas e dos debates realizados, ultrapassam as fragmentações disciplinares oferecidas pelos livros didáticos. Para isso, nós extensionistas realizamos reuniões para planejar as aulas e pesquisamos por materiais que correspondam às expectativas dos discentes, de tal forma, que se aproxime da realidade vivenciadas por eles. Sobre isso, CRUZ (2010) diz:

Avançar gradativamente por um processo de abordagem multidisciplinar da realidade, trabalhando para diminuir as divisões disciplinares. Desenvolver projetos em que as disciplinas vão sendo trabalhadas em conjunto, sem uma divisão rígida, o que exige:

- uma estrutura de horário flexível e reuniões semanais para planejamento e acompanhamento do trabalho que está sendo desenvolvido. (CRUZ, Carlos, 2010, p.19).

Dessa forma, o projeto é realizado através de reuniões para planejar o que será abordado em sala e discussões sobre as possíveis expectativas dos estudantes sobre a temática a ser estudada.

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Considerações Finais

Considera-se que através da experiência advinda desse projeto, pode-se afirmar que a atribuição do conceito de redação vem a atrelada a uma tentativa de realizar algo que ainda não foi esclarecido durante a trajetória do ciclo escolar anterior, desse modo, a produção textual adquire uma outra visão que abarca o desenvolvimento da escrita dos estudantes, ou seja, esta é encarada diante da perspectiva da escrita, como um processo, ou ainda, em outras palavras, como uma aquisição de conhecimentos na qual levará o discente ao tão idealizado letramento.

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Referências

CONCEIÇÃO, Rute Izabel Simões. Da redação escolar ao discurso um caminho a

(re)construir, Revista Linguagem & Ensino, Vol. 3, No. 2, (109-133), 2000. Disponível em:

http://revistas.ucpel.edu.br/index.php/rle/article/view/279. Acesso em: 22 de agosto de 2017. CRUZ, Carlos H. Carrilho. Competências e Habilidades: da Proposta à Prática. Coleção Fazer e Transformar. 5ªedição. Edições Loyola, São Paulo, 2010.

GUEDES, Paulo Coimbra. Ensinar Português é Ensinar a Escrever Literatura Brasileira. Porto Alegre, Tese Doutorado em Letras, Instituto de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 1994.

MENEGASSI, Renilson José. Professor e escrita: a construção de comandos de produção de

textos. Trabalhos em linguística aplicada, Jul./Dez. 2003. Disponível em: http://www.escrita.uem.br/escrita/pdf/rmenegassi1.pdf. Acesso em: 22 de agosto de 2017. SOARES, Magda. Letramento em verbete: o que é letramento? Revista Presença Pedagógica,

vol. 2, nº10, 1996. Disponível em:

https://oportuguesdobrasil.files.wordpress.com/2015/02/4soares_letramento.pdf. Acesso em: 22 de agosto de 2017.

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