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ABRASIVIDADE DE POLPAS: DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE ABRASIVIDADE (SAR) E DO NÚMERO DE MILLER

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ABRASIVIDADE DE POLPAS: DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE

DE ABRASIVIDADE (SAR) E DO NÚMERO DE MILLER

Adilson Rodrigues da Costa Eng. Metalurgista, D. Sc.

arcosta@spectrum-engenharia.com Skype: adilson.costa70

Introdução

Em um país de grande extensão territorial, como o Brasil, é comum encontrar Empresas que atuam no setor mínero-metalúrgico e que possuem suas unidades de mineração distantes dos centros de produção ou consumo do minério. A solução encontrada para o escoamento do minério extraído por estas unidades recorre ao transporte de polpas substituindo o transporte por malha rodoviária e/ou ferroviária, consideravelmente mais dispendioso e com implicações ambientais evidentes comprometendo a auto-sustentabilidade do processo.

Um fato importante na extração e transporte de minério de ferro é a relativa escassez de minério granulado, de alto teor de ferro, se comparado à grande demanda de minério de granulometria fina e baixo teor de ferro. Há algum tempo os denominados “finos” de minério têm se tornado economicamente viáveis para as Empresas e a pelotização surgiu de modo a adequar essas partículas para a alimentação de unidades de redução, como os altos-fornos. Para isso, esse minério de granulometria fina, que não era utilizado no passado é, atualmente, bombeado sob a forma de polpa através de minerodutos.

Não se pode fugir do tema “Desgaste Abrasivo” quando se trata de bombeamento de misturas “sólido-líquido” em circuitos fechados. Por esse motivo, as Empresas adotam rigorosos sistemas de controle operacionais de modo a monitorar e estender a vida útil da tubulação. Na fase de projeto os materiais para as tubulações devem ser selecionados com o auxílio de ensaios tecnológicos padronizados e realizados em laboratórios especializados.

O desgaste é um fenômeno que ocorre na superfície dos componentes estruturais (tubos, peças de máquinas, como rotores de bombas, enxertos, revestimentos, ...) em conseqüência, na maioria dos casos, das condições de serviço. É caracterizado como uma forma de dano superficial.

Abrasão é um mecanismo de desgaste no qual partículas “duras” deslizam ou são forçadas contra uma superfície, causando remoção de material segundo uma variedade de mecanismos amplamente estudados pelos tribologistas.

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Tendo em vista que o desgaste abrasivo é considerado o mais severo e o mais comumente encontrado na indústria desenvolveu-se o teste de Abrasividade de Polpas (ASTM-G75) com a finalidade de estimar a agressividade de polpas abrasivas nas operações industriais.

Conceituando “Desgaste”

O desgaste é definido pelo comitê científico da O.E.C.D. como “perda progressiva de matéria da superfície de uma peça em conseqüência do movimento relativo de outro corpo sobre a mesma.” (Rowe, 1966). Como se trata de um fenômeno complexo julgou-se conveniente subdividi-lo em categorias, sendo as mais importantes: Abrasão, Adesão, Erosão, Corrosão e Fadiga de Contato.

De todas as diferentes categorias o desgaste abrasivo, que é apresentado em detalhes nesse artigo, é considerado o mais importante, por ser o mais destrutivo e também por ser o mais encontrado na prática, sendo responsável por mais de 50% dos casos de falha por desgaste, e está presente em variados campos da engenharia: extração e processamento mineral, fabricação de peças e componentes, desgaste de máquinas, dentre outros.

O desgaste abrasivo é causado pela interação mecânica de saliências contra as superfícies de trabalho, provocando perda de massa por corte ou arrancamento. É também definido, segundo a O.E.C.D., como “perda de matéria devido ao movimento relativo de duas superfícies e decorrente da ação de: 1- Asperidades duras em uma das superfícies, ou 2- Partículas abrasivas livres entre as duas superfícies, ou 3- Partículas abrasivas engastadas em uma das superfícies.” Gates (2001) sugeriu que a abrasão seja classificada em regimes: moderado, severo e extremo, dependendo das características das partículas abrasivas (tamanho, angulosidade, restrição ao movimento), e dos níveis de tensão aplicados.

Os Diferentes Processos Abrasivos

De Mello (1989) ressalta que devido às diferenças importantes nos diversos tipos de abrasão é difícil propor uma classificação precisa. Tal imprecisão é devida ao fato de que, para alguns autores, a classificação baseia-se no aspecto da superfície após abrasão. Para outros autores, a mesma baseia-se na natureza dos materiais envolvidos, enquanto outros pesquisadores a vinculam ao modo de trabalho e ao desempenho dos materiais durante a

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Avery, em artigo publicado em 1961, propõe uma classificação baseada na configuração mecânica do tribosistema, dividindo a classificação dos processos abrasivos em duas categorias:

- Abrasão a dois corpos - Abrasão a três corpos

A abrasão a dois corpos ocorre quando partículas abrasivas fixas movimentam-se em relação à superfície em estudo. A abrasão a três corpos movimentam-se dá quando há interposição de partículas abrasivas livres entre as duas superfícies em movimento relativo.

Tipos de Abrasão

Se adotarmos a classificação de Neale (1995), existem vários tipos de degradação superficial que se enquadram na categoria “desgaste abrasivo”, sendo eles: abrasão por impacto, por moagem (ou alta pressão) e abrasão por riscamento (ou baixa pressão).

O escopo deste artigo relaciona-se à abrasão por riscamento (ou baixa pressão), que é o tipo de abrasão na qual a superfície desgastada é riscada pelas partículas abrasivas, promovendo a remoção de material da superfície. A abrasão por riscamento ocorre na superfície de componentes de equipamentos que, direta ou indiretamente, interagem com materiais abrasivos (areias, minérios, polpas, ...).

Fatores que aceleram o desgaste por Abrasão

Para uma seleção do material adequado a ser utilizado em um ambiente sujeito a desgaste, Neale (1995) sugere que alguns fatores devem ser considerados, sendo eles:

- Tamanho da partícula (grossa, média e fina); - Formato da partícula (angulares e arredondadas); - Dureza da partícula;

- Dureza do material base;

- Velocidade e frequência do contato entre a partícula abrasiva e o material base;

- Tamanho e orientação do grão da estrutura do material base; - Ângulo de incidência da partícula do material base;

- Temperatura ambiente ou temperatura da partícula em contato com o material base;

Além desses fatores, no caso específico de polpas (minérios, rejeitos, ...) deve-se levar também em conta o pH, a viscosidade e concentração.

Abrasividade de Polpas

Equipamentos submetidos a fluxos contínuos de misturas sólido-líquidos, principalmente tubulações e bombas, desgastam por ação do movimento das partículas suspensas levando a falhas que comprometem o desempenho geral. O controle do funcionamento dos equipamentos requer a quantificação das taxas

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de desgaste de modo a permitir o planejamento adequado dos cronogramas de manutenção garantindo operação contínua e segura.

Ensaios de Abrasividade de Polpas

O ensaio que permite determinar um índice denominado Número de Miller tem sido usado desde 1967, aproximadamente, e foi desenvolvido originalmente para avaliar a abrasividade de uma polpa em um teste de bombeamento em circuito fechado. Desde então, ele tem sido amplamente utilizado para medir a abrasividade relativa de muitas suspensões. Em 2001 foi adotado pela ASTM

que estabeleceu a norma G75 “Standard Test Method for Determination of

Slurry Abrasivity (Miller Number) and Slurry Abrasion Response of Materials (SAR Number)”.

Conceitualmente, “Número de Miller” é uma medida de abrasividade de polpa relacionada com a taxa de perda de massa de um bloco de metal padrão. O número é calculado a partir da curva de perda de massa acumulada, em função do tempo, obtida com a realização de vários ensaios sucessivos e cumulativos. O “Número SAR” é uma medida da resposta à abrasão relativa de qualquer material em qualquer polpa, onde se relacionam taxa de perda de massa de uma amostra, a partir da curva de perda de massa acumulada com o tempo obtida segundo o mesmo procedimento para determinação do Número de Miller. A evolução do desgaste é registrada acumulando-se a perda de massa em intervalos regulares durante o ensaio. O teste foi originalmente projetado para ser realizado durante um período de 16 horas, com as medidas de perda de massa feitas em intervalos de 4 horas. A norma foi revisada em 1989 e o tempo do teste foi reduzido para 6 horas com medidas de perda de massa a cada duas horas.

O teste de determinação do Número de Miller (MN) foi projetado para utilizar corpos de prova metálicos da liga Ferro-27%Cromo. A escolha do material se deu com base na liga utilizada nas tubulações da época. A escala adotada para o Número de Miller estabelece o valor mínimo igual a 1 para uma mistura “não abrasiva” composta de 50% de enxofre em água (dureza Mohs=1); o limite superior, 1000, para uma mistura muito abrasiva de Córindon (220 mesh, 50% em peso em água, dureza Mohs=9). Números de Miller maiores que 50 indicam que a polpa é abrasiva requerendo, portanto , cuidados adequados no projeto de equipamentos e tubulações. O ensaio que nos leva a determinar o Índice SAR é mais abrangente que o ensaio visando o Número de Miller, pois ao invés de adotar um material padrão a ser desgastado permite avaliar a resposta de vários materiais candidatos ao projeto em discussão. Constitui-se, portanto, em um teste recomendado para a seleção adequada de materiais. Números

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SAR superiores a 80 indicam que a polpa é abrasiva. Embora seja difícil adotar o valor do número SAR de forma absoluta em um determinado projeto, ele é muito útil na comparação da abrasividade relativa de diferentes polpas.

Os Números de Miller e SAR

Estes “índices” são obtidos a partir da inclinação da curva de perda de massa acumulada com o tempo no ponto correspondente a duas horas. Isso significa dizer que os números Miller e SAR são obtidos a partir da derivada da curva de Perda de Massa Acumulada das amostras com o tempo no ponto correspondente a duas horas. Para reduzir a dispersão dos resultados das medidas de perda de massa são ensaiados, simultaneamente, três ou mais amostras idênticas do material de interesse. O padrão geral das curvas obedece à equação:

y = A.tB (1) onde t é o tempo.

Os valores de A e B são obtidos a partir do traçado da curva que melhor se ajusta aos resultados experimentais plotados. O valor da derivada da equação (1) no ponto correspondente ao tempo de 2 horas, equação 2, permite calcular o Número de Miller (NM):

A.B.2(B – 1) (2)

multiplicando-se a equação (2) por um fator de escala igual a 18,18.

Esse fator torna o número relativo à polpa de enxofre e água (onde MN=1); e relativo à polpa de coríndon e água (onde MN=1000).

NM = 18,18 x A.B.2(B – 1)

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O método de análise é similar para o Número SAR, no entanto, a taxa de desgaste no ponto correspondente a duas horas é multiplicada pelo fator de escala 18,18 e também pela razão entre a densidade da amostra metálica

padrão utilizada para a determinação do Número de Miller (Ferro-27%Cromo) e a da amostra de interesse. Assim:

Número SAR = 18,18 x (ρFerro-27%Cromo /ρamostra metálica utilizada no teste) x AB2(B-1) (4)

Onde ρ é a densidade da amostra de interesse no ensaio realizado. A densidade

da amostra Fe-27% Cr é igual a 7,58g/cm3.

Apresentamos a seguir uma curva típica mostrando a evolução da perda de massa das amostras em um ensaio de abrasividade.

A partir da curva, podemos calcular os Números de Miller e SAR. Os parâmetros A e b foram obtidos utilizando-se um “software” adequado para a determinação da curva de melhor ajuste aos pontos experimentais.

y = A.tB; A = 16,999971 e b = 0,95903

y = 16,99971. t0,95903

A derivada no ponto correspondente ao tempo 2h será, portanto: y’(2) = 16,99971 . 0,95903 . 2(0,95903 -1)

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y’(2) = 15,8468 Donde,

Número de MILLER = 15,8468 . 18,18 = 288,09 Índice SAR = 288,09 . (7,58/7,80) = 279,96

Os números obtidos nos permitem afirmar que a abrasividade da polpa em questão requer atenção por parte dos projetistas dos equipamentos responsáveis pelo transporte deste material face à abrasividade representada pelos índices calculados.

Equipamento típico para a realização de ensaios de abrasividade para determinação dos Números de Miller e SAR

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Sugestões para leitura complementar

1. ALTERA, Francisco de Assis. Desgaste abrasivo de níquel e de liga binária níquel-cobalto eletrodepositados em substrato de cobre. 2009. 85 f. Dissertação (Mestrado) – REDEMAT, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto – MG.

2. AVERY, H.S.; WEAR; 4, 1961, p. 427-449

3. BAYER, Raymond George. Mechanical Wear Fundamentals and Testing. 2ª Ed. New York: Marcel Dekker, 2004.

4. DE MELLO, José Daniel Biasoli. Abordagem Global do Estudo do Processo Abrasivo – Parte 1: Considerações Sobre os Métodos Abrasométricos. In: I Seminário sobre Materiais Resistentes ao Desgaste, 1989. 251 f. São Paulo: Associação Brasileira de Metais, 1989. p. 29-45.

5. DUIGNAN, M.R., 2002. RPP-WTP Slurry Wear Evaluation: Slurry

Abrasivity. Westinghouse Savannah River Company Document No.

WSRC-TR-2002-00062. [also under No. SRT-RPP-2002-00022] - January, 2002.

6. GATES, J.D., Two-body and three-body abrasion: a critical discussion, Wear, v. 214, p. 264-281, 2001.

7. NEALE, M.J. O Manual de Tribology. 2ª Edição. Ed. Butterworth Heinemann P.D18.1, 1995.

8. ROWE, G.; “Friction Wear and Lubrification-Terms and Definitions” O.E.C.D., Paris, 1966.

1 – Tribology: Friction and wear of Engineering Materials – I. M. Hutchings. ISBN 0-340-56184-x 1992

2 – Modern Surface Technology. F.-W. Bach, A. Laarmann, T. Wenz (Editors). Wiley-VCH Verlag GmbH & Co. KGaA, Weinheim, Germany. 2006

3 – Friction Science and Technology: from concepts to applications. Peter J. Blau CRC Press – Taylor & Francis Group. 2009

Categoria: Dissertações defendidas na REDEMAT

Desgaste por abrasão de poliuretano utilizado na indústria mínero-metalúrgica.

Autor: Dennis Coelho Cruz.

Orientador: Prof. Dr. Adilson Rodrigues da Costa. 23 de Março de 2007

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Desgaste abrasivo de níquel e de liga binária níquel-cobalto eletrodepositados em substrato de cobre. 2009. 85 f. Dissertação (Mestrado) – REDEMAT, ALTERA, Francisco de Assis.

Contribuição aos estudos dos mecanismos de interação das partículas abrasivas com as microestruturas de Ferros Fundidos em processo de desgaste.

Autor: Luciano Alves Novelli

Orientador: Prof. Dr. Adilson Rodrigues da Costa Data: dezembro de 2004

Influência da Texturização por Laser Nd:YAG, no comportamento Tribológico de Recobrimento de Cromo Eletro Depositado em Aço Carbono

Autor: Juliano Avelar Araújo

Orientador: Prof. Dr. Adilson Rodrigues da Costa

Avaliação do Desempenho de Rotores e Enxertos de Ferro Fundido Branco Utilizados nas Bombas de Polpa da Pré-Moagem da SAMARCO Mineração S.A.

Autor: Ricardo Mattioli Silva

Orientador: Prof. Dr. Adilson Rodrigues da Costa

Observação do Fenômeno da Cavitação e do Desgaste de Rotores de Latão de Bombas Centrífugas em Instalação Experimental

Mestrando: Alexandre Dias Linhares

Prof. D.Sc. Adilson Rodrigues da Costa (Presidente) - Orientador

2. AVERY, H.S.; WEAR; 4, 1961, p. 427-449

3. BAYER, Raymond George. Mechanical Wear Fundamentals and Testing. 2ª Ed. New York: Marcel Dekker, 2004.

4. DE MELLO, José Daniel Biasoli. Abordagem Global do Estudo do Processo Abrasivo – Parte 1: Considerações Sobre os Métodos Abrasométricos. In: I Seminário sobre Materiais Resistentes ao Desgaste, 1989. 251 f. São Paulo: Associação Brasileira de Metais, 1989. p. 29-45.

5. DUIGNAN, M.R., 2002. RPP-WTP Slurry Wear Evaluation: Slurry Abrasivity. Westinghouse Savannah River Company Document No. WSRC-TR-2002-00062. [also under No. SRT-RPP-2002-00022] - January, 2002.

6. GATES, J.D., Two-body and three-body abrasion: a critical discussion, Wear, v. 214, p. 264-281, 2001.

7. NEALE, M.J. O Manual de Tribology. 2ª Edição. Ed. Butterworth Heinemann P.D18.1, 1995.

8. ROWE, G.; “Friction Wear and Lubrification-Terms and Definitions” O.E.C.D., Paris, 1966.

Referências

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