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ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL EM SERGIPE: PERSPECTIVAS E DESAFIOS FACE AOS CONFLITOS TERRITORIAIS DECORRENTES DO USO DOS RECURSOS NATURAIS

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MARIA DO SOCORRO FERREIRA DA SILVA Mestre em Geografia. Doutoranda do NPGEO/UFS, Bolsista FAPITEC/SE, e Pesquisadora GEOPLAN/UFS/CNPq. E-mail: ms.ferreira.s@hotmail.com

ROSEMERI MELO E SOUZA Profª Drª Associada da UFS dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Geografia/NPGEO/UFS e do Curso de Mestrado e Doutorado do PRODEMA, Coordenadora GEOPLAN/UFS/CNPq, e Bolsista de Produtividade em Pesquisa do

CNPq. E-mail: rome@ufs.br

ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL EM SERGIPE: PERSPECTIVAS E DESAFIOS FACE AOS CONFLITOS TERRITORIAIS DECORRENTES DO USO

DOS RECURSOS NATURAIS

Este trabalho foi apoiado pela FAPITEC/SE

INTRODUÇÃO

As Unidades de Conservação (UCs), surgiram como estratégia de ordenamento territorial face a perda da biodiversidade ocorrida em escala planetária. Entretanto, a criação e implementação de UCs são acompanhadas de conflitos territoriais, envolvendo várias dimensões, atores e interesses. Neste cenário, apesar do Brasil ser um país “megadiverso, destacando-se por agrupar entre 15 e 20% da biodiversidade mundial e o maior número de espécies endêmicas do planeta (DRUMMOND e ANTONINI, 2006), suas áreas protegidas também seguem a tendência mundial, marcadas por conflitos territoriais que estão longe de serem resolvidos.

Em 2000 foi criada a Lei Federal N° 9985, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que institui a criação, implantação e gestão das UCs, e as divide em dois grupos: o de Proteção Integral, onde é admitido o uso indireto dos recursos naturais, e o de Uso Sustentável com a finalidade de compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos recursos naturais. O primeiro grupo é composto por cinco categorias: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural e

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Refúgio de Vidas Silvestres; e o segundo por sete categorias: Área de Proteção Ambiental (APA), Área de Relevante Interesse Ecológica, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Apesar dos avanços na legislação ambiental, na prática as disputas acirradas pelo domínio e apropriação dos territórios detentores de recursos naturais refletem a falta de iniciativas eficazes para a proteção da biodiversidade. Esses interesses resultam em conflitos territoriais envolvendo vários atores, a saber: o órgão gestor na perspectiva de amenizar os conflitos; os representantes dos municípios onde estão inseridas as unidades; o Pelotão da Polícia Ambiental, no patrulhamento ostensivo e na fiscalização dos recursos naturais; os proprietários particulares pelo direito de permanecer e usar suas terras; as empresas privadas, com interesses pelos usos diversos desses territórios; o setor imobiliário e turístico; os turistas; e as comunidades locais e tradicionais.

Por esse viés, o discurso que envolve as UCs respalda-se nas potencialidades dos recursos naturais existentes nesses territórios, seja para atender as necessidades sócio-econômicas do presente ou como espaços reservados para o uso futuro. Essa acepção corrobora com a assertiva de Milton Santos, que não existe território sem uso, (SANTOS & SILVEIRA, 2001).

Neste contexto, os conflitos territoriais pelo domínio e apropriação dos recursos naturais que permeiam as UCs em Sergipe também seguem a tendência apresentada. A pesquisa versará sobre os conflitos territoriais das cinco APAs onde estão inseridos os fragmentos florestais de mata atlântica, de manguezal, de dunas e de restingas: a APA do Rio Sergipe, a da Foz do Rio Vaza-Barris – Ilha do Paraíso, a do Litoral Norte, a do Morro do Urubu, e a do Litoral Sul. Essas APAs representam ambientes frágeis em virtude dos usos estabelecidos pelos vários segmentos da sociedade.

OBJETIVOS

A pesquisa visa analisar os conflitos territoriais decorrentes do uso dos recursos naturais nas APAs em Sergipe; e propor sugestões para minimização dos conflitos.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

As informações apresentadas são resultados de levantamento bibliográfico sobre a temática abordada; análise documental, principalmente nas Leis e Decretos de criação das APAs; realização de entrevistas semi-estruturada; e pesquisa de campo.

As entrevistas destinaram-se ao gestor e aos coordenadores técnicos das APAs vinculados a Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (SEMARH); e ao comandante do Pelotão da Polícia Ambiental. Para tal foram feitos roteiros com questões abertas sobre os instrumentos de gestão ambiental, a gestão e o gerenciamento das APAs, aos recursos financeiros, a questão fundiária, aos conflitos territoriais decorrentes do uso dos recursos naturais, a participação da população local no gerenciamento, aos desafios e as perspectivas administrativas e operacionais. Já o roteiro destinado para a Polícia Ambiental contemplou questões sobre os processos administrativos, as infrações ambientais e as respectivas penalidades.

A pesquisa de campo ocorreu através de visita in locu para analisar os usos atribuídos aos territórios, os impactos ambientais, e os recursos naturais existentes.

As informações adquiridas, através dos instrumentos citados, foram co-relacionadas e analisadas com base nas fontes bibliográficas de forma que subsidiasse a elaboração deste artigo, sobretudo enriquecido com sugestões visando fornecer caminhos que tendem melhorar a gestão e o gerenciamento das ÁPAs de Sergipe.

ESTRATÉGIAS DE PROTEÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS EM SERGIPE

Em virtude de não haver necessidade de desapropriação, vários Estados têm optado pela criação de APAs, inclusive Sergipe, onde a primeiras estratégias de proteção dos recursos naturais foram institucionalizadas em 1990 com a criação das primeiras UCs na categoria de APA, como: a Foz do Rio Vaza-Barris – Ilha do Paraíso e da Paz, e a Rio Sergipe criadas pelas Leis estaduais de n° 2795 de 30/03/1990, e n° 2825 de 23/07/1990 respectivamente.

Em 1993, foram criadas mais duas APAs, a do Litoral Sul (criada pelo Decreto n° 13.468 de 22/01/1993) e a do Morro do Urubu (Decreto n° 13.713 de 14/06/1993), e em

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2004 a APA do Litoral Norte (Decreto n° 22.995 de 09/11/2004), totalizando cinco unidades dessa natureza. Essas unidades foram criadas pelo poder público estadual, tendo como respaldo legal o Código Florestal (Lei n° 4.771/1965), especificamente através dos Arts. 3º e 10º que tratam de áreas de preservação permanentes, e áreas de relevo íngreme, respectivamente.

Desde 2007 a SEMARH é responsável pela administração das UCs estaduais. Porém a falta de instrumentos legais, tais como: plano de gestão, de manejo e zoneamento-ecológico-econômico, resultaram na dilapidação de parcelas dos recursos naturais antes mesmo de sua implementação.

Entraves e avanços na perspectiva de regulamentação

A APA da Foz do Rio Vaza-Barris – Ilha do Paraíso e da Paz compreende a área de duas ilhas, a Ilha do Paraíso, na foz do Rio Vaza-Barris, e a Ilha da Paz, na foz do Rio Santa Maria, em frente ao Povoado Mosqueiro, em Itaporanga D’Ajuda.

A APA do Rio Sergipe, compreende as margens e todo o leito do Rio Sergipe, entre os Municípios de Barra dos Coqueiros e Aracaju, na parte permanente coberta pelas águas, dos movimentos de maré, do segmento que se estende até o mar, e na que se destina em demanda do Rio Poxim. Essas áreas possuem fragmentos de mata atlântica, associados com outros ecossistemas: mata ciliar, mangue e restinga.

Entre os principais entraves que carecem de regulamentação estão: os nomes de criação “Áreas de Proteção Ambiental da Foz do Rio Vaza-Barrris” e a “Paisagem Natural Notável” (APA do Rio Sergipe), nomenclaturas reconhecidas nas categorias no SNUC; falta de delimitação territorial, de consulta pública e de memorial descritivo para ambas APAs, consideradas como “parques de papéis”. Contudo, desde 2008 a SEMARH vem trabalhando na perspectivas de recategorizá-las nas diretrizes do SNUC.

Para a recategorização foram elaborados processos, onde ocorreram oficinas com a comunidade local, visando definir as novas categorias mais adequadas. O processo de recategorização da APA da Foz do Rio Vaza-Barris – Ilha do Paraíso e da Paz encontra-se pronto, em fase de consulta pública, a qual será recategorizada no mesmo grupo, porém na categoria de Reserva de Desenvolvimento Sustentável. Já o processo da APA do Rio

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Sergipe ainda falta à realização das oficinas para a definição da nova categoria, tendo como opção a Área de Relevante Interesse Ecológico. Todavia, somente após a oficialização, passarão a ter gestão e gerenciamento.

Já a APA do Litoral Norte, com uma área de 413,12km abrange parcelas dos Municípios de Pirambu, Japoatã, Pacatuba, Ilha das Flores, Brejo Grande. Além de ser um remanescente de mata atlântica, conta com ecossistemas de dunas, de restingas, de manguezais, além de ilhas e lagoas. Essa unidade encontra-se no âmbito do Ministério do Meio Ambiente para regulamentação, devido entraves: sobreposição na área da Rebio de Santa Isabel, falta de consulta pública, e englobar cidade em seu perímetro. Desse modo, também encontra-se sem gestão e gerenciamento.

Esse território vem sendo usado por diversos atores, como: a população local e tradicional, como os pescadores e as coletoras de mangaba; os turistas em busca de praias, lagoas e dunas; as empresas imobiliárias na busca de áreas para construção de resorts e hotéis no litoral norte; os donos de pousadas, hotéis e restaurantes; os proprietários particulares que usam suas terras para a agropecuária; outras empresas, na instalação empreendimentos, como o Estaleiro, no Rio Sergipe; a Polícia Ambiental, no patrulhamento e fiscalização; o poder público levando infra-estrutura e investimentos para alavancar o turismo; e o Ministério do Meio Ambiente no âmbito da regulamentação. Essas atividades resultam em impactos ambientais, comuns as outras APAS, tais como: desmatamento, lançamento de efluentes doméstico e industrial, deposição de resíduos sólidos urbanos, e extração ilegal animal e vegetal.

Conflitos territoriais nas APAS com processo de implementação

A APA do Morro do Urubu, localizada no Bairro Industrial, em Aracaju, com uma área de 213,872 hectares, é o último remanescente florestal de mata atlântica que restou a capital. Sedia o Parque da Cidade (Zoológico), sendo responsável pela conservação in situ de amostras da biodiversidade, onde já foram identificadas 60 espécies de plantas nativas e 40 espécies de animais; e conservação ex situ. Em 2000 o Parque José Rollenberg Leite [68ha do Parque da Cidade] foi aprovado pela Reserva da Biosfera da Mata Atlântica em 2000 (GOMES, SANTANA e RIBEIRO, 2006).

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As ocupações desordenadas e em áreas de risco ambiental (áreas de relevo íngreme) vêm descaracterizando a paisagem além de colocar em risco a vida das pessoas, que convivem com riscos de desmoronamento, além da falta de saneamento básico, e violência constante. Assim, apesar de ser um espaço protegido, que resguarda potencial fitogeográfico, convive com vários conflitos que refletem a falta de planejamento territorial, resultando na constante perda da biodiversidade.

A Defesa Civil tem atuado na retirada de moradias que oferecem maior risco ambiental, mas é comum a resistência dos moradores, que retornam após algum tempo. Em 2009, a medida foi mais severa, com a demolição várias residência.

O Parque da Cidade se configura como um forte atrativo turístico, sendo bastante procurado por visitantes que usam esse território para atividades de lazer e recreação. Assim, a comunidade local aproveita para desenvolver o comércio informal, através da venda alimentos, como alternativa de renda.

Os proprietários também fazem uso de suas propriedades para atividades agrícolas, e acabam utilizando-se da prática do desmatamento com percentuais acima do permitido pela Lei do Novo Código Florestal. Ainda, é possível identificar outros impactos ligados a extração inadequada de recursos naturais pela comunidade local.

O órgão gestor, mesmo com suas carências, vem tentando amenizar os conflitos. Embora tenha pouco tempo de implementação (2008), algumas ações já foram realizadas: a criação do comitê gestor, em tramite; a realização de oficinas educativas visando à interação com a comunidade local e sua participação no gerenciamento. Os resultados já são percebidos, na medida em que a comunidade se faz mais presente, principalmente nas denuncias e na participação das atividades irregulares.

Já a APA do Litoral Sul localizada na zona rural dos Municípios de Itaporanga D’Ajuda, Estância, Santa Luzia do Itanhy e Indiaroba, tem como limite a margem direita do Rio Vaza Barris até a margem esquerda do Rio Real. Apesar de ter sido criada em 1993, somente em 2009 a SEMARH iniciou seu processo de implementação, ano que foi feito seu Memorial Descritivo da APA, sendo definida, a área (50.813,40025ha), o perímetro e o polígono.

Quanto aos aspectos fitogeográficos, possui uma grande área de restinga arbórea, manguezais, dunas, mata ciliar, com enclaves de floresta ombrófila densa. Em seu perímetro

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encontra-se o maior remanescente de mata atlântica de Sergipe, a fazenda do Crasto, no Município de Santa Luzia do Itanhy.

A APA possui diversas fisionomias da paisagem a saber: lagoas temporárias e permanentes, destacando-se a Lagoa Azul, no Município de Estância, considerada a maior de Sergipe; e as a presença de dunas móveis, comumente usadas para passeios.

Entretanto, por dispor de belas paisagens naturais, e englobar as praias de Caueira, em Itaporanga D’Ajuda, a de Abaís e do Saco, em Estância tem despertado o interesse de vários atores, principalmente o turístico e imobiliário pela apropriação e uso do território, numa visão mercadológica da natureza. A especulação imobiliária no litoral sul não é recente, mas vem se acentuando principalmente após a construção da Ponte Joel Silveira, sobre o Rio Vaza-Barris, inaugurada em março de 2010, que liga Aracaju a Itaporanda D’Ajuda, a qual tem como meta promover o desenvolvimento econômico e do turismo nessa área. Ainda, encontra-se em construção a ponte sobre o Rio Piauí que ligará Estância a Indiaroba (Porto do Cavalo à Terra Caída) visando interligar plenamente o litoral sul sergipano, encurtando o trajeto Sergipe/Bahia em 70km, tornando possível o acesso à Aracaju pela Linha Verde. A finalidade da construção é beneficiar os empreendimentos turísticos, hoteleiros e imobiliários já existentes e ampliar o espaço para novos investimentos. Por essa ótica, fica evidente que o discurso que permeia a APA versa em torno do desenvolvimento econômico. Essa análise corrobora com o próprio conceito de território destacado por Santos e Silveira (2001) que remete a idéia de porções do espaço controladas por indivíduos ou grupos sociais que criam estratégias de ordenamento territorial objetivando controlar pessoas e defender acessos de grupos sociais que possuem o controle de uma área.

Contudo, vários usos são atribuídos a esse território, como: a atividade turística, com possibilidades de crescimento, resultando na alta especulação imobiliária; implantação de a infra-estrutura de suporte ao turismo; comércio formal e informal; construções de moradias em áreas de risco; acampamento do Movimento dos Sem Terra, no Abaís; a caça ilegal; a pesca predatória; a retirada de madeira; a extração de piçarra (usada para construção e reparação de estradas) e de areia; a plantação de coco nucífera; a criação de gado bovino e bubalino; e prática carcinicultura de grande porte.

Além das construções desordenadas de residências, bares e restaurantes na Praia do Saco, constatou-se também a presença de condomínio fechado que impedem o acesso livre a

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praia em trecho de até um quilômetro (SILVA & ZOUZA, 2009), ocorrência que infringe a Lei (n° 7.661/1988) a qual define, em seu Art. 10, praias como “bens públicos de uso comum do povo, sendo assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido, ressalvados os trechos considerados de interesse de segurança nacional ou incluídos em áreas protegidas por legislação específica” (BRASIL, 1988).

Apesar da devastação da vegetação, esse território possui outras potencialidades além da turística, como os usos realizados por comunidades tradicionais e local, os quais não ameaçam a proteção da biodiversidade, a saber: o extrativismo vegetal, principalmente de plantas medicinais, e da mangaba, realizadas pelas catadoras de mangaba, no Povoado Pontal em Indiaroba; e a pesca de subsistência, feita pelos pescadores artesanais, apanhadores de caranguejos e pelas marisqueiras.

As atividades desenvolvidas são acompanhadas de impactos sócio-ambientais. Sociais, pois a população local e tradicional, que dispõem de menor poder de barganha, são cada vez mais afastada dessa área, que tende a se tornar nobre, acirrando cada vez mais a disputa territorial, além da tendência de proibição do uso do território para o extrativismo vegetal, com a proibição e/ou cercamento de propriedades particulares, as quais dispõem de recursos naturais para a subsistência dessas comunidades. E ambientais, desde a deposição de resíduos sólidos até a degradação da paisagem.

No contexto científico-educacional, esse território vem sendo usado, para o desenvolvimento de pesquisa científica, por pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe, de Pernambuco e da Paraíba; por professores e alunos do Colégio Particular Arquidiocésano (Aracaju) e de Escolas Municipais de Estância, sobretudo para aulas práticas, as quais são realizadas pelo coordenador técnico da APA.

Os investimentos realizados no litoral, as melhorias em infra-estrutura, como a construção das pontes que interligam esse território, a promoção de incentivos para atração turística, o marketing realizado em agencias nacionais de turismo, evidenciam o discurso do governo para o desenvolvimento econômico e turístico, que tendem a desencadear cada vez mais interesses para exploração de tal potencial. Por essa ótica, observa-se o jogo pelo poder em engendrar territórios. Assim, diante dessas disputas acirradas pela regulação do uso do território, seja no presente ou como estoque para o uso futuro, o processo de territorialização sempre dependerá dos interesses dos grupos dominantes, ficando as

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comunidades locais e tradicionais desprovidas de seus direitos, e consequentemente com menos qualidade de vida e bem-estar. Assim, fica evidente “para que” e “para quem” essas UCs estão sendo criadas.

Os entraves apresentados mostram que o poder público não tem força para barrar os empreendimentos, nem tão pouco os conflitos engendrados, até mesmo por que há interesse por parte do governo em levar desenvolvimento para a região.

Essas evidências, existentes em Sergipe, corrobora com as análises de Bensusan (2006), quando realça que as áreas protegidas, por maior quantidade de terras que envolva, não conseguirão sozinhas conservar a biodiversidade existente no planeta devido à escala que transcende suas dimensões usuais.

É preciso criar estratégias que contemplem além dos limites estabelecidos, pois as ações externas, sejam em gabinetes ou no entorno das UCs, ameaçam a sócio-biodiversidade desses territórios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proteção legal dos recursos naturais em Sergipe inicia-se em 1990, e de lá para cá, os avanços foram insuficientes para a proteção da sócio-biodiversidade. Das APAs criadas, apenas em duas ocorreu o processo de implementação, a do Morro do Urubu e a do Litoral Sul.. Outras duas estão em processo de recategorização, e uma encontra-se no âmbito do Ministério do Meio Ambiente para regulamentação, a APA da Foz do Rio Vaza-Barris – Ilha do Paraíso e da Paz, a APA do Rio Sergipe e a do Litoral Norte, respectivamente.

A pesar de ser instrumento de ordenamento territorial adotado no Brasil, as UCs são palco de inúmeros conflitos territoriais. Em Sergipe, não é diferente, suas APAs representam um sistema marcado pela fragilidade, sendo insuficiente (tamanho, extensão e representabilidade) para atender as necessidades de proteção da biodiversidade, necessitando de estrutura adequada para o manejo e fiscalização, além dos usos para atividades predatórias já desenvolvidas e os que estão prestes a se configurar, os quais vão contra os fins da conservação, resultando em perdas para a sócio-biodiversidade.

Os atores e os interesses nesse espaço geram conflitos territoriais que estão longe de serem minimizados, com fortes tendências para o domínio e apropriação da APA do Litoral

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Sul pelo grande capital. O próprio estado vem promovendo incentivos em prol do desenvolvimento turístico. As informações supracitadas corroboram com a idéia que esses territórios estavam sendo poupadas para serem usados para a atividade turística, como estratégia governamental de controle territorial, principalmente como reserva/estoque dos recursos naturais, face à dinâmica do capital, sobretudo para atenderem os interesses vigentes, neste caso do turismo.

Apesar das ações desenvolvidas pelo órgão gestor, para a minimização dos conflitos territoriais, há necessidade de se pensar em políticas públicas respaldando-se também na sócio-biodiversidade. Assim, vários instrumentos de gestão ambiental devem ser elaborados e implantados, como: a Política Florestal Estadual; o plano de gestão e de manejo, o zoneamento-ecológico-econômico; e programas de Educação Ambiental para todos os envolvidos.

Outras estratégias que podem ser aderidas são: incentivar a gestão compartilhada dos municípios que têm parcela de seus territórios nas UC; identificar e informar os proprietários de terras envolvidas nos perímetros da unidade, para evitar futuros conflitos, incentivando-os na participação do gerenciamento; estabelecer parcerias com os proprietários objetivando a abertura das terras para uso das comunidades tradicionais; incentivar do uso da floresta em pé; estabelecer estratégia de conectividade entre os redutos florestais, para evitar o empobrecimento genético e à extinção das espécies; aumentar o número de funcionários via concurso público; realização de convênios com entidades para fortalecer a gestão e a captação de recurso; melhorar a infra-estrutura administrativa e operacional; criação de ICMS Ecológico; pagamento de parcela dos lucros pelas empresas que usam o território da UC; aumentar o efetivo do Pelotão da Polícia Ambiental, assim como delegar poder administrativo para que o mesmo possa aplicar as penas cabíveis.

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Referências

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