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AS TECNOLOGIAS NA GESTÃO, ORGANIZAÇÃO E COMUNICAÇÃO ESCOLAR

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Academic year: 2021

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AS TECNOLOGIAS NA GESTÃO, ORGANIZAÇÃO E COMUNICAÇÃO ESCOLAR

Luis Folgado Ferreira, José Castro Silva e Francisco Peixoto

ISPA - Instituto Universitário

Resumo

O presente artigo baseia-se na apresentação de resultados pertinentes, baseados num projeto de investigação que estuda o efeito da utilização ferramentas informáticas nos processos de trabalho dos professores, mais precisamente de docentes, órgãos de gestão e estruturas intermédias das escolas do 3º ciclo do ensino básico e secundário portuguesas, em articulação específica com as áreas da gestão, organização e comunicação escolar.

Palavras-chave: Escola, tecnologias, gestão, organização, comunicação. Keywords: School, technologies, management, organization, communication.

INTRODUÇÃO

Estudos realizados sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) na educação sempre estiveram muito associados à análise da sua utilização em contexto sala de aula no suporte ao trabalho dos alunos, bem como ferramentas de apoio ao ensino por parte dos professores.

Contudo, ainda são escassos estudos onde se poderão encontrar dados sobre o real resultado da utilização das tecnologias no processo de trabalho dos professores fora da sala de aula mais precisamente em áreas como a gestão, organização e comunicação. Torna-se então necessário encontrar dados concretos que permitam saber os reais efeitos da utilização das tecnologias por parte dos professores nas escolas.

1.1 Estrutura escolar como proposta por Mintzberg

A escola, apesar da sua pequena dimensão, é burocraticamente, profissionalmente e politicamente uma organização complexa (Telem, 1996). A divisão estrutural da organização escola proposta por Mintzberg (1995), e o reconhecimento das suas estruturas intermédias, mais concretamente os professores com cargos de coordenação, como seja o diretor de turma e coordenadores de departamento, remete-nos para o reconhecimento específico das suas componentes operacionais principais bem como do funcionamento da escola como um todo.

Esta estratificação e estruturação é necessária e realizada com vista a melhor entender a) a organização da escola, b) o processo funcional dos fluxos de trabalho relacionados com tomadas de decisão e gestão e c) como se processa o fluxo de comunicação na instituição. Assim, com base nos modelos organizacionais propostos por Mintzberg, a estrutura da escola adapta-se e molda-se segundo cinco estruturas: o vértice estratégico, a linha hierárquica, o centro operacional, a tecnoestrutura e o pessoal de apoio (Fig. 1).

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Figura 1 –Representação piramidal das estruturas da organização de escola segundo o modelo proposto por Mintzberg (1995).

Na escola contemporânea podemos considerar a Direção Executiva como o vértice estratégico onde se concentra toda a gestão interna e tomada de decisões. É também responsável pela supervisão e gestão de recursos e conflitos. Acresce-lhe a função de coordenar o fluxo de informação, planeamento de atividades, bem como a ligação entre os outros elementos da organização através da linha hierárquica. Esta linha hierárquica, composta pelas estruturas intermédias, tem como principal função o estabelecimento de ligações entre as diferentes partes constitutivas da organização.

É através das estruturas intermédias que passa todo o fluxo de comunicação e trabalho da escola. Numa visão piramidal da estrutura escolar, as estruturas intermédias assumem-se como os elementos que primeiramente recebem e respondem às ordens do topo da pirâmide, atuando assim como vértice estratégico (Mintzberg, 1995). Conhecidos os gestores intermédios, estes fazem a ponte entre a Direção Executiva e o centro operacional, os professores.

A importância de definirmos estes componentes organizacionais de uma escola, permite-nos identificar quais são aqueles que maior influência tem nos processos de gestão, organização e comunicação. Podemos com isto, definir quais são os clusters de estudo mais relacionados com os domínios das questões de investigação operacionais da investigação.

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Os meios de comunicação e processos de trabalho numa organização escolar podem basear-se no ajuste direto (Mintzberg,1995) através de uma comunicação presencial ou através de meios de comunicação digital como por exemplo: correio eletrónico, videoconferência, painéis eletrónicos de partilha, sinalização digital de apresentações eletrónicas bem como partilha e trabalho colaborativo de documentos.

Genericamente, entende-se que um dos processos mais utilizados para transmissão de informação/comunicação, utilizando as tecnologias digitais, é o correio eletrónico. Na verdade, a utilização do correio eletrónico como forma de comunicação institucional revela inúmeras vantagens neste ambiente, mas, ainda apresentava algumas dificuldades de estabelecimento da sua utilização, como nos é revelado no estudo da Inspeção Geral da Educação de 2011. Este estudo, evidencia um nível baixo de utilização deste serviço, representado pelo valor de utilização de 40% (GEPE, 2008) para ensino básico e secundário. Na escola a utilização das tecnologias digitais de comunicação como o correio eletrónico, acrescentam um meio de comunicação, bem como facilidade de acesso e organização da informação.

Mas qual é o seu verdadeiro impacto e consequência na melhoria dos fluxos de trabalho?

Se considerarmos a área da gestão relacionada com as instituições económicas, o impacto das tecnologias em processos de melhoria, na área administrativa e processos de comunicação, tem sido já demonstrado. Estudos como os de Shafrir e Yuan (2012), revelam múltiplas vantagens na utilização do correio eletrónico em instituições sociais não lucrativas. Shafrir e Yuan (2012) revelaram, em estudos prévios, como conclusão, o fato da interação interpessoal online ser potencial de aumentar a interação face-a-face. Assim, por exemplo a utilização do correio eletrónico institucional, poderá ser também forma de promoção de interação social da própria comunidade escolar. Por outro lado, contrapondo, Cummings, Butler e Kraut (2002) revelam que a utilização de ferramentas de comunicação eletrónica “introduz” menos importância nas relações interpessoais dentro de uma organização, em detrimento da comunicação presencial e da comunicação por voz.

Apesar do primeiro estudo mostrar vantagens, o segundo estudo revela aspetos negativos associados à utilização desta tecnologia de comunicação.

A informação por correio eletrónico não é tão apreciada porque contem informação com elevada carga formal, longa, geral e não atual. Não satisfaz o ‘trigger’ imediato para a ação de gestão (Visscher, 1996).

Apresenta-se assim indispensável apurar resultados através de um estudo mais profundos e profícuos em torno da sistematização das vantagens ou limitações da

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utilização do correio eletrónico nas escolas, bem como em torno de várias outras ferramentas tecnológicas atualmente ao dispor dos professores.

Simultaneamente, é também importante realçar o fato de uma mesma ferramenta digital revelar comportamentos diferenciados de organização para organização (Shafrir & Yuan, 2012), o que poderá resultar em diferenças no impacto registado, mesmo entre organizações com estruturas semelhantes, como as escolas.

Deste modo, entendeu-se vantajoso de realizar um levantamento de dados que nos revele indicadores precisos sobre o verdadeiro efeito das tecnologias nas áreas que estivessem diretamente relacionadas com todo o processo de trabalho dos professores, considerando em particular as direções e as estruturas intermédias, tomando como foco contextos escolares diversificados.

1.2 O instrumento de Investigação

O desenvolvimento inicial do instrumento de investigação teve como base a formulação da hipótese geral e das respetivas hipóteses operacionais de investigação, como recomendado por Hill e Hill (2002). Foi assim proposta como hipótese geral: “A utilização das tecnologias na escola melhora os processos de trabalho dos professores nas áreas da gestão, organização e comunicação da escola”.

O ponto de partida do instrumento de investigação teve como base o modelo Technology Accept Model (TAM) de Davis et al. (1989).

O instrumento foi previamente estruturado com base nos domínios: Perceção de Melhoria (PM), Perceção de Facilidade de Utilização(PFU), Atitude (AT) e Utilização (UT) (Fig. 2).

Figura 2 – Domínios utilizados no instrumento com base no modelo TAM de Davis et al. (1989).

De forma a identificarmos e apresentarmos os dados que demostram a relação do modelo com: a) ferramentas tecnológicas, b) área da gestão, c) área da organização e

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d) área da comunicação; os domínios iniciais da Utilização e Perceção de Melhoria foram adaptados itens que respondessem especificamente a estes constructos/fatores. Os itens constitutivos do modelo inicial de Davis (1989) foram traduzidos e sujeitos à validação por um painel de 13 especialistas e investigadores nacionais nas áreas de i) ciências da educação, ii) administração e liderança e iii) tecnologias na educação. A recolha da opinião de especialistas que integram as áreas relacionadas com a investigação permitiu realizar uma análise minuciosa e corrigir conceitos de forma a desenvolver um instrumento de recolha de dados válido e objetivo. A quantidade de participantes no painel de especialistas, número impar de forma a termos um resultado final único de opiniões relativamente aos domínios e subdomínios propostos no modelo (Grelha 1).

Domínios Subdomínios Participantes

no Painel

PM (Perceção de Melhoria)

PMA (Auto perceção)

13 PMG (na Gestão)

PMC (na Comunicação) PMO (na Organização) AT (Atitude)

UT (Utilização)

UTP (Produção de Materiais)

UTC (Comunicação)

UTO (Acesso e Organização Documental)

UTG (Gestão Interna) PFU (Perceção de Facilidade de Utilização)

Grelha 1 – Relação dos domínios e subdomínios com o número de participantes no painel.

Na importância de recolher dados com relevância e abrangência necessária tornou-se necessário definir como público-alvo as escolas nacionais do 3º ciclo e ensino secundário. Assim, o estudo em causa, desenvolvido entre outubro de 2015 e fevereiro de 2016, estruturou-se, numa primeira fase, na aplicação de um pré teste a 15% da população (n=1171) de escolas, encontrando-se para esta fase um total de 337 repostas válidas. Após a recolha de dados do pré teste estes foram verificados, tratados e inseridos no programa SPSS® de forma a aplicar os testes de fiabilidade e consistência. Os dados foram ainda submetidos a uma análise fatorial exploratória de forma a otimizar a correlação dos domínios iniciais propostos.

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Após o processo de redução fatorial exploratória, o modelo foi analisado no AMOS® de forma a ser validado antes da sua aplicação final, resultando em bons indicadores finais, segundo os indicadores propostos em Maroco (2014), na análise fatorial exploratória (

X

2/d.f.=1.731, CFI=.922, PCFI=.850, GFI=.860, RMSEA=.047, p(rmsea<0,05) =.872).

Figura 3 – Modelo do instrumento final

O questionário foi adaptado e aplicado à restante população (n=1002) de janeiro a março de 2016 resultando na recolha de 1691 respostas válidas.

A proposta deste “short paper” é a apresentação de conclusões e dados decorrentes da análise preliminar dos resultados deste estudo.

CONCLUSÃO

Os resultados começam a sugerir uma forte utilização de ferramentas que proporcionam uma real melhoria organização e comunicação no trabalho dos professores, como por exemplo o correio eletrónico e sistemas de arquivo e partilha online. Na área da gestão existe também um alto valor da média de utilização de programas administrativos o que evidencia um maior investimento na utilização de ferramentas administrativas de gestão internas.

É um mito de que a simples adoção de tecnologias é garante de vantagem competitiva para a organização escola. As tecnologias da informação e comunicação são constituídas por um conjunto de ferramentas com caraterísticas específicas.

É preciso ter dados concretos e relevantes da relação entre a utilização das tecnologias e a melhoria dos processos de trabalho nas escolas. Se assim não for, estaremos a

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introduzir novas práticas que por si só são um acréscimo ao aumento crescente das tarefas dos professores nas escolas (Hargreaves, 1998).

Temos ainda que ter em conta que as mudanças de práticas de trabalho tendem em colidir com a rotina e o sistema de poder já instalado (Zorrinho, 1991).

Mas perceber em que modo é que as tecnologias são realmente eficazes dá-nos a possibilidade de orientar para o estabelecimento de práticas de gestão escolar mais organizada, colaborativa e eficiente, esperando assim proporcionar melhorias nas condições de trabalho dos docentes.

REFERÊNCIAS

Costa, J. A. (1996). Imagens organizacionais da escola. Lisboa: Edições ASA. Cummings, J. N., Butler, B., & Kraut, R. (2002). The quality of online social

relationships, Communications of the ACM, 45, 7, 103-108.

Davis, F. D. (1989). Perceived usefulness, perceived ease of use, and user acceptance of information technology, MIS Quarterly, 13 (3), 319–340, doi:10.2307/249008

Davis, F. D.; Bagozzi, R. P.; Warshaw, P. R. (1989), User acceptance of computer technology: A comparison of two theoretical models, Management Science, 35, 982–1003, doi:10.1287/mnsc.35.8.982

GEPE. (2008). Modernização tecnológica do ensino em Portugal. Estudo de

Diagnóstico. Recuperado de

http://www.dgeec.mec.pt/np4/100/{$clientServletPath}/?newsId=160&fileNa me=mt_ensino_portugal.pdf

Ferreira, L. (2013). Plano de comunicação na gestão educacional para a melhoria da organização da escola (Tese de Mestrado em Ciências da Educação – Gestão e Administração). Évora: Universidade de Évora.

Hargreaves, A. (1998). Os professores em tempos de mudança. Alfragide: McGraw-Hill.

Hill, M. M., & Hill, A. H. (2002). Investigação por questionário (4ªed.). Lisboa: Edições Sílabo.

Marôco, J. (2014). Análise Estatística com o SPSS Statistics (6ª ed.). Lisboa: Reportnumber.

Mintzberg, H. (1995). Estrutura e dinâmica das organizações. Lisboa: Dom Quixote. Telem, M. (1996). MIS implementation in schools: A systems socio -technical framework. Computers & Education, 27(2), 85–93. Retirado de http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/0360131596000218

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Shafrir, S. M., & Yuan, Y. C. (2012). Getting the feel: Email usage in a nonprofit community organization in a low-income community. Communication Quarterly, 60(1), 103–121. doi:10.1080/01463373.2012.641898

Visscher, A. (1996). The implications of how school staff handle information for the usage of school information systems. International Journal of Educational

Research, 323–334. Retirado de

http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0883035597893640 Zorrinho, C. (1991). Gestão da informação. Lisboa: Editorial Presença.

Referências

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