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O DIREITO ANALISA A RESPONSABILIDADE CIVIL NA

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Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional S.A.

O DIREITO ANALISA A RESPONSABILIDADE CIVIL NA

ODONTOLOGIA

Alameda Maria Tereza, 2000 Correspondência/Contato

Valinhos, São Paulo - 13.278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br pic.ipade@unianhanguera.edu.br

Coordenação

Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Publicação: 09 de março de 2009

Eduardo Covolan

Luciana Nogueira Mendonça

Stephanie de Oliveira Lima

Profa. Ms. Edinês Maria Sormani

Garcia

Curso: Direito

FACULDADE ANHANGUERA DE BAURU ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.

RESUMO

O Direito ao longo do tempo tem sofrido variações e inovações surpreendentes, positivas e práticas que dão a essa ciência status de detentora do saber jurídico. Dentre as diversas fontes do direito estão classificadas as obrigações como garantia ao cidadão. Por conta dessa aplicação o direito estabeleceu a responsabilidade e no caso em pauta o da odontologia que na grande maioria dos casos classifica-se como obrigação de resultado, ficando apenas procedimentos ou tratamentos específicos como obrigação de meio. Grande parte da doutrina segue essa premissa e por isso atualmente surgem, inúmeros processos envolvendo profissionais da odontologia. Torna-se necessário então, orientar o profissional e o cliente, munidos de informações essenciais para garantir o cumprimento do que foi proposto e, em caso de lide, estabelecer os meios de prova e dar segurança de que o melhor Direito seja aplicado ao caso.

Palavras-Chave: obrigação de meio; obrigação de resultado; responsabilidade civil; odontologia; processo; cirurgião-dentista.

A

NUÁRIO DA

P

RODUÇÃO DE

I

NICIAÇÃO

C

IENTÍFICA

D

ISCENTE

Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008

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1. INTRODUÇÃO

No mundo globalizado de hoje, podemos verificar através de diversos meios de comunicação, internet e outros, os direitos e garantias de que dispõe cada cidadão que vive em sociedade, isso no que tange tratar da responsabilidade civil de cirurgião-dentista ao realizar serviços prestados de ordem privada e assistencial.

A elaboração de serviços prestados pelos cirurgiões-dentistas sempre esteve relacionada com a expectativa do paciente-cliente, portanto o que se busca é estabelecer um entendimento tanto doutrinário quanto jurisprudencial a respeito da responsabilidade civil do cirurgião-dentista quanto a obrigação de meio ou de resultado, bem como atender a toda a população de forma geral esclarecendo a respeito de seus direitos com relação a serviços prestados por profissionais liberais, como, por exemplo, o cirurgião-dentista.

Não se pode deixar de ressaltar que, o profissional da saúde sofre certos riscos inerentes a profissão que desempenha e que, portanto, “deverá responder por todas suas ações e omissões”, o Novo Código de Direito Civil, trata com cuidado no Direito das obrigações dessas questões. (REGIS, 2007, p.215).

O Código de Ética Odontológico (modificado em de 20 de maio de 2003), regula os direitos e deveres dos profissionais e das entidades com inscrição nos Conselhos de Odontologia, em seu artigo 3º, I:

Art. 3º, I “constitui como direito fundamental do profissional da Odontologia, diagnosticar, planejar e executar tratamentos, com liberdade de convicção, nos limites de suas atribuições, observados o estado atual da ciência e sua dignidade profissional”.(CFO,2003)

E no artigo 4º, III constitui dever fundamental dos profissionais inscritos: Art. 4º, III “zelar pela saúde e pela dignidade do paciente” (CFO, 2003).

Portanto cabe ao cirurgião-dentista a elaboração de um diagnóstico preciso, um prontuário completo do paciente, com os exames complementares necessários, exame físico geral e local, além da avaliação da anamnese bem elaborada e completa e na realização exatamente daquilo que foi planejado e oferecido ao paciente, evitando assim ações judiciais, pois todo profissional tem o dever de saber até onde vai sua responsabilidade civil. “Cabe ao profissional assumir o ônus da proposta do serviço a ser executado, sendo uma obrigação de meio ou de resultado”. (RODRIGUES, 2006, p.120-127) A ordem jurídica estabelece deveres e, conforme a natureza do direito a que correspondem, podem ser positivos, de dar ou fazer, como negativos, de não fazer ou tolerar alguma coisa. “Entende-se por dever jurídico a conduta externa de uma pessoa imposta pelo direito positivo por exigência da convivência social” (STOCO, 2007, p.112). Ao impor certos deveres, o que se cria na verdade são obrigações.

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O fato do direito estabelecer as diretrizes legais, faculta ao agente seguir os preceitos legais ou simplesmente ignorá-lo ou violá-lo voluntariamente ou involuntariamente.

Com a responsabilidade sobrevém o “dever jurídico e sua violação configura um ilícito, que quase sempre acarreta um dano a alguém, gerando um novo dever jurídico, qual seja, o de reparar o dano” (STOCO, 2007, p. 112). Então, acontece um dever jurídico que é originário, visto como absoluto e tratado pela doutrina como primário, cuja violação gera um dever jurídico sucessivo ou secundário, que é o de indenizar o prejuízo. Daí vem a noção de responsabilidade civil.

Segundo Cretella Jr., afirma:

A responsabilidade jurídica nada mais é do que a própria figura da responsabilidade,

in genere, transportada para o campo do Direito, situação originada por ação ou

omissão de sujeito de direito público ou privado que, contrariando norma objetiva, obriga o infrator a responder com sua pessoa ou bens. CRETELLA ap. STOCO, 2004, p.121).

Por responsabilidade civil, entende-se que é o meio pelo qual a vítima, poderá ser ressarcida, pelo dano sofrido, através de indenização. Esse dever de indenizar deriva de um ato cometido por uma pessoa que causou o prejuízo a outra. Esse prejuízo pode ser , tanto físico, quanto moralmente, como reza o artigo 186º do Código Civil vigente, a seguir exposto.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

A obrigação de reparar o dano está prevista, mais claramente, no artigo 927º, também do Código Civil, senão vejamos:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

De acordo com a doutrina, Silvio Rodrigues:

Retrata que aquele que causa o dano a outrem tem o dever de reparar. Desde que haja os pressupostos básicos do instituto da responsabilidade, que são: ação ou omissão do agente; culpa do agente; relação de causalidade; dano experimentado pela vítima” (RODRIGUES, 2006, p.120)

Importante ressaltar as diferenças entre a obrigação e a responsabilidade. “Obrigação é sempre um dever jurídico originário e Responsabilidade é um dever jurídico sucessivo, conseqüência da violação da obrigação” (REGIS, 2007, p.215). Se alguém se compromete a prestar algum tipo de serviço profissional de qualquer natureza assume com o contratante uma obrigação que, dependendo do acordo, será de dar, fazer ou não fazer.

O Código Civil faz essa distinção entre a obrigação e a responsabilidade, no seu artigo 389º, “Não cumprida a obrigação (aqui se trata de obrigação originária), responde o

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devedor por perdas e danos [...]” (REGIS, 2007, p.211) - uma obrigação sucessiva que é a responsabilidade propriamente dita.

Os princípios do neminem laedere (não lesar ninguém) e do alterum nom laedere (não lesar outrem), nos dão a exata dimensão do sentido da responsabilidade. A ninguém será permitido lesar outra pessoa sem a conseqüência da imposição de sanção. No âmbito civil o dever de reparar assegura que o lesado tenha o seu patrimônio – moral e material – reconstituído ao status quo ante, mediante a restitutiu in integrum. (STOCO, 2007, p. 114).

A doutrina é unânime em afirmar, como não poderia deixar de ser, que não há responsabilidade sem prejuízo. O prejuízo causado pelo agente é o dano. Dano é, pois, elemento essencial e indispensável à responsabilidade do agente, seja essa obrigação originada de ato lícito, nas hipóteses expressamente previstas, seja de ato ilícito ou de inadimplemento contratual, independente, ainda, de se tratar de responsabilidade objetiva ou subjetiva.

Os pressupostos da responsabilidade, são: “a) aquele que infringe a norma; b) a vitima da quebra; c) o nexo causal entre o agente, o direito a uma reparação em pecúnia, sempre que decorrente da conduta (comissiva ou omissiva) de outrem.” (STOCO, 2004, p.129).

Ao contrário do que ocorre no Direito Penal, que nem sempre exige um resultado danoso para estabelecer a punibilidade do agente, no âmbito civil é a extensão ou o

quantum do dano que dá a dimensão da indenização.

Convém esclarecer que responsabilidade do cirurgião-dentista em todos os casos de responsabilidade civil obedece a quatro séries de exigências comuns:

a) dano ou um prejuízo para o paciente, que deve ser certo, podendo, entretanto ser material ou moral; b) e a relação de causalidade, laço ou relação direta de causa e efeito entre o fato gerador da responsabilidade e o dano são seus pressupostos indispensáveis; c) a força maior e a exclusiva culpa que a vitima tem sobre a ação de responsabilidade civil, precisamente porque suprimem esse laço de causa e efeito, o mesmo efeito preclusivo; d) as autorizações judiciárias e administrativas não constituem motivo de exoneração de responsabilidade. (AGUIAR DIAS, ap. STOCO, 2004, p. 134-135).

Podemos conceituar e exemplificar a culpa como sendo a conduta que não teve intenção, que não agiu de má-fé e sim, que houve imprudência, que não tomou os cuidados necessários. Ou houve negligência, que por falta de atenção e descuido cometeu um erro, ou por fim, por imperícia que sem a devida experiência e qualificação necessária propôs-se a praticar um ato que não era de seu total conhecimento.

O dolo seria a vontade do profissional em realizar uma conduta ilícita, ou seja, ele tem a consciência do seu ato, que está causando um dano.

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2. OBJETIVO

Pretende-se com essa pesquisa explorar os conceitos doutrinários e jurisprudenciais das relações de prestação de serviço pelos profissionais da odontologia

O Estudo da responsabilidade civil referente ás atividades do cirurgião-dentista mostra-se pertinente diante de um aumento peculiar no número de processos visando esse desiderato.

A finalidade do Direito é a ordem jurídica e com isso a garantia de que em qualquer situação poderá se verificar a proteção à pessoa e de seus bens, ressaltando-se que uma conduta ao violar um dever jurídico originário e causar prejuízo a outrem é fonte geradora de responsabilidade civil.

3. METODOLOGIA

O estudo foi realizado utilizando pesquisa bibliográfica, através de leitura de livros, artigos, periódicos, pesquisa em internet além da norma jurídica, tendo, se sustentado, em referências bibliográficas, já consagradas da área.

4. DESENVOLVIMENTO

As relações profissionais advindas do serviço de odontologia, geram inúmeras relações jurídicas relevantes, algumas de caráter prático como a prestação de serviço e outros de caráter, patrimonial como a responsabilidade civil do profissional que executa o trabalho proposto.

Sujeitos da Reparação Civil

Para o ajuizamento da ação reparatória o primeiro problema que se apresenta é o que diz respeito à legitimação ativa e passiva, ou seja, quem pode propô-la e contra quem deve ser ajuizada. A regra geral é que o direito de ação compete a quem tem o interesse legítimo à pretensão. No caso em pauta, temos a responsabilidade do cirurgião-dentista frente aos danos causados por negligência, imprudência ou imperícia, após a realização de procedimentos que resultam em dano ao seu cliente e que por isto lhe dá causa de indenização.

Logo no primeiro plano, coloca-se a vitima ou o paciente. O prejudicado pelo procedimento danoso tem o direito de ação. Sendo ele quem sofreu o dano (patrimonial ou moral) é o sujeito ativo da relação processual. Tem direito de pedir reparação, toda pessoa

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que demonstre um prejuízo e a sua injustiça. A vítima é a pessoa lesionada física, moral ou materialmente e não apenas quem sofreu algum prejuízo.

Segundo Professor Rui Stoco. “Réu será aquele que for apontado como o causador do dano.” (STOCO, 2004, p.129).

Isto porque a qualidade de sujeito passivo é indicada no artigo 186º do C.C.: réu, aqui o Cirurgião-dentista é todo aquele que, por omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar ou causar prejuízo a outrem. Já o artigo 245º da C.F./88, prevê legitimação especial em favor de herdeiros e dependentes carentes de pessoas vitimadas por crime doloso.

Responsabilidade Civil dos profissionais da Odontologia

O Código de Defesa do Consumidor dispõe no artigo 14º acerca dos fornecedores de serviços ou prestadores de serviços, que abrange um universo extenso e amplo. Nesse gênero incluem-se os profissionais liberais, que prestam serviços de forma autônoma, como os advogados, os médicos, os dentistas e tantos outros, ou até mesmo agrupados em sociedades, cooperativas e outras modalidades.

Como não se desconhece, tudo que se ligue ao consumo é regido pelo Código de Defesa do Consumidor. Portanto, a colocação de produtos no mercado ou a prestação de serviços regem-se por esse importante Estatuto. (STOCO, 2004, p.144).

Trás o §4º do artigo 14º do C.D.C., que: “a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa”. (LEI 8078/90).

Profissionais liberais como o médico, o cirurgião-dentista, de forma específica no artigo 1545

º

. O Antigo Código Civil Brasileiro tratava da responsabilidade civil dos profissionais, já o Novo Código Civil não fez o mesmo, e não se referiu especificamente a estes profissionais, mas faz referência a este tipo de responsabilidade nos artigos 948º, 949º e 950º do Código Civil.

O Professor Stoco, afirma que:

Vem tratar da lesão corporal ou outra ofensa a saúde e de defeito incapacitante, para estabelecer que nesses artigos são expressos para os casos de indenização devida por aquele que, no exercício da atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, cause morte ou lesões no paciente. Como se verifica, ao utilizar da expressão “paciente”. (STOCO, 2007, p. 144).

O autor deixou evidente que a extensão da responsabilidade constante no artigo 951º atinge apenas os profissionais da área da saúde. Portanto, previu a responsabilidade desses profissionais por via reflexa. Seja como for estabeleceu-se a responsabilidade desses profissionais mediante culpa, cabendo a vitima o ônus da prova.

Quanto ao cirurgião dentista assumirá junto ao seu paciente, geralmente uma obrigação de resultado, devido à característica da profissão por ter procedimentos

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específicos e de resultado previsível, contudo, pode eventualmente ser responsabilidade de meio, quando o procedimento a ser realizado no paciente não se possa prever o resultado de forma objetiva, ficando condicionada a resposta física e imunológica de cada indivíduo submetido ao tratamento em questão. Pode-se tomar como exemplo: “o tratamento realizado de reabilitação oral, envolvendo cirurgias de implante odontológico, onde o risco por menor que seja, existe de não ocorrer a ósseointegração do implante, por exemplo, e, portanto a perda do trabalho realizado”. (ANAIS, UFMG, 2005).

A prestação que o dentista assume, em situações convencionais de ofício (de menor complexidade, como obturação, limpeza, tratamento de canal) que correspondem aos serviços mais exigidos nos consultórios, é considerada como de resultado. Mas faz ressalva a “situação dos dentistas que assumem deveres para acidentados, aceitando a improvável missão de recuperar o maxilar e a arcada dentária destroçados em um acidente grave (traumatologia buco-maxilo-facial). Aqui a obrigação é apenas de meio, esclarecendo que em, tal hipótese, a técnica perde a simplicidade que caracteriza o serviço de uma mera extração de dente, exigindo do profissional uma diligência que a ciência não garante o êxito. (ZULIANE; AGUIAR DIAS, ap. STOCO, 2007, p. 330-332).

A obrigação de meio é aquela assumida pelo profissional onde este se dedica, se compromete a prestar o serviço buscando o máximo do seu empenho e dedicação, agindo com técnica, prudência, buscando atingir uma meta, mas sem uma obrigação do resultado.

Já na obrigação de resultado o profissional se obriga a chegar num resultado esperado pelo cliente, se compromete a fazer o desejado, não obtendo o prometido fica o profissional obrigado a indenizar o dano causado.

Por ser a área da odontologia, uma ciência específica fica mais fácil de determinar o que é obrigação de resultado em virtude das patologias das infecções dentárias que correspondem mais facilmente ao comprometimento de cura por parte do profissional. (AGUIAR DIAS, ap. STOCO, 2007, p.332)

A obrigação de resultado se evidencia mais facilmente nos casos de trabalhos estéticos oferecidos pelos profissionais dentistas por conta do tipo de serviço a que se tenha contratado, embora, vários procedimentos pareçam correr um risco iminente o cirurgião-dentista de posse das técnicas aprimoradas poderá oferecer como resultado: Prótese, correções ortodônticas com uso de aparelhos fixos e móveis, restaurações, obturação de canal, extração de dentes (exodontia), limpeza, branqueamento, facetas estéticas.

Nos casos em que ad exemplum – promessa de correção da arcada dentária mediante aparelho ortodôntico ou de implante, não há necessidade de o paciente comprovar o atuar culposo do profissional, pois presume-se a sua culpa e inverte-se o ônus da prova. Nesta hipótese, caberá ao profissional fazer prova de que não agiu, com culpa (negligencia, imprudência ou imperícia) ou que exsurgiu causa excludente da sua responsabilidade , sob pena de ter de reparar .(STOCO, 2007, p.332)

Temos uma vasta lista de referências de julgados a respeito deste tipo de responsabilidade, como no caso em que, o ressarcimento deve ser feito apenas para corresponder às despesas enfrentadas pelo paciente (RJTJSP 135/152), ou seja, no

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pagamento a outro profissional do valor cobrado para refazer os serviços insatisfatórios prestados (TJSP-JTJ-LEX 159/250).

Não se pode afastar, contudo, a possibilidade de obtenção por dano moral, ainda que de forma cumulada com os danos materiais, quando a conduta do profissional tiver o condão de incutir e fazer repercutir no paciente temores, angustias, vergonha, sofrimento e deformidade ultrajantes. (STOCO, 2007, p.332).

Cabe ao profissional da odontologia levar a seu cliente uma escolha objetiva do tratamento e assegurar-lhe apenas aquilo que lhe cabe como certeza da realização, para assim evitar os processos por danos causados por resultados não concretizados.

Devemos verificar a culpa do dentista por descumprir o prometido analisando os seguintes fatos: primeiro o que foi estabelecido algo por escrito ou verbal dado como garantia ao paciente; segundo a culpa do profissional pela não realização do proposto tratamento e terceiro a interferência direta do paciente ao não seguir as recomendações do profissional para obter o resultado final desejado que pode ocorrer, por exemplo, nos casos em que o paciente se submete a procedimento cirúrgico e recomendado a não fumar o faz causando problemas de cicatrização e alterando de forma evidente o resultado esperado.

O Novo Código Civil traz em seu artigo 313º, “O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa” (REGIS, 2007, p.179), justifica-se aqui que o Devedor só se desonera da obrigação após entregar ao credor exatamente o objeto que prometeu dar, ou realizar o ato a que se comprometeu, ou se abster da prestação , nas obrigações de não fazer. Do contrário, a obrigação converter-se-á em perdas e danos. Fica, portanto o dentista compromissado com seu paciente de entregar o que foi prometido no orçamento apresentado ao paciente e assinado por ambos e exame inicial e só vai se desobrigar se o paciente não cumprir com sua parte.

O artigo 35º, I do Código de Defesa do Consumidor, que prevê: “O consumidor pode exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade” (CDC - Lei 8078/90).

A grande maioria da doutrina brasileira do Direito Civil afirma que:

Em regra, a obrigação do cirurgião-dentista é de resultado, baseado no argumento de que os procedimentos odontológicos são mais regulares e as terapêuticas mais definidas, o que possibilita ao profissional comprometer-se com o resultado. (RODRIGUES, 2006, p.212) e (DINIZ, 2006, p.330)

Ainda que dependendo da especialidade, o resultado final não poderá ser prometido devido aos riscos que estão implícitos no procedimento a se realizar, como por exemplo, as cirurgias de correção da ATM, por interferir diretamente na estrutura óssea do paciente pode não corresponder exatamente ao esperado, ou no caso dos tratamentos ortodônticos que pode variar do previsto inicialmente pelo cirurgião-dentista, pela própria estrutura óssea do paciente e neste caso não depende do profissional.

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Para isso cabe ao cirurgião-dentista que para diminuir sua taxa de risco profissional, assim como evitar ações por parte de seus pacientes, amparando-se de vários cuidados e atenções, observando rigorosamente as regras da boa atuação profissional e estabelecendo sempre um relacionamento harmônico e de amizade com seus pacientes, registrar todos os procedimentos realizados na ficha clínica e com assinatura do paciente a cada mudança de planejamento para garantir sua tranqüilidade no consultório.

5. RESULTADOS

Após a realização da pesquisa apresenta-se como resultado, as tendências observadas a respeito das indenizações referentes à responsabilidade civil na odontologia.

Necessário uma análise sistemática em nossos tribunais sobre a situação do cirurgião-dentista quanto à necessidade de ressarcir, ou não, um paciente de eventual dano que tenha sofrido em conseqüência da execução do trabalho desse profissional.

O paciente tem o ônus de comprovar que o cirurgião-dentista, pelo seu proceder ou pela técnica empregada, teve responsabilidade aos danos sofridos, pois a odontologia é uma atividade que, na sua relação contratual de prestação de serviços odontológicos aos pacientes, tem, como regra geral, por objeto destes contratos obrigações de meios e não de resultado. (SOUZA, 2006, p. 420).

Porém, nem todas as especialidades odontológicas são tidas como obrigação de meio, muitas vezes exigindo-se o resultado do contrato nesse tipo de serviço.

Segundo o Conselho Federal de Odontologia, são consideradas especialidades odontológicas de meio: Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais, Endodontia, Odontopediatria, Periodontia, Ortodontia, Prótese Buco-Maxilo-Facial, Estomatologia, Disfunção Têmporo-Mandibular e Dor Oro-Facial, Odontologia do Trabalho, Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, Odontogeriatria e Ortopedia Funcional dos Maxilares. As especialidades de resultado são: Dentística Restauradora, Odontologia em Saúde Coletiva, Odontologia Legal, Patologia Bucal, e Radiologia. (CFO, 2003)

Havendo culpa no agir do cirurgião-dentista este pode vir a ser responsabilizado, judicialmente, pelos danos sofridos por um paciente. Estes danos podem ser tanto materiais como morais.

O dano material será afastado frente à ausência de demonstração, nos autos, através de documentação idônea, da existência do mesmo. Os danos materiais necessitam da comprovação, pois ditos danos não se sujeitam a presunções nem se caracterizam por mera hipótese, pois resultam da efetiva lesão aos bens ou interesses patrimoniais.

O dano moral, por sua vez pode, até, ficar caracterizado, tão só pela presença de um dano estético ou pela existência de um abalo psicológico sofrido.

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Uma prova técnica processualmente não efetivada, ou seja, não restar comprovada a culpa do profissional, exsurge desta situação nos autos a inexistência de um dever para o cirurgião-dentista de indenizar o paciente por eventual dano que este, tenha sofrido em seu tratamento.

A prova pericial do erro do profissional em odontologia é mandatória, face ao caráter especializado da avaliação de um suposto dano necessária para o deslinde da lide. (SOUZA, 2006, p.420).

Já as provas sendo consistentes, inclusive a pericial, em uma ação judicial, nasce para o cirurgião-dentista o dever de ressarcir o dano que tiver causado no todo ou em parte.

Se o dever de indenizar é decorrente do inadimplemento do profissional, havendo um vínculo obrigacional com o paciente, essa responsabilidade é chamada de contratual.

Já, se o dever for decorrente de uma culpa do agente, ocasionando uma lesão com intenção a vítima, e este não advir de um contrato e sim da violação de um dever jurídico imposto pela lei, o ilícito é considerado como extracontratual.

Responsabilidade civil decorrente de aplicação de técnicas não aprovadas na odontologia. (STOCO, 2004, p.497), gerou uma série de julgados a esse respeito, transcreve-se:

Indenização. responsabilidade civil. Ato Ilícito. Danos decorrentes de cirurgia ortodôntica. Imprudência pelo uso de técnicas cirúrgicas não aprovadas pela Odontologia e imperícia em virtude do comprometimento de enervações e da estrutura óssea. Lesão no trigêmeo e estético. Ação procedente. Recurso não provido. Voto vencido. (TJSP – 1ªC. – Ap. – Rel. Álvaro Lazzarini – j.19/04/1988 – RJTJSP 121/90).

Transcreve-se ainda, nesse sentido:

Indenização. responsabilidade civil. Dentista. Tratamento dentário inadequado que resultou na opção do autor pela exodontia (extração do dente) com outro profissional. Inocorrência de responsabilidade do réu pela perda da capacidade mastigatória do autor. Ressarcimento apenas das despesas por este enfrentadas. Recurso provido para esse fim. (TJSP – 6ª C. – Ap. – Rel. Melo Junior – j. 19/11/1991 – RJTJSP 135/152). Indenização. Responsabilidade Civil: (TJSP – 5ª C. – Ap. 138.521-4/4 – Rel. Rodrigues de Carvalho – j. 05.06.2003 – RT 818/199), (TJSP – 7ª C. Dir. Privado – Ap. 37.639-4- Rel. Oswaldo Breviglieri – j. 25.11.1998 – JTJ-LEX 215/104).

Adaptação de prótese dentária: Indenização. TJSP – 6ª C. Dir. Privado – Ap. Rel. Munhoz Soares 0 j. 27.06.1996 – JTJ-LEX 182/94). Implante dentário: Indenização. (TJSP – 7ª C. Dir. Privado – Ap. 53.428-4 – Rel. Rebouças de Carvalho – j. 29.07.1998 0 RJTJSP 208/134).

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A evolução histórica, a respeito da responsabilidade civil do profissional da odontologia, tem demonstrado que este possui uma consciência social positiva, de forma a evitar situações que comprometam sua atuação e sua clientela.

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A conscientização global assegura direitos bem definidos para toda a sociedade, bem como deveres para os profissionais que detêm o conhecimento científico. Em virtude disso, surge o aumento de conflitos entre profissionais de todas as áreas com seus clientes, assim como de dentistas para com seus pacientes.

Buscou-se apresentar os aspectos relacionados à natureza legal e ética a que o cirurgião-dentista é submetido, diariamente, em sua clínica, mencionando aspectos pilares da responsabilidade civil do ordenamento jurídico atual, como também a postura ética.

O profissional da odontologia deve ter obrigatoriamente o conhecimento técnico e científico para assumir a realização de determinados procedimentos em seus clientes dentro dos limites éticos que a profissão lhe impõe, isso tudo para evitar transtornos que leve seu cliente a busca de alguma guarida do judiciário. No entanto o cirurgião-dentista deverá orientar o seu cliente sobre suas responsabilidade para o êxito no tratamento, caso contrário o que se propôs não se realizará.

Com uma sociedade consciente de seus direitos e deveres a respeito das questões sobre responsabilidade civil da odontologia, acredita-se na diminuição da busca por soluções jurídicas, propiciando um melhor convívio social e profissional em todos os escalões.

REFERÊNCIAS

C.F.O. - Conselho Federal de Odontologia. Código de Ética Odontológico, Resolução CFO-179 de 19 de dezembro de 1991, alterada pelo Regulamento em 20 de maio de 2003. Brasília, DF.

REGIS, M. L. D. Novo Código Civil Comentado. 4. ed. São Paulo. 2007.

RODRIGUES, C. K. et al. Responsabilidade civil do ortodontista. Revista Dental Press de Ortodontia e Ortopedia Facial. v. 11, n. 2. Print ISSN 1415-5419. Maringá, mar/abr. 2006.

STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil – Doutrina e Jurisprudência. 7.ed. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo. 2007.

CRETELLA Jr., José. Direito Administrativo Para Concursos Públicos. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo. 2000.

CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade. 5.ed. Editora Malheiros. São Paulo. 2004..

C.C.B. Código Civil Brasileiro – de 2002. Editora Saraiva. 2008.

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil - Responsabilidade Civil – Volume 4 – Editora Saraiva. São Paulo. 2006.

STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil – Doutrina e Jurisprudência. 6.ed. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo. 2004.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – 2.v. - Teoria Geral das Obirgações. 21.ed. São Paulo: Saraira,2006.

C.D.C. Código de Defesa do Consumidor. Lei 8078. de 11-09-1990.

SOUZA, N. T. C. Responsabilidade Civil e Penal do Médico – 2.ed. 2006 - LZN Editora - Campinas – SP. Site: lzn.com.br.p.420. Disponível em: <http://www.portaldodireito.com.br>. Acesso em: 25 jun. 2008, 14:13h.

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GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil IV.v. – Editora Saraiva – São Paulo – 2007.

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