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EDUCAÇÃO MÉDICA VOLTADA PARA A HUMANIZAÇÃO E ATENÇÃO BÁSICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA

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EDUCAÇÃO MÉDICA VOLTADA PARA A HUMANIZAÇÃO E

ATENÇÃO BÁSICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Marianna Ramalho de Sousa1; Géssica Silva Cazagrande2; Heloá Santos Faria da Silva3; Paulo Roberto

Hernandes Júnior4; Márcia Célia Galinski Kumschilies5; Rossy Moreira Bastos Junior6; Fátima

Alexandra da Costa Azevedo7

1 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina.

mariannarsousa@hotmail.com

2 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina.

gessica_cazao@hotmail.com

3 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina.

heloa67@gmail.com

4 Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Acadêmico de Medicina.

paulorh.med@gmail.com

5 Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Guarujá, São Paulo, Brasil. Coordenadora do Núcleo de Pesquisas

Fernando Lee. mgalinski@unaerpl.br

6 Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Macaé, Rio de Janeiro, Brasil. Docente/Preceptor de Medicina.

dr.rossymbastos@uol.com.br

7 Universitat de Barcelona. Espanha. Médica especialista em medicina Familiar e Comunitária no centro de saúde

Llibertat de Reus. fxc-azevedo@hotmail.com

RESUMO

A humanização da assistência em saúde é um tema muito discutido na atualidade, uma vez que a educação médica está muitas vezes condicionada ainda ao modelo biomédico e hospitalocêntrico que privilegia a doença em detrimento do doente e de sua visão como um ser que deve ter um atendimento integral. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e com o modelo adotado pós instituição do SUS, cabe às instituições de ensino uma formação médica generalista e humanizada baseada na integralidade, universalidade e equidade. O objetivo deste trabalho é revisar e sumarizar a importância da formação e da prática médica humanizada e como a APS contribui para essa meta. Realizou-se uma revisão de literatura não sistematizada com base em 18 artigos pesquisados nos bancos de dados da SciELO e PubMed, nos idiomas português e inglês, através dos termos: “HUMANIZAÇÃO”, “PRÁTICA MÉDICA”, “ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE” e pôde-se concluir que, sendo a atenção primária a principal porta de entrada do sistema, constitui-se em um campo ideal para que humanização e a longitudinalidade do atendimento sejam desenvolvidas e mantidas durante toda graduação, formando, dessa maneira um egresso mais humano e resolutivo e propiciando uma prática em saúde que desenvolva de fato os princípios do SUS.

PALAVRAS-CHAVE: Humanização; educação médica; atenção primária em saúde ÁREA DE CONHECIMENTO: Saúde.

1 INTRODUÇÃO

O século XXI demonstrou a fragilidade dos sistemas de saúde em lidar com a tripla carga de doenças infecto-parasitárias, crônicas não transmissíveis e causas externas. Expondo, nesse contexto, os desafios da formação médica frente às principais necessidades de saúde da população e um processo histórico de elaboração de currículos profissionais, muitas vezes

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descontextualizados, fragmentados e focalizados na técnica (FERREIRA, M., 2017; FERREIRA, M. J. M. et al., 2019)

Ademais, deve-se analisar que a educação médica tem sido condicionada por diferentes fatores: inovação e mudanças tecnológicas; globalização e explosão da informação; internacionalização; aceleração da investigação biomédica; crescente incorporação da tecnologia na prática clínica; novas referências nos sistemas de saúde; transições epidemiológicas; novos perfis dos estudantes (“millenial generation”). (FERREIRA, M., 2017) De acordo com as necessidades de saúde da população, tais fatores ainda devem estar ainda em consonância com uma prática médica humanizada e centrada na pessoa. (MEDEIROS; BATISTA, 2016)

A humanização da assistência em saúde é um tema recorrente e muito discutido na atualidade. Humanizar não se resume a prestação de atendimento em local confortável, agradável e com profissionais educados, mas que proporcione resolutividade nas ações prestadas. (SILVA; SILVEIRA, 2011; MEDEIROS; BATISTA, 2016) Entretanto, o envolvimento do profissional com a doença e com os procedimentos técnicos necessários para a sua resolução leva a sua priorização em detrimento do ser humano que apresenta o problema, acarretando a despersonalização do paciente. (SILVA; SILVEIRA, 2011)

Dessa maneira, o processo de humanização do atendimento em saúde envolve a qualificação dos profissionais, que começa ainda nas universidades através de uma formação adequada com base em fundamentos teóricos humanistas e de atividades práticas que permitam a interação entre educadores e educandos de modo a desenvolver comportamentos, habilidades e atitudes humanistas. (SOUZA et al., 2008; SILVA; SILVEIRA, 2011)

Nesse sentido, sendo a Atenção Primária à Saúde (APS) a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), que tem a humanização como um direcionamento importante e essencial para o ideal funcionamento do sistema, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de 2014 foram fundamentais para o destaque da APS e da necessidade de uma formação médica mais generalista. Dessa forma, é essencial a prática na atenção básica de modo que os futuros médicos aprendam a longitudinalmente, com conhecimento das diversas condições, alta resolutividade e que coordenem as atividades nos diversos níveis de atenção à saúde. (REZENDE et al., 2019)

2 OBJETIVO

O objetivo deste artigo é revisar e sumarizar a importância da formação médica humanizada e como a prática na APS pode contribuir para a humanização na assistência à saúde.

3 MÉTODO

Realizou-se uma revisão de literatura não sistematizada com base em 18 artigos pesquisados nos bancos de dados da SciELO e PubMed, nos idiomas português e inglês, através dos termos: “HUMANIZAÇÃO”, “PRÁTICA MÉDICA”, “ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE”, sendo relacionados à educação médica assim como esta pode influenciar na formação humanitária do profissional de saúde e seu papel na APS.

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4.1 EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO MÉDICA NO BRASIL

No Brasil, com a reforma universitária de 1968 (resultante do acordo MEC/Usaid de 1967 e da Lei 5.540/68), as universidades brasileiras passaram a adotar oficialmente o modelo americano, conhecido como biomédico flexneriano. Tal modelo enfatiza a profissionalização precoce, com tendência à especialização e subespecialização, sendo o hospital o principal espaço de prática. Atribui-se a aplicação desse modelo de formação no Brasil a partir do Relatório Flexner, publicado nos Estados Unidos na década de 1910. Esse relatório possibilitou a organização e padronização do funcionamento das escolas médicas; no entanto, aniquilou outras formas de atenção à saúde, como a medicina alternativa. (VERAS; FEITOSA, 2019)

Esta reforma repercutiu numa formação clínica predominantemente hospitalar, em uma atenção médica individual com baixa ênfase em aspectos preventivos e de promoção da saúde. (Bizelli, S.; Bizelli, J., 2016) O modelo norte-americano de educação médica de Abraham Flexner, com incentivo à pesquisa e a importância do ensino hospitalar, e a exaltação à docência com dedicação exclusiva (com delimitação e aprofundamento em áreas de estudo, culminando nas especialidades), o ensino médico nacional trabalha com um modelo essencialmente individualista, biologicista, hospitalocêntrico e com ênfase nas especializações. (MACHADO; WUO; HEINZLE, 2018)

O modelo flexneriano, pautado em disciplinas isoladas e na consequente fragmentação do aprendizado, encontra-se aplicado na maioria dos cursos de Medicina do País. Os alunos recebem os materiais preparados pelos professores e fixam os estudos em assuntos já pré-programados, ficando a discussão e o processo de aprendizagem com pouca flexibilidade. Sob este esquema metodológico são formados profissionais tecnicamente hábeis e com amplo conhecimento dos processos patológicos, sem que haja, entretanto, a transferência adequada desses aprendizados para a realidade social em que serão inseridos na prática médica. (MACHADO; WUO; HEINZLE, 2018)

Em paralelo a esse modelo educacional, a partir da década de 1970 houve uma proliferação de conferências e seminários para repensar o cuidado à saúde da população, entre eles o Relatório Lalonde em 1974, Declaração de Alma-Ata em 1978 e a Conferência de Ottawa em 1986. O primeiro documento questiona o papel exclusivo do médico no tratamento de doenças, evidenciando o seu alto custo e pouca eficácia, principalmente em problemas crônicos. (VERAS; FEITOSA, 2012)

Já declaração de Alma-Ata é um importante marco político no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS) e estabelece como objetivo “saúde para todos nos anos 2000”, ao propor, na prática, um pacote de serviços básicos à saúde e a incorporação do direito à universalidade e equidade no acesso ao sistema de saúde. Além disso, descreve a atenção básica como um nível de atenção que presta cuidados essenciais de saúde, baseados em métodos e tecnologias práticas, cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade. (VERAS; FEITOSA, 2012; REZENDE et al., 2019)

A Conferência de Ottawa formulou oficialmente a proposta da promoção da saúde atrelada a uma concepção mais complexa do processo saúde-doença no qual há uma mudança no conceito de saúde que deixa de ser ausência de doença (conceito que seguia o modelo biomédico e se fundamentava na patogenia e na terapêutica, sendo caracterizado como “individualista, curativo, centrado na figura do médico, fragmentado, especialista e

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hospitalocêntrico”) para tornar-se qualidade de vida, explicitando, juntamente com outros eventos internacionais subsequentes, a necessidade de profissionais da saúde voltados à atenção básica. Assim, a partir de uma concepção ampla do processo saúde-doença, a promoção de saúde passou a ser tratada como um conjunto de conhecimentos teóricos, políticos ou saberes tradicionais que visam enfrentar os problemas de saúde da população. (VERAS; FEITOSA, 2012; MACHADO; WUO; HEINZLE, 2018)

Tais mudanças só foram implementadas de fato no Brasil após a promulgação da nova Constituição, em 1988, e a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), que tem no Artigo 196 os dizeres “saúde é direito do cidadão e dever do Estado”. (VERAS; FEITOSA, 2012; MACHADO; WUO; HEINZLE, 2018)

Para que este conceito de saúde atingisse toda a população brasileira, o Ministério da Saúde instituiu, em 1994, o Programa Saúde da Família (PSF), promovendo mudanças na organização dos serviços de saúde prestados e possibilitando a implementação do SUS. Oferecer à população o acesso à saúde implicou, diretamente, o preparo e condicionamento dos profissionais médicos. A partir de então, era preciso que esse profissional tivesse, já na sua graduação, um olhar voltado para a realidade social. (VERAS; FEITOSA, 2012; MACHADO; WUO; HEINZLE, 2018; REZENDE et al., 2019)

Segundo esta perspectiva de mudança na formação acadêmica, a partir dos anos 2000, os ministérios da Saúde e da Educação formularam políticas destinadas a promover mudanças na formação dos profissionais de saúde. A principal delas, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina (DCN), instituídas pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação em novembro de 2001, determinam que as características pedagógicas dos cursos de Medicina aparecem em consonância com as demandas e expectativas universais acerca da formação médica. (MACHADO; WUO; HEINZLE, 2018)

O Artigo 9° destas DCN aborda o projeto pedagógico e a relação docente/discente da seguinte maneira: “O Curso de Graduação em Medicina deve ter um projeto pedagógico, construído coletivamente, centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e mediador do processo ensino-aprendizagem. Este projeto pedagógico deverá buscar a formação integral e adequada do estudante por meio de uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência”. (MACHADO; WUO; HEINZLE, 2018)

As novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o Curso de Graduação em Medicina publicadas pelo Ministério da Educação, em 2014, convidam os cursos para repensarem seus projetos pedagógicos e, consequentemente, sua estrutura curricular. As DCN propõem uma formação na qual o paciente/sujeito seja contemplado nas suas múltiplas dimensões e discute a necessidade, na formação do estudante de medicina, de se incorporar o estudo dos princípios, das diretrizes e das políticas do Sistema de Saúde do Brasil. (PEIXOTO et al., 2017)

As DCN propõem formar médicos com competências técnicas, habilidades de comunicação, compreensão do paciente ou do grupo nas suas diversidades e singularidades, considerando os aspectos humanísticos, prioritariamente nos cenários do Sistema Único de Saúde (SUS). Esse novo médico deve compreender o processo saúde-doença-cuidado a partir de determinantes sociais, culturais, históricos, biológicos, comportamentais, psicológicos, ecológicos e éticos: atuando nos níveis individual e coletivo; prestando atenção em toda a linha

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da vida, da gestação ao envelhecimento; buscando sempre a integralidade da atenção à saúde com ações de promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação; e compreendendo a Atenção Básica à Saúde (ABS) como eixo norteador do cuidado. (PEIXOTO et al., 2017; TAROCO; TSUJI; HIGA, 2017; MACHADO; WUO; HEINZLE, 2018; REZENDE et al., 2019)

4.2 HUMANIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO MÉDICA

A humanização se configura como uma aposta ética, estética e política. Ética, pois implica que usuários, gestores e trabalhadores estejam comprometidos com a melhoria do cuidado, estética porque permite um processo criativo e sensível da produção da saúde por sujeitos autônomos e protagonistas de um processo coletivo. Político refere-se à organização social e institucional, onde se espera que haja solidariedade dos vínculos estabelecidos, dos direitos dos usuários e da participação coletiva do processo de gestão. (BARBOSA et al., 2013)

As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada compondo um sistema único, que possui como preceitos a descentralização, o atendimento integral e a participação da comunidade. Nesse contexto, a educação sobre humanização para futuros médicos e profissionais da saúde se fortifica ainda mais, uma vez que os seus preceitos básicos são essenciais para acompanhar e tratar pacientes que utilizam o Sistema Único de Saúde e as facilidades privadas. (SILVA et al., 2019)

O ensino torna-se um aliado nas mudanças que devem ocorrer em dois movimentos distintos: o primeiro, com os profissionais de saúde onde a formação acontece via educação permanente que tem como ponto de partida o cotidiano do trabalho. E, no segundo momento, parte da ruptura do ensino de graduação em saúde pautado em procedimentos técnicos e de evolução dos quadros clínicos para um território onde a "educação em ato" ocorre através de práticas cuidadoras, com inovação e centrada no diálogo com o usuário e equipe, buscando criar os nexos necessários entre saúde, educação e trabalho. (BARBOSA et al., 2013)

A medicina é muitas vezes descrita como ciência e arte de curar. Consequentemente, o papel do médico nessa arte médica é de passar conhecimento e confiança ao paciente doente. Fruto desse dever do médico, este deve saber como tratar um paciente com afeto, sensibilizando-se com a história do paciente e até criando laços e votos de confiança na relação médico-paciente para que o paciente se sinta seguro. Há diversos relatos em que médicos saudáveis se tornaram pacientes e, nessa condição, observaram a falta de personalidade e individualidade no atendimento médico-paciente, configurando, muitas vezes, a despersonalização do paciente. (SILVA et al., 2019)

Nesse contexto, é importante destacar que um dos principais atributos da humanização é a empatia. (AMORE FILHO; DIAS; TOLEDO, 2018) Esta, por sua vez, é definida como a capacidade de perceber a situação, perspectiva e sentimentos do doente e comunicar-lhe essa compreensão. (BAPTISTA, 2012)

Alguns estudos sugerem que a empatia do estudante de Medicina decresce com o avanço dos anos da graduação, afetando a humanização da assistência em saúde. (AMORE FILHO; DIAS; TOLEDO, 2018) Esse declínio da afeição pode ser associado a aspectos relativos à pressão e estresse mais frequentes com o avanço do curso, período em que os alunos são sobrecarregados com atividades e responsabilidades, o que pode contribuir para perda da

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qualidade de vida e ocasionar o esgotamento emocional ou burnout. (PARO, 2014; AMORE FILHO; DIAS; TOLEDO, 2018)

Tal fato é reforçado em pesquisas como uma realizada entre 2011 e 2012 com 1.350 alunos de 22 escolas de Medicina brasileiras, no qual todos eles revelaram a presença de burnout em todas as etapas do curso e maior exaustão emocional e despersonalização nos últimos anos do curso. Além disso, há outras questões que dificultam o desenvolvimento da empatia como a falta de atenção a esse aspecto nos cursos de graduação, a interações negativas com pares e/ou professores e às condições adversas de trabalho, além do desconhecimento de que algumas práticas culturais dos pacientes, visto que o Brasil é um país com imensa diversidade cultural. (PARO, 2014; AMORE FILHO; DIAS; TOLEDO, 2018)

Para a preservação da afeição entre os estudantes de medicina e médicos incluem intervenções educativas, atitudes e hábitos individuais, condições ambientais e culturais. Entre as intervenções educativas favoráveis à preservação da empatia, é citada a inclusão no currículo acadêmico de espaços para discussões acerca das reações, percepções e sentimentos dos alunos no atendimento a pacientes. (AMORE FILHO; DIAS; TOLEDO, 2018; SILVA et al., 2019) Ademais, existem atitudes que podem ser ensinadas desde o início da graduação médica para

que o caráter humano do atendimentoseja preservado e ampliado como: a humildade, por meio

da qual o profissional entende que pode aprender com o paciente e sua doença; a curiosidade, que permite entender melhor o paciente; o padrão de comportamento, que visa aplicar ao paciente o mesmo tratamento que gostaria de receber; a importância para o paciente da assistência integral; importância para o médico em aprofundar a relação com o paciente mediante o conhecimento do contexto em que este vive. (AMORE FILHO; DIAS; TOLEDO, 2018)

Com o intuito de ampliar a humanização da assistência em saúde, o programa humaniza SUS surgiu como uma política transversal ao SUS que objetiva a efetivação dos seus princípios no cotidiano das práticas de atenção e gestão, qualificando a Saúde Pública no Brasil. Essa política tem como foco as necessidades dos cidadãos, a produção de saúde e o processo de trabalho em saúde, enaltecendo os trabalhadores e as relações sociais no trabalho. A valorização dos sujeitos implica na produção de saúde dos usuários, trabalhadores e gestores. Esse projeto

amplia o grau de contato e comunicação de pessoas e grupos, tirando-os do isolamento e das

relações de poder hierarquizadas (transversalidade). Além disso, o usuário e a sua família passam a conhecer e corresponsabilizar-se pelo cuidado de si no tratamento (indissociabilidade entre atenção e gestão). No entanto, as mudanças acontecem com o reconhecimento das diversas faces do papel de cada um. Um SUS humanizado acolhe cada pessoa como legítima cidadã de direitos e valoriza e incentiva sua atuação na produção de saúde. (SILVA et al., 2019)

4.3 ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE COMO FATOR HUMANIZADOR DA PRÁTICA MÉDICA

A APS é o primeiro nível de atenção à saúde e apresenta valores como a universalidade, equidade, integralidade, participação e controle social; princípios como respostas às necessidades de saúde, intersetorialidade, orientação para qualidade e justiça social; e atributos específicos como primeiro contato, longitudinalidade, integralidade, coordenação, orientação familiar e comunitária, enfoque na pessoa e competência cultural. (REZENDE et al., 2019) Desse modo, é capaz de colaborar de fato com uma formação médica humanística.

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A APS, enquanto estratégia adotada para reorientação do SUS e sua consequente expansão, impulsionou para a maior necessidade de formar profissionais aptos para atuar no trabalho em equipe multiprofissional na busca da integralidade do cuidado. Assim sendo, há a exigência de uma preparação em maior escala de futuros médicos capacitados a atuar em equipe multidisciplinar, com uma atuação clínica integral, resolutiva e sensível com relação à diversidade cultural da população. (VIEIRA et al., 2018; REZENDE et al., 2019)

As práticas humanizadas no campo da saúde, por sua natureza dialógica, não podem ser ensinadas ou aprendidas tecnicamente, mas construídas dentro de um contexto cultural, ético e estético, sustentadas nas relações entre indivíduos e coletivos. O propósito de formar médicos humanistas implica na ampliação de conhecimentos, procedimentos e atitudes que extrapolam as tecnologias inerentes ao campo biomédico e admitam as tecnologias leves apoiadas nas ciências humanas e na arte como indispensáveis nesse contexto. (BOAS et al., 2017) Sendo a APS, um ambiente favorável para a implementação de práticas e estudos que permitam a uma visão integral do ser humano, sendo capaz de favorecer o desenvolvimento e manutenção da

humanização.

Nesse sentido, é essencial que haja a garantia da inserção no cenário da APS desde os períodos iniciais da graduação em medicina e que, além disso, essas atividades práticas sejam orientadas por docentes e preceptores qualificados e experientes no âmbito da atenção primária é essencial para a construção de uma APS de qualidade, garantindo assim o desenvolvimento de competências adequadas e promovendo a articulação entre a teoria e a prática. Dessa maneira, a inserção dos alunos na comunidade, o vínculo e o cuidado centrado na pessoa, na família e na comunidade são alguns dos pressupostos necessários para uma adequada formação generalista e voltada para atenção básica em saúde. (VIEIRA et al., 2018)

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, evidenciou-se que a educação médica sofreu uma mudança de foco pós instituição do SUS no Brasil, havendo a valorização do processo de humanização do atendimento em saúde e de um currículo que propicie uma formação mais generalista e resolutiva baseada na integralidade, equidade e universalidade.

Nesse contexto, a APS se configura como um instrumento essencial para o

desenvolvimento e fixação da afeição do cuidado por permitir ao estudante e ao médico um

aprendizado longitudinal alicerçado em uma visão ampliada do ser com tecnologias leves, com conhecimento das diversas condições impostas no decorrer das suas atividades, alta resolutividade e que são capazes de coordenar os serviços nos diversos níveis de atenção à saúde.

6 REFERÊNCIAS

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