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O uso da internet como ferramenta de transparência na Administração Pública

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Academic year: 2021

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O uso da internet como ferramenta de transparência na

Administração Pública

Gisele Augusta André (Universidade Estadual de Ponta Grossa) 434.129.608-61 giseleaugusta@outlook.com Kelen Koupak (Universidade Estadual de Ponta Grossa) 087.794.509-89 kelenkoupak@gmail.com Milena Louise Colaço (Universidade Estadual de Ponta Grossa) 078.518.669-79 milenalcolaco@hotmail.com

Everton Koupak (Universidade Estadual de Ponta Grossa) 085.878.609-50 evertonkoupak@yahoo.com.br Sarah Laís Pauluk (Universidade Estadual de Ponta Grossa) 087.106.069-80 sarah_pauluk@hotmail.com

Resumo

O presente artigo trata da utilização da tecnologia para a promoção da transparência na Administração Pública, como corolário do princípio da publicidade e do direito ao acesso a informação, ambos previstos constitucionalmente. Parte da concepção de que em um regime democrático, a visibilidade da gestão pública é fundamental para fomentar a participação popular e o controle sobre os atos dos gestores públicos. No contexto do desenvolvimento da tecnologia, em especial a internet, como instrumento facilitador da transparência, o estudo destaca dispositivos legais que prevêem a divulgação na rede mundial de computadores de dados relacionados à gerência pública, principalmente no que tange a aplicação dos recursos públicos. Registra que para a internet revelar seu potencial no âmbito da transparência pública, é necessário democratizar o seu uso, bem como promover uma cultura de acesso e prestar informações em linguagem inteligível a todos os cidadãos, para que estes possam exercer um controle efetivo sobre a administração da coisa pública.

Palavras- chave: Administração Pública, Transparência, Acesso à Informação, Internet, Controle Social.

The use of the internet as transparency tool in Public Administration

Abstract

The present article is about the use of tecnology to promote transparency in public administration, as a result of the principle of publicity and the right to information access, both constitutionally expressed. Part of the conception is that in a democraticy, the visibility of public management is fundamental to promote popular participation and the control over the acts of the public managers. In the technology development context, especially the internet, as an instrument to facilitate transparency, the study emphasizes legal devices that foresse the divulgation, on the world wide web, of data related with public management, especially the use of public resources. The article shows that, when it comes about the application of public resources, is necessary the democratic use, as well as promote an access culture and provide informations in a language that all citizens can understand, so they can take an effetive control over the administration of public affairs.

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key-words: Public Administration, Transparency, Access To Information, Internet, Social Control.

1 Introdução

É notório que nos últimos anos a Administração Pública tem voltado seu olhar burocrático para a transparência de seus atos. Com isso vêm sendo desenvolvidos diversos mecanismos de controle social, entendido como a possibilidade dos cidadãos de acompanhar e fiscalizar as ações da gestão pública. Essas iniciativas surgiram como consequência de muitas reivindicações dos cidadãos brasileiros que anseiam cada vez mais por melhores resultados do poder público e também por oportunidades de participar dos assuntos que influenciam diretamente em suas vidas, inclusive como processo concretizador da democracia que pressupõe a ampla e constante participação popular.

A transparência também tem sido facilitada devido às novas tecnologias de informação, a exemplo da internet, que possibilita a publicidade de diversos dados, tornando a gestão pública mais aberta e acessível à população. Nesse novo contexto Justen Filho (2004, p. 99) expõe que: [...] a adesão da Administração Pública a internet não configura mera liberalidade dos governantes, mas deriva da aplicação dos princípios jurídicos fundamentais. Há o dever de utilizar-se a internet para dar ao conhecimento público os atos praticados.

Desse modo, o propósito do artigo é abordar o tema da transparência pública, que está estreitamente ligada ao princípio da publicidade e ao direito de acesso à informação no âmbito do atual Estado Democrático de Direito. Para tanto, apresenta-se a importância da internet na promoção da visibilidade pública, através da legislação que prevê a utilização desse meio informacional para a divulgação de dados relativos à Administração. Além disso, aponta-se os impasses que precisam ser superados para que todos os cidadãos possam apropiar-se das informações disponibilzadas na internet.

Justifica-se o tema escolhido, pelo fato de se verificar no cenário brasileiro graves e constantes casos de corrupção na gestão pública, tendo como consequências o desvio de recursos públicos, a falta de credibilidade nas instituições, o descontentamento dos cidadãos com o desempenho do regime e ainda, confere uma visão distorcida sobre a capacidade do nosso país no cenário nacional e internacional, dentre muitos outros reflexos negativos. Dessa forma é necessário recorrer às novas tecnologias, para dar mais publicidade aos atos administrativos, e propiciar o controle por parte de sociedade sobre os mesmos.

Para alcançar o objetivo almejado foi utilizado o método indutivo, por meio de consulta a documentação indireta como doutrina, artigos científicos e a legislação nacional. Sem qualquer pretensão de exaurir a investigação sobre o tema, visou-se apenas melhor compreendê- lo devido a sua considerável utilidade pública.

2 A informação no Estado Democrático de Direito

O contexto do atual Estado Democrático de Direito em que todo poder emana do povo conforme estabelece a Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1º, pressupõe a participação popular na Administração Pública, sendo fenômeno indispensável para a concretização da democracia como governo do povo, que não deve ser chamado a participar somente no momento do voto, pois, pelo contrário, devem ser dadas oportunidades aos cidadãos de acompanhar todos os processos que dizem respeito a gerência de assuntos relacionados aos interesses da coletividade e ao bem comum.

Contudo o exercício desse poder está condicionado ao acesso dos cidadãos à informação pública, uma vez que é impossível participar e exercer qualquer controle sobre os atos da

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administração se não detiver informações sobre os mesmos. Disso resulta que a gestão pública deve ser transparente, permitindo aos indivíduos o efetivo conhecimento das decisões que lhes afetam.

A participação popular na gestão pública, também entendida como controle social, é o exercício de acompanhar, fiscalizar, e avaliar os gastos púbicos, e demais decisões tomadas pelos dirigentes no governo, podendo ser realizado pelo cidadão individualmente, ou por meio de organizações civis. Porém, para que haja controle social, necessariamente, os cidadãos devem ter acesso ás informações, constituindo-se em um mecanismo de ação conjunta, de um lado o Estado disponibiliza seus dados e do outro a sociedade, consciente do seu papel, os busca e os transforma em informações úteis (PAIVA, 2004, p. 37). Em suma, o controle social se resume em um exercício de cidadania.

Ao abordar essa temática Mendel acrescenta que:

A democracia também implica a prestação de contas e boa governança. O público tem o direito de perquirir os atos de seus líderes e de participar de um debate sobre tais atos [...] Uma das formas mais eficazes de atacar a má governança é por meio do debate aberto e bem informado (2009, p. 5) (grifo nosso).

Paulatinamente, dentro desse contexto democrático o acesso à informação foi considerado um direito universal acordado e declarado por diversos países. No Brasil tal direito está previsto no artigo 5°, inciso XXXIII da Constituição Federal, ao estabelecer que:

Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. (BRASIL, 1988) Dessa maneira, entende-se que os dados da Administração pública são tidos como bens públicos da sociedade, tornando a transparência o pressuposto da democracia. Ademais, em seu artigo 37, caput, a Constituição de 1988 estabeleceu as diretrizes fundamentais da administração púbica, de modo que só considera válida a conduta compatível com os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Tais princípios basilares devem ser observados por todo o sistema federativo (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), composto pelos seus entes estatais, assim como pelas autarquias, sociedades de economia mista, empresas públicas e fundações públicas. Tanto a Administração Direta, responsável pelo desempenho das atividades administrativas de forma centralizada quanto Administração Indireta, responsável por exercer a função administrativa descentralizada, devem cumprir os deveres da melhor maneira possível, a fim de evitar prejuízos para a Administração.

Nesse artigo dá-se o especial destaque ao princípio da publicidade, visto sua estreita relação com a transparência pública – tida como ferramenta primordial para a participação popular. A regra da publicidade tem como fundamento a mais ampla divulgação dos atos públicos para os cidadãos, possibilitando-lhes controlar a legitimidade da conduta dos agentes estatais e o grau de eficiência das ações que iram refletir diretamente em seu cotidiano, não se limitando a simples divulgação oficial dos dados públicos. (CARVALHO FILHO, 2013, p.25)

Para Meirelles (2005, p. 89):

Publicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus efeitos externos. Daí por que as leis, atos e contratos administrativos que produzem conseqüências jurídicas fora dos órgãos que os emitem exigem publicidade para adquirirem validade universal, isto é, perante as partes e terceiros.

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O autor ainda ressalta que:

[...] todo ato administrativo deve ser publicado, porque pública é a Administração que o realiza só se admitindo sigilo nos casos de segurança nacional, investigação policial ou interesse superior da Administração a ser preservado em processo previamente declarado sigiloso nos termos da lei [...] Partindo da indispensabilidade de uma conduta sustentada na ética e probidade pelos agentes públicos que exercem toda e qualquer função pública, através da transparência também é possível realizar a responsabilização dos administradores públicos na prestação de contas – accountability - evitando fraudes, desperdícios e prejuízos ao erário público. “A regra é universal: quem gere dinheiro público ou administra bens ou interesses da comunidade deve contas ao órgão competente para a fiscalização”. (MEIRELLES, 2005, p. 95). Dessa maneira, o cidadão pode controlar o exercício de poder concedido aos seus representantes, realizando o seu papel de cidadão consciente de seus direitos e deveres.

Dada à relevância, a partir da disposição constitucional, outras regulamentações referentes ao direito de acesso à informação na Administração Pública foram sendo desenvolvidas, juntamente com a adoção de novos intrumentos de transparência, contribuindo para tornar a gestão cada vez mais visível e aberta ao monitoramento do público.

3 O emprego da internet na transparência administrativa brasileira

A área da informação foi aprimorada por diversos mecanismos ao longo do tempo, sendo que no século XX, o computador e a internet foram as invenções que mais contribuíram para tanto. Com relação a esta última, Vasconcelos (2003, p. 51) expõe ser “[...] a internet um espaço de intensificação dos fluxos informacionais [...] assumindo uma importância cada vez maior como fator de produção de conhecimento”.

A internet, como moderna tecnologia de informação e comunicação, apresenta como principal benefício no âmbito da transparência pública, a divulgação de maior quantidade de dados para um número maior de pessoas, aproximando assim os administradores dos administrados, fazendo com que estes últimos possam participar ativamente da gerência dos recursos públicos, fiscalizando se eles foram corretamente utilizados. Mendel (2009, p. 4) destaca que: “Entre outras coisas, a tecnologia da informação melhorou, em termos gerais, a capacidade do cidadão comum de controlar a corrupção, de cobrar dos líderes e de contribuir para os processos decisórios [...]”.

Nos últimos anos, as mudanças na legislação aliadas ao desenvolvimento tecnológico vêm primando pela garantia da transparência na Administração Pública, de forma a permitir que os indivíduos tenham acesso a todas as informações que tangem aos assuntos públicos para exercer o acompanhamento e fiscalização sobre eles, inclusive como concretização do princípio da democracia que pressupõe a participação popular e conforme salienta Bobbio (2006, p. 98) o governo democrático é o “[...] governo do poder público em público.”

Nesse sentido, importante medida adotada foi a Lei Complementar nº. 101 de 2000, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, tendo como objetivo a transparência e o controle dos gastos públicos. Interessa destacar que referida lei prevê a divulgação dos dados da Administração Pública em meios eletrônicos, como pode ser observado em seu artigo 48:

São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos.

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Outro marco da transparência aliada à internet refere-se ao pregão eletrônico, tratando-se de uma modalidade de licitação que tem como objetivo tornar os processos de compra mais céleres e econômicos para o Estado, além de possibilitar o acompanhamento pela sociedade, visto que, em nível federal, o processo licitatório fica disponível no sítio Comprasnet. Encontra previsão legal no § 1º do artigo 2º da Lei 10.520/ 2002, e no Decreto nº 5.450/2005 que regulamenta e torna obrigatório a utilização do pregão na forma eletrônica, sendo que:

É realizado em sessão pública, utilizando tecnologia da informação que promove a comunicação pela internet. É um procedimento que permite aos licitantes, estando aberta a etapa competitiva, encaminhar lances exclusivamente por meio do sistema eletrônico. Durante o transcurso da sessão pública, os licitantes são informados, em tempo real, do valor do menor lance oferecido até o momento, podendo oferecer outro de menor valor, recuperando a vantagem sobre os demais licitantes. (BRASIL, 2006, p.5).

Desse modo, o governo tem a possibilidade de comprar o bem do licitante que ofertar o menor preço, representando economia nos gastos públicos. Assim, o principal benefício do pregão eletrônico consiste na transparência de seus atos, através da internet, tornando mais efetivo o controle pelos cidadãos como forma de reduzir práticas corruptas envolvendo as licitações. (OLIVEIRA, 2008, p.76).

Já em 2004 foi lançado o Portal da Transparência do Governo Federal, por iniciativa da Controladoria-Geral da União (CGU), tratando-se de um sítio na internet que tem por objetivo permitir ao cidadão o acompanhamento e a fiscalização da aplicação dos recursos públicos. No portal podem ser encontradas informações sobre transferências de recursos, gastos diretos, receitas, convênios realizados pelo Governo Federal, lista de empresas sancionadas pelos órgãos e entidades da Administração Pública, informações sobre a situação funcional dos servidores e agentes públicos do Poder Executivo Federal, relação dos órgãos e entidades do Governo Federal que possuem Páginas de Transparência Pública próprias, informações sobre participação e controle social, entre outras.

Além disso, visando dar prosseguimento as ações do governo voltadas para a transparência e o controle social, foi publicado o Decreto nº 5.482/2005, que institui as Páginas de Transparência Pública, como exposto em seu artigo 2º:

Os órgãos e entidades da administração pública federal, direta e indireta, deverão manter em seus respectivos sítios eletrônicos, na Rede Mundial de Computadores - Internet, página denominada Transparência Pública, para divulgação, de dados e informações relativas à sua execução orçamentária e financeira, compreendendo, entre outras, matérias relativas a licitações, contratos e convênios.

Ainda como exigência do Decreto, publicou-se a Portaria Interministerial de 16 de março de 2006, que veio a disciplinar as Páginas de Transparência, estabelecendo seu conteúdo mínimo. Portanto, o desenvolvimento do Portal da Transparência e das Páginas da Transparência, que possuem como veículo a internet, apresentam contribuições significativas para uma gestão pública mais visível, na qual todos podem fiscalizar a aplicação dos recursos públicos, inibindo irregularidades. Nesse sentido o Portal da Transparência (BRASIL, 2015) afirma que:

[...] a transparência é o melhor antídoto contra corrupção, dado que ela é mais um mecanismo indutor de que os gestores públicos ajam com responsabilidade e permite que a sociedade, com informações, colabore com o controle das ações de seus governantes, no intuito de checar se os recursos públicos estão sendo usados como deveriam.

Em 2009 foi editada a Lei Complementar nº 131, conhecida como Lei da Transparência, que acrescentou dispositivos a Lei de Responsabilidade Fiscal. A principal mudança trazida pela lei é a determinação de que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem

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disponibilizar em meio eletrônico e em tempo real, informações detalhadas sobre a execução financeira e orçamentária. Assim, o artigo 48-A da citada Lei Complementar e que foi incluído na LRF, disciplina as informações que os entes federados deverão divulgar na internet em tempo real:

I – quanto à despesa: todos os atos praticados pelas unidades gestoras no decorrer da execução da despesa, no momento de sua realização, com a disponibilização mínima dos dados referentes ao número do correspondente processo, ao bem fornecido ou ao serviço prestado, à pessoa física ou jurídica beneficiária do pagamento e, quando for o caso, ao procedimento licitatório realizado;

II – quanto à receita: o lançamento e o recebimento de toda a receita das unidades gestoras, inclusive referente a recursos extraordinários.

Finalmente, no dia 18 de novembro 2011 foi publicada a Lei 12.527, chamada Lei de Acesso a Informação (LAI), que visa o amplo acesso a informação e o fomento a uma cultura de transparência na Administração Pública, declarando ser a publicidade a regra e o sigilo a exceção.

A LAI dispõe no artigo 8º que é dever dos órgãos e entidades públicas divulgar em local de fácil acesso as informações de interesse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas, independentemente de solicitações. Entre as obrigações mínimas de divulgação por parte dos órgãos públicos incluem-se as informações sobre suas competências, estrutura organizacional, endereços, telefones, horários de atendimento, repasses, transferência de recursos e despesas, licitações e contratos, dados de seus programas, projetos, ações e obras de forma a permitir o acompanhamento, além das respostas às perguntas mais frequentes da sociedade.

Mas o que importa salientar é que conforme o § 2º do artigo 8º, a divulgação dessas informações é obrigatória em sítios oficiais da internet, para os municípios com mais de 10 mil habitantes, devendo permitir o acesso á informação de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão.

No âmbito do Governo Federal, a Lei 12.527 foi regulamentada pelo Decreto nº 7.724/2012, que entre outras disposições disciplinou sobre os Serviços de Informação ao Cidadão (SICs), criados pela LAI. Em relação às funções do SIC, destaca-se o registro dos pedidos de acesso no Sistema Eletrônico de Serviço de Informação ao Cidadão, o e- SIC, criado pelo Governo Federal. De acordo com a Controladoria Geral da União (2014, p. 3-4), o sistema funciona na internet e centraliza os pedidos e recursos que forem dirigidos ao Poder Executivo Federal, suas respectivas entidades vinculadas e empresas estatais. Permite a qualquer pessoa física ou jurídica encaminhar pedidos de acesso à informação e ainda acompanhar os trâmites e prazos, entrar com recursos, apresentar reclamações e consultar as respostas recebidas.

Percebe-se, portanto que esse procedimento de acesso à informação como forma de permitir a aproximação dos indivíduos aos assuntos públicos, está aliado ao desenvolvimento das tecnologias, permitindo mais eficiência e maiores possibilidades de controle da gestão pública por parte da sociedade.

4Os impasses para a efetivação do controle social

Embora a utilização da internet proporcione o aprimoramento da transparência na Administração Pública e amplie a capacidade dos cidadãos de exercer o controle sobre as ações da mesma, destaca-se que ainda não é significativa a participação popular através dessa ferramenta, em virtude de situações deficitárias que inviabilizam ou dificultam esse importante processo.

Convém apontar como primeira deficiência, o fato de que uma parcela da população brasileira ainda não está integrada as novas tecnologias, não possuindo, portanto, acesso a internet de

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forma que para esta potencializar-se como ferramenta de transparência pública e acesso a informação, é necessário primeiramente disseminar o seu uso. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2013, o número de usuários de internet no Brasil chegou a 85,6 milhões, o equivalente a 49,4% da população. Embora esse número seje expressivo, constata-se que metade dos brasileiros ainda não tem acesso a rede mundial de computadores, não podendo assim, usufruir dos benefícios que dela advêm.

Aliado a isso, soma-se o fato de muitos indivíduos não possuírem conhecimento acerca da existência de mecanismos na internet, inclusive amparados pela legislação, que possibilitam promover o controle das ações da Administração Pública. Possuir ciência desses meios é o primeiro requisito para haver a possibilidade de uma fiscalização sobre a mesma. Desse modo, seria conveniente que os órgãos públicos promovessem campanhas voltadas à divulgação dos instrumentos disponíveis bem como, o fornecimento de informações básicas acerca dos mesmos, pois como salienta Conceição (2010, p. 13), o controle social sobre a Administração Pública, necessita de certo discernimento. Também, no sentido de conscientizar a população sobre a gama de medidas que existem para assegurar seu direito à informação, Merton (2009, p. 35) afirma que os meios de comunicação podem desempenhar um papel de relevância, especialmente, as mídias eletrônicas.

Embora, a Administração Pública tenha sofrido avanços quanto à transparência de suas ações, o controle social ainda não é expressivo (CONCEIÇÃO, 2010, p. 30). Martins e Figueiras (2011, p. 108) buscando explicar a baixa participação dos brasileiros nesse processo asseveram que:

A falência do modelo participativo no Brasil se dá em parte também por culpa da falência do próprio Estado. A sensação de impunidade e a ineficiência dos agentes estatais são, sem dúvida, um fator de desestimulo à participação popular. Não obstante, a impunidade resultante da deficiência do Estado não justifica a marginalização da participação popular [...]. Pelo contrário, deve significar um aumento de esforços [...].

Outro aspecto que pode justificar a baixa participação dos brasileiros, corresponde ao modo como as informações são fornecidas ao público, geralmente caracterizadas por forte rigor técnico e, portanto, compreensíveis apenas à reduzida parcela da população.

Apesar de ter havido avanços, como a divulgação das contas públicas via internet, avanços são necessários.

[...]

Uma ideia para servir de inspiração vem do termo e- democracym, já utilizado em diversos países, que permite a consulta dinâmica das informações, sem necessidade de conhecimento técnico para uso. Deve ser ressaltada a importância de uma fonte amplamente acessível, tanto em relação ao meio quanto à linguagem nesta empregada, para, desta forma, a população se sentir mais estimulada e confortável ao buscar dados sobre o controle [da Administração Pública]. (MARTINS; FIGUEIRAS, 2011, p. 109) (destaques no original).

Assim sendo, percebe-se que indiferente às contribuições da tecnologia para o acesso e transparência das informações, impasses ainda existem no sentido de estimular os brasileiros a fiscalizar a gestão pública. Porém, com a resolução dessas dificuldades espera-se ter uma Administração que volte com maior frequência seus olhares burocráticos para a realização do bem comum.

5 Considerações finais

Esse artigo teve a pretensão de melhor compreender o tema transparência na Administração Pública através da internet, tendo como aporte a legislação que garante o direito à informação,

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a publicidade dos atos administrativos e a obrigatoriedade desses serem divulgados na rede mundial de computadores. Tal abordagem deu-se sobre o viés democrático em que a informação é considerada imprescindível para a participação popular e o exercício da cidadania.

Constatou-se que a democracia somente se realiza, se os indivíduos tiverem possibilidades concretas de participar das decisões que influem em suas vidas e, portanto, de monitorar as ações dos gestores públicos. Para tanto, é necessário primeiramente o conhecimento de como os administradores estão gerenciando a coisa pública.

Nesse sentido a internet tem se mostrado como importante instrumento de publicidade dos atos da Administração, tendo sido acolhida pela legislação brasileira que cada vez mais a coloca como ferramenta indispensável de transparência, principalmente em relação à aplicação dos recursos públicos, uma vez que estes pertencem a toda a sociedade e, consequentemente, devem ser fiscalizados para que sejam utilizados em prol da mesma. O principal motivo da aderência à internet, refere-se à divulgação de maior quantidade de informações em tempo real, permitindo o acompanhamento e o imediato controle sobre a atuação administrativa, inibindo, assim a corrupção e as condutas desviadas do intersse público.

Entretanto, não basta apenas a disponibilização de informações através desse meio, mas é preciso antes de tudo democratizar o seu uso de modo que todos tenham acesso. Além disso, as informações devem ser autênticas, tempestivas, completas e inteligíveis a todos, possibilitando que qualquer cidadão, após a leitura, entenda os dados, visto que a compreensão limitada ou nula, não resulta num controle social efetivo, nem alcança os demais benefícios. A interação dos administrados com a matéria publicada constitui-se a fase principal de todo o processo de transparência, sendo que é a partir deste momento que os resultados esperados se iniciam.

Referências

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Referências

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