• Nenhum resultado encontrado

REJANE HAUCH PINTO TRISTONI

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "REJANE HAUCH PINTO TRISTONI"

Copied!
196
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ - CAMPUS DE CASCAVEL CENTRO DE EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM LETRAS – NÍVEL DE MESTRADO E DOUTORADO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM LINGUAGEM E SOCIEDADE

REJANE HAUCH PINTO TRISTONI

IDENTIDADES DE IMIGRANTES BRASILEIROS E DE PARAGUAIOS EM UMA

CIDADE PARAGUAIA

CASCAVEL/PR 2016

(2)

REJANE HAUCH PINTO TRISTONI

IDENTIDADES DE IMIGRANTES BRASILEIROS E DE PARAGUAIOS EM UMA

CIDADE PARAGUAIA

Texto apresentado à banca de defesa de Tese do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) para obtenção do título de Doutor em Letras, junto ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu – Doutorado em Letras.

Área de concentração: Linguagem e Sociedade Linha de pesquisa: Linguagem: Práticas linguísticas, culturais e de ensino

Orientadora: Profa. Dra. Maria Elena Pires Santos

CASCAVEL/PR 2016

(3)
(4)

REJANE HAUCH PINTO TRISTONI

IDENTIDADES DE IMIGRANTES BRASILEIROS E DE PARAGUAIOS EM UMA CIDADE PARAGUAIA

Esta tese foi julgada adequada para a obtenção do Título de Doutora em Letras e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras – Nível de Doutorado, área de Concentração em Linguagem e Sociedade, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.

COMISSÃO EXAMINADORA

________________________________________ Profa. Dra. Maria Elena Pires Santos

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) Orientadora

________________________________________ Profa. Dra. Ivani Rodrigues Silva

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Membro Efetivo (convidado)

________________________________________ Profa. Dra. Valeska Gracisoso Carlos Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)

Membro Efetivo (convidado)

_____________________________________ Profa. Dra Alexandre Ferrari

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) Membro Efetivo (da instituição)

________________________________________ Profa. Dra. Greice da Silva Castela

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) Membro Efetivo (da instituição)

(5)

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, meu refúgio seguro, meu amparo, minha fortaleza, meu tudo!!! “Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8, 28)

À minha orientadora, professora doutora Maria Elena Pires Santos, pela paciência, ajuda, confiança. Pela contribuição fundamental na realização deste trabalho. Por ser um exemplo de profissionalismo e de ética.

Aos professores da Banca de Defesa, prof. Dr. Alexandre Ferrari, profa. Dra. Greice da Silva Castela, Profa. Dra. Ivani Rodrigues Silva, profa. Dra. Valeska Gracisoso Carlos, pelas orientações sábias e amigas, pelos exemplos de conhecimentos, dedicação, responsabilidade e firmeza.

Aos professores do Programa, pelos conhecimentos compartilhados.

Aos colegas da Unioeste, pela compreensão no período em que estive afastada do trabalho, podendo, assim, dedicar-me a esta tese.

À professora Florencia Fernández Zarza, por compartilhar seus sábios conhecimentos, e, sobretudo, por ajudar na tradução e na compreensão da língua e cultura guarani.

Às pessoas que permitiram e autorizaram serem chamadas de participantes ou sujeitos da pesquisa, que, nesta tese, são protegidas pelo anonimato, mas que, em minha memória, jamais poderei deixá-las assim, pois elas representam esta pesquisa e muito mais do que isso.

Aos meus amigos, pelo apoio, carinho e atenção em todos os momentos, Alessandra Regina Ribeiro Honório, Amélia Garcia, Benilde Socreppa Schultz, Susana Aparecida Ferreira, Vilma Barreira e, de modo muito carinhoso, ao, então, padre Latifo Fonseca, que, depois de um longo período conosco no Brasil, voltou a Moçambique, seu país, deixando muita saudade. Agradeço a esse grande e querido amigo pelo incentivo e, principalmente, por compartilhar seus conhecimentos. “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro. Nada é comparável a um amigo fiel, o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé” (Eclesiástico 6:14-17).

(6)

Não poderia jamais deixar de agradecer e dedicar este trabalho, com todo o meu amor e carinho, às pessoas que mais amo nesta vida, que verdadeiramente torceram por mim, para que esta pesquisa tivesse resultados positivos: meu amado esposo Jerry Silvio Tristoni, que soube acolher meus anseios e também as angústias, cuidou de nossos filhos, compreendeu minhas ausências e, sobretudo, não perdeu o bom humor. À Nathália, ao João Matheus e à Maria Eduarda, meus mais preciosos tesouros, pelo apoio e a compreensão nos momentos em que estive ausente para a realização de minha pesquisa. Aos meus irmãos, e, principalmente, aos meus pais, Lourdes e João Hauch Pinto, pelos bons exemplos, pois “O filho de si mesmo não pode fazer coisa alguma; ele só faz o que vê fazer o pai; e tudo o que o pai faz, o faz também semelhantemente o filho” (João, 5:19). Agradeço e dedico este trabalho à minha família, meu amparo e meu refúgio nas horas mais difíceis. Meu marido e meus filhos que, verdadeiramente, torceram por mim: amo todos vocês!

(7)

TRISTONI, Rejane Hauch Pinto. Identidades de Imigrantes Brasileiros e de Paraguaios em uma Cidade Paraguaia. 2016. 192 f. Tese (Doutorado em Letras) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel, 2016.

RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo averiguar como são construídas e/ou negociadas, nas práticas discursivas, as identidades de seus participantes, bem como entender quais representações são construídas sobre a diversidade linguística no contexto de uma Cidade Paraguaia. Para alcançar o objetivo proposto, foram elaboradas e respondidas as seguintes perguntas: a) Como paraguaios e imigrantes brasileiros negociam suas identidades?; b) Quais representações são construídas, neste contexto, pelos olhares recíprocos?; c) Como é representada a pluralidade linguística e cultural, no contexto escolar e em seu entorno social, por paraguaios e por imigrantes brasileiros? Trata-se de um estudo etnográfico qualitativo/interpretativista que se insere na área da Linguística Aplicada, uma vez que a LA propõe, numa perspectiva inter/trans/indisciplinar, um rompimento com as fronteiras e com os limites disciplinares, consolidando, assim, o diálogo entre as várias áreas do conhecimento, dentre elas, a Antropologia, a Sociologia e as Ciências Sociais (PENNYCOOK; 1998; MOITA LOPES, 1998, 2002, 2003, 2008; SIGNORINI, 1998; CESAR e CAVALCANTI, 2007; PIRES-SANTOS, 2004). Para a geração de registros, considerei os princípios da pesquisa etnográfica qualitativa/interpretativista de investigação (DENZIN e LINCOLN, 2006; CHRISTIANS, 2006; BORTONI-RICARDO, 2008; FLICK 2009; SILVERMAN, 2009). Esta pesquisa pauta-se, ainda, em BAKHTIN; VOLOCHINOV (1992); CUCHE (2002); ELIAS e SCOTSON (2000); LARAIA (2005); HALL (2005); SILVA (2009); CANCLINI (2011), entre outras referências. Por outro lado, a geração de registros para as análises fundamenta-se em gravações em áudio, observações, notas de campo e entrevistas. Em resposta às perguntas de pesquisa, constata-se que: a) diante das várias identidades sociais, há uma identidade pertinente para cada situação. Neste processo, o que determina o uso das identidades são as práticas discursivas e isso ocorre por meio da negociação e pelo posicionamento dos participantes, fazendo com que as identidades sociais sejam fluidas, contraditórias e fragmentadas; b) As identidades de paraguaios e de imigrantes brasileiros são construídas socialmente, no decorrer do tempo, a partir do outro, na interação, por meio de suas diferenças. Além disso, identidades, diferenças, representações e relações de poder estão associadas e são estreitamente dependentes; c) a língua exerce um importante papel na constituição das identidades sociais, sendo a linguagem multifacetada, heterogênea resultado de um processo de hibridação que acaba gerando conflitos.

Palavras-chave: Identidades. Representações. Diferenças. Pluralidade linguística e cultural. Cidade Paraguaia.

(8)

TRISTONI, Rejane Hauch Pinto. Identidades de Imigrantes Brasileiros e de Paraguaios em uma Cidade Paraguaia. 2016. 192 f. Tese (Doutorado em Letras) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel, 2016.

RESUMEN

Esta investigación tiene como objetivo averiguar cómo se construyen y/o se negocian, en las prácticas discursivas, las identidades de los participantes de esta investigación, así como entender cuáles representaciones se construyen sobre la diversidad lingüística en el contexto de una Ciudad Paraguaya. Para lograr el objetivo propuesto, han sido elaboradas y contestadas a las siguientes preguntas de investigación: a) ¿Cómo paraguayos e inmigrantes negocian sus identidades?; b) ¿Cuáles representaciones se construyen, en este contexto, por las miradas recíprocas; c) ¿Cómo se representa la pluralidad lingüística y cultural, en el contexto de la escuela y en su entorno social, por paraguayos y por inmigrantes brasileños? Se trata de un estudio etnográfico cualitativo / interpretativista que se identifica en el área de la Lingüística Aplicada, ya que la LA propone, dentro de una perspectiva inter/trans/indisciplinar, una ruptura con las fronteras y con los límites disciplinares, consolidando, el diálogo entre las diversas áreas del conocimiento, entre ellas, Antropología, Sociología y Ciencias Sociales (PENNYCOOK, 1998; MOITA LOPES, 1998, 2002, 2003, 2008; SIGNORINI, 1998; CESAR e CAVALCANTI, 2007; PIRES-SANTOS, 2004). Para la generación de registros fue considerado los principios de la investigación etnográfica cualitativa/ interpretativa de investigación (DENZIN e LINCOLN, 2006; CHRISTIANS, 2006; BORTONI-RICARDO, 2008; FLICK 2009; SILVERMAN, 2009). Esta investigación se orienta también en BAKHTIN; VOLOCHINOV (1992); ELIAS e SCOTSON (2000); CUCHE (2002); LARAIA (2005); HALL (2005);SILVA (2009); CANCLINI (2011), entre otros. La generación de registros para el análisis se basa en grabaciones en audio, observaciones, notas de campo y entrevistas. En respuesta a las preguntas de investigación, este estudio mostró que: a) frente a las diversas identidades sociales, hay identidad pertinente para cada situación y que, en este proceso, lo que determina el uso de cada una de las identidades son las prácticas discursivas y eso se produce a través de la negociación y del posicionamiento de los participantes, haciendo que las identidades sociales sean fluidas, contradictorias y fragmentadas; b) las identidades de paraguayos y de inmigrantes brasileños se construyen socialmente, en el transcurso de tiempo, desde el otro, en la interacción, por medio de sus diferencias. Asimismo, identidades, diferencias, representaciones y relaciones de poder están asociadas y son estrechamente dependientes; c) la lengua ejerce un papel importante en la formación de las identidades sociales y que el lenguaje multifacetado, heterogéneo es el resultado de un proceso de hibridación que sigue generando conflictos.

Palabras clave: Identidades. Representaciones. Diferencias. Pluralidad lingüística y cultural. Ciudad Paraguaya.

(9)

TRISTONI, Rejane Hauch Pinto. Identidades de Imigrantes Brasileiros e de Paraguaios em uma Cidade Paraguaia. 2016. 192 f. Tese (Doutorado em Letras) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel, 2016.

ŇEMOMBYKY

Ko jetypeka niko oguereko jehupytyvoirȃramo oikuaa ňeporandu rupi mba’éichapa ikatu oňemopu’ȃ térȃ oňeguahȇ peteĩ ňe’ȇme pe ňe’ȇ jepurúpe ha mba’éichapa ikatu jajapo chugui rekotee ko, upéicha avei pe ňemopu’ȃ umi ňe’ȇtakuaaty ojehechahápe tetȃ paraguaigua. upéicharõ ikatu haĝua ojehupyty ko porandu rupi ojehekáva upevarȃ oňembosako’i ko’ȃ porandu .a) Mba’éichapa paraguaigua ha ambue pytagua oúva oiko upépe oguahȇ peteȋ ňe’ȇme ohechaukaua moõguápa hikuái? b)Mba’éichagua tembiapópa ojapo oňondive oňemoȋ haĝua peteȋ ňe’ȇme c) Mba’éichapa omotenonde pe opaihagua ňe’ȇtakuaaty ha tembiapo mbo’ehaópe, paraguayo ha pytagua brasileňo- kuéra. Péa peteȋ ňemoarandu umi tapicha tavaygua ohechaukaséva tembiapo aňetéva rupi Ňe’ȇ’etakuaaty Purúva rupi há’ekuéra ohechaukase hyepýguio ha okáguio peteȋ jeikovai oňogueitȋháme umi tetȃ ňomongeta jave ha avei opaichagua ňemoarandu rupi, umía apytépe Avakuaaty, Tembikuaaty, ha Tembikuaaty avano’õ ( PENNYCOOK, 1998; MOITA LOPES, 1998, 2002, 2003, 2008; SIGNORINI, 1998, CESAR e CAVALCANTI, 2007, PIRES-Ňaradúramo katuetei ojehechakuaava’erȃ omyesakȃvo jeporeka tavaygua oňeikumbývo marandu imba’éva (DENZIN e LINCOLN, 2006; CHRSTIANS, 2006 BORTONI- RICARDO, 2008 FLICK 2009; SILVERMAN, 2009) Ko jeporeka oho avei BAKHTIN; LARAIA (2005);VOLOCHINOV ( 1992); ELIAS e SCOTSON (2000); CUCHE ( 2011), ambue apytépe. Oňemboguapy haĝua umi oňehesa’ŷijótava ojepuru ko’ȃ mba’e umi oňehendu, ňomongeta ombohováivo porandu ojejapóva ohechauka ko’ȃmba’e a) umi ňemomba’etee tembikuaapy, oȋha heta mba’e ojejapóva opa árape há avei jeroguatápe, umíva jahechakuaa jaipurúvo ňe’ȇha umíva ikatu ojejapo oňemoȋvo peteȋ ňe’ȇme b) paraguai ha pytaguápe omopeteȋva ha’e avei omopu’ȃ umi ombojoavýa chupekuéra ijapytépe ojehechakuaa ňemboyke tapichakuérape c) pe ňe’ȇ niko tuichaiterei mba’e oňembosakoívo tembikuaaty há umi ňe’ȇ ojepurúva heta hendáicha pe oguatakuévo umi ňembojoja ojepurúva ha oňemyatyrõva ára pukukue jave oguerúva opaichagua ňorȃirõ ojoapytépe.

(10)

LISTA DE IMAGENS

Imagem 01: Ensaio para o desfile da independência do Paraguai: paraguaios e filhos de

imigrantes nascidos no Paraguai... 87

Imagem 02: Festa tradicional gauchesca na Cidade Paraguaia ... 89

Imagem 03: Torcedores da Cidade Paraguaia durante os jogos da Copa do Mundo de 2014 ... 91

Imagem 04: Visita de um grupo de imigrantes brasileiros ao estádio do Grêmio Futebol Clube em Porto Alegre ... 92

Imagem 05: Grupo de paraguaios tomando tererê ... 127

Imagem 06: Grupo de paraguaios – lazer/diversão ... 127

Imagem 07: Grupo de paraguaios – encontro mães: chá de bebê... 127

Imagem 08: Grupo de imigrantes e filhos de imigrantes – lazer/diversão ... 128

Imagem 09: Grupo de imigrantes e filhos de imigrantes – lazer/diversão ... 128

Imagem 10: Cartão de aniversário – escrito por filho de imigrante ... 141

Imagem 11: Imagem publicitária – loja de móveis da Cidade Paraguaia ... 143

(11)

LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Paraguai: distribuição por departamentos – população total, total de estrangeiros e de brasileiros nos anos de 1992 e de 2002...66

Tabela 02: Paraguai: população de estrangeiros por sexo e área urbana. Período: de 1972 a 2002...67

Tabela 03: Brasil: Unidades da Federação de destino de Imigrantes (a) e de Retornados do Paraguai (b) durante os anos 1986-1991 e 1995-2000...71

(12)

LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Visita à Escuela Primera e à Escuela Segunda ... 51 Quadro 02: Lugares visitados ... 52 Quadro 03: Datas das visitas ... 52 Quadro 04: Paraguai: distribuição total de brasileiros no Paraguai durante os anos de 1972 a 2002 ... 66

(13)

LISTA DE GRÁFICO

Gráfico 01: Paraguai: distribuição relativa de população estrangeira por nacionalidade, segundo área urbana-rural no ano de 2002 ... 67

(14)

LISTA DE REGISTROS (DIÁRIO DE CAMPO/ENTREVISTA)

Registro 01: Diário de campo, em 02/05/2014 ... 47

Registro 02: Entrevista com Lucas, em 15/11/2014 ... 77

Registro 03: Diário de campo, em 02/05/2014 ... 87

Registro 04: Entrevista com Lauri, em 02/05/2014... 88

Registro 05: Entrevista com Isabel, em 15/11/2014 ... 88

Registro 06: Diário de campo, em 03/05/2014 ... 89

Registro 07: Entrevista com João, em 09/05/2014 ... 92

Registro 08: Diário de campo, em 03/05/2014 ... 93

Registro 09: Diário de campo, em 04/05/2014 ... 96

Registro 10: Diário de campo, em 05/05/2014 ... 97

Registro 11: Diário de campo, 08/05/2014 ... 97

Registro 12: Entrevista com João, em 09/05/2014 ... 98

Registro 13: Entrevista com Diego em 08/05/2014 ... 103

Registro 14: Entrevista com Julia, em 15/11/2014 ... 108

Registro 15: Entrevista com Juan, em 31/05/2014 ... 109

Registro 16: Entrevista com Maria, em 09/05/2014 ... 115

Registro 17: Entrevista com José, em 05/05/2014 ... 115

Registro 18: Entrevista com Rosi, em 02/05/2014 ... 115

Registro 19: Entrevista com Fernando, em 09/05/2014 ... 116

Registro 20: Entrevista com Juan, em 31/05/2014 ... 116

Registro 21: Entrevista com Julián, em 07/05/2014 ... 117

Registro 22: Entrevista com Francisco, em 05/05/2014 ... 129

Registro 23: Entrevista com Fernando, em 09/05/2014 ... 129

(15)

Registro 25: Entrevistacom Julián, em 07/05/2014 ... 134

Registro 26: Entrevista com Fernando, em 09/05/2014 ... 135

Registro 27: Entrevista com Juan, em 31/05/2014 ... 136

Registro 28: Entrevista com Lauri, em 02/05/2014... 137

Registro 29: Entrevista com Lucia, em 14/11/2014 ... 138

Registro 30: Entrevista com Julián, em 07/05/2014 ... 140

Registro 31: Entrevista com Lucia, em 14/11/2014 ... 142

Registro 32: Entrevista com Susi, em 15/11/2014 ... 145

Registro 33: Entrevista com Julia, em 31/05/2014 ... 146

Registro 34: Entrevista com Juan, em 31/05/2014 ... 148

Registro 35: Entrevista com Juan, em 31/05/2014 ... 149

Registro 36: Entrevista com Diego, em 08/05/2014 ... 150

Registro 37: Entrevista com Lucia, em 07/05/2014 ... 150

Registro 38: Entrevista com Julián, em 07/05/2014 ... 150

Registro 39: Entrevista com Fernando, em 09/05/2014 ... 151

Registro 40: Entrevista com Elisa, em 15/11/2014 ... 152

Registro 41: Entrevista com Rosi, em 02/05/2014 ... 155

Registro 42: Entrevista com Carmen, em 09/05/2014... ..155

Registro 43: Entrevista com Lola, em 31/05/2014 ... 155

Registro 44: Entrevista com Carmen, em 09/05/2014... 156

Registro 45: Entrevista com Isabel, em 15/11/2014 ... 157

Registro 46: Entrevista com Lucia, em 07/05/2014 ... 158

Registro 47: Entrevista com Carmen, em 09/05/2014... 159

Registro 48: Entrevista com João, em 09/05/2014 ... 160

(16)

Registro 50: Entrevista com Diego, em 08/05/2014 ... 161

Registro 51: Entrevista com Fernando, em 09/05/2014 ... 162

Registro 52: Entrevista com Julián, em 07/05/2014 ... 162

Registro 53: Entrevista com Maria, em 09/05/2014 ... 164

Registro 54: Entrevista com João, em 09/05/2014 ... 164

Registro 55: Entrevista com José, em 05/05/2014 ... 164

Registro 56: Entrevista com Carmen, em 09/05/2014... 165

Registro 57: Entrevista com Julia, em 09/05/2014 ... 165

Registro 58: Entrevista com Lauri, em 02/05/2014... 165

Registro 59: Entrevista com Isabel, em 02/05/2014 ... 166

Registro 60: Entrevista com José, em 05/05/2014 ... 167

Registro 61: Entrevista com Lauri, em 02/05/2014... 167

(17)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...15

1 ABORDAGEM METODOLÓGICA E CENÁRIO DA PESQUISA...31

1.1 A pesquisa etnográfica qualitativa/interpretativista...31

1.2 A geração de registro...37

1.3 Ética na pesquisa...41

1.4 O contexto da pesquisa... ...46

1.5 A geração de dados...49

1.6. Os participantes da pesquisa...53

2 AMBIENTE FRONTEIRIÇO DA REGIÃO OESTE DO PARANÁ COM O PARAGUAI...61

2.1 A fronteira e o (des)encontro de línguas e culturas...61

2.2 O “brasiguaio” no Paraguai...64

2.3 O retorno de “brasiguaios”...70

3. NEGOCIANDO IDENTIDADES – NOSSA... MAIS DAÍ A COISA CAMBIÓ...DEU UMA VOLTA ASSIM DE... 360 GRAUS. AÍ EU VIREI PARAGUAIO, VIREI AMIGO, EU VIREI TUDO! (JOÃO)...81

3.1 Linguagens – práticas sociais...81

3.2 Posicionamento dos participantes – negociação das identidades...94

3.2.1 Identidades sociais fluidas, contraditórias e fragmentadas...96

4 REPRESENTAÇÕES DO OUTRO – IDENTIDADES CAMBIANTES...112

4.1 Identidade, diferença e representações...112

4.1.1 O efeito das representações sociais na construção das identidades...116

4.1.2 Na relação com o outro que me identifico como o não-outro...121

5 LÍNGUA, LINGUAGEM E IDENTIDADE...133

5.1 Línguas: identifica – exclui – aproxima – mantém relações de poder...133

5.2 Línguas em conflito – tem que rezá prá num se Envolve com polícia, senão tu tá ferrado!(carmen)...148

5.2.1 Idioma guarani – ñe’e era idéntica al alma, algo sagrado que les venía directamente del cielo (Elisa).………...………...159

5.3 Geração de imigrantes brasileiros e seus filhos nascidos no paraguai...163

(18)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...174

ANEXO I ROTEIRO DE PERGUNTAS PARA IMIGRANTES...183

ANEXO II ROTEIRO DE PERGUNTAS PARA FILHOS DE IMIGRANTES...187

(19)

INTRODUÇÃO

A diversidade linguística e cultural da região fronteiriça do Oeste paranaense com a tríplice fronteira Brasil-Paraguai-Argentina tem se constituído foco das minhas pesquisas, assim como objeto das práticas investigativas de estudiosos conceituados, dentre eles: Pires-Santos (1999, 2004); Pires-Pires-Santos, Cavalcanti (2008, 2010); Sprandel (1992, 2006); e Haesbaert, Barbara (2001).

Pessoas de distintas partes do Brasil e do mundo são atraídas pela diversidade cultural e linguística da região em questão por inúmeros fatores, dentre eles, o turismo das Cataratas do Iguaçu, a construção da Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu, o comércio transfronteiriço, além da existência de um polo universitário que atrai alunos e pesquisadores do Brasil e de outros países.

O plurilinguismo e o pluriculturalismo1 da região – embora esta represente uma pequena parte do Brasil – desmitifica a crença de que o país é monolíngue e monocultural. Esse fecundo cenário despertou, assim, meu interesse em estudar a diversidade de línguas, culturas2 e povos que vivem na área triangulada pelas três nações mencionadas. Foi diante desse pressuposto que comecei a verificar quem eram os sujeitos que transitam na região, focalizando, especialmente, nos indivíduos “brasiguaios”3, buscando desenvolver pesquisas que abordem e amplifiquem o tema.

Para tanto, estabeleci como propósito de trabalho averiguar como são construídas e/ou negociadas, nas práticas discursivas, as identidades4 dos participantes da pesquisa, neste contexto, bem como entender quais representações são construídas sobre a diversidade linguística daquele contexto. E considerando o objetivo proposto, faço as seguintes perguntas:

a) Como paraguaios e imigrantes brasileiros negociam suas identidades?

1Os termos plurilinguismo e pluriculturalismo se referem à diversidade de línguas e culturas encontradas na região.

Fundamento-me na ideia de César e Cavalcanti (2007), ao explicarem que, em qualquer comunidade, existe uma multiplicidade e complexidade linguística e cultural (CÉSAR e CAVALCANTI, 2007, p. 61).

2O conceito de cultura é aqui compreendido como um processo dinâmico, em permanente construção,

desconstrução e reconstrução, em um contexto histórico e, mais precisamente, nas relações dos grupos sociais entre si (CUCHE, 2002). Ampliarei a discussão desse tema no Capítulo III.

3O termo “brasiguaio” refere-se aos imigrantes brasileiros que se deslocaram para o Paraguai e àqueles que ou

permanecem naquele país vizinho ou retornam ao Brasil. Tal termo é usado, na maioria das vezes, em sentido pejorativo. O tema será apresentado e aprofundado no Capítulo II.

4O termo identidade será explicado no Capítulo III, porém, para este momento, entendo que as identidades sociais emergem da interação entre os sujeitos, isto é, da vivência de suas práticas sociais discursivas, e, por isso, não são fixas, acabadas, nem são definidas biologicamente, mas estão em constante processo, sendo contraditórias e fragmentadas.

(20)

b) Quais representações são construídas, neste contexto, pelos olhares recíprocos?

c) Como é representada a pluralidade linguística e cultural, no contexto escolar e no seu entorno social, por paraguaios e por imigrantes brasileiros?

Diante do objetivo apresentado, o problema central deste estudo consistirá em refletir sobre as práticas discursivas e as identidades sociais desses sujeitos, com a finalidade de verificar como eles se constituem na diversidade plurilíngue.

A respeito de estudos que abordam o tema desta pesquisa, após averiguar, durante os anos de 2014 e 2015, o Banco digital de Teses e Dissertações da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), constatei que, ainda que haja poucas pesquisas, diferentes áreas desenvolvem estudos sobre identidade, dentre elas: Letras, Sociologia, História, Geografia, Ciências. Já pesquisas relacionadas à imigração brasileira em terras paraguaias, há um número menor, sendo que as áreas que mais têm se destacado neste tipo de estudos são: Geografia, Demografia, História, Sociologia, Antropologia, Letras, Ciências Sociais e Letras.

Na sequência, apresento, em cada uma dessas áreas, os pesquisadores e seus estudos, bem como a instituição em que desenvolveram suas pesquisas.

Pesquisa na área da Geografia:

1) FRASSON, Margarete. Alunos brasiguaios em movimento na tríplice fronteira. Francisco Beltrão. Dissertação de Mestrado. UNIOESTE, 2014. A pesquisadora, em sua dissertação, objetivou fazer um estudo sobre alunos brasiguaios matriculados em escolas públicas municipais5 de Santa Terezinha de Itaipu/PR, ou seja, imigrantes brasileiros que foram morar no Paraguai e que retornaram ao Brasil. A autora mostra que esses alunos são identificados, pelos profissionais da educação, como introvertidos, recatados, quietinhos. Apontou, também, que alunos brasiguaios sofrem “(...) preconceito linguístico pelo uso de determinados termos que não fazem parte do idioma português e que resulta em bullying por parte dos colegas de classe” (p. 157). Para ela, esse preconceito gera várias consequências, dentre elas, silenciamento e falta de interação em sala de aula, resultando “(...) em reprovação escolar, retorno de série e, consequentemente, em atraso de vida escolar, de modo que o

5 Escola Municipal Alexandre Zilli Netto, Escola Municipal Cecília Meireles, Escola Municipal

(21)

conhecimento desse aluno fica comprometido” (p. 157-158). Constatou, ainda, que, dessas relações fronteiriças, surgem as diferenças identitárias e sociais e que a fragilidade do sistema educacional “(...) visa a apagar ou desconhecer essas diferenças produzidas nos limites territoriais de fronteira” (p. 239). Afirmou, também, que brasiguaios sofrem descaso, abandono e falta de condições para que se consiga ter vida humana digna. E demonstrou, ainda, que há uma exploração do sistema capitalista, que, além de concentrar e acumular a riqueza nas mãos de uma minoria, abandona à margem, como expectador, o brasiguaio (p. 240). Dos resultados dessa pesquisa, a autora avaliou que alunos brasiguaios, matriculados nas escolas corpus da pesquisa, têm problemas de aprendizagem, dificuldades com o uso da língua, silenciamento, falta de socialização/interação/integração, reprovação escolar, retorno de séries e atraso escolar (p. 240).

2) GONÇALVES, Karoline Batista. Migração brasileira para o Paraguai: territórios e identidades na colônia Nueva Esperanza (Yby Yaú Concepción/Py.). Dourados: Dissertação de Mestrado. UFGD, 2012. Gonçalves (2012), em sua dissertação, traçou como objetivo compreender a migração de brasileiros para o Paraguai que formaram a Colônia Nueva Esperanza, apontando a maneira como eles produziram um território e construíram uma identidade pautada nas relações estabelecidas entre brasileiros e paraguaios, diante de um “(...) processo aonde duas culturas distintas tiveram que se unir com um único objetivo: garantir sua sobrevivência” (p. 17). A autora explicou que o fluxo migratório de brasileiros em terras paraguaias formou a colônia Nueva Esperanza, localizada no município de Yby Yaú, no Departamento de Concepción/PY. Apontou, ainda, que esses brasileiros passaram por transformações no campo cultural e identitário, processo a que se referiu como hibridismo cultural. Constatou, também, que os imigrantes tiveram dificuldades, ao se instalarem no país vizinho, dentre elas, aprender a conviver com outras línguas, culturas, valores e símbolos distintos. Além disso, a pesquisadora mostrou que os imigrantes, por ainda continuarem ligados ao país de origem, reproduzem as mesmas práticas de sua terra natal. Entretanto, no decorrer do tempo, à medida que esses imigrantes começam a relacionarem-se com os paraguaios, eles passam a habituar-se a uma nova condição em que reproduzem as práticas de sua cultura nacional, e, ao mesmo tempo, aprendem a conviver e afeiçoar-se a uma cultura distinta. A autora notou que os imigrantes passaram por um processo de desterritorialização seguido pela reterritorialização, quando muitos deixaram seu território nacional e reconstruíram suas vidas em um “novo” território, no qual o espaço e os sujeitos não eram mais os mesmos. Evidenciou, diante do processo de identificação/diferenciação, o cruzamento das identidades e diferenças, marcado por duas características principais, a saber: a afirmação da identidade e a marcação da

(22)

diferença. Para Gonçalves (2012), tanto a afirmação da identidade como a marcação da diferença acabam fortalecendo a distinção e a separação entre o de dentro e o de fora. Também constatou a construção identitária, ao serem denominados com os seguintes termos: brasileiro, termo usado para se referir aos primeiros imigrantes que adquiriram suas terras e reconstruíram suas vidas no país vizinho, sem abandonar os seus referenciais identitários de brasileiros; brasiguaio, utilizado para denominar os filhos dos primeiros imigrantes que possuem nacionalidade brasileira e nacionalidade paraguaia; e, por último, paraleño, para indicar os indivíduos que têm a identidade paraguaia mais aflorada que a brasileira, porque um de seus pais é de nacionalidade paraguaia e, por isso, acabam reproduzindo a cultura e os valores paraguaios com maior evidência. Outra constatação feita pela pesquisadora foi que a identidade desses imigrantes é uma identidade em movimento que se formou a partir das relações que estes mantêm com os paraguaios e com os brasileiros tanto da colônia como aqueles do Brasil. Por fim, Gonçalvez (2012) mostrou que, embora as novas identidades tenham sido construídas em território paraguaio, a identidade brasileira prevalece e se faz presente até os dias atuais, sendo reproduzida pelos primeiros imigrantes que, mesmo vivendo em um novo território, ainda mantêm fortes laços com o Brasil, onde os referenciais dos territórios da chegada e da partida convivem.

3) TERENCIANI, Cirlani. Multi/interculturalidade e ensino de geografia: reflexões a partir das práticas docentes em escolas na fronteira Brasil- Paraguai em Mato Grosso do Sul. Dourados: Dissertação de Mestrado. UFGD, 2011. Terenciani (2011) realizou sua pesquisa na cidade de Ponta Porã/MS/Brasil – divisa com Pedro Juan Caballero, Departamento de Amambay/Paraguai. Seu objetivo foi compreender as relações e práticas escolares a partir da educação intercultural, analisando, especificamente, a prática de ensino de Geografia na fronteira Brasil/Paraguai. A pesquisa revelou que as identidades de brasileiros e paraguaios se chocam e são representadas por conflitos, discriminações e tensões que ocorrem por meio do (des)encontro que se dá entre brasileiros e paraguaios (p. 186). Além disso, mostrou que alunos brasiguaios que cruzam a fronteira para estudarem nas escolas de Ponta Porã sofrem estigmatização, preconceito, rejeição, provocando vergonha por morarem no Paraguai. Paraguaios e brasiguaios são estigmatizados pelos brasileiros, sendo representados por serem preguiçosos, por não gostarem de trabalhar, por terem uma língua feia, por serem de um país sujo, por serem do país da falsidade e da ilegalidade, “(...) uma vez que estas são características que representam algo negativo e indesejável” (p. 186). Para esse cenário, a pesquisadora apontou que o ensino de Geografia pode “(...) desmitificar a ideia de racionalidade homogênea e hegemônica representada pelo modelo euro-branco-cristão-masculino-heterossexual-nacional

(23)

através do diálogo e da problematização das diferenças, sem que estas impliquem negação ou assimilação” (p. 187). Para ela, identidade e alteridade/diferença – representados pela diferenciação cultural, nacional, linguística e étnica – estão em constante choque e é por isso que, para a autora, as aulas de geografia podem e devem contribuir para desmistificar práticas de preconceito. Terenciani (2011) completou suas análises, apontando que há uma carência de formação docente voltada para a diversidade e as diferenças e isso contribui para que haja estigmatização, preconceito e rejeição.

4) FERRARI, Carlos Alberto. Dinâmica territorial na(s) fronteira(s): um estudo sobre a expansão do agronegócio e a exploração dos brasiguaios no norte do Departamento de Alto Paraná-Paraguai. Dourados: Dissertação de Mestrado. Universidade Federal da Grande Dourados, 2009. O trabalho em questão objetivou investigar aspectos das transformações socioeconômicas, políticas, culturais e ambientais decorrentes da expansão do agronegócio da soja nos distritos que compõem o Norte do Departamento do Alto Paraná, no Paraguai, em especial, no que diz respeito aos trabalhadores brasileiros chamados brasiguaios que vivem no lugar. O pesquisador mostrou que a expulsão de camponeses brasiguaios e paraguaios do meio rural causou o alargamento das periferias das cidades fronteiriças tanto do lado paraguaio (Ciudad del Este, San Alberto e Hernandarias) como do lado brasileiro (Foz do Iguaçu e outros municípios menores). Ferrari (2009) destacou a Guerra da Tríplice Aliança, ocorrida entre 1864 e 1870, como origem dos conflitos que os imigrantes brasileiros vivenciam no Paraguai. De acordo com o pesquisador, tais conflitos estão relacionados a esta grande batalha paraguaia. O pesquisador também apontou que o governo de Alfredo Stroessner foi responsável por desenvolver medidas que acabaram afetando a agricultura tradicional paraguaia, pois foi dessas medidas que surgiu a formação de extensos latifúndios de exploração florestal a cargo, principalmente, do capital de grandes latifundiários brasileiros conhecidos na época por “colonizadores” e que, atualmente, são conhecidos como “brasileiros no Paraguai”, os quais acabaram “(...) arruinando totalmente as condições de vida da população camponesa do país” (p. 20). Descreveu, ainda, o sofrimento dos brasileiros que, antes de irem para o Paraguai, perderam suas terras com a desapropriação da Usina Itaipu e, quase sem recursos financeiros, foram atraídos para as terras paraguaias, onde viveram conflitos como a brutalidade da polícia paraguaia, ameaças e humilhações vindas, principalmente, de seus conterrâneos imigrantes de maior poder financeiro conhecidos por brasileiros que moram no Paraguai. Nessa perspectiva, Ferrari (2009) explicou que a expansão do agronegócio na região norte do Departamento do Alto Paraná acarretou a exploração da mão-de-obra brasiguaia, a devastação e a degradação do meio ambiente devido ao desmatamento e o uso massivo de agrotóxicos, gerando problemas

(24)

para os pequenos agricultores camponeses brasiguaios e para a minoria de campesinos paraguaios. Constatou, também, que os camponeses brasiguaios que, ainda, resistem em terras guarani vivem sob ameaças para venderem suas terras e aqueles que já perderam suas propriedades e não conseguiram retornar para o Brasil acabam sendo explorados tanto no meio rural – nas fazendas de soja – como no meio urbano, sendo seus exploradores, na maior parte, os próprios brasileiros donos de terras paraguaias. Segundo Ferrari (2009), a elite fundiária é formada por imigrantes brasileiros, os quais exploram e “(...) dominam a produção de soja na região norte oriental, tendo a mão-de-obra brasiguaia como pilar de sustentação dessa produção” (p. 27). O autor revelou que tanto os camponeses “brasiguaios” como os campesinos paraguaios são forçados a viverem à margem dessa sociedade fronteiriça. Para ele, os imigrantes brasileiros que foram para o Paraguai se dividem pelo menos em dois grupos, sendo que os brasiguaios são os pobres, os oprimidos, os sem direitos trabalhistas e sociais, aqueles sem pátria e sem esperança; e os brasileiros no Paraguai são aqueles que têm pátria, ou melhor, têm poder econômico, político e simbólico para escolher, conforme seus interesses, a pátria que melhor lhes convier, tanto a brasileira como a paraguaia. O pesquisador observou que os brasiguaios vivenciam conflitos marcados pela imigração, dentre eles, exclusão e re-migrações – pelo direito à terra de trabalho. Contudo, desde que se intensificaram os deslocamentos e as re-migrações, o direito à terra lhes é negado, tanto no Brasil como no Paraguai. Sumariamente, a pesquisa examinou a redefinição da fronteira entre o Brasil e o Paraguai que ocorreu desde a década de 1960, com a imigração de milhares de brasileiros para a região Oriental deste país, além de focalizar o resgate da contradição entre as fronteiras fixas dos territórios dos Estados nacionais e a dinâmica das populações. Foi analisada, também, a formação do território paraguaio e sua posição em relação a países vizinhos, mostrando que as ações dos governos dos dois países, na segunda metade deste século, apontaram elementos importantes para explicar a aproximação entre eles e o fenômeno migratório.

Pesquisa na área da Demografia:

1) MARQUES, Denise Helena França. Circularidade na fronteira do Paraguai e Brasil: o estudo de caso dos “brasiguaios”. Belo Horizonte: Tese de Doutorado. UFMG, 2009. A proposta da tese em pauta foi investigar o que motiva os “brasiguaios” a circularem nas fronteiras entre o Paraguai e o Brasil. Marques (2009) referiu-se, mais especificamente, àqueles brasiguaios que residem nos municípios paraguaios Ypehjú, Salto del Guairá e Pedro Juan Caballero, que fazem fronteiras com Brasil. Explicou que residir no Paraguai e frequentar o

(25)

Brasil é uma prática muito comum entre os brasiguaios residentes no Paraguai. A pesquisadora denominou os sujeitos pesquisados de indivíduos transnacionais porque, segundo ela, eles mesclam as culturas dos dois países e possuem vínculos sociais, econômicos e políticos tanto no Brasil como no Paraguai, sendo que, a maioria deles, além de possuir dupla residência, uma no Paraguai e outra no Brasil, tem, também, dupla nacionalidade. Marques (2009) constatou que a circularidade dos brasiguaios nas fronteiras nacionais do Paraguai e do Brasil é efetivada por vários motivos, dentre os quais estão: necessidade de serviços de saúde; busca por serviços de educação; busca por trabalho; procura pelos benefícios de assistência social, tais como aposentadorias, Bolsa Família e o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil); visitas a familiares e amigos que moram no Brasil; religião; e compras (p. 132). A autora explicou que essa circularidade dos brasiguaios gera várias consequências como, por exemplo, afetar a quantidade e a qualidade dos serviços públicos oferecidos, bem como alterar a economia e as práticas culturais nos dois países. Ainda de acordo com a pesquisadora, essas ações causam desequilíbrio entre oferta e demanda de serviços públicos oferecidos no Brasil, num fluxo monetário que pode se tornar uma fonte importante de moeda estrangeira para o Brasil, transformando, por meio de novas práticas culturais, os valores e o cotidiano das populações residentes nas franjas fronteiriças dos dois países.

Pesquisa na área de História:

1) FIORENTIN, Marta Izabel. A experiência da imigração de agricultores brasileiros no Paraguai (1970-2010). Curitiba: Dissertação de Mestrado. UFPR, 2010. Este trabalho objetivou estudar as relações entre os agricultores imigrantes brasileiros e os paraguaios que moram na zona rural paraguaia, mais especificamente na comunidade de Curva da Lata, localizada no município de Katueté, Departamento de Canindeyú/Py, e na comunidade Gleba 11, no município de Mbaracayu, Departamento de Alto Paraná/Py, ambas com grande concentração de imigrantes brasileiros. A pesquisadora evidenciou que a presença de agricultores imigrantes brasileiros no Paraguai dinamizou a economia regional por meio da produção de soja, milho e trigo, além de formar novos arranjos sociais e de construir uma nova territorialidade. Fiorentin (2010) explicou que os governos do Brasil e do Paraguai criaram estratégias e facilitações para atrair os colonos para o desenvolvimento do agronegócio em terras paraguaias. Para isso, implantaram políticas, tratados, acordos, projetos políticos e econômicos com o objetivo de provocar o intenso movimento migratório de brasileiros para o Paraguai, tais como as propagandas e políticas de colonização direcionadas aos agricultores

(26)

brasileiros, especialmente do Oeste do Estado do Paraná como, por exemplo, a inauguração da Ponte da Amizade, em 1964, que estabeleceu condições materiais e logísticas fundamentais para o início deste processo migratório. Com isso, a autora evidenciou que “(...) a modernização da agricultura foi incentivada pelos dois governos e foi a mola propulsora para o movimento migratório, onde o Brasil expulsa e o Paraguai recebe” (p. 102). A pesquisadora concluiu que as políticas de colonização favoreceram mais os brasileiros do que a população do Paraguai. Ela considera que, nesse processo, o povo paraguaio não recebeu incentivo algum, foi ignorado e prejudicado, uma vez que as terras eram disponibilizadas aos brasileiros, em detrimento de muitos paraguaios. Para a pesquisadora, essa política prejudicou um grupo em favorecimento de outro, pois, além de determinar as relações capitalistas de acesso e de posse da terra, gerou conflitos, injustiças sociais, prejudicou os campesinos no Paraguai e desencadeou estigmatizações e marginalizações tanto de brasileiros como de paraguaios. Para Fiorentin (2010), a integração cultural entre paraguaios e brasileiros, dentro do território paraguaio, ocorreu de modo diferente e injusto, pois, ao longo da história, as populações campesinas foram excluídas do acesso à terra e ao capital. Tais relações foram e são marcadas pelas diferenças identitárias, decorrentes das mobilidades e de seu caráter de transitoriedade e redefinições, uma vez que, na busca pela sobrevivência, o ser humano promove adaptações e criação de novas fronteiras culturais e étnicas entre duas culturas.

Pesquisa na área de Sociologia:

1) ALBUQUERQUE, José Lindomar C. Fronteiras em movimento e identidades nacionais. A imigração brasileira no Paraguai. Fortaleza: Tese de Doutorado. UFC, 2005. O objetivo do autor foi pensar as representações nacionais e as relações de poder entre o Brasil e o Paraguai, a partir dos discursos de imigrantes, líderes camponeses paraguaios, jornalistas, empresários, religiosos, dentre outros. Para o pesquisador, as fronteiras em movimento são espaços sociais de tensões, contradições e junções. Albuquerque (2005) salientou que as zonas de fronteiras são campos de força, de choques políticos e simbólicos, de conflitos de classes, disputas étnicas, tensões nacionalistas, choque entre a civilização capitalista ocidental e a cultura camponesa, mas, também, de variadas misturas culturais e formas de integração entre diferentes formas de vida. Mostrou, além disso, que os conflitos não ocorreram por causa de salários, mas pela posse da terra, uma vez que muitos imigrantes brasileiros, além de se transformarem em empresários agrícolas, compraram e arrendaram novas extensões de terras em vários departamentos do Paraguai para o plantio de soja. Nesse movimento de expansão,

(27)

eles ocuparam as terras dos camponeses e dos indígenas e ocasionaram vários conflitos com os movimentos camponeses locais. Segundo Albuquerque (2005), foi por causa desse movimento de expansão que houve ações políticas da classe camponesa e, consequentemente, os movimentos sociais, que reivindicaram o direito à terra ocupada por estrangeiros. O autor constatou que os conflitos se caracterizaram como lutas de classes e de nacionalidade, pois a expansão capitalista foi comandada por imigrantes e investidores brasileiros que moram no Brasil. Para o pesquisador, a identidade brasiguaia sintetiza um pouco a complexa realidade fronteiriça e é derivada dos conflitos de classe e das tensões étnicas e nacionalistas. Albuquerque (2005) verificou que estes conflitos envolvem sentimentos nacionalistas em relação ao território e à língua guarani e, sobretudo, aos ressentimentos do período da “Guerra do Paraguai”. Mostrou, também, que imigrantes se auto identificam como “trabalhadores”, “pioneiros” e classificam os paraguaios como “preguiçosos”, “corruptos” e “subdesenvolvidos”, o que revela, segundo sua pesquisa, assimetrias de poder entre as classes sociais e as nações, gerando relações de dominação econômica, cultural e simbólica brasileira em relação ao Paraguai. Entretanto, Albuquerque (2005) constatou, ainda, que não existem somente conflitos e dominação nas relações entre os imigrantes e os setores da sociedade paraguaia; há, também, integração, já que vários imigrantes e seus descendentes incorporam práticas culturais da sociedade paraguaia; eles aprendem, por exemplo, o espanhol ou o “portuñol”, tomam o tererê, estudam a história e a geografia paraguaia na escola, assistem a missas e cultos em espanhol e se informam sobre a política da região por meio de noticiários nas rádios locais e em canais paraguaios. Dessa forma, o autor demonstrou que as fronteiras em movimento da nação brasileira, no Paraguai, ocasionam destruições, integrações; revelam alteridades; e provocam muitas tensões e desequilíbrios de poder na sociedade paraguaia.

Pesquisa na área de Antropologia:

1) SPRANDEL, Márcia Anita. Brasiguaios: conflito e identidade em fronteiras internacionais. Rio de Janeiro: Dissertação de Mestrado. UFRJ|, 1992. O objetivo de Sprandel (1992) foi estudar o surgimento da denominação “brasiguaios”, em 1985, quando famílias camponesas começam a voltar ao Brasil. Para tanto, a autora afirma que este retorno foi marcado por uma mobilização política e social, e, empregando os conceitos de etnicidade e nação, analisou as relações que envolviam os grupos familiares. A pesquisadora revelou, também, a maneira como os camponeses foram atraídos ao Paraguai, bem como a facilidade de conseguir terras localizadas na fronteira Brasil/Paraguai, com boa qualidade e com condições

(28)

de compra facilitadas. Ela expôs que é constante o contato social e econômico entre os brasileiros que moram no Paraguai e os das cidades limítrofes do Paraná e Mato Grosso do Sul. A autora evidenciou, ainda, que, ao retornarem do Paraguai, os meios de comunicação, a igreja, os políticos e os setores governamentais não reconhecem esses camponeses nem como brasileiros nem como paraguaios e, assim, a denominação “brasiguaia” passa a ser relacionada a uma ação política estratégica de criação de uma auto-imagem de “homens e mulheres sem pátria” (p. 463); em função disso, inseridos no conjunto de mobilizações camponesas, passam a reclamar sua nacionalidade e a denunciar situações de injustiça vividas no Paraguai.

Pesquisa na área de Letras:

1) CARLOS, Valeska Gracioso. O Português de cá e de lá: variedades em contato na fronteira entre Brasil e Paraguai. Londrina: Tese de Doutorado. UEL, 2015. A pesquisadora objetivou descrever a língua portuguesa falada na região da fronteira do Brasil com o Paraguai, especificamente em duas localidades: uma delas no Estado do Paraná/Brasil – Terra Roxa e Missal – e a outra no Departamento de Alto Paraná/Paraguai – San Alberto e Santa Rosa del Monday. Carlos (2015) averiguou, além da questão do contato entre grupos sociais da fronteira, a interinfluência da variedade linguística de migrantes do Sul do Brasil, que denominou de variante sulista, contrastando com aqueles que vieram das outras regiões como a Sudeste e a Nordeste, designada, pela autora, de variante nortista. Identificou, ainda, a natureza de fatores que podem favorecer ou inibir a inovação e a conservação de traços linguísticos, considerando as dimensões diatópica e sociocultural dos fenômenos descritos, contrastando variantes sulistas e nortistas. Os resultados apontaram que não há grandes interinfluências das línguas espanhola e guarani na fala dos brasileiros. Contudo, a língua portuguesa se manifesta pelo contato e pela mídia na fala dos paraguaios. A manutenção dos traços linguísticos sulistas está diretamente ligada à geração topodinâmica e mais velha, enquanto os jovens apresentam uma preferência ao uso de variantes nortistas.

2) MELO, Thiago Benitez. As identidades que nos habitam: representações, culturas e língua(gens) no contexto escolar transfronteiriço. Cascavel: Dissertação de Mestrado. UNIOESTE, 2014. O objetivo de Melo (2014) foi discutir e averiguar como são construídas, nas práticas discursivas, as identidades e representações dos alunos que estudam em escolas brasileiras, mas que residem no Paraguai. A pesquisa, realizada em uma escola particular de ensino fundamental e médio na cidade de Foz do Iguaçu/PR, constatou que as construções identitárias dos “alunos transfronteiriços” são marcadas por questões de territorialidade,

(29)

ideologia e poder. O autor mostrou que os sujeitos da pesquisa conseguem negociar, revogar e manipular suas identidades, tendo a possibilidade de escolher o lugar ao qual querem pertencer e quem querem ser, o que traduz o caráter instável e relativo de suas identidades e representações. Além disso, o estudo verificou que o ambiente escolar revela os conflitos culturais e identitários e que as identidades sociais são negociáveis e revogáveis, estando em fluxo e em constante experimentação. Esses sujeitos, porém, acabam sentindo-se pressionados a terem que escolher apenas uma etnia/nação a qual pertencer e somente uma língua para utilizar no contexto escolar monocultural/monolíngue, marcado pela predominância do português como língua hegemônica.

3) PIRES SANTOS, Maria Elena. Fatores de risco para o sucesso escolar de crianças “brasiguaias” nas escolas de Foz do Iguaçu: uma abordagem Sociolingüística. Dissertação de Mestrado. UFPR, 1999. Em sua investigação, Pires Santos (1999) se propôs a identificar os fatores sociolinguísticos que compõem o conflito linguístico entre o espanhol (segunda língua) e o português (língua materna) e a destacar o modo como tais fatores interferem na aprendizagem dos alunos “brasiguaios”, no universo escolar da cidade paranaense de Foz do Iguaçu, apontando, para tanto, as diferenças e/ou semelhanças entre o desempenho escolar desses alunos e dos alunos brasileiros. Nessa tarefa, a pesquisadora apresentou seis fatores como responsáveis por interferir na aprendizagem dos alunos “brasiguaios”: 1) A situação diglóssica conflitiva que recobre o processo histórico de formação do grupo “brasiguaio” e sua inserção no processo educacional; 2) O bilinguismo a que estão expostos os alunos; 3) O processo educacional de submersão que parece ser comum na educação das minorias linguísticas; 4) As barreiras criadas pelas diferenças dialetais que dificultam o acesso ao dialeto de prestígio; 5) As diferenças culturais que os identificam enquanto grupo e os diferencia dos demais; e 6) As atitudes sociolinguísticas das instituições educacionais, dos pais, professores e dos próprios alunos que contribuem para a manutenção de um sentimento de inferioridade e, consequentemente, para o fracasso escolar. A autora explicou que não foi possível estabelecer uma gradação entre os seis fatores, pois a influência de um sobre o outro é recíproca. Avaliou que tais fatores exercem uma influência mais acentuada nos alunos “brasiguaios” das séries iniciais do 1º grau. A seu ver, uma explicação possível, para a diferença entre os alunos das séries iniciais e aqueles das séries finais do 1º grau, seria porque os alunos das séries iniciais estão no estágio de aprendizagem do uso do dialeto local, com o grupo de amigos e companheiros mais próximos, pois “(...) os grupos familiar e da vizinhança são muito importantes nesta fase, representando um grupo de referência para a formação da identidade cultural” (p. 156). Nessa mesma disposição, comparando alunos “brasiguaios” e brasileiros,

(30)

apurou que, salvo quanto ao bilinguismo português/espanhol vivenciado pelos “brasiguaios”, ambos estão sujeitos aos demais fatores de risco. Os fatores de risco que se caracterizaram como mais prováveis para o fracasso escolar dos alunos brasiguaios foram: a situação diglóssica conflitiva; o contexto bilíngue em que foram expostos nas escolas paraguaias; os processos escolares; as diferenças dialetais; as diferenças culturais; e a atitude dos pais, alunos e professores no ambiente escolar. Estes fatores, “(...) provocam baixa estima e sentimento de inferioridade de alunos brasiguaios e brasileiros” (p. 159), contribuindo para reforçar a resistência quanto à aquisição dos valores culturais de um grupo de maior prestígio.

4) PIRES SANTOS, Maria Elena. O cenário multilingüe/multidialetal/multicultural de fronteira e o processo identitário “brasiguaio” na escola e no entrono social. Campinas: Tese de Doutorado. UNICAMP, 2004. A pesquisa em pauta teve como objetivo investigar, em escola localizada no Oeste do Paraná – fronteira com o Paraguai, nas práticas discursivas, a construção e (in)visibilização das identidades “brasiguaias”. A análise retratou duas construções das identidades “brasiguaias”, sendo a primeira A construção de uma identidade com tendência essencialista que procura estabelecer, para o grupo, características inerentes, partilhadas e permanentes, dando a ideia de homogeneidade e contribuindo para a formação de um estereótipo negativo e para a instalação do preconceito e a estigmatização do “brasiguaio” pela sociedade envolvente; e a segunda identidades não-essencialistas, isto é, fragmentadas, complexas, mutáveis e sempre em fluxo, que emergem das práticas discursivas dos próprios “brasiguaios”, que possibilitam a percepção de um processo sempre em construção, trazendo à tona toda a instabilidade, a fragmentação, a complexidade que subjazem à denominação “brasiguaio”, apontando para uma constante (re)significação e (re)construção de novas subjetividades, eternos devires. A pesquisadora apresentou, também, a importância da escola na construção das identidades, uma vez que o ambiente escolar é, na maioria dos casos, o primeiro espaço social em que a criança tem a oportunidade de ter contato com outros modos de vida diferentes daquele homogeneizante da família.

Pesquisa na área de Ciências Sociais:

1) SILVA, Grasiela Mossmann da. Integração e conflito entre filhos de brasileiros e filhos de paraguaios: um estudo de caso etnográfico em uma escola de Santa Rita – Py. Toledo: Dissertação de Mestrado. UNIOESTE, 2014. Este estudo foi realizado em uma escola de Santa Rita/Py e teve como objetivo explicitar as situações de conflito e integração entre brasileiros, seus descendentes e paraguaios, bem como averiguar como ocorre a manutenção da fronteira

(31)

étnica entre os dois grupos estudados, tendo como principal contexto o ambiente escolar. Justificada sob esse viés, a pesquisadora explicou como se dá a imigração de brasileiros para o Paraguai, afirmando que existem situações de conflito no ambiente escolar devido às diferenças culturais, e identificou que os estudantes de descendência brasileira estigmatizam os paraguaios, dizendo que esses são preguiçosos, sujos e têm uma língua feia. Para a autora, os estigmas se apresentam de forma velada, já que, na sala de aula, há interação e amizades, porém poucas dessas manifestações permanecem fora dos muros da escola, pois os descendentes preferem os laços com seu próprio grupo. Além disso, observou que as gerações de imigrantes e seus filhos apresentam um modo de agir diferente: ou seja, os imigrantes brasileiros – de mais idade – têm uma resistência maior em relação aos paraguaios, enquanto os mais jovens – filhos de imigrantes, nascidos no Paraguai –, apesar de herdarem alguns estigmas que os pais atribuem aos paraguaios, convivem de forma mais pacífica, sendo que alguns já aceitam, por exemplo, o namoro entre os dois grupos. Logo, foi possível concluir que a tendência é que a integração aumente nas próximas gerações, uma vez que a convivência, cada vez mais próxima, entre paraguaios e descendentes de brasileiros faz com que os estigmas, aos poucos, diminuam.

O levantamento realizado sobre os estudos desenvolvidos a respeito desses sujeitos que imigraram para o Paraguai, revela diferentes objetivos de pesquisa, dos quais se destacam: 1) movimento migratório e suas perspectivas políticas, demográficas, sociológicas; 2) o retorno do “brasiguaio” ao Brasil (PIRES-SANTOS, 1999, 2004; MARQUES, 2009; TERENCIANI, 2011; FRASSON, 2014) e MELO, 2014), revelando que este retorno é marcado por conflitos e tensões. Afirmam, ainda, que o aluno “brasiguaio” é rejeitado na escola brasileira e vivencia vários tipos de conflitos6; 3) permanência dos imigrantes que foram para o Paraguai (ALBUQUERQUE, 2005; FERRARI, 2009; FIORENTIN, 2010; GONÇALVES, 2012, SILVA, 2014 e CARLOS, 2015). Dentre os resultados destas pesquisas estão os conflitos escolares e agrícolas relacionados à terra ou, ainda, à fronteira paranaense brasileira com o Paraguai, mais especificamente a cidade de Foz de Iguaçu, no Brasil, e a Ciudad del Leste, no Paraguai, bem como com a cidade brasileira de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, que faz fronteira com Pedro Juan Caballero, no Paraguai.

Registram-se poucos estudos relacionados à imigração brasileira no Paraguai e, diante desse fato, considerando a necessidade de mais pesquisas que investiguem sobre a questão dos imigrantes em terras paraguaias, apresento, neste trabalho, um estudo sobre estes sujeitos, bem

6 No Capítulo I, propriamente na seção 1.5, será apresentada uma breve contextualização do “brasiguaio” que

(32)

como seus filhos nascidos no Paraguai. Destaco, ainda, a necessidade de mais fontes que os visibilizem, bem como focalizem a sociedade que os recebem, dedicando-se, também, às consequências dessa imigração, dada a carência de estudos que mostrem os efeitos da imigração brasileira no Paraguai.

A maioria desses imigrantes e seus filhos estão numa região denominada “Alto Paraná”, localizada a, aproximadamente, 80km da fronteira Brasil/Paraguai. O lugar escolhido para esta pesquisa para evitar ser identificado, será protegido aqui pelo nome de Cidade Paraguaia. O motivo dessa escolha se deu por haver, na cidade, o uso de várias línguas, dentre elas o guarani, o espanhol, o português, o italiano e o alemão.

A diversidade linguística e cultural da fronteira Brasil/Paraguai, conforme mostraram as pesquisas mencionadas anteriormente, pode resultar em disputa pelo poder por meio das línguas e culturas e, consequentemente, acarretar vários tipos de conflitos.

Espero que esta investigação contribua para que haja mais estudos e pesquisas voltados para contextos como o dessa Cidade Paraguaia que apresenta, por um lado, um ambiente repleto de grande diversidade linguística e cultural e, por outro, é carente de documentação e, mais ainda, de pesquisas científicas. Logo, é importante, neste ambiente fronteiriço, aprender a lidar com a grande diversidade linguística e cultural existente, objetivando a valorização, o respeito e a manutenção de todas as línguas faladas nesta região, para que não ocorra o silenciamento de uma em detrimento de outra.

Entretanto, para que isso aconteça, é fundamental que estudos sobre a diversidade linguística e cultural façam parte dos cursos de formação de professores. Lembro que muitos alunos que vivem nessa fronteira constituem a realidade escolar brasileira; ou seja, o Brasil, neste caso a região Oeste paranaense, recebe estudantes que moram em municípios paraguaios limítrofes ao Brasil. Tratam-se de alunos que moram em municípios paraguaios, mas que estudam em escolas brasileiras (MELO, 2014). Porém, além desses, há, também, casos7 que evidenciam o retorno de famílias de imigrantes ao Brasil, os quais procuram cidades da região de fronteira, como Cascavel/PR, para morarem.

A respeito da necessidade de cursos de formação docente direcionados à diversidade linguística e cultural, Cavalcanti (1999) afirma que grande parte dos seguimentos dessa natureza continua formando professores para trabalharem com o falante nativo ideal em uma comunidade de fala homogênea, sem conflitos ou problemas de qualquer espécie.

(33)

Igualmente, é preciso que se tenha mais estudos que focalizem os grupos de imigrantes brasileiros que moram no Paraguai, refletindo, sobretudo, a respeito do ensino/aprendizagem dessas crianças, filhos de imigrantes, que falam a língua portuguesa com seus pais em suas casas e, ao chegar à escola8, deparam-se com a(s) língua(s) do outro. Substancialmente, seria importante que houvesse mais aceitação e respeito à diversidade linguística e cultural que ocorre na Cidade Paraguaia, foco de minha pesquisa.

Diante dessa perspectiva, procurando responder às perguntas de pesquisa, citadas no início desta seção, este estudo está dividido em cinco capítulos. No Capítulo I – Abordagem metodológica e cenário da pesquisa – desenvolvo reflexões quanto à abordagem metodológica, pautando-me nos estudos de Denzin e Lincoln (2006), Christians (2006), Bortoni-Ricardo (2008), Flick (2009), Silverman (2009), dentre outros que, além de orientar como deve agir ética e metodologicamente o pesquisador, mostram quais são os princípios que envolvem a pesquisa social.

No Capítulo II – Ambiente fronteiriço da região Oeste do Paraná com Paraguai – busco compreender quem são esses sujeitos conhecidos como “brasiguaios”. Para tanto, será feita uma retomada histórica do percurso traçado pelos imigrantes, com a finalidade de observar quais fatos abarcaram a migração das famílias de “brasiguaios” e a forma como chegaram ao Leste do Paraguai, mostrando, também, um pouco da diversidade linguística e cultural da região Oeste paranaense. Nesta parte da pesquisa, apresentarei a origem do termo “brasiguaio”. Finalmente, nesta seção, será realizada uma exposição dos trabalhos e das pesquisas sobre o tema em questão. Trago como base teórica os estudos de Dalinghaus (2009), Pires-Santos (2004), Ribeiro (2002), Mazzarollo (1980), Zaar (1996, 1999, 2001) e outros.

No Capítulo III – Negociando Identidades – Nossa... mais daí a coisa cambió... deu uma volta assim de... 360 graus. Aí eu virei paraguaio, virei amigo, eu virei tudo! (João) – reflito, analiso e mostro como os participantes da pesquisa negociam, em suas práticas discursivas, suas identidades sociais. Antes, porém, para comentar sobre essas práticas dos sujeitos e como ocorre essa negociação, teço considerações sobre cultura, linguagem e identidade. Este capítulo está fundamentado em Cuche (2002), Laraia (2005), Canclini (2011), Moita Lopes (1998, 2002, 2003, 2008), Hall (2005), Bakhtin; Volochinov, (1992), Maher, (1998) Cavalcanti (1999), Pereira (2001), dentre outros pesquisadores.

No Capítulo IV – Representações do Outro – identidades cambiantes – exponho como as representações são construídas pelo olhar do outro, trazendo, para análises, registros de

(34)

campo. A base deste capítulo está, especialmente, nos seguintes pesquisadores, Hall (2005), Moita Lopes (2002), Bauman (2005) e Silva (2009).

Por sua vez, no Capítulo V – Língua, linguagem e identidade – reflito sobre o papel da língua na constituição das identidades sociais e, diante dessa reflexão, apresento como é representada a pluralidade linguística e cultural, tanto no contexto escolar como no seu entorno social, por paraguaios e imigrantes brasileiros. Mostro, também, como ocorre a identificação de imigrantes e seus filhos diante do processo de hibridação, o qual acaba gerando conflitos. Exponho como a língua, ao mesmo tempo, une, exclui estabelece grupos e relações de poder. Fundamento este capítulo em Maher (1998), Bakhtin; Volochinov (1992), Rajagopalan (1998), Chnaiderman (1998) e Cesar e Cavalcanti (2007), dentre outros

Por fim, são apresentadas as considerações, as quais abarcaram reflexões que emergiram da relação entre a teoria utilizada no trabalho e a análise realizada.

(35)

CAPÍTULO I

ABORDAGEM METODOLÓGICA E CENÁRIO DA PESQUISA

Neste capítulo, tecerei reflexões sobre a metodologia que fundamenta esta investigação. Assim, na primeira parte da seção, assinalo que o estudo desenvolvido se insere na categoria de pesquisa etnográfica qualitativa/interpretativista e se afilia à área da Linguística Aplicada, a qual propõe que o pesquisador estude os problemas sociais em que a linguagem ocupa um lugar central, estabelecendo diálogo com as diferentes disciplinas que atravessam o campo das ciências sociais e das humanidades.

Na continuidade, apresento os instrumentos utilizados para a geração de registros e reflito, posteriormente, a respeito da importância da ética na pesquisa qualitativa, já que este tipo de pesquisa lida com a história de vida de pessoas. Esclareço, também, que a história não pode ser desrespeitada e tratada como se fossem meros dados, pois constituem a vida vivida e o cotidiano dos participantes e, portanto, significa um conteúdo que requer ponderação, sensibilidade e responsabilidade ética. Para essas discussões, fundamento o capítulo nos estudos de Moita Lopes (1998, 2002, 2003, 2008), Denzin e Lincoln (2006), Christians (2006), Bortoni-Ricardo (2008), Flick (2009), Silverman (2009), dentre outras referências que orientam como deve agir o pesquisador e estabelecem os princípios que envolvem a pesquisa social.

1.1 A PESQUISA ETNOGRÁFICA QUALITATIVA/INTERPRETATIVISTA

Esta pesquisa, qualitativa/interpretativista, segue orientações da etnografia e se situa na área da Linguística Aplicada (LA), que, a seu turno, propõe um rompimento com as fronteiras e com os limites disciplinares, permitindo o diálogo entre as várias áreas do conhecimento, tais como a Antropologia, a Sociologia e as Ciências Sociais, uma vez que a investigação se centra no contexto aplicado, ou seja, em situações que atravessam outras áreas do conhecimento e envolvem o cotidiano das pessoas, o local em que vivem e agem, considerando as mudanças que cercam a vida social, cultural e histórica que elas experienciam. Além do caráter interdisciplinar, próprio da LA, há, também, a preocupação com questões sócio-históricas que envolvem o outro e que podem provocar injustiças sociais. Por essa razão, amparo-me em uma LA indisciplinar (MOITA LOPES1998, 2002), que questiona o sujeito social visto como homogêneo, uma vez que, dessa tentativa de homogeneizar, surgem, do ponto de vista dos atravessamentos identitários, o silenciamento, o apagamento de histórias,

Referências

Documentos relacionados

[r]

Investigação sobre os métodos de previsão de pressão de poros em folhelhos e uma aplicação de uma abordagem probabilística / Julio César Laredo Reyna; orientador: Sérgio A..

Partindo da noção de língua e funcionamento da língua tal como concebidos aqui, surge, como hipótese forte, a suposição de que as diferenças entre fala e escrita podem

Tendo em vista o importante papel que a praça exerce na cidade e a diversidade de usos e valores que a mesma apresenta ao longo do tempo, foi selecionada como objeto de estudo

Teor de água (TA), germinação (G) e massa de mil sementes (MM), resultados das análises iniciais antes do armazenamento, superação da dormência com frio, três e seis meses

A Instrução Normativa nº 503, de 02/02/05, DOU de 03/02/05, da Secretaria da Receita Federal, aprovou o programa gerador e as instruções para preenchimento da Declaração de Débitos

Neste presente estudo foi aplicado um questionário sobre a aceitação de um dos seus detergentes comparado a dois concorrentes utilizando a escala ideal , além

Junto a este dinamismo surge uma busca de autonomia (linguística) de uma língua em relação a outra e também por este motivo é importante refletir sobre o porquê e quais