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NEGÓCIO JURÍDICO ANULAÇÃO INCAPACIDADE ACIDENTAL

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 3308/16.0T8PDL.L1-7 Relator: LUÍS FILIPE PIRES DE SOUSA Sessão: 10 Novembro 2020

Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO

Decisão: PARCIALMENTE PROCEDENTE

NEGÓCIO JURÍDICO ANULAÇÃO INCAPACIDADE ACIDENTAL NOTÁRIO DEVER DE RECUSA DE CELEBRAÇÃO

Sumário

I. Tendo sido as declarações de parte do 1º Réu dominadas por detalhes

oportunistas em seu favor, procurando o 1º Réu, sistematicamente, justificar a respetiva conduta e enaltecer o seu trabalho em prol do autor, tal

centralização nestes detalhes constitui um preditor de falta de objetividade das declarações.

II. Acionam o indício Insidia, atinente à incapacidade acidental do outorgante autor, as seguintes circunstâncias: o autor ficou acamado, com paralisia do lado direito, totalmente dependente da assistência de terceiros; quem privava, diariamente e durante muito tempo (muito mais do que com a filha), com o autor, mesmo alimentando-o, era o 2º Réu, o qual trabalhava para o autor há muitos anos, sendo também motorista do autor desde o AVC; nos últimos dois anos que antecederam a morte do autor, os réus eram presença habitual na residência do autor, acompanhando-o diariamente, conhecendo os seus

problemas de saúde; os réus levaram o autor várias vezes a Cartório Notarial para outorgar, com assinatura a rogo, vários atos de valor elevado cujos beneficiários foram sempre os réus, sendo estes que escolheram as testemunhas quando necessárias.

III. Entre as sequelas de um AVC avultam: problemas de discurso, perda de controlo emocional, mudanças de humor, perda de memoria e de bom senso, diminuição da capacidade de cálculo e dificuldade de resolução de problemas. IV. Num contexto em que o outorgante em testamento e outros atos notariais padece de doença que, no plano clínico e cientifico, implica a deterioração

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progressiva das condições de perceção, compreensão, raciocínio, gestão dos atos quotidianos e da sua vivência existencial, aptidões de pensamento

abstrato e concreto, discernimento das opções comportamentais básicas e fatores de funcionamento das relações interpessoais e sociais, incumbe ao peticionante da anulabilidade dos atos jurídicos praticados pelo outorgante “provar o estado de morbidez de que o declarante é padecente, por ser

previsível, à luz da ciência e da experiência comum, que este tipo de situações não se compatibilizam com períodos de lucidez ou compreensão (normal) das situações vivenciais”. Ao Réu, que pugne pela validade de tais atos, cabe

provar factos extintivos do direito invocado, nomeadamente que o outorgante/ testador, no momento da outorga, se encontrava num “intervalo lúcido” do seu estado de demência.

V. O notário deve recusar a prática de atos sempre e que tenha dúvidas sobre a integridade das faculdades mentais dos participantes, salvo se no ato

intervierem, a seu pedido ou a instância dos outorgantes, dois peritos médicos que, sob juramento ou compromisso de honra, abonem a sanidade mental daqueles (Artigo 11º, nº2, al. b), do Estatuto do Notariado).

VI. Deverá a Ordem dos Notários apreciar a conduta do Sr. Notário ocorrida neste contexto: comparência do autor nos dias 18.12.2015, 5.1.2016, 8.1.2016, 3.2.2016 e 24.2.2016 no Cartório Notarial, sempre em cadeira de rodas,

paralisado do lado direito, com dificuldades na fala, sempre acompanhado dos Réus, outorgando em vários atos que tiveram sempre como beneficiários os Réus, com assinatura a rogo; o Sr. Notário, no âmbito do seu depoimento, foi o próprio a afirmar que, várias vezes, “achei que não seria uma coisa natural o tipo de escritura que estava a ser feita”, razão pela qual perguntou ao autor – perante essa anormalidade em termos de conteúdo, sobretudo pelos valores elevados (v.g., reconhecimento de dívida de quatro milhões de euros ) – se era aquela a sua vontade, tendo o autor sempre respondido que “sim”; “Não posso responder em termos clínicos” qual era a situação do autor.

Texto Integral

Acordam os Juízes na 7ª Secção do Tribunal da Relação de Lisboa:

RELATÓRIO

BB, representado pelo seu curador provisório II, intentou ação declarativa comum contra CC, atualmente com domicílio no estabelecimento prisional de (...) e EE, peticionando que se declare a anulabilidade de onze negócios

jurídicos celebrados a favor dos Réus, com fundamento em incapacidade acidental ou, subsidiariamente, em usura.

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Para tanto alega que, entre dezembro de 2015 e fevereiro de 2016, praticou onze negócios jurídicos, beneficiando o 1º Réu num valor não inferior a 1 200 000,00€ e o segundo Réu num valor não inferior a 8 000 000,00€. No entanto, desde março de 2014, e por força de um acidente vascular cerebral, que

deixou de controlar o seu património, tendo vindo a ser declarado inabilitado por decisão judicial, com efeitos desde 10 de julho de 2015. Assim, e uma vez que os Réus bem sabiam que não apresentava a capacidade necessária para querer e entender os negócios que o convenceram a celebrar, aproveitando-se da sua vulnerabilidade em proveito próprio, deve ser declarada a

anulabilidade de tais negócios jurídicos.

Apenas contestou o 1º Réu, alegando que a alienação gratuita do património do Autor resultou da sua livre vontade, querendo deixar os seus bens a quem entendeu ser merecedor dos mesmos.

Atento o óbito do Autor, foram habilitados, em substituição daquele, os seus filhos FF, GG e DD.

Tendo DD falecido no decurso do presente processo, foi habilitada, em sua substituição, HH.

Após julgamento, foi proferida sentençaque julgou a ação procedente, declarando a anulação dos negócios jurídicos enunciados sob a) a k) do dispositivo.

*

Não se conformando com a decisão, dela apelou o 1º Réu, formulando, no final das suas alegações, as seguintes:

«CONCLUSÕES:

DA ILEGITIMIDADE DO CURADOR PROVISÓRIO PARA A PROPOSITURA DA PRESENTE ACÇÃO Da nulidade da sentença recorrida

Da impugnação da matéria de facto dada por provada nos pontos 28 e 36 dos factos provados

1a) A presente ação foi instaurada em 13 de dezembro de 2016 (cf. pi) por BB, representado por II, na qualidade de curador provisório nomeado por decisão judicial - cf. factos 26 a 30 da sentença recorrida, que aqui se dão por

reproduzidos para todos os efeitos legais. Com efeito

2a) Este curador provisório terá sido nomeado no âmbito do processo n° (...) nos termos e ao abrigo das disposições conjugadas dos arts. 900°, n° 1 do CPC (na redação anterior à Lei n° 49/2018 de 14 de agosto) e do art. 142°, n° 1 do Código Civil

3a) Norma esta nos termos da qual " em qualquer altura do processo pode ser nomeado um tutor provisório que celebre em nome do interditando, com

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Acresce que

4a) Nos termos e ao abrigo do disposto no art. 1938°, n° 1, alínea e) do Código Civil, para o qual remete o art. 139° do mesmo diploma legal, para intentar ações, salvas as destinadas à cobrança de prestações periódicas e aquelas cuja demora possa causar prejuízo, necessita o tutor de autorização do tribunal. Sucede desde logo que

5a) Salvo melhor entendimento a prova do facto assente no ponto 28, atendo o disposto no art. 364°, n° 1 do Código Civil, apenas poderia resultar de

documento autêntico - a saber, certidão do despacho judicial de nomeação daquele como curador provisório do Autor -, que não se encontra junto aos autos.

6a) Termos em que, desde logo, se deverá ter por NÃO PROVADA a factualidade constante do ponto 28 da sentença recorrida, sob pena de violação do disposto no art. 364°, n° 1 do Código Civil.

Sem conceder

7a) ainda que se tenha por provada toda a factualidade constante dos pontos 26 a 30 da sentença recorrida, da mesma não resulta nem a DATA DA

NOMEAÇÃO de II como curador provisório do Autor, nem o ÂMBITO DA CURATELA (isto é, qual a extensão dos poderes que, no âmbito do suprarreferido processo, lhe terão sido reconhecidos).

8a) Encontra-se, consequentemente, por demonstrar a legitimidade daquele curador para a propositura para a presente ação, em 13 de Dezembro de 2016.

9a) Ao reconhecer legitimidade a II, para, na qualidade de curador provisório do Autor, intentar a presente ação - o que aquele fez em 13 de dezembro de 2016 -, sem que se encontre apurado em que data ocorreu (terá ocorrido) tal nomeação, incorre a douta sentença recorrida numa nulidade, a qual

expressamente e para todos os efeitos aqui se invoca, nos termos e ao abrigo do disposto no art. 615°, n°1, alíneas b) e d) do Código de Processo Civil. Por outro lado

10a) Desconhecendo-se, de igual modo, o ÂMBITO DA CURATELA, encontra-se por demonstrar que aquele curador provisório tivesencontra-se obtido a necessária autorização do tribunal para a propositura da presente ação, (cf. art. 1938°, n° 1, alínea e) do Código Civil).

11a) Termos em que, também aqui, ao reconhecer legitimidade a II, para, na qualidade de curador provisório do Autor, intentar a presente ação, sem que se encontre apurado o âmbito da curatela e sem que se encontre demonstrada a existência da necessária autorização do tribunal para o efeito, incorre a douta sentença recorrida numa nulidade, a qual expressamente e para todos os efeitos aqui se invoca, nos termos e ao abrigo do disposto no art. 615°, n°1,

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alíneas b) e d) do Código de Processo Civil.

12a) Numa eventual tentativa de ultrapassar estas dificuldades

-desconhecimento quanto ao âmbito da curatela e inexistência de autorização do tribunal para a propositura da presente ação - dá o Tribunal a quo por provado quanto vem no ponto 36 dos factos provados, isto é que " o primeiro Réu intentou ação executiva contra o Autor para pagamento de quantia certa, a correr termos neste tribunal sob o n° (...), sendo título executivo a confissão de dívida mencionada em 11 ".

13a) Deste modo, e no entender da sentença recorrida, ficariam ultrapassados aqueles obstáculos, pois que tal factualidade seria suficiente para configurar a situação de exceção prevista na parte final da alínea e) do n° 1 do art. 1938° do Código Civil, ou seja, seria suficiente para que se desse por assente ser a presente ação uma daquelas “cuja demora possa causar prejuízo Acontece, porém que

14a) Não se vê como se possa ter tal factualidade como assente. De facto

15a) A propósito da matéria de facto dada por provada no ponto 36 da sentença recorrida, afirma o Mui Digno Magistrado da Primeira Instância o seguinte:

" Assim, desde logo e no que respeita aos factos 1° a 36° já se mostravam assentes desde a audiência prévia, conforme consta da respetiva ata, sendo que o Tribunal não deixou de analisar o longo acervo documental,

nomeadamente as certidões prediais e todos os atos praticados pelo Autor no Cartório Notarial " (negrito e sublinhados nossos)

Ora

16a) a matéria de facto dada por provada no ponto 36 da sentença recorrida encontra-se alega pelo Autor nos artigos 187° e 188° da sua petição inicial. Acontece que

17a) Compulsada a ata de audiência prévia realizada no dia 12 deNovembro de 2018 facilmente se constata que a factualidade vertida para o ponto 36 da sentença recorrida - decorrente, portanto, da factualidade alegada pelo Autor nos artigos 187° e 188° da petição inicial - não consta do rol dos factos ali dados por assentes, na alínea b), nem, aliás, de qualquer documento cujo teor ali se dê por reproduzido.

18a) Não se encontrando a prova dessa factualidade suportada em qualquer outro meio probatório, deixa-se aqui expressamente impugnada a decisão sobre a mesma, nos termos e para os efeitos do disposto no art. 640°, n° 1, alínea a) do Código de Processo Civil, devendo a mesma ser dada por não provada, com as legais consequências.

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19a) Ainda que se aceite ter resultado provada a factualidade constante do ponto 36 da sentença recorrida, a mesma - salvo o devido respeito por melhor entendimento - sempre seria insuficiente para preencher os pressupostos de aplicabilidade, in casu, do disposto na alínea e), in fine do art. 1938°, n° 1 do Código Civil.

Isto é

20a) Não tendo o curador provisório logrado obter junto do Tribunal competente autorização para a propositura da presente ação - podendo e devendo tê-lo feito - e não se destinando a mesma à cobrança de quaisquer prestações periódicas, cabia-lhe a ele, Autor, alegar e provar que a demora na instauração da mesma poderia causar prejuízo ao pupilo - o que, salvo melhor entendimento, não fez.

21a) Em cumprimento do disposto no art. 1940°, n° 3 do Código Civil, deveria, assim, o tribunal recorrido, ter ordenado oficiosamente a suspensão da

instância, depois da citação, até que fosse concedida ao curador a autorização necessária.

22a) Termos em que, procedendo de forma diversa violou o Douto Tribunal recorrido o disposto nas disposições conjugadas dos arts. 1938°, n°1, alínea e) e 1940, n° 3, ambas do Código Civil.

DA INCAPACIDADE ACIDENTAL

23a) Atenta a data da prática dos atos cuja anulação declara - muito anterior à da publicitação do processo de interdição - invoca-se na sentença recorrida, como fundamento para tal anulação, o instituto da incapacidade acidental, previsto e regulado no art. 257° do Código Civil.

Acontece que

24a) Pela presente ação se solicita e é declarada a anulação não de um, não de dois, não de três, mas de DOZE NEGÓCIOS JURÍDICOS consubstanciados em outras tantas DECLARAÇÕES NEGOCIAIS, celebrados e manifestadas pelo Autor em SETE MOMENTOS TEMPORAIS absolutamente distintos.

25a) A saber, e por ordem cronológica:

- em 10 de Julho de 2015, a doação do veículo automóvel da marca Mercedes, de matrícula (...), a que se alude na alínea k) da decisão recorrida;

- em 18 de Dezembro de 2015, a escritura pública de doação e o testamento público a que se alude nas alíneas a) e f), respectivamente, da decisão

recorrida;

- Em 28 de Dezembro de 2015, a doação do veículo automóvel da marca Mercedes, de matrícula (...), a que se alude na alínea k) da decisão recorrida; - em 5 de janeiro de 2016, as escrituras públicas de confissão de dívida a que se alude nas alíneas c) e g) da decisão recorrida;

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alínea d) da decisão recorrida;

- em 3 de fevereiro de 2016, as procurações a que se alude nas alíneas b), e) e h) da decisão recorrida;

- em 24 de fevereiro de 2016, as escrituras públicas de constituição de hipotecas a que se alude nas alíneas i) e j) da decisão recorrida;

26a ) Todos os negócios jurídicos acima elencados, são, portanto, anulados nos termos da decisão recorrida, em função da incapacidade acidental do

declarante, aqui Autor. Ora

27a ) Compulsada a factualidade dada por assente na douta sentença recorrida, designadamente a que consta dos pontos 42 a 56 e 60 a 64, facilmente se constata que da mesma não resultam verificados os pressupostos da incapacidade acidental.

Clarificando

28a ) Não se dá por assente na sentença recorrida que, especificadamente e em relação a cada um dos seguintes dias, 10 de julho de 2015, 18 de

dezembro de 2015, 28 de dezembro de 2015, 5 de janeiro de 2016, 8 de janeiro de 2016, 3 de Fevereiro de 2016, o Autor, declarante nos negócios jurídicos nessas datas praticados, não se encontrava lúcido, ou seja, que, em cada um desses momentos temporais, o Autor se encontrava incapaz de

entender o sentido de cada uma das declarações negociais que fez, entre Julho de 2015 e Fevereiro de 2016, não se dando de igual modo por provado, por referência a cada uma dessas datas e negócios jurídicos que tal ( eventual ) incapacidade fosse notória ou conhecida dos declaratários, o que podia e devia ter feito.

29a) Incorre, deste modo, a sentença recorrida nas nulidades previstas no art. 615°, n° 1, alíneas b), c) e d), nulidades estas que, expressamente e para todos os efeitos legais aqui se deixam expressamente arguidas.

De todo o modo

30a) Decidindo da forma como o fez, violou o Meritíssimo Juiz a quo - rectius, a sentença recorrida - o disposto no art. 257° do Código Civil.

Concretizando

31 a ) Nos pontos 55 e 56 dos factos provados dá-se apenas por assente, respetivamente, que:

- o Autor não se encontrava capaz de entender o significado das confissões de dívida e das hipotecas que celebrou;

- tal como não tinha capacidade para compreender o significado das procurações que outorgou e dos poderes que nela conferia aos Réus; ( negrito e sublinhados nossos )

(8)

32a) Da sentença recorrida não resulta, assim, provado que tal acontecesse relativamente aos demais atos e negócios jurídicos, de igual modo por si praticados, mormente doações e testamento.

A saber

33a ) Não resulta provada da sentença recorrida que, no momento da prática dos seguintes atos e negócios jurídicos o Autor se encontrasse incapaz de entender o significado dos mesmos:

- doação do veículo automóvel em 10 de julho de 2015, a que se alude na alínea k) da sentença recorrida;

- doação outorgada em 18 de dezembro de 2015, a que se alude na alínea a) da sentença recorrida;

- testamento celebrado em 18 de dezembro de 2015, a que se alude na alínea f) da sentença recorrida;

- doação de um outro veículo automóvel em 28 de dezembro de 2015, a que se alude na alínea k) da sentença recorrida;

- doação celebrada em 8 de janeiro de 2015, a que se alude na alínea d) da sentença recorrida;

34a) Termos em que não podiam ter sido anulados estes negócios, designadamente o testamento e as doações outorgadas pelo Autor.

35a ) Ao declarar a anulação dos atos e negócios jurídicos elencados nas alíneas k), a), f) e d) violou a douta sentença recorrida o disposto no art. 257° do Código Civil.

Das designadas doações dos veículos automóveis

36a ) Nos pontos 21 e 22 dos factos provados dá-se por assente que:

- a 10/07/2015 foi registada em nome o 2° Réu a viatura da marca mercedes, com a matrícula (...), propriedade do autor;

- a 28/12/2015 foi registada em nome do 2° Réu a viatura da marca Mercedes, com a matrícula (...) ;

37a) Desta factualidade - e apenas esta resulta provada, no que toca aos referidos veículos automóveis - conclui o Tribunal a quo estar-se na presença de duas doações, para, na alínea k) da decisão recorrida, proceder à respetiva anulação.

Sucede que

38a) a doação é um contrato típico nos termos do qual " uma pessoa, por espírito de liberalidade e à custa do seu património, dispõe gratuitamente de uma coisa ou de um direito, ou assume uma obrigação, em benefício do outro contraente " - cf. art. 940°, n° 1 do Código Civil.

39a ) Não se encontrando demonstrado nos autos que o Autor dispôs

gratuitamente daqueles veículos automóveis, por espírito de liberalidade e à custa do seu património, não poderia o Tribunal a quo ter dado como assente,

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primeiro, que os registos a que se alude nos pontos 21 e 22 dos factos

provados refletissem um contrato de doação; não podendo de igual modo, e consequentemente, declarar a sua anulação.

40a) Trata-se, pois, de uma conclusão - de uma ilação, se quisermos - falha das indispensáveis premissas.

41a) Ao declarar a anulação daquilo que designa como doações na alínea k) da sentença recorrida violou o Tribunal a quo o disposto no art. 940, n° 1 do Código Civil.

DA IMPUGNAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO

42a ) Acima deixou-se já impugnada, pelas razões e com os fundamentos ali expostos, a decisão quanto aos pontos 28 e 36 da matéria de facto, os quais, no entender do Apelante, deverão agora ser considerados não provados. Acontece que

43a ) Na alínea b) dos Factos Não Provados, dá o Tribunal a quo por não provado que:

- o Autor não queria deixar nada aos seus filhos

Sucede que 44a ) Impõe decisão em sentido oposto o auto de inquirição de fls., junto aos autos pelo Réu, aqui Apelante, em sede de audiência de

julgamento, cujo teor se transcreve supra e aqui se dá por inteiramente reproduzido, para todos os efeitos legais.

Na verdade

45a) É o próprio Autor que afirma pretender deixar os seus bens aos aqui RR., e não aos seus filhos, em declarações por ele mesmo prestadas no dia 16 de Junho de 2016, no âmbito do processo de inquérito n° 1471/16.9T9PDL da 7a Secção do DIAP de (...), perante a Mui Ilustre Magistrada do Ministério

Público, Dra. (…) , na presença ainda do oficial de justiça, PP, o que fez na qualidade de testemunha, para tanto tendo prestado o necessário juramento, sem que aquela se tenha apercebido de qualquer incapacidade, por parte do Autor, de entender o significado das declarações, que, à data, quis prestar e prestou.

46a) De tais declarações, prestadas pelo Autor em 16 de junho de 2016 perante uma autoridade judiciária resulta claríssimo que, à data, o mesmo: a) manifestou a sua vontade instituir seu herdeiro pessoa que identificou como o mestre António, sendo este quem cuidava de si e lhe prestava diversos

serviços no hotel;

b) identificou os bens que integrariam tal herança - dois imóveis -, sendo um deles um hotel;

c) sabia o valor deste bem imóvel: 4 (quatro) milhões de euros;

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sentido;

e) sabia ter efetuado ao Dr. CC, réu, aqui apelante uma doação; f) sabia que tal doação tinha por objeto dois imóveis;

g) sabia que contra ele corria um processo de inabilitação cuja iniciativa havia partido dos seus filhos;

h) era sua convicção que tal processo teria sido intentado contra si por não quererem os seus putativos herdeiros (os seus filhos) que um terceiro ficasse com o hotel;

i) explicou a razão de ser do testamento ao mestre António e da doação ao Dr. CC: o desapontamento que sentia relativamente aos seus filhos que “não querem saber do depoente para nada e já nem o visitam à (sic) mais de dois anos

47a ) Termos em que devia o Tribunal a quo ter dado por provado e deverá agora o Tribunal ad quem dar por provado, com as legais consequências que o Autor não queria deixar nada aos seus filhos, impondo decisão nesse sentido o aludido depoimento prestado pelo mesmo no âmbito do processo de inquérito n° 1471/16.9T9PDL da 7a Secção do DIAP, na qualidade de testemunha, sob juramento e perante autoridade judiciária, constante de fls. 472/473 dos presentes autos, que aqui se dá por reproduzido para todos os efeitos legais. 48a) Deu o Tribunal a quo por provado, no ponto 59 da factualidade assente que:

- o 1° Réu representou o Autor, na qualidade de advogado, em diversos processos judiciais, tendo sido pago pelos serviços prestados.

49a) Justificou a sua decisão quanto a este último segmento de frase - que aqui se coloca em crise - afirmando a fls. 17 da sentença recorrida que:

“já o facto 59 resultou da listagem de processos onde o 1° Réu consta como mandatário do Autor, sendo certo que, presumindo-se o mandato oneroso, e não tendo o Réu, nas suas declarações, mencionado qualquer dívida, nem apresentado quaisquer faturas por pagar, apenas poderíamos considerar tais serviços como pagos “.

50a) Conclusão absolutamente destituída de fundamento - salvo o devido respeito por diferente entendimento.

Assim

51a) É indiscutível que o aqui apelante é advogado de profissão, sendo

igualmente inquestionável que, no exercício da sua profissão, o aqui apelante patrocinou o Autor em diversos processos, cuja listagem consta de fls. 419 e aqui se dá por reproduzida para todos os efeitos.

52a ) É, de igual modo, incontestado que o mandato forense, se presume oneroso ( art. 1158, n° 1 do Código Civil).

(11)

53a) Daí a poderem-se considerar pagos os serviços prestados pelo Réu, aqui Apelante, ao Autor, vai um salto lógico inultrapassável.

Com efeito

54a) Presumindo-se o mandato forense oneroso (cf. art. 1158°, n° 1 do Código Civil), e alegando o Réu a falta de pagamento por parte do Autor dos

honorários devidos pelo exercício desse mandato, então, atentas as regras de repartição do ónus da prova (cf. art. 342° e seguinte do Código Civil), caberia ao Autor fazer a prova desse pagamento.

55a) Decidindo de forma diversa violou a decisão recorrida as disposições conjugadas dos arts. 1158°, n° 1 e 324° e seguintes do Código Civil.

56a) Termos em que deverá ser retificada a decisão sobre o ponto 59 da matéria de facto, eliminando-se do mesmo a referência ao facto do aqui Apelante ter sido pago pelo serviços por si prestados ao Autor.

57a) Nos pontos 46 a 52 da matéria de facto, depois de, nos pontos 43 a 45 aludir ao acidente vascular cerebral sofrido pelo autor em Março de 2014, dá o tribunal a quo por provado que o mesmo:

- não conseguia manter uma linha de raciocínio adequada a uma pessoa da sua idade, tanto afirmando uma coisa, como, logo de seguida, o seu contrário

(ponto 46);

- denotava severas falhas de memória, tanto recente como remota (ponto 47); - mostrava-se esquecido dos seus afazeres e compromissos;

- padecia, por vezes, e durante longas horas, de uma profunda apatia, abatimento e inatividade, numa atitude de indiferença;

- deixou de controlar a gestão do seu património, nomeadamente o

arrendamento dos seus espaços, o pagamento das rendas e o destino das mesmas;

- ficou a desconhecer o valor real do dinheiro, bem como o seu património; - deixou de proceder à regularização das suas responsabilidades legais; Ora

58a) Tais afirmações, mormente as que constam dos pontos 46 e 47 acima reproduzidos, são desmentidas pelo depoimento da Dra. AM, prestado em audiência de julgamento do dia 12 de Junho de 2019, o qual se encontra gravado no sistema em utilização nos tribunais, de 14:43:41 a 15:08:47, mais exatamente no ficheiro áudio 20190612144339 12101674 2870234.wma, e cujos trechos mais relevantes se transcrevem supra, no ponto 110 da presente peça processual e que aqui se dão por reproduzidos para todos os efeitos legais - o qual impõe decisão em sentido contrário, que deverá agora ser proferida pelo Tribunal ad quem, com as legais consequências.

De facto

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Hospital do Divino Espírito Santo, ter prestado cuidados médicos ao Autor, após o referido AVC, tanto neste hospital, como na Clínica do (...), como ainda no seu consultório médico, já após a saída daquele desta clínica e do seu regresso a casa, aí afirmando que o autor, após o AVC, pese embora as

sequelas físicas, mormente as suas dificuldades de locomoção e dificuldades na fala, mantinha o seu sentido crítico, conseguindo manifestar a sua vontade, interagindo com a mesma, fazendo escolhas, tomando decisões, não se

encontrando em processo demencial de evolução rápida. Sucede ainda que

60a) Dá o Tribunal a quo por provada a factualidade supra, bem como a dos pontos 54, 55, 56 da sentença recorrida, essencialmente com base no

depoimento da Dra. RM, médica psiquiatra, prestado em audiência de julgamento do dia 27 de fevereiro de 2019, o qual se encontra gravado no sistema áudio em utilização nos tribunais, de 15:41:04 a 16:14:06, bem como no dito “relatório pericial “pela mesma elaborado, o qual consiste no

documento n° 38 junto com a petição inicial. Acontece desde logo que

61 a) Pese embora apelidado por diversas vezes de relatório pericial, este documento não tem esse valor.

62a) Com efeito, tal “relatório “não resultou de qualquer exame pericial solicitado e realizado no âmbito da presente ação, tendo sido solicitado, realizado e junto aos autos de interdição do Autor (o processo n° (...), melhor identificado no ponto 26 da sentença recorrida).

Sucede que

63a) Nos termos e ao abrigo do disposto no n° 1 do art. 421° do Código de Processo Civil, " os depoimentos e perícias produzidos num processo com audiência contraditória da parte podem ser invocados noutro processo contra a mesma parte, sem prejuízo do disposto no n° 3 do art. 355° do Código Civil ".

Ora

64a) Nos presentes e nos referidos autos de inabilitação n° (...) mencionado no ponto 26 dos factos provados as partes não são as mesmas, não sendo partes naqueles autos os aqui RR., CC, ora Recorrente e José Coelho, não tendo havido ali audiência contraditória dos mesmos, nem podendo aqui ser tal relatório pericial invocado contra estes RR.

65a) Ao valor como relatório pericial, o aludido documento, violou o Tribunal recorrido o disposto no art. 421°, n° 1 do Código de Processo Civil.

66a) Quanto ao depoimento da Dra. RM, decorre do mesmo, conjugado com o teor do doc. 38 da pi, que o primeiro e único contacto que esta médica teve com o Autor aconteceu no dia 12 de outubro de 2016, aquando da sua

(13)

avaliação realizada em audiência, no Tribunal de (...) Assim

67a) Entre o último dos negócios praticados pelo Autor e o exame às

faculdades mentais do mesmo levado a cabo pela Dra. RM decorreram cerca de 8 (oito) meses, tendo decorrido cerca de 10 (dez) meses entre os primeiros negócios pelo mesmo praticados e o dito exame (!!!). Acresce que

68a) De acordo com as conclusões desta testemunha, vertidas para o dito documento, o examinado sofreria de demência já desde 2010, data a que reporta o início da sua incapacidade, proferindo parecer no sentido de ser determinada a sua interdição com efeitos reportados aquela data - o que vem a acontecer, nos termos da factualidade provada no ponto 30 da sentença recorrida. Sucede que

69a) Esta conclusão e subsequente decisão são contrariadas por diversos elementos constantes dos autos, designadamente de vários negócios praticados pelo Autor, durante os anos de 2010 e de 2011, em Cartório

Notarial - melhor identificados supra, nos pontos 126 a 128 da presente peça processual - sem que a sua validade tivesse sido questionada por qualquer dos intervenientes/beneficiários, mormente pelos filhos do Autor, aqui habilitados e ali outorgantes.

Diga-se por último, que

70a) Como já salientado supra, no dia 16 de junho de 2016 - cerca de 4 (quatro meses) após a prática do último daqueles atos notariais - o Autor, na qualidade de testemunha, prestou pessoalmente declarações - coerentes, lúcidas, claras - perante magistrado do Ministério Público, no âmbito do já referido processo de inquérito n° 1471/16.9T9PDL da 7a Secção do DIAP de (...).

71a ) De onde não poder o Tribunal a quo ter dado como provado quanto consta dos pontos 54, 55 e 56, devendo agora o Tribunal ad quem alterar tal decisão em sede de matéria de facto, com as legais consequências.

72a) impõe decisão diversa não apenas o depoimento já acima mencionado da Dra. AM, como, decisivamente, o depoimento do Dr. JC, Notário em (...),

perante quem foram praticados os atos agora anulados, prestado em audiência de julgamento do dia 12 de junho de 2016, o qual se encontra gravado no sistema em utilização nos tribunais, de 12:49:52 a 13:10:57, mais exatamente no ficheiro áudio 20190612124951_1210674_2870234.wma, cujos trechos mais relevantes se transcrevem supra e que aqui se dão por reproduzidos, para todos os efeitos legais.

73a) Mais impunham que não se tivessem dados por provados tais factos os depoimentos prestados pelas testemunhas ASM e MAFSA, prestados ambos em audiência de julgamento de 12 de Junho de 2019, os quais se encontram de

(14)

igual modo gravados no sistema áudio em utilização nos tribunais, mais exatamente e respetivamente, nos ficheiros áudio

201906121213939_12101674_2870234.wma e

2019061212020842_12101674_2870234.wma - que aqui se dão por

reproduzidos para todos os efeitos legais - mormente os concreto trechos que supra se deixam transcritos.

Com efeito

74a) As testemunhas acima referenciadas foram as testemunhas do

testamento celebrado pelo Autor no dia 18 de dezembro de 2015, a que se alude no ponto 15 dos factos provados - cf. doc. 23 da petição inicial -, sendo que nesse mesmo dia 18 de dezembro de 2015, e em ato contínuo, outorgou o Autor também na escritura de doação a que se alude no ponto 9 dos factos provados - cf.- doc. 10 da petição inicial.

Ora

75a) Pese embora nos pontos 54, 55, 56 dos factos provados não se aluda especificamente nem ao testamento nem à doação - como acima já se deixou salientado como decorre do depoimento do Notário JC já transcrito supra -e, bem assim, do depoimento destas duas testemunhas, de igual modo acima transcritos, no dia 18 de Dezembro de 2015 o Autor encontrava-se

perfeitamente capaz de entender o significado dos atos que então praticou, apresentando a necessária capacidade para querer e entender esses mesmos atos, a saber: tanto o testamento de fls., como a doação de fls.

76a) Termos em que não poderia o Tribunal a quo ter dado tal factualidade, bem como a das pontos 61 e 63 da matéria de facto assente como provados, impondo decisão de sentido contrário os supra transcritos trechos - que aqui se dão por reproduzidos -, das testemunhas JC, AMS e MAFSA, dos mesmos resultando de forma hialina encontrar-se o Autor perfeitamente capaz de entender e de expressar a sua vontade, designadamente no dia 18 de

Dezembro de 2015, aquando da celebração do testamento a favor do 2° R. e da outorga da doação a favor do 1° R., aqui Recorrente.

77a) Termos em que deverão aqueles pontos da matéria de facto ser dados por não provados, com as legais consequências.

Por último

78a) Dá o Tribunal a quo por provada a matéria de facto constante dos pontos 60 a 64 da sentença recorrida.

79a) Para tanto, começa o Tribunal de primeira instância por afirmar - no que está correto - que o ponto 60 da matéria de facto foi admitido por acordo em sede de audiência prévia.

80a) Desse ponto 60 da matéria de facto consta que:

(15)

que antecederam a morte dês, acompanhando-o diariamente, conhecendo os seus problemas de saúde

81 a) Deste facto retira o Tribunal a quo a ilação de que foi esta presença constante dos RR. aliada com o estado de debilidade física e mental do Autor que o levaram a praticar os negócios em causa na presente ação, motivo pelo qual dá de seguida por provada a factualidade constante dos pontos 61° a 64° da matéria de facto (cf. pág. 17, in fine, da sentença recorrida).

82a) Partindo, então da premissa que consiste na factualidade dada por assente no ponto 60 da matéria de facto conclui o Tribunal a quo no sentido vertido para os pontos 61 a 64, no que se nos afigura um enorme e inaceitável salto lógico.

Isto é

83a) Não há qualquer raciocínio lógico de onde se possa necessariamente inferir a factualidade dada por assente nos pontos 61 a 64 da sentença

recorrida, partindo apenas da factualidade dada como provada, constante do ponto 60.

84a) Termos em que, também por esta razão, se deverão dar por não provados os pontos 61 a 64 da matéria de facto, com as legais consequências.

Termos em que deverá o presente recurso ser julgado procedente e, em consequência, revogada a douta sentença recorrida, assim se fazendo JUSTIÇA!»

*

Contra-alegaram os apelados, propugnando pela improcedência da apelação (fls. 695-774).

QUESTÕES A DECIDIR

Nos termos dos Artigos 635º, nº4 e 639º, nº1, do Código de Processo Civil, as conclusões delimitam a esfera de atuação do tribunal ad quem, exercendo um função semelhante à do pedido na petição inicial.[1] Esta limitação objetiva da atuação do Tribunal da Relação não ocorre em sede da qualificação jurídica dos factos ou relativamente a questões de conhecimento oficioso, desde que o processo contenha os elementos suficientes a tal conhecimento (cf. Artigo 5º, nº3, do Código de Processo Civil). Também não pode este Tribunal conhecer de questões novas que não tenham sido anteriormente apreciadas porquanto, por natureza, os recursos destinam-se apenas a reapreciar decisões

proferidas, ressalvando-se as questões de conhecimento oficioso, v.g., abuso de direito.[2]

Nestes termos, as questões a decidir são as seguintes: i. Nulidades da sentença (conclusões 9ª, 11ª, 29ª);

ii. Impugnação da decisão de facto (conclusões 1ª a 8ª, 12ª, 42ª a 84ª); iii. Doações dos veículos (conclusões 36ª a 41ª).

(16)

iv. Da ilegitimidade do curador provisório para intentar a ação;

v. Da existência da incapacidade acidental (conclusões 23ª a 28ª, 31ª); vi. Da conduta do Sr. Notário.

Corridos que se mostram os vistos, cumpre decidir. FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO

A sentença sob recurso considerou como provada a seguinte factualidade: 1.Aquando da instauração da presente ação, o Autor tinha 79 anos de idade, sendo viúvo e reformado.

2.Desde sempre conhecido e reconhecido pela sua capacidade negocial e competência na gestão do seu património.

3.Por se haver dedicado a variados negócios ao longo da sua vida, constituiu um património de considerável dimensão, conseguindo rentabilizá-lo.

4.O Autor era proprietário do prédio urbano sito na Rua da (...), em (...), inscrito na matriz predial sob o artigo 3831, composto por um prédio em propriedade total com andares e trinta frações autónomas já em plena

utilização, apesar de ainda não juridicamente divididas, cujo valor patrimonial total é superior a 2 322 890,00€.

5.Era ainda proprietário dos seguintes prédios:

a) Um prédio misto-urbano, inscrito na matriz predial sob o artigo 2265, composto por 3 moradias de habitação, sito na (...), n.ºs 46/48, (...), no concelho de (...), com o valor patrimonial de 27 178,02€;

b) Um prédio misto, inscrito na matriz predial sob o artigo 150, secção 3, sito na (...), (...), no concelho de (...), com o valor patrimonial de 1 989,90€;

c) Um prédio urbano, inscrito na matriz predial sob o artigo 696, composto por casa de habitação, sito na (...), n.ºs 30/32, (...), no concelho de (...), com o valor patrimonial de 19 291,03€;

d) Uma fração autónoma de prédio urbano, inscrita na matriz predial sob o artigo 2175-AC, sito no (...), n°104 A, (...), concelho de (...), com o valor patrimonial de 52 523,42€;

e) Uma fração autónoma de prédio urbano, inscrita na matriz predial sob o artigo 2175-AD, sito no (...), n.°104 A, (...), concelho de (...), com o valor patrimonial de 47 271,07€;

f) Uma fração autónoma de prédio urbano, inscrita na matriz predial sob o artigo 2904-G, sito na (...), 3° andar esquerdo, (...), concelho de (...), com o valor patrimonial de 14 302,52€;

g) Uma fração autónoma de prédio urbano, inscrita na matriz predial sob o artigo 2904-H, sito na (...), 3° andar direito, (...), concelho de (...), com o valor patrimonial de 14 302,52€;

h) Um prédio urbano, inscrito na matriz predial sob o artigo 517, composto por casa de habitação, sito na (...), n°104, (...), no concelho de (...), com o valor

(17)

patrimonial de 76 280,16€;

i) Um prédio urbano, inscrito na matriz predial sob o artigo 1691, composto por casa de habitação, sito na (...), (...), no concelho de (...), com o valor patrimonial de 33 372,52€;

j) Uma fração autónoma de prédio urbano, inscrita na matriz predial sob o artigo 2904-H, sito na (...), 3° andar direito, (...), concelho de (...), com o valor patrimonial de 14 302,52€;

k) Uma fração autónoma de prédio urbano, inscrita na matriz predial sob o artigo 2359-F, sito na (...), 1° andar esquerdo, (...), concelho de (...), com o valor patrimonial de 15 256,03€;

l) Um prédio urbano, inscrito na matriz predial sob o artigo 423, composto por casa de habitação, sito na Ladeira da (...), n.°39, (...), no concelho de (...), com valor patrimonial de 23 815,92€;

m) Um prédio rústico, inscrito na matriz predial sob o artigo 40, secção G, sito em Pico do Boi, (...), no concelho de (...), com valor patrimonial de 6 484,08€; n) Um prédio urbano, inscrito na matriz predial sob o artigo 3690, composto por casa de habitação, sito na (...), n.°9, (...), no concelho de (...), com o valor patrimonial de 195 471,33€;

o) Uma fração autónoma de prédio urbano, inscrita na matriz predial sob o artigo 4398-B, sito na (...), n°14, (...), concelho de (...), com valor patrimonial de 83 684,75€;

p) Um prédio urbano, inscrito na matriz predial sob o artigo 422, composto por casa de habitação, sito na Ladeira da (...), n°27, (...), no concelho de (...), com valor patrimonial de 160 632,92€;

q) Um prédio urbano, inscrito na matriz predial sob o artigo 2543, composto por casa de habitação, sito na (...), n°30, (...), no concelho de (...), com o valor patrimonial de 165 875,50€.

6. Esse património, sua gestão e rentabilização sempre foi cuidado pessoalmente pelo Autor.

7. O Autor investia na compra de mais imóveis ou em outros negócios.

8. No intervalo de tempo compreendido entre os meses de dezembro de 2015 e fevereiro de 2016, o Autor praticou onze atos/negócios jurídicos,

beneficiando exclusivamente os Réus.

9. No dia 18/12/2015, por escritura outorgada a fls. 145 do Livro 543-A, do Cartório Notarial de (...), a cargo do Lic. JC, o Autor doou ao 1º Réu, a nua propriedade, com reserva para si do usufruto vitalício, do prédio urbano identificado em q.).

10. Consta de tal escritura o seguinte: Foi feita aos outorgantes a leitura desta escritura e a explicação do seu conteúdo, não assinando o primeiro

(18)

11. No dia 05/01/2016, o Autor outorgou, a fls. 59 do Livro 545-A, do Cartório Notarial de (...), a cargo do Lic. JC, escritura, da qual consta o seguinte: Que, pela presente escritura, confessa-se devedor ao segundo outorgante (o 1º Réu), da quantia de QUINHENTOS MIL EUROS. Que, o referido valor deverá ser reembolsado numa ou mais prestações, em qualquer altura, no prazo máximo de um mês, a contar desta data, sem cobrança de quaisquer juros remuneratórios ou moratórios, ou quaisquer outros montantes a título de despesas.

12. No dia 08/01/2016, por escritura pública outorgada a fls. 97 do Livro 545-A, do Cartório Notarial de (...), a cargo do Lic. JC, o Autor doou, ao 1º Réu, o prédio rústico identificado em m.).

13. Consta de tal escritura o seguinte: foi feita aos outorgantes a leitura desta escritura e a explicação do seu conteúdo, não assinando o primeiro

outorgante, por me haver declarado não o poder fazer.

14. No dia 03/02/2016, o Autor outorgou, no Cartório Notarial de (...), a cargo do Lic. JC, procuração, da qual consta o seguinte: constituiu seu procurador, EE (...), ao qual confere os poderes necessários para doar ao Dr. BB (...), os seguintes prédios inscritos sob os seguintes artigos:

1) Artigo urbano 2175-AD da freguesia de (...) do concelho de (...); 2) Artigo urbano 4398-B da freguesia de (...) do concelho de (...); 3) Artigo urbano 2904-H da freguesia de (...) do concelho de (...); 4) Artigo urbano 696 da freguesia de (...) do concelho de (...); 5) Artigo urbano 3690 da freguesia de (...) do concelho de (...);

6) Artigo rústico 150 secção 003 e artigo urbano 2265 ambas da freguesia de (...) do concelho de (...);

7) Artigo urbano 1691 da freguesia de (...) do concelho de (...); 8) Artigo urbano 422 da freguesia de (...) do concelho de (...);

9) Artigo urbano 423 da freguesia de (...) do concelho de (...), assinando as competentes escrituras ou documentos particulares.

Confere ainda poderes para assinar quaisquer atos de registo predial, sejam inscrições ou averbamentos, provisórios ou definitivos e representá-lo junto de quaisquer Serviços de Finanças, Câmaras Municipais, podendo requerer,

praticar e assinar todos os documentos necessários aos atos constantes desta procuração.

Esta procuração é conferida no interesse do mandatário, pelo que, não poderá ser revogada sem o acordo do mesmo, conforme previsto no artigo 265°, n.°3, do Código Civil.

Foi feita ao outorgante a leitura desta procuração e explicação do seu

conteúdo, tendo o outorgante declarado que não a vai assinar em virtude de não o poder fazer.

(19)

15. No dia 18/12/2015, o Autor celebrou, a fls. 33 do Livro 14, do Cartório Notarial de (...), a cargo do Lic. JC, testamento público, do qual consta o seguinte: que, pelo presente testamento, que é o primeiro que faz, deixa por conta da quota disponível de seus bens, a EE (...) os seguintes dois prédios: os identificados em 4. e 5, alínea h). (...) Foram testemunhas deste ato: Dr. ASM (...); MAFSA (...). Foi feita ao testador e às testemunhas a leitura deste

testamento e a explicação do seu conteúdo, não o assinando o testador por me haver declarado não o poder fazer.

16. No dia 05/01/2016, o Autor outorgou, a fls. 58 do Livro 545-A, do Cartório Notarial de (...), a cargo do Lic. JC, escritura, da qual consta o seguinte: Que, pela presente escritura, confessa-se devedor ao segundo outorgante (o 2º Réu), da quantia de QUATRO MILHÕES DE EUROS. Que, o referido valor deverá ser reembolsado numa ou mais prestações, em qualquer altura, no prazo máximo de um mês, a contar desta data, sem cobrança de quaisquer juros remuneratórios ou moratórios, ou quaisquer outros montantes a título de despesas.

17. No dia 03/02/2016, o Autor outorgou, no Cartório Notarial de (...), a cargo do Lic. JC, procuração, da qual consta o seguinte: constituiu seu procurador, Dr. BB (...), ao qual confere os poderes necessários para doar a EE (...), os prédios identificados em 4 e 5, alínea h). Esta procuração é conferida no interesse do mandatário, pelo que, não poderá ser revogada sem o acordo do mesmo, conforme previsto no artigo 265°, n°3, do Código Civil. Foi feita ao outorgante a leitura desta procuração e explicação do seu conteúdo, tendo o outorgante declarado que não a vai assinar em virtude de não o poder fazer. 18. No dia 24/02/2016, o Autor celebrou, a fls. 29 do Livro 550-A, do Cartório Notarial de (...), a cargo do Lic. JC, escritura pública, pela qual constituiu hipoteca sobre o prédio identificado em i), a favor do 2º Réu, constando da mesma o seguinte: Que constitui a favor do segundo outorgante, hipoteca voluntária sobre o prédio atrás identificado, livre de quaisquer ónus ou encargos, com todas as suas construções ou benfeitorias edificadas ou a edificar, para garantia do pagamento pontual: a) De todas e quaisquer responsabilidades por si assumidas ou a assumir, perante o segundo

outorgante, até ao limite de QUATROCENTOS MIL EUROS, proveniente de todas e quaisquer operações em direito permitidas, designadamente as que emergem de garantias bancárias prestadas ou a prestar pelo segundo

outorgante a seu pedido, empréstimos de qualquer natureza, dívidas

emergentes de prestação de serviços vencidas e vincendas, sub-rogação de créditos por pagamento de dívidas a terceiros.

Que, para efeitos do disposto no artigo 693°, do Código Civil, o montante

(20)

é de quatrocentos mil euros. Que a presente hipoteca abrange todas as construções, benfeitorias e acessões, presentes e futuras do mesmo prédio pelo que o primeiro outorgante desde já se obriga a proceder aos respetivos averbamentos. Que os documentos sejam de que natureza forem em que o primeiro outorgante figure como devedor e que porventura se encontrem em conexão com a presente escritura dela ficarão fazendo parte integrante para efeitos de execução, nos termos e para os fins do artigo 707°, n°2, do Código do Processo Civil. Que o segundo outorgante, sempre que o julgue necessário pode mandar avaliar à custa do primeiro outorgante o prédio hipotecado, para o efeito do artigo 701° do Código Civil, ficando as respetivas despesas

cobertas pela garantia ora prestada. Que a presente hipoteca pode ser executada quando vencida qualquer das obrigações cujo cumprimento assegura ou quando não for cumprido qualquer dos deveres do primeiro outorgante perante o segundo outorgante emergentes do presente contrato. Que, se o prédio ora hipotecado vier a ser objeto de penhora, arresto ou

qualquer outra forma de indisponibilidade decretada pelos meios judiciais; se, sem autorização expressa do segundo outorgante vier o mesmo prédio a ser dado de exploração ou locado; se vier a ser alienado, total ou parcialmente, ou por qualquer forma onerado, ou, de um modo geral, vier a ser prejudicada a sua livre disposição, designadamente por promessa de alienação, de oneração ou por constituição de qualquer dos direitos acima referidos, ou ainda, se, por qualquer outra causa a presente hipoteca vier a diminuir de valor, pode o segundo outorgante: a) Exigir imediatamente o cumprimento das obrigações que a presente hipoteca assegura, podendo esta ser executada; ou, b) Exigir a sua substituição ou reforço da hipoteca e, se o primeiro outorgante o não fizer no prazo que o segundo outorgante para o efeito lhe conceder, exigir, então, o imediato cumprimento das obrigações. Que o primeiro outorgante se obriga a manter seguro contra incêndio o prédio ora hipotecado em sociedade de

seguros de reconhecido crédito e da confiança do segundo outorgante, a pagar atempadamente os respetivos prémios, a fazer inserir na respetiva apólice a existência desta hipoteca, para efeito de, em caso de sinistro e vencida alguma das obrigações asseguradas por este contrato, o segundo outorgante receber a respetiva indemnização, assim como a trazer pontualmente pagas as

contribuições que incidirem sobre o prédio hipotecado, autorizando, desde já, o segundo outorgante a efetuar na sua falta e por sua conta o pagamento dos prémios e das contribuições em dívida, casos em que os correspondentes recibos ficarão a constituir elementos referidos a esta escritura, para efeitos da sua exequibilidade. Que ficam da conta do primeiro outorgante todas as despesas deste contrato, do seu registo e distrate. (...) Foi feita aos

(21)

esta escritura sido elaborada segundo minuta apresentada pelas partes, não a assinando o primeiro outorgante por me haver declarado não o poder fazer. 19. No dia 24/02/2016, o Autor celebrou, a fls. 25 do Livro 550-A, do Cartório Notarial de (...), a cargo do Lic. JC, escritura pública, pela qual constituiu hipoteca sobre o prédio identificado em 4, a favor do 2º Réu, constando da mesma o seguinte: (...) Que, ainda sobre o indicado prédio encontra-se

registada uma penhora em que o exequente é a STA, Lda.;(...) Que constitui a favor do segundo outorgante, hipoteca voluntária sobre o prédio atrás

identificado, livre de quaisquer ónus ou encargos, exceto a penhora atrás indicada, com todas as suas construções ou benfeitorias edificadas ou a edificar, para garantia do pagamento pontual: a) De todas e quaisquer responsabilidades por si assumidas ou a assumir, perante o segundo outorgante, até ao limite de UM MILHÃO E QUINHENTOS MIL EUROS, proveniente de todas e quaisquer operações em direito permitidas, designadamente as que emergem de garantias bancárias prestadas ou a prestar pelo segundo outorgante a seu pedido, empréstimos de qualquer natureza, dívidas emergentes de prestação de serviços vencidas e vincendas sub-rogação de créditos por pagamento de dívidas a terceiros. Que, para efeitos do disposto no artigo 693° do Código Civil, declaram que o montante máximo do crédito assegurado sem juros e sem despesas é de um milhão e quinhentos mil euros. Que a presente hipoteca abrange todas as construções, benfeitorias e acessões, presentes e futuras do mesmo prédio pelo que o primeiro outorgante desde já se obriga a proceder aos respetivos

averbamentos. Que os documentos sejam de que natureza forem em que o primeiro outorgante figure como devedor e que porventura se encontrem em conexão com a presente escritura dela ficarão fazendo parte integrante para efeitos de execução, nos termos e para os fins do artigo 707°, n°2 do Código do Processo Civil. Que o segundo outorgante, sempre que o julgue necessário pode mandar avaliar as custas do primeiro outorgante o prédio hipotecado, para o efeito do artigo 701° do Código Civil, ficando as respetivas despesas cobertas pela garantia ora prestada. Que a presente hipoteca pode ser executada quando vencida qualquer das obrigações cujo cumprimento assegura ou quando não for cumprido qualquer dos deveres do primeiro outorgante perante o segundo outorgante emergentes do presente contrato. Que, se o prédio ora hipotecado vier a ser objeto de penhora, arresto ou

qualquer outra forma de indisponibilidade decretada pelos meios judiciais; se, sem autorização expressa do segundo outorgante vier o mesmo prédio a ser dado de exploração ou locado; se vier a ser alienado, total ou parcialmente, ou por qualquer forma onerado, ou, de um modo geral, vier a ser prejudicada a sua livre disposição, designadamente por promessa de alienação, de oneração

(22)

ou por constituição de qualquer dos direitos acima referidos, ou ainda, se, por qualquer outra causa a presente hipoteca vier a diminuir de valor, pode o segundo outorgante: a) Exigir imediatamente o cumprimento das obrigações que a presente hipoteca assegura, podendo esta ser executada; ou, b) Exigir a substituição ou reforço da hipoteca e, se o primeiro outorgante o não fizer no prazo que o segundo outorgante para o efeito lhe conceder, exigir, então, o imediato cumprimento das obrigações. Que o primeiro outorgante se obriga a manter seguro contra incêndio o prédio ora hipotecado em sociedade de

seguros de reconhecido crédito e da confiança do segundo outorgante, a pagar atempadamente os respetivos prémios, a fazer inserir na respetiva apólice a existência desta hipoteca, para efeito de, em caso de sinistro e vencida alguma das obrigações asseguradas por este contrato, o segundo outorgante receber a respetiva indemnização, assim como a trazer pontualmente pagas as

contribuições que incidirem sobre o prédio hipotecado, autorizando, desde já, o segundo outorgante a efetuar na sua falta e por sua conta o pagamento dos prémios e das contribuições em dívida, casos em que os correspondentes recibos ficarão a constituir elementos referidos a esta escritura, para efeitos da sua exequibilidade. Que ficam da conta do primeiro outorgante todas as despesas deste contrato, do seu registo e distrate (...) Foi feita aos outorgantes a leitura desta escritura e a explicação do seu conteúdo, tendo esta escritura sido elaborada segundo minuta apresentada pelas partes, não a assinando o primeiro outorgante por me haver declarado não o poder fazer.

20. Ainda no dia 24 de fevereiro de 2016, no Cartório Notarial suprarreferido, foram outorgadas pelo Autor mais duas procurações, estas não irrevogáveis, dando totais poderes aos referidos Dr. CC e Sr. EE para que cada um deles, por si, represente e possa dispor, como entender, do património do Autor. 21. A 10/07/2015 foi registada em nome do 2ª Réu a viatura da marca mercedes, com a matrícula (...), propriedade do Autor.

22. A 28/12/2015 foi registada em nome do 2ª Réu a viatura da marca mercedes, com a matrícula (...), propriedade do Autor.

23. O Autor tinha a correr contra si execuções fiscais para pagamento de quantias que ascendem perto de 400 000,00€.

24. Era executado no processo nº 1483/08.7TBPDL, a correr termos neste Tribunal, onde massa insolvente da STA, reclama o pagamento de mais de 500 000,00 pela construção do edifício referido em 4.

25. Tais dívidas têm vindo a vencer juros, a que acrescem despesas judiciais. * 26. A 07/03/2016 deu entrada ação declarativa especial de inabilitação contra o Autor, dando origem ao processo nº (...), que correu termos no Juízo Local Cível de (...).

(23)

inabilitado, com anúncio oficial a 15/03/2016, publicado em jornal de âmbito regional nos dias 17 e 18 de março.

28. Foi nomeado para curador provisório II, seu sobrinho, a quem foi entregue a totalidade da administração do património do Autor.

29. Foi provisoriamente fixado pelo Tribunal o dia 10 de julho de 2015 como a data de início da sua incapacidade.

30. Por sentença transitada em julgado a 17/05/2017, foi decretada a interdição definitiva do Autor, por anomalia psíquica, com início no ano de 2010, tendo sido nomeada como tutora a sua filha FF.

31. O Réu José Coelho era funcionário do Autor, com a função de efetuar diversos serviços juntos dos prédios da sua propriedade, auferindo uma remuneração pelo trabalho que prestava.

32. Os Réus são conhecidos e amigos entre si.

33. O 1º Réu apresentou duas queixas-crime contra os três filhos do Autor, uma datada de 26/05/2016 por crime de abandono de idoso e outra a junho de 2016 por tentativa de homicídio do Autor pelos próprios filhos.

34. Consta da segunda queixa apresentada que a pretensão dos filhos é a de que o Autor morra o mais rápido possível, pelo que deveriam ser deserdados. 35. Nenhum dos Réus emprestou dinheiro ou outros bens ao Autor.

36. O 1º Réu intentou ação executiva contra o Autor, para pagamento de quantia certa, a correr termos neste Tribunal sob o nº (...), sendo o título executivo a confissão de dívida mencionada em 11.

37. Com os rendimentos prediais, juntamente com a sua reforma, o Autor provia ao seu sustento e acumulava poupanças para novos investimentos. 38. Sempre foi pessoa parcimoniosa e extremamente economizadora, não sendo dado a ofertas, benemerências ou donativos.

39. A partir do ano de 2010, o Autor começou a adotar comportamentos

irrefletidos e inconsequentes, em consequência de diversas doenças de que foi padecendo do foro psiquiátrico.

40. A 08/01/2001, o Autor foi internado na Casa de Saúde (…), com diagnóstico de perturbação depressiva major com sintomas psicóticos. 41. Voltou a ser internado a 29/07/2010, já apresentando dificuldades de memória.

42. Desde o início do ano de 2010 que sofre de demência.

43. Em março de 2014 foi vítima de um acidente vascular cerebral, seguido de uma embolia pulmonar.

44. Esteve cerca de um mês e meio em estado de coma, internado na UTIC do Hospital do Divino Espírito Santo de (...).

45. Em consequência, ficou definitivamente paralisado do lado direito do corpo.

(24)

46. Não conseguia manter uma linha de raciocínio adequada a uma pessoa da sua idade, tanto afirmando uma coisa, como, logo de seguida, o seu contrário. 47. Denotava severas falhas de memória, tanto recente como remota.

48. Mostrava-se esquecido dos seus afazeres e compromissos.

49. Padecia, por vezes, e durante longas horas, de uma profunda apatia, abatimento e inatividade, numa atitude de indiferença.

50. O Autor deixou de controlar a gestão do seu património, nomeadamente o arrendamento dos seus espaços, o pagamento das rendas e o destino das mesmas.

51. Ficou a desconhecer o valor real do dinheiro, bem como o seu património. 52. Deixou de proceder à regularização das suas responsabilidades fiscais. 53. O Autor passou a necessitar de terceiros para se mover, vestir, lavar e comer.

54. O Autor não apresentava explicação para a realização dos atos jurídicos praticados, nem tem consciência de que os praticou da forma e com o

conteúdo como o foram.

55. O Autor não se encontrava capaz de entender o sentido das confissões de dívida e das hipotecas que celebrou.

56. Tal como não tinha capacidade para compreender o significado das procurações que outorgou e dos poderes que nela conferiu aos Réus.

57. Por decisão dos seus filhos, o Autor ficou entregue aos cuidados do 2º Réu, durante os períodos do dia, sendo remunerado por tal.

58. O 2º Réu acompanhava o Autor às consultas e tratamentos médicos. 59. O 1º Réu representou o Autor, na qualidade de advogado, em diversos processos judiciais, tendo sido pago pelos serviços prestados.

60. Os Réus eram presença habitual na residência do Autor nos últimos dois anos que antecederam a morte deste, acompanhando-o diariamente,

conhecendo os seus problemas de saúde.

61. Os atos, tal como as escrituras de doação e o testamento, foram praticados por força da insistência dos Réus.

62. Os Réus conheciam o estado de saúde, físico e psíquico, do Autor. 63. Sabiam que o mesmo não apresentava a capacidade necessária para querer e entender os negócios que o convenceram a celebrar.

64. Estavam cientes da ascendência que exerciam sobre este, aproveitando-se da sua vulnerabilidade em proveito próprio.

65. Com a celebração de tais negócios jurídicos, o Autor colocou em risco a sua própria subsistência.

66. O 1º Réu deixou ter contacto com o Autor a 24/07/2016, altura em que foi preso.

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Nulidades da sentença (conclusões 9ª, 11ª, 28ª e 29ª). O apelante argui a existência de três nulidades nestes termos:

9) Ao reconhecer legitimidade a II, para, na qualidade de curador provisório do Autor, intentar a presente ação - o que aquele fez em 13 de dezembro de 2016 -, sem que se encontre apurado em que data ocorreu (terá ocorrido) tal nomeação, incorre a douta sentença recorrida numa nulidade, a qual

expressamente e para todos os efeitos aqui se invoca, nos termos e ao abrigo do disposto no art. 615°, n°1, alíneas b) e d) do Código de Processo Civil. 11) Termos em que, também aqui, ao reconhecer legitimidade a II, para, na qualidade de curador provisório do Autor, intentar a presente ação, sem que se encontre apurado o âmbito da curatela e sem que se encontre demonstrada a existência da necessária autorização do tribunal para o efeito, incorre a douta sentença recorrida numa nulidade, a qual expressamente e para todos os efeitos aqui se invoca, nos termos e ao abrigo do disposto no art. 615°, n°1, alíneas b) e d) do Código de Processo Civil.

28 ) Não se dá por assente na sentença recorrida que, especificadamente e em relação a cada um dos seguintes dias, 10 de julho de 2015, 18 de dezembro de 2015, 28 de dezembro de 2015, 5 de janeiro de 2016, 8 de janeiro de 2016, 3 de Fevereiro de 2016, o Autor, declarante nos negócios jurídicos nessas datas praticados, não se encontrava lúcido, ou seja, que, em cada um desses

momentos temporais, o Autor se encontrava incapaz de entender o sentido de cada uma das declarações negociais que fez, entre Julho de 2015 e Fevereiro de 2016, não se dando de igual modo por provado, por referência a cada uma dessas datas e negócios jurídicos que tal ( eventual ) incapacidade fosse notória ou conhecida dos declaratários, o que podia e devia ter feito.

29) Incorre, deste modo, a sentença recorrida nas nulidades previstas no art. 615°, n° 1, alíneas b), c) e d), nulidades estas que, expressamente e para todos os efeitos legais aqui se deixam expressamente arguidas.

Apreciando:

A propósito da arguição frequente e infundada de nulidades das decisões, afirma-se em Geraldes, Abrantes/Pimenta, Paulo/Sousa, Luís Filipe, Código de Processo Civil Anotado, I Vol., 2018, Almedina, p. 736. «É verdadeiramente impressionante a frequência com que, em sede de recurso, são invocadas nulidades da sentença ou de acórdãos, denotando um número significativo de situações em que o verdadeiro interesse da parte não é propriamente o de obter uma correta apreciação do mérito da causa, mas de “anular” a toda a força a sentença com que foi confrontada. / É claro que certas decisões poderão estar eivadas de nulidades, mas ainda assim seria bom que se

interiorizasse que, atento o disposto no art. 665º, nº1, que regula os poderes da Relação no âmbito do recurso de apelação, a sua verificação não determina

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necessariamente a remessa dos autos ao tribunal de 1ª instância, antes implica a substituição imediata por parte da Relação, a não ser que alguma questão tenha sido considerada prejudicada e haja necessidade de recolher outros elementos.»

Nos termos do Artigo 615º, nº1, alínea b), do Código de Processo Civil , é nula a sentença quando não especifique os fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão. Trata-se de um vício formal, em sentido lato, traduzido em error in procedendo ou erro de atividade que afeta a validade da sentença. Ensinava a este propósito ALBERTO DOS REIS, Código de Processo Civil Anotado, V Volume, p. 140, que

«Há que distinguir cuidadosamente a falta absoluta de motivação da

motivação deficiente, medíocre ou errada. O que a lei considera nulidade é a falta absoluta de motivação; a insuficiência ou mediocridade da motivação é espécie diferente, afeta o valor doutrinal da sentença, sujeita-a ao risco de ser revogada ou alterada em recurso, mas não produz nulidade.

Por falta absoluta de motivação deve entender-se a ausência total de fundamentos de direito e de facto.»[3]

Nas palavras precisas de Tomé Gomes, Da Sentença Cível, p. 39, «Assim, a falta de fundamentação de facto ocorre quando, na sentença, se omite ou se mostre de todo ininteligível o quadro factual em que era suposto assentar. Situação diferente é aquela em que os factos especificados são insuficientes para suportar a solução jurídica adotada, ou seja, quando a fundamentação de facto se mostra medíocre e, portanto, passível de um juízo de mérito negativo. / A falta de fundamentação de direito existe quando, não obstante a indicação do universo factual, na sentença, não se revela qualquer enquadramento jurídico ainda que implícito, de forma a deixar, no mínimo, ininteligível os fundamentos da decisão.»

Conforme se refere de forma lapidar no Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 26.4.95, Raul Mateus, CJ 1995 – II, p. 58, “ (...) no caso, no aresto em recurso, alinharam-se, de um lado, os fundamentos de facto, e, de outro lado, os fundamentos de direito, nos quais, e em conjunto se baseou a decisão. Isto é tão evidente que uma mera leitura, ainda que oblíqua, de tal acórdão logo mostra que assim é. Se bons, se maus esses fundamentos, isso é outra questão que nesta sede não tem qualquer espécie de relevância.” O mesmo Tribunal precisou que a nulidade da sentença por falta de fundamentação não se verifica quando apenas tenha havido uma justificação deficiente ou pouco persuasiva, antes se impondo, para a verificação da nulidade, a ausência de motivação que impossibilite o anúncio das razões que conduziram à decisão proferida a final (Acórdão de 15.12.2011, Pereira Rodrigues, 2/08). Só a

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erroneidade – integra a previsão da alínea b) do nº1 do Artigo 615º, cabendo o putativo desacerto da decisão no campo do erro de julgamento – Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 2.6.2016, Fernanda Isabel Pereira, 781/11.[4] «O que a lei considera nulidade é a falta absoluta de motivação; a insuficiência ou mediocridade da motivação é espécie diferente, afeta o valor doutrinal e persuasivo da decisão – mas não produz nulidade.»[5]

Dispõe o Artigo 615º, nº1, alínea c), que é nula a sentença quando os fundamentos estejam em oposição com a decisão ou ocorra alguma

ambiguidade ou obscuridade que torne a decisão ininteligível. Trata-se de um vício formal, em sentido lato, traduzido em error in procedendo ou erro de atividade que afeta a validade da sentença.

Entre os fundamentos e a decisão não pode haver contradição lógica pelo que se, na fundamentação da sentença, o julgador segue determinada linha de raciocínio apontando para determinada conclusão e, em vez de a tirar, decide em sentido divergente, ocorre tal oposição.[6] Trata-se de um erro lógico-discursivo nos termos do qual o juiz elegeu determinada fundamentação e seguiu um determinado raciocínio mas decide em colisão com tais

pressupostos. A nulidade em questão ocorre quando a fundamentação aponta num certo sentido que é contraditório com o que vem a decidir-se e, enquanto vício de natureza processual, não se confunde com o erro de julgamento, que se verifica quando o juiz decide mal ou porque decide contrariamente aos factos apurados ou contra lei que lhe impõe uma solução jurídica diferente[7]. Conforme se clarifica no Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 5.2.2020, Rosário Morgado, ECLI:PT:STJ:2020:3294.11.2TBBCL.G1.S1, a nulidade

prevista na al. c) do n.º 1 do art. 615.º sanciona o vício de contradição formal entre os fundamentos de facto ou de direito e o segmento decisório da

sentença.

Realidade distinta desta é o erro na subsunção dos factos à norma jurídica ou erro na interpretação desta, ou seja, quando – embora mal – o juiz entenda que dos factos apurados resulta determinada consequência jurídica e este seu entendimento é expresso na fundamentação ou dela decorre, o que existe é erro de julgamento e não oposição nos termos aludidos – cf. LEBRE DE FREITAS, A Ação Declarativa Comum, 2000, p. 298. Por outras palavras, o acerto ou desacerto da decisão é uma questão diversa, que não cabe no campo dos vícios geradores da nulidade, mas no domínio do eventual erro de

julgamento.[8]

Nos termos do Artigo 615º, nº1, alínea d) do Código de Processo Civil, a sentença é nula quando o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou conheça de questões de que não podia tomar

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conhecimento. Trata-se de um vício formal, em sentido lato, traduzido em error in procedendo ou erro de atividade que afeta a validade da sentença. Esta nulidade está diretamente relacionada com o Artigo 608º, nº2, do Código de Processo Civil, segundo o qual “O juiz deve resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação, excetuadas aquelas cuja

decisão esteja prejudicada pela solução dada a outras; não pode ocupar-se senão das questões suscitadas pelas partes, salvo se a lei lhe permitir ou impuser o conhecimento oficioso de outras.”

Neste circunspecto, há que distinguir entre questões a apreciar e razões ou argumentos aduzidos pelas partes. Conforme já ensinava ALBERTO DOS REIS, Código de Processo Civil Anotado, V Vol., p. 143, “ São, na verdade, coisas diferentes: deixar de conhecer de questão de que devia conhecer-se, e deixar de apreciar qualquer consideração, argumento ou razão produzida pela parte. Quando as partes põem ao tribunal determinada questão, socorrem-se, a cada passo, de várias razões ou fundamentos para fazer valer o seu ponto de vista; o que importa é que o tribunal decida a questão posta; não lhe incumbe

apreciar todos os fundamentos ou razões em que elas se apoiam para

sustentar a sua pretensão.” Ou seja, a omissão de pronúncia circunscreve-se às questões/pretensões formuladas de que o tribunal tenha o dever de

conhecer para a decisão da causa e de que não haja conhecido, realidade distinta da invocação de um facto ou invocação de um argumento pela parte sobre os quais o tribunal não se tenha pronunciado.[9] «O juiz não tem que rebater e esmiuçar todos os argumentos e alegações avançados pelas partes, bastando-lhe, para cumprimento do dever de fundamentação, pronunciar-se sobre as concretas questões em litígio, demonstrando que as ponderou.»[10] Esta nulidade só ocorre quando não haja pronúncia sobre pontos fáctico-jurídicos estruturantes da posição dos pleiteantes, nomeadamente os que se prendem com a causa de pedir pedido e exceções e não quando tão só ocorre mera ausência de discussão das “razões” ou dos “argumentos” invocados pelas partes para concluir sobre as questões suscitadas.[11] A questão a

decidir não é a argumentação utilizada pelas partes em defesa dos seus pontos de vista fáctico-jurídicos, mas sim as concretas controvérsias centrais a dirimir e não os factos que para elas concorrem. Deste modo, não constitui nulidade da sentença por omissão de pronúncia a circunstância de não se apreciar e fazer referência a cada um dos argumentos de facto e de direito que as partes invocam tendo em vista obter a (im)procedência da ação.[12] Nas palavras precisas de Tomé Gomes, Da Sentença Cível, p. 41, «(…) já não integra o conceito de questão, para os efeitos em análise, as situações em que o juiz porventura deixe de apreciar algum ou alguns dos argumentos aduzidos pelas

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