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PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO E INDIGENISMO NO SUL DE MATO GROSSO DO SUL: OS KAIOWA E GUARANI E A LUTA PELA AUTONOMIA

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MATO GROSSO DO SUL: OS KAIOWA E GUARANI E A LUTA PELA AUTONOMIA

Carla Fabiana Costa Calarge Antonio Hilário Aguilera Urquiza RESUMO:

"O mundo colonizado é um mundo cindido em dois "(...) a linha divisória, a fronteira, é indicada pelos quartéis e delegacias de polícia". Com essas poucas palavras de Frantz Fanon (1968, p. 28) conseguimos indicar a real condição do Mato Grosso do Sul (MS) nos últimos anos. Diante de tantos conflitos, quais foram os impactos do processo de territorialização sobre o modo de viver tradicional dos Kaiowa e Guarani de Mato Grosso do Sul? E a partir daí, quais foram as alternativas encontradas por esses povos na tentativa de superar o sistema assimétrico imposto pela sociedade não indígena? Buscamos sintetizar as consequências geradas pelo processo de territorialização das comunidades Kaiowa e Guarani no Mato Grosso do Sul e analisar as consequências sociais desse movimento, compreendendo as principais respostas da população. Discutiremos como o termo "indigenismo" se desenvolve no Brasil, a partir dos trabalhos de João Pacheco de Oliveira e Antonio Carlos Souza Lima, compreendendo a política indigenista empreendida durante o século XX e sua atuação no contexto de contato interétnico do MS, para isso recorremos ás diversas formas de assentamento dos povos indígenas no estado, discutindo ainda os processos de mobilização e territorialização.

Palavras-chave: Antropologia do Colonialismo, Processo de Territorialização, Kaiowa e Guarani, Povos Indígenas, Mato Grosso do Sul

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1 INTRODUÇÃO

“O mundo colonizado é um mundo cindido em dois”. Com essas poucas palavras de Frantz Fanon (1968, p. 28) conseguimos refletir a real entre indígenas e fazendeiros do Mato Grosso do Sul (MS) nos últimos anos. Fannon diz em seguida: “(...) a linha divisória, a fronteira, é indicada pelos quartéis e delegacias de polícia” indicando ainda o clima de violência instalado. Os conflitos fundiários entre esses dois grupos estendem-se pelos anos, multiplicando os casos de violência e tornando-se habituais nos noticiários.

Mato Grosso do Sul (MS) possui a segunda maior população indígena do Brasil. São mais de 70 mil indígenas entre as etnias: Atikum, Camba, Guató, Kadiwéu, Kaiowa e Guarani, Kinikinau, Ofaié e Terena. De acordo com o IBGE (2010), são mais de 73 mil pessoas, sendo que dessas, 14 mil vivem nas cidades e 60 mil na área rural. Os Kaiowa e Guarani1 representam neste universo aproximadamente 40 mil pessoas. As comunidades indígenas do MS estão divididas em áreas demarcadas ao longo do século XX pelo Estado, em acampamentos na beira da estrada ou em áreas que se encontram em processo judicial de reconhecimento.

Esse contato é gerador de um cenário de tensão constante que se delineia a partir do processo histórico de colonização de MS. Um relatório apresentado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), com dados de 2010, traz informações alarmantes sobre a violência praticada contra os povos indígenas do estado. Mais de 1.600 dos 1.705 casos de “Violência Contra a Pessoa Indígena” registrados em todo o Brasil aconteceram no Mato Grosso do Sul, englobando principalmente: ameaças, assassinatos e lesões corporais. Esses números são crescentes ano a ano, sendo citados por instituições como a Anistia Internacional e a Organização das Nações Unidas (CIMI, 2010, p. 150). Na gênese dessa violência estão os juízos de valor do senso

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Sobre a terminologia que nomeia os grupos: os Kaiowa são um povo do tronco Tupi, da família linguística Tupi-Guarani. No Brasil temos como representantes desta família: os Kaiowa, os Ñandeva e os Mby'a. Apesar das particularidades, os três grupos são englobados como povos Guarani. Os Ñandeva de Mato Grosso do Sul se autodenominam Guarani. No Paraguai os Kaiowa são nomeados Pãi Tavyterã. Sobre a grafia dos nomes das etnias e suas variações: a convenção da ABA – Associação Brasileira de Antropologia, de 1953, diz que o nome das etnias indígenas devem ser grafadas como nome próprio e sem flexão de gênero e número. Assim o substantivo próprio será grafado com a primeira letra maiúscula (“os Kaiowa”) e o adjetivo será grafado com a letra inicial minúscula (“territórios kaiowa”).

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comum que reforçados pela mídia reproduzem estereótipos que se perpetuam nas políticas de intervenção do Estado e no contato cotidiano entre indígenas e não indígenas.

Por outro lado, o que se percebe é que a partir da década de 1980 se delineia um movimento, tanto local como global, que transformou a posição dos povos tradicionais enquanto membros da sociedade mundial. Entendemos que esse fenômeno, que será melhor apresentado adiante, está diretamente interconectado com as demandas dos povos indígenas no Brasil, e especificamente no Mato Grosso do Sul.

Este trabalho de cunho teórico, é produto do trabalho de conclusão do curso de Ciências Sociais da autora e busca sintetizar as consequências geradas pelo processo de territorialização das comunidades Kaiowa e Guarani no Mato Grosso do Sul e analisar as consequências sociais desse movimento. Buscando, em seguida, compreender as principais respostas da população em busca da autonomia e da superação da situação imposta pelos processos empreendidos ao longo da colonização do MS.

Desenvolvermos, em um primeiro momento, um breve histórico do contato dos os Kaiowa e Guarani de Mato Grosso do Sul com os colonos e o processo de territorialização conduzido pelo Estado brasileiro através do órgão indigenista oficial, criado em 1910, o SPI (Serviço de Proteção aos Índios) – e posteriormente FUNAI. Em seguida, refletimos sobre o contato interétnico e as dificuldades que este cenário impõe a solução dos conflitos entre índios e não índios no estado.

Em seguida, para refletir sobre a emergência do movimento de retomada das terras tradicionais, partimos dos processos desencadeados pela “colonização” do sul de Mato Grosso do Sul. Por fim, retomamos as influências que o modelo indigenista sofreu ao longo do século XX e como essas foram determinantes no modo de atuação do órgão oficial.

De forma breve podemos dizer que a expropriação das terras, o processo de territorialização, e como principal consequência a reorganização administrativa das comunidades indígenas promovido pelo Estado, teve grande impacto para os povos Guarani do sul de Mato Grosso do Sul. Esses prejuízos se relacionam principalmente produção de bens para subsistência, desencadeando uma dependência das políticas governamentais de alimentação e renda e a busca por locais alternativos de acomodação e pela retomada dos territórios tradicionais.

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OS KAIOWA E GUARANI E O PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO

Os kaiowa e guarani ocupavam “tradicionalmente2” uma extensão territorial que tinha como divisa “ao menos toda a região entre o rio Apa, Serra de Maracajú, os rios Brilhante, Ivinhema, Paraná, Iguatemi e a fronteira com o Paraguai” (CAVALCANTE, 2010, p. 8). Esse território é hoje ocupado por fazendas, municípios e povoados além de indústrias. Mas essa extensão territorial permaneceu praticamente despovoada até a Guerra do Paraguai, fato que protelou contatos mais intensos entre os povos da região e os exploradores não índios (BRAND, 2000).

Em 1861, instalou-se na região a Colônia Militar de Dourados3, que tinha o intuito de defender os moradores e os indígenas da região, visto que já estava instalada uma difícil situação com o Paraguai. Com a Guerra da Tríplice Aliança, que se inicia no final de 1864, os poucos moradores da região e os índios se dispersaram em busca de segurança.

A partir daí a condição de isolamento em que se encontrava a região foi alterada. Após a Guerra, além da volta dos pecuaristas que haviam fugido, muitos dos ex-combatentes que vieram para a região se instalaram e passaram a trabalhar na extração da erva mate. Funda-se em 1882 a Cia Matte Larangeira, que possuía o monopólio sobre a exploração da erva sobre uma área que ultrapassaria os cinco milhões de hectares.

É importante observar que, apesar dos povos Guarani serem considerados pacíficos, as consequências para os índios foram já nesse período muito impactantes. “As concessões feitas à Cia. Matte Larangeiras atingiram em cheio o território dos Kaiowa/Guarani, e a atuação da empresa tem sido abundantemente comentada pelos diversos informantes indígenas” (BRAND, 2000, p. 98).

Os indígenas sofriam com as doenças que dizimaram parte de sua população, com o trabalho forçado e a permanente necessidade de migrar ou refugiar-se nas matas, quando em conflito com os não índios. Além disso, os relatos evidenciam que os indígenas eram praticamente escravizados pela Companhia porque se endividavam nos

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É importante mencionar que entendemos aqui por “terra tradicional” o espaço de ocupação dos indígenas antes da colonização pelos não indígenas.

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armazéns da empresa, assumindo compromissos financeiros que nunca findavam (BRAND, 2000).

A hegemonia da Cia Matte Larangeiras permanece na região até a criação da Colônia Agrícola Nacional de Dourados4, em 1943, que concomitantemente anulou os direitos de exploração da erva mate por aquela empresa. Com a criação da Colônia é que os problemas entre os kaiowa e guarani e os não índios no cone-sul do MS começam a se agravar. Um dos principais fatores era uma política do Governo de Getúlio Vargas chamada “Marcha para o Oeste” que pretendia expandir as fronteiras agrícolas do país com vistas no desenvolvimento econômico do Brasil. O Governo Federal loteou, de início, um total de mil lotes de 30 hectares (BRAND, 2000). A partir daí, o território tradicional que já estava ocupado pela Cia Matte Larangeiras foi desmatado pelos migrantes interessados na lavoura e a pecuária que vieram para a região.

Grünberg (2002, p. 2) fala do impacto da colonização sobre as “terras indígenas”:

No século XX, o destino dos Guarani esteve marcado por perdas rápidas e profundas em vários setores essenciais da sua vida. Em primeiro lugar se encontra, sem sombras de dúvida, a perda da floresta como espaço vital. Perda esta que começou nos anos 30 do século passado, agravada nos anos 70 e 80, com o desmatamento de praticamente quase toda a floresta existente na sua área de ocupação.

Como mencionado, nas décadas de 1970 e 1980 há um novo movimento de “colonização” do estado e por conseguinte novo impacto sobre as comunidades indígenas, que ainda se mantinham coesas em pequenas áreas de mata e em fundos de fazenda. Até esse momento histórico os indígenas eram tutelados pelo Estado, tal como incapazes.

A Constituição de 1988 é um marco histórico na autonomia dos povos indígenas que passaram a ser considerados cidadãos com direito de voto, por exemplo. A conquista no Brasil foi o reflexo de um reconhecimento internacional de direitos relacionados aos povos tradicionais, que puderam a partir daí articular por conta própria

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A Colônia Agrícola Nacional de Dourados foi criada por meio do Decreto-Lei n° 5.941 de 28 de outubro de 1943.

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seus movimentos de reivindicação de direitos.

IMPACTOS DO PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO SOBRE O MODO DE VIVER TRADICIONAL DOS POVOS GUARANI DO MS

Neste item, pretendemos refletir sobre as condições dos indígenas kaiowa e guarani no sul de MS que estão no interior das reservas, as consequências mais expressivas para o seu modo de vida e algumas alternativas de acomodação de determinados grupos. Dessa forma delinearemos assim a situação de conflito em que se inserem indígenas e sociedade não indígena no interior do Mato Grosso do Sul.

A partir da década de 1980, alguns fatores que se sobrepõem no MS e motivam o deslocamento de grupos indígenas para fora das reservas que haviam sido criadas pelos órgãos indigenistas oficiais ao longo do século XX. Entre eles o aumento populacional no interior das reservas, o que gera um desconforto social para indivíduos que estão “culturalmente” habituados a se deslocar no interior dos territórios que ocupam, a precariedade das condições de subsistência; e a demanda pela reconstituição dos espaços político-espirituais dos grupos que haviam sido “perdidos” ao longo do processo de territorialização.

Buscando nos aprofundar na temática da territorialidade, o que se vê historicamente é que os povos Guarani sofrem uma desarticulação dos seus territórios tradicionais em meio a um processo de territorialização (com as reservas) que envolve também uma reorganização administrativa dessas comunidades promovida pelo Estado nacional.

A Ação política não deve ser tratada como uma simples atualização das estruturas inconscientes, ou um mero ajustamento a determinações superiores (econômicas, ecológicas, etc.), mas é marcada exatamente por sua intencionalidade, isto é, por seus fins serem assumidos por indivíduos (ou grupos) como relevantes para a coletividade e serem perseguidos de modo relativamente consistente em sua seqüência articulada de atos (processos).

A partir das reflexões dos autores que trabalham a temática da territorialidade podemos chegar a alguns aspectos que culminam da situação atual dos movimentos de reivindicação de terras indígenas entre os povos Guarani:

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a) as comunidades viviam em seus territórios tradicionais, movimentando-se e articulando relações conforme sua “vontade”, o que gerava por vezes novas mudanças de estadia e o nascimento de novas comunidades;

b) nas aldeias as comunidades passam a viver em um espaço pequeno e com a sobreposição de uma série de comunidades e lideranças que não estavam confortavelmente articuladas;

c) a partir da constituição de 1988, os indígenas articular, entre as áreas de acomodação, movimentos que reivindicam o atendimento de seus direitos. A estratégia de mobilidade espacial é integrante do modo de vida guarani. Essa mobilidade não pode ser confundida com nomadismo, mas acontece que, a organização social é um reflexo das alianças políticas do grupo e a distribuição no espaço, no uso dos caminhos, se reorganiza conforme se modificam esses laços.

Quando os indígenas no sul do Mato Grosso do Sul foram compulsoriamente “movidos” para as reservas,

Faltava-lhes direito a voz e instrumentos legais aos quais pudessem recorrer para defenderem seus direitos fundamentais. Assim, em geral tiveram de se resignar a desenvolver estratégias para construção de soluções locais de sobrevivência física e cultural no interior das reservas, fazendas ou núcleos urbanos da região (PEREIRA, 2010, p. 119).

Como dissemos, a reserva, ou “área de acomodação”, é uma imposição que acarreta uma série de transformações na forma organizacional tradicional kaiowa e guarani. A primeira delas é mencionada por João Pacheco de Oliveira (1988) quando relata a relação dos índios da etnia Ticuna com o “Regime Tutelar” da FUNAI:

A forma típica dessa atuação/presença acarreta o surgimento de determinadas relações econômicas e políticas, que se repetem junto a muitos grupos assistidos igualmente pela FUNAI [...] um modo de ser característico de grupos indígenas assistidos pelo órgão tutor, modo de ser que eu poderia chamar aqui de indianidade para distinguir do arbitrário cultural de cada um (PACHECO DE OLIVEIRA, 1988, p. 14, grifos originais).

Essa reorganização administrativa se expressa na figura dos “chefes de posto” e dos “capitães”, lideranças de ação local que representavam a FUNAI e que entram em

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desacordo com o sistema tradicional de liderança. Em geral, a figura principal na parentela era o hi’u5 que tinha a função de agregar os indivíduos ao seu redor, além de ser muitas vezes um rezador de prestigio.

Essa figura da liderança tradicional está presente em todas as instâncias da vida social, desde o fogo doméstico, até a associação de pequenos fogos que compartilham atividades cotidianas, até as instâncias que reúnem mais indivíduos. É uma liderança política e religiosa, simultaneamente, “[...] a existência do tekoha depende diretamente da presença dos líderes religiosos e políticos com reconhecida habilidade para reunir pessoas” (PEREIRA, 1999, p.189).

Por isso, o SPI não obtém muito sucesso quando institui as reservas e cria o cargo de “capitão”. Com o tempo e a arbitrariedade do estado nas políticas de tutela o chefe de posto ganha status de liderança definitiva, desarticulando a sucessão das lideranças tradicionais. Cavalcante (2011, p. 11) comenta:

Somente há pouquíssimo tempo a FUNAI deixou de interferir na escolha de capitães. [...] Apesar da postura oficial do órgão, são frequentes os relatos de indígenas que indicam que ainda há pouco tempo alguns servidores se envolviam em questões de política interna das TI6.

Mas a “mudança no sistema” ainda é confusa para os indígenas, há uma sobreposição de lideranças no interior das comunidades. Com a articulação política comum entre os kaiowa e guarani, essas relações tornam-se menos claras ainda. Hora eles decidem que é a FUNAI que deve “resolver”, hora requerem autonomia na gestão de seus problemas. Katia Vietta (2001) dá sua contribuição:

Neste novo quadro, o ñanderu, chefe de família extensa, referência religiosa, mas também de caráter político, tem o seu papel profundamente alterado, na medida em que as aldeias e reservas passam a constituir-se a partir da sobreposição de grupos familiares e, conseqüentemente, de lideranças. Com a incorporação da figura do capitão, que assume a esfera política, o ñanderu passa a ocupar uma posição secundária, inicialmente frente a esta questão, mas deixa de ser também uma referência importante na esfera religiosa, na maioria

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“O hi’u é geralmente um homem de idade avançada que gerou muitos filhos. Os Kaiowa explicam que ele é a ‘raiz’, o ‘esteio’ ou o ‘tronco da casa’, rememorando os tempos em que a parentela ocupava uma única casa grande comunal” (PEREIRA, 2004, p. 99)

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das áreas ocupadas (VIETTA, 2001, p. 2)7.

É importante perceber, por outro lado, que:

A presença dos caciques atualmente nas aldeias ainda é bastante significativa, dela depende a manutenção da tradição e da vida dos Kaiowa e Guarani que se resume na religião. Muitos informantes reclamam da ausência ou da desvalorização dos caciques em algumas áreas e atribuem os problemas vivenciados hoje a falta de atuação dos caciques. Outros, ainda, afirmam que os problemas são amenizados devido a reza dos caciques, pois estes sustentam e equilibram o mundo com seus mbaraka (COLMAN, 2007, p. 52).

Além dos empecilhos relacionados á convivência e ao papel da liderança, há a dificuldade de produção material do alimento e o assedio de instituições externas (ONGs, missões religiosas, entre outras) que acabam por alterar a dinâmica das relações no interior das comunidades. O que queremos dizer é que há claramente uma intervenção direta no estabelecimento de alianças, por exemplo.

Recorrer ao missionário, ao administrador ou ao indigenista parecia a solução mais apropriada ou a única forma de evitar conflitos. Essas novas modalidades de exercício da política implicaram na perda de prestígio das lideranças identificadas como tradicionais, principalmente daquelas cujo reconhecimento estava baseado em práticas religiosas, sendo raros os casos dos grandes xamãs que não viram seu prestígio desgastado (PEREIRA, 2007, p. 9).

Além da presença do Estado nas comunidades, os conflitos “habituais” da convivência próxima dos indígenas, continuam a se intensificar as relações de conflitos pelo crescimento da população, promovendo uma situação de tensão interna em que alguns grupos de indígenas “não conseguem” manter-se nas reservas optando por outros locais de assentamento. Pereira (2007, p. 13) fala sobre a situação de tensão:

A superpovoação nas reservas demarcadas provoca disputas acirradas por escassos recursos naturais, tais como terras próprias para agricultura e mesmo lenha. Quanto mais a população se adensa, mais aparecem acusações e conflitos de toda ordem. Por esse motivo, o cotidiano das reservas mais populosas é marcado por relações conflituosas entre parentelas, forçadas a conviver lado a lado, embora componham grupos de pessoas originários de distintas localidades,

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sem vínculos históricos e sociais de alianças entre eles.

Uma das alternativas de assentamento dos indígenas é na periferia das cidades ou em pequenos distritos do interior do estado. Nesses casos, os indígenas não são reconhecidos pelos órgãos de assistência, sendo considerados desaldeados. Muitos vivem em barracos de lona em situação de extrema vulnerabilidade social, sofrendo ainda com o preconceito e com a ameaça das bebidas alcoólicas e das drogas, mais acessíveis naquele espaço.

Outra situação é aquela encontrada em acampamentos montados para reocupação das terras tradicionais, que ficam ás margens das rodovias ou em pequenos espaços no interior da terra que reivindicam.

[...] é possível dizer que o assentamento de acampamento pode ser caracterizado como espaço social marcado por forte sentimento religioso e mobilização política. Nele, as famílias atualizam a memória das relações de aliança passadas, recompondo o sentimento de coletividade que, no passado, marcava a ocupação do espaço que agora buscam reaver. É uma experiência social de recomposição do sentimento de coletividade. No acampamento se atualizam formas organizacionais, rearticulando a comunidade política (PEREIRA, 2007, p. 22).

E por fim, na sistematização proposta por Levi Marques Pereira (2006), estão os grupos por ele definidos como “índios de corredor”. As comunidades são assim chamadas porque encontram-se assentadas ás margens da rodovia, entre a pista e as cercas de arame das propriedades rurais.

“Nessa estreita faixa de terra desapropriada pelo governo para segurança da rodovia e para realização de eventuais serviços de manutenção e ampliação, vive atualmente um significativo número de famílias Kaiowa, em caráter provisório ou permanente [...]”(PEREIRA, 2006, p. 73).

Alexandra Barbosa da Silva (2007, p. 88-89), procurando explicar especificamente a busca dos indígenas por outros espaços, que não se limitam ás reservas demarcadas pelo Estado, argumenta que as paisagens são dotadas de sentido, um sentido que nós, não indígenas, não somos capazes de apreender de forma significativa, e que essa complexidade e a dimensão profunda da relação entre os indígenas e o espaço levam os indivíduos a busca por alternativas em relação ás

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reservas.

Os indígenas que não estão nas reservas ou nas aldeias estão “fora do lugar” e a sociedade não indígena não compreende a alternativa encontrada pelos grupos para a “situação de reserva”. O cenário de violência que se desencadeia atormenta os indígenas. Nas periferias e nas reservas (sempre próximas das cidades) os indivíduos em situação de vulnerabilidade social, desemprego, fome, moradias precárias, acabam por entregar-se ao álcool e ás drogas. Nos acampamentos ou “no corredor” estão sujeitos á ataques por parte de vândalos ou “fazendeiros” e ao risco das rodovias, além da privação de água e comida.

No próximo tópico discutiremos mais aprofundadamente como a política indigenista se instala no Brasil e suas consequências para os povos Kaiowa e Guarani de Mato Grosso do Sul.

A POLÍTICA INDIGENISTA E OS INDIOS DO MS

Este item pretende abordar como foi a atuação da política indigenista no Brasil, e como as influências sofridas pelos órgãos nacionais de protecionismo atuaram na mediação da colonização do Brasil, e em especial de Mato Grosso do Sul

O conflito de interesses entre índios e não índios no Brasil sempre foi uma preocupação estatal, tanto que a criação do Serviço de Proteção aos Índios (SPI)8 é de 1910. A década de 1940 ainda era dessa instituição a responsabilidade de defender e garantir a permanência dos indígenas em suas terras, ainda que objetivamente nada tenha sido feito. Na prática, o órgão indigenista instituiu oito reservas indígenas para os Kaiowa e Guarani no Mato Grosso do Sul (respeitando ou não parte os territórios tradicionais). Conforme os colonos chegavam até a região e as matas nativas eram dizimadas, os índios eram “transferidos”, sem alternativa, para as “aldeias” (NASCIMENTO, 2008).

Os objetivos que nortearam a criação desse órgão da administração

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Inicialmente o Serviço de Proteção aos Índios (SPI) chamava-se Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais (SPILTN), pois estava instituída uma crise de trabalhadores no campo, devido á abolição da escravidão. Só em 1918 é que o SPI desvincula-se dessa tarefa (LIMA, 1995).

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pública federal foram colocar as populações indígenas sob a égide do Estado, por meio do instituto da tutela, prometendo assegurar-lhes assistência e proteção, tornando efetiva e segura a expansão capitalista nas áreas onde havia conflito entre índios e fazendeiros (BRAND e ALMEIDA, 2007, p. 2).

Consideramos importante pontuar que a intenção, ideologia predominante na época, era que os indígenas fossem “assimilados” pela sociedade não indígena e com o passar dos anos eles tornar-se-iam “produtivos”. A cultura desses povos era considerada selvagem e improdutiva e especificamente por isso se dá a “tutela”, uma instituição transitória, protecionista, enquanto os indígenas não se transformavam em “trabalhadores nacionais”. Assim:

[...] o poder tutelar exclui ao criar postos indígenas aos quais os povos nativos deveriam (re/a)correr, e junto aos quais deveriam se segregar. Ao mesmo tempo, porém, inclui populações e terras numa rede nacional de vigilância e controle, a partir de um centro único de poder (LIMA, 1995, P. 74-75, grifo original).

Antonio Carlos Souza Lima (1995) deixa claro que essa “divisão” cria rótulos, um tipo de sistema de codificações positivas e/ou negativas da sociedade não indígena em relação aos “outros”.

Conforme apontamos as oito “aldeias” oficializadas pelo SPI, em boa parte, não respeitavam os territórios de ocupação tradicional dos indígenas, pois os espaços eram vistos, na verdade, como terras devolutas, e os indígenas não precisariam de terreno em quantidade relevante, afinal, já estavam em processo de aculturação (BRAND E ALMEIDA, 2007). Os autores continuam:

O SPI firmou o entendimento de que os índios fora das reservas eram “índios desaldeados”, atribuindo-se a si a tarefa de aldeá-los, ou seja, transferí-los para dentro das reservas demarcadas. O deslocamento para dentro das Reservas de famílias e aldeias indígenas ainda residentes em fazendas da região seguiu constante durante a década de 1980, como atestam os informes e relatórios dos diversos funcionários da FUNAI. Estes mesmos relatórios confirmam o envolvimento do órgão oficial na política de confinamento dentro das Reservas, das comunidades localizadas fora das mesmas, dando continuidade à política do SPI de liberar terras para a colonização (BRAND E ALMEIDA, 2007, p. 9)9.

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O termo indigenismo tem origem no México, após a revolução de 1910, e relaciona-se especificamente com uma “ideologia de ação governamental frente às populações indígenas” (LIMA, 2002, p. 162). A instituição dessas ações pautava-se em uma antropologia que trabalhava com a função de identificar demandas das populações tradicionais (através de estudos aplicados) e propor soluções para os possíveis “problemas sociais”.

No Brasil, como dissemos, cabia ao SPI até 1930 o papel de “gestão” dos grupos indígenas e de migrantes, cabendo ainda a eles a proteção dos indígenas. Os índios nesse período eram considerados incapazes, devendo exercer participação civil apenas por meio do Estado. “Os principais funcionários do SPI eram, em sua maioria, engenheiros militares, marcados pelo positivismo ortodoxo de Auguste Comte” (LIMA, 2002, 166). Esses mesmos funcionários alimentavam vínculos com o Museu Nacional do Rio de Janeiro e com o Ministério da Agricultura, ambos mantinham os ideais integracionistas que buscavam promover o progresso através da civilização.

Quando Getúlio Vargas implanta a política de colonização do interior, a “Marcha para o Oeste”, surge a demanda pela “solução” dos problemas dos índios, que estariam demorando muito para se integrar.

A partir de 1950, uma nova geração de antropólogos chega ao Museu Nacional e com eles uma “inspiração antropológica” que se fundamentava em teorias do contato cultural e da aculturação. É nesse período que as experiências do indigenismo mexicano começam a ser utilizadas no Brasil.

Mas “[...] o indigenismo brasileiro, considerado como saber de Estado aplicado à gestão das sociedades indígenas, afastar-se-á inexoravelmente da antropologia social”, conforme era praticado no México (LIMA, 2002, p. 173). O indigenismo aqui buscava objetivamente a aculturação e a posterior integração dos índios, por isso a demarcação das reservas e a transferência para esses espaços foi tão violenta.

Entre as iniciativas de institucionalização do indigenismo, já na FUNAI, que foi criada em 1967, passam a ocorrer “cursos ‘técnicos” para formação de funcionários trabalho de Schaden (1962), mas, é utilizado na atualidade nos trabalhos de Antonio Brand (1993 e 1997). O termo dá nome ao processo de constrangimento dos povos indígenas a se instalarem nas reservas demarcadas pelo SPI, saindo de seus territórios tradicionais para pequenas áreas no entorno das cidades.

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que atuariam como chefes de posto.

Por volta da década de 1980, mais conflitos são gerados entre a administração militar e funcionários da FUNAI. Muitos antropólogos são demitidos da instituição e o termo “indigenista” passa a ser requerido por esses antropólogos que viriam a atuar principalmente em Organizações Não Governamentais (LIMA, 2002).

Paralelamente, na década de 1970 ocorre no Brasil iniciam-se uma série de movimentos em defesa de certos segmentos específicos da sociedade, articulados principalmente pela Igreja Católica, um exemplo é o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), criado em 1972.

Neste contexto de tutela da sociedade civil pela ditadura militar, de fechamento de qualquer possibilidade de diálogo democrático sobre os rumos do país, a questão indígena emerge como uma via de oposição ao regime político coercitivamente instalado (PERES, 2003, p. 6, grifo original).

Percebendo que os kaiowa e guarani estavam desarticulados politicamente e dispersos de suas parentelas o CIMI estimulou a retomada das Aty Guassu, que são “grandes assembléias” nas quais as lideranças poderiam se reunir para reavivar os laços enfraquecidos pelos constantes impactos que vinham sofrendo.

É ainda na década de 1980 que emergem os movimentos de retomada dos territórios tradicionais por parte dos indígenas, e delimita-se um contexto em que os guarani e kaiowa não se encontram instalados apenas nas reservas demarcadas pelo Estado, mas em beira de estradas e “fundos de fazendas”.

É importante pontuar que o movimento indígena que emerge nesse período acontece paralelamente a uma série de outros que emergem a nível mundial e em especial na América Latina, enquanto busca pela redemocratização dos estados nacionais. Esses movimentos fortalecem a luta pela autoafirmação da identidade indígena, pela garantia de direitos e pela reprodução de seus costumes.

Atualmente a FUNAI é ainda o órgão responsável pela demarcação e “administração” dessas áreas, ainda que não exista mais a “tutela” propriamente dita. Recentemente Pacheco de Oliveira et. al. (2006) fazem uma crítica à forma de estabelecimento das terras indígenas no Brasil, principalmente no que concerne á construção dos saberes da agência indigenista oficial, ao regime de tutela (que ainda se faz presente de certa maneira no sistema) e aos prazos estabelecidos para o

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reconhecimento das áreas gerando processos que se estendem pelos anos, e que provocam uma “expectativa de direitos” em ambas as partes envolvidas, situação que por sua vez protela mais ainda o fim dos conflitos.

É importante, conforme sugere João Pacheco de Oliveira (1998), desnatualizar a relação entre o Estado e os indígenas e as evidentes consequências que as ações protecionistas provocaram ao longo da história.

Podemos dizer ainda, que um ambiente colonialista é assim delineado, com violências de toda sorte, imposição de normas de conduta que entram em desacordo com as formas de viver tradicional dos kaiowa e guarani, entre outros. Eremites de Oliveira e Pereira (2010, p. 191) que fazem a seguinte contribuição:

[...] o ambiente colonialista a que nos referimos está relacionado, portanto, a um conjunto de relações sociais e de poder, linguagens, práticas e saberes que marcam a relação do Estado e de amplos segmentos da sociedade nacional para com minorias étnicas. Está presente especialmente em situações sócio-históricas decorrentes do avanço das frentes pioneiras, sobretudo nos campos econômico, político, social e cultural. Tem a ver ainda com esbulhos de territórios de ocupação tradicional de populações indígenas e quilombolas, processos de territorialização, discriminação étnicorracial e outras formas de violência, inclusive a física, contra povos e comunidades etnicamente distintos em relação à sociedade nacional.

Com o tempo, esse modelo de dominação passa a operar de forma mais abrangente, criando um sistema de relações muito difícil de ser superado. Em outras palavras, a mudança das condições em que se encontram os povos indígenas no Estado de Mato Grosso do Sul hoje, deve passar por uma revisão que abrange várias instâncias jurídicas e administrativas, além do combate ao preconceito e a desigualdade de oportunidades.

Relacionando o trabalho de González Casanova (2002) sobre a situação no México e a questão em estudo, percebe-se, a “sintonia” do que se encontra em Mato Grosso do Sul nas relações entre os povos indígenas e a sociedade não indígena:

Entre as sociedades indígenas percebem-se fatos como os seguintes: economia de subsistência predominante, nível monetário e capitalização mínimo, terras de acentuada pobreza agrícola ou de baixa qualidade (quando estão ocupadas), ou impróprias para a agricultura (serras), ou ainda de boa qualidade mas isoladas; agricultura e pecuária deficientes (sementes de baixa qualidade, [...] níveis de vida inferiores aos da região não indígena (mais

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insalubridade, altos índices de mortalidade geral e infantil, analfabetismo, raquitismo); carência acentuada de serviços (escolas, hospitais, água, eletricidade); intensificação do alcoolismo e da prostituição (pelos “atravessadores” e ladinos) agressividade de umas comunidades contra outras (real, lúdica, onírica), [entre outras] (GONZÁLEZ CASANOVA, 2002, p. 105).

Somam-se a isso, estereótipos que percebem os índios como “incapazes” e “preguiçosos”, hostilizando ainda suas roupas e modo de falar. Ora, o que se percebe é uma recorrente afirmação da falta de autonomia dos indígenas em relação ao Estado brasileiro. Qualquer tentativa de superação desse estigma é percebida como um ato de “revolta” ou de “ingratidão”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisado o processo histórico de colonização do sul do Mato Grosso do Sul e os impactos desse processo sobre as comunidade kaiowa e guarani da região, foi necessário refletir sobre as condições atuais das comunidades e entendendo, mais especificamente que a cultura não é estável, mas modifica-se pela resposta dos grupos em relação a fatores externos, demonstramos como se instala a situação de conflito entre indígenas, não indígenas e estado, no sul de Mato Grosso do Sul.

A dimensão da relação os povos guarani e os territórios são um dos motivadores iniciais para a formação de grupos de mobilização que reivindicam os territórios tradicionais, levando os indígenas a acamparem nas beiras de estrada e outras vezes o interior das fazendas, que não são de posse dos mesmos. Esse processo é fruto de um movimento maior, de âmbito internacional, que se desencadeia principalmente a partir da década de 80 e que reconhece os direitos dos povos tradicionais e empodera as comunidades em busca de suas próprias demandas.

A iniciativa de mobilização, ou seja a formação dos acampamentos, é o maior causador do clima de tensão em que se envolvem os fazendeiros, que se sentem ameaçados constantemente pela presença dos indígenas.

Como a espoliação das terras e a mudança dos indígenas para as aldeias é um processo que se intensificou muito recentemente, cerca de 40 anos atrás, vários indígenas vivos foram testemunha de casos de violência empreendidos pelos não índios, rememorando nomes e fatos. Também está claro na memória dessas pessoas pontos de

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referência, tanto naturais quanto humanizados, como sepulturas, antigas casas e caminhos.

Nossa principal contribuição é trazer para a academia uma discussão que está instalada no estado tanto pela classe produtora, como na mídia, no campo da educação, em outras palavras, reproduzido pelo senso comum, sem o devido cuidado com a superação dos estereótipos historicamente construídos.

Os povos indígenas que são, sob essa ótica, vitimas da omissão estatal, tendo seus direitos fundamentais negados, sendo praticamente tomados, por outro lado, como peças de museu, isoladas em um passado distante e anterior a “civilização brasileira”, e que mantém-se como unidade étnicas coesas que “insistem” em resistir às adversidades do colonizador.

Não podemos deixar de apontar a profundidade desta discussão extrapola este estudo, mas que é necessário que as várias perspectivas sejam sobrepostas por autores de diversas áreas e assim criticas e justificadas com o objetivo de convergirem, no futuro, em possibilidades de atenuação dos conflitos.

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