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Aplicação do Retificador True Unity Power Factor em Estações de Carregamento Ultrarrápidas

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Academic year: 2021

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Aplica¸

ao do Retificador True Unity Power

Factor em Esta¸

oes de Carregamento

Ultrarr´

apidas

Dener A. de L. Brand˜ao∗Thiago M. Parreiras∗ Igor A. Pires∗∗ Braz de J. Cardoso Filho∗∗∗ ∗Programa de P´os-Gradua¸ao em Engenharia El´etrica da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil

(e-mails: dalbrandao@ufmg.br; thiago.m.parreiras@ieee.org) ∗∗Departamento de Engenharia Eletrˆonica da Escola de Engenharia da

Universidade Federal de Minas Gerais (e-mail: iap@ufmg.br) ∗∗∗Departamento de Engenharia El´etrica da Escola de Engenharia da

Universidade Federal de Minas Gerais (e-mail: cardosob@ufmg.br)

Abstract: With the increasing demand for electric vehicles worldwide, the need for technically robust chargers capable of providing fast recharges has become essential. The Regular Ultra Fast Charging (R-UFC) can meet the demands of vehicles in public transport, such as electric buses, worldwide. This work aims to demonstrate the use of a True Unity Power Factor rectifier for R-UFC stations with loads composed of supercapacitors. The simulation results in Simulink R

showed that the total demand distortion (TDD) was 0.9%, meeting the recommendations of international organizations in relation to the injection of harmonics in the Electrical System, such as IEEE 519 2014, which recommends a maximum of 5%, as well as fulfilling its role of ultra-fast charger.

Resumo: Com o aumento da demanda por ve´ıculos el´etricos em todo o mundo, a necessidade de carregadores robustos tecnicamente e capazes de fornecer recargas r´apidas se tornou essencial. As esta¸c˜oes de carregamento ultrarr´apido por oportunidade (R-UFC) podem atender `as demandas dos ve´ıculos no transporte p´ublico, como ˆonibus el´etricos, em todo o mundo. Esse trabalho tem por objetivo demonstrar a utiliza¸c˜ao de um retificador True Unity Power Factor para esta¸c˜oes R-UFC com cargas compostas por supercapacitores. Os resultados de simula¸c˜ao no Simulink R

mostraram que a distor¸c˜ao harmˆonica em porcentagem com a corrente de demanda (TDD) foi de 0,9%, atendendo a recomenda¸c˜oes de organiza¸c˜oes internacionais em rela¸c˜ao `a inje¸c˜ao de harmˆonicos no Sistema El´etrico, como a IEEE 519 2014, que recomenda um m´aximo de 5%, bem como cumprindo seu papel de carregador ultrarr´apido.

Keywords: rectifier, charger, unity power factor; ultra-fast charging; e-bus; ultracapacitor Palavras-chaves: retificador;carregador;fator de potˆencia unit´ario; carregamento ultrarr´apido; e-bus; ultracapacitor

1. INTRODU ¸C ˜AO

Atualmente, muitos pa´ıses ao redor do mundo tˆem adotado medidas e vˆem realizando mudan¸cas em suas legisla¸c˜oes para, por exemplo, reduzir a emiss˜ao de gases poluentes na atmosfera. Uma das formas de redu¸c˜ao de gases poluentes ´e atrav´es da mudan¸ca gradual da frota veicular `a combust˜ao em plug-in electric vehicles (PEVs) e plug-in hybrid electric vehicles (PHEVs). Tal movimento ´e forte principalmente na Uni˜ao Europeia, na qual muitos pa´ıses tˆem propostas de proibir carros `a combust˜ao at´e 2040 e outros, mais ambiciosos neste projeto, at´e 2030 (G1 (2018)). No Brasil, o programa Rota 2030 tem, dentre suas propostas, o incentivo ao investimento em programas de P&D por parte das empresas automotivas no pa´ıs, principalmente com uma perspectiva de desenvolvimento sustent´avel, o que engloba o desenvolvimento de ve´ıculos el´etricos e h´ıbridos (MDIC - Brasil (2018)).

Com tais projetos em andamento, h´a a necessidade de se ampliar e melhorar a infraestrutura para comportar o crescente ramo de locomo¸c˜ao que deve ser adotado em todo o mundo. Uma grande preocupa¸c˜ao dos consumidores est´a relacionada com a velocidade de carregamento dos PEVs e PHEVs que, ao contr´ario dos ve´ıculos a combus-t˜ao, tem tempos muito mais elevados para chegarem `a plena autonomia. Portanto, o desenvolvimento de esta¸c˜oes de carregamento ultrarr´apido (R-UFC) s˜ao fundamentais para atingir esse objetivo.

Dentre os empreendimentos de R-UFC, pode-se citar o estudo realizado por Lemon et al. (1999), no qual re-alizaram o R-UFC em ˆonibus com carregadores de 300 kW e baterias de Ni-Cd e, posteriormente, baterias de chumbo-´acido seladas. No estudo de Steiner et al. (2007), foi utilizado um banco de ultracapacitores em um LRV (sigla em inglˆes para ve´ıculo ferrovi´ario leve) na cidade

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alem˜a de Manheeim. Obteve-se uma economia de energia de 30% e a possibilidade de operar o LRV livre da caten´aria por algumas centenas de metros, especialmente no cen-tro da cidade. Na China, h´a empreendimentos de ˆonibus com supercapacitores para recargas ultrarr´apidas (MIT Technology Review (2009)). Os ˆonibus alcan¸cam de 5 a 8 km a cada recarga, que ´e realizada em poucos minutos. Empreendimentos atuais tem sido realizados por diversas empresas, como os ˆonibus TOSA na Su´ı¸ca (ABB (2018)). Com 10 ˆonibus em opera¸c˜ao desde 2018 na cidade de Geneva que conseguem transportar 133 passageiros cada, as recargas ultrarr´apidas s˜ao realizadas em 13 pontos de 600 kW em 20 segundos.

As esta¸c˜oes de carregamento ultrarr´apido precisam aten-der a requisitos de inje¸c˜ao de harmˆonicos na rede. Normas internacionais, como a IEC 61000-3-2 (IEC (2002)) e re-comenda¸c˜oes como a IEEE 519-2014 (IEEE (2014)) para limites de harmˆonicos de tens˜ao e, para os harmˆonicos na corrente, a norma IEC 61000-3-12 (IEC (2011)) e a NEMA PE-5-1997 (NEMA (2003)), que segue a recomenda¸c˜ao da IEEE 519-2014, s˜ao utilizadas em diversos pa´ıses, mui-tas vezes replicadas em legisla¸c˜oes locais, como ´e o caso do Brasil atrav´es do M´odulo 8 do PRODIST (ANEEL (2018)), baseado em normas da IEC. Portanto, al´em dos desafios inerentes ao carregamento de alta potˆencia, tem-se ainda a quest˜ao regulat´oria a ser atendida.

Outro problema para as esta¸c˜oes de carregamento ultrarr´ a-pido est´a relacionado `a potˆencia m´axima de carregamento das cargas. Extremamente difundidas em PEVs e PHEVs, as baterias de ´ıon-l´ıtio n˜ao possuem uma densidade de potˆencia elevada para carregamentos muito r´apidos e, con-sequentemente, com alta potˆencia, sendo prejudiciais `a sua vida ´util e at´e mesmo podendo danific´a-las, como mostrado em Sertkaya et al. (2015). Sendo assim, alternativas como o uso de supercapacitores para lidar com a inje¸c˜ao de alta potˆencia no carregamento ´e promissora.

Al´em disso, a inser¸c˜ao massiva de sistemas de carga r´apida pode alterar as caracter´ısticas de ressonˆancia da rede el´etrica. Segundo o trabalho de Sun et al. (2018), a elevada inje¸c˜ao de harmˆonicos na rede causada pelos sistemas de carregamento ultrarr´apido seria capaz de alterar o ponto de ressonˆancia da rede original de 1600 Hz para 1250 Hz numa rede de transmiss˜ao holandesa em Bronsbergen. Esse novo ponto de ressonˆancia pode ser atingido pelos harmˆonicos caracter´ısticos de inversores de 12 pulsos. As ressonˆancias podem gerar sobretens˜oes e sobrecorrentes nos sistemas, sendo, portanto, prejudiciais.

Esse artigo tem por objetivo validar uma solu¸c˜ao para os trˆes problemas com a utiliza¸c˜ao de um retificador True Unity Power Factor (TUPF) para carregamento de banco de supercapacitores de ˆonibus el´etricos atrav´es de recargas ultrarr´apidas, uma contribui¸c˜ao ao trabalho de Justino et al. (2016), no qual ´e realizado a utiliza¸c˜ao do TUPF numa carga resistiva.

Al´em de atender `as normas citadas, o TUPF reduz a probabilidade de ressonˆancias devido a ausˆencia de ele-mentos capacitivos de filtro, como mostrado no trabalho de Almeida and Cardoso Filho (2018), no qual s˜ao analisados os fatores de amplifica¸c˜ao de ressonˆancia por parques de turbinas e´olicas e conversores tradicionais. A utiliza¸c˜ao do TUPF traz como benef´ıcio a elimina¸c˜ao dos harmˆonicos

at´e a 50a ordem, al´em de modificar, no caso do trabalho de Almeida and Cardoso Filho (2018), as caracter´ısticas de ressonˆancia paralela do parque e´olico, deslocando as frequˆencias de suas ocorrˆencias para valores mais altos, diminuindo a probabilidade de serem excitados.

Na se¸c˜ao 2 ser˜ao descritos alguns sistemas de carregadores ultrarr´apidos, com topologias tradicionais e uma aborda-gem do retificador TUPF e seu funcionamento. Na se¸c˜ao 3, ser˜ao abordadas quest˜oes relacionadas ao armazenamento de energia. A se¸c˜ao 4 mostra os esquemas de controle do TUPF como retificador e do conversor c.c. ligado `a carga, al´em dos parˆametros utilizados em simula¸c˜ao. Por fim, a se¸c˜ao 5 mostra os resultados obtidos, bem como sua an´alise, seguida da se¸c˜ao 6 que conclui o trabalho.

2. CARREGADORES ULTRARR ´APIDOS

2.1 Topologias Tradicionais

A tradicional ponte de diodos trif´asica, vista na figura 1, tamb´em chamada de retificador a 6 pulsos, possui baixa qualidade de energia, baixo range de potˆencia e necessita de um filtro c.c. volumoso, como citado em Justino et al. (2016). Outra solu¸c˜ao ´e o retificador a 12 pulsos, visto na figura 2 que, apesar de ser recomendado para aplica¸c˜oes para potˆencias superiores a 300 kW e possuir baixo custo, n˜ao atende `as normas de harmˆonicos especificadas em normas provenientes da IEC sem a utiliza¸c˜ao de um filtro c.a. e, bem como a solu¸c˜ao de 6 pulsos, possui um filtro c.c. volumoso.

Figura 1. Retificador trif´asico de 6 pulsos.

Figura 2. Retificador trif´asico de 12 pulsos.

Os retificadores ativos, como o mostrado na figura 3, possuem a vantagem da implementa¸c˜ao do controle da tens˜ao do barramento c.c. e outras vantagens em rela¸c˜ao `

a gera¸c˜ao de harmˆonicos na rede el´etrica. Entretanto, h´a diversas limita¸c˜oes para aplica¸c˜oes em alta potˆencia, como suas altas perdas de comuta¸c˜ao, filtros c.a. volumosos e problemas de interferˆencia eletromagn´etica (EMI), todos

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relacionados `a alta frequˆencia de chaveamento do conver-sor. Os filtros senoidais para conex˜ao `a rede, como os filtros LCL, s˜ao propensos `a ressonˆancias e, portanto, tornam-se um problema nessas aplica¸c˜oes, principalmente em altas potˆencias. A redu¸c˜ao da frequˆencia de chaveamento cau-saria um aumento no custo e no volume dos filtros c.a., n˜ao sendo uma op¸c˜ao vi´avel t´ecnica e economicamente. Uma outra solu¸c˜ao para os filtros seria a utiliza¸c˜ao de filtros senoidais ativos, mas, al´em de elevar ainda mais os custos da aplica¸c˜ao, traria complexos problemas de controle (Justino et al. (2016)).

Figura 3. Retificador ativo para aplica¸c˜oes de carregadores. 2.2 Multilevel Modular Cascade Converter (MMCC) Uma topologia que vem sendo muito discutida atualmente para diversas aplica¸c˜oes como, por exemplo, gera¸c˜ao de energia distribu´ıda, ´e a topologia Multilevel Modular Cas-cade Converter (MMCC). Como se trata de uma topologia que pode trabalhar em altas potˆencias, a utiliza¸c˜ao do MMCC para esta¸c˜oes de carregamento ultrarr´apido deve ser considerada, como mostra o estudo de Tsirinomeny and Rufer (2015).

Os conversores MMCC abrem a possibilidade da conex˜ao transformerless, reduzindo os custos com a aquisi¸c˜ao e instala¸c˜ao de transformadores de m´edia tens˜ao entre o conversor e a rede el´etrica, conforme as topologias mos-tradas no trabalho de Akagi (2011). Com o uso de um n´umero substancial de c´elulas, v´arios n´ıveis podem ser obtidos na tens˜ao do lado da rede podendo eliminar a necessidade de um filtro de segunda ordem. Contudo, o uso de grande quantidade de componentes traz desafios adicionais de controle e confiabilidade.

Entretanto, o TUPF traz como vantagens a utiliza¸c˜ao de transformadores e topologias de conversores simples e convencionais j´a consolidados na ind´ustria, o que reduz o custo e a aumenta a confiabilidade da solu¸c˜ao. O uso de transformadores garante tamb´em o isolamento galvˆanico entre a entrada e a sa´ıda do conversor. Al´em disso, com um controle e modula¸c˜oes adequados, pode-se obter com o TUPF uma forma de onda praticamente senoidal na rede el´etrica sem uso de filtros com elementos capacitivos e com baixas frequˆencias de chaveamento, reduzindo as perdas. 2.3 Retificador TUPF

O retificador TUPF, apresentado em Parreiras (2015) e mostrado na figura 4, tem por objetivo eliminar todos os harmˆonicos at´e a 50a ordem, a fim de atender `as diversas normas e recomenda¸c˜oes internacionais, citadas na se¸c˜ao 1.

Figura 4. Retificador True Unity Power Factor (TUPF).

Para tal, o TUPF ´e composto por um transformador de trˆes enrolamentos nos quais exista uma defasagem angular de 30oentre um dos secund´arios e o prim´ario; reatores de entrada para os conversores, de forma a reduzir a ampli-tude dos harmˆonicos da corrente de entrada; e conversores de dois ou trˆes n´ıveis que utilizam a modula¸c˜ao SHE-PWM de 9 pulsos num ambiente de controle dinˆamico de corrente (Parreiras (2015)). Essa solu¸c˜ao permite eliminar o uso de filtros capacitivos na entrada, bem como a redu¸c˜ao da frequˆencia de chaveamento. A tabela 1 exemplifica os harmˆonicos que s˜ao eliminados por cada componente do TUPF.

Tabela 1. Harmˆonicos eliminados por cada componente do TUPF.

Componente do TUPF Harmˆonicos Eliminados Transformador de trˆes enrolamentos 5, 7, 17, 19, 29, 31, 41, 43

Conversores com SHE-PWM 11, 13, 23, 25, 35, 37, 47, 49

Fonte: Parreiras (2015)

2.4 Modula¸c˜ao por Elimina¸c˜ao Seletiva de Harmˆonicos (SHE-PWM)

A modula¸c˜ao SHE-PWM, proposta inicialmente em Patel and Hoft (1973), consiste em manipular o ˆangulo de disparo das chaves ao longo do ciclo de opera¸c˜ao, de forma que se consiga eliminar o n´umero de harmˆonicos igual a M-1, sendo M o n´umero de disparos realizados por semi-ciclo da fundamental. Para calcular os ˆangulos de disparo, ´e necess´ario conhecer os harmˆonicos a serem eliminados, o n´umero de n´ıveis do conversor e o ´ındice de modula¸c˜ao da onda. ´E poss´ıvel ver na figura 5 uma forma de onda gen´erica, esbo¸cando o funcionamento do SHE-PWM para conversores de 2 n´ıveis.

Dessa forma, deve-se encontrar o valor dos ˆangulos de transi¸c˜ao de estado a partir do conjunto de equa¸c˜oes, mostrado em (2).

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f0+h∂f ∂α i0 · dα = 0 α1= α0+ dα (1)      1 − 2cos(α1) + · · · + 2(−1)Mcos(αM) 1 − 2cos(n1· α1) + · · · + 2(−1)Mcos(n1· αM) .. . 1 − 2cos(ni· α1) + · · · + 2(−1)Mcos(ni· αM)      = K (2) Sendo K = [Mi 0 · · · 0] T

e Mi o ´ındice de modula¸c˜ao.

Figura 5. Onda gen´erica da modula¸c˜ao SHE-PWM para conversor a 2 n´ıveis.

In´ıcio

Dados de entrada: Mi,

harmˆonicos a serem eliminados e palpite inicial para α1, α2, ..., αM

Avaliar equa¸c˜ao (2).

|f − K| ≤ 

Avaliar equa¸c˜ao (1) e encontrar pr´oximo palpite.

N´umero de itera¸c˜oes ≥ N?

Falhou em convergir. Alterar o palpite inicial.

αi> αi−1

1 ≤ i ≤ M Mudar o palpite inicial para α.

Mostrar os ˆangulos α1, α2, ..., αMfinais. Fim N˜ao Sim Sim N˜ao N˜ao Sim

Figura 6. Fluxograma do m´etodo de itera¸c˜oes lineares de Newton para obten¸c˜ao dos ˆangulos de transi¸c˜ao de estado.

A solu¸c˜ao para (2) n˜ao ´e trivial, pois as equa¸c˜oes s˜ao n˜ao-lineares e transcendentais. Dessa forma, para resolvˆ e-las ´e necess´ario um m´etodo num´erico para encontrar uma solu¸c˜ao. O m´etodo utilizado em Parreiras (2015) baseado em Patel and Hoft (1973) ´e o m´etodo de itera¸c˜oes lineares de Newton, conforme mostra o esquema da figura 6, utilizando as derivadas parciais de (2) em (1) para encontrar a solu¸c˜ao.

3. ARMAZENAMENTO DE ENERGIA 3.1 Demanda de Energia e Potˆencia de E-Buses

Abordando o conceito de Regular Ultra-Fast Charging - R-UFC, o trabalho de Justino et al. (2014) tem como an´alise a aplica¸c˜ao de e-bus na cidade de Belo Horizonte, no Brasil, com ve´ıculos Bus Rapid Transit (BRT) do MOVE, sistema de transporte p´ublico da cidade.

Figura 7. Corredor do MOVE Antˆonio Carlos em Belo Horizonte.

Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte

O perfil de eleva¸c˜ao da cidade implica em desafios adicio-nais na utiliza¸c˜ao de e-bus e R-UFC. A rota estudada liga a Esta¸c˜ao de ˆOnibus na regi˜ao da Pampulha ao centro da cidade, totalizando cerca de 9 km com paradas de 10 a 30 segundos nas esta¸c˜oes intermedi´arias com m´edia de 500 m entre cada esta¸c˜ao. Os ˆonibus, por sua vez, possuem 12 a 21 m (quando articulado) pesando cerca de 18 toneladas. Ap´os an´alise do perfil de energia encontrado, estimou-se um banco de baterias de ´ıons de l´ıtio tradicional de 8,45 toneladas, tornando-o invi´avel para a opera¸c˜ao di´aria do e-bus. Uma redu¸c˜ao da quantidade de baterias acarreta-ria em mais recargas durante o dia. Quando utilizado o conceito de R-UFC e o armazenamento de energia modi-ficado para supercapacitores, poderia-se obter um banco de armazenadores de aproximadamente 1 tonelada e 2,7 kWh de capacidade de energia, al´em de realizar recargas ultrarr´apidas ao longo do percurso, tendo como maior tempo de recarga cerca de 30 segundos.

3.2 Supercapacitores

Os supercapacitores, diferente dos capacitores eletrost´ ati-cos e de alguns eletrol´ıtiati-cos, possuem baixas tens˜oes de opera¸c˜ao e sua densidade de energia ´e de cerca de 1 a 30 Wh/kg, cerca de 10 a 50 vezes menor que as baterias de ´ıon-l´ıtio. Outra desvantagem est´a relacionada a sua curva de descarga que, diferente da curva de descarga da bateria na qual a tens˜ao permanece praticamente constante du-rante 90% da sua descarga, a curva de tens˜ao do capacitor

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Figura 8. Configura¸c˜ao do carregador ultrarr´apido utilizando o retificador TUPF. cai linearmente com a carga, dificultando o aproveitamento

da energia, como mostrado em Dias-Gonz´ales et al. (2016). As grandes vantagens dos supercapacitores est˜ao no seu tempo de carga, na alt´ıssima ciclagem e na sua elevada densidade de potˆencia. Juntamente com uma solu¸c˜ao de 2,5 MW composta por volantes de in´ercia, uma solu¸c˜ao de 2 MW foi instalada na Long Island Rail Road (LIRR) nos EUA para suprir a demanda de partida dos trens e, al´em disso, armazenar a energia gerada pelas frenagens regenerativas (Green Car Congress (2014)).

O modelo comumente adotado para os supercapacitores ´

e composto pela resistˆencia s´erie (esr), representada na figura 9 pelo resistor Rs, por um resistor modelando a auto-descarga do capacitor (R1) e um capacitor ideal. O algoritmo t´ıpico para carregamento de supercapacitores ´

e o mesmo para baterias de ´ıons de l´ıtio, no qual ´e aplicada uma corrente constante at´e a carga atingir sua tens˜ao nominal. Por´em, a corrente pode ser cessada nos supercapacitores, enquanto as baterias permanecem sendo carregadas no modo de potˆencia constante.

Figura 9. Modelagem do supercapacitor.

Para avaliar a utiliza¸c˜ao do Retificador TUPF como car-regador para esta¸c˜oes de carregamento ultrarr´apido, teve-se como bateve-se as defini¸c˜oes de energia encontradas para o corredor do MOVE Antˆonio Carlos calculadas no trabalho de Justino et al. (2014). Nesse trabalho, ´e realizado o c´alculo da energia necess´aria para cada parada do e-bus, de acordo com as atuais paradas dos ˆonibus no corredor. O c´alculo foi realizado analisando o trajeto de ida e de volta do ˆonibus entre a Esta¸c˜ao Pampulha e o centro da cidade.

Analisando a energia necess´aria entre cada parada, encon-trou o valor m´aximo de 2,66 kWh entre duas paradas con-secutivas. Dessa forma, o banco de capacitores deve ser ca-paz de armazenar tal energia em uma recarga ´unica. Al´em disso, foi proposta uma taxa de recarga de 77,78 Wh/s, ou seja, esta¸c˜oes de recarga de 280 kW, totalizando um carregamento em 34,7 s para a parada de maior recarga. No trabalho de Justino et al. (2016), ´e realizada apenas o teste para uma carga resistiva de 350 kW utilizando o TUPF como conversor, mas n˜ao h´a o carregamento do supercapacitor, bem como sua modelagem.

Neste trabalho, foi conectado em paralelo com o barra-mento c.c. de 700 V do TUPF um conversor c.c./c.c. interleaved de trˆes bra¸cos conectado `a carga de super-capacitores com indutˆancias de 600 µH e frequˆencia de chaveamento de 5 kHz. Tal topologia reduz o ripple da corrente de sa´ıda em trˆes vezes frente a conversores buck bidirecionais tradicionais. A figura 8 mostra um esquema da simula¸c˜ao realizada utilizando o TUPF e o conversor c.c./c.c. interleaved.

4. CONTROLE DO CARREGADOR TUPF No controle do TUPF, a referˆencia de potˆencia ativa ´e ge-rada pelo controlador de tens˜ao, como pode ser observado na figura 10.

Figura 10. Controle de tens˜ao do barramento c.c. do TUPF.

Utilizou-se a abordagem do controle de corrente a par-tir do eixo dq alinhado com o fasor de tens˜ao da rede (Park (1929)), conforme figura 11. Realizando Qref = 0, tem-se fator de deslocamento unit´ario. Foram adotadas estrat´egias de controle realimentado, comando de feed-forward, desacoplamento de eixos e a combina¸c˜ao do

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sis-tema em malha aberta com estimativa dos parˆametros da planta. O controle em malha fechada foi implementado numa frequˆencia de amostragem de 5,76 kHz para im-plementa¸c˜ao posterior em um microcontrolador da Texas Instruments R e o SHE-PWM implementado em FPGA

com frequˆencia de amostragem de 250 kHz.

Figura 11. Controle de corrente do TUPF.

Vdq(s) Idq(s) = sL + k dq p + kdqi s (3) ICharger(s) VDC(s) = sCeq+ kpv+ kiv s (4)

Os ganhos foram calculados para que os polos do sistema, cujas express˜oes para rigidez dinˆamica s˜ao (3) e (4), estejam em frequˆencias mais elevadas, espa¸cados de forma adequada para evitar interferˆencia entre os mesmos e manter a t´ecnica SHE-PWM funcionando de maneira coerente.

Para obten¸c˜ao dos parˆametros do banco de capacitores, foi considerado o ultracapacitor SSC LE Series da AVX (2020) como c´elula. A tabela 2 mostra as caracter´ısticas do banco. Vale ressaltar que, segundo os dados do fabricante, a excurs˜ao m´axima da tens˜ao no capacitor ´e de 50% e, portanto, deve ser projetado considerando esse fator limitante.

Tabela 2. Caracter´ısticas da c´elula capacitiva e do banco de capacitores.

Tens˜ao da C´elula 2,7 V Capacitˆancia da C´elula 500 F Resistˆencia s´erie da c´elula 1,6 mΩ Node supercapacitores em s´erie

(uma string) 186

Node strings em paralelo 36

Total de C´elulas 6696

Tens˜ao do banco 500 V

Capacitˆancia do banco 97 F Resistˆencia s´erie do banco 8,3 mΩ

Para o conversor c.c., a mesma abordagem baseando-se na curva de rigidez dinˆamica do sistema foi utilizada, cujas equa¸c˜oes s˜ao (5) e (6) para tens˜ao (figura 12) e corrente (figura 13) no supercapacitor, respectivamente. A tabela 3 mostra o valor dos parˆametros para os controladores.

ISuperCap(s) VDC(s) = sCBank+ kpv+ kiv s (5) V DCSuperCap(s) IL(s) = sLcc+ kpi+ kii s (6)

Figura 12. Controle da tens˜ao do supercapacitor.

Figura 13. Controle da corrente no bra¸co A do conversor c.c.

Tabela 3. Ganhos dos controladores de corrente e tens˜ao do TUPF Charger.

Malha de Tens˜ao Malha de Corrente

Parˆametro TUPF c.c./c.c. TUPF c.c./c.c.

Ganho proporcional 1 3040 0,3 1.9

Ganho integral 4,4 19100 13 592

5. RESULTADOS

Na figura 14 pode-se observar a tens˜ao de sa´ıda do retifi-cador TUPF em regime permanente.

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Observa-se um ripple calculado em torno de 1,5% (entre 695 e 705 V) da tens˜ao prevista para o barramento c.c. da sa´ıda do retificador TUPF, que ´e de 700 V. Na figura 15, observa-se o ripple na corrente de carregamento do supercapacitor em torno de 11% (corrente entre 520 e 600 A) e a carga linear de tens˜ao no supercapacitor entre 1 e 42 segundos, totalizando 41 segundos de carga.

Figura 15. Tens˜ao e corrente no supercapacitor durante o carregamento.

Pode-se observar a corrente nas indutˆancias do conversor c.c. na figura 16. O valor m´edio da corrente em cada um dos bra¸cos de 187 A. O ripple encontrado para cada corrente foi de 33% (entre 220 A e 160 A), trˆes vezes maior que o ripple da corrente de sa´ıda para o supercapacitor, que foi de 11%.

Figura 16. Correntes nos indutores do conversor c.c. aco-plado ao supercapacitor

Em seguida, ´e poss´ıvel ver as correntes no prim´ario do transformador conectado `a rede na figura 17 e as tens˜oes da rede. A baixa distor¸c˜ao harmˆonica visual pode ser confir-mada pelas an´alises do espectro de frequˆencia das correntes do prim´ario em compara¸c˜ao com os limites harmˆonicos estabelecidos pela IEEE 519 2014 e com a sua TDD,

referente a corrente demandada pela rede, vista na figura 18 que esbo¸ca o pior caso para os espectros harmˆonicos. Observa-se um TDD m´aximo entre as corrente de 0,9%, abaixo do limite da recomenda¸c˜ao da IEEE 519 2014, que ´e de 5%, bem como n´ıveis individuais dos harmˆonicos de corrente abaixo dos limites recomendados at´e o 50o harmˆonico. A tabela 4 mostra o valor da TDD para as correntes de cada fase da rede el´etrica.

Figura 17. Correntes e tens˜oes no prim´ario do transforma-dor de trˆes enrolamentos conectado `a rede.

Figura 18. An´alise do espectro de frequˆencias da corrente na fase A do prim´ario comparada com os n´ıveis de IEEE 519 2014.

Tabela 4. TDDs para as correntes das trˆes fases da rede el´etrica.

Fase TDD (%)

A 0,90

B 0,65

C 0,89

6. CONCLUS ˜AO

Este artigo validou uma arquitetura promissora para as esta¸c˜oes de carregamento ultrarr´apido com o retificador

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TUPF. Foi verificado um baixo n´ıvel de TDD, com m´ a-ximo de 0,9% entre as correntes, atendendo `as normas e recomenda¸c˜oes internacionais, como IEEE 519 2014 que recomenda um n´ıvel de TDD m´aximo de 5%. Por seguir a recomenda¸c˜ao da IEEE 519-2014, a NEMA-PE-5 (1997) que define o padr˜ao dos produtos el´etricos produzidos por seus associados, tamb´em ´e atendida com essa abordagem de carregamento ultrarr´apido, tornando a solu¸c˜ao atra-tiva nos EUA e para fabricantes em todo o mundo que seguem os padr˜oes NEMA. Em pa´ıses da Uni˜ao Europeia, que utilizam as normas da IEC em suas legisla¸c˜oes, a solu¸c˜ao apresentada neste trabalho pode ser utilizada em v´arios empreendimentos, j´a que tamb´em atende `as regras definidas. O carregamento do supercapacitor foi realizado com controle de corrente constante de 560 A at´e a sua tens˜ao nominal de 500 V, sem sobretens˜ao ao final do carregamento, o que garante uma manuten¸c˜ao da vida ´util do banco de supercapacitores.

Portanto, a solu¸c˜ao com banco de supercapacitores para recargas ultrarr´apidas combinado ao retificador TUPF se mostrou vi´avel permitindo um avan¸co no conceito de recargas ultrarr´apidas com baix´ıssima distor¸c˜ao harmˆonica nas correntes da rede el´etrica, o que torna a solu¸c˜ao mais atrativa para ser aplicada em larga escala.

A pr´oxima etapa para esse trabalho ´e verificar a possi-bilidade de carregamento retirando o conversor c.c., ape-nas com o retificador TUPF, reduzindo a quantidade de componentes e, logicamente, o custo da solu¸c˜ao, al´em de validar experimentalmente tanto a nova perspectiva como a apresentada neste trabalho.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi suportado pelo grupo Neoenergia atra-v´es do programa de P&D ANEEL ”Chamada ANEEL: 021/2016”no projeto de pesquisa PD-00043-0516/2016.

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