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Riscos geotécnicos e vulnerabilidades sociais no Litoral Norte de São Paulo

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Riscos geotécnicos e vulnerabilidades sociais no Litoral Norte de

São Paulo

Allan Yu I. de MELLO

1

, Mateus BATISTELLA

2

, Lúcia da C. FERREIRA

1 1 Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM-UNICAMP) – allan.iwama@gmail.com, luciacf@unicamp.br , 2 Embrapa Monitoramento por Satélites (EMBRAPA) - mb@cnpm.embrapa.br Resumo

Caracterizar as situações de vulnerabilidades em zonas costeiras tem sido fundamental para as agendas científicas relacionadas à temática das dimensões humanas das mudanças ambientais globais. Este trabalho teve como base uma análise espacial na região do Litoral Norte de São Paulo, indicando que os riscos considerados de Muito Alta/Alta susceptibilidade a escorregamentos são predominantes em Caraguatatuba, Ilhabela e São Sebastião, enquanto em Ubatuba os riscos considerados de Alta susceptibilidade a recalques/instabilizações do terreno e à inundação são mais recorrentes. Esse trabalho traz importantes resultados e contribuição ao gerenciamento de riscos no Litoral Norte de São Paulo e ressalta a importância dos estudos das dimensões humanas nesse campo, na qual deve considerar estudos sobre vulnerabilidade social tão importante quanto a identificação de vulnerabilidades ambientais às mudanças climáticas e ambientais.

Palavras-chave: Dimensões Humanas; Litoral Norte de São Paulo; Mudanças Climáticas e Ambientais; Riscos; Vulnerabilidade.

Abstract

Analysis of the social and environmental vulnerabilities in coastal areas has been important to the scientific agendas in the human dimensions of global environmental change. This work used a spatial analysis approach in the Northern Coast of Sao Paulo, indicating a distribution of risk with Very High and High susceptibility to landslides in Caraguatatuba, Ilhabela and Sao Sebastiao. In Ubatuba the risks to instability of land and flooding are more frequently. This work provides important results for risk management indicators in the Northern Coast of Sao Paulo and emphasizes the importance of human dimensions studies in this sort of research. This work pointed out that studies on social vulnerability are as important as those on vulnerabilities to climate and environmental change.

Keywords: Climate and Environmental Change; Human Dimensions; Northern Coast of Sao Paulo; Risks; Vulnerability

1. Introdução

As zonas costeiras, no contexto do aumento do nível médio dos oceanos e a maior frequência e intensidade de eventos extremos climáticos, são as áreas de maior risco no mundo e serão as porções mais afetadas pelas mudanças ambientais globais (IPCC, 2007; KRON, 2008).

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As zonas costeiras no Brasil possuem grandes extensões ocupadas – seja pelo processo de urbanização, pelo turismo ou pela ocupação de “segunda residência” (MORAES, 2007). E o processo histórico de urbanização no Brasil tem se caracterizado por problemas recorrentes: ocupações irregulares em encostas ou nas margens dos corpos de água; precariedade de abastecimento de água potável e de saneamento básico, entre outros elementos indicativos de inadequação e de má distribuição dos serviços e da infraestrutura no meio urbano (MORAES, 2007; CARMO; SILVA, 2009). Essas situações, em cenários de aumento da intensidade e frequência de eventos extremos, antecipam a tendência de aumento expressivo das situações de vulnerabilidade nas áreas litorâneas (HOGAN et al., 2001; CARMO; SILVA, 2009).

No Brasil, a Lei n.o 12.187/2009 (BRASIL, 2009a), instituída Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), e em particular a legislação de São Paulo sobre Mudanças Climáticas – a PEMC (Lei estadual n.o 13.798/2009 – BRASIL, 2009b) estabeleceram, entre

outros elementos, diretrizes que promovam o desenvolvimento de pesquisas científico-tecnológicas como forma de identificar vulnerabilidades para que sejam adotadas medidas de adaptação adequadas. Assim, buscar mecanismos para caracterizar as situações de vulnerabilidade socioambiental nas zonas costeiras tem sido fundamental para as agendas científicas relacionadas à temática das dimensões humanas das mudanças ambientais globais.

Este trabalho traz uma abordagem das dimensões ambientais (e físico-territoriais) utilizando técnicas/métodos espacialmente explícitos, para identificar áreas de susceptibilidade aos riscos de deslizamentos/escorregamentos e inundação no Litoral Norte de São Paulo. Essa abordagem também considera as dimensões sociais dos riscos e vulnerabilidades, apontando para uma necessidade de tratar esse tema com maior atenção e importância. Não apenas caracterizar situações de vulnerabilidades às mudanças climáticas em ambientais, este trabalho busca trazer uma análise que considere, além dos fatores físicos e ambientais, a própria vulnerabilidade das populações expostas aos riscos de desastres (naturais/induzidos), uma vez que o desastre constitui-se não apenas como acontecimento físico, mas também uma ruptura da dinâmica social (SIENA, 2011).

2. Área de estudo

A área selecionada para pesquisa é Litoral Norte de São Paulo, que possui extensão de 1.948 km2, composta pelos municípios de Caraguatatuba, Ilhabela, São Sebastião e Ubatuba. Entre 2000 e 2010, essa região apresentou um crescimento da população de aproximadamente 25,4% (maior do que o crescimento para o estado de São Paulo, com

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crescimento de 11,3%) e para 2020 há uma estimativa de 330 mil habitantes1 (SEADE, 2010; SMA/CPLA, 2011a). A área de estudo que este trabalho propõe analisar se insere no contexto de grandes mudanças ambientais e sociais. Nos próximos cinco anos serão implantados (alguns em implantação) grandes projetos de infraestrutura relacionados à indústria de petróleo e gás (Petrobrás) na região do Litoral Norte Paulista. Esses grandes projetos, relevantes para o desenvolvimento econômico da região, poderão causar impactos significativos que podem comprometer a integridade da Mata Atlântica e ao desencadeamento e/ou aumento da frequência e intensidade de perigos naturais e à resolução de questões institucionais (FILET et al., 2001, SOUZA, 2003-2004; HOGAN, 2009). Além dessas importantes transformações, a região está limitada pelo mar e pelas montanhas na porção continental, na qual boa parte dessas áreas continentais estão nas proximidades de áreas de conservação de meia encosta – inapropriadas para ocupação (SMA/CPLA, 2011a) pelas restrições ambientais e áreas de riscos. Na região já foi lugar onde houve grandes deslizamentos de terra (desastre de Caraguatatuba em 1967), eventos que poderão ocorrer com mais frequência e intensidade na região. A Figura 1 mostra a área de estudo, Litoral Norte de São Paulo.

Figura 1. Localização do Litoral Norte no Estado de São Paulo (principais rodovias e Unidades de

Conservação).

1

Estimativa sem considerar eventuais mudanças demográficas por conta de inciativas ligadas às atividades de exploração de petróleo na camada pré-sal na região (Campo de Tupi, na Bacia de Santos) (SMA/CPLA, 2011a,b).

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3. Materiais e métodos

Para esse trabalho, foram organizados dois grupos de variáveis, (i) ambientais e (ii) sociais. No grupo das (i) variáveis ambientais, foram obtidos mapas digitais de áreas protegidas (Unidades de Conservação – UC), obtidos Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA, 2010), em escala 1:50.000; mapa digital de riscos geotécnicos (IPT, 1994), em escala 1:500.000; mapas digitais de riscos de escorregamentos/deslizamentos e inundação (IG-SP, 2006a, b, c; UNESP, 2006; IPT, 2010), em escalas entre 1:1.800 e 1:3.000.

No grupo de (ii) variáveis sociais foi analisado o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS), que se baseia em dois pressupostos: (1) na agregação dos indicadores de renda com os de escolaridade e ao ciclo de vida familiar; (2) na identificação de áreas segundo o grau de vulnerabilidade de sua população residente (SEADE, 2000). O indicador define seis grupos de vulnerabilidade, entre Nenhuma Vulnerabilidade (Grupo 1) e Vulnerabilidade Muito Alta (Grupo 6) para o período de 2000. Esses grupos de variáveis foram organizados em um Banco de Dados Geográficos e analisados num Sistema de Informação Geográfica (SIG), a fim de distribuir espacialmente as áreas de riscos geotécnicos e os indicadores de vulnerabilidade social. Foram aplicadas operações algébricas de mapas digitais para a análise, que foram organizadas em sistema de projeção

Universal Transversa de Mercator (UTM) e Datum World Geodetic System 1984 (WGS84). 4. Resultados e discussão

Os riscos geotécnicos foram analisados com base no mapeamento de riscos geotécnicos feito pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 1994), sendo diferenciados os riscos à escorregamentos/deslizamentos – (R1), inundação (também em margens de rios) – (R2) e recalques diferenciais2/instabilizações do solo - (R3). Cerca de 86,4% desses

riscos estão relacionados à escorregamentos, seguidos de inundação (8,5%) e à recalques (6,8%). Os riscos geotécnicos considerados de Muito Alta susceptibilidade à escorregamentos (naturais ou induzidos) representam cerca de 47% dos riscos geotécnicos no Litoral Norte-SP. Cerca de 20% são considerados de Alta susceptibilidade à riscos de escorregamentos e 17% de Média susceptibilidade exclusivamente induzidos por atividades humanas. A Figura 2 apresenta o mapa de riscos geotécnicos produzido para o estado de São Paulo (IPT, 1994) com sua distribuição segundo os graus de susceptibilidade.

2

Recalque é o termo utilizado em engenharia civil para designar o fenômeno que ocorre quando uma edificação sofre um rebaixamento devido ao adensamento do solo (diminuição dos seus vazios) sob sua fundação (TOMINAGA, SANTORO, AMARAL, 2009).

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Figura 2. Mapa riscos geotécnicos. Tipos de riscos: (R1) – riscos a escorregamentos; (R2) – riscos à

inundação; (R3) – riscos à recalque diferenciado ou instabilizações por corte/aterro/infiltração de água (IPT, 1994). * riscos predominantemente induzidos por ação antrópica; ** riscos relacionados às inundações em margens de rios

Aproximadamente 70-73% dos riscos geotécnicos estão dentro das UCPIs (PE da Serra do Mar e PE de Ilhabela). Para analisar os potenciais riscos de danos materiais ou riscos para a população no Litoral Norte de São Paulo, foi feita a análise considerando: (1) os riscos de Muito Alta e Alta susceptibilidade à deslizamentos, inundação e/ou recalque e instabilizações do solo; (2) áreas fora das Unidades de Conservação (UCs) de Proteção Integral, o PE da Serra do Mar (PESM) e PE de Ilhabela (PEI) – uma vez que são áreas de conservação que restringem a ocupação humana (ver BRASIL, 2000 - Lei 9.985/2000, SNUC); (3) a localização de áreas de riscos mapeadas pelo Instituto Geológico (IG-SP, 2006a,b,c) e UNESP-Rio Claro (UNESP, 2006) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 2010), em escalas de detalhe variando entre 1:1.800 e 1:3.000.

Para isso, foram feitas operações algébricas do mapa de riscos geotécnicos com os limites das UC de Proteção Integral (UCPIs) e com os limites das áreas de riscos à deslizamentos e inundação (IG-SP, 2006 a,b,c; UNESP, 2006; IPT, 2010). A Figura 3 apresenta a distribuição das áreas com potenciais riscos geotécnicos situados foras das UCPIs e em sobreposição com as áreas de riscos mapeamentos em escala de maior detalhamento (IG-SP a,b,c, 2006; UNESP, 2006; IPT, 2010).

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Figura 3. Mapa potenciais riscos: (R1) – riscos a escorregamentos; (R2) – riscos à inundação (IPT,

1994; 2010) e riscos à deslizamentos/escorregamentos e inundação (IG-SP, 2006; UNESP, 2006). * riscos relacionados às inundações em margens de rios

De acordo com os dados de mapeamento de risco em escalas detalhadas (até 1:1.800) (IG-SP, 2006a,b,c; UNESP, 2006; IPT, 2010), no Litoral Norte-SP há aproximadamente 745,9 km2 (cerca de 1,27% das áreas situadas fora das Unidades de Conservação de Proteção Integral) de áreas com riscos à deslizamentos/escorregamentos e inundação. Esse mapeamento é o produto técnico utilizado pela Defesa Civil nos 4 municípios, sendo a referência para sua atuação em áreas de riscos eminentes/iminentes à mortes ou prejuízos aos domicílios/moradias. Observa-se que em Caraguatatuba, Ilhabela e São Sebastião a predominância de riscos com Muito Alta susceptibilidade às escorregamentos em relação às outras categorias de riscos geotécnicos (48,4%, 100% e 58% respectivamente). Ubatuba possui cerca de 26,7% dos riscos associados à susceptibilidade à escorregamentos, sendo predominantes no município os riscos à recalques e instabilizações do terreno (39%) e à inundação (34%). Esses resultados, considerados em conjunto para a região, reforçam a necessidade de maior atenção para a redução desses riscos, ampliando as medidas preventivas e adaptações necessárias da infraestrutura instalada/planejada (BITAR, 2009) e buscando o ordenamento territorial por meio de Planos Diretores, Zoneamentos-Ecológico-Econômico (ZEE) que considerem os riscos à desastres naturais.

A Tabela 1 mostra o resumo da análise dos riscos geotécnicos no Litoral Norte-SP, considerando os riscos à deslizamentos/escorregamentos (R1), inundação e recalques (R2) e a recalques diferenciados e/ou instabilizações do terreno (R3), por municípios.

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Tabela 1. Riscos geotécnicos segundo grau de susceptibilidade e município no Litoral Norte de São

Paulo.

Municípios Descrição dos riscos geotécnicos Tipo de Risco

(R) Área km

2 – (%)

Caraguatatuba

Muito Alta suscetibilidade a escorregamentos (naturais

e induzidos) R1 0,236 (48,4)

Baixa suscetibilidade a recalques e inundações R2 0,200 (41,1)

Média suscetibilidade a recalques diferenciais,

instabilizações por corte/aterro/infiltração d'agua R3 0,052 (10,6)

Total 0,488 (100,0)

Ilhabela Muito Alta suscetibilidade a escorregamentos (naturais

e induzidos) R1 0,176 (100,0)

Total 0,176 (100,0)

São Sebastião

Muito Alta suscetibilidade a escorregamentos (naturais

e induzidos) R1 0,854 (58,0)

Baixa suscetibilidade a recalques e inundações R2 0,445 (30,2)

Média suscetibilidade a recalques diferenciais,

instabilizações por corte/aterro/infiltração d'agua R3 0,174 (11,8)

Total 1,473 (100,0)

Ubatuba

Muito Alta suscetibilidade a escorregamentos (naturais

e induzidos) R1 1,421 (26,7)

Baixa suscetibilidade a recalques e inundações R2 1,826 (34,3)

Média suscetibilidade a recalques diferenciais,

instabilizações por corte/aterro/infiltração d'agua R3 2,075 (39,0)

Total 5,322 (100,0)

Diversos autores têm argumentado sobre a necessidade de reduzir as situações de vulnerabilidades na região, que incluem preocupações em aspectos geológicos-geomorfológicos do território 3associados com o aumento da ocupação territorial e concentração de áreas urbanizadas em um contexto de ampliação da infraestrutura para a produção de petróleo e gás na região (SOUZA; LUNA, 2008; BITAR, 2009). Essas situações têm exigido também estudos em múltiplas escalas para identificar a heterogeneidade de situações de vulnerabilidades, não apenas do ponto de vista físico-ambiental, mas, sobretudo, do ponto de vista da estrutura social (dimensões humanas).

3

As escarpas da Serra do Mar, os morros isolados e os terrenos em planícies costeiras e baixadas litorâneas situadas ao nível de oscilação das marés, terraços marinhos antigos e sujeitos a enchentes e inundações (BITAR, 2009).

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Quanto à vulnerabilidade social, observa-se na Figura 4, um mapa que mostra a distribuição espacial dos seis grupos de vulnerabilidade social do IPVS de 2000, onde áreas consideradas de Alta ou Muito Alta vulnerabilidade social têm a distribuição mais concentrada de setores de maior vulnerabilidade social e em áreas contiguas às UCPIs, áreas também com declividades elevadas (MELLO et al., 2010).

Figura 4. Mapa do Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) por setores censitários urbanos,

em 2000 (Fundação SEADE, 2000; IBGE, 2000b)

No geral, o mapa de IPVS 2000 segue o padrão de distribuição de áreas centrais com o índice de menor vulnerabilidade social e nas “pontas” norte e sul dos municípios, o índice tende a aumentar (grupos 5 e 6).

Em 2006, no Litoral Norte-SP, havia um total mapeado de 112 áreas de riscos, com quase 9 mil (8.966) moradias4/domicílios em áreas de riscos à inundação ou deslizamentos. Considerando as áreas de riscos de Muito Alta susceptibilidade à escorregamentos (R1) em situação de Muito Alta ou Alta vulnerabilidade social (grupos 5 e 6), observa-se que 41,9% do total das áreas sobrepostas (entre riscos geotécnicos e áreas de vulnerabilidade social) estão nessa situação no município de Caraguatatuba. Há 41,7% em Ubatuba e 25,4% em São Sebastião das áreas nessa situação. Em Ilhabela há cerca de 37,9% de áreas de Alta susceptibilidade à escorregamentos em setores de Alta ou Muito Alta vulnerabilidade social.

4

Nos relatórios técnicos do Instituto Geológico (IG-SPa,b,c, 2006), da equipe da Universidade Estadual Paulista (UNESP-Rio Claro, 2006) e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT, 2010), o termo “moradia” é frequentemente utilizado nos documentos oficiais. Neste trabalho optou-se pelo termo “domicílios” como referência aos dados dos Censos Demográficos do IBGE, que usam domicílios para se referir à casas/moradias.

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Esses números, necessários para o diagnóstico e gerenciamento de riscos, representam um importante indicador para caracterizar situações de vulnerabilidades às mudanças climáticas em ambientais. Os resultados sugerem também que, uma vez que o desastre constitui-se não apenas como acontecimento físico, mas também uma ruptura da dinâmica social (SIENA, 2011), é necessário ir além do mapeamento de risco, buscando um compromisso do poder público (e da pesquisa técnico-científica) com os grupos sociais vulneráveis (VARGAS, 2006; VALENCIO et al., 2009; VARGAS, 2010) para que diagnósticos sirvam em intervenções efetivas para redução e mitigação de riscos.

5. Considerações finais

Este trabalho apresentou alguns resultados preliminares sobre a distribuição das áreas de riscos no Litoral Norte de São Paulo, indicando a predominância de riscos com

Muito Alta ou Alta susceptibilidade às escorregamentos em Caraguatatuba, Ilhabela e São

Sebastião e em Ubatuba uma distribuição predominante de riscos à recalques e instabilizações do terreno e à inundação. Esses resultados, considerados em conjunto para a região, reforçam a necessidade de maior atenção para a redução desses riscos, ampliando as medidas preventivas e adaptações necessárias da infraestrutura instalada/planejada (BITAR, 2009). Esse trabalho traz importantes resultados para indicadores para contribuir ao gerenciamento de riscos no Litoral Norte de São Paulo. Entretanto, ressalta a importância dos estudos das dimensões humanas nesse campo, considerando que a vulnerabilidade social é um problema a ser tratado de igual importância às análises das vulnerabilidades ambientais e físico-territoriais.

Referências

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