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Cosmovisão Reformada. Igreja Presbiteriana Metropolitana de Guarulhos. Aula 14

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Academic year: 2021

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Aula 14

NIILISMO

Passei a primeira sentinela. Fiquei horrorizado, voltei novamente e disse para a sentinela: “Passei por aqui enquanto você ficou olhando para o outro lado”. A sentinela ignorou minha presença e não disse nada. “Suponho que eu realmente não deveria ter feito isso”, disse. A sentinela continuou muda. “Seu silêncio indica permissão para passar?” (Franz

Kafka, The Watchman)

O niilismo (ou nihilismo), do latim nihil (nada), é uma corrente filosófica que, em princípio, concebe a existência humana como desprovida de qualquer sentido. Tendo sido popularizada primeiramente na Rússia do século XIX, como reacção de alguns intelectuais russos, mormente socialistas e anarquistas à lentidão dos czares em promover as desejadas reformas democráticas.

É mais um sentimento do que uma filosofia. É, na verdade, a negação da filosofia, a negação da possibilidade de conhecimento, a negação de qualquer valor. Assim, o niilismo é a negação não apenas do conhecimento, mas também da ética, da beleza e da realidade. Não existe sentido em qualquer coisa. Tudo existe apenas.

Ns galerias de arte podemos ver claramente a presença do sentimento niilista. Um artista chamado Marcel Duchamp assina uma obra chamada Fontes que não passa de um pinico com

seu pseudônimo assinado. Samuel Beckett tipifica também o niilismo através da sua obra Suspiro. Trata-se de uma peça de 35 minutos, sem qualquer ator ou atriz. O cenário é uma pilha de entulho no palco que vai sendo iluminado aos poucos, voltando no fim a uma luz tênue. Não há palavras, apenas um choro gravado abrindo a peça, um suspiro inalado, um suspiro exalado e o mesmo choro encerrando a peça. Assim, para o autor a vida não passa de um “suspiro”.

Douglas Adams, que é um autor de romances cômicos de ficção científica, retrata para nós a situação daqueles que buscam na ciência da computação uma resposta para o sentido da vida. Em um de seus romances ele narra a história de uma raça de seres pandimensionais (camundongos, na verdade) que constrói um computador que responderia a questão final da vida, do Universo e de todas as coisas. Esse computador é chamado por eles de Pensamento

Profundo. Depois de sete milhões e meio de anos

nos cálculos Pensamento Profundo anunciou a resposta: 42. Em outro romance os personagens descobrem que a questão em si é responder à pergunta: quantos são seis vezes nove? Ou seja a pergunta e a resposta não se encaixam e são desprovidas de qualquer tipo de sentido.

O niilismo é, na verdade, originário do naturalismo que acabou por desprover a vida de um sentido lógico para nossa existência, para a morte e para muitas outras coisas. Os seres humanos são máquinas conscientes sem a habilidade de controlar seus próprios destinos ou de fazer algo significativo; portanto, os seres

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humanos (como seres de valor) estão mortos. A vida é um suspiro. Somos máquinas e não pessoas com autoconsciência e autodeterminação.

Vejamos a questão do conhecimento: o naturalismo nos coloca como seres humanos presos a um sistema imutável, como numa caixa. Porém para que tenhamos qualquer confiança de que nosso conhecimento é verdadeiro, precisamos ficar fora do sistema ou ter algum outro ser fora do sistema que nos forneça essa informação. Mas, não há nenhum ser ou algo que nos forneça uma revelação e não podemos sair deste sistema fechado.

No campo dos valores (ética) o naturalismo não tem como apontar para quais valores, entre aqueles em existência, formam a base que dá sentido às variações específicas da tribo. Um naturalista pode apenas apontar o fato do valor, nunca um padrão absoluto. O naturalismo nos coloca numa caixa de uma ética relativa. Para reconhecermos quais valores dentro desta caixa são verdadeiros, precisamos de uma medida imposta sobre nós do exterior da caixa; precisamos de um padrão moral para que seja possível avaliar os valores morais conflitantes. Todavia, nada existe fora da caixa. Portanto, a consequência é: niilismo ético.

Quais são so problemas do niilismo?

1) Da falta de sentido nada procede, ou antes, nada se deriva.

Sempre que nos dispomos a um curso de ação estamos afirmando um objetivo, estamos afirmando o valor de um curso de ação, mesmo se para ninguém mais além de nós mesmos. Criamos um valor para escolha seja ela qual for.

2) Negar que o pensamento tenha valor ou possa levar ao conhecimento é inconsistente.

Negar esta possibilidade é simplesmente existir dentro de uma forma fechada. Além disso, para negar o valor do pensamento ou que ele possa levar ao conhecimento é usar do pensamento para o conhecimento – ainda que seja da afirmação de nenhum pensamento ou conhecimento.

3) O niilismo precisa de algo para ser negado.

Para negar Deus, o niilismo precisa do conceito Deus a fim de ser negado. Um niilista prático é um parasita em significado. Retirado aquilo que ele nega, não existe nenhuma referência na qual ele possa se basear.

4) O niilismo propõe graves problemas psicológicos para o niilista.

O niilismo tenta negar aquilo que o ser humano naturalmente busca saber: o sentido das coisas, a importância, a dignidade.

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PÓS-MODERNISMO

O reconhecimento da morte de Deus é o princípio da sabedoria pós-moderna. É também o fim da sabedoria moderna, pois o pós-modernismo, nada mais é que o último movimento da era moderna que assume de vez seus próprios compromissos. O pós-modernismo empurra a sociedade para um pluralismo sem fim, mas sem a menor noção de ponto de partida ou de chegada.

Para o pós-modernismo não existe uma história verdadeira. Todas são igualmente válidas. Panteístas, cristãos, naturalistas têm sua história própria.

1)A primeira questão que o pós-modernismo levanta não é o que existe ou como nós sabemos o que existe, mas como a linguagem funciona para construir o próprio significado. Em outras palavras, houve um desvio nas “primeiras coisas” do ser para o conhecer, a fim de construir significado.

Dentro do pós-modernismo não existe uma verdade universal. Não se pode ter certeza da nossa existência e da existência de qualquer coisa. Não há objetividade na razão humana. O conhecimento, a existência, a realidade e a verdade são coisas totalmente relativas.

2) A verdade sobre a própria realidade está para sempre oculta de nós. Tudo o que podemos fazer é contar histórias.

Não existe nenhuma verdade. Cada tratado, cada pensamento, cada história é apenas uma metanarrativa transcrita em linguagem metafórica. Sustentar-se sobre estas narrativas é uma ilusão. Cada história utiliza um sistema linsguistico que não passa de uma construção humana. E esta construção é apenas e tão somente útil. A única verdade que existe é aquela que pode ser transmitida e que tem utilidade ao que ouve. Suas origens não importam. Importa se ela faz diferença e nos traz paz, segurança, esperança para o futuro.

O movimento pós-moderno pode ser descrito como aquele que parte da (1) noção cristã “pré-moderna” de uma determinada metanarrativa revelada para (2) a noção “moderna” de autonomia da razão humana, com acesso à verdade de correspondência para (3) a noção “pós-moderna” de que criamos a verdade quando construímos a linguagem que serve para nossos propósitos.

3)Todas a narrativas mascaram um jogo pelo poder: qualquer narrativa usada como uma metanarrativa é opressiva.

O conhecimento científico mostrou seu poder durante três séculos. Com o pós-modernismo, contudo, a situação se reverte. Não existe conhecimento puramente objetivo. Existem apenas histórias, histórias que, quando recebem

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crédito, dão ao contador delas poder sobre os outros. Qualquer história além daquela própria e pessoal é opressiva. Loucura é um termo apresentado pela sociedade que separa os que assim foram categorizados. As metanarrativas não passam de jogos de poder.

4) Os seres humanos fizeram a si mesmos o que são através das linguagens que construíram sobre si mesmos.

Fazemos a nós mesmos o que escolhemos fazer. Somos apenas o que descrevemos ser. O ser humano se torna um conceito instável. Ele deve se amoldar a si mesmo e, assim, se tornar no Sobre-homem.

5) A ética, como conhecimento, é um construto lingüístico. O bem social é qualquer coisa que a sociedade assume ser.

É uma extensão ética da noção de que a verdade é o que decidimos que ela seja. Não há recurso para um bem supremo fora da família humana. Resta um relativismo ético radical. O bem é qualquer coisa que aqueles que exercem o poder na sociedade escolhem fazer. Se alguém está feliz com uma sociedade em que cada um traça suas linhas éticas, então a liberdade individual permanece. O pós-modernismo não faz nenhum julgamento normativo sobre qualquer questão. Apenas observa e comenta.

6) A vanguarda da cultura é a teoria literária

Enquanto na Idade Média, a teologia era a rainha das ciências e no Iluminismo, a filosofia e a

ciência, no pós-modernismo, a teoria literária assume este papel. É esse o fator central do pós-modernismo e que determinará praticamente toda sua corrente de pensamento.

PANORAMAS DO PÓS-MODERNISMO

Em quase toda cultura ocidental se pode ver os efeitos do pós-modernismo.

Na história o passado dá lugar ao presente. A história deve ser interpretada à imagem do presente e de acordo com o julgamento do historiador e não de acordo com o contexto histórico do passado.

No campo científico a verdade é a linguagem que usamos para conseguir o que queremos. Ciência é o que os cientistas dizem que é.

No campo teologia várias são as reações ao movimento pós-modernista. Desde a adesão a uma reestruturação da interpretação bíblica, até uma reação contra o movimento voltando-se à Escritura.

CRÍTICA AO MOVIMENTO PÓS-MODERNISTA

O pós-modernismo trouxe à tona uma crítica verdadeira ao otimismo naturalista. A razão humana e o método científico, tão defendidos pelo naturalismo, são questionados.

Há também certa verdade na questão da linguagem ser associada ao poder. Contamos “histórias”, acreditamos em “doutrinas”, sustentamos “filosofias” porque elas dão a nós ou

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à nossa comunidade poder sobre os outros. Todavia, uma forma radical desta idéia fará com que suspeitemos da própria idéia.

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