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Violento e perigoso: rubem fonseca em sala de aula

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Academic year: 2021

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Revista do Centro de Ciências Naturais e Exatas - UFSM IISSN on-line: 2179-4588

Violento e perigoso: rubem fonseca em sala de aula

Bruna Carolina Eckerleben e Demétrio Alves Paz brunac63@gmail.com; demetrio.paz@uffs.edu.br

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta pedagógica com o uso de textos literários de Rubem Fonseca para o Ensino Médio. Partimos da perspectiva de que a literatura contemporânea é pouco trabalhada e divulgada na escola por não ter sido ainda

sacralizada pela tradição. Além disso, há certo preconceito (e desconhecimento) por parte de alguns professores em ler textos atuais em sala de aula. Uma das principais características da obra de Rubem Fonseca é a violência. Ela não é somente física (agressões, estupros, assassinatos, roubos), mas principalmente verbal: seus personagens dizem palavrões, chocam pelos seus pensamentos, e principalmente pela linguagem utilizada pelo autor: objetiva, direta e seca, um diferencial e, ao mesmo tempo, um problema para a escola brasileira,

muitas vezes ainda ligada a valores morais questionáveis. O que pretendemos é mostrar que o autor parte de uma realidade que não queremos e não gostamos de ver para mostrar algumas facetas do ser humano e compreender que a função da arte não é só mostrar o belo

e entreter, mas também provocar reflexão por parte do leitor. Palavras chave: Conto. Ensino de Literatura. Rubem Fonseca.

(2)

1.

Contexto do relato

Acreditamos que o conto seja a porta de entrada para conquistar novos leitores e introduzi-los ao estudo e leitura da literatura. Dessa maneira, resolvemos usá-lo como ferramenta para colaborar com a formação de novos leitores, em nosso projeto intitulado O Conto em Língua Portuguesa em Sala de Aula, financiado pela FAPERGS.

De acordo com Rildo Cosson, o exercício da leitura e da escrita dos textos literários como uma linguagem e uma forma de se expressar, constituídos pela força da palavra, que é a literatura. A prática da literatura nos incentiva a expressar e a desejar o mundo por nós mesmos. Podemos viver como os outros, romper os limites do tempo e do espaço sendo nós mesmos.

O texto literário nos traz um efeito de proximidade, resultado do diálogo que ele nos permite manter com o mundo. Ao lermos um livro, o que expressamos no final da leitura são os sentidos do texto e não sentimentos, isso é evidente quando lemos o mesmo livro, de maneira diferente em diferentes etapas de nossas vidas.

Cosson enfatiza que o leitor não nasce feito, isto é, o simples fato de saber ler não o transforma em leitor maduro. O leitor é formado quando desafiado por leituras complexas, e é papel do professor partir daquilo que o aluno conhece para aquilo que ele desconhece, a fim de ampliar seus horizontes de leitura.

A obra Letramento Lietrário de Rildo Cosson nos proporcionou uma melhor compreensão sobre o uso de textos literários em sala de aula. Aprender a ler é mais do que adquirir uma habilidade, são práticas que transformam as relações humanas. Compreender leitura deve ser um processo linear.

A habilidade de ler e a familiaridade com a cultura resultam numa emancipação do indivíduo formador de suas próprias opiniões. Em seu livro Escola e Literatura, Regina Zilberman ressalta que a leitura da literatura é apresentada como variável e flexível, adaptando-se às novas condições, já que leituras ficcionais sofrem restrições, justamente por parte de alguns dirigentes escolares. Talvez a escola deva recorrer à literatura para reavaliar seus propósitos. Pode-se dizer que a literatura reproduz a vivência com o mundo exterior. Se ela é enfatizada em sala de aula, resgata sua função primordial, recuperando o contato do aluno com obras de ficção.

Pensando nessa realidade, nosso projeto quis justamente poder, de alguma forma, colaborar para essa mudança. Buscamos em textos contemporâneos parte dessa solução, pois pode unir fatores que contribuem para a formação desses leitores.

Selecionamos dois contos de Rubem Fonseca: Relato de Ocorrência e Entrevista, para aplicarmos no Ensino Médio. Foi solicitado aos professores a leitura em sala de aula com os alunos e a aplicação das atividades a respeito do conto.

2.

Detalhamento das atividades

Conto 1 Relato de ocorrência

Motivação

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 Levar à sala de aula um modelo de BO (Boletim de Ocorrência), retirado da internet, questionando-os:

 Vocês sabem o que um BO?  Para que serve um BO?

 Entregar-lhes o modelo de BO sobre um assalto. Deixá-los ler para conhecer melhor.

Introdução

 Comentar que iremos ler um conto que faz referência à ocorrência policial que é do autor Rubem Fonseca.

 Apresentar o autor aos alunos. Rubem Fonseca é formado em Direito, tendo exercido várias atividades antes de dedicar-se inteiramente à literatura. Suas obras geralmente retratam, em estilo seco e direto, a luxúria e a violência urbana, em um mundo onde marginais, assassinos, prostitutas, miseráveis e delegados se misturam.

 Salientar que o conto que iremos trabalhar está em um livro que se chama Contos Reunidos de Rubem Fonseca, que foi separado por ordem de publicação das obras do autor. O conto foi publicado no livro que se chama “Lúcia Mc Cartney” e intitula-se “RELATO DE OCORRÊNCIA”.

Leitura

 Distribuir as cópias do conto e realizar primeiramente a leitura individual em voz baixa.  Depois pedir que um aluno leia em voz alta.

Interpretação

 Após a leitura fazer alguns questionamentos sobre o conto.  Em que tempo e em que lugar se passa a história narrada?

 Quem narra? De que jeito? O narrador conta de fora ou ele também é um dos personagens?

 A expressão relato de ocorrência faz lembrar outra bastante utilizada no meio policial: boletim de ocorrência ou B.O. Na parte inicial do texto, até determinado parágrafo, vários elementos da linguagem aproximam o conto da notícia policial. Identifique ao menos três elementos do texto que sejam comuns na linguagem da notícia policial.

 A partir de que momento o texto passa a ter feições diferentes da notícia policial?  Como o personagem Elias trata sua mulher Lucília?

 A "nova disputa" que se instaura ao final do conto, entre os vizinhos pobres e o açougueiro que se aproxima e o policial que observa. Por que os vizinhos, antes rivais, se aliam nesse momento?  A partir dos acontecimentos relatados no conto, em dupla os alunos irão desenvolver um diálogo,

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Conto 2 Entrevista Motivação

 Questioná-los sobre o que entendem por Entrevista, que tipos de entrevista conhecem, já deram alguma entrevista, já fizeram alguma.  Apresentar-lhes algumas perguntas criativas em entrevistas para ver se conseguiriam responder:  Se você tiver num almoço de negócios e o seu filé chega bem passado ao invés de malpassado, como você geralmente gosta, o que você faria?  Não existe resposta certa ou errada, se você pudesse estar em algum lugar no mundo agora, onde você estaria agora?  Quais são os seus sonhos de vida?  Qual foi o último livro que você leu?  Se você fosse um animal, qual você seria?  O que faria se ganhasse na loteria?  Explicar sobre esse tipo de pergunta, pois são a partir delas que o entrevistador conhecerá melhor o entrevistado.  A partir dessas perguntas, dividir a turma em dois grupos para uma entrevista para o cargo de diretor da escola. Um grupo será o entrevistador e o outro grupo o entrevistado. O grupo irá elaborar 5 perguntas criativas, seguindo o estilo das mesmas apresentadas. O outro grupo escolherá um dos seus integrantes para respondê-la. No final da entrevista, o grupo que entrevistou irá dizer se eles merecem ou não o cargo de diretor.

Introdução

 Salientar que o conto que iremos trabalhar está em uma obra que se chama Contos Reunidos de Rubem Fonseca, que foi separado por ordem de publicação das obras do autor. O conto foi publicado no livro que se chama Feliz Ano Novo e que o título do conto é “ENTREVISTA”.

Leitura  Distribuir as cópias do conto e realizar primeiramente a leitura individual em voz baixa.  Depois pedir que dois alunos, um menino e uma menina leiam o diálogo, um lê a parte que corresponde a letra M e o outro a letra H.

Interpretação

 Após a leitura fazer alguns questionamentos sobre o conto.

sobre o fato ocorrido. Sabendo que o policial não é o mesmo que estava em cima da ponte e o personagem que irá relatar o caso não conseguiu pegar nenhum pedaço de carne da vaca.

Conto 2

Entrevista

Motivação

 Questioná-los sobre o que entendem por Entrevista, que tipos de entrevista conhecem, já deram alguma entrevista, já fizeram alguma.

 Apresentar-lhes algumas perguntas criativas em entrevistas para ver se conseguiriam responder:

 Se você tiver num almoço de negócios e o seu filé chega bem passado ao invés de malpassado, como você geralmente gosta, o que você faria?

 Não existe resposta certa ou errada, se você pudesse estar em algum lugar no mundo agora, onde você estaria agora?

 Quais são os seus sonhos de vida?  Qual foi o último livro que você leu?  Se você fosse um animal, qual você seria?  O que faria se ganhasse na loteria?

 Explicar sobre esse tipo de pergunta, pois são a partir delas que o entrevistador conhecerá melhor o entrevistado.

 A partir dessas perguntas, dividir a turma em dois grupos para uma entrevista para o cargo de diretor da escola. Um grupo será o entrevistador e o outro grupo o entrevistado. O grupo irá elaborar 5 perguntas criativas, seguindo o estilo das mesmas apresentadas. O outro grupo escolherá um dos seus integrantes para respondê-la. No final da entrevista, o grupo que entrevistou irá dizer se eles merecem ou não o cargo de diretor.

Introdução

 Salientar que o conto que iremos trabalhar está em uma obra que se chama Contos Reunidos de Rubem Fonseca, que foi separado por ordem de publicação das obras do autor. O conto foi publicado no livro que se chama Feliz Ano Novo e que o título do conto é “ENTREVISTA”.

Leitura

 Distribuir as cópias do conto e realizar primeiramente a leitura individual em voz baixa.

 Depois pedir que dois alunos, um menino e uma menina leiam o diálogo, um lê a parte que corresponde a letra M e o outro a letra H.

Interpretação

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 Onde ocorre a entrevista entre os personagens?  Quem conta a história participa dela?

 Quem são os personagens do conto?

 Qual o efeito de se identificarem os personagens, no conto, apenas pelas letras H e M?

 Esse é um conto de suspense. O predomínio de uma certa escuridão, ao longo da narrativa, não deixa evidentes algumas ações dos personagens. Seguindo o estilo do autor, narre o desfecho do conto.

 Após o término da produção do conto, cada aluno irá ler o seu desfecho. A partir daí os alunos irão escolher um dos desfechos para encenarmos o conto. Feito isso eles irão escolher dois colegas para a encenação, uma menina e um menino.

3.

Análise e discussão do relato

Os contos tiveram grande aceitação tanto por parte dos alunos quanto por parte dos professores, visto ser uma leitura proveitosa, rápida e de fácil compreensão, além de ser curto e de poder ser lido em sala com os alunos. Em cinco aulas foram trabalhados os dois contos, com motivação, leitura, interpretação e produção.

As atividades de interpretação tiveram com intuito ir além de texto e relacioná-lo com o contexto dos alunos, visto que concebemos a linguagem como um processo de constituição do sujeito, assim como vemos a importância da leitura no estabelecimento de relações entre sujeito e o mundo. Em relação à produção textual dos alunos, ela foi extremamente positiva para incentivar não só a leitura, mas também a produção de contos por parte deles.

4.

Considerações finais

Com o que percebemos após a realização das atividades e da receptividade dos alunos, podemos dizer que esse gênero tem muito a colaborar com a problemática da falta de leitores de literatura. A leitura dos contos chocou os alunos em um primeiro momento devido à brutalidade física e verbal uma das principais características da obra de Rubem Fonseca. O conto pode contribuir tanto para o crescimento intelectual dos leitores quanto para o incentivo de novas leituras. Tivemos como objetivo divulgar a literatura brasileira por meio de seus contistas, colocando em prática a leitura de contos em sala de aula, incentivando o hábito da leitura literária.

A realidade que encontramos nas escolas não preenche as expectativas esperadas por parte de quem elabora e cria um projeto como nosso, estudar teorias é mais fácil do que pô-las em prática. Tínhamos objetivos que não puderam ser alcançados por falta de tempo disponível. Precisaríamos de mais tempo para acompanhar de forma efetiva a melhoria da prática em relação aos textos literários.

Percebemos também o quanto nossa educação precisa ser melhorada, pois os professores são cobrados a cumprir um currículo que, muitas vezes, não atende às necessidades dos alunos ou não dá espaço para a criatividade, muito menos incentiva a formação de leitores. Acreditamos que atividades como as aqui propostas e o uso de textos contemporâneos têm muito a contribuir para a melhoria do ensino de literatura.

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Referências

COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2009.

FONSECA, Rubem. Contos Reunidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

ZILBERMAN, Regina; RÖSING, Tania M. K. Escola e Leitura: velhas crises, novas alternativas. São Paulo:

Referências

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