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CASA DA CULTURA: MEMÓRIA DE UMA CADEIA E PATRIMÔNIO DO RECIFE. Palavras-chaves: Casa da Cultura; Casa de Detenção; Patrimônio Histórico.

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CASA DA CULTURA: MEMÓRIA DE UMA CADEIA E PATRIMÔNIO DO RECIFE

Itala Silvana de Oliveira Paes Barreto

Mestranda do Curso de História da UNICAP. E-mail: italasilvana@gmail.com

RESUMO

Este trabalho propõe uma análise da importância da patrimonialização e tombamento da Casa da Cultura do Recife como Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco. Construída inicialmente para servir como Casa de Detenção, recebia presos comuns, sentenciados além de pessoas escravizadas. Nosso objetivo é verificar a transição de cadeia para um Centro Cultural. Veremos como foi transferência de presos para as novas cadeias e a importância desse patrimônio para a cidade do Recife. A pesquisa será documental e bibliográfica, discorrendo sobre a necessidade desse local e o fato de haver sido construída na cidade do Recife. Uma inovação arquitetônica, usada na França num estilo panóptico, foi construída para acomodar esse modelo de prisão que foi criado no Código Criminal de 1830, que previa para sistema carcerário brasileiro a pena de prisão cominada com trabalho. Toda a documentação administrativa e carcerária, também foi tombada e encontra-se nos arquivos da FUNDARPE. Dessa forma, a Casa da Cultura cumpre seu papel social, patrimonial e turístico a que se propôs quando de sua criação.

Palavras-chaves: Casa da Cultura; Casa de Detenção; Patrimônio Histórico.

This work proposes an analysis of the importance of patrimonialization and listing of the Casa da Cultura of Recife as Pernambuco's Historical and Artistic Heritage. Initially built to serve as a House of Detention, it received ordinary prisoners, sentenced in addition to enslaved people. Our goal is to verify the chain transition to a Cultural Center. We will see how it was the transfer of prisoners to the new jails and the importance of this heritage for the city of Recife. The research will be documentary and bibliographic, discussing the need for this location and the fact that it was built in the city of Recife. An architectural innovation, used in France in a panoptic style, was built to accommodate this model of prison that was created in the Criminal Code of 1830, which provided for the Brazilian prison system the prison sentence combined with work. All administrative and prison documents were also listed and are in the archives of FUNDARPE. In this way, the Casa da Cultura fulfills its social, patrimonial and touristic role that was proposed when it was created.

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1 INTRODUÇÃO

A Casa de Detenção do Recife foi idealizada e construída após a criação do Código Criminal de 1830, com a evolução das penas, que deixou de ter uma conotação religiosa, de “pecado”, passaram a ser privativas de liberdade. O projeto arquitetônico inovador foi realizado num modelo panóptico com suas características estruturais modernas para a época.

Assim, o Recife foi uma das cidades brasileiras a primeiro construir a Casa de Detenção, essa inovação da arquitetura trazia em seu bojo uma nova forma de vigiar a vida os apenados, essa era a proposta de Jeremy Bentham, apoiada por Michael Foucault idealizador da teoria das penas.

Haja vista, a prática de trabalhos dentro do sistema penitenciário era usada na Europa e Estados Unidos desde o século XVI e chegou ao Brasil apenas quando foi promulgado o Código Criminal de 1830, alterando as práticas de punição até então utilizadas no país.

Assim, após a reforma prisional decorrente dos progressos advindos com a legislação, Recife inaugurou a Casa de Detenção que teve o Regulamento criado no dia 18 de agosto de 1855. Os artigos tratavam de diversos temas, como por exemplo, no artigo de número 16 tratava da questão de os presos trabalharem nas artes ou ofícios de sua profissão. (ALBUQUERQUE, 2013, p.256)

Entretanto, os lugares em que eles iriam trabalhar seriam designados pelo Chefe de Polícia, sob a condição de que não perturbassem a ordem do estabelecimento. Dessa forma, os presos e os escravizados estariam encarregados de realizar o serviço de limpeza da instituição conforme previa o regulamento. (ALBUQUERQUE, 2008, p.110).

Por conseguinte, aos presos, também foram oferecidos oficinas, onde poderiam preencher o tempo ocioso com trabalhos, assim propiciando, além de uma possível reforma moral, pudessem custear as suas necessidades dentro da casa, reduzindo assim os custos do governo.

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Havia o convívio entre os presos comuns com os escravizados, inclusive nas oficinas, quando permaneciam na cadeia, eles também recebiam remuneração pelos trabalhos realizados nas oficinas, o que causava certa revolta aos seus senhores, pois possibilitava a compra de sua liberdade.

Em virtude da superlotação e a falta de estrutura, após os quase 120 anos de funcionamento, a Casa de Detenção, não atendia mais as necessidades, devido ao aumento do número de sentenciados e também a más condições de conservação do local. Então, foi fechada e teve todos os presos transferidos para outras cadeias que foram construídas para essa finalidade.

Assim, após várias discussões sobre o que aconteceria com o prédio da Casa de Detenção, foi decidido aproveitar o espaço para um Centro de Cultura, para isso, foi reformada e passa a ser a Casa da Cultura do Recife, e as memórias da cadeia preservada, agora como um patrimônio Histórico e Artístico, após a patrimonialização.

Portanto, indaga-se: qual a relevância da patrimonialização da Casa de Detenção que foi transformada em um centro cultural e turístico da cidade do Recife, conhecida como a Casa da Cultura?

Dessa forma, o objetivo geral da pesquisa é verificar o desenvolvimento de transição de cadeia para um Centro Cultural ocorrido entre os anos de 1973, ano do fechamento da Casa de Detenção e o ano de 1976, quando foi inaugurada a Casa da Cultura.

E os objetivos específicos são:

 Identificar quais necessidades levaram a essa mudança;

 Descrever como foi transferência de presos para as novas cadeias e como aconteceu a transformação da cadeia em Casa da Cultura;

 Apresentar a importância desse Patrimônio Histórico para a cidade do Recife. Parte-se da hipótese que devido a superlotação da Casa de Detenção, ocasionada pelo número crescente da criminalidade no período anterior ao seu fechamento, a casa já não apresentava condições estruturais para esse grande contingente, necessitando de um local mais amplo e fora do centro da cidade, já que a população temia essa proximidade.

Surge então a questão do destino que seria dado para aquela edificação, de forma a não apagar aquela memória, mas valorizar a história local. Então, foi decidido pela

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reforma e patrimonialização, pois assim, haveria a preservação da memória, para as futuras gerações.

O método usado na viabilização da hipótese da pesquisa será o dedutivo, para tal, foi usado a pesquisa documental e bibliográfica, com o suporte de teóricos e autores que tratam do tema como de Michael Foucault, Jeremy Bentham, Rogério Greco, Regina Abreu e Mário Chagas e também uma explanação sobre alguns trabalhos publicados em revistas, que tenham relevância para esse estudo.

A estrutura do trabalho está dividida em três seções:

Na primeira seção serão apresentados os aspectos históricos do período da construção da Casa de Detenção, como acontecia a punição dos criminosos no Brasil e na Europa.

Na segunda seção demonstra-se que com a promulgação do novo Código surgiu a necessidade de construir uma Casa de Detenção para atender a essa nova maneira de punição, uma vez que foi criada a pena de prisão cominada com trabalho, inclusive a participação de escravizados na Casa de Detenção.

Na terceira seção, veremos como se deu a transição de Casa de Detenção para Casa da Cultura, a patrimonialização e o tombamento do acervo administrativo e carcerário, sua função na sociedade e a importância desse patrimônio para a cidade do Recife.

1. BREVES CONSIDERAÇÕES DO PERÍODO HSTÓRICO

A apresentação do Recife na dissertação de Artur G de L Rocha, (Discursos de uma modernidade: as transformações urbanas na freguesia de São José, (1860 a 1880), 2003), descreve um Recife que estava ainda começando a se desenvolver, igualmente a todas as cidades do Brasil, sem planejamento urbano, as águas usadas das casas e das chuvas, escorriam sem controles pelas ruas de terra.

A elite que vivia na cidade desejava mudanças, pois conhecia outros países da Europa e queriam que o Recife fosse semelhante na aparência, desenvolvida, com mais atrativos e não aceitavam muito bem a convivência com pobres e escravizados e não aceitavam a sujeira das ruas.

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Contudo, para as famílias que vinham do campo para a cidade tentar uma melhor condição de vida ou as que vinham para ficar mais próximo de um familiar preso, já que, após sentenciados, cumpriam pena na cidade onde havia cadeia, a situação era muito precária. Pois, a maioria era analfabeta e sem profissão, sem dinheiro e oportunidades, acabavam também trilhando o mesmo caminho da criminalidade.

Aliás, no livro Vigiar e Punir: Nascimento da prisão, Foucault relata que, final do século XVIII e começo do XIX as penas começaram a abrandar, ficaram mais humanizadas em relação às anteriores que se concentravam na punição do corpo, com morte eterna, com crueldade nas punições. (FOUCAULT, E, Vozes, 1999).

Além disso, o castigo corporal estava acabando, mas o pensamento era punir e para isso, chegou-se a conclusão de que obrigar o criminoso aos trabalhos forçados e enclausuramento, seria uma espécie de escravidão civil, como as que eram criadas nas guerras.

A escravidão no Brasil começou por volta de 1550 e só terminou por volta de 1850. Pernambuco estava na rota do comércio de pessoas e milhões de escravizados chegavam a terras brasileiras e boa parte deles, vinha para Pernambuco. O estado estava começando o seu desenvolvimento e logo começavam as plantações de cana de açúcar e a produção nas usinas exigia mão de obra escrava.

Portanto, quando o tráfico Atlântico foi decretado ilegal em 1831, no Recife ainda permanecia a prática até meados de 1850, conforme Marcus Carvalho (Liberdade, Rotinas e Rupturas do Escravismo, Recife 1822 – 1850. 1998 p.55) apesar de todos os sofrimentos impostos a essas pessoas, percebe-se que eles não eram totalmente passivos.

Por isso, havia lutas e fugas dos cativeiros constantemente, mas eles se ajudavam mutuamente, facilitando as fugas e dando cobertura, traçando rotas e contatos com outros alforriados, nos quilombos que se espalhavam por várias regiões do Brasil. Conforme Marcus Carvalho (1998, p.64) uma das formas de punições dos escravizados era a ‘polé’ um instrumento de castigo que ficava na Praça da Independência, onde os escravizados ficavam pendurados para sofrer uma queda que deslocava os ombros, causando fortes dores.

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2. A CONSTRUÇÃO CASA DE DETENÇÃO

Em virtude do Código Criminal de 1832, houve uma influência direta da Escola Clássica do Direito Penal, em que teve seu embasamento nos ideais iluministas. Para essa Escola, segundo o entendimento de Rogerio Greco no tocante ao que ‘significava delito e o que representava a pena’, afirma:

Entre a escolha de cometer ou não um delito, a pena deveria ser utilizada como fator de dissuasão nessa escolha, ou seja, na comparação entre o mal da pena e o benefício a ser alcançado pela prática da infração penal, aquele teria de ser um fator desestimulante ao agente. Por meio de uma espécie de balança, o agente colocaria em seu prato as vantagens da infração penal e as desvantagens da pena que a ele seria aplicada, e nessa compensação a pena deveria desestimulá-lo, pois que superior às vantagens obtidas por meio do delito. (GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol1, p. 80).

Como resultado dessa inovação, ocorreu uma grande transformação na aplicação das penas de privação de liberdade, pois o delito foi da conotação religiosa do ‘pecado’, para apenas um mal contra a sociedade e não contra a igreja, como era entendido na idade média. Junto com essa nova modalidade, trouxe a noção da pena cominada de trabalho ou não, o indivíduo deveria ser afastado da sociedade e ter a sua liberdade privada, para que recuperado, voltasse a convivência social.

Nesse sentido, a igreja tinha grande influência na vida social e a concepção de crime como um pecado contra as leis de Deus e a igreja, que depois passa a ser percebida como uma atitude contra a sociedade. Essa mudança reflete na Constituição de 1824 e depois no Código criminal de 1830 no Brasil, propiciando a criação do projeto da Casa de Detenção do Recife.

Sendo assim, a Casa de Detenção do Recife foi idealizada pelo Engenheiro José Mamede Alves Ferreira e construída num modelo cruciforme, composto de quatro raios, norte, sul, leste e oeste, cada um com três pavimentos que confluem para um saguão coberto por uma cúpula metálica. De acordo com o site do Ipatrimônio, a construção de 8.400 metros quadrados de área construída e 6.000 metros quadrados de pátio foi inaugurada em 1855.1

1 Site do IPATRIMÔNIO, FUNDARPE-PE, RECIFE, Antiga Casa de Detenção. Disponível em:

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<http://www.ipatrimonio.org/recife-antiga-casa-de-detencao-do-recife-atual-casa-da-cultura-de-Sendo que primeira etapa da obra, o raio norte, havia sido concluído, e os primeiros presos foram transferidos, sob a administração do Major Florêncio José Carneiro Monteiro. Em 1860 o raio Sul foi concluído e o restante das obras terminou em 1867. (ALBUQUERQUE Neto, 2008, p.103).

Construída no estilo panóptico, surgido na Europa como um modelo de cadeia idealizada por Jeremy Bentham no século XVIII. Para Bentham, a prisão panóptica, seria uma construção arquitetônica circular com selas incomunicáveis e com uma torre de vigilância ao centro e dentro um observador que não poderia ser visto, pois a sua estrutura era opaca o que induziriam as pessoas a pensar que estavam sendo observadas e a agirem de forma opostas a que agiriam se não o estivessem.

Michael Foucault desenvolveu a teoria do poder, onde se supõe que o indivíduo tenha aceitado o contrato de conduta com as leis e a sociedade, que também poderá puni-lo, caso quebre o contrato “O criminoso aparece então como um ser juridicamente paradoxal. Ele rompeu o pacto, é, portanto inimigo da sociedade inteira, mas participa da punição que se exerce sobre ele”. (FOUCAULT, 1999, p.110). Inspirado com o modelo idealizado por Bentham defendia e propagava essa ideia de vigilância.

Assim, a pena privativa de liberdade como forma de sanção criminal, foi a forma encontrada para fazer o indivíduo ser privado de sua liberdade e do convívio social, para que, afastado, possa refletir sobre seus atos e conduta e, uma vez recuperado possa voltar ao seio social. A finalidade da privação de liberdade é o restabelecendo a ordem externa da sociedade, alterada pelo fato delituoso.

2.1 Escravizados na Casa de Detenção

No caso de escravizados, a Lei não regulamentava a pena de prisão e sim a pena de morte ou açoite, por isso que eram conduzidos para a cadeia para receberem os castigos corporais e logo que recuperados dos castigos, voltavam para seus donos, mas

pernambuco/#!/map=38329&loc=-8.066139000000007,-34.88325300000002,17>. Acesso em: 10 set. 2020.

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o escravo que era considerado ‘incorrigível’, era então levado para a prisão para ser açoitado ou custodiado, enquanto cumpria pena de galés. (FOUCAULT, 1999, p.52)

Ocorre que, durante a permanência na cadeia essas pessoas participavam e aprendiam algum ofício e acabavam encontrando naquele lugar um ambiente onde poderiam ter uma vida melhor, pois ganhavam algum dinheiro o que facilitava, inclusive, que comprassem a sua própria liberdade. Isso começou a causar uma grande polêmica entre os senhores proprietários que achavam injusto que eles fossem remunerados.

No artigo ‘O Cotidiano dos Escravos na casa de Detenção do Recife’ de Albuquerque Neto, ele relata como os escravizados viviam e trabalhavam e como eram castigados, revela que a vida de dessas pessoas escravizadas na cadeia, muitas vezes era mais confortável que nas senzalas. Ele comentou sobre a administração e regulamento da Casa de Detenção do Recife:

Contudo, as brechas existiram, o que conferia certos arbítrios aos guardas e administradores. Uma coisa era o que estava regulamentado, outra era o que se passava no interior da prisão. O dia-a-dia da Detenção era marcado por problemas com edifício, com os presos, e com os funcionários. Além disso, o principal esteio da correção moral do criminoso, o trabalho penal, não era operacionalizado, pois foram fracassadas e efêmeras as experiências de oficinas de trabalho na Casa de Detenção no período pesquisado. Assim, a tão esperada Casa de Detenção e seu aparato disciplinar e correcional eram apenas uma nova roupagem para os mecanismos de controle social. (Revista Crítica Histórica, Ano II, Nº 3, Julho/2011).

3. FECHAMENTO DA CASA DE DETENÇÃO

Havia por parte da população circunvizinha um descontentamento com a prostituição no entorno da Casa de Detenção, a entrada de armas no estabelecimento prisional, os riscos de fuga e o medo da violência, caso houvesse algum motim, ocasionando a intenção de retirar os presos para outros locais. A violência dos castigos aos escravizados também chocava aos que ouviam os clamores, e não desejavam mais assistir àqueles atos de brutalidade.

Portanto, após 118 anos de funcionamento, a Cada de Detenção foi fechada em 15 de março de 1973 por não apresentar mais capacidade de acomodar o número de

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presos e também pelas péssimas condições de conservação e também a população que vivia no entrono da cadeia, não deseja mais conviver com aquele tipo de local, por não se sentirem seguros. Todos os detentos foram transferidos para outros presídios construídos para tal finalidade além da Colônia Agrícola de Itamaracá.

No Diário da Manhã de 31 de janeiro de 1972 o jornal noticia “ligada a Penitenciária de Itamaracá está a Colônia de Macaxeira onde estão sendo ampliadas as instalações e o abrigo dos presos para onde irão o restante dos que faltam sair da Casa de Detenção do Recife, oque ocorrerá, como dissemos até agosto desse ano.” (DM.31.01.1972 p.4).

3.1. A Casa da Cultura

Então, foi durante o governo do Presidente Castelo Branco que reiniciou o debate para incentivo à cultura nacional que sofrera grande estimulo à cultura por meio da música e das artes. Na França, surgia a elitização da cultura com a criação de várias Casas de Cultura, foi então que:

Por volta de 1966, foi constituída uma comissão para pesquisar a possibilidade da reformulação do Conselho Nacional de Cultura, com o intuito de que o mesmo cumprisse seu papel de fomentador da política cultural em âmbito nacional. Ainda em 1966, foi criado o Conselho Federal de Cultura – CFC, composto por 24 membros indicados pelo Presidente da República. O CFC tinha a atribuição de analisar os pedidos de verba ao MEC, instituindo uma política de apoio a uma série de ações, papel exercido efetivamente até 1974. (MARANHÃO, 2011, p. 46).

Depois da sua desocupação, surgiu a dúvida em relação a destinação daquele espaço, o artista plástico Francisco Brennand, enquanto exercia a Chefia da Casa Civil, durante o governo de Miguel Arraes, que acompanhava o modismo da França, sugeriu a criação em Pernambuco de um Centro Cultural nos mesmos moldes dos centros de educação nas áreas de literatura, teatro, música e artes plásticas, que estavam sendo criadas na França, retrata o site do Ipatrimônio.2

2 Site do IPATRIMÔNIO, FUNDARPE-PE, RECIFE, Antiga Casa de Detenção Disponível em:

<http://www.ipatrimonio.org/recife-antiga-casa-de-detencao-do-recife-atual-casa-da-cultura-de-pernambuco/#!/map=38329&loc=-8.066139000000007,-34.88325300000002,17>. Acesso em: 10 set. 2020.

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Assim, a Casa de Detenção pareceu ser o local mais adequado para a criação desse espaço e para esta finalidade, foi totalmente restaurada e passou a ser chamada de Casa da Cultura.

Inaugurada no dia 14 de abril de 1976, após a reforma, as celas passaram a servir de lojas de artesanato, sendo nos dias de hoje um ponto turístico do Estado de Pernambuco, onde abriga também a Sede do Sindicato dos Artesãos da Região Metropolitana do Recife e de Pernambuco, além de exibir a cultura do Estado, mas sem esquecer a história do local. (Gaspar, 2002).

3.2 Patrimônio

Há várias definições da palavra Patrimônio, mas todas se referem como sendo o conjunto de bens materiais ou imateriais e direitos pertencente a uma pessoa, família, empresa ou nação. Assim, a Casa da cultura é considerada como Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, foi tombado pelo Decreto nº 6.687 de 1980 e é considerada como maior Centro de Cultura e Arte de Pernambuco. (Gaspar, 2002).

Também regulamenta a CF/1988 que o poder Público e a comunidade promovam e protejam esse patrimônio por meio de inventário, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, cabendo à administração pública a gestão dessa documentação. Cabe ao IPHAN e também ao Poder Público promover incentivos para a produção desses bens. Nesse sentido,

O patrimônio material protegido pelo Iphan é composto por um conjunto de bens culturais classificados segundo sua natureza,

conforme os quatro Livros do Tombo: arqueológico,

paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes

aplicadas. A Constituição Federal de 1988, em seus artigos

215 e 216, ampliou a noção de patrimônio cultural ao

reconhecer a existência de bens culturais de natureza material e imaterial e, também, ao estabelecer outras formas de preservação – como o Registro e o Inventário – além do

Tombamento, instituído pelo Decreto-Lei nº. 25, de 30 de

novembro de 1937, que é adequado, principalmente, à proteção de edificações, paisagens e conjuntos históricos urbanos. (Site Portal do Iphan).

A ideia de patrimônio surgiu no século XVIII, mas a produção de seu caráter é milenar encontrada, inclusive nas sociedades tribais. Toda sociedade apresenta algum tipo de coleção numa tentativa de manter uma posse em relação a outras pessoas.

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Essas coleções podem ser de objetos móveis ou imóveis. Assim, patrimônio pode ser entendido como (...) “uma categoria individualizada, seja como patrimônio econômico e financeiro, seja como patrimônio cultural, seja como patrimônio genético, etc.” (ABREU, CHAGAS, 2003, p. 26).

Algumas vezes a ideia de patrimônio é confundida com a de propriedade. Quando se fala de patrimônio, principalmente o patrimônio cultural, que diz respeito a tudo aquilo que identifica com determinado espaço, em que ao falar de determinado patrimônio, faz nascer a lembrança ou remete o pensamento a determinado local. Nesse sentido:

“Delineava-se a ideia de que havia um patrimônio cultural a ser preservado e que incluía não apenas a história e a arte de cada país, mas o conjunto de realizações humanas em suas mais diversas expressões. A noção de cultura incluía hábitos, costumes, tradições, crenças; enfim, um acervo de realizações materiais, e imateriais da vida em sociedade.“ (ABREU, CHAGAS, 2003, p.37).

Todo o acervo da Casa de Detenção do Recife foi distribuído entre órgãos públicos estaduais, em que grande parte se encontra no Acervo Público Estadual Jordão Emerenciano. (Fundarpe). Um convênio entre a Fundarpe e a administradora da Casa da Cultura e o Arquivo público Estadual, cuida da guarda e manutenção dos mais de 2.401 volumes de documentação administrativa e atualmente mais de vinte mil fichas de detentos e é o único acervo de documentos tombado pelo Estado de Pernambuco, aponta pesquisa realizada pelo site Ipatrimônio.3

Atualmente a Casa da Cultura é o maior Centro de Cultura e Arte de Pernambuco, o prédio é tombado pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), possui artesanato de todo o Estado e através dele conta-se história do povo Pernambucano, possuindo diversas peças de artesanato até o bolo de rolo que atualmente é patrimônio imaterial do Estado.

Possui também a única livraria especializada em livros de autores pernambucanos, de fato é o maior centro de cultura do Estado e é de extrema

3 Site do Ipatrimônio, FUNDARPE-PE, RECIFE, Antiga Casa de Detenção Disponível em:

<http://www.ipatrimonio.org/recife-antiga-casa-de-detencao-do-recife-atual-casa-da-cultura-de-pernambuco/#!/map=38329&loc=-8.066139000000007,-34.88325300000002,17>. Acesso em: 10 set. 2020.

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importância por preservar a história do local. A história é preservada através das celas que permanecem com estrutura semelhante, o prédio é composto por quatro alas: Sul, Norte, Leste e Oeste, cita o site Ipatrimônio. 4

Para isso, na Casa da Cultura há esculturas lembrando a condição humana privada de liberdade e as imaleabilidades das penas impostas pelas leis, de forma que produz uma crítica ao sistema penitenciário, em que é pertinente até os dias atuais, mesmo que a restauração e inauguração tenham sido feita anos depois de já não mais funcionar.

É importante destacar que dentro da Casa da Cultura existe uma cela, a cela 106, localizada na ala Leste, em que o espaço foi mantido da mesma forma que era no tempo em que o local funcionava como a Casa de Detenção do Recife, as paredes continuam com os rabiscos dos detentos que cumpriram pena no local, preservando a estrutura original da cela. Com isso, tudo que aconteceu dentro do espaço não será esquecido e a sua história será preservada.5

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo exposto, conclui-se que a importância da preservação do patrimônio histórico e cultural e de políticas que contemplem essa necessidade e essas políticas de preservação patrimonial, devem acontecer de uma forma democrática, com a participação de diversos segmentos da sociedade.

Dessa forma é que a política interfere diretamente sobre aquilo que deve ser preservado e, consequentemente, instituído como referência para a construção da história local. A reflexão acerca da memória deve ser valorizada sobre o passado e seus legados, pois cada indivíduo é sujeito da construção da história.

4 Site do Ipatrimônio, FUNDARPE-PE, RECIFE, Antiga Casa de Detenção Disponível em:

<http://www.ipatrimonio.org/recife-antiga-casa-de-detencao-do-recife-atual-casa-da-cultura-de-pernambuco/#!/map=38329&loc=-8.066139000000007,-34.88325300000002,17>. Acesso em: 10 set. 2020.

5 Site do Ipatrimônio, FUNDARPE-PE, RECIFE, Antiga Casa de Detenção Disponível em:

<http://www.ipatrimonio.org/recife-antiga-casa-de-detencao-do-recife-atual-casa-da-cultura-de-pernambuco/#!/map=38329&loc=-8.066139000000007,-34.88325300000002,17>. Acesso em: 10 set. 2020.

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Nesse sentido, fica clara a importância da memória e do patrimônio cultural, sendo exatamente essa importância que deve ser considerada ao estudar sobre a Casa de Detenção do Recife e tudo que a envolve, assim como a relevância da Casa da Cultura na atualidade, visto que é um centro em que preserva a cultura pernambucana e história do local que anteriormente funcionava como uma penitenciária.

Sem dúvida, a Casa de Detenção do Recife pretendia ter uma função educativa da pena privativa de liberdade quando foi idealizada e teve as primeiras pretensões de reintegração do preso na sociedade, por mais que sua função principal era apenas de encarcerar os detentos, e ainda permeavam alguns abusos praticados na época.

Por fim, a Casa da Cultura do Recife fica localizada no centro da cidade e tornou-se um dos pontos turísticos mais visitados da cidade por turistas de todo o mundo e também pela população local, por ficar numa área de fácil acesso e conta com aproximadamente 150 lojas com artesanatos de todo o Estado, mais de 149 municípios, que recebe obras de reconhecidos artistas nordestinos, bordados em renascença, restaurante e lanchonetes onde o turista pode degustar as comidas regionais, livraria com livros produzidos aqui na região, show e manifestações populares. (CASA DA CULTURA DE PERNAMBUCO, 2020)

Logo, a memória do local continua preservada dentro da Casa da Cultura que é administrada e preservada pela FUNDARPE, movimenta, segundo informações no site da entidade, uma média de 500 a 700 pessoas por dia na baixa estação e até 3.000 pessoas na alta estação, gerando emprego e renda para a região, tornando-a de suma importância para o crescimento turístico de nosso Estado.6

6 Site do Ipatrimônio, FUNDARPE-PE, RECIFE, Antiga Casa de Detenção Disponível em:

<http://www.ipatrimonio.org/recife-antiga-casa-de-detencao-do-recife-atual-casa-da-cultura-de-pernambuco/#!/map=38329&loc=-8.066139000000007,-34.88325300000002,17>. Acesso em: 10 set. 2020.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, Regina e CHAGAS, Mário (org). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. 1. ed. 2003, Ed. Lamparina. Disponível em:

<http://www.reginaabreu.com/site/images/attachments/coletaneas/06-memoria-e-patrimonio_ensaios-contemporaneos.pdf > Acesso em: 22 set. 2020.

AGUIAR, Raquel Passeri. Sociedade Contemporânea Disciplinar: o pensamento Filosófico de Michel Foucault - uma abordagem a partir do livro, Vigiar e Punir. Psicologado, [S.l.]. (2015). Disponível em: <https://ALBURQUE

psicologado.com.br/atuacao/psicologia-social/sociedade-contemporanea- dQUEisciplinar-o-pensamento-filosofico-de-michel-foucault-uma-abordagem-a-partir-do-livro-vigiar-e-punir>. Acesso em: 31 de ago. de 2020.

ALBUQUERQUE NETO, Flávio de Sá Cavalcante. Reforma Penitenciária: Aspectos

do Cotidiano da Casa de Detenção do Recife na segunda metade do século XIX. Revista Crítica Histórica. Brasil, ano 2011, v. II, n. 3, ed. 3, p. 17/17, 3 jul. 2011. ALBUQUERQUE NETO, Flávio de Sá Cavalcante de; CAVANI ROSAS, Suzana. A

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Prisões no Brasil Oitocentista: Rotinas e vivências na Casa de Detenção do Recife na

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Referências

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