SEMINÁRIO O ENSINO DE ARQUITETURA E URBANISMO: TEORIA E PRÁTICA
arq. e urb. Gogliardo Vieira Maragno
vice-presidente ABEA – prof. UFMS
Estágio em Arquitetura e Urbanismo:
obrigatoriedade ou necessidade
pedagógica?
“o divórcio entre arte e
técnica na arquitetura
começa com o
distanciamento entre teoria e
prática, o desenho/proposta
teórica e a
construção/realização prática
da obra, vale dizer, do
espaço”
O que ouvimos sempre:
A qualidade da arquitetura
brasileira é cada vez mais baixa.
O mercado está saturado.
Há arquitetos e urbanistas em
excesso.
Há uma proliferação de cursos
de arquitetura pelo Brasil.
O nível de ensino caiu muito!
Os cursos formam cada vez pior.
O que ouvimos sempre:
A qualidade da arquitetura
brasileira é cada vez mais baixa.
O mercado está saturado.
Há arquitetos e urbanistas em
excesso.
Há uma proliferação de cursos
de arquitetura pelo Brasil.
O nível de ensino caiu muito!
Os cursos formam cada vez pior.
O que sabemos:
O déficit habitacional no Brasil ainda é
gigantesco.
A qualidade das cidades ainda deixa muito a
desejar...
Faltam espaços adequados para saúde,
educação, cultura, lazer...
O percentual de construções realizadas com
participação de arquitetos e urbanistas ainda é
baixo.
Apesar de lei de assistência técnica, a
população de baixa renda ainda não tem
acesso as serviços de arquitetura.
Muitas cidades ainda não tem um plano diretor,
muitas nem arquitetos.
O que sabemos:
O déficit habitacional no Brasil ainda é
gigantesco.
A qualidade das cidades ainda deixa muito a
desejar...
Faltam espaços adequados para saúde,
educação, cultura, lazer...
O percentual de construções realizadas com
participação de arquitetos e urbanistas ainda é
baixo.
Apesar de lei de assistência técnica, a
população de baixa renda ainda não tem
acesso as serviços de arquitetura.
Muitas cidades ainda não tem um plano diretor,
muitas nem arquitetos.
O problema está na
quantidade de cursos, ou na
qualidade dos cursos?
O que os cursos tem feito
para aproximar a prática da
teoria?
É possível privilegiar a prática
em detrimento da teoria?
O problema no tempo e no
espaço...
Vitruvius e os saberes dos arquitetos.
“O Arquiteto deverá possuir o
conhecimento de muitos ramos de estudo
e vários tipos de aprendizagem, já que é o
seu juízo que põe à prova todo o trabalho
feito pelas outras artes.
Este conhecimento é feito da prática e da
teoria. A prática é o exercício contínuo e
regular da ocupação com que se faz o
trabalho manual com qualquer material
necessário segundo um desenho. A teoria,
por outro lado, é a capacidade de
demonstrar e explicar os resultados da sua
perícia sobre os princípios da proporção
(...)”.
O Momento do Ensino: o fosso entre o ensino
e a prática da arquitetura.
- A formação do arquiteto está cada vez mais
distante da realidade prática profissional.
- Os profissionais que saem da escola não
estão suficientemente bem preparados para a
prática de arquitetura, ainda que tenham
laboratórios sofisticados e elevado discurso
técnico e teórico.
- Apesar da extrema habilidade em
determinadas áreas, como modelagem
computacional, os recém-egressos não
apresentam familiaridade com processos
construtivos, com questões comerciais, gestão
de empresas e com a terminologia do mundo
real da construção.
- Os currículos de arquitetura não devem ser
como escolas de comércio. Alunos precisam
sonhar, teorizar e ter liberdade criativa,
ponto forte da formação em arquitetura,
mas essa liberdade tem de ser equilibrada e
mais próxima da experiência do mundo real.
- É fácil apontar o problema desse
distanciamento, não é fácil encontrar uma
solução equilibrada.
Onde trabalham
os arquitetos e urbanistas:
Fonte: ACSA. 2011.
Onde trabalham os arquitetos e urbanistas:
Estados Unidos
Fonte: FENEA, 2014 – dados preliminares de pesquisa sobre estágio - http://www.fenea.org/estagios
O que fazem os
estagiários no Brasil:
A boa arquitetura e o bom ensino.
Como avaliar o que é boa
arquitetura e urbanismo?
Como avaliar o bom ensino
de arquitetura e urbanismo?
Como avaliar o papel e a
importância do estágio no
ensino de arquitetura e
urbanismo?
Como avaliar o bom estágio
de arquitetura e urbanismo?
Art. 2º. A organização de cursos de graduação em Arq. e Urb. deverá ser elaborada com claro estabelecimento de
componentes curriculares, os quais
abrangerão: projeto pedagógico,
descrição de competências, habilidades e perfil desejado para o futuro
profissional, conteúdos curriculares,
estágio curricular supervisionado,
acompanhamento e avaliação,
atividades complementares e trabalho de curso sem prejuízo de outros aspectos que tornem consistente o projeto
pedagógico.
RESOLUÇÃO 2/2010
- Institui Diretrizes Curriculares Nacionais de Arquitetura e Urbanismo.
Art. 3º. O projeto pedagógico do curso (...) deverá incluir:
I - objetivos gerais ...;
II - condições objetivas de oferta; III - formas de interdisciplinaridade; IV - modos de integração entre teoria e prática;
V - formas de avaliação do ensino; VI - integração entre graduação e pós VII - incentivo à pesquisa;
VIII - regulamentação do TFC;
IX - concepção e composição das atividades de estágio curricular supervisionado em diferentes formas e condições de realização, observados seus respectivos regulamentos; X - composição das at. complementares.
Art. 7º O estágio curricular supervisionado deverá ser concebido como conteúdo
curricular obrigatório, cabendo à
Instituição de Educação Superior, por seus colegiados acadêmicos, aprovar o
correspondente regulamento, abrangendo
diferentes modalidades de operacionalização.
§ 1º Os estágios supervisionados são conjuntos de atividades de formação,
prgramados e diretamente supervisionados por membros do corpo docente da
instituição formadora e procuram
assegurar a consolidação e a articulação das competências estabelecidas.
RESOLUÇÃO 2/2010
- Institui Diretrizes Curriculares Nacionais de Arquitetura e Urbanismo.
§ 2º Os estágios supervisionados visam a
assegurar o contato do formando com situações, contextos e instituições,
permitindo que conhecimentos, habilidades e atitudes se concretizem em ações
profissionais, sendo recomendável que suas atividades sejam distribuídas ao longo do curso.
§ 3º A instituição poderá reconhecer e aproveitar atividades realizadas pelo aluno em instituições, desde que contribuam para o desenvolvimento das habilidades e
Art. 8º As atividades complementares são componentes curriculares enriquecedores e implementadores do próprio perfil do formando (...)
§ 1º As atividades complementares podem incluir projetos de pesquisa, ...
monitoria,
§ 2º As atividades complementares não
poderão ser confundidas com o estágio supervisionado.
Estágio é ato
educativo escolar supervisionado, desenvolvido no
ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho
produtivo de educandos que estejam freqüentando o ensino regular em
instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino
médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na
modalidade profissional da educação de jovens e adultos.
(Art. 1º - Lei 11.788/2008)
O que pode ser considerado estágio?
§ 3o As atividades de extensão, de monitorias e de iniciação científica na
educação superior, desenvolvidas pelo estudante, somente poderão ser
equiparadas ao estágio em caso de previsão no projeto pedagógico do curso.
Qual é o objetivo do estágio?
.
Art. 2o O estágio visa ao aprendizado de competências próprias da atividade
profissional e à contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do
educando para a vida cidadã e para o trabalho.
Quais os tipos de estágio?
O estágio poderá ser obrigatório ou não-obrigatório, conforme determinação das
diretrizes curriculares da etapa, modalidade e área de ensino e do projeto
pedagógico do curso.
§ 1o Estágio obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso, cuja carga horária é requisito para aprovação e obtenção de diploma.
§ 2o Estágio não-obrigatório é aquele desenvolvido como atividade opcional, acrescida à carga horária regular e obrigatória.
OBRIGAÇÕES
INSTITUIÇÃO DE ENSINO
I – celebrar termo de compromisso indicando as condições de adequação do estágio à proposta pedagógica, à etapa e modalidade da formação do estudante e ao horário e calendário escolar;
II – avaliar as instalações e sua adequação à formação cultural e profissional do educando; III – indicar professor orientador da área como responsável pelo acompanhamento e
avaliação das atividades do estagiário;
IV – exigir do educando a apresentação periódica, em prazo não superior a seis meses, de relatório das atividades;
V – zelar pelo cumprimento do termo de compromisso, reorientando o estagiário para outro local em caso de descumprimento das normas;
VI – elaborar normas complementares e instrumentos de avaliação dos estágios; VII – comunicar à concedente, no início do período letivo, as datas de realização de avaliações escolares ou acadêmicas.
OBRIGAÇÕES
CONCEDENTE
I – celebrar termo de compromisso com a instituição e educando, zelando por seu cumprimento;
II – ofertar instalações que tenham condições de proporcionar ao educando atividades de aprendizagem social, profissional e cultural;
III – indicar funcionário de seu quadro de pessoal, com formação ou experiência profissional na área de conhecimento desenvolvida no curso do estagiário, para orientar e supervisionar até 10 (dez) estagiários simultaneamente;
IV – contratar em favor do estagiário seguro contra acidentes pessoais;
V – por ocasião do desligamento do estagiário, entregar termo de realização do estágio com indicação resumida das atividades desenvolvidas
VI – manter à disposição da fiscalização documentos que comprovem a relação de estágio; VII – enviar à instituição de ensino, com periodicidade mínima de seis meses, relatório de atividades, com vista obrigatória ao estagiário.
OBRIGAÇÕES
QUANTO AO ESTUDANTE
- Carga horária não deve ultrapassar 6 (seis) horas diárias e 30 (trinta) horas semanais.
- Durante as verificações de aprendizagem periódicas ou finais, nos períodos de avaliação, a carga horária do estágio será reduzida pelo menos à metade, segundo estipulado no termo de compromisso, para garantir o bom desempenho do estudante.
- A duração do estágio, na mesma parte concedente, não poderá exceder 2 (dois) anos, exceto quando se tratar de estagiário portador de deficiência.
- O estagiário poderá receber bolsa ou outra forma de contraprestação que venha a ser acordada, sendo compulsória a sua concessão, bem como a do auxílio-transporte, na hipótese de estágio não obrigatório.
- A eventual concessão de benefícios relacionados a transporte, alimentação e saúde, entre outros, não caracteriza vínculo empregatício.
O estágio no contexto do modelo de
universidade.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB) – Finalidades da Educação
Superior
(...)
-Formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento
- aptos para a inserção em setores
profissionais e
- para a participação no
desenvolvimento da sociedade brasileira”.
(...)
Modelos de Educação Superior:
- Considerar que a universidade
deva vincular diretamente o ensino
que pratica com a vida social
cotidiana, ou seja, com a prática
profissional, reconhecendo como
sua função primordial proporcionar
mão de obra qualificada em
atendimento ao mercado de
trabalho;
- Considerar que a universidade
deva ser a geradora e difusora de
conhecimentos teóricos que serão
futuramente incorporados à
Deve haver uma escolha de modelo?
interesses de mercado x interesses sociais
-Papel das instituições privadas no ensino é ensino
profissionalizante, arcando com a formação de recursos
humanos para atender as necessidades mais imediatas
do mercado de trabalho?
-Desenvolvimento científico, tecnológico, artístico e
cultural responsável pela geração de riquezas, campos
de trabalho e qualidade de vida sob responsabilidade
da universidade pública?
É cabível escolher um ou outro modelo?
Cursos para o Mercado:
Formando profissionais “sob
medida” preparando de maneira
mais direta e imediata para o
exercício da profissão.
Universidades caracterizadas
como “de ensino” com
característica essencialmente
profissionalizantes.
Cursos para a Sociedade:
Universidades públicas com
graduação acadêmica.
Egressos com função social, para
inovar, transformar, alavancar e
modernizar o mercado de
trabalho, responsabilizando-se
pelo desenvolvimento científico e
tecnológico do país.
No caso da arquitetura e urbanismo,
estaríamos formando dois tipos de
egressos: o profissional e o acadêmico,
com formação e perfis distintos.
No caso da arquitetura e urbanismo,
estaríamos formando dois tipos de
egressos: o profissional e o acadêmico,
com formação e perfis distintos.
Seria desejável?
Seria factível em nossa realidade?
Os honorários e as atribuições seriam
diferentes?
Perderíamos então a unicidade de
profissão a partir desta distinção?
Ou seria desejável alcançar a solução
de meio termo?
No caso da arquitetura e urbanismo,
estaríamos formando dois tipos de
egressos: o profissional e o acadêmico,
com formação e perfis distintos.
Seria desejável?
Seria factível em nossa realidade?
Os honorários e as atribuições seriam
diferentes?
Perderíamos então a unicidade de
profissão a partir desta distinção?
Ou seria desejável alcançar a solução
de meio termo?
É necessário romper a dualidade
instrução/educação
que
gera
duas escolas, ou uma escola dual.
Uma para o trabalho-instrução e
outra para o mando-educação:
Escola interesseira
X
Escola omnilateral
Cada escola deve possibilitar aos
homens não só a instrução para o
trabalho, mas também
capacidade crítica e renovadora,
a verdadeira Educação”
ACADÊMICO-DISCIPLINAR
x
TÉCNICO PROFISSIONAL
Equívoco da escolha dicotômica.
O caminho mais acertado é a conexão entre as duas.
Estágio profissional tem papel destacado nesta conexão,
Mas apresenta limites e distorções.
É preciso reconhecer as condições de oferta e as
limitações para superá-las.
- Estágio como atividade de
caráter educativo e
complementar ao ensino, com
finalidade de integrar o estudante
em um ambiente profissional.
- Colocar o estudante em contato
com diferentes realidades sociais,
econômicas e culturais.
- Proporcionar experiências que
permitam desenvolver
consciência crítica e compreensão
da realidade para poder nela
interferir.
O importante papel do estágio
.
- Possibilitar ao estudante
compreender a realidade e
processos, identificar
problemas e gerar soluções
relacionando conteúdo
teórico com atividades do
dia-a-dia.
Nem o trabalho intelectual
se transforma em prática
por si só nem a prática
substitui o
Reconhecida sua obrigatoriedade e sua necessidade, é
preciso obervar sua efetividade:
Como é oferecido e acompanhado pelas instituições?
Como é oferecido pelos profissionais concedentes?
LIMITES E DISTORÇÕES DO ESTÁGIO:
- Estágio NÃO substitui a formação e não pode sobrepujar-se a ela.
- O estágio não consegue superar as deficiências na formação, mas sim complementa a boa formação em relação à prática profissional.
- Estágio muitas vezes é tratado como um “trabalho profissional” onde o estudante deve produzir ao invés de aprender.
- Os aspectos do cotidiano da prática profissional não devem ser
observados isoladamente como a boa arquitetura. É um componente importante, mas não único.
- Concedente não arquiteto e urbanista.
- Atividade não relacionada com atribuições.
- Concedente do estágio com pouco tempo de formado e pouca
experiência.
- Carga horária exigida pela instituição é muito baixa.
- Jornada de trabalho em conflito com asatividades acadêmicas.
- Inflexibilidade do concedente quanto ao cumprimento de atividades
acadêmicas (“viradas de projeto”) e complementares.
- Profissionais desejam estagiários que dominem habilidades que eles não possuem.