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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES COMUNICAÇÃO SOCIAL TAINARA LÉIA GRIESANG

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES

COMUNICAÇÃO SOCIAL

TAINARA LÉIA GRIESANG

O DISCURSO DO PORTAL “OLHAR DIRETO” NA COBERTURA POLICIAL

CUIABÁ 2018

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TAINARA LÉIA GRIESANG

O DISCURSO DO PORTAL “OLHAR DIRETO” NA COBERTURA POLICIAL

Trabalho de conclusão de curso apresentado como pré-requisito para a obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, sob orientação da profª Dra. Mariângela Sólla López.

CUIABÁ 2018

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TAINARA LÉIA GRIESANG

O DISCURSO DO PORTAL “OLHAR DIRETO” NA COBERTURA POLICIAL Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, Jornalismo pela Universidade Federal de Mato Grosso.

Orientador: Profª. Dra. Mariângela Sólla López

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado

Em _____________ pela banca composta pelos seguintes membros:

__________________________________________________________________________ Profª. Dra. Mariângela Sólla López (UFMT) - Orientadora

__________________________________________________________________________ Profª. Ms. Marluce de Oliveira Machado Scaloppe (UFMT)

___________________________________________________________________________ Profº. Ms. Thiago Cury Luiz (UFMT)

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Dedicatória

A quem segura meu mundo para me ver em paz. À luz que ilumina minha vida: irmã.

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Agradecimentos

Com muita luta, determinação e auxílio de pessoas especiais que conheci durante esses quatro anos e acrescentaram algo à minha vida profissional e pessoal, percorri o caminho da graduação.

Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida e por me permitir chegar até aqui. À minha mãe Celi Clarice Griesang e ao meu pai Sergio Luis Griesang, que me incentivaram sempre a dar o melhor de mim em tudo que faço. Aos meus tios, em especial minha tia Nelci Behling Lanssanova (in memorian), e seu esposo Liceu, aos meus primos Luciano, Licéia e Michele, por serem meu refúgio em Cuiabá, me auxiliando na vida fora da casa dos pais. Minha eterna gratidão à melhor pessoa da minha vida, meu orgulho, meu amparo e a força que me motiva cada dia mais, minha irmã e meu grande amor da vida, Jussara Leda Griesang. A toda minha família, muito obrigada.

Aos meus amigos, especialmente, Thainá Rosa Damaceno e Thayná Tavares Magalhães que, apesar das distâncias, me fortalecem todos os dias, comemoram comigo todas as vitórias e nunca deixam de acreditar no meu potencial. Aos meus colegas e amigos da faculdade, pela harmoniosa convivência diária. A Bruna Regina Maciel pelo companheirismo nas pesquisas e viagens a congressos de comunicação, minha gratidão pelo compartilhamento de seu conhecimento e pela amizade.

Agradeço imensamente os professores do curso de Comunicação Social, em especial aos de Jornalismo, por todo o conhecimento transmitido, que me fizeram uma pessoa melhor ao longo de toda essa jornada. Especialmente à minha orientadora, Mariângela Solla Lopez, por acreditar em mim, pela dedicação, compreensão e amizade. À ex-coordenadora da assessoria de imprensa da universidade, Maria Lima (in memorian), minha primeira chefe e com quem aprendi muito sobre a profissão que escolhi de coração. Às minhas colegas do primeiro trabalho da época e jornalistas: Selma, Thaís e Bruna. Agradeço também à jornalista Luciane Mildenberger por compartilhar seu conhecimento comigo no período de estágio.

A todos que, direta ou indiretamente, fizeram parte da minha formação, minha eterna gratidão.

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Epígrafe

Não há milagre em texto jornalístico. Pode ser um Prêmio Nobel da Literatura. Se não tiver apurado exaustivamente, vai escrever um texto jornalístico ruim. Só apurando muito – e com precisão – é que dá para escrever um texto substantivo, com tantos detalhes que o leitor pode ler com o prazer de uma ficção.

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Resumo

Este trabalho busca compreender como o portal Olhar Direto realiza a cobertura dos acontecimentos policiais sob a perspectiva da análise do discurso, considerando os conceitos teóricos de análise textual, as vozes passiva e ativa, o verbo e sua força, os significados das palavras ditas, além da análise da prática discursiva, do que é dito sobre o sujeito do crime, as informações de contextualização e a intertextualidade. Para isso, utilizamos como referência os conceitos de Norman Fairclough, Roseli Fiagaro, Marcia Benetti, Rosalind Gill, Francilaine Munhoz de Moraes, Margibel Adriana de Oliveira, Reges Schwaab e Angela Zamin. O objetivo principal foi verificar o tratamento dado aos fatos noticiados por meio da análise do discurso na ótica de Norman Fairclough. Assim, foram relacionadas as notícias veiculadas no ano de 2016, das quais foram selecionadas 64 para compor o corpus deste estudo, utilizando o método da semana composta. A análise mostrou que o site apresenta os acontecimentos de forma clara e limita-se a informar o fato, sem aprofundar a abordagem, o que restringe as possibilidades de debate sobre o assunto. Desta maneira, a pesquisa visa estabelecer um diálogo entre jornalismo e linguagem, ao tempo que analisa a linguagem na produção de enunciados dos sujeitos do meio social da capital de Mato Grosso, Cuiabá. Buscando entender o processo de estruturação do noticiário online Olhar Direto, através da concepção da análise do discurso.

Palavras-chaves: Jornalismo Policial; Jornalismo online; Discurso; Mudança Social; Olhar

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Sumário

Introdução ... 11

1. O jornalismo online ... 13

1.1 Características do jornalismo online ... 13

1.2 A consolidação do diário eletrônico Olhar Direto ... 17

2. Mídia, representação social e responsabilidade ... 19

2.1 Notícias policias, produção e responsabilidade social ... 22

3. Fundamentação teórica ... 25

3.1 A noção de discurso e suas características ... 25

3.2 A construção de sentido ... 32

3.3 Intertextualidade ... 36

4. O discurso na cobertura policial ... 38

4.1 O percurso metodológico ... 38

4.2 Análise textual ... 45

4.2.1 Das vozes passiva e ativa ... 46

4.2.2 O verbo ... 53

4.2.3 Os significados das palavras... 54

4.3 Análise da prática discursiva ... 57

4.3.1 O que é dito sobre o sujeito que comete o crime... 57

4.3.2 Contextualização do crime ... 62

4.3.3 Contextualização do leitor no espaço e no tempo ... 64

4.3.4 A intertextualidade utilizada pelo Olhar Direto ... 68

Considerações finais ... 82

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Lista de Figuras

Figura 1 – Interface do site Olhar Direto ... 14 Figura 2 - A concepção tridimensional do discurso como prática social ... 20

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Lista de Tabelas

Tabela 1 – A amostra selecionada ... 33 Tabela 2 – O corpus da pesquisa ... 34

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Introdução

Esta pesquisa monográfica tem como objetivo analisar o discurso policial, na produção de enunciados e na elaboração de sujeitos sociais, levando em consideração as abordagens dadas aos personagens envolvidos a partir das vozes passiva e ativa, da escolha do verbo e sua força, dos significados das palavras ditas, além de considerar a prática discursiva no que é dito sobre o sujeito que comete o crime, as informações de contextualização do espaço e do tempo e a intertextualidade do portal Olhar Direto.

É importante considerar, que o meio online possui um ritmo acelerado, diferente das demais plataformas midiáticas, que exige um constante abastecimento, em formatos curtos. Por consequência do emaranhado de informações e atualização durante os acontecimentos, diversas vezes, as narrativas permanecem inacabadas, que não geram debate acerca dos assuntos.

É por isso que, segundo Norman Fairclough (2001), o discurso se define como uma representação e significação do mundo, que, a partir destas linguagens específicas e pré-determinadas, constroem o mundo em significado. Aliás, estes significados são construídos a partir de notícias veiculadas diariamente, que só se tornam discursos e adquirem significados a partir do momento que mantêm diálogo com outros. Em outras palavras, os discursos, direta ou indiretamente, moldam a realidade.

O dilema atual está no uso da linguagem, que gera, consequentemente, a produção da imagem através dos conteúdos, que integra o grande sistema de mídia. O discurso empregado nos sites noticiosos, de modo geral, leva em consideração a linha editorial e a hierarquia do personagem discursado. Além disso, os conteúdos sofrem influências pessoais do jornalista, da sua cultura e do meio social que está inserido.

Estudar o jornalismo online a partir das teorias da análise do discurso tem como objetivo principal entender a estrutura de formação, interpretar e explicar os conteúdos produzidos através do jornalismo que, inserido em um contexto social, passam a ser adequados a linguísticas1 e passíveis de análise. Como foco principal, temos nesta pesquisa as notícias e reportagens do portal Olhar Direto, que contam histórias reais do cotidiano do cidadão cuiabano e mato-grossense por meio das práticas discursivas do fazer jornalístico.

Para isso, utilizamos as noções de jornalismo online dos autores, João Messias Canavilhas, Luciana Mielniczuk, Marcos Palacios e Ester Marques. Sobre mídia, representação social e responsabilidades, os conceitos de Marcia Benetti Machado, Nemézio

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Amaral Filho e Fábio Souza da Cruz. Sobre as notícias policiais, produção e responsabilidade, os conceitos de Nilson Lage e Alex Rômulo Pacheco. As noções de discurso foram baseadas nos autores Norman Fairclough, Roseli Figaro, Marcia Benetti, Rosalind Gill, Francilaine Munhoz de Moraes, Margibel Adriana de Oliveira, Reges Schwaab e Angela Zamin. O autor Norman Fairclough, também aborda as noções de intertextualidade, tratadas nesta pesquisa.

A metodologia percorrida nesta pesquisa consiste no levantamento bibliográfico e empírico. O recorte coletado para a etapa empírica foi determinado a partir de uma semana construída, eleita durante o ano de 2016. A amostra resultou no total de 12 dias de diferentes meses, com a veiculação de 64 conteúdos, que consistem no corpus desta pesquisa. Após a coleta dos dados, utilizamos da observação para analisarmos os discursos do portal Olhar Direto.

A partir do tema “O discurso do portal “Olhar Direto” na cobertura policial”, o objeto de pesquisa é o portal, que possibilita analisar o discurso utilizado para a elaboração de seus conteúdos policiais. Desta forma, a pesquisa aborda, em primeiro lugar os conceitos de jornalismo online e suas características, com base nos conceitos de Luciana Mielniczuk, Ester Marques, Marcos Palacios e Margibel Adriana de Oliveira, além da consolidação do site a ser estudado. O segundo capítulo refere-se a mídia, representação social e responsabilidade, a partir dos conceitos de Fábio Souza da Cruz, Márcia Benetti Machado e, às notícias policiais com base nos autores Nilson Lage e sua obra Ideologia e Ténica da Notícia e, Alex Rômulo Pacheco sobre Jornalismo Policial Responsável. No terceiro momento, abordaremos as noções de discurso e suas características, a construção de sentido a partir dele e a intertextualidade, com referência nas obras “Discurso e Mudança Social” de Norman Fairclough, do ano de 2001, “Comunicação e Análise do Discurso” de Roseli Figaro, do ano de 2012, Francilaine Munhoz de Moraes e sua dissertação de mestrado: “Discurso jornalístico online: a perspectiva crítica da narratividade”, de 2004, a tese de doutorado: “As notícias de crimes: uma análise retórico-argumentativa do discurso jornalístico online por antecipação ao discurso jurídico”, do ano de 2014, da pesquisadora Margibel Adriana de Oliveira, além dos estudos de 2014, de Reges Schwaab e Angela Zamin. Por último, o capítulo 4 refere-se à análise textual, das vozes passiva e ativa, do verbo, significados e da análise da prática discursiva, sobre o que é dito do sujeito que comete o crime, a contextualização do crime e do leitor no espaço e no tempo e a intertextualidade utilizada nos conteúdos policiais do site.

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1. O jornalismo online

O crescente avanço tecnológico dos últimos anos e a facilidade de acesso à rede de informações desenvolveram um novo método de apuração, produção e distribuição de conteúdo informativo: o jornalismo online.

O termo online “reporta a ideia de uma conexão em tempo real, ou seja, o fluxo de informação contínuo e quase instantâneo” (MIELNICZUK, 2003, p. 4), que utiliza da tecnologia digital. Incorporando o termo ao jornalismo, poderíamos definir jornalismo online como a distribuição de informações por meio de redes, conectadas por computadores. Há autores que utilizam outras nomenclaturas e definições. Independente disso, o jornalismo online apresenta algumas características específicas: instantaneidade, interatividade, convergência, hipertextualidade, customização de conteúdos e memória. Estas propriedades serão tratadas neste primeiro capítulo.

De início, vamos considerar as principais questões acerca do assunto, definindo conceitos e abordando este novo método de distribuição de informação. Em segundo lugar, trataremos das alterações na forma de apuração, produção e distribuição de conteúdos no meio online. Em seguida, faremos um breve apontamento sobre as características do meio e das notícias desenvolvidas para o online. Por último, faremos um levantamento histórico e contextual do portal Olhar Direto.

1.1 Características do jornalismo online

O jornalismo que, atualmente, se faz para a internet e com o auxílio de suas ferramentas tem diversas definições. Jornalismo digital, ciberjornalismo, jornalismo online e tantas outras definições que, na maioria das vezes, são utilizadas para definir um único meio de disseminação de informação.

As definições utilizadas neste trabalho seguem a linha de raciocínio da autora Luciana Mielniczuk (2003, p. 3), que denomina o jornalismo digital como o mais abrangente de todos: “integrante do espectro eletrônico, [...] que ocupa um espaço maior a cada dia, [...] tanto na captura, processamento ou disseminação da informação”, faz uso de equipamentos eletrônicos e está integrado no meio digital. Em segundo, podemos caracterizar o ciberjornalismo pela produção realizada “com o auxílio de possibilidades tecnológicas oferecidas pela cibernética2

2 De acordo com o dicionário Aurélio: ciência que estuda os mecanismos de comunicação e de controle das

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[...] ou com o auxílio do ciberespaço3” (MIELNICZUK, 2003, p. 4), ou seja, a produção de informações com o auxílio do ciberespaço em tempo real. Por último, o conceito que utilizaremos com maior frequência durante esta pesquisa: o jornalismo online. Luciana Mielniczuk (2003, p. 4) denomina o termo como sendo “desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em rede e em tempo real”, possibilitando a distribuição quase que instantânea do enorme número de acontecimentos cotidianos, através da plataforma de rede World Wide Web (ou www). Além de considerá-lo como a “manipulação conjunta de dados digitalizados de diferentes naturezas: texto, som e imagem” (MIELNICZUK, 2003, p. 3), que alguns teóricos como João Messias Canavilhas (2006, p. 64) caracterizam como a junção da televisão, do rádio e do impresso em um contexto de jornalismo para a internet, com uma linguagem própria do meio.

Este novo formato jornalístico, disponível nas plataformas online, tem adaptado as formas de apuração, verificação e publicação da informação do jornalismo impresso4. A

tecnologia é quem determina estas alterações na produção de conteúdos noticiosos, já que as novas plataformas exigem do jornalista uma certa agilidade na atualização de conteúdos.

A instantaneidade, primeira característica do online e das notícias produzidas para o meio, diz respeito à eficiência do veículo de comunicação e ao imediatismo da informação. O furo de reportagem, como é conhecido no jornalismo, é usualmente visível nesta nova maneira de se fazer jornalismo. A veiculação de notícias breves e claras é marca do jornalismo online que, por ser através da tecnologia, permite “uma extrema agilidade de atualização do material nos jornais da web” (PALACIOS, 2003, p. 4). Quase em tempo real, a instantaneidade permite ao leitor obter as informações mais importantes sobre o acontecimento.

É neste ponto que o discurso online diferencia-se das demais mídias comunicacionais. Para Ciro Marcondes Filho (2009, p. 156 apud DE OLIVEIRA, 2014, p. 77), a imprensa deve deixar de lado os longos conteúdos e redigir textos de um tamanho máximo de três parágrafos:

[...] os jornalistas [do meio] online precisam pensar em elementos diferentes e em como eles podem ser complementados. Isto é, procurar palavras para certas imagens. [...] O texto online deve estar numa linha entre o jornalismo impresso e o eletrônico. [...] Um bom texto de mídia eletrônica usa sentenças concisas, simples e declarativas, que se atêm a apenas uma ideia. Evitam-se longos períodos e frases na voz passiva (FERRARI, 2010, p. 48-49 apud DE OLIVEIRA, 2014, p.77).

3 De acordo com o dicionário Aurélio: espaço das comunicações por redes de computadores.

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A segunda característica do jornalismo online refere-se à interatividade ou interação digital que, seria o contato entre os meios de comunicação e leitores, mediados pelos portais da web. A interatividade se dá a partir da segunda geração da evolução da internet, quando surgiram as mídias colaborativas e o desenvolvimento da web 2.0, baseada na interação coletiva entre o ser humano e os meios, possibilitando a participação na produção de conteúdos a partir da troca de e-mails, comentários opinativos e até mesmo de chats, fazendo com que o leitor sinta-se parte do processo de produção jornalística.

A terceira característica do jornalismo online é a convergência, que se torna possível “em função do processo de digitalização da informação e sua posterior circulação e/ou disponibilização em múltiplas plataformas e suportes, numa situação de agregação e complementariedade” (PALACIOS, 2003, p. 3). Essa convergência acontece quando várias mídias (imagem, som e texto) se convergem em um único meio (internet) para narrar um acontecimento jornalístico.

Além disso, a convergência também permitiu a utilização de hiperlinks nos textos, que se tornariam a quarta característica do jornalismo online. A hipertextualidade possibilita a conexão de conteúdos por meio de links, que levam a outras notícias ou mídias relacionadas com o acontecimento que se complementam.

Marcos Palacios (2003, p. 3-4) também considera como quarta característica do jornalismo online a customização de conteúdo. Não utilizada em portais de notícias no Brasil, este atributo possibilita os interesses individuais, que têm a opção de “configurar produtos jornalísticos”. Um exemplo fácil de visualizar este tipo de customização no Brasil seria o site de pesquisa Wikipédia, onde todos podem consultar, customizar, editar e revisar os conteúdos.

O quinto e último aspecto característico é a memória, considerado por Palacios (2003, p. 4). Na web, de acordo com o autor, o armazenamento de informações é “mais viável técnica e economicamente”, já que as informações disponíveis neste meio têm maior volume e tornam-se uma memória coletiva.

Apesar de possuir algumas características diferentes dos meios tradicionais de comunicação, o discurso jornalístico online possui outras características e critérios de noticiabilidade, bem como de estruturação, para que possa ser aceito.

A busca da verdade absoluta, inicialmente, estabelece contato com o leitor, mas é concretizado somente através do discurso. Para Ester Marques (2008, p. 3) “essa verdade [evidente] é dada pelo próprio fato, pelo que aconteceu aqui e agora, desta e não de outra maneira, com estes e não outros critérios de noticiabilidade”. A verdade é sempre proposta pela interpretação e determinação de quem narra o discurso, sendo passível de outras

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interpretações, sempre levando em consideração a linguagem utilizada. Ou seja, o fato apresenta-se totalmente em todas as suas dimensões e é interpretado a partir das concepções do leitor.

Mas não é toda verdade e todo acontecimento que são suscetíveis ao fato jornalístico. Para Ester Marques (2008, p. 4), vários fatos configuram a realidade do cidadão e, dentre estes acontecimentos factuais, somente alguns são desenrolados de formas adversas ao cotidiano e merecem registros de um discurso especial, adquirindo elementos noticiosos e tornando-se públicos.

Para entender como o fato vira notícia, Ester Marques (2008, p. 5) destaca três registros. O primeiro diz respeito ao excesso, ou seja, o funcionamento anormal do universo. O segundo refere-se à falha ou o funcionamento anormal das regras de exercício natural das coisas. Por último, à inversão, como o próprio nome dito. Utilizamos o exemplo corriqueiro para explicar de forma simples e direta o registo: “se um cão morder um homem não é notícia, mas se um homem morder um cão então é notícia” (MARQUES, 2008, p. 5). Sendo assim, apenas os fatos imprevisíveis e verídicos, que fogem de seu estado natural, viram notícia.

Assim,

“O [discurso] enxerta no fato o seu drama, a sua magia, o seu mistério, sua estranheza e sua poesia, seu poder de compensação e sua identificação, sua tragicomicidade, o sentimento de fatalidade que o acompanha. [...] Para que isso ocorra é necessário que este acontecimento seja caracterizado como jornalístico, isto é, seja produzido como notícia, segundo as regras enunciativas do discurso jornalístico e faça parte [dos agendamentos da] instituição jornalística” (MARQUES, 2008, p. 6). Estas produções noticiosas a partir do discurso jornalístico são resultados principais de seu funcionamento. É o jornalista em seu veículo que determina o conteúdo, a linguagem e o acontecimento que sairão em seu periódico. Portanto, o discurso, que levado como verdade absoluta, é o mediador da experiência humana para o restante do público.

Desde o surgimento do jornalismo a partir de relatos dos principais acontecimentos, enumerados com base nos fatos, é essencial destacar que a notícia têm sido tratada como mercadoria, principalmente no meio online. Assim, os veículos investem em suas aparências, considerando os interesses na comercialização da informação.

Cabe destacar ainda, segundo Antonio Francisco de Freitas (1999) a ética da comunicação social, sobretudo jornalística, ressalta que: todo fato contado por meio do jornalismo deve ser objetivo, imparcial e acima de tudo, verdadeiro. O que pode não se concretizar, pelo fato do universo online sofrer constantes alterações. Além disso, é preciso

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considerar a atuação de diversos profissionais do jornalismo no meio comunicacional, ainda que indiretamente, envolvidos na apuração, produção, edição e publicação de notícias.

As notícias, matérias primas diárias do jornalismo, são entendidas como construtoras sociais, que trazem consigo “a compreensão de que elas são dizeres marcados pela cultura jornalística e pela cultura em geral” (TRAQUINA, 2004 apud SCHWAAB; ZAMIN, 2014, p. 51). Desta forma, as produções noticiosas são caracterizadas a partir do momento em que o jornalista estabelece relações com as fontes, com a sociedade e com os membros de uma sociedade profissional. Estes conteúdos, por sua vez, ao serem produzidos, perpassam por um processo de edição pelo qual se faz possível a seleção de fatos e o uso de linguagens específicas para serem empregadas ao texto.

Assim, podemos realçar que o dilema do discurso no jornalismo online atual está no uso da linguagem que pode contribuir para a produção da imagem de um sujeito através do discurso, que integra o grande sistema de mídia.

1.2 O portal Olhar Direto

O portal noticioso online Olhar Direto, a partir do qual realizamos esta análise, possui sede na cidade de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso. Foi fundado no ano 2000 pelos jornalistas Marcos Coutinho, falecido em 2013, e Mário Marques de Almeida. Parte do Grupo Olhar, o Olhar Direto está conectado no mesmo portal com o Agro Olhar & Negócios, Olhar Conceito e Olhar Jurídico e tem como princípios e objetivos5 a isenção de preconceito ideológico, não estando a serviço de grupos econômicos, sem vínculos partidários, mas posicionando-se em opiniões e opta pela qualidade da informação.

Figura 1: Interface do site Olhar Direto

5 Informações como objetivos e princípios retirados do site www.olhardireto.com.br, acessado em: 18 de abril de

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Segundo Voltolini e Pereira (2017), o Olhar direto é um dos portais mais acessados da capital. Disponibiliza suas notícias através da plataforma de rede world wide web e possui uma equipe composta pela diretora geral Maria Izabel de Moraes Manfrim Coutinho Barbosa, editor-chefe Lucas Bólico, editora-adjunta Patricia Neves, os repórteres André Garcia Santana, Carlos Gustavo Dorileo, Erika Oliveira, Isabela Mercuri, Paulo Victor Fanaia, Ronaldo Pacheco, Wesley Santiago e Vinícius Mendes, repórter fotográfico Rogério Florentino Pereira e atualmente duas estagiárias, Fabiana Mendes e Vitória Siqueira Lopes. Além da equipe de produção, o jornal conta com um departamento comercial composto por Karine Neves e Renan Vitorio e um departamento financeiro e administrativo coordenado pela Izabel Coutinho.

Em formato de portal jornalístico, o Olhar Direto busca destacar o conteúdo informativo. As notícias são organizadas nas editorias de: Últimas notícias, Brasil, Carros & Motos, Cidades, Ciência & Saúde, Copa 2014, Educação, Esporte, Meio Ambiente, Mundo, Picante, Política BR, Política MT, Turismo e Variedades. O portal também conta com uma aba destinada a upload de vídeos, que não são produzidos por sua equipe. Atualmente, o eletrônico não possui um caderno específico no qual disponibiliza os conteúdos que deveriam referir-se à editoria de polícia, notícias que analisamos nesta pesquisa. Estas informações são destinadas, junto a outras, na editoria de Cidades.

Quando falamos de interatividade e convergência de mídia, o diário eletrônico possui conta nas redes sociais, que permitem comentários e mensagens: no Facebook, como @olhardiretoMT, que está conectada com o Instagram @olhardiretooficial e o site www.olhardireto.com.br, que disponibiliza ao leitor a possibilidade de interação com o jornal. Quanto à personalização de conteúdo, o online não possui. Quanto à hipertextualidade, o portal utiliza um link com a ferramenta “leia mais” que geralmente está localizada logo abaixo do lead.

Desta maneira, a pesquisa visa estabelecer um diálogo entre jornalismo online e linguagem, ao tempo que analisa a linguagem na produção de enunciados dos sujeitos do meio social da capital de Mato Grosso, Cuiabá. Buscando entender o processo de estruturação do noticiário online Olhar Direto, através da concepção da análise do discurso. Considerando o dito e o não dito nas manchetes, pesquisando elementos explícitos e analisando a linguagem estratégica implícita.

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2. Mídia, representação social e responsabilidade

A vivência em uma sociedade midiatizada, com o crescente avanço tecnológico, em que os meios de comunicação adquirem cada vez mais visibilidade e vêm exercendo poder na sociedade, possibilita que a mídia atinja um público cada vez maior e mais diversificado, com mais facilidade, ao mesmo tempo que pode influenciá-lo. Em outras palavras, além de atuar como disseminadora da informação, a mídia também age com o papel de formadora de opinião, ao mesmo tempo em que é formada pela opinião social. De fato, os meios de comunicação reproduzem o que a sociedade representa e o que acreditam ser mais lucrativo. Além disso, o discurso jornalístico tem o potencial de formar opinião, podendo modificar as relações pessoais do indivíduo conforme a representatividade dispersa através de suas plataformas.

Não há dúvidas de que a grande mídia, sobretudo como os meios de comunicação de massa, exerce influência sobre a sociedade. Isso acontece desde o surgimento da imprensa, da televisão, do rádio e seus avanços, até o surgimento das novas tecnologias e da internet, que resultam hoje no jornalismo online.

Há teóricos que consideram essa influência como “o poder da mídia”, o que gera classificações da mídia como o “quarto poder”. Em outras palavras, o termo quer dizer que os meios de comunicação de massa exercem tamanha influência na sociedade quanto os demais poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário.

É relevante considerar o grande poder que a mídia exerce sobre a massa, mas não a consideramos aqui como quarto poder. Na realidade, os meios de comunicação exercem a função de fiscalizar e denunciar as irregularidades dos três poderes, como fazem – ou pelo menos deveriam fazer – na sociedade como um todo.

O que tem se tornado cada vez mais nítido na sociedade, principalmente nos meios digitais, é que a facilidade de acesso e a velocidade com que as informações circulam pelas plataformas online possibilitam a troca de conhecimento, as criações, o compartilhamento e a interação, que tendem a crescer e se inovarem cada vez mais. É por isso que as mídias sociais destacam-se como influentes, comparadas às outras.

Ao mesmo tempo em que surgem novas formas de produção e divulgação dos conteúdos noticiosos, considera-se uma nova linguagem, abordada em determinadas narrativas, que assumem papeis importantes na sociedade, auxiliando também na organização e na compreensão da realidade.

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É importante considerar o discurso jornalístico e a maneira como é produzido, a fim de compreender o seu poder e sua responsabilidade social. Podemos considerar como primeiro passo, o contrato de leitura existente entre jornalista, fontes e leitores. Em outras palavras, nos referimos ao trabalho dos veículos de comunicação com a credibilidade do cliente. Esse contrato consiste na sustentação da confiança que o consumidor tem como o produtor da notícia. Durante esse processo, o jornalista desempenha a função de construtor social por meio dos discursos, com base na realidade, produzidos diariamente a partir de acontecimentos inusitados.

Apesar do jornalista desempenhar determinadas funções, o discurso é construído na consciência de cada indivíduo, que está subordinado a suas experiências, ideologias, classe social, raça e demais fatores influentes.

As narrativas compostas de suspense e tensão articulam sentido no homem e invadem o meio mitológico, buscando por dramas que remetem à realidade humana. Exemplifico esta consideração, levando em conta as propagandas elaboradas considerando a emoção do humano, que cotidianamente atingem o ser, buscando persuadi-lo à compra de determinados produtos. As combinações de fragmentos dispersos em tais narrativas formam um sistema simbólico singular, mesclando os sentidos individuais e coletivos. Assim, “o jornalismo constrói sentidos sobre a realidade, em um processo de contínua e mútua interferência – indo além, o jornalismo atua como estruturador do real” (MOTTA, 2000 apud MACHADO, 2016, p. 4).

Evidentemente a mídia assume um importante papel na sociedade atual. Transparecendo as ideologias do meio em que está inserida. “Desta forma, a mídia acaba construindo-se em um aparelho responsável pela promoção simbólica de uma nítida separação entre atores” que permanecem em diferentes classes sociais e raças (DA CRUZ, 2011-2012, p. 2).

Considerando essa realidade, “percebemos que a mídia tradicional brasileira consiste em uma espécie de palco por onde desfilam as mais diversas forças da sociedade (DA CRUZ, 2011-2012, p. 4). Mas que nem sempre se refere a um discurso completo e objetivo, que contempla todos os lados envolvidos diante dos acontecimentos. Nesse sentido, Fábio Souza da Cruz (2011-2012, p. 6) considera a realidade dos meios de comunicação do Brasil cultivadora do “triunfo do descartável”, que veicula informações carentes de conteúdos, superficiais e isentas de investigação.

As notícias da imprensa, por serem consideradas as principais fontes de informação, têm influência na interpretação de seus conteúdos:

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Em resumo, nós assumimos que a mídia representa um papel central na produção do racismo, por causa da sua relação com outras instituições de elite e em função de sua influência estrutural na formação e mudança da mente social. Nós sugerimos que o poder da mídia é especialmente proeminente nas questões étnicas por causa do fato de grandes segmentos do público branco tem uma pequena ou nenhuma alternativa de fontes de informação sobre as questões étnicas (DIJK, 1993, p. 242 apud AMARAL FILHO, 2010, p. 22).

Cabe aqui ressaltar a preocupação da mídia para com os problemas do mundo moderno. Diante de uma situação problemática, seja da Europa ou da América do Norte, a mídia veicula mais conteúdo com maior periodicidade, dando atenção para a ocorrência. Enquanto nos países de terceiro mundo, com economia menos desenvolvida, a atenção é temporária e veiculada em menor frequência. Para ater-se a isso, não é necessário nenhum estudo científico, apenas cabe a observação.

Devido ao grande avanço tecnológico, o excesso de informação e a necessidade de veiculação de forma rápida e objetiva, a mídia tem crescido de forma intensa e descontrolada. É devido a esses avanços da internet, que a mídia passou a representar um importante e influente papel social, de forma que participe na transformação da realidade, contribuindo para alterações no modo de pensar e agir do ser humano. Estes fatos se dão, por meio de formas verbais e não-verbais da linguagem.

Podemos destacar o jornalismo como produtor de sentidos, produzindo efeitos através dos enunciados. Esta produção é moldada através dos conteúdos e do diálogo entre os meios comunicativos, os indivíduos e a sociedade. O diálogo permeia as configurações do indivíduo em seu meio social, considerando a sociedade e a cultura nas quais estão inseridos. Desta maneira, o discurso não é produzido através dos conteúdos, mas sim entre os sujeitos.

Se o discurso depende dos sujeitos para existir, isso significa que é produzido por esses sujeitos – não apenas pelo autor da fala ou enunciador, mas também pelo sujeito que lê o discurso. O discurso é [...] opaco, [...] pleno de possibilidades de interpretação e, [...] indomável. [Assim, devemos] reconhecer que o texto objetivo é apenas uma intenção do jornalista (MACHADO, 2016, p. 2).

Desta forma, o relato jornalístico, por mais que seja um acontecimento real, possui um direcionamento, que é dado pelo redator, determinando sentidos e percepções através dos enunciados, que podem fugir do contexto do discurso. Afinal, “relatar ‘fielmente’ os acontecimentos, revela-se frágil e ilusória sempre que problematizada pelo viés da linguagem” (MACHADO, 2016, p.2).

Quando me refiro à responsabilidade social da mídia, quero dizer que ela possui obrigações para com a sociedade em que está inserida. Qual seria a responsabilidade social

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dos meios online? De início, a garantia de informações que sejam de interesse do público, proporcionando relatos fiéis dos acontecimentos reais, isentos de opiniões (ou que pelo menos sejam devidamente separados e visíveis ao conhecimento do leitor), representando a sociedade e retratando-a sem objetivar os valores sociais ou se posicionar diante deles, distribuindo toda informação possível.

Por último, mas não menos relevante, consideramos que a responsabilidade midiática tem se defasado e não consiste mais na responsabilidade de distribuir informação sobre a sociedade e para a sociedade. Servindo os interesses das grandes corporações privadas, que sofrem influências dos poderes econômicos, políticos e governamentais, a grande mídia passou a visar o lucro. As notícias são tratadas como mercadorias, que passaram a ser inseridas num sistema econômico que visa o lucro, permanecendo longe da objetividade e imparcialidade.

É claro que nem sempre estas questões são evidentes e permanecem transparentes. É necessário observação e análise para compreender o poder e a responsabilidade que os meios de comunicação exercem atualmente.

2.1 Notícias policias, produção e responsabilidade social

Os novos acontecimentos, que usualmente fogem do cotidiano do cidadão, são entendidos no jornalismo como notícia. Assim, podemos definir como “o relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante, e este, de seu aspecto mais importante [...] de verdade ou interesse humano” (LAGE, 2001, p. 32). No contexto atual dos meios de comunicação, os veículos selecionam e reproduzem aspectos parciais da realidade, formando o que chamamos de opinião pública. Na luta pela audiência e pelo furo de reportagens, os critérios de produção de conteúdos são frequentemente esquecidos, abrindo espaço para as notícias sensacionalistas.

Para Nilson Lage (2001), os veículos eletrônicos são os principais transmissores do formato jornalístico notícia, para a sociedade. Estes conteúdos mais detalhados e apurados sem profundidade visam atrair o público e afetar o leitor, evidenciando a posição de valor entre o bem e o mal, possibilitando a distorção dos fatos.

A forma relativamente rápida de produção noticiosa online, que considera os critérios de pirâmide invertida e possibilita a agilidade exigida pelo meio de comunicação nos conteúdos sobre violência, tem sido cada vez mais comum, tornando-se uma produção de notícias sensacionais com excesso de sangue.

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Não é novidade que o sensacionalismo está presente na mídia. Preocupados com a audiência, cada vez mais os meios de comunicação optam por conteúdos apelativos, dramatizados e capazes de despertar a emoção do leitor. “Na maior parte das notícias veiculadas, principalmente policias, os critérios utilizados visam à audiência” (PACHECO, 2005, p.12), isso pelo fato de que “o sensacionalismo atrai a atenção das pessoas no primeiro instante” (PATTERSON, 2003 apud PACHECO, 2005, p.12).

Por outro lado, esse mesmo sensacionalismo que atrai pode importunar a percepção que o leitor tem da realidade. Por se tratar de acontecimentos reais e inesperados, com pessoas comuns da sociedade, os conteúdos policias engajam o consumidor, principalmente pelo fato do trágico despertar curiosidade. É esse valor, que ocasiona uma resposta de aceitação ou repúdio com os personagens.

Para Elcias Lustosa (1996,), todo texto jornalístico é sensacionalista, apesar da característica permanecer em evidência no conteúdo policial. Isso acontece por consequências das características do jornalismo policial: A descrição detalhada do cenário da tragédia; A narração do comportamento das pessoas envolvidas; O questionamento sobre comportamentos anti-sociais; A indicação da culpa e do castigo a serem aplicados e; O uso de clichês e expressões técnicas especializadas (LUSTOSA, 1996, p. 120).

Como em qualquer outro meio de produção de conteúdos jornalísticos, o policial exige o máximo de informação possível sobre o fato, consultando as mais diversas e possíveis fontes, é a partir disso que o redator permite uma compreensão do contexto do acontecimento.

Assim,

O critério de seleção é fundamental para os meios de comunicação se manterem diante da comunidade como um formador de opinião, estimulador da discussão e do esclarecimento do público. Dessa forma, mostrar que a notícia é de fato importante para o desenvolvimento da sociedade e da cultura. A avaliação criteriosa das notícias e a apuração de forma correta garantem a qualidade noticiosa do fato, sempre primando pelos conceitos básicos de atender o maior número de pessoas e ampliando o princípio do jornalismo dentro da responsabilidade social (PACHECO, 2005, p. 6). Ou seja, o critério geral de seleção consiste no acontecimento que deveria ser considerado fator importante para formação de opinião e produção de mudança social.

Afinal, os meios de comunicação são peças essenciais na formação de opinião e no desenvolvimento do cidadão. Todavia, essa consideração é comumente esquecida nas produções de conteúdos policiais, que aparentam optar apenas pela busca exacerbada da audiência, deixando de lado o papel de responsabilidade.

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O jornalismo responsável tem como objetivo propor uma investigação mais aprofundada dos fatos, coberturas mais amplas e discussões mais democráticas, para melhorar as condições culturais e sociais dos cidadãos. Apurar também com mais fundamentação todas as notícias que são veiculadas nos meios de comunicação, filtrando o que pode ou não contribuir para melhorar o dia-a-dia das pessoas.

Poderíamos nomear como compromisso social do jornalismo, seja ele policial ou não. Mas, segundo ABIAHY (2000), veicular conteúdos de interesse do leitor está cada vez mais difícil. “A sensação que temos é que o espaço de debate tornou-se reduzido, ou melhor, o interesse pelo debate é que tem diminuído a tal ponto que as pessoas parecem não se envolver mais, a opinião pública vem sendo substituída pela pesquisa de mercado” (Idem, 2000, p. 5). Ou seja, os conteúdos estão cada vez mais direcionados para atender as especificidades dos diferentes públicos.

É neste momento que o jornalismo especializado tende a se desenvolver como uma estratégia de mercado, em busca de atingir os públicos desassociados.

As publicações especializadas servem como um termômetro da gama de interesses das mais diversas áreas [...]. Mas por outro lado, podemos considerar que as produções segmentadas são uma resposta para determinados grupos que buscavam, anteriormente, uma linguagem e/ou uma temática apropriada ao seu interesse e/ou contexto. Esses grupos agora encontram publicações ou programas segmentados com o qual possam se identificar mais facilmente. Neste caso, o papel de coesão social no jornalismo especializado passa a cumprir a função de agregar indivíduos de acordo com suas afinidades ao invés de tentar nivelar a sociedade em torno de um padrão médio de interesses que jamais atenderia à especificidade de cada grupo (ABIAHY, 2000, p.6).

Esses parâmetros, associados as publicações especializadas, assim como o jornalismo policial, resulta em alterações no modo de fazer jornalismo.

Porém, por conta da proliferação de conteúdos com o desenvolvimento da comunicação e o emaranhado de informações, a absorção e a produção destes conteúdos tornaram-se inferior. Segundo Ciro Marcondes Filho (1993 apud ABIAHY, 2000, p. 9), “o jornalista encontra-se diluído nesta rede de informações. É um profissional em mutação, debilitado pelo excesso de informações, aliado à multiplicidade das fontes”. Mas não só o profissional, o conteúdo e a formação de opinião também são atingidos pela tecnologia.

Ciro Marcondes Filho (1993, p. 97 apud ABIAHY, 2000, p.10) afirma que,

Em termos da elaboração redatorial do que deve ser uma matéria jornalística, trabalha-se na imprensa sob o ritmo da compressão. Deve-se suprimir notícias longas e as matérias não devem ter mais do que três parágrafos. Assim elas devem pulverizar-se em pequenos drops informativos que são fornecidos a conta-gotas nas páginas do jornal.

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Desta forma, as notícias policiais veiculadas atualmente permanecem condensadas por consequência do número excessivo de informações, apesar de suas estratégias serem pensadas a ponto de aprofundar o conhecimento e gerarem debate são, ao mesmo tempo, pautadas pelo factual deixando lacunas que influenciam no entendimento do leitor.

3. Fundamentação teórica

Os capítulos anteriores fornecem um embasamento teórico sobre o jornalismo online e a responsabilidade dos meios de comunicação, onde se concretiza essa pesquisa.

Neste capítulo, abordaremos os conceitos da Análise do Discurso e suas características, considerando o discurso como uma prática social jornalística. Consideramos as noções de enunciados, enunciadores e locutores como produtores do conteúdo disponíveis nas plataformas de estudo, assim como os conceitos de intertextualidade do discurso.

3.1 A noção de discurso e suas características

É difícil definir o conceito de discurso em poucas palavras. Há diversas definições que formam as perspectivas teóricas. Na linguística, por exemplo, o “‘discurso’ é usado algumas vezes com referência a amostras aplicadas de diálogo falado, em contraste com ‘textos’ escritos” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 21). Mas o termo também passou a ser utilizado em outros tipos de linguagem, como a jornalística e a publicitária. De modo geral, Norman Fairclough define discurso como “uma prática, não apenas de representação do mundo, mas de significação do mundo, constituindo e construindo o mundo em significado” (2001, p. 95).

A Análise do Discurso (AD) surgiu em busca do entendimento do fenômeno político que acontecia na França nos anos sessenta. O país passava por turbulências políticas e culturais, que reuniram manifestantes em protestos contra as estruturas da educação e da ditadura, que consequentemente influenciava na cultura. Daí que surge a Análise do Discurso de linha francesa, quando se analisa os discursos introduzidos pela falta da política na época.

As análises partiram, em princípio, dos sentidos nas produções de enunciados, considerando não apenas a linguagem falada, mas também a escrita.

O homem [...] opera [...] e produz [...] o texto em um estilo. [...] O texto ganhará expressão e sentido quando, entrar na corrente das interações e usos dos discursos na sociedade. O texto [...] tem um responsável, um autor: uma industriosa máquina humana de produção. Mas o texto só aparece como um produto industrioso quando, enunciado, torna-se discurso. [...] Fazendo sentido à medida que está em relação e em diálogo com outros (FIGARO, 2012, p. 12-13).

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Independente do campo em que está sendo estudado, seja pela linguística, pela publicidade ou, no caso desta pesquisa, pelo jornalismo, o discurso só tem sentido no momento em que se torna discurso concreto. Isso se dá quando os seus diversos elementos são organizados no espaço, no tempo e permanecem em fluxo com a sociedade. Em outras palavras, no meio social.

Para analisar o discurso, Norman Fairclough (2001, p. 94) propõe considerar a linguagem como prática social, inserida no contexto de que a linguística é moldada pela realidade ao mesmo tempo em que pode influenciar em suas molduras, contribuindo para a reformulação ou a construção de crenças e conhecimentos. O autor se espelha no fato de que o discurso é “um modo de ação” (2001, p. 95), que a partir dele, podemos agir sobre o mundo, o mundo agir sobre nós e nós mesmos sobre outros indivíduos. Em outras palavras, “para a constituição de todas as dimensões da estrutura social que, direta ou indiretamente, o moldam e o restringem: suas próprias normas e convenções, como também relações, identidades e instituições que lhe são subjacentes” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 95).

A partir dos conhecimentos propostos, Norman Fairclough (2001) analisa o discurso por meio de uma concepção tridimensional, que inclui o texto, a prática discursiva e a prática social, como demonstrado na figura 2:

Figura 2: a concepção tridimensional do discurso como prática social.

(FAIRCLOUGH, 2001, p. 105) Na dimensão textual, o autor propõe analisar os aspectos de vocabulário, gramática, coesão e estrutura textual. Em primeiro lugar, o vocabulário consiste na análise das palavras isoladas. Em segundo, a gramática, examina as orações. Em terceiro, a coesão, como o

TEXTO

PRÁTICA DISCURSIVA

(produção, distribuição, consumo)

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próprio nome, verifica a ligação coesa entre orações. Por último, a estrutura textual abrange, de modo geral, a organização textual, considerando os itens anteriores.

A prática discursiva, como indicada na concepção tridimensional do discurso, envolve o processo de produção, distribuição e consumo dos conteúdos. Prática essa que se sustenta nos conceitos de intertextualidade, que discutiremos mais tarde, ligados à força e coerência dos enunciados. A intertextualidade consiste na elaboração de textos a partir de fragmentos de outros conteúdos já existentes, “que podem ser delimitados explicitamente ou mesclados e que o texto pode assimilar, contradizer, ecoar ironicamente, e assim por diante” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 119) Enquanto a coerência “é tratada frequentemente como propriedade dos textos, mas é mais bem considerada como propriedade das interpretações” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 118), ou seja, um texto coerente é aquele que suas orações relacionadas constituem um sentido.

A terceira dimensão trata da prática social, envolve ações sociais e o texto em um contexto que está apoiado nos conceitos de ideologia e hegemonia. Para Norman Fairclogh (2001), o discurso, independentemente de onde é utilizado, é passível de análise, principalmente na esfera social, por isso a terceira dimensão.

[Os discursos] não apenas refletem ou representam entidades e relações sociais, eles as constroem ou as ‘constituem’; diferentes discursos constituem entidades-chave [...] de diferentes modos e posicionam as pessoas de diversas maneiras como sujeitos sociais particulares para produzir um novo e complexo discurso (FAIRCLOUGH, 2001, p.22). Em outras palavras, esta dimensão se apoia em um contexto sócio-histórico. Por ideologia, Fairclough (2001) entende as construções da realidade com base nos saberes individuais, coletivos e das relações sociais, que não estão presentes nos textos, mas nos resultados que o discurso produz ou reproduz. Hegemonia Norman Fairclough (2001, p. 127), define como:

Hegemonia é liderança tanto quanto dominação nos domínios econômico, político, cultural e ideológico de uma sociedade. Hegemonia é o poder sobre a sociedade como um todo de uma das classes economicamente definidas como fundamentais, em aliança com outras forças sociais, mas nunca atingido senão parcial e temporariamente, como um ‘equilíbrio instável’. Hegemonia é a construção de alianças e a interação muito mais do que simplesmente a dominação de classes subalternas, mediante concessões ou meios ideológicos para ganhar seu consentimento. Hegemonia é um foco de constante luta sobre pontos de maior instabilidade entre classes e blocos para construir, manter ou romper alianças e relações de dominação/subordinação, que assume formas econômicas, políticas e ideológicas.

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A análise do discurso pode indicar hegemonias econômicas, políticas, culturais e ideológicas de uma sociedade, que são reformuladas, mantidas ou transformadas por meio do discurso.

Desta forma a teoria social do discurso, apoiada pelos estudos de Norman Fairclough, estuda a linguagem, pelo fato de que um texto só se torna discurso através dela e da sua relação com a prática social e o seu papel transformador na sociedade.

Estudar os conteúdos jornalísticos online através das teorias do discurso tem como objetivo entender a sua estrutura e formação, interpretando e explicando os conteúdos produzidos através da comunicação que, inserida no contexto-social, são adequadas para a linguística e passíveis de investigação. Como foco principal, temos nesta pesquisa, as notícias e reportagens do portal Olhar Direto, que contam histórias reais do cotidiano do cidadão cuiabano e mato-grossense, por meio das práticas discursivas do fazer jornalístico.

O uso de diferentes linguagens em determinadas narrativas assumem papel importante na sociedade atual, auxiliando na organização e compreensão da realidade. Ligadas a diversos fatores, produzem sentidos através do discurso abordado em diferentes maneiras.

“Compreendemos o jornalismo como um lugar de circulação e produção de sentidos” (BENETTI, 2007, p. 107) lugar esse em que se interpreta o dito, da maneira como é dito e o que o dito significa. Mas só temos essa entendimento da produção de sentidos no tempo em que temos o domínio da linguagem jornalística. Conforme Bakhtin (1979, 1981 apud MACHADO, 2007, p. 107), toda a linguagem é dialógica, ou seja, de alguma forma provoca discussão ou debate. O autor pensa a dialógica de duas formas: a primeira delas diz respeito ao próprio diálogo entre os diferentes discursos da sociedade; a segunda forma consiste na relação do eu e o outro, ou seja, no discurso estabelecido entre os sujeitos.

O primeiro dos planos diz respeito à interdiscursividade, associado aos estudos sobre os sentidos, que não estão presos no texto e nem no sujeito que lê. Os sentidos estão no meio do processo, na interação entre texto, leitor e na relação entre os discursos. O segundo é da intersubjetividade, que aborda a construção do discurso no espaço entre os sujeitos, “subordinado aos enquadramentos sociais e culturais” (BENETTI, 2007, p. 108). Em outras palavras, a intersubjetividade refere-se à produção de conteúdo não apenas por um um enunciador ou interlocutor, mas também pelos sujeitos que o lêem ao mobilizar seu contexto histórico, relacionando com suas ideologias e culturas, como também a outros textos já lidos.

Assim como toda linguagem, a jornalística também é dialógica e produz sentido através de suas notícias.

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O discurso não é uma das funções entre outras da instituição midiática: é o seu principal produto e o resultado final do seu funcionamento. A mídia produz discursos como os pintores pintam telas, os músicos compõem músicas, [...]. É claro que a mídia desempenha também outras funções, mas todas elas têm no discurso o seu objetivo e a sua expressão final (RODRIGUES, 2002, p. 217 apud SCHWAAB; ZAMIN, 2014, p. 50). Desta forma, podemos entender o jornalismo enquanto discurso como forma de interação com outras áreas, estruturado através dos processos sociais em forma de notícias.

Todo discurso carrega em si termos específicos que surgem dos diferentes usos da língua, providos de contextos sociais e culturais, tanto do receptor, quanto do emissor. Este discurso pode determinar o entendimento do leitor. “Percebeu-se que o público pode fazer uma interpretação da informação diferente das interações pretendidas pelo emissor, que, por sua vez, faz escolhas dentre inúmeras possibilidades da linguagem” (MORAES, 2004, p. 11). Sendo assim, “o processo comunicativo é mais amplo, dinâmico e complexo que a mera transmissão mecânica de mensagem. Os destinatários não recebem uma única mensagem, mas várias” (Idem, 2004, p. 11).

Todavia, este discurso não é alternado apenas no entendimento do leitor. Tanto emissores quanto receptores atuam no processo comunicativo, determinando variados entendimentos a partir de suas práticas sociais.

No meio jornalístico, as notícias são consideradas discursos a partir do momento que são estruturadas por meio de processos sociais. Este gênero do jornalismo tem especificidades estruturais, que o diferem das outras formas de narrativa. Essas diferenças são apresentadas através das estruturas textuais.

Outro fator que é passível de análise de discurso é o título. Os temas assinalados por meio de pequenas frases, que se dominam título, possuem regras para elaboração cujo objetivo principal é informar acerca do assunto, visando chamar a atenção do leitor. No título, muitas vezes são utilizados termos específicos da linguagem, que pré-determinam a concepção do leitor sobre o assunto. Todos esses elementos são estruturados a partir do tema central da notícia, elaborada a partir dos conceitos de pirâmide invertida6, abordando os temas de maior importância.

Francilaine Munhoz de Moraes (2004, p. 18), afirma que:

Esquemas jornalísticos realmente existem e que tanto os jornalistas como os leitores os utilizam na produção e na compreensão da notícia. Os leitores utilizam esses esquemas convencionais internalizados e

6 Estrutura na qual as informações são organizadas em ordem de relevância. Do mais importante para o de menor

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apreendidos durante a socialização discursiva para a construção estratégica do esquema apresentado no momento da leitura.

Desta forma, entende-se que os esquemas utilizados na produção dos discursos são para estratégias de entendimento.

Atualmente, o discurso vem se transformando em consequência das novas tecnologias, que resultaram na produção de conteúdos para o meio online. Segundo Margibel Adriana de Oliveira (2014), é assim que o discurso apresenta uma relação com a retórica7, que explicita ou implicitamente, contribui para a produção e análise do discurso online.

O jornalismo digital surgiu tanto na evolução do jornalismo quanto do desenvolvimento da tecnologia digital da internet; é um novo jornalismo no qual o meio constituído por um suporte ativo construído com tecnologia digital influencia na configuração do discurso e do próprio meio de comunicação (...) uma nova classe de leitores surgiu na raiz da construção digital dos textos ou discursos, leitores que dispõem de possibilidade de atuação na recepção e interpretação dos mesmo (ALBALADEJO, 2009, p. 322 apud DE OLIVEIRA, 2014, p. 73). Esse novo jornalismo possibilita a interação entre os sujeitos, leitor e redator, aproximados pelo mundo digital. Isso acontece por consequência do excesso de conteúdo do meio online, que são disponibilizadas e atualizadas em questão de minutos por diferentes plataformas. Para Margibel Adriana de Oliveira (2014), “o jornalismo produzido no contexto virtual, desde o surgimento, bem como durante o processo de investigação e produção de [conteúdos] [...], apresenta-se mais fluído”.

Essa fluência é ocasionada devido ao “[...] tempo real, associado a uma suposta nova modalidade de jornalismo chamado jornalismo em tempo real. Nesse caso, tenta-se dar conotação [...] a um processo muito antigo de transmissão ao vivo” (KUCINSKI, 2005, p. 88 apud DE OLIVEIRA, 2014, p.74). Assim, podemos entender que, apesar das mudanças na produção e na disseminação da informação, a característica do ao vivo permanece na atual forma a ser estudada, o online.

Desta maneira, o jornalismo online não explica ou determina mudanças drásticas na prática jornalística que está relacionada com a internet, além de pouco distinguir-se da tradicional comunicação. Mas o online define um ritmo acelerado para o abastecimento dos portais noticiosos, que exigem a constante narrativa dos acontecimentos inusitados do cotidiano, em formatos curtos e por consequência do emaranhado de informações, inacabados, pois estão sendo atualizados constantemente na medida em que estão

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acontecendo. Assim, no meio online “a notícia é um produto inacabado” (DE OLIVEIRA, 2014, p. 76).

Para a autora, o jornalismo produzido em forma de discurso para o online poderia se resumir em cinco características: “Os textos são curtos e servem para uma leitura rápida; Os fatos são narrados continuamente; As notícias não são longas, e os textos não devem ter mais do que três parágrafos; As sentenças são concisas, simples e declarativas, e se atêm a apenas uma ideia; Faz uso de vídeos e áudios” (DE OLIVEIRA, 2014, p. 77). Devemos levá-las em consideração, além de avaliar que as características do online são sempre variáveis e sofrem mudanças conforme a plataforma se renova.

Produtor e difusor da cultura o discurso jornalístico passou a produzir uma imagem de credibilidade com o leitor, que permite o produtor disseminar o conteúdo que circulam na mídia amparado ao conceito de verdade absoluta.

Os discursos que circulam na mídia, tem uma concepção de seleção. As escolhas são sempre orientadas conforme a realidade, apresentadas em formas de acontecimentos inusitados, que fogem do cotidiano do cidadão. Através destes acontecimentos, a mídia produz sentido através da construção da realidade. No discurso “estão presentes expressões objetivas sobre os acontecimentos da realidade e que trazem, colados em si, elementos simbólicos que conferem significados para muito além daquilo que é dito explicitamente” (SCHWAAB; ZAMIN, 2014, p. 52).

Quando selecionamos os fatos, automaticamente selecionamos a linguagem a ser utilizada. Essas linguagens, usualmente são empregadas nos títulos através de palavras ou frases que pré-determinam entendimentos. As manchetes, como denominadas no meio jornalístico, antecipam de uma forma resumida os acontecimentos a serem relatados no discurso, os pontos importantes ou mesmo o desfecho final do acontecimento. “A manchete contém a macroinformação, cuja função é despertar o interesse do leitor para certos pontos [determinados pelo jornalista e/ou veículo] que, espera-se, sejam desenvolvidos no corpo da notícia” (DIAS, 1996, p. 106-107 apud DE OLIVEIRA, 2014, p. 82). Assim, as manchetes podem ser consideradas decisivas na interpretação do leitor.

Para entender as faces dos discursos e como ele é organizado, Margibel Adriana de Oliveira (2014) expõe as noções que estabelecem os procedimentos linguísticos e discursivos presentes nas enunciações, descrições, narrações e argumentações, que abordaremos no próximo tópico.

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3.2 A construção de sentido

A noção de sentido pode ser definida como o conjunto de elementos que formam a produção do discurso. Estes elementos são estabelecidos pelo locutor ou enunciador do conteúdo, que apostam em formas específicas de organização do discurso para dar sentido a ele através dos textos e suas estruturas.

Estes elementos são dispersos no conteúdo de forma que produzam sentidos. Margibel Adriana de Oliveira (2014), com base nos conhecimentos de Patrick Charaudeau (2008), as define como “faces do discurso” e expõe as noções que estabelecem os procedimentos linguísticos e discursivos presentes nas enunciações, descrições, narrações e argumentações.

A primeira forma de discurso é a enunciativa. O modo tem a função de identificar a posição do locutor em relação ao interlocutor, entre si, com outros indivíduos e outros discursos. O modo descritivo busca identificar, localizar no espaço e no tempo e nomear personagens e acontecimentos. A terceira forma constrói uma sucessão de acontecimentos, que resultam no relato narrativo. Por último, o modo argumentativo busca expor as ideias e os fatos para provar os acontecimentos. Em outras palavras, argumentando para construir.

Todas essas formas, bem como o modo de organização do discurso sofrem influências sociais e ideológicas sobre o uso da língua.

A análise do discurso também parte do princípio do uso da linguagem, que varia de acordo com o meio social daquele que escreve. “A língua varia de acordo com a natureza da relação entre os participantes em interação, o tipo de evento social [e] os propósitos sociais das pessoas na interação” (DOWNES, 1984 apud FAIRCLOUGH, 2001, p. 90). Essa linguagem se apresenta em três funções, segundo Norman Fairclough (2001, p. 92), que se interagem ao decorrer de todo o discurso. A função identitária relaciona-se com as identidades sociais estabelecidas no discurso. A função relacional representa as relações sociais entre os participantes que interagem no discurso e a função ideacional apresenta a relação de mundo, processos, entidades e relações. Portanto, a linguagem é pré-estabelecida pelo locutor ou enunciador do discurso a partir de sua identidade, ideologia e relação com os sujeitos e o meio social em que estão inseridos.

A produção do discurso é definida por um conjunto de elementos, que permanecem dispersos no meio do texto. O discurso jornalístico é um discurso polifônico, o que em outras palavras quer dizer que nele circulam várias vozes que são passíveis de conceituação para o entendimento do papel do enunciador e locutor de um discurso. Estas vozes, segundo Marcia Benetti (2007, p. 116-120), podem ser sujeitos entre fontes, jornalistas assinantes ou

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jornalista-produtor, que produz o conteúdo noticioso e jornalistas instituições, quando o texto não é assinado e carrega como autor o veículo de comunicação. No primeiro nível das vozes permanecem o locutor, que seria “não apenas o falante, mas os sujeitos que falam por meio dele”, o alocutário “para quem o texto se dirige” e o delocutário “de quem se fala” (BENETTI, 2007, p. 116).

No segundo nível das vozes estão o locutor e o enunciador. Este nível de estudo é considerado para as análises dos discursos jornalísticos. Para entender a diferença entre locutor e enunciador, precisamos considerar alguns pontos iniciais quanto à posição do sujeito e a produção de sentido. Segundo Benetti (2007, p. 117), o sujeito do discurso é um sujeito disperso “O indivíduo, ao falar, ocupa uma posição determinada, de onde deve falar naquele contexto de produção. Isso quer dizer que o mesmo indivíduo, cindido em diversos sujeitos, move-se entre diversas posições de sujeito. A mesma regra vale para o indivíduo que lê” (BENETTI, 2007, p. 117). Isso quer dizer que o indivíduo ocupa uma posição específica ao produzir, mas que pode estar ocupando outras posições dependendo do contexto em que está inserido e o assunto em questão. O segundo ponto consiste em dizer que as posições dos sujeitos são lugares ocupados por indivíduos: “são lugares construídos fora do discurso em questão, segundo determinações culturais, sociais e históricas” (BENETTI, 2007, p. 117). Ou seja, são instâncias determinadas por ideologias compreendidas como lugares. Por último, os sentidos se configuram no discurso em torno das formações discursivas, considerada uma região de sentidos, que a partir de uma posição ideológica pode-se determinar o que pode ou não ser dito. Em outras palavras, o sujeito determina o discurso naquela posição, ‘naquela’ conjuntura social e histórica, apenas alguns sentidos ‘podem e devem’ ser construídos” (BENETTI, 2007, p. 117).

Assim, o jornalismo interage, por meio das vozes e da notícia, entre o discurso dos indivíduos envolvidos na produção de conteúdo (jornalistas), os referenciados (fontes) e os que recebem (leitores).

A grande questão é que o discurso composto de elementos e vozes, ao invés de desenvolver a relação passiva com a realidade, vem desenvolvendo uma relação ativa, intervindo na construção de significados. Esta relação com a realidade, também está relacionada com fatores como “instituições, processos sociais e econômicos, padrões de comportamento, sistema de normas, técnicas, tipos de classificação e modos de caracterização” (FOUCAULT, 1972, p. 45 apud FAIRCLOUGH, 2001, p. 66) que, associadas com o discurso, constituem a formação dos objetos. Em outras palavras, as formações discursivas constroem determinados objetos.

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