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Centro-Dia do Idoso: mudança de paradigma na atenção ao idoso fragilizado

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Academic year: 2021

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Centro-Dia do Idoso:

mudança de paradigma

na atenção

ao idoso

fragilizado

Edelmar Ulrich Alberto Heizo Horita A criação do Centro-dia do Idoso e da Associação dos Familiares e Amigos dos Idosos (AFAI) não nasceu de uma idealização de um projeto ou afinidade com o assunto, mas de uma necessidade das famílias que, em determinado momento de suas vidas, viram-se privadas do equipamento social, que as apoiava e ajudava nos cuidados a seus idosos fragilizados em período diurno, permitindo,assim, realizarem suas atividades laborais.

Em novembro de 2002, o primeiro Centro-Dia do Idoso (CDI) mantido pela Universidade Federal de São Paulo e administrado pela ONG AMAVI – Rede Mais Vida, deu início às atividades oferecendo atendimento multiprofissional a idosos fragilizados, que já não realizavam suas atividades de vida diária (AVD’s) no período diurno, de segunda a sexta feira das 07:00h às 18:00h. O CDI atendia a 25 idosos com um quadro de 18 funcionários entre técnicos, em nove modalidades de atendimento. Em 15 de julho de 2005, após dois anos e nove meses de funcionamento, sob intervenção federal, esta modalidade de serviço foi abruptamente encerrada. As 25 famílias dos idosos freqüentadores que já haviam estruturado a rotina de suas vidas com os serviços prestados por este equipamento social sofreram o impacto da interrupção desse serviço, e resolveram buscar alternativas para dar continuidade a ele, visto reconhecerem sua importância para a qualidade de vida dos idosos semidependentes e seus familiares.

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As dificuldades foram imensas e incontáveis, pois, nós familiares, desconhecíamos totalmente as diversas áreas do conhecimento envolvidas no trabalho. Desde questões legais, contábeis, administrativas, de saúde, de arquitetura / engenharia e captação de recursos. Apesar de, nós familiares voluntários, exercermos nossas atividades profissionais paralelamente aos trabalhos do Centro-Dia pudemos superar aos poucos as dificuldades.

Inicialmente obtivemos ajuda financeira de familiares, do Instituto São Paulo de Política e Cidadania, Agnelo Pacheco Comunicações e Padaria Ceci e outros, o que permitia manter o Centro-Dia.

Mesmo sem os conhecimentos técnicos necessários para conduzir devidamente o Centro-Dia estávamos conscientes de que esta casa teria que ter o mesmo olhar da casa da gente. Os idosos passariam o dia entre amigos, com os olhares de familiares, e cuidadores formais contratados, oferecendo os mesmos cuidados oferecidos no domicílio. Dentro do possível, pensávamos que após parcerias e ajudas dos poderes Público e Privado poderíamos atender, também, às necessidades básicas de saúde do idoso e seus familiares. Nunca tivemos o quadro funcional ideal, mas continuamos, até hoje, evoluindo.

Nesta fase, os familiares e o voluntariado foram de extrema importância. Tivemos apoio de diversos profissionais que nos ajudaram a superar esta fase de estruturação. A AFAI contou com médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, professores, advogados, engenheiros, eletricistas e estudantes e estagiários de instituições de ensino.

Objetivos

O objetivo geral do projeto é: “Prestar atendimento às necessidades pessoais básicas de idosos que possuem limitações para a realização das atividades diárias (AVD), que convivem com suas famílias, porém não dispõem de tempo integral para assisti-los no domicílio”.

Os objetivos específicos são:

a. Oferecer atividades de atenção aos idosos, nas áreas de assistência, saúde, fisioterapia, psicologia, atividades ocupacionais, lazer e apoio sócio-familiar de acordo com as necessidades dos usuários.

b. Preservar e estimular a autonomia e independência dos idosos. c. Incentivar a permanência do idoso junto à família.

d. Oferecer equipamento alternativo ao asilamento, com a participação da família e da comunidade.

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e. Oferecer ao familiar do idoso a possibilidade de desenvolver sua atividade profissional e pessoal, sem prejuízo da qualidade do atendimento ao idoso sob sua responsabilidade.

f. Oferecer campo de estágio na área de gerontologia. g. Constituir um núcleo de geração de conhecimentos. Metodologia

Não adotamos uma metodologia pré-estabelecida. Procuramos nos orientar pela prática diária de cuidados aos nossos idosos no seio familiar no decorrer da vida. Amor, carinho, alimentação, socialização e tudo que possa oferecer qualidade e dignidade de vida a todos.

As dificuldades foram sendo superadas no dia-a-dia com gestão e participação familiar gerando novos conhecimentos, inclusive na captação de recursos e parcerias.

Apoios

A falta de recursos nos forçou à procura de novas fontes como: contribuições mensais de familiares, doações de alimentos de familiares e membros da comunidade, realização de eventos beneficentes como bingos, rifas, almoço beneficente.

Contamos ainda com o apoio de instituições como Projeto Velho Amigo e MCAA Arquitetos Associados.

No ano de 2010 fomos contemplados com o Prêmio Talentos da Maturidade na categoria Programas Exemplares do Banco Santander com o projeto “Centro-Dia do Idoso: mudança de paradigma na atenção ao idoso fragilizado”.

A AFAI não se limita a lutar pelo seu Centro-Dia de Idosos, pois muitas pessoas nos procuram diante de uma situação, muitas vezes, insustentável em suas famílias. Assim a AFAI, busca participar, constantemente de eventos que abordem assuntos relacionados ao envelhecimento lutando pela criação de uma rede de acolhimento a idosos fragilizados. Atualmente temos uma lista de 31 idosos esperando uma vaga.

Em 11 de dezembro de 2007, o projeto foi entregue à Coordenadoria do Idoso, e em 14 de fevereiro de 2008 à SMADS – Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.

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Em 23 de outubro de 2008 a AFAI obteve o Certificado de Inscrição no COMAS – Conselho Municipal de Assistência Social sob no 1.443/2008.

A AFAI tem atuado junto às Instituições de Ensino firmando convênios no campo de estágio e pesquisa. Em 04 de setembro de 2006 foram firmados convênios de estágio com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP – e, em 15 de outubro de 2010 com a Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo – EACH/USP.

Quando alugamos o imóvel, a casa foi reformada e adaptada, dentro do possível, para garantir a acessibilidade e conforto dos idosos dentro das normas técnicas exigidas por lei, como corrimões, rampas de acesso e pisos e adaptações nos banheiros.

A equipe que idealizou o Centro-Dia continua a mesma. Alguns familiares cujos idosos frequentaram nosso Centro-Dia, mas que faleceram, ainda continuam atuando ativamente como voluntários.

Atualmente temos encontrado apoio de familiares, instituições de ensino, setor privado, Comissão de Defesa dos Direitos dos Idosos da Ordem dos Advogados do Brasil (seccional Jabaquara-SP) e comunidade.

Entre os avanços podemos citar que conseguimos criar uma estrutura familiar, administrativa e técnica, aprimorando nossos atendimentos dentro dos objetivos estabelecidos.

Estamos fazendo avaliações tanto dos idosos como de seus familiares gerando conhecimentos para o estudo do envelhecimento. Desde 2006 temos uma parceria informal com o Lar Escola São Francisco que atende nossos idosos no setor de reabilitação.

O reconhecimento do Centro-Dia do Idoso, pelo Projeto Velho Amigo, como equipamento social necessário gerou parceria com o mesmo sendo um grande passo para sua manutenção.

A principal contribuição social do projeto é a ajuda e apoio às famílias com idosos fragilizados.

Desafio

O desafio é lutar pela aprovação do Projeto de Lei que regulamenta a existência de Centros-Dia de Idosos fragilizados em todo município de São Paulo para que se possa estabelecer parcerias com o Poder Público na gestão

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de Centros-Dia, conseguir transporte adaptado para idosos fragilizados do domicílio/Centro - Dia/domicílio.

Convidamos todos os interessados em replicar o projeto para que venham conhecer nosso Centro-Dia, que conheçam as dificuldades de implantação perante a lei e o descaso do governo e da sociedade em relação ao idoso fragilizado.

Muitos nos perguntam se voltássemos no tempo, o que mudaríamos? Não mudaríamos nada, tudo fez parte de um aprendizado. A forma de gestão familiar seria repetida. O enfoque voltado à família e ao idoso também seria repetido. As coisas foram acontecendo naturalmente e muitas coisas foram mantidas e muitas descartadas.

Diante do não conhecimento do que é cuidar deste idoso fragilizado sempre enfatizamos que temos que ousar e criar alternativas para atingir melhores cuidados a eles. Escrever sobre estas práticas e expandir o conhecimento dos mesmos e compartilhar os conhecimentos a todos é objetivo desta reflexão sobre o projeto.

Se pudéssemos gostaríamos de ter uma casa própria, maior e adequada.

Relato de uma voluntária da AFAI

por Isabella Alvim(*) “(...) um mais um é sempre mais que dois”, Beto Guedes

O conceito de Centro-Dia já é, por si só, uma proposta inovadora. Uma metrópole como São Paulo ainda é carente destas instituições, espaços que buscam uma solução humanizada e não radical para o acolhimento dos idosos, permitindo que estes sigam convivendo com seus familiares e lares, diariamente. Mas a AFAI vai além do conceito, demonstrando o quanto essa proposta pode evoluir com poucos recursos materiais mas ilimitados recursos emocionais, determinação e crença na efetiva concretização de um desejo que, guiado por uma indiscutível necessidade, se fez realidade. Famílias preocupadas com seus idosos que não se contentaram com as limitadas opções existentes e, a partir das experiências pessoais e coletivas

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com as fragilidades destes, bem como de suas necessidades, se uniram para criar um espaço onde os idosos pudessem socializar, ter atendimento especializado e desfrutar de um tempo produtivo e digno na última etapa de suas vidas.

O mais especial em toda essa história e que fica evidente quando visitamos a AFAI e convivemos com todos: idosos, familiares e funcionários é o comprometimento de todos por essa causa. O olho no olho, a compreensão profunda de quem está gerenciado a instituição pela “ferida” de quem está chegando: o familiar cansado, inseguro, que não consegue cuidar sozinho do seu idoso fragilizado e que busca uma solução, um amparo para sua situação. Independentemente dos conceitos, da prática especializada, existe a experiência pessoal, o “eu realmente sei do que você está falando” que não eliminam a importância dos diplomas e pesquisas na área, mas que acolhem e criam vínculos preciosos e indiscutíveis.

Essa sintonia entre família e administração da AFAI contamina positivamente quem atua profissionalmente lá: todos os dias vemos cada idoso sendo enxergado e respeitado na sua singularidade. Impossível agir de forma diferente, com os olhos presos nos livros e manuais e não focar nas relações, nas lições diárias que vamos recebendo desses vínculos formados entre os idosos, os funcionários, os administradores, os voluntários e as famílias e, consequentemente, nas interrelações entre todos eles. A cada conflito resolvido (sim, eles existem!) e o aprendizado proveniente deles, a cada sorriso espontâneo, a cada história de vida que vem ` a tona e nos inunda a todos com sabedorias impagáveis, a cada amizade que se forma e aos vínculos estabelecidos, vamos nos sentindo, assim como os idosos, pertencentes dessa grande família que é a AFAI.

Como justificar a riqueza de uma convivência entre várias nacionalidades: alemães, japoneses, espanhóis, portugueses, brasileiros e as trocas que se estabelecem e as memórias preciosas que são compartilhadas? As fragilidades entristecem muitas vezes, e é bem verdade que causam ansiedades. Mas esses momentos de convivência e socialização, um lugar além dos seus lares onde eles, pessoas que trazem além da grande vivência, limitações físicas e, muitas vezes, psíquicas, podem se sentir pertencentes, podem continuar construindo: interiormente e exteriormente.

E é inegável o papel da família neste “projeto” através dos bingos, dos bazares, das festas temáticas, dos cafezinhos no final do dia, do ombro amigo onde podem dividir angustias e preocupações. O dia-a-dia na AFAI vai sendo vivenciado dessa forma: profissionalismo, comprometimento, crença e humanidade. E a soma desses fatores não poderia dar um resultado negativo, pelo contrário, ela extrapola o conceito de instituição para reforçar ainda mais a vivência literal do seu nome: pois é aqui e desta forma que realmente presenciamos e participamos da Associação dos Familiares e Amigos dos Idosos.

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Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), colaboradora do OLHE no Programa Cuidar é Viver e Portal do Envelhecimento e voluntária da AFAI.

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Edelmar Ulrich - Presidente da AFAI - Associação dos Familiares e Amigos dos Idosos – AFAI. E-mail: afaicdi@hotmail.com

Alberto Heizo Horita - 1º Tesoureiro da AFAI - Associação dos Familiares e Amigos dos Idosos – AFAI. E-mail: afaicdi@hotmail.com

Fotos: Todas as imagens foram extraídas do site da AFAI: http://pt-br.facebook.com/pages/AFAI/159655610740622

Referências

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