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A ética da apropriação

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Academic year: 2021

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Revista Brasileira de Tradutores

Nº. 17, Ano 2008

Cristina Carneiro Rodrigues Universidade Estadual Paulista cristina@ibilce.unesp.br

A ÉTICA DA APROPRIAÇÃO

RESUMO

Na literatura contemporânea sobre tradução, autores como Ber-man (1984, 1995) e Venuti (1995, 1998) Ber-manifestam preocupações éticas, propondo práticas tradutórias que não reduzam o Outro estrangeiro ao familiar e doméstico. Em suas teorizações, o texto traduzido é considerado como um lugar de manifestação do Outro cultural. Entretanto, como pretendo argumentar neste trabalho, a dimensão ética é muito complexa, pois envolve tanto determina-ções relacionadas ao contexto em que se traduz e teoriza, quanto vinculadas a políticas e ideologias. Nesse sentido, apropriar-se do Outro, promover a domesticação de um texto, pode tanto ser con-siderada uma prática etnocêntrica e indesejável, quanto uma ma-neira ética de tornar o tradutor visível.

Palavras-Chave: Tradução estrangeirizadora; tradução domesticadora; ética; responsabilidade.

ABSTRACT

In the contemporary literature on translation, authors as Berman (1984, 1995) and Venuti (1995, 1998) manifest ethical concerns, proposing translation practices that do not reduce the foreign Other to the familiar and domestic. In their theoretical frame the translated text is considered as a place where a cultural Other is manifested. However, as I intend to argue in this paper, the ethical dimension is quite complex, since it involves determinations re-lated to the context in which one translates and theorizes, and it is also engaged in particular policies and ideologies. In this sense, the appropriation of the Other, the domestication of a text, may be both an ethnocentric and undesirable practice and an ethical way of making the translator visible.

Keywords: Foreignizing translation; domesticating translation; ethics; responsibility.

Anhanguera Educacional S.A.

Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181

rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação

Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original

Recebido em: 30/05/2008 Avaliado em: 27/07/2008

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Antes de concluir este prefácio, não quero esquecer duas importantes observa-ções. Uma delas é concernente à grafia dos nomes indígenas, que costumo – co-mo aliás se faz na língua castelhana – aportuguesar e simplificar o mais possível. Os americanistas, entretanto, empregam um sistema convencional [...] que vem sendo adotado pela maioria dos etnologos. (Estevão Pinto, 1950, p.19)1.

A epígrafe escolhida para abrir a discussão que proponho neste artigo se en-contra no “Prefácio do tradutor” em que o Prof. Estevão Pinto apresenta aos brasileiros “a vasta obra de Alfred Métraux” (1950, p. 9), antropólogo suíço que desenvolveu pes-quisas no Brasil. Nesse trecho, o tradutor observa, sem explicitar a razão, que não em-prega a “grafia internacional” das etnias indígenas brasileiras, optando por seu apor-tuguesamento. No Prefácio, Estevão Pinto (1950, p. 19) lista os termos empregados que mais difeririam da grafia internacional e explica, em nota de rodapé, que no sistema convencional que evita usar, “os termos são escritos, geralmente, com a inicial maiús-cula e no singular”. Assim, os Apiaká, na grafia internacional, tornam-se, na tradução, apiacá, os Kaingáng, caingang, os Kayná, cainá, os Guayaki, guaiaqui, e assim por di-ante. Percebe-se que Pinto manifesta sua presença e sua identidade: declara “costu-mo”, em primeira pessoa, como um sujeito tradutor brasileiro que não procede como os “americanistas”. Mas, especialmente, rejeita os estrangeirismos, os w, os k, os y, e as maiúsculas da grafia “internacional”.

Pinto torna português o que seria internacional e, portanto, estrangeiro, mani-festando sua preferência pela domesticação da terminologia. Entretanto, no mesmo movimento em que rejeita as denominações usadas pelos “americanistas”, apóia-se em sistemática estrangeira, argumentando proceder como se faz na “língua castelhana”. Há, portanto, o aportuguesamento, ou a apropriação de uma terminologia suposta-mente internacional, mas o procedimento é respaldado por uma norma vinda de fora, de outra cultura.

Esse trecho do antropólogo brasileiro, em minha leitura, evidencia o quanto é complexa a relação entre o próprio e o estrangeiro desencadeada pela tradução e como estratégias de domesticação ou de estrangeirização podem ser analisadas por diferen-tes ângulos, cada um deles oferecendo implicações políticas e ideológicas, muitas vezes conflitantes. O objetivo deste artigo é trazer à tona a complexidade da tomada de deci-sões por parte do tradutor e ressaltar sua responsabilidade na execução de um projeto tradutório. Minha proposta não envolve analisar a tradução de Pinto, mas abordar im-plicações decorrentes da adoção de determinadas estratégias tradutórias.

1 De acordo com o Dicionário de folcloristas brasileiros, Estevão Pinto teve relevante atuação como historiador,

soció-logo, antropólogo e folclorista. Foi um dos principais responsáveis pela organização da Faculdade de Filosofia de Per-nambuco, tendo sido seu primeiro Diretor e o primeiro titular de Antropologia.

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A declaração do tradutor da epígrafe remete a uma tradução que não tem co-mo intenção expandir as fronteiras da língua portuguesa, trazendo o estrangeiro ao texto. Pelo contrário, quer ocultá-lo, privilegiando a língua nacional, seu modo de ex-pressão. Na literatura sobre tradução (BERMAN, 1984, 1995; VENUTI, 1995, 1998, por exemplo), procedimentos envolvendo o apagamento do Outro são caracterizados como etnocêntricos, relacionados à invisibilidade do tradutor e não éticos por significarem a apropriação do estrangeiro, no sentido de torná-lo doméstico, próprio. Escrever de a-cordo com o modo da própria língua e cultura e simplificar os textos caracterizariam uma tradução fluente, transparente, assim descrita por Venuti (1995, p. 1-2):

A ilusão da transparência é um efeito do discurso fluente, do esforço do tradutor para assegurar a fácil legibilidade ao adotar o uso corrente, manter a sintaxe con-tínua e fixar um significado preciso. O que é tão notável nisso é que esse efeito i-lusório mascara as inúmeras condições envolvidas na produção de uma tradu-ção, iniciando-se pela intervenção crucial do tradutor no texto estrangeiro. Quan-to mais fluente a tradução, mais invisível o traduQuan-tor.2

Entretanto, deve-se assinalar que, para Venuti (1995), a tradução fluente, do-mesticadora tanto mascara o trabalho do tradutor quanto as relações assimétricas (cul-turais, econômicas, políticas) entre a cultura anglo-americana e as demais. Como evi-denciei em análise de propostas de teóricos tradutores (RODRIGUES, 2007), a teoria e a prática de Venuti são motivadas pela posição de onde ele fala – do pólo hegemônico, dos Estados Unidos. Assim, a prática que recomenda envolve receber o Outro não he-gemônico em uma cultura hegemônica. A “ética da diferença” que propõe envolve o não-silenciamento de “culturas subordinadas”, sejam elas coloniais ou pós-coloniais (VENUTI, 1998, p. 186). Nesse sentido, a prática tradutória de resistência, estrangeiri-zadora, sugerida pelo autor não seria exatamente a mais adequada para os tradutores brasileiros, porque o Brasil não ocupa a mesma posição política e econômica que os Es-tados Unidos e já acolhe o suficiente o Outro hegemônico dando-lhe bastante voz.3 Por

esse ângulo, a prática domesticadora da fluência seria um modo de resistir ao hegemô-nico e marcar uma posição política de resistência ao estrangeiro.

2 Essa tradução foi feita por mim, assim como todas as demais apresentadas neste artigo, quando não houver a

referên-cia em português.

3 Lia Wyler (1999, p. 97) afirma que, no Brasil “a tradução tem sido sucessiva e cumulativamente um meio de

comuni-cação interpessoal, um meio de aculturação e, no século XX, um meio de difusão intensa tanto de produtos culturais para a formação das elites quanto para a diversão das massas”. O que ela salienta nesse trecho é a inserção da produ-ção estrangeira e a incorporaprodu-ção do Outro em nossa cultura. Alguns dados sobre publicações confirmam suas afirma-ções: de acordo com informações da UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization), 64 % dos livros publicados no Brasil entre 1991 e 1995 foram traduções. A organização não fornece os percentuais dos Es-tados Unidos nem da Grã-Bretanha, mas de acordo com Venuti (1995, p. 12), em 1990 entre 2,4 e 3 % dos livros

publi-cados nesses países foram traduções. Fonte:

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Ao mudar o contexto de análise de uma tradução, altera-se a avaliação de um mesmo procedimento. De uma tradução considerada não ética, porque reduz o Outro e tira-lhe a voz, passa a ser analisada como uma maneira de valorizar a cultura e a tradi-ção nacional contrariando o hábito de prestigiar o que é estrangeiro. Se vista do pólo hegemônico, a domesticação seria redutora; se analisada da perspectiva do “subordi-nado”, deixa de sê-lo, passando a ser uma prática de resistência.

Com essa análise, evidencio tanto a responsabilidade do tradutor quanto a re-levância da tradução na construção de identidades. Uma estratégia, até mesmo uma que poderia ser considerada de menor importância, como a adoção de um sistema de notação ou, como é o caso de Pinto (1950), de uma grafia, pode ser analisada como uma prática de resistência, de não se deixar apropriar pelo estrangeiro. A um ato a a-parentemente neutro – opção por uma ou outra convenção ortográfica, por exemplo – atribui-se, assim, um valor.

Salienta-se, desse modo, que as escolhas dos tradutores são ideologicamente comprometidas, fato ignorado quando se trata a tradução como mera substituição de significados de uma língua pelos de outra língua. Como sustenta Rajagopalan (2003), a nomeação, um ato supostamente de referência neutra, um ato referencial, pode disfar-çar uma avaliação, um julgamento de valor, e isso implica a grande responsabilidade do tradutor ao fazer seu trabalho. Assim, o que pode, por um lado, ser classificado co-mo uma violência etnocêntrica, por outro, pode ser analisado coco-mo apropriação ética.

Ao se analisar uma tradução, não se deve, portanto, apenas examinar se uma tradução estaria mais próxima do pólo da adequação – seguindo as normas do texto de partida – ou do pólo de aceitabilidade – de acordo com as normas da cultura que pro-duz a tradução, como sugere Toury (1995). Tal exame é insuficiente, porque não leva em conta as implicações das escolhas dos tradutores e as relações de poder, ou de resis-tência, envolvidas no processo – relações dependentes do contexto de produção da tra-dução. Mas também é redutor apresentar a questão de forma dicotômica, traçando li-nhas divisórias entre o pólo positivo – acolhimento do Outro – e o negativo – etnocen-trismo, domesticação.

O ato de apagar o Outro ou dar-lhe voz pode ter efeitos imprevistos, tanto que Lane-Mercier (1998, p. 88) chega mesmo a afirmar que a distinção entre estratégias de “estrangeirização (ou seja, literalismo, não-colonização do outro sociocultural) e de re-apropriação (ou seja, fluência, domesticação do outro sociocultural)” seriam de “pouco valor epistemológico, ético e heurístico”. O caso analisado pela autora revela que pode

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haver estreita relação entre “literalismo” e domesticação e que ambos podem “ter o ob-jetivo comum de rejeitar o etnocentrismo radical” (p. 88).4 Em seu artigo, Lane-Mercier

(1998) examina o projeto do GRETI de fazer uma retradução da obra The Hamlet, de William Faulkner, fundamentado na proposta de Berman de “literalismo”, de “neutra-lização do etnocentrismo, estranheza, abertura para o Outro” (p. 82), permitindo que o estrangeiro aparecesse, especialmente no que referia aos socioletos.5

Inicialmente, o grupo envolvido no projeto decidiu, como tática de descen-tramento, não apagar – como havia sido feito na tradução anterior para o francês – o uso do inglês não padrão adotado por Faulkner e empregar o socioleto rural quebe-quense em seu lugar. No decorrer da execução do projeto, no entanto, a equipe verifi-cou que havia uso excessivo do socioleto e decidiu padronizar parcialmente o texto, com o objetivo de melhorar a legibilidade.

Essa ação conduziu a duas questões. Em primeiro lugar, ao levarem em conta os leitores, percebeu-se uma ruptura em relação à proposta bermaniana, cuja teoria não enfoca a recepção das traduções. A segunda questão é mais relevante para este traba-lho: o grupo constatou que o uso excessivo do socioleto rural quebequense, concebido, no início do projeto, como política de descentramento, não só afetava a legibilidade como também acabava por encobrir a alteridade do texto de Faulkner, na medida em que trazia o doméstico para a tradução.

O exame dessas duas questões conduziu o grupo a rever as concepções ber-manianas que fundamentavam o trabalho e a aceitar que a mescla entre o eu e o outro opera em qualquer projeto tradutório desde seu início. A equipe verificou que seu re-posicionamento refletia uma necessidade interna do projeto e não comprometia sua abordagem contestatória. A padronização parcial do texto permitiria relação dialógica com os leitores, não recairia no literalismo radical e não escamotearia “a hibridez do ato tradutório sempre defrontando-se com o próprio e o outro, o eu e o estrangeiro, a possibilidade do literalismo e a inevitabilidade da domesticação” (LANE-MERCIER, 1998, p. 84).

4 O que Lane-Mercier (1998) denomina “retradução literal”, “literalismo”, “literalidade e “abordagem literal” remetem

à proposta bermaniana. Devo apenas assinalar que, para Berman (1985, p. 36) “o trabalho sobre a letra” não é o que se costuma chamar de tradução literal (palavra por palavra); traduzir a letra seria, para o autor, traduzir ritmo, concisão, eventuais aliterações, estrutura: “nem decalque, nem reprodução, mas atenção ao jogo dos significantes”.

5 O GRETI – Goupe de recherche en traductologie – é coordenado por Annick Chapdelaine e Gillian Lane-Mercier e

vinculado ao Departamento de Língua e Literatura francesas da Universidade McGill, Canadá. Os objetivos do Grupo e uma parte da tradução inicialmente proposta são apresentados no artigo “Transparence et retraduction des sociolec-tes dans The Hamlet de Faulkner” (CHAPDELAINE, 1994).

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A análise Lane-Mercier (1998) evidencia como as polarizações são pouco pro-dutivas para tratar da complexidade que é a tradução. Uma prática inicialmente ideali-zada para dar voz ao outro, revela-se domesticadora. E a parcial apropriação acaba por ser o meio de não recair no etnocentrismo. No caso, em um mesmo contexto, duas es-tratégias supostamente opostas operam em reciprocidade para o efeito contestador e não etnocêntrico da tradução.

Abordei duas perspectivas pelas quais se podem analisar as relações que se estabelecem entre o doméstico e o estrangeiro, uma no contexto das trocas globais de poder, em que a avaliação de um procedimento depende do pólo em que se situa o a-nalista. A segunda, envidencia, em um mesmo contexto, sua ambivalência.

Enfoco ainda um terceiro ângulo, novamente motivada pela epígrafe de Pinto (1950) que encabeça este trabalho. Ao rejeitar o uso da grafia “internacional”, o texto do autor demonstra uma curiosa sintonia com as concepções que geraram o Projeto de Lei n. 1676/1999 do Deputado Federal Aldo Rebelo (PCdoB), amplamente divulgado como Lei dos Estrangeirismos, que tem como objetivo coibir o uso de palavras estran-geiras no Brasil.

Tanto o Projeto quanto o texto de Pinto revelam desejo de proteger a língua e a nacionalidade do que é estrangeiro. A contaminação parece ser considerada prejudi-cial. Esse “protecionismo” é considerado positivo por muitos, tanto na época em que o tradutor escreveu, quanto na contemporaneidade.6

Mas a defesa da língua também pode ser vista por outro ângulo. De acordo com Garcez e Zilles,

o debate sobre estrangeirismos, então, revela um esforço de setores da classe do-minante em manter sob seu controle estrito a definição da língua do poder diante de novos elementos de repertórios lingüísticos externos e reforça ainda mais a i-deologia lingüística brasileira, segundo a qual somos uma nação monolíngüe, uma unidade nacional forjada e mantida pela unidade lingüística. (GARCEZ; ZILLES, p. 51).

Por esse prisma, trata-se de uma tentativa política de manter o controle da produção lingüística dos cidadãos brasileiros. O Projeto contra o uso de estrangeiris-mos claramente expressa temor do contato com outras línguas como se ele significasse contaminação, corrupção ou perversão. Na análise de Garcez e Zilles (2000), essa

6 De Luca (1999, p. 191) relata que um dos assuntos freqüentemente abordados na Revista do Brasil nos anos 20 era um

“dos nossos decantados defeitos: o hábito de valorizar e imitar cegamente tudo o que fosse estrangeiro”. Um artigo chegava a apontar como um dos “males causados pela imitação dos vizinhos do norte” seria a importação da Repúbli-ca (p.192). Não posso deixar de salientar que o livro traduzido por Pinto foi publiRepúbli-cado nos Estados Unidos do Brasil. Desde sua proposta, a iniciativa da legislação para proibir os estrangeirismos contou com inúmeras manifestações de apoio, tendo como argumento o fato de que seria preciso defender a língua contra impurezas.

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ção purista relaciona-se ao pressuposto de que os estrangeirismos poderiam ser uma ameaça à unidade nacional. No entanto, em primeiro lugar, o processo de empréstimo faz parte das línguas, não há línguas puras, isentas de contaminação estrangeira e, em segundo lugar, o Brasil é lingüísticamente heterogêneo.

Nesse caso, um mesmo ato - uso de palavras estrangeiras - tanto pode gerar atos institucionais de proteção contra o estrangeiro, porque ameaçador, perigoso, quanto pode ser analisado como um processo natural. Historicamente, até mesmo a tradução foi considerada, por algumas culturas, como perigosa tanto para a literatura como para a língua de um povo, por trazer o exótico, e, por outros povos, como um meio de afirmar a própria cultura.

Lidar com questões relativas à alteridade não é assunto simples que se resolve ao enfocar um lado – o doméstico – ou por outro – o estrangeiro. Não há uma oposição binária, mas intrincadas relações que podem gerar conseqüências imprevistas. Tanto é possível buscar ouvir a voz do outro pela apropriação de um texto quanto por uma tentativa de recriação de seu modo de significar. E nada pode assegurar que qualquer uma das duas maneiras será considerada, por princípio, ética. Da mesma maneira, a (in)visibilidade do tradutor depende de inúmeras variáveis – uma tradução “fluente” não torna, necessariamente, o tradutor invisível. Afinal, o tradutor Estevão Pinto (1950) nos mostra que é possível ser um sujeito tradutor visível ao resistir contra os estrangei-rismos.7

REFERÊNCIAS

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BERMAN, Antoine. Pour une critique des traductions: John Donne. Paris: Gallimard, 1995. CHAPDELAINE, Annick. Transparence et retraduction des sociolectes dans The Hamlet de Faulkner. TTR, Québec, v. 7, n. 2, 1994, p. 11-33.

DE LUCA, Tania Regina. A Revista do Brasil: um diagnóstico para a (N)ação. São Paulo: Ed. da UNESP, 1999.

7 A tática de Pinto de aportuguesar os termos não parece ter dado frutos. De acordo com Rodrigues (1994), a

Associa-ção Brasileira de Antropologia em 1953 adotou uma grafia muito próxima à por ele preterida. Assim, os nomes de po-vos indígenas são empregados como palavras invariáveis e com maiúsculas, a letra k é usada no lugar de q e c e as se-miconsoantes y e w substituem i e u: os Kirirí, os Yamináwa, os Wayoró. Rodrigues acrescenta, após o esclarecimento sobre a grafia: “Essa convenção não pretendeu ser abusiva com respeito à ortografia portuguesa, mas tão somente re-gular e eliminar as ambigüidades e confusões no uso técnico desses nomes em estudos antropológicos e lingüísticos” (p. 11).

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DICIONÁRIO de folcloristas brasileiros. Disponível em:

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