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TRABALHO FINAL — DÉLCIO CLEMENTE 2019

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RESPONSABILIDADE SOCIAL

EMPRESARIAL E SUSTENTABILIDADE:

UM ESTUDO APLICADO A ORGANIZAÇÕES

ANGOLANAS.

Orientadora: Prof. Doutora Luísa Margarida Cagica Carvalho

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Escola de Ciências Económicas e das Organizações

Lisboa 2019

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DÉLCIO EVANDRO GUILHERME CLEMENTE

RESPONSABILIDADE SOCIAL

EMPRESARIAL E SUSTENTABILIDADE:

UM ESTUDO APLICADO A ORGANIZAÇÕES

ANGOLANAS.

Tese defendida em provas públicas para a obtenção do Grau de Mestre em Contabilidade e Fiscalidade conferido pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias no dia 04/07/2019, perante o júri, nomeado pelo Despacho Nomeação n.º: 171/2019, de 18 de junho, com a seguinte composição:

Presidente: Professor Doutor Eduardo Moraes Sarmento

Arguente: Professora Doutora Isabel Sanchez-Hernandez

Orientadora: Professora Doutora Luísa Cagica Carvalho

Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Escola de Ciências Económicas e das Organizações

Lisboa 2019

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Agradecimentos

Acima de tudo, agradeço em primeiro lugar a Deus, pela vida e por sentir que me tem amparado e acompanhado ao longo da minha existência desde os mais demorados momentos de aflição e dificuldade aos bons e grandiosos momentos de felicidade, muitos desses vivenciados ao longo da minha jornada académica.

Aos meus pais, Horácio Clemente e Amélia Guilherme, pelos quais sempre fui muito protegido, sou grato por me terem permitido realizar o sonho de me formar e passar uma temporada no exterior, fora da minha zona de conforto e consequentemente do meu amado país Angola. Permissão essa que me fez crescer como ser humano, ter tido uma formação de excelência e de ter evoluído culturalmente.

Às minhas queridas e amadas irmãs, a quem tenho um especial apreço não só pelo laço sanguíneo que nos une mas pelo companheirismo e amizade que nutrimos desde tenra idade. Sou abençoado porque sempre estiveram presentes no mais íntimo do meu eu, tornando-me mais forte mesmo fisicamente separados.

À minha amiga Carina Silva deixo um agradecimento muitíssimo especial por todo o apoio e paciência doados ao longo da minha jornada estudantil, tendo sido um dos pilares para que a caminhada se realizasse com sucesso.

Não poderia deixar de agradecer em particular à minha queridíssima orientadora Prof. Doutora Luísa Margarida Cagica Carvalho que de forma sábia e motivadora sugeriu e conduziu esta investigação incentivando-me a concluir a dissertação numa fase em que passava por problemas pessoais.

À minha tia Guilhermina Lubamba um carinhoso abraço por me ter apoiado sempre que lhe foi possível.

Em memória ao meu falecido tio António Didalelwa que muito ajudou enquanto esteve presente entre nós um agradecimento fraternal.

A presente Dissertação representa o culminar de um trabalho que, embora seja de cunho individual, não seria possível sem os inúmeros contributos que, nas mais variadas circunstâncias, me foram sendo concedidos. Desde já deixo a minha enorme gratidão a todos familiares, professores, amigos, colegas e trabalhadores em geral da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias que ajudaram e tornaram menos desgastante este percurso.

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Resumo

Cada vez mais as organizações se preocupam com a Responsabilidade Social e articulam a sua atuação para se comprometerem com os seus stakeholders (partes interessadas) nas dimensões económica, social e ambiental. Este tipo de estudo está ainda pouco explorado em países menos desenvolvidos, sendo escassos ou inexistentes os estudos aplicados a economias africanas, em particular ao caso de Angola.

Colocou-se como objetivos principais, compreender como é implementada a RSE nas empresas de Luanda – Angola; identificar fatores que contribuem para a melhoria económica, social e ambiental das empresas de Luanda – Angola.

De um modo geral, a Responsabilidade Social Empresarial é um relacionamento ético entre a empresa e todos os seus grupos de interesse que acabam, deste modo, por serem interdependentes, integrando nas suas práticas o respeito pelo meio ambiente e o investimento em ações sociais. Como sabemos, a empresa está inserida na sociedade, logo, é importante que as suas ações, além de garantirem o cumprimento dos seus objetivos internos, devem fomentar benefícios para a sociedade em geral. Atualmente a imagem que uma organização transmite ao mercado está intimamente ligada ao seu sucesso junto de todos os stakeholders.

Esta investigação utilizará predominantemente uma metodologia do tipo quantitativa assente na recolha e análise bibliográfica e documental, constituindo, portanto, um estudo interpretativo fruto de uma revisão bibliográfica narrativa, em conjunto com um estudo de campo com empresas de Luanda – Angola.

Este estudo aplica um modelo já testado para compreender a RSE das empresas e que impacto e consequências tem nas questões sociais, económicas e ambientais das mesmas.

Os resultados mostram que em Angola as empresas atuam positivamente em termos de RSE, sendo que, através do nosso estudo, foi demonstrado que indicadores como por exemplo a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e o comprometimento em reduzir a emissão de gases e resíduos e da reciclagem de materiais estão presentes nas suas estratégias para, assim, melhorar a sua relação e comprometimento com a comunidade envolvente.

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Abstract

Increasingly, organizations are concerned with Social Responsibility and articulate their actions to engage with their stakeholders in the economic, social and environmental dimensions. This type of study is still under-explored in less developed countries, with little or no studies applied to African economies, particularly in the case of Angola.

Specific objectives were to understand how RSE is implemented in companies in Luanda - Angola; identify factors that contribute to the economic, social and environmental improvement of companies in Luanda - Angola.

In general, Corporate Social Responsibility is an ethical relationship between the company and all its interest groups that end up being interdependent, integrating in their practices respect for the environment and investment in social actions. As we know, the company is part of society, so it is important that their actions, in addition to ensuring the fulfillment of their internal goals, should foster benefits for society in general. Currently the image that an organization conveys to the market is closely linked to its success with all stakeholders.

This research will predominantly use a qualitative and quantitative methodology based on bibliographical and documentary collection and analysis, thus constituting an interpretative study resulting from a narrative bibliographical review, together with a field study with companies from Luanda - Angola.

This study applies an already tested model to understand corporate CSR and what impact and consequences it has on social, economic and environmental issues.

The results show that in Angola the companies act positively in terms of CSR, and, through our study, it was demonstrated that indicators such as the improvement of workers' quality of life and the commitment to reduce the emission of gases and waste and recycling materials are present in their strategies to improve their relationship and commitment to the surrounding community.

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Abreviaturas e Siglas

3P – People, Planet e Profit BE – Business Ethics BS – Business Society

CAE – Classificação de Atividades Económicas CE – Comissão Europeia

CERES – Coalition for Environmentally Responsible Economies CO2 – Dióxido de Carbono

GRI – Global Reporting Initiative

IChemE – Institution of Chemical Engineers I&D – Investigação e Desenvolvimento IDH – Índice de Desenvolvimento Humano INE – Instituto Nacional de Estatística ISR – Investimento Socialmente Responsável

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico ONG – Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas PIB – Produto Interno Bruto

PLC – Product Life Cycle

PME – Pequenas e Médias Empresas

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPL – Pessoas, Planeta e Lucro

RS – Responsabilidade Social

RSA – Responsabilidade Social Ambiental RSC – Responsabilidade Social Corporativa RSE – Responsabilidade Social Empresarial SIM – Social Issues Management

TBL – Triple Bottom Line UE – União Europeia

UNEP – United Nations Environment Programme

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Índice Geral

Agradecimentos ... 3 Resumo ... 5 Abstract ... 7 Abreviaturas e Siglas ... 9 Índice de Quadros ... 13 Índice de Figuras ... 15 Índice de Gráficos ... 17 Introdução ... 19

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO ... 21

1. Responsabilidade Social Empresarial. Breves considerações ... 21

1.1. Definição de Responsabilidade Social ... 24

1.2. Responsabilidade Social Empresarial. Uma breve resenha histórica ... 32

1.2.1. Do início do século XX até à década de 1950 ... 33

1.2.2. Abordagem contemporânea, estendendo-se desde a década de 1950 até aos dias atuais .. ... 37

1.3. Três Escolas Académicas de Pensamento Surgidas na Década de 1980 ... 39

1.3.1. Abordagem ética ou normativa (Business Ethics) ... 40

1.3.2. Abordagem social ou contratual (Business & Society) ... 41

1.3.3. Abordagem gerencial ou estratégica (Social Issues Management) ... 42

1.4. Conceitos Preliminares sobre RSE ... 43

1.5. Responsabilidade Social: Organizações e os seus Compromissos ... 48

1.6. Indicadores Sociais e de Responsabilidade Social ... 49

1.7. Modelos e Indicadores de RSE ... 51

1.7.1. GRI – Global Reporting Initiative ... 51

1.7.2. Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial ... 54

1.7.3. Modelos de eco-eficiência ou ciclo de vida do produto (Product Life Cycle- PLC) ………...57

1.8. Medição de orientação para a RSE ... 58

PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO ... 61

2. Breve Contextualização de Angola ... 61

2.1. Tecido Empresarial ... 63

3. Metodologia ... 69

3.1. Questões de Investigação ... 70

3.2. Objetivos de investigação ... 70

3.3. Design do Estudo ... 71

3.4. Método e Tipo de Estudo ... 72

3.5. Amostra, Método de Amostragem e Cálculo da Dimensão da Amostra ... 73

3.6. Projeto de Pesquisa ... 74

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3.8. A Medida da Inovação ... 76

3.9. A Medida do Sucesso Competitivo ... 78

3.10. Medida de Desempenho Organizacional ... 78

3.11. Caracterização da Amostra ... 79

3.12. Pré-teste ... 80

4. Técnicas e Critérios da Recolha de Dados ... 81

4.1. Instrumentos de recolha de dados e hipóteses ... 81

5. Apresentação de Resultados ... 87

5.1. Setor Empresarial ... 87

5.2. Dimensão: Número de Empresas ... 88

5.3. Posição Ocupada pelo Respondente ... 88

5.4. Informação sobre RSE ... 89

5.5. Difusão da RSE ... 90

5.6. Âmbito Social da RSE ... 91

5.7. Âmbito Económico da RSE ... 93

5.8. Âmbito Ambiental ... 94 5.9. Grau de Inovação ... 94 5.10. Desempenho da Empresa ... 95 5.11. Êxito Competitivo ... 96 5.12. Teste de Hipóteses ... 97 6. Conclusão ... 105 Referências Bibliográficas ... 107 Anexos ... 115

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Índice de Quadros

Quadro 1. Diferença entre Filantropia e Responsabilidade Social ... 28

Quadro 2. Evolução do termo RSE ... 31

Quadro 3. Categorias da Responsabilidade Social ... 44

Quadro 4. Indicadores de Desempenho GRI 2006 ... 53

Quadro 5. Indicadores Ethos ... 55

Quadro 6. Escala para orientação da RSE. ... 59

Quadro 7. Diferenças entre pesquisas exploratória e conclusiva. ... 71

Quadro 8. Comparação entre Pesquisa Qualitativa vs. Quantitativa. ... 72

Quadro 9. Escala de medição da RSC ... 75

Quadro 10. Escala de medição para a inovação no modelo de desenvolvimento ... 77

Quadro 11. Escala de medição para o sucesso competitivo ... 78

Quadro 12. Escala de medição utilizada para o desempenho no desenvolvimento do modelo 79 Quadro 13. Ficha técnica do estudo ... 79

Quadro 14. Codificação das Questões ... 82

Quadro 15. Caraterização da Amostra em Termos de Setor ... 87

Quadro 16. Validação de Hipóteses ... 100

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Índice de Figuras

Figura 1. Responsabilidade Social Empresarial ... 30

Figura 2. Pirâmide de Carroll sobre Responsabilidade Social Empresarial (Adaptado de Carrol, 1991) ... 45

Figura 3. Triângulo da Sustentabilidade ... 49

Figura 4. Dimensões da Sustentabilidade Empresarial ... 52

Figura 5. Mapa Angola e suas Fronteiras ... 61

Figura 6. Desenho de Investigação e Hipóteses ... 84

Figura 7. Validação das Hipóteses de Estudo ... 98

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Índice de Gráficos

Gráfico 1. Empresas Registadas em 2017 por Situação Perante a Atividade ... 64

Gráfico 2. Distribuição Percentual de Empresas Registadas em 2017 por Situação Perante a Atividade ... 65

Gráfico 3. Distribuição de Empresas em Atividade em 2017 por Província ... 65

Gráfico 4. Distribuição de Empresas em Atividade em 2017 por Seção da CAE Rev.2 ... 66

Gráfico 5. Distribuição de Empresas em Atividade em 2017 por Forma Jurídica ... 67

Gráfico 6. Distribuição de Empresas em Atividade em 2017 por Setores Institucionais ... 67

Gráfico 7. Distribuição de Empresas em Atividade em 2017 por ano de início de Atividade . 68 Gráfico 8. Caraterização da Amostra por setores de atividade ... 87

Gráfico 9. Dimensão das Empresas ... 88

Gráfico 10. Posição do Respondente na Empresa ... 89

Gráfico 11. Informações sobre RSE ... 90

Gráfico 12. Difusão da RSE ... 91

Gráfico 13. Âmbito Social da RSE ... 92

Gráfico 14. Âmbito Económico da RSE ... 93

Gráfico 15. Âmbito Ambiental ... 94

Gráfico 16. Grau de Inovação ... 95

Gráfico 17. Desempenho Organizacional ... 96

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Introdução

A Responsabilidade Social Empresarial é um relacionamento ético entre a empresa e todos os seus grupos de interesse que acabam, deste modo, por serem interdependentes, integrando nas suas práticas o respeito pelo meio ambiente e o investimento em ações sociais. Como sabemos, a empresa está inserida na sociedade, logo, é importante que as suas ações, além de garantirem o cumprimento dos seus objetivos internos, devem fomentar benefícios para a sociedade em geral.

É importante frisar que a RSE é um conceito em constante evolução e que atualmente não tem uma definição universalmente aceite.

Cada vez mais as empresas se preocupam com a Responsabilidade Social e articulam a sua atuação para se comprometerem com os seus stakeholders nas dimensões económica, social e ambiental, tendo como finalidade a integração destas dimensões nos seus valores, tomada de decisões, cultura, estratégia e operações de uma forma transparente e responsável estabelecendo, desta forma, melhores práticas dentro da organização, para fomentar a criação de riqueza e melhorar a sociedade.

A RSE é também conhecida por uma série de vários outros nomes, que incluem a responsabilidade corporativa, ética empresarial, responsabilidade empresarial, cidadania corporativa e “triple bottom line”, responsabilidade social ambiental, para citar apenas alguns.

A responsabilidade social empresarial começou a ser discutida no início do século XX, com o filantropismo, que inicialmente assumia caráter pessoal, representado pelas doações efetuadas por empresários ou pela criação de fundações. Com a extinção do modelo industrial e em seguida com o surgimento da sociedade pós-industrial, o conceito evoluiu, passando a estar inserido no plano de negócios das organizações essas ações sociais. Foi então que Bowen (1953) definiu RSE como sendo o dever ou a obrigação dos gestores de empresa em alinhar os projetos sociais e as tomadas de decisões com os valores da sociedade. Carroll (1979), por sua vez definiu RSE como algo que envolve as expectativas económicas, legais, éticas e discricionárias que a sociedade tem em determinado período de tempo. Este conceito evoluiu até aos dias atuas com novas definições que podem ser encontradas na revisão de literatura apresentada.

A presente investigação terá como base uma metodologia quantitativa assente nos sistemas de equações estruturais, desenvolvidas com base no software pls. O estudo de campo aplicou-se a 80 empresas de Angola mais precisamente da província de Luanda. A investigação teve como base um levantamento bibliográfico de aspetos históricos, culturais,

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socioeconómicos e demográficos sobre a aplicação da RSE, que serviram de base ao enquadramento, contextualização deste conceito num país em desenvolvimento, assim como ao conjunto de componentes subjacentes ao mesmo. A seguir partiu-se para a identificação de um modelo conceitual que suportasse o estudo empírico.

Desta forma, colocou-se como questões de investigação: “Como é implementada a RSE nas empresas de Luanda, Angola?”

Fazendo desta pergunta o centro da investigação, esta dissertação apresenta contribuições e propostas para este fim. Com base na problemática entendemos refletir sobre as seguintes questões principais:

• Qual a contribuição ativa e voluntária para a melhoria social, económica e ambiental levada a cabo pelas empresas?

• Quais as atividades de inovação das empresas nos últimos três anos, em comparação com a média do setor?

• Como é que a RSE se relaciona com o desempenho das empresas de Luanda, Angola nos últimos três anos?

A partir destas questões propõem-se os seguintes objetivos:

ü Compreender como é implementada a RSE nas empresas de Luanda, Angola; ü Identificar os fatores que contribuem para a melhoria social, económica e ambiental

das empresas em Luanda, Angola.

A metodologia apresenta o método, técnicas e/ou procedimentos utilizados para obter respostas às questões de investigação colocadas e respetivos objetivos, é por isso considerado um desenho de investigação que tenciona dar respostas às questões formuladas anteriormente.

Este trabalho desenvolveu-se em quatro partes: Revisão de literatura; Breve contextualização de Angola; Metodologia e técnicas de recolha de dados mais adequadas à prossecução dos objetivos; e, por último, a análise e interpretação de resultados inerentes ao estudo empírico. É importante que se verifique algumas perspetivas para pesquisas futuras.

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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1. Responsabilidade Social Empresarial. Breves considerações

Responsabilidade é um substantivo feminino derivado da palavra “responder” com origem no Latim mais precisamente do verbo “respondere”, que significa responder, produzir efeito, satisfazer, justificar, comprometer-se da sua parte e prometer, ou seja, que demonstra a qualidade do que é responsável, ou obrigação de responder por atos próprios ou alheios, entre outras aceções.

Em termos gerais e, entrando mais afundo no nosso tema, que é o de Responsabilidade Social Empresarial (RSE), verificamos que responsabilidade de um agente, neste caso individual ou coletivo, é a obrigação de responder pelas consequências previsíveis das suas ações em virtude de leis, contratos, normas de grupos sociais ou de sua convicção íntima. É através da proteção do capitalismo, na sociedade de produção, que surge a RSE. Surge a partir de um determinado estágio da gestão empresarial, onde se verifica que essa nova forma apresenta valores éticos como guia de negócios e exige o pensamento em estratégias e políticas que abracem uma relação socialmente responsável por parte das empresas, tornando-as agentes e parceiras de uma sociedade mais sustentável. Além disso, deve haver aqui uma interligação entre as empresas e os grupos com o qual elas se relacionam, os famosos stakeholders.

Como muitas empresas no passado estiveram envolvidas em ações socialmente irresponsáveis, onde estiveram envolvidas em experiências negativas e desastrosas, hoje, optam por ações de cunho social. Verificamos que a Nike foi associada ao uso de mão-de-obra infantil na Ásia e teve grande rejeição por parte dos consumidores. Algo parecido aconteceu com a Shell nos anos 90, quando foi acusada de prejudicar o meio ambiente e desrespeitar os direitos humanos na Nigéria. Logo, para evitar imagens negativas, as empresas sabem que têm de investir em aspetos sociais porque isto é o caminho para que tenham uma relação de confiança e respeito entre os stakeholders, gerando, neste caso, benefícios a longo prazo, melhoria da reputação da empresa e fortalecendo, ainda, a marca junto do consumidor, que por sua vez se reflete na mudança de atitudes de compra (Mendes, 2017).

Segundo Fischer (2002), no século XX, existiram várias correntes de pensamento que procuraram estreitar a relação da empresa com o ambiente social, destacando a importância da relação entre as organizações com a envolvente social do qual integravam. Conforme a autora,

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“Desta reflexão provém o conceito de responsabilidade social empresarial, que é cunhado, no âmbito da teoria das organizações, como uma das funções organizacionais a serem administradas, no fluxo das relações e interações, que se estabelecem entre os sistemas empresariais específicos e o sistema social mais amplo.” Fischer (2002, p.74-75).

De início, segundo Fischer (2002), o conceito não foi acatado. As empresas, em termos teóricos, mostravam interesse em fazer cumprir as suas obrigações sociais, mas na prática limitavam a ações pontuais e esporádicas. Seria, pois, o cenário complexo da mundialização económica que tornaria conveniente o ressurgimento do exercício da RSE.

Em síntese, as empresas competem entre si de forma acirrada e pressões como a citada mundialização económica, a intensificação da inovação tecnológica, consumidores cada vez mais exigentes, fazem parte de um cenário em que apenas a qualidade e o preço não são mais tão atrativos como outrora. A sobrevivência e o sucesso das empresas passaram também a requerer a adoção de práticas que tragam valor acrescentado e que conquistem a preferência dos consumidores.

Segundo Grayson e Hodges (2012, p.74, citado por Milani & Aguiar, 2017, p. 829), “numa economia global interconectada, os consumidores (que hoje são em geral mais bem informados e mais afluentes do que nunca) serão fiéis a marcas e organizações que lhes deem razões para confiar”. De acordo com os mesmos autores, para garantir contratos e negócios, também é importante que as companhias demonstrem determinado envolvimento com o meio ambiente e com a comunidade. De facto, Paes (2003) sustenta que:

“Diante dessa nova organização empresarial global, as organizações privadas possuem uma nova diretriz nos rumos da obtenção do lucro, pois simplesmente as vantagens oferecidas em relação a valores (preços) não estão sendo suficientes para a obtenção de um mercado consumidor. Cada vez mais a qualidade do produto está relacionada à relação da empresa com a sociedade e seu comportamento ético e esses fatores determinam o comportamento dos consumidores.” (Paes, 2003, p. 25)

Segundo Milani e Aguiar (2017), a responsabilidade social empresarial surge no momento em que o papel das empresas também é questionado e sofre transformações. É interessante acrescentar que as atividades que resultam da intensa fabricação de novos produtos começaram a gerar insatisfação por parte da sociedade e reconheceu-se, desde então, que o consumo possuía implicações sociais. Do exposto, pode-se afirmar que a notoriedade da responsabilidade social se deu também devido à degradação dos ecossistemas na sociedade industrial.

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23 Portanto, a continuidade das empresas também depende de satisfação de toda a sua envolvente, neste caso, os stakeholders. Entendemos que as relações entre a sociedade e as empresas são dialéticas, o que significa dizer que a sociedade interfere na existência da empresa e que, como as empresas fazem parte da sociedade, elas também sofrem alterações.

Para Oliveira e Moura-Leite (2014), a responsabilidade social está cada vez mais presente nos genes das organizações, pois cada vez mais se observa a pressão das partes interessadas para que as empresas assumam e diminuam os impactos gerados pelas suas ações na sociedade como um todo. Segundo Savitz e Weber (2007), a gestão de forma responsável do negócio auxilia na proteção da organização por meio da identificação de falhas na gestão, na redução dos riscos de prejudicar os clientes, proporciona a redução de custos, melhora a produtividade, elimina desperdícios, e, por fim, promove o crescimento da empresa através de conquistas de novos mercados e lançamento de novos bens e serviços.

Ainda de acordo com Savitz e Weber (2007), as organizações socialmente responsáveis gerem o negócio com o intuito de gerar benefícios para todas as partes envolvidas com a organização. Logo, estas não realizam ações socialmente responsáveis de forma abstrata, estes projetos e programas buscam sempre beneficiar de forma simultânea os interesses da organização e os da comunidade em que atuam, ou seja, ter uma natureza estratégica.

Segundo Porter e Kramer (2006), a RSE estratégica procura avançar em relação aos aspetos abrangidos pela responsiva. Essas ações de caráter estratégico procuram investir em fatores que fomentem a competitividade da organização do contexto no qual está inserida. Sendo assim, quanto mais próxima do negócio da empresa estiver a questão social, melhor será o crescimento da capacidade e dos recursos da organização, além de trazer benefícios efetivos para a comunidade. Ou seja, as organizações devem tomar providências nas questões de responsabilidade social, desde que estas estejam ligadas ao ramo de atuação e os benefícios obtidos sejam para as comunidades no entorno das organizações, pois quando isso se verifica, dá-se uma relação benéfica para todos os envolvidos que também podemos designar de “ganho-ganha”.

De acordo com Pontes (2011, citado por Oliveira & Moura-Leite, 2014), a utilização da responsabilidade social estratégica ou responsiva pelas organizações direciona os investimentos para questões sociais que afetam o meio em que estão incorporadas. Em função do problema social abordado, adota-se uma das duas RSE designadas anteriormente. E para isso é necessário verificar as características dos projetos implementados. Além disso, é

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importante considerar o setor de atuação, as necessidades da comunidade e o que for melhor para o negócio da organização.

É importante frisar que não existem parâmetros rígidos na classificação de projetos e iniciativas das organizações, em questões sociais genéricas, cadeia de valor e contexto competitivo, pois as organizações são distintas e possuem diferentes objetos e preocupações sociais e negócios diversos. Como exemplo temos a situação de uma redução de emissão de CO2. Para uma organização do setor financeiro, a relevância é baixa, mas, é um aspeto

importante para a cadeia de valor de uma empresa de transporte e estratégico para uma montadora de automóveis (Porter & Kramer, 2006).

Segundo Pereira et al., (2009, citado por Oliveira & Moura-Leite, 2014), a escolha da área em que a ação será estabelecida dependerá do negócio da organização, da localização e do seu propósito. Portanto, para classificar uma ação desenvolvida pela empresa como estratégica será necessário que os impactos causados aos stakeholders afetados pela atividade operacional sejam transformados em métodos para atingir os resultados.

1.1. Definição de Responsabilidade Social

Para que uma organização seja considerada socialmente responsável, segundo Ashley et al. (2006, p.7), é necessário que cumpra certos requisitos. Tais como:

“Preocupação com atitudes éticas e moralmente corretas que afetam todos os públicos/stakeholders envolvidos; promoção de valores e comportamentos morais que respeitem os padrões universais de direitos humanos e de cidadania e participação na sociedade; respeito ao meio ambiente e contribuição para sua sustentabilidade em todo o mundo; maior envolvimento nas comunidades em que se insere a organização, contribuindo para o desenvolvimento económico e humano dos indivíduos ou até atuando diretamente na área social, em parceria com governos ou isoladamente.” (Ashley et al., 2006, p.7)

Segundo Melo Neto e Froes (1999), a organização precisa de mais para ser considerada socialmente responsável do que apenas apoiar o desenvolvimento da sociedade e preservar o meio ambiente. Para estes autores, a organização deve apoiar e investir no bem-estar dos seus colaboradores e dependentes, promover a comunicação transparente, apresentar os resultados aos acionistas, bem como garantir a cooperação com os seus parceiros além de assegurar a satisfação dos seus clientes.

Esta definição é muito parecida com a do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, cujo teor passou de um conceito filantrópico, em que a empresa era obrigada a exercer uma relação social com a comunidade, para abranger todos os stakeholders

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25 da empresa, desde funcionários, clientes, fornecedores, acionistas, concorrentes, meio ambiente à organizações públicas e estatais, definindo RSE como sendo uma forma de gestão, considerando-se a relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pela implementação de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais (Instituto Ethos, 2017)

De acordo com Nascimento, Lemos e Mello (2008), a Responsabilidade Social Empresarial representa um conjunto de medidas socioambientais desenvolvidas por uma organização. Ainda segundo estes autores, essas medidas visam diminuir os impactos negativos que as empresas provocam no ecossistema, bem como desenvolver ações que provocam uma imagem positiva para a organização, com intuito de favorecer os seus negócios.

Ainda segundo Melo Neto e Froes (1999), a RSE está dividida em duas dimensões: a interna, que foca no público interno da empresa, seus empregados e dependentes; a e a externa, cujo foco é a comunidade mais próxima da empresa ou local onde ela está inserida. Já a organização que atua em ambas as dimensões exerce a sua cidadania empresarial e é reconhecida como “empresa-cidadã”.

A empresa que deixa de cumprir os seus deveres sociais com os seus grupos de interesse, perde o seu capital de responsabilidade social, ou seja, a imagem da empresa é prejudicada e sua reputação torna-se ameaçada. Os riscos da falta ou perda da responsabilidade social externa são mais prejudiciais à empresa do que os riscos da falta de responsabilidade social interna, e eles são: acusações de injustiça social, perda de clientes, reclamações dos fornecedores e revendedores, boicote de consumidores, queda nas vendas, gastos extras com passivos ambientais, ações na justiça, risco de invasões e até mesmo risco de falência. (Melo Neto e Froes, 1999).

De acordo com os mesmos autores é importante, no longo prazo, a responsabilidade das empresas com as questões socioambientais uma vez que os clientes potenciais poderão vir a comprar produtos de uma organização que demonstre preocupação com o meio ambiente e o bem-estar social. Assim, potenciais clientes, que tem dificuldades em escolher bens e serviços entre vários concorrentes, poderão decidir comprar de uma organização com maior apelo socioambiental e com mais respeitabilidade no mercado.

A responsabilidade social da empresa pode beneficiar cinco categorias de grupos: proprietários e acionistas, consumidores, empregados, o público ou a comunidade onde a

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empresa atua e os credores e fornecedores. A empresa escolhe a categoria que mais lhe convém para ser a sua principal beneficiária. Sendo assim, a categoria beneficiária principal oferece a razão da existência da organização, enquanto as outras beneficiárias apenas se mantêm a disposição da empresa (Oliveira, 1984).

Segundo Melo Neto e Froes (1999), a responsabilidade social desempenhada de forma inteligente e consistente contribui para a sustentabilidade e o desempenho empresarial. Com isso, as ações sociais desenvolvidas pelas empresas podem acarretar alguns benefícios para a organização:

“Ganhos de imagem corporativa; popularidade dos seus dirigentes, que se sobressaem como verdadeiros líderes empresariais com elevado senso de responsabilidade social; maior apoio, motivação, lealdade, confiança, e melhor desempenho dos seus funcionários e parceiros; melhor relacionamento com o governo; maior disposição dos fornecedores, distribuidores, representantes em realizar parcerias com a empresa; maiores vantagens competitivas (marca mais forte e mais conhecida, produtos mais conhecidos); e maior fidelidade dos clientes atuais e possibilidades de conquista de novos clientes.” (Melo Neto e Froes, 1999).

De acordo com a Comissão Europeia (2013), sempre que uma empresa assume a responsabilidade para com a sociedade, o meio ambiente e os trabalhadores, acarreta uma situação de vantagem a todos os níveis, a qual contribui para aumentar a base de confiança necessária ao sucesso económico. Considera ainda que a governação empresarial constitui um elemento fundamental da responsabilidade social das empresas, em particular no que diz respeito à relação com as autoridades públicas, os trabalhadores e as suas associações representativas, bem como no que toca à política de bónus, salários e retribuições seguidos pela empresa; entende que bónus, indemnizações e salários excessivos pagos a gestores, em particular nos casos em que a empresa enfrenta dificuldades, não são compatíveis com um comportamento socialmente responsável.

A política fiscal de uma empresa dever ser considerada como parte da RSE e que as estratégias de evasão fiscal ou o recurso a paraísos fiscais são, portanto, incompatíveis com um comportamento socialmente responsável. Entende também que, no quadro da avaliação da responsabilidade social de uma empresa, deve ser tido em conta o comportamento das empresas que fazem parte da sua cadeia de fornecimento, bem como das empresas subcontratadas.

A CE define RSE como sendo a responsabilidade das empresas pelo impacto que têm na sociedade. Com esta definição, as empresas devem adotar um processo que integre as questões sociais, ambientais e éticas, os direitos humanos e as solicitações dos consumidores

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27 na sua estratégia comercial e de base. Com o objetivo de criar uma comunidade de valores para proprietários e acionistas, as outras partes interessadas e a sociedade em geral, a fim de identificar, evitar e atenuar os possíveis impactos negativos das atividades da empresa.

Este relatório salienta ainda que o investimento socialmente responsável (ISR) é parte integrante do processo de execução da responsabilidade social das empresas no quadro de decisões de investimento; e refere que, embora não exista uma definição de ISR, este combina habitualmente os objetivos financeiros dos investidores com as suas preocupações com as questões sociais, ambientais, éticas e relativas ao governo das empresas.

Salienta também que a responsabilidade das empresas não deve ser reduzida a uma ferramenta de comercialização, e que a única maneira de desenvolver a RSE plenamente consiste em incorporá-la na estratégia global da empresa, implementando-a e traduzindo-a na realidade das operações quotidianas da empresa e da sua estratégia financeira.

“Responsabilidade social da empresa significa também, e sobretudo, competitividade. Isto não significa automaticamente que todas as intervenções em matéria de RSE reforcem as vantagens concorrenciais de uma empresa, mas sim que determinadas medidas possam reforçar uma empresa se permitirem criar uma comunidade de valores entre a empresa, os seus acionistas e a sociedade em geral.” (Comissão Europeia, 2013, p.13)

A Responsabilidade Social nas empresas apresenta, atualmente, três definições que apesar de serem diferentes em termos de escritas acabam por serem sinónimas. Elas são: Responsabilidade Social Empresarial (RSE), Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e Responsabilidade Social Ambiental (RSA), e verificamos que todas elas estão intimamente relacionadas com o conceito “Stakeholder”.

A RSE é a designação mais popular de responsabilidade social desenvolvida pelas empresas, que por muitos é considerada como sinónimo de RSC, contudo ela tem um diferencial facilmente identificado que é o de focar em ações destinadas aos diversos stakeholders, além de observar a comunidade e ambiente.

RSC é a designação mais utilizada para definir a responsabilidade social das grandes empresas, empresas que geralmente praticam ações sociais observando no seu público interno ou no ambiente de negócio. Alguns dos princípios básicos que guiam a RSC são: ação social, código de conduta, auditoria social, código de bom governo, desenvolvimento sustentável empresa-cidadã, ética empresarial, gestão ambiental e sustentabilidade.

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A RSA é a designação mais recente de responsabilidade social e talvez a mais abrangente, direciona a sua atenção às ações socioambientais, além das questões comumente tratadas em relação ao seu público interno e externo (Montagna, 2015).

Stalkeholders (partes interessadas) são pessoas ou grupos que possuem propriedade, direitos ou interesses passados, presentes ou futuros em uma organização e em suas atividades (Clarkson, 1995).

Devido as confusões existentes em termos de interpretações, conceitos e práticas entre filantropia e responsabilidade social, abaixo veremos as suas diferenças (Quadro 1).

Quadro 1. Diferença entre Filantropia e Responsabilidade Social

Fonte: Melo Neto e Froes (2001, p. 28, citado por Noriler & Machado, 2008, p. 7)

Também podemos definir RSE como sendo o compromisso que nós (geração presente) temos em relação à geração futura, com a sociedade como um todo, de livre e espontânea vontade e que tem como dever seguir normas, filosofias e ideais para se alcançar um objetivo único que é o de uma sociedade melhor para todos.

A responsabilidade social não se deve confundir com negócio local. Ela é, nada mais, que uma área da empresa destacada a implementar medidas que promovam o bem comum, ajudando deste modo a comunidade em que está inserida e melhorar, consequentemente, a imagem da própria empresa, promovendo a ideia de que é uma boa cidadã.

“A responsabilidade social empresarial (RSE) é outro termo que às vezes se confunde com negócio social. A RSE frequentemente designa um fundo beneficente destacado por uma empresa voltada para o lucro para fazer algo de bom na

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29 comunidade local. Por exemplo, o departamento de RSE de uma empresa pode doar dinheiro para um hospital ou escola, conceder bolsas de estudo para umas poucas crianças pobres ou patrocinar um dia de limpeza na praia ou num parque. Os programas de RSE são usados principalmente para construir a imagem de uma empresa, promover a ideia de que é uma “boa vizinha” ou uma “boa cidadã.” (Yunus, 2010, p. 27)

A responsabilidade social empresarial veio dar um novo sentido à maneira de governação das empresas. Verificou-se na responsabilidade social uma nova estratégia capaz de potencializar o desenvolvimento das organizações e aumentar os seus lucros. Os consumidores cada vez mais tendem a juntar-se e a incentivar organizações que têm como meta não só o benefício próprio, mas que ajudam a melhorar o meio ambiente ou a comunidade em geral, tornando as suas práticas mais sustentáveis. Uma outra visão dá uma perspetiva do tema no âmbito de como o mundo vê:

“O mundo empresarial vê, na responsabilidade social, uma nova estratégia para aumentar seu lucro e potencializar seu desenvolvimento. Essa tendência decorre da maior conscientização do consumidor e consequentemente procura por produtos e práticas que gerem melhoria para o meio ambiente ou comunidade, valorizando aspetos éticos ligados à cidadania. Além disso, essas profundas transformações mostram-nos que o crescimento econômico só será possível se estiver alicerçado em bases sólidas. Deve haver um desenvolvimento de estratégias empresariais competitivas por meio de soluções socialmente corretas, ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis.” (Arruda, 2002, p.3)

Alguns fatores que podem levar as empresas a serem socialmente responsáveis são: expectativas dos consumidores, depredação do meio ambiente, perda dos valores sociais na comunidade, a globalização e os seus efeitos secundários bem como as alterações nas formas tradicionais de gestão.

“A noção de responsabilidade social por parte das empresas tem sido bem difundida. Isso ocorre principalmente em países considerados mais desenvolvidos por exigência do mercado consumidor, pela pressão da sociedade civil organizada e por mudanças profundas nas legislações para gerar produtos mais seguros e menos prejudiciais à natureza.” (Costa, 2007, p.20)

Para assumir um papel socialmente responsável é necessário que as empresas, governos e sociedade, deem respostas aos inúmeros desafios que surgem devido à globalização a questões que envolvem tanto aspetos económicos como sociais e ambientais, e que sejam acima de tudo sustentáveis, visando diminuir os impactos diretos ou indiretos na sociedade ou no planeta devido ao exercício do negócio.

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“Ser socialmente responsável não está restrito ao cumprimento de todas as obrigações legais – implica ir mais além promovendo investimentos em capital humano, no ambiente e nas relações com outras partes interessadas e comunidades locais, ultrapassando a esfera da própria empresa, envolvendo, além dos trabalhadores e acionistas, outras partes interessadas.” (Reetz, 2006, p. 22)

A responsabilidade social é concreta e permanente, embora não seja uma realidade na maioria das empresas. Mas é certo que essa febre se torne viral na maioria das empresas nos próximos tempos, visto que cada vez mais se vão fazendo e aprofundando estudos sobre esta temática. É fundamental não só para as empresas como também para a sociedade em geral devido aos enormes benefícios gerados por ela.

“Apesar de encarada como modismo por alguns, a responsabilidade social empresarial pode ser considerada como concreta e permanente. Não obstante existir um movimento mundial, liderado pelas grandes empresas de produtos, ela ainda não é uma realidade na maioria das empresas (...) A responsabilidade social define o grau de amadurecimento de uma empresa privada em relação ao impacto social de suas atividades. Abrange, em termos gerais, desenvolvimento comunitário, equilíbrio ambiental, tratamento justo aos funcionários, comunicações transparentes, retorno aos investidores, sinergia com parceiros e satisfação do consumidor.” (Costa, 2007, p. 23)

Como há tantas definições de RSE, muitas empresas quiseram sinalizar ao mercado que são responsáveis com a sociedade e procuraram entre as diferentes definições qual delas melhor se adequa à maneira como seus negócios são conduzidos, o que significa que muitas empresas identificam como responsáveis, embora, na prática, elas também não se responsabilizam pelas externalidades negativas que afetaram algum ou alguns de seus grupos de interesse.

Em suma, podemos ilustrar a Responsabilidade Social Empresarial na seguinte figura:

Figura 1. Responsabilidade Social Empresarial Fonte: Prever Marília (2019)

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31 Quadro 2. Evolução do termo RSE

RSE Autores

“... no início do século XX, a responsabilidade social limitava-se apenas ao ato filantrópico, que inicialmente assumia caráter pessoal, representado pelas doações efetuadas por empresários ou pela criação de fundações...”

Tenório (2004)

“Responsabilidade social é o dever ou a obrigação dos gestores de empresa em alinhar os projetos sociais e as tomadas de decisões com os valores da sociedade.”

Bowen (1953, citado por Carroll, 1999, p.270)

“RSE não visa necessariamente à maximização dos lucros, e sim à necessidade de mudança de postura das organizações diante dos recursos económicos e humanos da sociedade, e o desejo de transformar esses recursos em benefícios sociais.”

Davis (1967) e McGuire (1963) (citados por Santana e Oliveira, 2016, p.86) “A responsabilidade social da empresa consiste em gerar lucros

para seus acionistas, dentro das regras da sociedade (leis).”

Friedman (1970, citado por Sousa, 2010, p.11)

“Para que uma organização seja socialmente responsável é necessário abranger quatro dimensões: a Económica, que se refere ao retorno financeiro da organização; a Legal, que procura cumprir todas as normas legais vigentes; a Ética, que diz respeito ao tratamento justo e equitativo de todos os

públicos da organização; e a Filantrópica, que trata das ações de filantropia que a empresa realiza entre as comunidades com as quais se relaciona.”

Carroll (1991)

“Ser socialmente responsável significa não só cumprir as suas obrigações legais que, sem dúvida, cada empresa tem de satisfazer, mas indo além desta por investir mais em capital humano, o meio ambiente e as relações com as partes interessadas”

Comissão Europeia (2001, p.6, citado por Mendes, 2017, p.37)

“RSE é o compromisso empresarial de contribuir para o desenvolvimento económico sustentável, trabalhando em conjunto com os empregados, suas famílias, a comunidade local e a sociedade em geral para melhorar sua qualidade de vida, de maneiras que sejam boas tanto para as empresas como para o desenvolvimento”

Banco Mundial (2002, citado por Kreitlon, 2004, p.3)

“RSE vai além da postura ética da organização, do assistencialismo e ajuda a comunidade. Significa um trabalho de mudança de atitude e comportamento, tendo por consequência a consolidação de uma sociedade económica e socialmente mais justa. Consolidação esta que pode ser estabelecida por meio de projetos sociais, como uma prática de comprometimento ao meio no qual está inserido.”

Bittencourt e Carrieri (2005, citado por Lohn, 2011, p.115)

“RSE é definido pela relação que empresa estabelece com todos os seus públicos (stakeholders) no curto e no longo prazo. Os públicos de relacionamento da empresa envolvem inúmeras organizações de interesse civil/social/ambiental, além daqueles usualmente reconhecidos pelos gestores — público interno, acionistas e consumidores/clientes.”

Ethos (2007, p.4, citado por Milani & Aguiar, 2017, p.830)

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Quadro 2. Evolução do termo RSE (Cont.)

RSE Autores

“A responsabilidade pelo desenvolvimento das ações sociais apresenta fins beneficentes e visam atender àqueles que necessitam de apoio financeiro, emocional ou físico, através de ações sistemáticas e focais. Seu objetivo é resgatar os direitos básicos do ser humano, conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Dotados de razão e de

consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”

Adriana Souza (2011, p.17, citado por Montagna, 2015, p.17)

“RSE significa também, e sobretudo, competitividade. Isto não significa automaticamente que todas as intervenções em matéria de RSE reforcem as vantagens concorrenciais de uma empresa, mas sim que determinadas medidas possam reforçar uma empresa se permitirem criar uma comunidade de valores entre a empresa, os seus acionistas e a sociedade em geral.”

(Comissão Europeia, 2013, p.13)

“É a forma de gestão que se define pela relação ética e

transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.”

Instituto Ethos (2017, p.17, citado por Santos, 2017, p.17)

Fonte: Elaboração Própria

1.2. Responsabilidade Social Empresarial. Uma breve resenha histórica

Segundo Tenório (2004), a questão de responsabilidade social empresarial (RSE) é um tema recente, polémico e dinâmico, envolvendo desde a geração de lucros pelos empresários, em visão bastante simplificada, até a implementação de ações sociais no plano de negócios das organizações, em contexto abrangente e complexo.

Em seguida falaremos desta temática dentro de um limite histórico, onde mostraremos o seu desenvolvimento ao longo do século XX, com início ainda na sociedade industrial, passando pela era pós-industrial e chegando aos dias atuais.

A responsabilidade social empresarial começou a ser discutida no início do século XX, com o filantropismo. Em seguida, com a extinção do modelo industrial e com o surgimento da sociedade pós-industrial, o conceito evoluiu, passando essas ações sociais a estar inseridas no plano de negócios das organizações.

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33 Assim, além do filantropismo, desenvolveram-se conceitos como voluntariado empresarial, cidadania corporativa, responsabilidade social corporativa e, por último, desenvolvimento sustentável.

Para melhor ilustrar a RSE dividiremos a análise em dois períodos distintos: 1º Do início do século XX até à década de 1950.

2º Abordagem contemporânea, estendendo-se desde a década de 1950 até aos dias atuais.

1.2.1. Do início do século XX até à década de 1950

De acordo com Tenório (2004), neste período a sociedade experimentava a transição da economia agrícola para a industrial, com a crescente evolução tecnológica e a aplicação da ciência na organização do trabalho, mudando o processo produtivo. A ideologia predominante era o liberalismo de Adam Smith, Malthus, David Ricardo e Stuart Mill, baseado no princípio da propriedade e da iniciativa privada. A visão clássica da responsabilidade social empresarial incorporava os princípios liberais, influenciando a forma de atuação social das empresas e definindo as principais responsabilidades da companhia em relação aos agentes sociais na época. Através das obras destes autores, imaginava-se que a função das empresas era apenas a geração de ganhos para os seus donos ou acionistas.

Pelo liberalismo, a interferência do Estado na economia seria um obstáculo à concorrência, elemento essencial ao desenvolvimento económico e cujos benefícios seriam repartidos por toda a sociedade. O Estado seria o responsável pelas ações sociais, pela promoção da concorrência e pela proteção da propriedade. Já as empresas deveriam buscar a maximização do lucro, a geração de empregos e o pagamento de impostos. Atuando dessa forma, as companhias exerceriam sua função social. Ou seja, com a busca pela maximização do lucro por parte das empresas, acreditava-se que assim aconteceria a livre concorrência entre organizações e que esse era o mecanismo perfeito para a regulamentação do mercado e a geração de riqueza provesse a sociedade. A intervenção do Estado sobre a economia deveria ser mínima, uma vez que as organizações seriam capazes de gerar empregos e, consequentemente, bem-estar a todos (Montoro Filho et al., 2001).

De acordo com Andrade et al. (2010), esta ideia permaneceu no mundo ocidental até o início do século XX, mais precisamente em 1929 quando se deu a queda da Bolsa de Nova Iorque. Apercebeu-se então que a economia livre do controlo do Estado era insustentável e gerava grandes desequilíbrios socias. Notou-se que as organizações privadas, com o seu

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propósito de maximização constante dos lucros, não asseguravam o bem-estar e a segurança dos trabalhadores, assim como não investiam em importantes setores da sociedade fundamentais para o equilíbrio social. É nesta época que surge a ideia do Estado intervencionista, a partir da obra de John Keynes, que regulamenta e financia a economia e as relações trabalhistas (Tenório, 2004). Este modelo de Keynes, apesar dos elevados impostos que acarretava, permitiu, após a Segunda Guerra Mundial, especialmente nos países desenvolvidos – onde de facto se efetivou este modelo –, que as organizações pudessem trabalhar em um ambiente de menos incerteza, investindo fortemente na sua produção e desenvolvimento tecnológico, o que lhes trouxe enormes vantagens. Singer (2002) sustenta que:

“Apesar da volta do liberalismo, o panorama teórico da economia nunca mais será o mesmo; tampouco o da política. A razão disso é que a teoria de Keynes foi aplicada no mundo inteiro, dos anos 30 aos 70 do século passado, e deu certo. Durante mais de 30 anos o pleno emprego foi geral, e o comando do Estado sobre a economia capitalista garantiu altas taxas de crescimento do produto, da produtividade, de emprego e dos salários.” (Singer, 2002, p. 14).

Esse modelo funcionou bem durante quatro décadas, mas nos anos 1980, principalmente com o sucesso da política económica liberal em Inglaterra, houve uma volta aos moldes do início do século XX, que passaram a denominar “neoliberalismo” (Singer, 2002). Em muitos lugares, essa nova política originou um forte desemprego e o reaparecimento de diversos problemas de carácter social. Isso, associado aos ganhos que as sociedades obtiveram com a intervenção do Estado nas décadas anteriores, o desenvolvimento das tecnologias da informação, o aumento do nível de escolaridade em geral e o surgimento de grandes problemas ambientais, fez com que surgisse uma cobrança: cobrir as lacunas abertas pela nova economia. Tenório (2004), a partir das proposições de Toffler (1995), afirma que a sociedade industrial – típica do período liberal – tinha como valor central o sucesso económico, enquanto a sociedade pós-industrial – modelo Keynesiano – passou a estimar também o:

“... aumento da qualidade de vida; a valorização do ser humano; o respeito ao meio ambiente; a organização empresarial de múltiplos objetivos; e a valorização das ações sociais, tanto das empresas quanto dos indivíduos.” (Tenório, 2004, p. 20)

As sociedades então, quando o Estado deixou de ser o provedor, passam a demandar das organizações não somente a boa qualidade dos produtos, da distribuição e dos preços, mas também um compromisso empresarial com a ética, o desenvolvimento social e o respeito à

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35 natureza, ambiente propício para que o debate teórico e a prática da Responsabilidade Social Empresarial se intensificassem.

Sobre a função social empresarial, Friedman refere:

“Os altos funcionários das grandes empresas e os líderes trabalhistas têm uma responsabilidade social além dos serviços que devem prestar aos interesses de seus acionistas ou de seus membros. Isso mostra uma conceção errada do carácter e da natureza de uma economia livre, através da qual só existe uma responsabilidade social do capital que é a de usar seus recursos e dedicar-se a atividade destinadas a aumentar seus lucros até onde permaneça dentro das regras do jogo, o que significa participar de uma competição libre e aberta, sem enganos ou fraude”. (Friedman, 1985, p.23, citado por Tenório, 2004)

Neste período, segundo Galbraith (1982, citado por Tenório, 2004), o mercado era formado por empresários de pequenas empresas, em regime de concorrência perfeita, com base tecnológica estável e acessível, e com pouco ou nenhum poder de influenciar individualmente o mercado. O património confundia-se com o do dono. A maximização dos lucros era o objetivo da companhia e expressava a vontade dos acionistas, sendo essa a principal contribuição social da empresa.

A alteração do processo produtivo, originada pela evolução tecnológica e pela aplicação da ciência na organização do trabalho, foi outro fator que contribuiu para fomentar a discussão do conceito de responsabilidade social empresarial, uma vez que as suas consequências afetaram as relações de trabalho existentes na época, gerando debates a respeito das obrigações empresariais em relação a seus empregados.

Com a alteração do processo produtivo, substituiu-se o trabalho artesanal pela especialização da tarefa. Como resultado desse processo, surgiu a administração científica, com o objetivo de aumentar a produtividade e diminuir o desperdício na produção. Os seus principais idealizadores foram Taylor, Ford e Fayol (Tenório, 2004).

Sendo assim o objetivo de maximização do lucro estava presente em todos os processos empresariais que buscavam a otimização da produção. Entretanto, o liberalismo não estimulava a prática de ações sociais pelas empresas e até as condenava, pois entendia que a caridade não contribuía para o desenvolvimento da sociedade nem era de responsabilidade das organizações. Deste modo, no início do século XX, a RSE limitava-se apenas ao ato filantrópico, que inicialmente assumia um caráter pessoal, representando pelas doações efetuadas por empresários ou pela criação de fundações, como a Ford, a Rockfeller e a Guggenheum. Posteriormente, com as pressões da sociedade, a ação filantrópica passou a ser

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promovida pela própria empresa, simbolizando o início da incorporação da temática social na gestão empresarial.

De acordo com Tenório (2004), apesar de a administração científica e o liberalismo económico terem contribuído para o crescimento da população e a acumulação de capital, inicialmente a industrialização ocasionou a degradação da qualidade de vida, a intensificação de problemas ambientais e a precariedade das relações de trabalho.

A partir desse momento, a sociedade começou a mobilizar-se, pressionando o governo e empresas a solucionarem os problemas gerados pela industrialização. Verificou-se, assim, maior controle social da atividade empresarial. Logo, o conceito de responsabilidade social empresarial passou a incorporar alguns anseios dos principais agentes e a ser entendido, não apenas como geração de empregos, o pagamento de impostos e a geração de lucro, mas também como o cumprimento de obrigações legais referentes a questões trabalhistas e ambientais. Esta é a primeira dimensão de responsabilidade social empresarial sugerida por Martinelli (2000, citado por Tenório, 2004).

De Masi apresenta alguns dos problemas sociais e ecológicos gerados pelo processo de industrialização no começo do século XX:

“O crescimento das dimensões urbanas não conheceu um melhoramento na qualidade de vida dos cidadãos: poluição química e fotoquímica, obstrução da circulação, barulho, falta de água e de higiene concorreram para estressar tanto os habitantes quanto a terra. Calcula-se que, no mundo, 280 milhões de habitantes das cidades não dispunham de água potável e que, para resolver os problemas ecológicos de uma cidade como Los Angeles, é necessário o suporte de uma área 300 vezes maior do que a própria cidade.” (De Masi, 2000, p.149, citado por Tenório, 2004)

Os problemas trabalhistas referiam-se às longas jornadas de trabalho — que chegavam a durar até 12 horas diárias —, aos baixos salários, à ausência de legislação trabalhista e previdenciária e à mecanização do ser humano.

“A filosofia do taylorismo, destinada a estabelecer a harmonia industrial ao invés da discórdia, encontrou forte oposição desde 1910 entre os trabalhadores e os sindicatos. Muitos trabalhadores não conseguiam trabalhar dentro do ritmo de tempo padrão preestabelecido e passaram a se queixar de uma nova forma de exploração sutil do empregado: fixação de padrões elevados de desempenho favoráveis à empresa e desfavoráveis aos trabalhadores. O trabalho qualificado e superespecializado passou a ser considerado degradante e humilhante pelos trabalhadores, seja pela monotonia, pelo automatismo, pela diminuição da exigência de raciocínio ou pela destituição completa de qualquer significado psicológico do trabalho.” (Chiavenato, 1999, p.45, citado por Tenório, 2004)

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37 Portanto, nesse primeiro período, com os problemas decorrentes da industrialização, o entendimento das obrigações da empresa em relação aos agentes sociais começou a modificar-se. Ford foi um dos primeiros a entender a natureza dessas transformações, tanto que instituiu salário mínimo e jornada de trabalho máxima de oito horas diárias para seus empregados. Outra manifestação de Ford a respeito do papel da empresa na sociedade podendo ser evidenciada em sua declaração a um acionista:

“Negócios e indústria são, antes de tudo, um serviço público. Estamos organizados para fazer o melhor que pudermos em todos os lugares e para todos os interessados. Não acredito que devamos ter um lucro exorbitante sobre nossos carros. Um lucro razoável está certo, mas não demais. Portanto, minha política tem sido forçar os preços dos carros para baixo assim que a produção o permita e beneficiar os usuários e trabalhadores, o que tem resultado em lucros surpreendentemente grandes para nós.” (Srour, 2000, p.194, citado por Tenório, 2004)

Logo, até a década de 1950, a responsabilidade social empresarial assume dimensão estritamente económica e é entendida com a capacidade empresarial de geração de lucros, criação de empregos, pagamento de impostos e cumprimento das obrigações legais. Essa é a representação clássica do conceito (Tenório, 2004).

1.2.2. Abordagem contemporânea, estendendo-se desde a década de 1950 até aos dias atuais

Segundo Alban (1999) esta época é marcada por uma fase de forte mobilização cívica e revolucionária, além de um enorme progresso científico e tecnológico. O modo de produção e de acumulação do capital continua sendo intenso, e a regulação de tipo monopolístico. Com a crise do dólar e do petróleo, finda o ciclo dos “anos dourados” (1945-1973), e a economia capitalista volta a apresentar grandes debilidades conjunturais, longas e profundas recessões, queda do ritmo de crescimento e altas taxas de desemprego.

Dentro de um cenário de contestações e turbulência social, as empresas tornam-se alvo de reivindicações cada vez mais numerosas e variadas. Inúmeros movimentos da sociedade civil passam a exercer pressão sobre elas, particularmente no que toca a questões de poluição, consumo, emprego, discriminações raciais e de género, ou natureza do produto comercializado (principalmente a industrial bélica e de cigarros). As demandas tornam-se centrais e generalizadas e vários movimentos de contracultura questionam o ato egoísta das empresas que vivam exclusivamente para a maximização de seus lucros.

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Em 1970 começam a surgir protestos argumentando que o contrato social sobre o qual se baseia o sistema da livre empresa havia mudado, e que as organizações deviam responder a obrigações mais amplas que a simples rentabilidade (Gendron, 2000). Em 1972, a publicação do relatório do Clube de Roma, intitulado The limits of growth, vem fornecer ainda mais argumentos aos grupos contestatários. Cresce uma atmosfera “anti-negócios” que inquieta o mundo organizacional – e dá-se então o início do verdadeiro debate sobre a RSE.

Nasce também, nesta época, a escola Business Ethics aquando do surgimento da bioética, através da qual é estimulado o desenvolvimento de um novo ramo da ética normativa e aplicada, voltada especificamente para o mundo dos negócios e das empresas (De George, 1987).

No final da década de 70, as novas teorias organizacionais, menos gerencialistas que as anteriores, favorecem uma perceção da empresa enquanto entidade moral: as decisões empresariais deixam de ser atribuídas apenas aos indivíduos, e considera-se a hipótese de que possam ser tomadas pela própria organização, enquanto estrutura decisória composta por objetivos, regras e procedimentos. Logo a ideia de responsabilidade pessoal é substituída pela noção de responsabilidade corporativa, e transita-se assim de uma perspetiva individualista para uma organizacional, que transcende a mera agregação das ações dos sujeitos (Lecours, 1995). Entretanto, de meados da década de 70 até ao início da década de 80, o campo da Business Ethics confunde-se com a corrente de mesmo nome – de orientação filosófica, normativa – porque basicamente não existem abordagens concorrentes de peso significativo. Portanto, o vocabulário da filosofia (bem, mal, dever, justiça) começa a partir daí, a ser gradualmente substituído por uma terminologia mais sociológica (poder, legitimidade, racionalidade) (Lecours, 1995). Nesse mesmo período, a ideia de responsabilidade desagrega-se da noção discricionária de filantropia, e passa a referir-desagrega-se às condesagrega-sequências das próprias atividades usuais da empresa. É a partir daí que surge a primeira divisão da Business Ethics e surge a escola Business & Society.

A partir desta data ressurgem as políticas neoliberais: ajuste fiscal, redução das despesas sociais do Estado, privatizações, desregulamentação, liberalização do comércio, das taxas de câmbio e das relações trabalhistas. O fordismo cede lugar ao pós-fordismo, modo de produção e de acumulação flexíveis, de base microeletrónica, cujas consequências revelam-se devastadoras para os níveis de emprego, tanto nos países industrializados como nos periféricos (Alban, 1999). Graças às novas tecnologias, a produção torna-se descentralizada, e a mão-de-obra pode ser subcontratada e operar a partir de qualquer continente. Os trabalhadores trocam

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39 o estatuto de assalariados pelo de autónomos, informais ou contratados, sem garantia de trabalho estável ou segurança social.

Sob o ponto de vista social, a pobreza, o desemprego e outros tipos de exclusão marcam tanto o cenário norte-americano quanto o europeu, e também nos países menos desenvolvidos. A problemática ambiental é tema de diversas conferências internacionais, e, em 1987, o Relatório Brundtland lança o conceito de “desenvolvimento sustentável”, que pretende conciliar desenvolvimento económico e proteção ambiental (Nobre & Amazonas, 2002).

Consolida-se definitivamente, no início da década de 80, a abordagem intitulada Business & Society, a qual concebe empresa e sociedade como uma rede inextrincável de interesses e relações, permeada por disputas de poder, acordos contratuais explícitos e implícitos, e pela busca de legitimidade. Nesta época surge a famosa teoria dos stakeholders, desenvolvida por Freeman (1984), segundo a qual a ideia de que as empresas não possuem responsabilidades senão em relação aos acionistas deve ser substituída pelo conceito de relação de confiança entre a empresa e as suas partes interessadas. Esta teoria revelar-se-á suficientemente rica e abrangente para ser encampada (e adaptada) pelas três correntes teóricas dedicadas ao estudo das relações entre ética, empresas e sociedade.

Surge também, neste período a escola Social Issues Management – resultado da preocupação, nos círculos de gestão, com os inevitáveis conflitos inerentes às interações entre empresas e sociedade, e com a crescente intensificação de tais conflitos. Esta abordagem visa atender à demanda por instrumentos para a gestão sistemática dos problemas éticos e sociais enfrentados (ou antecipados) pelas companhias, de tal modo que a sensibilidade (responsiveness) corporativa transforme-se numa vantagem competitiva (Kreitlon, 2004).

1.3. Três Escolas Académicas de Pensamento Surgidas na Década de 1980

As três escolas de pensamento que surgiram na década de 80, podem ser resumidas em: • Ética Empresarial (Business Ethics)

• Negócios e Sociedade (Business & Society)

• Aspectos Sociais da Gestão (Social Issues Management)

A escola Ética Empresarial, enquanto ramo da ética aplicada, propõe um tratamento de cunho filosófico, normativo, centrado em valores e em julgamentos morais, ao passo que a segunda, a de Negócios e Sociedade, adota uma perspetiva sociopolítica, e sugere uma abordagem contratual aos problemas entre empresas e sociedade. Por fim, a escola de Aspetos

Referências

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