• Nenhum resultado encontrado

Ambientes obesogénicos: Casa, área de residência e escola

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Ambientes obesogénicos: Casa, área de residência e escola"

Copied!
114
0
0

Texto

(1)

AMBIENTES OBESOGÉNICOS

Casa, Área de Residência e Escola

Dissertação de Mestrado em Educação Física

Especialização em Desenvolvimento da Criança na

variante de Desenvolvimento Motor

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Vila Real 2010

(2)

Maria Isabel Martins Mourão Carvalhal e co-orientação da Professora Doutora Eduarda Maria Rocha Teles de Castro Coelho, apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, com vista à obtenção do grau de Mestre em Educação Física – Especialização em Desenvolvimento da Criança na variante de Desenvolvimento Motor.

(3)

A realização deste trabalho não seria possível se não fosse o apoio de várias pessoas, assim deixo aqui o meu apreço e gratidão a todos aqueles que me acompanharam e que contribuíram directa ou indirectamente para a execução do mesmo.

À minha orientadora e co-orientadora, Dra. Isabel Mourão e Dra. Eduarda Coelho, pela disponibilidade e apoio em todo este trabalho de investigação. Os conhecimentos, conselhos e sugestões foram determinantes na consecução deste projecto.

À Dra. Sofia Monteiro e ao Dr. Hugo Laranjeira, pela disponibilidade ao longo deste trabalho.

Ao Mário Trindade, pela amizade e ajuda ao longo destes anos.

Ao Duarte, pela partilha de conhecimentos e cumplicidade transmitidos desde que nascemos.

À Rute e João, por estarem sempre disponíveis para me ouvirem e ajudarem no que foi preciso, pela amizade (ainda que curta) e carinho demonstrado.

À Jo, maninha do coração, pela tolerância de me ouvir quando foi preciso, e por ter sempre uma palavra de conforto nas horas mais angustiantes.

Aos meus pais e avó, por tornarem esta conquista, mais uma vitória.

A ti meu amor, pelo companheirismo, cumplicidade e amor destes anos todos, por me conheceres tão bem e por atenderes os meus pedidos com toda a paciência do mundo.

(4)

A obesidade infantil tem-se vindo a revelar a epidemia do século XXI, sendo considerada como multifactorial. O ambiente obesogénico é considerado um dos factores influenciadores da obesidade, sendo, no entanto, pouco estudado. Assim, esta investigação teve como principal objectivo analisar a influência dos factores ambientais obesogénicos na obesidade infantil.

A nossa amostra foi constituída por um total de597 alunos (317 raparigas e 280 rapazes) pertencentes a 6 escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico de Vila Real, com idades compreendidas entre os 6,20 e os 11,90 anos (8,45 ±1,14). Para a avaliação das variáveis relativas à Casa, à Área de Residência e à Escola, foi utilizado um Questionário, incluído no projecto “Estudo nacional e prevalência de obesidade infantil em Portugal, alterações de 2002 a 2009: avaliação dos efeitos do estilo de vida e do ambiente”, financiado pela Fundação para a ciência e tecnologia (PTDC/SAU – ESA/70526/2006). A caracterização dos recreios das escolas foi realizada através de uma Ficha de Registo e do programa AutoCAD. Foram recolhidos o peso e altura e calculado o Índice de Massa Corporal (IMC). Para estimar a prevalência de obesidade foram utilizados os valores de corte de Cole e colaboradores (2000). Realizou-se uma análise exploratória dos dados para a caracterização dos recreios e prevalência de obesidade. Para comparar a prevalência de obesidade entre as diferentes escolas, utilizou-se o X2.Para analisar a associação entre as variáveis dependentes e independentes, foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson (r). A influência das variáveis do envolvimento na prevalência de obesidade, foi verificado através da regressão linear. O nível de significância utilizado foi de 5% (p≤0,05). O tratamento de dados foi efectuado no software SPSS 14.0. A prevalência de obesidade para a amostra total foi de 10,4%, apresentando o sexo feminino valores superiores de excesso de peso e obesidade (23,2%; 11,3% respectivamente). No que respeita à caracterização dos recreios das escolas, a média de área total é de 706,16 m2, a área coberta de 157,58 m2, a área descoberta de 548,58 m2, e a àrea/criança de 11,52 m2. As balizas são os equipamentos que predominam nos recreios. Quando comparadas as escolas não se registam diferenças significativas relativamente à prevalência de obesidade (p=0,627). As correlações efectuadas, entre as variáveis independentes e prevalência de obesidade, foram significativas para as seguintes variáveis: presença de televisão no quarto da criança (r= -0,114;p=0,011) e área descoberta de cada escola (r=0,083; p=0,046). Relativamente às correlações entre as variáveis independentes e o IMC registaram-se as seguintes associações: existência de televisão no quarto da criança (r= -0,110; p=0,013), presença de internet em casa (r=0,091; p=0,041), tipo de habitação predominante na sua área residencial (r=0,100; p=0,028), existência de caminhos ou faixas de circulação próprias para ciclistas (r=0,097; p=0,033), taxa de criminalidade não permite os passeios nocturnos (r=0,112; p=0,008), área total de cada recreio (r=0,091; p=0,027), a área descoberta de cada recreio (r=0,107;p=0,009), o estado dos equipamentos (r=0,139; p=0,001) e as zonas de convívio em cada escola (r=0,119; p=0,004).

Relativamente às variáveis: existem caminhos ou faixas de circulação próprios para ciclistas, tipo de habitação predominante na sua área residencial, quarto do seu filho tem televisão, Internet em casa, taxa de criminalidade não permite os passeios nocturnos, área total e descoberta de cada escola, estado dos equipamentos e zonas de convívio, explicam 3,7% da variância do IMC (r2=0,037; p=0,05), do conjunto destas variáveis apenas a presença da televisão no quarto da criança está significativamente associado (β= -0,103; p= 0,032).

Embora se verifiquem várias associações significativas entre as variáveis do ambiente obesógenico e a prevalência de obesidade, a influência destas é reduzida, restringindo-se apenas à existência da televisão no quarto da criança.

(5)

Childhood obesity has becoming the epidemic of the century, regarded as multifactorial. The obesogenic environment is considered one of the factors that influence obesity, being, however, little studied. Thus, this research's main objective was to analyze the influence of environmental obesogenic factors in childhood obesity.

Our sample comprised a total of 597 students (317 girls and 280 boys) belonging to six schools of the 1st Primary School of Vila Real, with ages between 6.20 and 11.90 years (8.45 ± 1.14). For the evaluation of variables related to the House, the Area of Residence and School, it was used a questionnaire, included in the project "National Study and prevalence of childhood obesity in Portugal, changes from 2002 to 2009: evaluation of the effects of lifestyle and environment ", funded by the Foundation for Science and Technology (PTDC / SAU - ESA/70526/2006). The characterization of the playgrounds of schools was accomplished through a Registration Form and the AutoCAD program. The weight and height were collected and body mass index (BMI) was calculated. To estimate the prevalence of obesity were used cut values of Cole and colleagues (2000). An exploratory data analysis was conducted to characterize the playgrounds and the prevalence of obesity. To compare the prevalence of obesity among different schools, we used the X2. To examine the association between dependent and independent variables was used Pearson correlation coefficient (r). The influence of the variables involved in the prevalence of obesity was determined using linear regression. The significance level was 5% (p ≤ 0.05). Data processing was performed in the SPSS 14.0 software.

The prevalence of obesity for the total sample was 10.4%, with the female superior values of overweight and obesity (23.2%, 11.3% respectively). Regarding the characterization of the playgrounds of schools, the average of the total area is 706.16 m2, the covered area is 157.58 m2, open area is 548.58 m2, and area / child is 11.52 m2. The goals are the equipment that prevails during recess. Comparing the schools are not significant the differences regarding the prevalence of obesity (p = 0.627). The correlations made between the independent variables and the prevalence of obesity, were significant for the following variables: the presence of television in the child´s bedroom (r = -0.114, p = 0.011) and the uncovered area of each school (r = 0.083, p = 0.046). For the correlations between the independent variables and the BMI were verified the following associations: the availability of television in the child´s bedroom (r = -0.110, p = 0.013), the presence of the Internet at home (r = 0.091, p = 0.041), the type of housing predominantly in the residential area (r = 0.100, p = 0.028), the presence of roads or lanes for cyclists (r = 0.097, p = 0.033), the crime rate does not allow the evening walks (r = 0.112; p = 0.008), the total area of each recess (r = 0.091, p = 0.027), the open area of each recess (r = 0.107, p = 0.009), the state of equipment (r = 0.139, p = 0.001) and the recreation areas in each school (r = 0.119, p = 0.004).

In relation to the variables: there are paths or lanes specific for cyclists, predominant type of housing in their residential area, your child‟s room has a TV, Internet at home, the crime rate does not allow the evening walks, total and open of each school, state of equipment and recreation areas, explaining 3.7% of the variance in BMI (r2 = 0.037, p = 0.05) of all these variables only the presence of television in the child's room is significantly associated (β = - 0.103, p = 0.032).

While there are several significant associations between the variables in obesogenic environment and the prevalence of obesity, the influence of these is reduced by restricting only the existence of television in the child's room.

(6)

ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS ... III RESUMO ... IV ABSTRAT ... V ÍNDICE DE QUADROS ... VIII ÍNDICE DE ABREVIATURAS ... IX

I. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ... 13

II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA... 19

2.1 Contextualização da Obesidade ... 19

2.1.1 Obesidade em Portugal ... 19

2.1.2 Obesidade no Estrangeiro... 21

2.1.3 Métodos de Avaliação da Obesidade ... 25

2.1.4 As Consequências da Obesidade ... 28

2.1.5 As Causas da Obesidade ... 29

2.2 Ambiente Obesogénico ... 33

III. METODOLOGIA ... 39

3.1 Amostra ... 39

3.2 Definição das Variáveis ... 40

3.3 Instrumentos ... 40

3.4 Procedimentos ... 41

3.5 Tratamento Estatístico ... 42

IV. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ... 45

4.1 Análise Descritiva ... 45

4.1.1 Prevalência de Obesidade ... 45

4.1.2 Caracterização dos recreios... 45

4.2 Prevalência de obesidade segundo Área e Equipamentos dos recreios ... 47

4.3 Relação entre os ambientes obesogénicos e a prevalência de obesidade .. 49

4.3.1 Variáveis relativas à Casa ... 49

4.3.2 Variáveis relativas à Área de Residência ... 50

4.3.3 Variáveis relativas à Escola ... 50

(7)

5.1 Análise Descritiva ... 55

5.2 Prevalência de obesidade segundo Área e Equipamentos dos recreios ... 59

5.3 Relação entre os ambientes obesogénicos e a prevalência de obesidade .. 61

VI. CONCLUSÕES ... 67

VII. PROPOSTAS FUTURAS ... 71

VIII. BIBLIOGRAFIA ... 75

ANEXOS……….91

Anexo 1 – Questionário………...……….93

(8)

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1: Caracterização da Amostra por género ... 39

Quadro 2: Prevalência de Obesidade e IMC ... 45

Quadro 3: Caracterização dos Recreios... 46

Quadro 4: Características do recreio nas diferentes escolas ... 47

Quadro 5: Comparação da prevalência de obesidade entre as diferentes escolas ... 48

Quadro 6: Correlação entre as variáveis relativas à casa e as variáveis dependentes ... 49

Quadro 7: Correlações entre as variáveis relativas à área de residência e as variáveis dependentes... 50

Quadro 8: Correlações entre as variáveis relativas à escola e as variáveis dependentes ... 50

(9)

ÍNDICE DE ABREVIATURAS

% - Percentagem

= - Igual

≤ - Menor ou igual ≥ - Maior ou igual

AVC – Acidente Vascular Cerebral

ENDEF – Estudo Nacional da Defesa Familiar g - gramas

IMC – Índice de Massa Corporal Kg – Quilogramas

Kg/m2 – Quilograma por metro quadrado M – Média

m2 – Metros quadrados n – Tamanho amostral p – Nível de significância

PNSN – Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição PPV – Pesquisa sobre Padrões de Vida

r – Coeficiente de correlação de Pearson

SPSS – Statistical Package for the Social Sciences TV – Televisão

(10)
(11)
(12)
(13)

I. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

As sociedades modernas, especialmente aquelas que se encontram em transição para um estilo de vida ocidental, têm vindo a apresentar um aumento significativo da prevalência da obesidade, que em muitos locais apresentam características epidémicas .

Assim, do ponto de vista de Pi-Sunyer (2000), a obesidade é um desequilíbrio metabólico que conduz a uma excessiva acumulação de energia, em forma de gordura corporal, relativamente, ao valor indicado para o sexo, altura e idade.

Quando a obesidade surge na infância, geralmente perdura na fase adulta, agravando assim o problema, pois é durante os períodos críticos de desenvolvimento do tecido adiposo que se regista um aumento do número de adipócitos. Desta forma, e para a prevenção da obesidade, é importante a limitação de ganho de peso durante a infância e a adolescência, de maneira a evitar a proliferação das células gordas. Assim a obesidade em crianças e adolescentes está associada a graves problemas de saúde, como factores de risco associados a doenças cardiovasculares, metabolismo anormal da glicose, distúrbios gastrointestinais e hepáticos (afectando também os sistemas ósseo e esquelético) (Fisberg, 2006; Lawlor et al., 2005; Souza, Silva, Oliveira, & Shinohara, 2007; Tarraf, 2004). Outros autores evidenciam que na infância e adolescência, o excesso de peso pode determinar dificuldades de socialização (Sigulem, Taddei, Escrivão, & Devincenzi, s/d). Os distúrbios psicossocias, isolamento social, depressão, baixa auto-estima, associação de um corpo obeso a uma função social precária, problemas no sucesso académico e saúde e forma física reduzida, são consequências precoces da obesidade (Fisberg, 2006; Fisberg et al., 2004; Kunkel, 2007; Souza et al., 2007; Tarraf, 2004).

A hereditariedade/factores genéticos, bem como os estilos de vida/ influência do meio ambiente (aumento do sedentarismo, alimentação inadequada), são as duas causas apontadas, que mais influenciam a obesidade (Fisberg, 2006; Oliveira & Fisberg, 2003).

(14)

Deste modo, como o ambiente desempenha actualmente um papel importante na etiologia da obesidade, é essencial que possamos criar uma estratégia que atenue ou corrija alguns dos factores que a promovem (Lerario & Lottenberg, 2006), mas essas estratégias até então desenvolvidas para a prevenção da obesidade em geral, particularmente para a prevenção entre adolescentes e crianças, são ainda muito tímidas e não têm alcançado a efectividade desejada (Sichieri & Souza, 2008).

Assim, tenta-se parar essa epidemia por diversos meios, tais como o educacional, o comportamental e o farmacológico. Porém, observa-se que estes meios apresentam sucesso limitado. Apesar de necessários, tais meios ainda não são suficientes para reduzir a obesidade, já que a doença se instala num processo de ampla complexidade (Souza & Oliveira, 2008), fortemente influenciado por Ambientes Obesogênicos (Santana, Nogueira, & Santos, 2007), que se definem pela influência do ambiente nas escolhas, por parte dos indivíduos, de hábitos de vida que promovam o desenvolvimento da obesidade (Souza, Silva, Oliveira, & Shinohara, 2007).

Sendo estes Ambientes Obesogénicos, criados por diversos factores, tais como, a exposição a alimentação de elevado teor calórico, o reduzido número de oportunidades para realizar actividade física (Basado, 2000; Chopra, Galbraith, & Darnton-Hill, 2002; Sallis, 2004), a exposição a variáveis familiares potencialmente nocivas, isto é predisposição genética para excesso de peso ou obesidade (com a presença de vários obesos numa mesma família). Ou seja, a coexistência de factores comportamentais relacionados à ingestão alimentar e hábitos sedentários (ambiente obesogênico familiar) (Muller, 2001), e a exposição a uma cultura orientada para o consumo (Barnett, O'Loughlin, Gauvin, Paradis, & Hanley, 2006; Guedes, Guedes, Barbosa, Oliveira, & Stanganelli, 2006; Macdiarmid, 2002; Marcus et al., 2006; Mota et al., 2005; Padez, Fernandes, Mourao, Moreira, & Rosado, 2004; Silva, 2006), são influenciados pelo processo de industrialização e pelos avanços tecnológicos, que ocorreram no mundo contemporâneo (Lerario & Lottenberg, 2006).

Segundo Santana e colaboradores (2007), pode-se concluir que o risco de possuir excesso de peso e obesidade depende de um conjunto de factores

(15)

individuais (género, idade, prática de exercício físico e dieta) e contextuais (mobilidade, acessibilidade ao transporte público, segurança rodoviária, disponibilidade de diversos equipamentos e infra-estruturas – desportivas). Mostrando também, os resultados do mesmo estudo que ambientes desencorajadores da prática de actividades físicas, caracterizados por fraca disponibilidade de equipamentos desportivos, má acessibilidade ao transporte público e insegurança rodoviária, condicionam a prática de actividade física, sobretudo a proporcionada por saídas a pé e de bicicleta, com impacto no peso da população.

Esta redução dos níveis de actividade física, já é constatável em crianças e tende a aumentar com o avançar da idade (Barnett et al., 2006; Silva, 2006), assim um contexto propício para colmatar a situação descrita, poderão ser os recreios escolares (Mota et al., 2005; Silva, 2006).

Em suma, e segundo Póvoas (2007), por todos os riscos referidos anteriormente, a obesidade tornou-se num problema de saúde pública, principalmente nos países industrializados, onde se come pior, em maior abundância, mais depressa, menos vezes, e onde se consome mais calorias do que as que se gasta. Nesses mesmos países, a maior incidência de obesidade infantil encontra-se entre as populações de baixo rendimento, devido a falta de acesso a programas educacionais e ao consumo de alimentos de baixo custo, que têm maior valor energético. Já nos países em desenvolvimento, a obesidade infantil surge como um grave problema entre as classes sociais mais privilegiadas, pois o estilo de vida urbano favorece o sedentarismo (Zaboto, 2007).

Neste contexto o problema central do nosso estudo é: Qual a influência dos factores ambientais obesogénicos no aumento da prevalência da obesidade?

(16)

Face a este objectivo geral, foram definidos os seguintes objectivos específicos:

1. Determinar a prevalência da obesidade das crianças do 1.º Ciclo do Ensino Básico do Conselho de Vila Real;

2. Caracterizar os recreios das escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico do Conselho de Vila Real;

3. Comparar a prevalência de obesidade, tendo em conta as características dos recreios das diferentes escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico do Conselho de Vila Real;

4. Verificar a influência das variáveis casa, área de residência e escola na prevalência de obesidade.

(17)
(18)
(19)

II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Contextualização da Obesidade 2.1.1 Obesidade em Portugal

A obesidade é uma das enfermidades nutricionais que mais tem apresentado aumento da sua prevalência, tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento (Soares & Petroski, 2003).

Assim, são várias as definições que representam o conceito de obesidade mas, de todas as definições analisadas a que melhor traduz a ideia dominante quando se fala da mesma, é que esta é uma doença não transmissível, caracterizada por um distúrbio no estado nutricional provocado por um desequilíbrio prolongado e permanente entre a ingestão de alimentos e o gasto calórico (Souza, Silva, Oliveira, & Shinohara, 2007).

Na infância, obesidade é uma doença nutricional, não só pelo grande aumento na sua frequência mas também pelas suas consequências sociais, psicológicas e orgânicas (Zaboto, 2007), persistindo geralmente até à idade adulta, e associando-se a um maior aumento do número de adipócitos durante os períodos críticos de desenvolvimento do tecido adiposo (Fragoso & Vieira, 2000).

Em Portugal têm-se desenvolvido estratégias indicadas pela Rede de Especialistas em Nutrição e Actividade Física, que aconselha a Comissão Europeia, nomeadamente no que concerne à abordagem e delineamento do Plano Nacional de Combate à Obesidade (Rito & Breda, 2006).

O Plano Nacional de Saúde Português (2004-2010) integra-se dentro da estratégia de promoção da Saúde do programa comunitário, onde se desenvolvem vários programas, nomeadamente o Programa Nacional de Intervenção Integrada Sobre Determinantes da Saúde Relacionados com os Estilos de Vida e o Programa Nacional de Combate à Obesidade, que enquadra uma perspectiva de abordagem dos problemas ligados com a nutrição e a actividade física e constitui um quadro de actuação racional e

(20)

sensível aos diferentes níveis de intervenção, primária, secundária e terciária (Rito & Breda, 2006).

Vários estudos foram realizados em Portugal, com o intuito de perceber melhor o fenómeno da Obesidade, seguidamente descritos.

Maia e Lopes (2002), no seu estudo com 3742 crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico da Região Autónoma do Arquipélago dos Açores, registaram uma prevalência de excesso de peso de aproximadamente 15%. Verificaram igualmente que as frequências de excesso de peso têm uma tendência crescente até aos 10 anos de idade (10,6% aos 6 anos e 18,2% aos 10 anos). Os resultados demonstram que o excesso de peso não está dependente do género, não havendo diferenciação significativa entre meninos e meninas. No que respeita à prevalência de obesidade, os autores reportam que 12 % da população infantil padece desse problema.

Num estudo efectuado por Padez e colaboradores (2004) com cerca de 4500 crianças (7-9 anos de idade), foi demonstrado que 33,7% das raparigas e 29,4% dos rapazes tem excesso de peso ou obesidade. Sendo a prevalência de obesidade infantil de 31,5% de incidência.

Padez, Mourão, Moreira e Rosado (2005) avaliaram 2274 meninas e 2237 meninos entre os 7 e 9 anos de idade, naturais da cidade de Lisboa. Os resultados indicaram uma prevalência de obesidade e excesso de peso conjunta de 31,6%. As meninas apresentaram valores de obesidade e excesso de peso mais elevados do que os meninos (tais resultados não se confirmaram nas idades 7,5 (excesso de peso) e 9 (obesidade)).

Noutro estudo com crianças amarantinas, com 2801 crianças, entre os 6 e os 10 anos de idade, verificou-se que a prevalência de obesidade era baixa, entre os 4,1% e os 7,2%. Nesta pesquisa, evidenciou-se ainda que no sexo feminino a prevalência de excesso de peso era de 19,3% aos 9 e de 10,1% os 10 anos (Sousa, 2004) .

(21)

No estudo de Rodrigues e colaboradores (2006), em Viana do Castelo, com 4071 crianças entre os 6 e os 10 anos de idade, os autores concluíram que, quanto ao risco de excesso de peso e obesidade, cerca de 26 % dos rapazes e 28 % das raparigas apresentaram um peso acima do valor ideal para a sua altura, sendo 5,9 % dos rapazes e 5,5 % das raparigas identificados como obesos segundo os critérios do Índice de Massa Corporal (IMC).

Através do estudo da prevalência da pré-obesidade e da obesidade infantil na região do Algarve no decorrer do ano lectivo 2005-2006, tendo em conta dados obtidos em 15 escolas do 1º ciclo do Ensino Básico aleatoriamente seleccionadas, quer públicas quer privadas, os resultados do estudo realizado em parceria com mais duas instituições, revelaram que 30,2% de crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 9 anos apresentavam excesso de peso, sendo 10,2% obesas e 20,0% pré-obesas (Sancho, 2005-2006).

Na região de Sintra foi realizada uma pesquisa por Ferreira e Marques-Vidal (2008), com o objectivo de avaliarem a prevalência de excesso de peso e obesidade em 1225 crianças (581 meninos e 544 meninas) crianças na faixa etária dos 6 aos 10 anos de idade. Os resultados finais indicaram uma prevalência de excesso de peso de 23% e de obesidade 12,6%.

2.1.2 Obesidade no Estrangeiro

Um dos maiores desequilíbrios alimentares encontrados é o excesso de peso e a obesidade que surgem como o resultado da prática de estilos de vida não saudáveis. A verdade é que, o alerta só foi lançado quando os Estados Unidos da América, que sempre se apresentaram como os maiores prevalentes em obesidade, se viram envolvidos numa crise em 2002, quando as famílias de crianças obesas começaram a dar entrada com acções jurídicas contra as empresas de fastfood (Rito & Breda, 2006) . Estudos efectuados no mesmo país, referem que as crianças americanas de origem mexicana, africana e indígena (Mohawk), apresentaram uma média superior de gordura central comparativamente às crianças brancas (Goran & Gower, 1999). Também nos

(22)

Estados Unidos, em 2003-2004, 17,1% das crianças e adolescentes tinham excesso de peso e 32,2% dos adultos eram obesos. Os resultados do estudo revelaram um aumento da prevalência de excesso de peso nas crianças e adolescentes femininas de 13,8% em 1999-2000 para 16,0% em 2003-2004 e um aumento da prevalência de excesso de peso nas crianças e adolescentes masculinos de 14,0% para 18,2% (Ogden et al., 2006). Ainda de referir que o mesmo país, apresentou 27,6% a 33,2% de casos de obesidade, para cada um dos sexos (homens e mulheres, respectivamente) (Baskin, Ard, Franklin, & Allison, 2005).

Dentro do espaço europeu, o excesso de peso e a obesidade têm vindo a aumentar, a um ritmo acelerado, tendo representado um aumento de 10% para 40%, só na última década (Rito & Breda, 2006), 20% das suas crianças (uma em cada 5) tem excesso de peso e 4 milhões de crianças por ano juntam-se aos 14 milhões de crianças com excesso de peso, das quais 3 milhões são obesas. Na verdade são os países do Sul da Europa que estão na liderança da prevalência de obesidade infantil, onde Portugal se inclui. Entre 21 países, são as ilhas mediterrânicas de Malta, Sicília, Gibraltar e Creta e os países Portugal, Espanha e Itália, que apresentam mais do que 30% de crianças com excesso de peso e mais do que 10% com obesidade (Force).

Particularmente, Portugal e outros países do Sul da Europa evidenciam valores de excesso de peso nas crianças entre os 7-11 anos que ultrapassam os 30% (Force) e em crianças portuguesas dos 3 aos 6 anos já foi evidenciado 23,6% de excesso de peso, mostrando que esta situação começa cedo, agravando-se com a idade (Rito, 2001).

Em Portugal os resultados, publicados em 2006, num estudo epidemiológico a nível nacional, mostraram que, numa amostra de 6411 com idades compreendidas entre os 18 e 64 anos, entre 2003 e 2005 a população apresentava 38,6% de excesso de peso e 13,8% de obesidade. Entre 1995 e 1998 o excesso de peso era de aproximadamente 35% e 14,4% eram obesos (Carmo et al., 2006) .

(23)

Também em Espanha, a prevalência de obesidade é um problema que se tem vindo a agravar, pois os últimos dados revelam que cerca de 14,5% da população espanhola é considerada obesa (Aranceta et al., 2003; Martínez, Moreno, & Martínez-González, 2004).

Enquanto, o norte da Europa apresenta valores entre os 10 e 20% e nos países mediterrâneos a prevalência parece atingir taxas na ordem dos 20% a 40% entre as crianças (Lobstein & Frelut, 2003).

Comparando-se os dados do Estudo Nacional da Despesa Familiar (ENDEF), realizado em 1974/75 com os dados da Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV), realizada em 1996/97 somente nas regiões Sudeste e Nordeste (Estados Unidos, Brasil, China e Rússia), verificou-se um aumento na prevalência de excesso de peso e obesidade de 4,1% para 13,9% em crianças e adolescentes dos 6 aos 18 anos (Wang, Monteiro, & Popkin, 2002).

No Reino Unido em 2002, os últimos relatos indicavam que 23% dos homens e 25% das mulheres eram obesos (Rennie & Jebb, 2005).

Em 2003, num estudo efectuado no Canadá estimou-se na população adulta que 15% eram efectivamente obesos e que 33% tinha excesso de peso. Mas estes valores altos não estão apenas restritos à população adulta, pois 38% dos rapazes e 35% das raparigas, com idades entre os 2 e 11 anos tinham excesso de peso e eram obesos (Bélanger-Ducharme & Tremblay, 2004).

Também para os australianos a prevalência de obesidade parece não parar de aumentar. Estima-se segundo estudos recentes que 19% dos homens e 22% das mulheres são obesos e respectivamente 48% a 30% correm o risco de ficarem obesos (Thorburn, 2005).

No Brasil, verifica-se nas últimas décadas um processo de transição nutricional, constatando-se que entre os anos 1974/75 e 1989, houve uma redução da prevalência da desnutrição infantil (de 19,8% para 7,6%) e um aumento na prevalência de obesidade em adultos (de 5,7% para 9,6%) (Monteiro, Mondini,

(24)

Medeiros, & Popkin, 1995). Em adolescentes brasileiros, Neutzling e colaboradores (2000) por meio da análise dos dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN-1989), encontraram uma prevalência de 7,6% de excesso de peso. Também alguns estudos realizados em algumas cidades brasileiras, mostraram que o excesso de peso e a obesidade já atingiu 30% ou mais das crianças e adolescentes, como no Recife, alcançando 35% dos estudantes avaliados (Balaban & Silva, 2001). No trabalho de Leão e colaboradores (2003), mostrou-se uma prevalência de 15,8% de obesidade em 387 estudantes de Salvador, sendo que esta foi significativamente maior nas escolas particulares (30%) em relação às públicas (8,2%). O Brasil apresenta assim, 6% a 13% de casos de obesidade respectivamente para homens e mulheres (Baskin et al., 2005). Num estudo realizado na cidade de Santos (São Paulo), com toda a população (10821) de estudantes da rede pública e privada, dos 7 aos 10 anos de idade, 15,7% e 18,0% apresentavam excesso de peso e obesidade, respectivamente, sendo que os maiores índices apareciam em estudantes de instituições privadas (Costa, Fisberg, Maxta, & Sonderbergh, in press). Também num estudo no município de São Paulo (Brasil), com 2125 estudantes de duas regiões, foram observados 24% com excesso de peso ou obesidade (Nobre, Domingues, Silva, Colugnati, & Taddei, 2006).

A obesidade infantil tornou-se um tema bastante discutido na actualidade, por alcançar índices preocupantes, que segundo os dados fornecidos pela Sociedade Brasileira de Obesidade em 2004, revelam que a obesidade infantil duplicou nos últimos 10 anos e atinge hoje cerca de 5 milhões de crianças e adolescentes, o equivalente a 15% da população brasileira nesta faixa etária (Medeiros, 2004).

(25)

2.1.3 Métodos de Avaliação da Obesidade

Tendo em conta o descrito anteriormente, a prevenção da obesidade pediátrica constitui uma prioridade de saúde pública, sendo a avaliação da composição corporal um meio precioso na monitorização do crescimento e maturação da criança, facilitando a normalização ponderal e minimizando o risco de morbilidade no adulto (Sardinha & Moreira, 1999).

Para a determinação deste estado nutricional, pode-se utilizar vários métodos e equipamentos tecnológicos capazes de diagnosticar a obesidade, dentro dos quais, podem ser citados: o ultrassom, a tomografia computorizada, a ressonância magnética, o infravermelho, a impedância bioeléctrica, a densitometria radiológica de dupla energia, IMC, circunferências corporais e pregas cutâneas (Fragoso & Vieira, 2000; Silva, Neto, Raposo, & Carvalhal, 2007; Souza et al., 2007; Tarraf, 2004).

Perante a grande variedade de métodos de avaliação da composição corporal disponíveis, o principal problema que se levanta prende-se com a escolha daquele que melhor se adapta aos objectivos do estudo que se pretende desenvolver e às características da população a estudar. Visto que não existe nenhum método que seja ideal, antes de se tomar qualquer decisão, devem ponderar-se as vantagens e desvantagens associadas a cada técnica (Fragoso & Vieira, 2000).

Assim, segue-se uma breve descrição de algumas das técnicas de avaliação da composição corporal denominada por métodos directos (medem a composição química do corpo e dão uma estimativa da massa gorda total e dos vários componentes da massa livre).

Os Infravermelhos são o método de avaliação da composição corporal através da interactância por infravermelhos que se baseia no princípio da absorção e reflexão luminosa e na espectroscopia de infravermelhos. Assenta no pressuposto de que a composição química de um tecido determina as suas propriedades de absorção e reflexão sabendo que a gordura tem um elevado poder de absorção de infravermelhos, ao fazer incidir um espectro de radiação

(26)

de infravermelhos sobre o músculo bicipital de um indivíduo, e após a medição da intensidade e padrão da radiação reflectida, pode quantificar-se a quantidade de massa gorda existente. Assim, quanto maior for a absorção de energia, maior quantidade de massa gorda possui o organismo (Fragoso & Vieira, 2000).

A bio-impedância ou impedância bioeléctrica, é um método que se baseia no princípio de que os tecidos magros são melhores condutores do que os tecidos gordos, e como a gordura corporal não contém água, esta será, por isso resistente à corrente eléctrica (Gelbrich, Reich, Muller, & Kiess, 2005). Os eléctrodos são colocados nas extremidades do corpo, normalmente nas mãos e/ou pés, e uma pequena corrente passa para medir a resistência entre os eléctrodos (Eisenmann, Heelan, & Welk, 2004; Fragoso & Vieira, 2000; Silva et al., 2007).

A densitometria radiológica de dupla energia é um método não invasivo que se utiliza para medir o conteúdo mineral ósseo, a quantidade de gordura corporal e a quantidade de massa livre de gordura. Consistindo no principio básico de que o osso e os tecidos moles do corpo podem ser atravessados, até uma profundidade de 30 cm, por feixes de raio-X com energias diferentes, emitidos alternadamente, sendo a predição do conteúdo mineral ósseo, da massa gorda e da massa livre de gordura feita através da quantificação da quantidade de feixe de raio-X que é retardado ao atravessar aquelas superfícies (Eisenmann et al., 2004; Fragoso & Vieira, 2000; Sardinha & Moreira, 1999).

Outros métodos menos utilizados devido ao alto custo são: ultra-som e tomografia computorizada (Tarraf, 2004).

Por sua vez, os métodos indirectos baseiam-se em pressupostos derivados dos dados provenientes da análise antropométrica dos corpos (Lobstein, Baur, & Uauy, 2004), de seguida descritos.

O método antropométrico (circunferências corporais e pregas cutâneas), é pouco dispendioso, exigindo a sua aplicação bastante treino e precisão para serem obtidas medidas fiáveis (Eisenmann et al., 2004; Fragoso & Vieira, 2000;

(27)

Sardinha & Moreira, 1999; Silva et al., 2007; Souza et al., 2007; Tarraf, 2004), mas este método não é consistente em situações de obesidade mórbida (Souza et al., 2007). Especificando um pouco, e em termos de circunferências corporais, podemos referir o perímetro da cintura como marcador substituto da obesidade visceral, que tem sido utilizado para refinar a medição da obesidade com os riscos (Ashwell & Hsieh, 2005; Janssen, Heymsfield, Allison, Kotler, & Ross, 2002) uma vez que adiposidade central está fortemente correlacionada com o risco de desenvolver hiperinsulinemia em crianças (Freedman, Dietz, Srinivasan, & Berenson, 1999) e doenças cardiovasculares em adultos (Ross, Fortier, & Hudson, 1996). Este é medido com uma fita antropométrica entre a crista ilíaca e as costelas flutuantes (na zona de menor perímetro). Outra alternativa de avaliação da adiposidade central é a relação perímetro da cintura/ perímetro da anca, o perímetro da cintura está supracitado, o da anca é medido na protuberância máxima das nádegas (Lobstein et al., 2004). Por sua vez, o perímetro do braço habitualmente empregue para medir a gordura durante a infância, consegue uma boa estimativa da massa gorda corporal, apesar de não ser tão rigoroso como a avaliação das pregas de adiposidade subcutânea (Sardinha, Going, Teixeira, & Lohman, 1999).

O IMC (ou índice de Quetelet) é um bom indicador da estimação dos valores de gordura, sendo um instrumento seguro e fácil de obter (Silva et al., 2007; Souza et al., 2007; Tarraf, 2004). Da mesma opinião é Luís Anjos (1992), ao referir que apesar do IMC não indicar a composição corporal, a facilidade de sua mensuração e a grande disponibilidade de dados de massa corporal e estatura, além da sua relação com morbilidade e mortalidade, parecem ser motivos suficientes para a sua utilização como indicador do estado nutricional em estudos epidemiológicos em associação (ou não) a outras medidas antropométricas. De todos os métodos de avaliação referenciados, este método é o mais limitado para o cálculo da massa gorda (Arroyo et al., 2004; Eisenmann et al., 2004; Sardinha & Moreira, 1999; Schaefer, Georgi, Wühl, & Schärer, 1998), sobrestimando a percentagem de massa gorda nas crianças e adolescentes mais magros e subestimando nos mais gordos (Sardinha & Moreira, 1999). O IMC, embora apresente em adolescentes importante variação com a idade e com a maturidade sexual, tem sido considerado como

(28)

bom indicador de obesidade em adolescentes (Fonseca, Sichieri, & Veiga, 1998; Himes & Dietz, 1994) apresentando importante correlação com medidas de dobras cutâneas e com a densitometria (Revicki & Israel, 1986). Sabe-se que o IMC (dado pelo peso dividido pela altura ao quadrado) tem sido o principal indicador para a classificação da obesidade. Há forte correlação do IMC com as doenças associadas à obesidade, sendo que mais de 80% das mortes ocasionadas por essas doenças ocorrem em IMC ≥ 30 kg/m2 (Cuevas & Reyes, 2005). Estima-se que os obesos mórbidos (IMC ≥40 kg/m2

) apresentam uma mortalidade até 12,5 vezes maior que indivíduos não obesos (Birmingham, Muller, Palepu, Spinelli, & Anis, 1999; Brown et al., 2000; Carrasco et al., 2005; Cuevas & Reyes, 2005).

2.1.4 As Consequências da Obesidade

Na infância, existem riscos significativos associados à sobrecarga e à obesidade, afectando vários processos metabólicos designadamente ósseo e esquelético, pois acelera o crescimento e maturação respectivamente (Silva et al., 2007). Em termos metabólicos verifica-se uma hiperinsulinémia, diminuição da hormona de crescimento, prolactina e testosterona (Silva et al., 2007), existem ainda relações claras com o aumento do risco de hipertensão arterial, dislipidémia, síndrome de resistência à insulina, intolerância à glicose, diabetes mellitus tipo 2, doença coronária, hiperuricemia, doença de Gall Bladder, problemas cardiovasculares (acidente vascular cerebral - AVC, enfartes), doenças das vias biliares, alterações osteoarticulares, apneia do sono, problemas respiratórios, neoplasias (endométrio, mama, próstata, útero e cólon), complicações na puberdade e menarca precoces (Fisberg, 2006; Póvoas, 2007; Tarraf, 2004), alterações psicológicas (prejuízos na auto-imagem, depressão, isolamento social) (Sigulem et al., s/d; Zaboto, 2007). De referir ainda que, existem custos directos relacionados com cuidados de saúde, e indirectos referentes à perda de produtividade (Fisberg et al., 2004; Tarraf, 2004).

Dessa forma, a doença em si compromete a qualidade de vida e o bem-estar mental. A perda de peso, por sua vez, parece aliviar, em obesos, esse

(29)

mal-estar psicológico (Almeida, Loureiro, & Santos, 2001; Doll, Petersen, & Stewart-Brown, 2000). Assim, a prevenção da obesidade é mais fácil, menos cara, e mais efectiva do que o tratamento da obesidade estabelecida (Tarraf, 2004). Neste sentido, Fisberg e colaboradores (2004), referem que o cuidado com a obesidade em crianças e adolescentes deve incluir programas de prevenção e tratamento desenvolvidos para dar suporte a dietas saudáveis e actividades físicas, com o objectivo de prevenção e cura. Para Fernandes e Pereira (2006), as alternativas mais viáveis para se conseguir colmatar a falta de actividade física são, a adopção da prática de actividades desportivas nos tempos de lazer, a promoção de mais actividades extracurriculares nas nossas escolas e o desenvolvimento adequado de actividades físicas regulares.

Em suma, podemos ter em conta alguns pressupostos, pois

independentemente das características apresentadas à nascença (tipo morfológico) quando o processo de crescimento é controlado (ausência de ambientes obesogénicos), o indivíduo não se torna obeso; e que a manutenção do peso num adulto, após redução do mesmo, depende em parte do número de células adiposas presentes (Fragoso & Vieira, 2000).

2.1.5 As Causas da Obesidade

Existem várias razões que explicam o facto de muitas pessoas serem gordas, não se devendo só à circunstância de comerem de mais ou mexerem-se de menos (Póvoas, 2007), sendo de destacar as duas mais importantes, a hereditariedade/ factores genéticos e os estilos de vida/ influência do meio ambiente (aumento do sedentarismo, alimentação inadequada) (Fisberg, 2006; Oliveira & Fisberg, 2003).

Na infância, são de destacar também alguns factores determinantes, tais como o aumento desmedido do aumento gestacional, o desmame precoce e introdução inadequada de alimentos complementares, o emprego de fórmulas lácteas inadequadamente preparadas, distúrbios do comportamento alimentar e inadequada relação familiar (Fisberg, 2006).

(30)

Posto isto, o ambiente obesogénico, o relaxamento, a indolência e a preguiça alastram por toda a parte, constituindo uma séria ameaça tanto para a saúde como sobretudo para a realização de valores educativos e sociais. A inactividade corporal e mental, hoje reinante, convida portanto a aumentar e melhorar o índice do desempenho corporal e da condição física das pessoas. Essencialmente porque o ambiente obesogénico não pode ser subestimado; ao invés, exige que olhemos através e para além dele. A situação é tão alarmante que já há mais indivíduos com excesso de peso do que com fome (Bento, 2007).

Deste modo e referente à hereditariedade/ factores genéticos, já foram descobertos mais de 360 genes envolvidos na fisiopatologia da obesidade, porém apenas as mudanças genéticas não explicam o actual aumento da prevalência da obesidade, pois tais mudanças levam milhares de anos para se expressarem (Cuevas & Reyes, 2005). Tem sido demonstrado que a gordura corporal, a sua distribuição e a resposta a uma ingestão calórica exagerada é influenciada pela hereditariedade (Póvoas, 2007). Segundo alguns autores, se os pais (principalmente a mãe) forem obesos, maior será a probabilidade dos filhos serem obesos, e isto ocorrerá mais cedo (antes dos 6 anos de idade) (Damiani, Damiani, & Oliveira, 2002; Lake, Power, & Coleb, 1997; Tarraf, 2004). Também é consenso que cerca de 70% das crianças obesas se transformarão em adultos obesos e que boa parte delas têm pelo menos um dos pais portadores dessa distrofia. O risco para a obesidade é tanto maior quanto mais velha for a criança, mais intensa for a doença e quando ela estiver presente também em seus pais. Além disso, o adulto cuja obesidade se iniciou na infância apresenta maior dificuldade em relação à perda de peso (Zaboto, 2007). Segundo Silva e colaboradores (2007) os genes envolvidos na regulação do peso corporal aumentam a susceptibilidade para um individuo desenvolver obesidade quando exposto a determinadas condições ambientais que favorecem o equilíbrio energético positivo. Em suma, para Póvoas (2007) “Se os factores hereditários são a causa que explica uma grande percentagem de casos de obesidade, a tendência é para que eles aumentem. Porque se há cada vez mais obesos, cada vez haverá mais filhos obesos. E este maior

(31)

número de filhos obesos terá um dia um número ainda maior de filhos também com obesidade” (pp28).

Relativamente aos estilos de vida adoptados/ influência do meio ambiente, o papel do ambiente obesogênico, estimula hábitos inadequados em relação a práticas de alimentação e de actividade física (Francischi et al., 2000). No que concerne às práticas de alimentação e para Zaboto (2007), é necessária a presença de um ambiente favorecedor, pois a maior oferta calórica é o principal factor para o desequilíbrio da obesidade, ou por outras palavras, a obesidade advém do meio ambiente que encoraja a uma ingestão calórica exagerada, bem como a estilos de vida mais sedentários (Mourão-Carvalhal, 2000), nomeadamente a ver televisão (TV). Estando esta actividade, associada ao aumento do consumo de alimentos energéticos (ricos em calorias, gordura e açúcar) (Silva et al., 2007). Também para Souza e colaboradores (2007), os hábitos alimentares infantis são influenciados pelos anúncios e comerciais, que modulam preferências e hábitos pelos períodos anunciados, desfavorecendo a escolha por uma alimentação balanceada e variada. Assim sendo, e como a televisão tem um papel influente sobre os hábitos alimentares infantis e é uma actividade sedentária, tem sido acusada de contribuir para o aumento da obesidade infantil no mundo todo (Fiates, 2006; Silva et al., 2007). Também a carência de espaços para a realização de actividades desportivas, o medo da violência nas ruas, bem como os espaços vandalizados revelam-se inapropriados a uma utilização saudável, fazendo com que as crianças passem boa parte do tempo dentro das suas residências, em frente à TV, computadores e videojogos, (Santana, Nogueira, Santos, & Costa, 2007; Zaboto, 2007) também os períodos longos de aulas e tarefas escolares (Araújo, Teixeira, & Coutinho, 2009), fazem parte das actividades, que gastam pouca energia e favorecem o consumo de alimentos (Santana, Nogueira, Santos et al., 2007; Zaboto, 2007), tirando da criança a oportunidade de brincar e despender energia (Araújo et al., 2009). Posto isto, e no que se refere à prática de actividade física, a urbanização e o uso de automóveis, contribuíram para diminuir a mesma (Fisberg e tal 2004), levando assim à inactividade, caracterizando-se por um estado em que o movimento corporal é mínimo, representando um gasto energético muito próximo da taxa metabólica basal.

(32)

Essa diminuição do gasto de energia pode preceder ou mesmo acompanhar o desenvolvimento da obesidade, seja em crianças ou em adultos (Mello, Fernandez, & Tufik, 2000). Com esta mudança de hábitos, a relação entre o brincar num ambiente natural e o impacto no desenvolvimento motor das crianças ficou afectado, tornando as mesmas mais sedentárias e pobres a nível motor (Fjortoft, 2001). Deste modo, a actividade física é assim prescrita como um dos meios para prevenir e compensar os efeitos nocivos do modo de vida da sociedade dos nossos dias, não só ao nível do domínio físico (doenças hipocinéticas), como também ao nível do domínio psicológico na promoção do bem-estar dos indivíduos (Silva, 2002). Pois, tem sido demonstrado que a prática regular de exercício físico apresenta efeitos benéficos na prevenção e tratamento de várias doenças, onde se inclui a obesidade (Ciolac & Guimarães, 2004), parecendo esta, relacionar-se mais com a inactividade física do que com consumos calóricos elevados (Fragoso & Vieira, 2000; Steinbeck, 2001). Também foi mostrado que há relação inversa entre peso corporal e actividade física (Anderson, Vichitbandra, Qian, & Kryscio, 1999; Cuevas & Reyes, 2005). Apenas o exercício físico pode ser responsável por uma redução de 2% a 3% do IMC, e, associado com o tratamento dietético, essa redução é maior. Salienta-se que a realização de actividade física regular constitui um dos componentes mais importantes do tratamento, uma vez que promove, após o emagrecimento, a manutenção do peso corporal a longo prazo (Anderson et al., 1999; Cuevas & Reyes, 2005). Além disso, indivíduos fisicamente activos, mesmo com excesso de peso, apresentam menores taxas de doenças relacionadas com obesidade e mortalidade, comparativamente aos indivíduos sedentários (Francischi et al., 2000). Segundo Ciolac e Guimarães (2004), a inactividade física parece ser, nas sociedades industrializadas, o maior factor etiológico da obesidade, sendo observadas fortes associações entre essa doença e a inactividade física, e associações inversas entre actividade física e IMC. Contrariamente ao referido, Fisberg e colaboradores (2004), referem que não existe relação directa entre actividade física e obesidade, porem as evidências circunstanciais são bastante presentes para mostrar que o sedentarismo e a qualidade de vida inadequada determinam padrões que modificam o peso corporal. Também no estudo de Correia (2004), não se constatou associação entre o nível de actividade e o sedentarismo e

(33)

obesidade. O stress pode ser outra das causas de um aumento de peso, porque para além da ansiedade que desencadeia, leva muitas vezes a que as pessoas comam rápido e mal, sem grande selecção dos alimentos que ingerem (Póvoas, 2007). Ainda para Fisberg e colaboradores (2004) os baixos níveis de actividade física estão frequentemente associados ao crescimento da obesidade na maioria das populações.

Posto isto, e de acordo com alguns autores, as causas do aumento significativo da obesidade nos últimos 20 anos são predominantemente ambientais, com componente genético contribuindo de maneira reduzida (Hill & Peters, 1998; Jebb, 1999). Num ambiente sócio-económico onde os alimentos estão disponíveis em abundância e onde fisiologicamente as pessoas não têm necessidade de um controle efectivo do seu apetite, existem, obviamente, perigos concretos para a saúde relacionados com este estilo de vida (Padez, 2002). Tornando-se nítido que o desenvolvimento económico e a urbanização determinaram as modificações no estilo de vida da população, traduzidos por

padrões alimentares discutíveis e por modelos de ocupação

predominantemente sedentários, favorecendo o aumento de peso e, portanto, a obesidade. Dessa forma, observa-se uma maior prevalência dessa doença em países desenvolvidos e urbanizados (Oliveira & Fisberg, 2003).

2.2 Ambiente Obesogénico

A obesidade tem sido reconhecida como um fenómeno mundial que demanda acções de prevenção, apesar da sua causa ser multifatorial. Sabe-se que é importante examinar o papel dos hábitos, dos comportamentos alimentares e da actividade física da população como condicionantes na epidemia da obesidade, uma vez que o aumento da obesidade, observado nas últimas décadas, ocorreu na nossa genética (Crawford & Ball, 2002). Dessa forma, percebe-se que o ambiente também assume um importante papel na prevalência crescente dessa doença, porém não se sabe ainda dimensionar a interacção dos factores hereditários e ambientais no aumento do peso corporal (Salve, 2006). Lobstein (2004) defende que a obesidade é um problema sobretudo de natureza ambiental, pois o aumento da sua prevalência ocorreu

(34)

num período de tempo muito curto para poder ser atribuído a uma mutação genética.

Neste sentido, Ambiente Obesogênico diz respeito à influência que oportunidades e condições ambientais têm nas escolhas, por parte dos indivíduos, de hábitos de vida que promovam o desenvolvimento da obesidade (Swinburg, Egger, & Raza, 1999), nomeadamente no padrão alimentar considerado inadequado e na diminuição da prática de actividades físicas, triviais ou desportivas (Souza & Oliveira, 2008), que se ligam tanto à origem quanto à manutenção dessa doença (Oliveira & Fisberg, 2003; Swinburg et al., 1999).

Antigamente, as crianças ocupavam grande parte do seu tempo com brincadeiras ao ar livre, que implicavam grande gasto de energia (Joaquim, 2004). Mas com as dificuldades na realização de actividade da vida diária, inclusive nas consideradas vitais, a prática de actividade física ou mesmo de lazer torna-se quase inviável para os obesos, principalmente os mórbidos, e para piorar ainda mais, as condições externas (ambiente obesogênico) dificultam ainda mais a realização de actividades físicas e de lazer (Souza & Oliveira, 2008). Pois hoje em dia, a família, tem dificuldades em gerir o tempo livre das crianças, devido à incompatibilidade de horários, ao maior tempo livre disponível por parte das crianças, à distância entre o local de trabalho, zona escolar e zona de residência (Mourão-Carvalhal, 2000), levando a um aumento do uso dos automóveis, o que contribui para diminuir a actividade física (Fisberg et al., 2004).

Assim, com as pressões do quotidiano, com a consideração do jogo contrário ao trabalho, com a visão de que a escola é um espaço de trabalho e que brincar é uma perda de tempo, a criança parece estar a perder o seu espaço de brincar, tanto interna como externamente, além de ver entregue a julgamentos de mérito, o próprio acto de brincar (Silva, 2002) .

Posto isto, ainda são poucas as investigações sobre a influência de espaços abertos e a disposição dos objectos sobre os comportamentos infantis e seus

(35)

relacionamentos (Fredizzi, 2002). Porém, esses espaços têm vindo a tornar-se cada vez mais importantes para o desenvolvimento infantil, já que com o crescimento das cidades e da violência urbana, são nos pátios escolares que as crianças podem brincar, socializar e interagir com a natureza (Elali, 2003).

Sendo o recreio também referido, por entidades no domínio da saúde pública, como um contexto importante no âmbito da promoção da actividade física em crianças e jovens (Marques, Neto, Angulo, & Pereira, 2001), apresentando-se como uma excelente oportunidade de promoção da actividade física, bem como, uma oportunidade de acumular a mesma ao longo do dia (Mota et al., 2005). Neste sentido, o recreio representa um tempo e um espaço de promoção da saúde (Ridgers, Stratton, & Fairclough, 2005).

Segundo Carvalhal e colaboradores (2009), os recreios escolares são os espaços privilegiados para o aumento da actividade física, podendo apontar a área do recreio por criança e o tipo de equipamentos como factores importantes na redução da obesidade infantil.

Fernandes (2006), constatou ainda no seu estudo, que o recreio era ocupado de forma diferente pelos meninos e meninas, sendo os meninos os que utilizam um maior número de espaços e realizam mais actividades, enquanto as meninas permanecem num mesmo local por mais tempo, executando a mesma brincadeira. Para a mesma autora, a idade também parece influenciar a escolha dos locais, sendo as idades menores mais individualistas e exploradoras, enquanto as crianças com mais idade, costumam preferir em grupos com longa duração.

Contudo, e como referem Pereira e Neto (1999), na escola, onde a criança passa uma boa parte do dia, existem longos períodos de tempos livres sobre os quais é urgente reflectir e tomar medidas: a nível do melhoramento dos espaços de recreio e quanto à oferta de práticas diversificadas.

Por sua vez Elali (2002), desenvolveu uma pesquisa onde verificou que o ambiente para educação infantil não tem sido planeado adequadamente e que

(36)

as áreas livres são, geralmente escassas e com poucos equipamentos e recursos naturais.

Da intervenção no recreio escolar nos níveis de actividade física em crianças de ambos os sexos (6 e os 12 anos), são de referir os seguintes resultados, a intervenção resultou num aumento significativo de todos os valores percentuais médios da actividade física total em ambos os sexos e grupos etários. Este estudo concluiu que se estas crianças beneficiaram com a intervenção no recreio escolar, poderá ser benéfica a sua implementação noutras escolas. O recreio escolar afigura-se como um espaço privilegiado de promoção de hábitos de actividade física nas crianças, não devendo por isso ser negligenciado (Lopes, Lopes, & Pereira, 2006). Também Stratton e Mullan (2005), concluíram que a intervenção nos recreios, mesmo que seja de baixo custo (pintura dos equipamentos já existentes nos recreios), aumentou os níveis diários de actividade física das crianças. Os resultados de outro estudo, indicam que relativamente a alterações simples, como o fornecimento de equipamento solto, corte e pintura de marcações de linhas de jogo e aumento da presença do professor no recreio, são factores susceptíveis de proporcionar oportunidades para o aumento da actividade física (Willenberg et al., 2010). Em suma, as intervenções para aumentar a actividade física de crianças, no parque infantil são garantidas (Ridgers et al., 2005).

Assim sendo, é importante o planeamento urbano na prevenção da obesidade, nomeadamente, as questões relativas à mobilidade, segurança, trânsito e equipamentos desportivos (Mourão-Carvalhal, Padez, & Coelho, 2010), pois a qualidade de vida das crianças está associada à existência de pátios escolares amplos e diversificados, podendo facilitar o desenvolvimento social, cultural e intelectual (Fredizzi, 2002).

(37)
(38)
(39)

III. METODOLOGIA

A elaboração deste estudo teve por base a pesquisa de informação através da recolha bibliográfica, em bibliotecas e online, e da aplicação de um questionário que permitiu caracterizar a amostra, as variáveis relativas à casa, área de residência e escola. Os dados das medições e caracterizações das áreas dos recreios, foram registados numa ficha construída para o efeito.

O paradigma que serviu de base à elaboração desta investigação, foi o quasi-experimental, por ser impossível ao investigador aplicar todos os aspectos do método experimental (estudo realizado fora do contexto laboratorial). Em estudos deste tipo em que não é possível controlar todas as variáveis em estudo, é necessário algum cuidado na interpretação dos dados e das conclusões obtidas.

3.1 Amostra

A nossa amostra foi constituída por um total de 597 alunos (317 raparigas e 280 rapazes) pertencentes a 6 escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico de Vila Real. Os alunos que frequentam estas escolas apresentam idades compreendidas entre os 6,20 e os 11,90 (8,45 ±1,14).

No quadro que se segue, é apresentada a caracterização da amostra segundo o género/idade decimal.

Quadro 1: Caracterização da Amostra por género

Idade Decimal

M±DP Mínimo Máximo

Masculino 8,58± 1,15 6,30 10,90

Feminino 8,33±1,12 6,20 11,90

Total 8,45±1,14 6,20 11,90

No quadro 1, podemos verificar que o sexo masculino é o que apresenta maior média de idade decimal (8,58± 1,159).

(40)

3.2 Definição das Variáveis

De acordo com os objectivos deste estudo, definimos como variáveis dependentes a Prevalência de Obesidade (Normoponderal, Sobrepeso e Obesidade) e o IMC.

Relativamente às variáveis independentes, são de referir o Género, as variáveis relativas à Casa, à Área de Residência e à Escola.

3.3 Instrumentos

Para a recolha de dados, utilizou-se os seguintes instrumentos:

Variáveis Individuais: Balança electrónica com precisão às 100 g; Estadiometro graduado ao milímetro.

Variáveis relativas à Casa e à Área de Residência: Questionário, que está incluído no projecto “estudo nacional e prevalência de obesidade infantil em Portugal, alterações de 2002 a 2009: avaliação dos efeitos do estilo de vida e do ambiente”, financiado pela Fundação para a ciência e tecnologia (PTDC/SAU – ESA/70526/2006) (ver anexo 1).

Deste questionário foram utilizados os dados relativos à idade e sexo, para caracterização da nossa amostra.

No que respeita à variável Casa são de referir as seguintes questões utilizadas: tipo de habitação onde reside, espaço que a casa contém, se o quarto é individual ou partilhado, número de televisões, computadores fixos e portáteis existentes em casa e quarto da criança, existência de Internet, playstation e gameboy.

Relativamente à variável Área de Residência são de mencionar as questões: Instalações existentes e utilizadas; tipo de habitações predominante na área de residência; muitas lojas, comércios e mercados estão a uma distância de rápido acesso a pé; distância de casa a uma paragem de transportes públicos (10-15min); existem passeios na maior parte das ruas da área residencial; existem caminhos ou faixas de circulação próprias para ciclistas; existem várias zonas de recreação e lazer; taxas de criminalidade não permitem os passeios nocturnos; trânsito nas ruas torna desagradável e perigoso andar a pé; existem muitas pessoas a praticar exercício físico; existem coisas interessantes para

(41)

apreciar enquanto se passeia; número de veículos motorizados existentes na minha família; existem muitos cruzamentos na minha área residencial; os passeios estão em bom estado de conservação e não estão obstruídos; as faixas para ciclistas estão em bom estado e não estão obstruídas; o trânsito existente torna difícil e desagradável andar de bicicleta; taxa de criminalidade não permite fazer passeios diurnos em segurança; existem muitos locais próximos da minha casa onde posso ir a pé.

Variáveis relativas à Escola: Máquina Fotográfica (KodaK – EasyShare C340) utilizada para fotografar os espaços de recreio das EB1º Ciclo de Vila Real; Ficha de Registo dos espaços e equipamentos das EB1º Ciclo de Vila Real, construída com base nos parâmetros e critérios sugeridos por Azevedo (2008), estando a mesma dividida em duas grandes partes: caracterização dos espaços (dimensões – área/m2, tipo de pavimento, zonas de sombra e zonas de convívio/repouso) e equipamentos (de exercício físico, experiência sensorial, integrado, construção, outro equipamentos e sem equipamentos), para além disto, a conservação do material (bom e mau), também foi tido em conta; Programa de desenho auxiliado por computador utilizado foi o AutoCAD (versão 2008).

3.4 Procedimentos

Variáveis Individuais

Como medidas antropométricas foi recolhido o peso e altura de todas as crianças pertencentes à amostra. Sendo estas efectuadas de acordo com as técnicas e medição indicadas por Lohman, Roche e Martorell (1988) sucintamente referidas de seguida:

Peso e Altura: O avaliado estará descalço, para ser pesado em roupa interior com braços colocados lateralmente ao longo do corpo. Cabeça da criança, posicionada de acordo com o plano de Frankfort - linha da visão perpendicular ao corpo, calcanhares, nádegas e ombros junto à parede. Ao longo das medições será pedido às crianças que permaneçam imóveis. Foram efectuadas três medições, com intuito de colmatar possíveis erros na leitura da altura e peso.

(42)

Como indicador para definir e classificar os indivíduos, relativamente à relação existente entre o seu peso e altura foi utilizado o IMC (IMC=Peso/Altura2). Recorrendo aos valores de corte de Cole e colaboradores (2000), de acordo com a idade e género, a amostra foi categorizada em três grupos: normoponderais, excesso de peso e obeso.

Variáveis relativas à Casa e Área de Residência

Foi aplicado um questionário, para a recolha dos dados relativos à casa e área de residência, preenchido pelos pais.

Variáveis relativas à Escola

No que respeita aos recreios, estes foram medidos e calculada a área total, descoberta e coberta. Posteriormente os dados foram introduzidos no programa AutoCAD (versão 2008) para o tratamento e desenho das plantas. A área disponível por criança foi calculada dividindo a área total pelo número de alunos que frequentam a escola.

Relativamente à caracterização dos recreios, esta foi efectuada através de observação directa com o registo dos equipamentos existentes, estado dos equipamentos, tipo de pavimento, zonas de sombra e zonas de convívio, numa ficha construída para o efeito (ver anexo 2).

3.5 Tratamento Estatístico

Realizou-se uma análise exploratória dos dados (cálculo da média, mediana, desvio padrão, valor máximo e mínimo) para a caracterização dos recreios e prevalência de obesidade. Para comparar a prevalência de obesidade entre as diferentes escolas, utilizou-se o X2. Na verificação da associação entre as variáveis dependentes e independentes foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson (r). Para verificar a influência das variáveis do envolvimento na prevalência de obesidade foi utilizado a regressão linear. O nível de significância utilizado foi de 5% (p≤0,05). O tratamento de dados foi efectuado no software SPSS 14.0.

(43)
(44)
(45)

IV. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo é constituído por quatro análises, a descritiva, a comparativa, a correlacional e a regressão linear. De seguida descritas pormenorizadamente.

4.1 Análise Descritiva

4.1.1 Prevalência de Obesidade

Analisando o quadro 2, podemos referir que 67,1% das crianças são normoponderais, 22,6% têm excesso de peso e 10,4% são obesas.

Quando analisamos estas prevalências, tendo em conta o sexo, verificamos que as raparigas apresentam maiores prevalências de excesso de peso (23,2%; 21,9%) e de obesidade (11,3%; 9,5%), comparativamente aos rapazes.

Quadro 2: Prevalência de Obesidade e IMC

Prevalência de Obesidade IMC

Normoponderal Excesso de Peso Obesidade

Frequência Percentagem Frequência Percentagem Frequência Percentagem M±DP

Feminino 204 65,6% 72 23,2% 35 11,3%

Masculino 188 68,6% 60 21,9% 26 9,5%

Total 392 67,1% 132 22,6% 61 10,4% 17,97±2,83

4.1.2 Caracterização dos recreios

O quadro 3 apresenta, a estatística descritiva relativa à caracterização dos recreios, das 6 escolas envolvidas na investigação, para a amostra total. Através desta análise é possível caracterizar os recreios ao nível de áreas, dos equipamentos, tipo de pavimento, zonas de sombra e zonas de convívio.

Referências

Documentos relacionados

Como o predomínio de consumo energético está no processo de fabricação dos módulos fotovoltaicos, sendo os impactos da ordem de 50 a 80% nesta etapa (WEISSER,

Diante disto o objetivo deste trabalho foi avaliar a extração de antocianinas a partir do repolho roxo (Brassica oleracea), em diferentes condições de pH, temperatura e

Como todos os outros seres humanos, o operador também é construtor da realidade e carrega consigo “experiências vividas, ideologias e valores que amoldam a sua

As medidas antiparasitárias devem está voltadas principalmente para os animais jovens de até 2 anos de idade, com tratamento a cada 30, 60 ou 90 dias conforme infestações.

Tendo como parâmetros para análise dos dados, a comparação entre monta natural (MN) e inseminação artificial (IA) em relação ao número de concepções e

Quando contratados, conforme valores dispostos no Anexo I, converter dados para uso pelos aplicativos, instalar os aplicativos objeto deste contrato, treinar os servidores

A proporçáo de indivíduos que declaram considerar a hipótese de vir a trabalhar no estrangeiro no futuro é maior entle os jovens e jovens adultos do que

A tendência manteve-se, tanto entre as estirpes provenientes da comunidade, isoladas de produtos biológicos de doentes da Consulta Externa, como entre estirpes encontradas