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A electrotherapia e suas vantagens nas doenças cirurgicas

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Academic year: 2021

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SDÀS VANTAGENS

NAS

DOENÇAS (MTJBGICAS

THESE

APRESENTADA

ESCOLA MEDICO-CIRURGICA DO PORTO

PARA SFR DEFENDIDA

PELO ALUMNO DO QUINTO ANNO

Ah%(min %ivào- do 'enfeito J^MM

PORTO

TYPOGRAPHIA DE JOSÉ PEREIRA DA SILVA & F.'

Praça de Santa Theresa n." 63 1865

(2)

■7^^-S s"

ESCHOLA MEDICO-CIRURGICA DÛ POETO

Director

O Exc.mo snr. Conselheiro Francisco d'Assis Sousa Vaz, Lente jubilado

Secretario

O illm." snr. Agostinho Antonio do Souto

CORPO CATHEDRATICO

Lentes proprietários

Os illm.0â e exm." snrs.: y _

1.* Cadeira—Anatomia Descriptiva e Geral Luiz Pereira da Fonseca. „ / / ­ ^ '■*** ­ ' '<- S^ 2.. , —Physiologia experimental José d'Andrade Gramacho.

3.' » —Historia natural dos medicamen­ X' "s^J/ tos. Materia medica João Xavier d'Oliveira Barros '/

4.' » —Pathologia geral. Pathologia ex­ ­ ^ -^ terna e Therapeutica externa.... Antonio Ferreira Braga. , ? /v­>^ « ^ — » s^/x 3.* • —Operações cirúrgicas e appare­

lhos, com Fracturas, Hernias, e

Luxações Caetano Pinto d'Azevedo. 6.» » —Partosj moléstias das mulheres

de parto e dos recem­nascidos... Manoel Maria da Costa Leite. 7.* » —Pathologia interna, Therapeutica

interna e Historia medica Dr. Francisco Velloso da Cruz. 8/ » —Clinica medica Antonio Ferreira de MacedoPinto.

9.' » —Clinica cirúrgica A. Bernardino d'Almeida—Presid. -í ^ ^ ^ ^ „ ^ ^ .

10.' » —Anatomia Pathologica. Deformi­

dades, e Aneurismas José Alves Moreira de Barros. ii.« > —Medicina legal. Hygiene privada

e publica e Toxicologia geral.... Dr. José Fructuoso Ayres de Gou­ vêa Osório.

Lentes substitutos '

i Dr. José Carlos Lopes Junior. . x ' ■& ^-- ­ ­ ^/-*?. " ^ Secção medica j P e d r o Augusto Dias.

„ _ i Agostinho Antonio do Souto. Secção cirúrgica | j0g0 P e r e i r a Dias Lebre.

Lentes demonstradores

Secção medica Vaga. Secção cirúrgica Miguel Augusto Cesar d Andrade.

A Escola não responde pelas doutrinas expendidas na dissertação e ennun­

ciadas nas proposições. •

(3)

A SEUS PAES

EM TESTEMUNHO

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ACHLLÏÏSTRISSIMO SENHOR

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A ELECTROTHERAPY

E SUAS V A N T A G E N S NAS D O E N Ç A S C I R Ú R G I C A S -as^fes-K s a s o ç o M n c s T O » x c o

L'etùd de l'art d'electrisatiôn localisée nous parait aujourd'hui le complement de l'éducation médicale.

(Thérapeutique et Matière Médicale de TROUSEAU E

PIDOUX)

À electricidade, essa grande descoberta nas amplas regiões da sciencia, onde a intelligencia e o esforço humano andavam casados, e como que lidavam simultaneamente para ampliar-lhe os já de si vas-tíssimos horisontes, viera também estender o seu benéfico influxo so-bre a medicina.

A Europa, e o mundo saudara com vivace enthusiasmo a por-tentosa descoberta da electricidade, e os homens da sciencia, inspirados pelo amor da fama e da gloria não se hão poupado a esforços para tor-nar mais ampla a esphera das suas applicações. O vapor e a ele-ctricidade, os dous grandes moveis do progresso e da civilisação, vie-ram tornar por assim dizer nulla a palavra—distancia—. A applicação da primeira descoberta apregoara-a ao mundo o silvo da locomotiva, e a applicação da segunda denunciara-se pela transmissão rápida do pensa-mento a distancias immensas: vantagens estas, que nos trouxeram os progressos da physica: mas as sciencias medicas também progrediam, e era necessário que ellas auferissem os mesmos lucros, quando não mais. Veio pois a electrotherapia (applicação da electricidade á therapeutica) enriquecer de factos curiosos, e de fructiferas descobertas os annaes das sciencias medicas, e fazer com que no catalogo dos grandes vul-tos apparecessem Etienne Gray em 1730, Nollet em 1743, Hallé em

1744, Mambray e Nebel em 1750, Thomaz Lane e outros, que tão po-derosamente concorreram para a edificação da electricidade medica.

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Em 1780 seguiu­se a tão simples quanto celebre experiência de Galvani, que fora por assim dizer a primeira pedra, sobre que a porvindoura sciencia devera firmar o monumento commemorativo dos seus esforços e lucubrações sobre este objecto.

Apoz esta epocha as observações e experiências multiplicarão­se, mas ou por que umas não parecessem completas e outras conduzissem a resultados contrários, é certo que todas as consequências theoricas eram as mais das vezes postas em duvida.

Seria longo enumerar aqui todos os trabalhos que desde o principio d'esté século tem vindo a lume, acerca da electricidade sobre o orga­ nismo. Antes da descoberta da pilha voltaica, já se haviam feito as pri­ meiras applicações do galvanismo: principiaram estas por se applicar sobre as partes enfermas placas metallicas de natureza différente, reuni­ das por um arco conductor, notando­se bem depressa a acção d'esta corrente sobre o systema nervoso tanto o motor, como o sensitivo.

Humboldt em 1797 depois de numerosas experiências aconselhou o emprego do galvanismo contra différentes moléstias, entre estas as dos olhos e sobre tudo as paralysias. Sanitati integrœ restituti sunt. Succediam­se as observações e as experiencias,e dia apoz dia annunciavam­ se novas descobertas, novos resultados, cooperando os physicos mais distinctes para lançar uma base indestructivel ■ á electricidade medica.

Foi assim, que Bichat principiou os seus estudos sobre os cadá­ veres humanos, que Aldini de Boulogne prendeu a attenção do mundo scientifico, experimentando em cadáveres de suppliciados, e Gapengies­ ser publicou uma obra sobre o galvanismo, enriquecendo­a de nume­ rosas observações, que mais tarde foram contestadas.

A descoberta das correntes d'inducçâo devida a Faraday em 1832, quasi que encaminhara, como por uma nova senda, a electricidade me­ dica.

Masson foi o primeiro,que vulgarisou o emprego das correntes d'indue­ çao na therapeutica, fazendo perder o prestigio ás correntes continuas. Estão ellas hoje quasi abandonadas dos medicos, que as julgaram insuf­ íicientes para obter a cura das doenças nervosas. Como suppôr na verdade, que um agente, qne não causa nem commoções, nem dores, nem determina alguma acção apparente e immediata, possa produzir úteis resultados? 0 homem aprecia sempre tudo aquillo, que impres­ sionna vivamente quer os seus sentidos, quer a sua imaginação: eram­lhe mister aqui abalos,movimentos convulsos, em summa que podesse dizer ao paralytico==LeM»ta­í(! e caminha* Mas a natureza não procede assim, obra lenta e regularmente: olhemos para o convalescente, e veremos que elle não passa subitaneamente da doença á saúde, pelo contrario é gradualmente, que vae readquirindo as forças perdidas, e chega a uma

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cura completa sem suspeitar das mudanças felizes, que se operaram no seu organismo.

Modernamente tem sido Duchenne, quem mais tem preconisado a electrotherapia, já pelas applicações que d'ella tem feito, já pela sua obra intitulada=electrisação localisada.=, bello exposto de to-dos os trabalhos mais importantes e conscienciosos feitos sobre este asumpto, augmentado de novos factos pathologicos e therapeuticos. Se nôs propozessemos acompanhar n'este resumo histórico as différentes phases, porque ha passado a electricidade medica desde Galvani até Duchenne e Desparquets, teríamos de consagrar longas paginas á his-toria da electrotherapia, tantas e tão variadas hão sido as observações e experiências ja pathologicas, já therapeuticas, que desde o principio d'esté século tem chamado a attenção dos homens da sciencia.

Hoje graças ao desenvolvimento progressivo da medicina e da physi-c a l uso da elephysi-ctriphysi-cidade mediphysi-ca tem-se extendido a grande numero de doenças, e é raro que nos Hospitaes ainda os menos abastecidos, se não encontrem apparelhos eléctricos mais ou menos perfeitos, para se fazerem vantajosas applicações, de muitas das quaes daremos contas nas paginas d'esté trabalho. Vai n'isto a razão por que escolhemos es-te assumpto como objecto de these.

Concluiremos por dizer como Schutzenberger: «em medicina a arte d'observar não se aprende somente nos últimos annos da escolaridade me-dica; obra d'uma vida inteira, é necessário cultival-a o mais cedo possível. Ars medica est tota in observationibus, et expenentia.

i m t W e A . J M C M l C J X . 0

O medico, que enceta a sua carreira clinica, a todo o mo-mento se vê rodeado de mil embaraços, e difficuldades: assim devia ser, visto que a theoria tão bella e attractiva nos livros á cabeceira do doente é um guia bem infiel, e que o eixo sobre que toda e qualquer sciencia gira, não vem a ser mais que uma reunião de palavras. Tire-mos daphvsica, dachimica, etc. as palavras affinidade, attracçao, magne-tismo, electricidade etc. e todas estas sciencias baquearão.

A medicina, como a mais vasta, e complexa de todas as sciencias está no mesmo caso. Que vem a ser irritabilidade, sensibilidade, sympa-thia, idyosincrasia, contractilidade, senão palavras inintelligiveis, mas que por isso mesmo explicam tudo ? ,.-. .

Na electrotheraphia (applicacão da electricidade a therapeutica) e a palavra electricidade que prima entre todas pela sua inintelligence,

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— 8 —

explicando ao mesmo tempo tudo, é litteralmente o alpha, e o omega d'esta parte da sciencia.

Este trabalho, procedente em grande parte do livro de Desparquets, intitulado a electricidade applicada ao tratamento das doenças, e do de Duchenne que tem por epigraphe=electrisação localisada—será divi-dido em 10 capitulos: 1.° Leisgeraes da electricidade; 2.° Apparelhos que produzem a electricidade statica, e a dynamica; 3.° Reophoros e peças accessorias dos apparelhos excitadores; 4.° Electricidade physio-lógica; 5.°Methodos d'electrisaçao; 6.° Modos d'admmistrar a electrici-dade; 7.° Applicações therapeuticas e seus processos operatórios; 8.? Applicações cirúrgicas; 9.° Applicações obstétricas; 10.° Applicações

medicas. ,

CAPITULO I

LEIS «ÍEKAES ».% E L E C T R I C I D A D E

Os mais antigos phi losophos gregos já conheciam a propriedade, que possue o âmbar amarello, de esfregado attrahir os corpos leves.

Thaïes de Milet um dos sete sábios da Grécia, explicava este fa-cto suppondo o âmbar animado, e como em grego âmbar se chama

electron, d'ahi veio a palavra electricidade.

No século XVI Gilberto, medico da rainha Isabel de Inglaterra, desco-briu que um grande numero de substancias taes como o enxofre, vidro, différentes resinas, etc., etc., etc. adquiriam pela fricção as mesmas pro-priedades que o âmbar amarello.

Um dos meios mais simples para verificar se um corpo se acha ou não electrisado pela fricção, é o pêndulo eléctrico, pequena bola da medulla de sabugeiro suspendida por um fio de seda.

Todos os corpos da natureza em relação á electricidade se dividem em dous grandes grupos, bons e mãos conductores.

Os corpos eléctricos isoladores, ou não conductores da electricidade,

como o vidro, a resina, a seda etc. friccionados electrisam-se mesmo tendo-os na mão. Considera-se a electricidade como uma espécie-; de

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fluido que se move difflcilmente na superficie dos corpos não conductores e que não passa do local onde a fricção a desenvol-veu.

Os não eléctricos ou conductores da electricidade, taes

co-mo os metaes,. a madeira húmida, o vapor d'agoa, etc., ao contrario é necessário isolal-os para se electrisarem. O' corpo, hu-mano também é um bom conductor da electricidade, e tanto que uma haste metallica presa na mão e depois friccionada não pode adquirir alguma propriedade eléctrica, por que toda quanta se fôr desenvolvendo vae-se escoando; pelo corpo do experimentador até ao solo, que como bom conductor é chamado por isso reservatório

com-mum.

Comprehende-se pois, por que um corpo conductor nunca, se ele-ctrisa pelo attrito,.a não ser que esteja isolado.

Também é mui fácil reconhecer, que a electricidade desen-volvida sobre a resina, esfregada com uma pelle de gato, tem propriedades mui outras, das que produz o vidro esfregado com a fla-nella.

Supponhamos que se aproxima d'um pêndulo eléctrico um páo de lacre, friccionado com uma pelle de gato; este pêndulo é vivamente

attrahido, ficando até em contacto por alguns momentos; depois

aflãs-ta-se, sendo constantemente repellido, quando se aproxima de novo o pau de lacre. Traduz-se este facto por dizer, que dous corpos carrega-dos d'uma mesma electricidade se repellem; pois "que o pêndulo du-rante o contacto com a resina, recebeu uma parte da electricidade d'esta.

Repetindo a mesma experiência, sobre um segundo pêndulo elé-ctrico, mas agora com um tubo de vidro esfregado comflanella, obtem-se um resultado idêntico, por outra, o pêndulo attrahido primeiro pelo vidro, será em seguida repellido; mas já não assim, ao aproximarmos o pau dê lacre ao pêndulo repellido pelo vidro, por que então ha uma viva attmcção. Assinta resina attrahe o que o vidro repelle, e reci-procamente..

Foram estas .experiências feitas em 1733 pelo physico Duffay, que levaram todos os.outros a distinguir dous fluidos eléctricos dotados de propriedades oppostas, o fluido positivo ou vítreo, e o negativo ou

resi-noso, os quaes sendo do mesmo nome se repellem, e do nome

contra-rio attrahem-se.

Todos os-corpos em repouso, isto é, não snbmettidos ás circums-tancias proprias para o desenvolvimento de sna electricidade, não pos-suem algum poder de attracção ou repulsão, por que seus dous fluidos

se acham reunidos, e neutralisados no estado latente, mas á menor

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fricção, adquirem uma ou outra das duas electricidades segundo o

mo-do por que obramos (a). ; Mas não é só a fricção, também a proximidade dum corpo

elè-ctrisado pode determinar a separação das duas electricidades que cons-tituem o fluido neutro d'um corpo conductor no seu estado natural; por exemplo, um corpo carregado d'electricidade positiva, sendo collo-cado junto d um outro no estado natural, attrahe a electricidade nega-tiva, que se accumula no ponto mais proximo, e repelle ao contrario a electricidade positiva para o mais affastado.

Diz-se n'este caso que o corpo fora electrisado por influencia. Franklin explicava todos estes factos pela sua teoria d'um só fluido, obrando por repulsão sobre si mesmo, e por attracção sobre a materia ponderável; mas já Peltier theorisava différente, para elle a electricidade era uma modificação do fluido universal que preenche o espaço; e as palavras positivo e negativo não indicariam mais que graus d'um mesmo estado, a partir d'um ponto d'equilibrio da manifestação eléctrica. Distingue-se a electricidade quer a positiva quer a negativa em statica

e dynamic®.

A statica é a que se considera isoladamente e distante da do seu nome contrario: sua origem é a fricção dos corpos.

A dynamica é a que estuda os phenomenos offered dos pelos

dous fluidos no estado de mobilidade, e recomposição continua: resulta d'acçôes chimicas. A electricidade dynamica comprehende o galvanisme e a electricidade por inducção.

Debaixo do nome de galvanismo designa-se indifferentemente a electricidade desenvolvida quer por contacto, quer por inducção, mas hoje que estas duis fontes eléctricas possuem propriedades physiologicas e terapêuticas différentes, concebe-se bem o canos, que arrasta apoz

si tal indifferentismo

Entendemos e escorados em mui bons auetores, que galvanismo deve ser só chamado á electricidade desenvolvida por contacto, e ja que é necessário dar um nome exacto á electricidade por inducção, por

(a) A natureza da electricidade desenvolvida depende tanto do corpo

esfre-gador como do corpo esfregado e a nniea proposição absoluta que se pode emittir,

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_ n _

que o não faremos nós derivar do nome do sábio que descobrio esta egpecie d'eiectricidade ? ' :i ;: ­■•.

Bem avisado andou Duchenne de Boulogne em dar á electricidade por induçeão. o .nome de faradismo, aos apparelhos que a desenvolvem

apparelhos faradaicos, e á sua applicação o nome de faradisação, D'esté

modo fica estabelecida a distincção entre as différentes electricidades, e assim consagrado o nome d'um sábio, Faraday.

Antes de entrarmos na resumida descripçao dos apparelhos que desenvolvem a electricidade, apontaremos os seguintes, e principaes factos theoricos, cujo conhecimento ajudará muito a comprehender o seu mecanismo. —

As applicações medicas da electricidade pouco progrediam, os insuccessos comparados com os sucessos eram numerosos, o enthusias­ mojá se ia acalmando, começando a pesar sobre os espíritos a indifferença e o scepticismo quando subito uma grande descoberta é proclamada. Galvani firmado na celebre experiência das contractes e agitações que se produziam n'uma rãa recentemente preparada, quando se punha em contacto por intermédio d'um metal os seus nervos e músculos, vem afíirmar que os seres vivos produzem uma electricidade especial, que elle designara pelo nome de fluido galvanico.

Vem Volta e demonstra que são eléctricos os precedentes pheno­ menos, e é levado por seus incansáveis trabalhos n'este assumpto a uma das descobertas mais maravilhosas que se tem feito na sciencia, a

pilha eléctrica, este prodigioso instrumento que fez um grande alvoro­

to scientifico e industrial, de quem o futuro tem muito a esperar, e o passado reconhecido confessa as gloriosas conquistas, que por ella tem alcançado na sciencia.

As correntes eléctricas são continuas ou intermittentes. As pri­ meiras são formadas pelas pilhas, as segundas pelos apparelhos d'induc­ cão. • • .

Faraday chama corrente por inducção ás correntes passageiras de­ senvolvidas nos corpos, por influencia de outras correntes. Reconhe­ ra elle que se dous lios de cobre, cobertos de seda, e enrolados syme­ tricamente n'um cylindro de pau, communicavam pelas suas duas ex­ tremidades, ura comos polos d'uma pilha, e o outro com a agulha

á'um galvanametro, esta agulha se desviava, logo que principiava a cor­

rente, e assim que findava. Nos apparelhos d'inducçao ha duas corren­ tes dis.tinctas—1.° a inductora que temlogarno lio mais grosso, chamada ainda corrente de primeira ordem, extra-corrente — 2.° a induzida, que se mostra no fio delgado, sobre­posto ao primeiro, e que se chama também corrente de segunda ordem.

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CAPITULO II

«.*»«• A»M,M»H QIJE PRODUZEM A ElUfiTÍHÍílBiUIi STATIC* E DVHAMIC.t

Muitos dos apparelhos empregados na electrotherapia, mereciam uma descripção particular e circumstanciada, mas como seja mais ob-jecto do physico do que do therapeuta, faremos ião somente uma breve

resenha d'elles expondo ao mesmo tempo os factos theoricos (alguns dos quaes já enumerados) sem o que o medico electro-therapeuta não pôde dar um passo, que não seja vacillante.

A épigraphe deste capitulo já nos patentea a divisão racional que se costuma fazer d'estes apparelhos, uns produzindo a electricidade no estado de tensão, outros no estado de corrente.

Os apparelhos que produzem a electricidade statica, são as ma-chinas eléctricas,, hydro-electricas, electrophoros, botelha de Leyde, etc. ;etc. etc.

Pouco insistiremos sobre estas diversas machinas, que tão bem descriptas se encontram em todos os tratados elementares de physica.

Machina eléctrica de Ramsdem. Todo o mundo a conhece. E' um

prato de vidro movei, collocado entre dous coxins fixos, e polvilhados de deuto-sulphureto d'estanho, os quaes operam o attrito sobre o

vi-dro, quando se põe em movimento.

O fluido vitreo, que se desenvolve accumula-se nos cylindros de cobre: o resinoso passa para as almofadas d'onde se escôa para o solo.

Machina eléctrica de Nairne, imaginada especialmente para

ele-ctnsar os doentes, e dando as duas qualidades d'electricidade. Consiste n'um grande cylindro de vidro, collocado entre outros dous de cobre, e isolados. Desenvolvem-se os dous fluidos, e segundo o cylindro que se faz communicar com o solo, assim se obtém uma ou outra das duas electrícidades,

Machina hijdro-electvica de Armstong, na qual a electricidade é

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Electrophoro. Foi Volta o seu inventor, tendo recebido primeiro

inspiração dumas experiências feitas por Baccaria, e Epinus. Repousa na theoria da electrisação por influencia, e é composto d'um bolo de resina, e um disco metallico munido d'um cabo isolador.

Botelha de Leyde. Carrega-se com qualquer das machinas

prece-dentes: foi ella mui empregada na pratica medica, hoje prefere-se ge-ralmente o electometro de Lane, que pèrmitte dar descargas repetidas, e medir a sua intensidade, o que serve de grande auxilio nas applica-ções medicas.

A botelha de Leyde é o mais importante de todos os condensado-res. Compõe-se d'um frasco de vidro, fechado com uma rolha de cor-tiça, atravez da qual passa uma haste recurvada na sua parte superior, e terminada por uma pequena esphera.

Externamente a superficie do frasco é coberta nos três quartos inferiores por uma lamina metallica, chamada armadura exterior- In-ternamente é forrada dïima outra lamina metallica, chamada

armadu-ra interiori a qual communica com a dita haste, e pode ser de folhas

d'ouro, ou outro corpo qualquer bom conductor.

Carrega-se esta botelha, suspendendo-a pelo gancho da haste ao conductor da machina eléctrica fazendo communicar a armadura exte-rior com o solo .por intermédio d'uma cadêa metallica.

Os apparelhos de electricidade dynamica subdividem-se ainda nos d'electricidade galvânica, e por indueção.

Apparelhos de electricidade galvânica

Às .pilhas são apparelhos que servem para desenvolver a electrici-dade debaixo da forma de corrente, ou n'uma palavra o galvanísmo.

O primeiro apparelho d'esté género fora ideado por Volta. Com-punha-se elle de rodellas de zinco, rodellas de cobre, e um disco de panno humedecido com agua acidulada; estes três objectos formavam um elemento.

Enumeraremos algumas d'estas pilhas, entrando em maiores deta-lhes, nas que foram inventadas propriamente para uso medico.

Ha as pilhas de corrente variável, e de corrente constante; as pi-lhas de corrente variável e d'um só liquido são quasi todas modifica-ções diversas da pilha de Volta: em todas ellas cada elemento com-põe-se, como na primitiva, de duas laminas, uma de cobre, outra de zinco, mergulhadas em agua acidulada com a oitava parte d'acide sul-phurico: a única differença consiste na disposição relativa, e extensão das laminas.

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-As pilhas (Turn só liquido mais geralmente empregadas são as de Grenet e Fonvielle com bichromato de potassa, e as de Marie-Da-vy e Benoist com deuto-sulphato de mercúrio.

As primeiras, que não são mais que uma modificação da pilha de Bunsen, tem cada um dos seus elementos formados por uma lamina de zinco, uma lamina de cobre (servindo de collector) e um liquido composto d'acldo sulphurico concentrado, e bichromato de potassa.

As segundas tem cada uma dos seus elementos compostos d'um

auge de carvão (servindo de collector) onde se deita o sulphato acido

de mercúrio, algum tanto diluído, e d'uma lamina de zinco a cobrir. O mercúrio,que provem da reducção do sulphato, entretém a amal-gamação de zinco. :

Besta-nos agora fallar entre outras, das pilhas ou cadeas galvâni-cas de Pulvermacher, que offerecem um grande numero d'elementos debaixo d'um volume pouco considerável. Cada annel da cadea com-põe-se d'um pequeno cylindro de pau, á volta do qual estão enrolados parallelamente um. fio de zinco, e outro de cobre: as duas extremida-des do lio de zinco d'um elemento estão ligadas ás correspondentes do fio cúprico do cylindro precedente.

Os anneis ajustam-se sempre entre si quer no sentido longitudi-nal, quer no transversal. Carrega-se a pilha molhando-a em acido acé-tico diluído:, sua energia augmenta com a concentração da solução.

Estas pilhas são de forte tensão, mas sua energia diminue rapida-mente; é commodo o seu emprego, por que são de fácil applicação em qualquer parte do corpo.

As pilhas de corrente constante são as de Daniell, Grove, Bunsen, Marie-Davy e Benoist, etc., etc. Na composição dos elementos d'estas pilhas é preciso preencher as condições seguintes—1.° Impedir as al-terações do collector já pela condensação do hydrogenio polarisado, já pelos depósitos que este mesmo gaz produziria por sua acção reducto-ra; causas estas, que produzem correntes em sentido contrario á prin-cipal-— 2.° Entreter a uniformidade da acção chimica, conservando o mais tempo possivel no mesmo estado d'um lado o metal attacado, d'ou-tro o liquido activo.

A pilha de Daniell tem a forma seguinte: n'um vidro de bocal colloca-se um cylindro occo, de terra porosa, tapado inferiormente, de modo a tornar em dous o interior do bocal.

O vaso poroso está cheio d'uma solução saturada de sulphato de cobre, no qual se introduz um outro cylindro de cobre que tem o no-me de collector. A outra cavidade, que fica exterior a esta, contém zin-co amalgamado e agua levemente acidulada. O polo positivo é repre-sentado pela lamina de cobre, que termina o collector e o negativo

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pe-— 15 pe-—

la lamina de zinco. A reunião d'estas pilhas é pelos seus poios contrá-rios.

Pilha de Grove. Diffère da de Danniell, só em ter uma lamina de

platina, em vez do cylindro de cobre, e o vaso poroso cheio d'acido azotico. A corrente é mais intensa, que na precedente.

Pilha de Bunsen. Diffère da de Grove em ser um cylindro de

car-vão que substitue a lamina de platina. Acção mais poderosa.

Pilha de Marie-Davy. Diffère da de Bunsen, em que o carvão se

encontra como que enterrado n'uma massa de sulphato de mercúrio, que contém o vaso poroso.

Os seguintes factos theoricos, que poucas vezes se encontram re-sumidos clara e concisamente nas obras de physica, servirão de complemento a esta succinta descripção das pilhas:

1.° Um elemento eléctrico é formado de dous corpos, em contacto com um liquido, sendo ao menos um attacado chimicamente: mas no caso em que ambos o fossem, era necessário maior energia d'acçao chi-mica n um, do que n'outro.

2.° A acção chimica coordena e sustenta o movimento eléctrico: esta acção ou força donomina-se força electro-motriz, e a ella se deve o accumular-se a tensão positiva n'um lado, e a negativa no outro,

3." Sua acção é instantânea, continua, e independente do estado eléctrico d'um dos metaes em contacto.

4.° Todos os corpos oppõe uma resistência á passagem da electri-cidade: esta resistência mui fraca para certos corpos, os metaes por exemplo, é mui considerável para outros, a agua.

5.° A resistência á passagem da electricidade diminue, quando a intensidade da corrente augmenta, mas não proprocionalmente.

6.° Os gazes são completamente isoladores: só se tornam condu-ctores a altas temperaturas.

7.° A intensidade duma corrente depende da quantidade d'ele-ctricidade, e não da sua tensão: duas cousas, que é importante saber distinguir debaixo do ponto de vista medico.

8." A intensidade d'uma corrente é a mesma em todos os pontos do seu circuito: assim o demonstra o galvanomètre

Julgamos ser d'algum interesse pratico os factos theoricos supra-mencionados, por isso os exaramos, passando agora mais cônscios aos ap-parelhos,que desenvolvem a electricidade por inducção.

Os apparelhos d'indueçao são de duas qualidades, os magneto-ele-ctricos, e os volta-electricos. São estes dos que geralmente nos servi-mos em medicina: disposições engenhosas os tem tornado portáteis, e commodo o trabalhar com elles, condições indispensáveis para terem algum préstimo.

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Apparelhos volda-clcctricos

Uma peça importante commum a todos estes apparelhos é Q

in-terruptor da corrente, conhecido mais por reotomo où commutadòr.,

Gompõe-se estes apparelhos, denominados também volta-magneticos d'uma pilha, e d'um magnete.

Na sua construcção entram muitos objectos: 1.° uma pilha; 2." uma bobina de pau ou cartão, occa internamente, em volta da qual se acha enrolado um fio de cobre algum tanto grosso (fio inductor) co-berto de seda, paraestar isolado de si: próprio, e formando três a qua-tro camadas de espiras em toda a extensão da bobina; 3.° um feixe de ferro malleavel, collocado na cavidade da bobina; 4.° um tremedor ou

vibrador; 5.° um graduador, cylindro de cobre, occo, do

comprimen-to do feixe de ferro, envolvendo-o de modo a deixal-o mais ou menos em contacto com a bobina; 6.° um outro fio de latão mais delgado, também coberto de seda, formando cinco a sete camadas de espiras, chamado o fio induzido; 7.a o todo acha-se contido dentro d'uma caixa.

Os principaes apparelhos volta-faradaicos são os seguintes:

O- apparelho de Duchenne dá correntes induzidas da primeira or-dem, e a extra-corrente á vontade do operador. Compõe-se d'uma bo-bina cylindrica, repousando n'uma caixa rectangular, que tem dous pu-xadores; o mais,inferior contendo uma caixa de zinco e um collector de carvão, que ajusta hermeticamente no puxador; na parte superior do carvão acha-se uma excavação comprida e estreita, que se enche d!acido azotico; na caixa deita-se agoa salgada. A corrente produzida passa ao reometro, alojado no puxador superior, e d'ahi ao circuito inductor: ha

o.tremedor para interromper a corrente, quando fôr mister. Faz-se

va-riar a intensidade da corrente ou por meio d'um graduador, (consis-tindo em dous cylindros de cobre, que envolvem um a hélice induzida, outro os feixes de ferro malleavel) ou por meio do moderador, que consiste n'um tubo de vidro cheio d'agoa, no qual se podem mergulhar mais ou menos as extremidades do fio induzido.

Uma das modificações principaes, que se fez a este apparelho.foi a substituição do zinco e do carvão por uma pilha composta de três ou quatro elementos com deuto-sulphato de mercúrio. A extra-corren-te é recolhida por meio de dous fios de derivação, vindo a extra-corren-terminar em duas pontas, metallicas, onde se prendem os reophoros.

O apparelho de Siemens e Halske é urn d'aquelles, que melhor se presta ás investigações delicadas de physiologia.

Todas as obras dephysica dão a desçripção da.bobina de Rhum-korf tão notável por seus poderosos effeitos.

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Diremos agora em resumo o modo de funccionar d'estes appare-Ihos.

O fio positivo da pilha, ou polo positivo é posto em relação com uma das extremidades do fio mais grosso (fio inductor) da bobina; a outra extremidade d'esté fio inductor termina no tremedor, isto é, n'uma lamina de cobre delgada e flexível collocada entre o polo positivo do apparelho, representado pela extremidade do fio inductor, e o polo ne-gativo, representado por um eixo, onde vem dar o fio, ou o polo nega-tivo da pilha: um parafuso adaptado a este tremedor, faz segundo o grau d'aperto accelerar ou afrouxar as intermittencias, diminuindo ou tornando maior o espaço que separa os dous poios, tocados alternati-vamente por este tremedor, cujo contacto com o polo negativo fecha o circuito; logo que este se acha fechado, o feixe de ferro collocado na bobina magnetisa-se instantaneamente, debaixo da influencia da cor-rente voltaica, que percorre o cobre do fio inductor, e apenas magne-tisado como attrahe logo o tremedor, abre-se o circuito, e faz com que no mesmo momento, este se desmagnetise. Mas o tremedor sendo logo attrahido ao polo negativo, o circuito fecha-se, e o ferro magnetisa-se de novo. Este vai-vem do tremedor explica o ruido de vibração, que produz o apparelho ao funccionar.

Apparelhos magneto-electrlcos

Estes apparelhos sendo muito menos empregados que os prece-dentes, passaremos de leve sobre elles. Os primeiros foram os de Pri-xis, Clark, e Saxton: tem-se construído différentes modelos, que em geral são apenas meras modificações do de Saxton: tem por caracter dar uma successão de correntes alternativamente oppostas. Quasi todos entram em acção por meio d'uma manivella destinada a pôr em movi-mento uma armadura de ferro malleavel, que se electrisa por influen-cia, ao passar rapidamente diante das extremidades d'um magnete em forma de ferradura, e nunca exigem o emprego d'uma pilha.

CAPITULO III

HEOPIIWROM K P E Ç A S Af.TENMWIU.tM »WM A P P A R E E H W M K S ( ' I T . V D « H » >

Fixam-se aos apparelhos volta-electricos certos conductores flexí-veis (reophoros) destinados a levar uma corrente a qualquer différente ponto do organismo: nas suas extremidades costumam muitas vezes collocar-se certas peças, os excitadores, mui variantes na forma,

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forme a acção que pertendemos obter com as correntes, e a parte do corpo onde tern d'actuar.

Ha uns excitadores de forma cónica, olivar, esphericas e outros simiNiantes a placas, feixes, etc. etc. todos elles tendo um cabo isola-dor, para o operador poder manobrar a seu salvo: ha ainda os cylin-dricos occos de cobre, em que o doente agarra, quando queremos fa-zer-lhe penetrar a corrente pelas mãos, e por uma extensa superfície, e alguns outros destinados ás cavidades naturaes, como o excitador rectal, vesical, uterino, etc. etc.

Todos estes instrumentos em geral são feitos de cobre puro, exce-pto os destinados ás cavidades naturaes, que são quasi sempre com-postos de fios, é verdade do mesmo metal, mas cobertos de guta-per-cha quasi até á sua extremidade livre. As agulhas de galvano-punctura podem também ser consideradas como excitadores: são d'aço, ouro, prata, ou platina: seu comprimento está em relação com o fim a que são destinadas, e o seu fundo deve ser proporcional ao diâmetro dos

reóphoros.

CAPITULO IV

E L E C T R I C I D A D E l'IIYSIOLOGICA

Para usar utilmente da electrotherapiaé indispensa velo conhecimen-to d'alguns dos facconhecimen-tos physiologicos, que abaixo transcrevemos, assim como de todos os d'ordem physica já tratados na primeira parte d'es-té trabalho.

Frágil seria o edifício que não assentasse n'uma base mais ou me-nos solida!

Aldini parente e discípulo de Galvani fez sobre suppliciados celebres experiências. As contracções e movimentos, que produziu pelas corren-tes eléctricas causaram tanto espanto a todos, os que assistiam a tal es-pectáculo, que julgaram ter encontrado alii a panacea universal.

Mas bem depressa chegou o triste desengano, quando foram pra-ticar as mesmas experiências sobre indivíduos mortos naturalmente: nem um só movimento que conseguiram.

Não passaremos d'alto sobre este ultimo facto, mas ficará de remis-sa, por ser da maior importância tanto para a interpretação philosophi-ez, como para a pratica.

Foi Humboldt todavia o primeiro que affírmou existir uma ele-ctricidade animal, seguindo-se apoz elle as positivas experiências de Nobili, em que mostrou a existência d'uma corrente eléctrica caminhan-do caminhan-dos músculos para os nervos mais interiores caminhan-do animal... Mas só

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em 1830 é que Matteuci fez experiências directas para conhecer qual a acção das correntes continuas sobre os seres vivos. Formara elle com os toros dos músculos d'uma rãa, em que se tinham separado todos os nervos visiveis, pilhas, cujas correntes augmentavam d'energia com ò numero dos toros sobrepostos.

Du-Bois-Reymond depois de numerosos ensaios chegou a formu-lar a lei seguinte: «a corrente muscuformu-lar manifesta-se todas as vezes que se põe em communicação por meio d'um reometro uma parte da superfície lateral dos músculos, com um ponto da sua secção transyer-versa artificial, ou natural. A superfície lateral é positiva em relação á secção transversal.

A causa d'estas correntes electro-musculares para uns residia na ac-ção do ar, para outros nos líquidos exsudados etc. etc. Du-Bois-Ray-mond tratou de averiguar melhor este facto, operando sobre indivíduos vivos.

O mesmo objecto porém d'esté trabalho não nos pennitte entrar em detalhes sobre os processos operatórios emprehendidos a tal fim. Só sim diremos, que sua theoria apezar de ter mais valor, que a de seus predecessores, não passa ainda além de mera hypothèse.

Scoutteten é d'opiniâo, que o sangue venoso e arterial por seu re-ciproco contacto, e mais as reacções chimicas, são uma das causas per-manentes da electricidade, fundado num dos axiomas da sciencia,

«quando corpos différentes se combinam chimicamente ou se decompõe ha sempre producção das duas electricidades. »

Acção da electricidade sobre o systema nervoso do

movimento

Nunca se produzem contracções, quando as correntes percorrem os nervos no sentido de suas ramificações.

Os nervos mais próximos do cerbero são os primeiros que per-dem a propriedade d'excitar contracções, mas este facto seria anormal, segundo observa Cl Bernard nas suas—Leçons sur la physiologie et la

pathologie du système nerveux—e só se daria em nervos que

estives-sem cortados.

Matteuci reconheceu por suas experiências, que o tecido muscular é um conductor da electricidade quatro vezes melhor, que a substan-cia cerebral e nervosa.

Mas os factos mais positivos relativos ao systema nervoso do mo-vimento devem-se ás bellas experiências de Du-Bois-Reymond e Re-mack: quando um nervo motor é percorrido por uma fraca corrente, ha contracções no momento de fechar o circuito, mas sea corrente é mais

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intensa, então ha­as só na occasião em que se estabelece, e quando se rompe.

No dizer de Cl Bernard pode­se fatigar um nervo motor entre dous pontos, sem excitar de leve as outras porçõesj

Quando se colloca o polo positivo d'um apparelho eléctrico na extremidade inicial d'um nervo motor, e o negativo na peripherica d'esté mesmo nervo, produzein­se sobre tudo contracções musculares, causando uma pequeníssima dôr. A corrente chama­se centrífuga, ou di­ recta. Quando se pratica o contrario manifesta­se uma dôr vivíssima, e poucas contracções musculares. A corrente chama­se então centrípeta ou indirecta.

Acção cia electricidade sobre o system» nervoso

sensitivo e alguns órgãos da economia

Este estudo apresenta grandes difficuldades. Uma dôr mais ou me­ nos aguda manifesta­se sempre, que uma corrente eléctrica percorre um dos nervos sensitivos, dôr tanto mais viva quanto maior fôr a in­ terrupção, e a quantidade d'electricidade circulante, sobre­tudo servin­ do­nos dos apparelhos dinducção.

Uma corrente continua segundo Althaus pode fazer desapparecer a sensação tactil, e produzir a anesthesia.

Geralmente podemos dizer, que todas as vezes que uma corrente continua atravessa uma parte da face, observa­se sempre em maior ou menor grau, e attenta a direcção da corrente, phosphênas, zunidos d'ou­ vidos, uma salivação mais ou menos abundante, e sensações gustativas.

A corrente induetiva excita mais fortemente os órgãos situados de­ baixo da pelle, e a induzida provoca mais depressa a sensibilidade cu­ tanea, e acções reflexas mais enérgicas.

A maior ou menor rapidez das intermittencias tem uma grande importância, lentas localisam melhor a corrente, e são pouco doloro­ sas, rápidas são mais dolorosas, seueffeito podendo ir até á contracção, mas são as mais proprias para favorecer a nutrição dos músculos.

O coração, esophago, estomogo, e intestinos tirados para fora do corpo, e submettidos á faradisação, contrahem­se algumas vezes mui vio~ lentamente.

A bexiga essa contrahe­se energicamente, em quanto que o utero lentamente. As modificações sobre a circulação são mui pouco conhe­ cidas. As contracções nos músculos striados são bruscas, lentas e prolongadas nos de fibras lisas: as primeiras dão­se no coração, e mús­ culos da vida de relação, e as segundas n'os da vida orgânica.

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gástricos cortados faz parar o coração, e produz vómitos violentos: a fa-radisação da sua outra extremidade, correspondente aos centros ner-vosos, accéléra os movimentos respiratórios quando fraca, e diminue-os quando enérgica. Julgamos ter resumido os factos physiologicos prin-eipaes: a maior parte tem sido motivo de immensas e acaloradas ques-tões entre medicos e physicos, que de tal assumpto se tem occupado.

CAPITULO V

M E T H O D O S D'ELECTRISAÇÀO

Electrisaçâo statica

Comprehende ella différentes 'processos e entre outros o banho eléctrico, as scintillas, as commoções, as fricções, e a electro-punctura.

Banho eléctrico. Consiste em collocar o individuo, que se

perten-de electrisar, sobre um banco isolador em communicação com os con-ductores d'uma machina eléctrica em actividade. O corpo n'estas cir-cumstancias carrega-se d'electricidade: parte espalhando-se á superfície do corpo no estade statico, e outra parte indo pouco a pouco para o ar ambiente.

Scintillas. O doente não isolado, e em contacto com a machina

eléctrica em movimento, recebe centelhas do conductor d'esta machina, que determinam uma viva estimulação, e uma dôr pungitiva na conti-nuidade dos membros e contusiva ao nivel das articulações. Mui fortes constituem a commoção, que pôde matar.

Commoções. Servimo-nos da botelha de Leyde, que depois de

car-regada é posta em contacto pela sua armadura externa, com a parte do corpo onde pertendemos actuar; approxima-se depois ao lado opposto um excitador em communicação com a armadura interna, e ainda mal o excitador tem tocado a pelle, que logo saltam faiscas mais ou menos intensas, segundo a botelha estiver mais ou menos car-regada.

Fricções eléctricas. Produzem-se n"um individuo coberto de

flanel-la, ou não, em passando ao de leve d'um para outro lado a bola d'um excitador em communicação com a machina eléctrica; quando o indivi-duo está vestido de flanella, as villosidades delta eriçam-se e assim transmittem o fluido.

Ha um leve formigueiro, um doce calor, e uma rubefacção de pelle pouco intensa.

Electro-punctura. Foi preconisada em 1823 por Sarlandiere:

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tes dous meios para experimentar se assim colheria mais vanta-gens.

Servia-se pois cl'agulhas similhantes, ás que se empregam na acu-punctura, só com a differença que a cabeça era guarnecida d'uma abertura para receber um dos conductores da machina eléctrica, ou da pilha.

O abalo, que resulta d'estacommunicação,é dirigido pela pontada agulha sobre todas as radiculas nervosas. A galvano-punctura nunca deve demorar-se mais de 11 a 20 minutos; na sua administração é preciso ter o cuidado de tempos em tempos dar leves empuxões para deslocar as agulhas, a que estão ligados os fios metallicos. Actuaremos com mais energia, quando os symptomas inflammatorios forem pouco pronuncia-dos, e os tecidos onde se passa a acção dotados de menor sensibili-dade.

Electrisaçã© galvânica, on por contacto

O galvanismo, ou electricidade por contacto emprega correntes continuas, das quaes são fornecedoras as pilhas de Volta, Bunsen, etc., etc., já em outra parte descriptas. Applicam-se estas correntes por meio d'excitadores. Tem este meio therapeutico em geral melhor vantagem, quando è preciso actuar sobre os órgãos da vida orgânica, do que sobre os de relação. Hão-se inventado a este fim cadêas, pla-cas, cinturas, etc., etc., que preenchem mais ou menos as condições, que se requerem, para formar uma pilha voltaica, e que tem por re-sultado final, sendo applicadas ao corpo, fornecer uma corrente continua e permanente; tem porém estes apparelhos um inconveniente, que é o necessitarem de serem constantemente humedecidos com agua acidula-da, e possuírem uma acção pouco enérgica, defeitos estes, que apezar de ser em menor grau, não deixa também de possuir a cataplasma

galvânica.

Recamier dá este nome a um estofo d'algodao contendo d'um la-do palhetas de cobre, e la-do outro palhetas de zinco, encerrala-do n'uma espécie de sacco, cujas faces uma é acolchoada e a outra forrada d'um tecido impermeável, como é o taffetas gommado.

Esta cataplasma é do lado permeável, que se applica sobre a pelle, prendendo-a por meio de tiras ou uma ligadura.

D'ordinario ha sempre com calor desenvolvimento de transpira-ção, e como esta seja acida, 'produz sobre o cobre e o zinco o mes-mo effeito da mixtura acida, que se emprega na pilha d'auge: vem a ser o desenvolvimento da electricidade. Se a pelle não se hu-medece de per si, interpõe-se entre ella e a cataplasma uma flanella

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suficientemente torcida, depois de ter sido molhada n'um banho d'agua salgada. Muito empregada nas dores nevrálgicas, e rheumatismaes.

As correntes continuas são consideradas como hyposthenisantes.

Electrisação por inducção ou faradisaçâo

A origem d'esta espécie d'electricidade é a pilha, ou o magne-te; é uma hoje das mais usadas, e applica-se ao corpo por meio d'ex-citadores de différente forma.

As correntes são intermittentes: as intermittencias produzem três effeitos physiologicos, um d'elles e o mais sensível dá-se á entra-da entra-da corrente na economia, o outro menos sensível á sua sahientra-da, e o terceiro quasi insensível, quando a corrente se acha estabelecida. Es-tas correntes são olhadas como stimulantes; produzem de repente uma sensação cutanea, que se pode graduar desde um simples formigueiro até á dôr mais penetrante, passando d'um a outro grau sem causar a menor desorganisação na pelle; as de primeira ordem actuam geral-mente sobre a sensibilidade da pelle, e as de segunda sobre a contrac-tilidade muscular.

A faradisaçâo estimula mui pouco a retina, e passa por provocar a contractilidade muscular da face.

CAPITULO VI

MODOS U M O M i n â l R A I l A ELECTRICIDADE

Ha a electrisação por correntes continuas, a localisada, e a gene-ralisada.

ESectrisaçâo por correntes contínuas

Faz-se de dous modos: 1.° por correntes continuas simples; 2." por correntes continuas permanentes.

As correntes continuas simples administram-se por meio d'uma pilha como a de Grove, Bunsen, etc., etc.

E' preciso não perder de vista, que o polo positivo da pilha deve collocar-se sobre o nervo, em que pertendemos actuar, para o lado do centro cerebro-spinal, e o negativo no ponto o mais affastado, de modo a termos uma corrente centrífuga,

Indicações: nevralgias, paralysias, convulsões, etc., etc., etc.

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apparelhos que produzam constantemente uma corrente voltaica, taes são as placas, cadeas, etc., etc. Obram só por contacto, e sua acção é mui pouco enérgica, com tudo tem dado profícuos resultados.

Indicações. Rheumatismo, gotta, certas névroses, etc.

Electrisação localizada

Consiste em concentrar a electricidade n'um órgão (pelle, muscu-lo, nervo, etc., etc.) sem expor os órgãos visinhos aos inconvenientes da estimulação. E' hoje exclusivamente quasi empregada, attenta as três electricidades de que se serve (statica, galvânica, e por inducção). Esta ultima, a d'inducçao, exige mais alguns detalhes, em attenção ao seu emprego exclusivo: é cutanea ou muscular.

A electrisação cutanea executa-se da forma seguinte:

Pela mão eléctrica isto é, por um excitador húmido,

communi-cando com um dos poios dos apparelhos, e applicado sobre uma das partes menos irritáveis do doente, entretanto que o outro excitador em relação com o outro polo é agarrado por uma das mãos do operador, que passa rapidamente a face dorsal da mão livre sobre os pontos que quer excitar.

Por corpos metallicos ; em tudo similhante á precedente, salvo o

operador em vez de passar á face dorsal da mão, passar rapidamente um excitador metallico macisso.

Por fios metallicos empregados debaixo da forma de pincéis e

in-troduzidos n'um tubo metallico, d'onde sahem mais ou menos para communicarem com um dos poios do apparelho.

A electrisação muscular consiste em limitar a acção eléctrica n'um musculo ou feixe muscular, ou a concentral-a n'um plexo ou tronco nervoso, que tem esses músculos debaixo da sua dependência. Osexcita-dores tem todos uma esponja humedecida, a fim de penetrar mais profunda a corrente eléctrica.

Electrisação generalizada

Administra-se por meio de banhos eléctricos, positivos ou negati-vos, completos ou parcíaes: estes banhos reclamam a electricidade sta-tica, mas a maior parte das vezes a d'inducçao.

Banho-electrico completo=hydro-electrico. O individuo, a quem o

queremos dar, é mettido n'uma banheira, que deve ser de materia iso-ladora, como madeira, cautchout, etc., (apesar de que o metal, mal sim, mas também serve) cheia d'agua salgada, e a uma temperatura conve-niente.

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Um dos braços do doente sahe para fora da banheira, e vai mer-gulhar n'uma pequena cuba de porcelana, collocada a certa distancia e cheia também d'agua salgada.

Mette-se depois na banheira grande o reophoro positivo, e o ne-gativo na pequena, onde se faz actuar com intermittencias. O corpo in-teiro do individuo entra n'uma verdadeira agitação devida á contracti-lidade fibrillar de todos os músculos: o banho deve durar 7 a 8 mi-nutos.

Indicações: debilidade profunda, anemia, etc., etc.

Moretin préconisa um outro meio para dar o banho hydro-electri-co. A cada extremidade da banheira de pau mergulhão em agua tépida, sem tocar o corpo, os dois polos d'um apparelho de Ruhmkorft, em communicação com a corrente inductora por meio de fios metallicos cobertos de guta-percha. Variando a posição dos reophoros no banho pôde dirigir-se a corrente sobre as espadoas, braços, etc., etc.

Em todos os casos, o que é necessário, é servirmo-nos d'um appa-relho poderoso como o de Ruhmkorft, e fazer com que o liquido do ba-nho não seja bom conductor; pôde ser também aromático e estimu-lante.

Banha elçctrico, parcial. Os banhos parciaes costumam ser dados

aos pés. Enchem-se duas bacias de metal (mas de preferencia madeira, ou porcelana) com agua salgada ou levemente acidula, mas tépida. O doente mette um pé em cada uma das bacias, das quaes uma commu-niea com o polo positivo, e a outra com o negativo d'um apparelho d'in-ducção, por meio de conductores metallicos, que alli se acham mergu-lhados. Immediatamente os membros inferiores se tornam a sede d'uma contracção continua das fibras musculares. Póde-se mergulhar o pé, e a mão d'um mesmo lado, ou ambas as mãos, etc.

Indicações: certos casos de paralysia. CAPITULO VII

APPI.ICAÇÒES THERAPE1 'TIC 'AS K S E I S PROCESSOS OPERATÓRIOS

Numerosas experiências, e observações interessantes se tem pu-blicado a respeito da electricidade empregada como meio therapeutico, sobre tudo nas doenças nervosas.

A sciencia n'este ponto deve a maior parte dos seus progressos, entre outros, a Duchenne e Desparquets.

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N'esta ultima forma de doenças, as nervosas, a sciencia tem regis-tado factos notáveis, que merecem fixar a attenção do pratico, Sem en-trar pois n'aquellas minúcias, que não comportam um trabalho d'esta ordem, contentar-nos-hemos em indicar o modo d'applicaçao da electri-cidade á therapeutica, e tanto quanto possivel os resultados obtidos.

CAPITULO VIII

A P P L I C A Ç Õ E S C I R Ú R G I C A S

dalvaiio-caustica

Tem-se utilísado por meio de différentes apparelhos a proprieda-de, que possue uma corrente eléctrica suficientemente intensa, de tor-nar rubros os fios metallicos. Designam-se estes instrumentos debaixo do nome de galvano-causticos, e a electricidade assim empregada

gal-vano-causlica, ramo este, que tem sido modernamente vulgarisado e

aperfeiçoado por Middeldorpff, Broca, Tavignot, e outros.

Para que a temperatura se eleve d'um modo notável, é preciso que a corrente encontre um obstáculo, e o vença: assim com a mesma pi-lha um fio de maior diâmetro aquece-se muito menos, que um mais pequeno, e composto do mesmo metal, porque a resistência que o reo-phoro oppõe á passagem da electricidade é tanto maior, quanto o fio é menor. Pela mesma rasão os fios maus conductores, como os de plati-na, aquecem-se mais facilmente, que os bons conductores de cobre, fer-ro, etc., etc.

Se a electricidade encontra um obstáculo, é preciso que ella o vença, porque a não ser assim não terá força para aquecer o reophoro. Ora a propriedade de vencer a resistência dos conductores não depen-de da intensidadepen-de da pilha, mas da sua tensão.

A tensão, isto é a força, pela qual as electricidades dos dous poios tendem a precipitar-se no reophoro, 6 indepente da extensão de cada elemento da pilha, e proporcional ao seu numero; por conseguinte quan-do queremos obter effeitos caloríficos intensos, devemos augmentar o numero dos elementos, á medida que nos servimos de reophoros me-nos volumosos, ou por outra mais intensos.

Em conclusão uma mesma pilha não pôde servir para aquecer in-distinctamente todos os reophoros: quando são de pequeno diâmetro

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necessitam uma pilha de muita tensão ainda que pouco intensa, e quan. do de grande diâmetro uma de tensão fraca.

E' indispensável nos diversos casos, em que se pratica a cauteri-sação galvânica, aquecer até ao branco conductores, que variando em volume, obrigam ao cirurgião ter ás suas ordens muitas pilhas de ten-são, e intensidade différentes: grande inconveniente seria esta complica-ção instrumental, e de certo não estaria tão vulgarisada a

galvano-caustica, se Middeldorpff não chegasse a preencher todas as indicações

por meio d'um único apparelho eléctrico.

Quatro pequenos elementos de Grove estão dispostos n uma cai-xa de quatro repartimentos : no meio entre os quatro elementos está o commutador, pequeno apparelho, onde estão collocados os dous polos, e que serve para combinar os elementos da pilha, de modo a variar a sua tensão e intensidade segundo a vontade do

ope-Yt\(\CiV

Servir-nos-hemos para applicar a galvano-caustica d'uma pilha com elementos de larga superficie e em numero sufficiente para levar a temperatura rubra os fios metallicos ou galvano-causticos, que se divi-dem em cautérios simples e ansas metallicas, e servem já para caute-risar, já para dividir os tecidos.

Os cauterips simples compõe-se todos d'um cabo isolador <te

ma-deira secca ou de marfim, atravessado por duas hastes de cobre iso-ladas uma da outra, mas que se podem pôr em communicaçao com os

eléctrodos d uma pilha: uma d'estas hastes é cortada obliquamente, e

pode-se por meio d'um parafuso fechar ou interromper a corrente. Suas extremidades terminam por fios de platina juxtapostos, e de lor-ma lor-mais ou menos allongada segundo os casos.

As ansas metallicas são igualmente fixas n'uni cabo isolador: o

annel metallico é formado por um fio de platina cujas extremidades se enrolam sobre duas peças de marfim também fixas no isolador, dispo-sição que permitte poder variar sua amplitude ; o fio de platina e o que fecha o circuito. . _

Estes instrumentos apresentam vantagens incontestáveis, sao leves, fáceis de manejar, e muito commodos para se introduzir nos tecidos vivos; podem demais amais aquecer o cautério só depois da sua appli-cação, e apagal-o (permitta-se-nos a expressão) por assim dizer

ins-t í\v\\ i\ nf11 m pn tp

Quando nos servimos da ansa metallica, ha dous escolhosevitar, ou elevar muito a temperatura e fundir-se o fio metallico, ou não che-gar a um grau de calor sufficiente.

Estes cautérios e ansas metallicas são de forma e dimensões apro-priadas á necessidade do momento.

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Coagulação do sangue nos aneurismas

Quando uma corrente assaz enérgica passa atravez do sangue ex-trahido d'um animal, ha no polo positivo uma rápida formação d'uni coagulo sanguíneo. Petrequin foi o primeiro que baseado sobre esta ex-periência chegou a coagular o sangue nos saccos aneurismaes. Faz-se penetrar a corrente por meio d'agulhas de platina, introduzidas nos tumores varicosos, mas para tornar a dôr menos viva e evitar uma in-flammação consecutiva emprega-se só uma agulha no centro do tumor, qne conimunica com o eléctrodo positivo, deixando o negativo nas suas proximidades, e rodeando a parte doente d'um banho d'area quente, para que assim dure menos tempo esta operação. Claudio Bernard mostrou que o augmento de temperatura apressava a coa-gulação do sangue.

Destruição dos tumores pelo methodo electrolytico

Faraday chama corpo electrolytico todo aquelle, que soffre a de-composição chimica,

E' certo que a cirurgia possue um grande numero de meios pró-prios para destruir os tumores, mas ha entre estes alguns, cujo trata-mento apresenta difficuldades de tal ordem, que os cirurgiões mais abalisados hesitam antes de tentar qualquer methodo operatório. Taes são, por exemplo, aquelles que se encontram profundamente colloca-dos n'uma cavidade natural, intimamente unicolloca-dos e adhérentes por uma larga base ás suas paredes, de difficil accesso já vista, já á mão (quan-to mais aos instrumen(quan-tos), e além de tudo isso, constituídos por um tecido extremamente vascular.

Nos polypos naso-pharyngeos encontramos todos estes caracteres. Nelaton tendo reconhecido de quão pouco proveito eram n'esses casos a ligadura, o arrancamento, a cauterisação quer com o cautério actual quer com os cáusticos potenciaes, recorreu a um processo de destruição

derivado da electricidade.

Duas agulhas de platina, postas em communicação com os poios d'um apparelho de Bunsen, foram implantadas n'um polypo naso-pharyn-geo,tumor volumoso, mui vascular, dando logar a hemorrhagias ao mais leve contacto, situado profundamente na pharyngé e fossas nasaes, e tendo resistido aos agentes os mais enérgicos.

Houve primeiro producção d'uma eschara, que atravessava o tu-mor d'um a outro lado, seguindo-se depois a dessecação e gangrena da

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parte situada além (Testa eschara; sendo-por conseguinte de dous mo-dos a destruição d'esté tumor, pela acção electrolytica, e pela gan-grena, devida á interrupção da circulação.

Esta operação foi feita em seis secções sem effusão de sangue, e provocando apenas uma dôr, que o doente facilmente supportava.

Dissolução dos cálculos

Às correntes eléctricas tanto as voltaicas, como as faradaicas fo-ram applicadas á dissolução dos cálculos ourinarios. As primeiras ex-periências foram feitas por Dumas e Presvot: reconheceram elles a pos-sibilidade de dissolver certos cálculos, sobre tudo os compostos de phosphates alcalinos ou acido uriço.

A dissolução torna-se mais fácil tendo injectado na bexiga uma solução de nitrato de potassa: as pilhas empregadas, é preciso, que se-jam enérgicas.

Infelizmente as tentativas feitas para dissolver os cálculos, d'oxalato de cal tem sido todas infructiferas.

A n e s t h e s i a eléctrica

Debaixo da influencia duma corrente continua, ou intermittente tem sido possível produzir a anesthesia momentânea.

Edouard Robin explica este facto, dizendo que a corrente voltaica facilita a combinação do oxigénio do sangue, que deixa assim de des-pertar a sensibilidade.

Morel-Lavalle, Fonssagrives, Nelaton e outros tem-se servido mui-tas vezes com suecesso d'esté meio nas operações cirúrgicas, e até nas extracções de dentes, pondo a chave em communicação com o polo ne-gativo, e o doente tendo na mão o polo positivo.

Morel-Lavalle tem aberto abscessos, e extrahído tumores sem provocar dores mui vivas, contentando-se em applicar na proximidade dous excitadores húmidos.

Vem aqui a propósito agora o dizer, que o galvanismo tem dado bons resultados em alguns casos d'anesthesia produzida pelo ether ou chloroformio, e em que predominava a sideração do systema nervoso.

Hypertrophia prostatica

Esta lesão é carecterisada anatomicamente pela atrophia muscular, e hypertrophia do tecido cellular. O engorgitamento é produzido por

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uma diminuição da força destinada a expulsar o liquido segregado n'esta glândula.

O tratamento eléctrico n'estes casos está mui claramente indicado. Costumão applicar as correntes d'inducçâo rapidamente intermittentes e da forma seguinte:

Pratica-se, se é possível, o catheterismo, e introduz-se até ao collo da bexiga um excitador olivar, coberto d'um inducto isolador, collo-cando o outro no recto, ao nivel da face postero-inferior da prostata: se o catheterismo não fôr praticável, introduzem-se ambos os excitado-res no recto, fazendo-os actuar sobre as regiões lateraes. Ha algumas observações que mostram a efficacia d'esté processo therapeutico, quan-do já toquan-dos os outros tinham falhaquan-do.

Derramamentos serosos e tumores lymphaticos,

etc. etc.

Tem-se obtido pela galvanisação a cura de certos casos d'hygro-mas, hydrocelos, e hydarthroses: as correntes continuas são as que me-lhor convêm: reprovamos o processo, que seguem alguns de as fazerem penetrar no organismo por meio das agulhas d'acupunctura, por que tem o grande inconveniente de produzirem quasi sempre inflammação.

Duchenne cita alguns casos de cura d'adénites chronicas. Graafe pôde obter pela electrisação a reabsorpção de opacidades da cornea, applicando um excitador húmido nas pálpebras fechadas, e na mão do paciente outro, em communicação com o polo positivo.

Além d'estes authores, ha ainda outros que dizem ter conseguido a cicatrisação de certas ulceras pormeio das correntes eléctricas, ou ap-plicações metallicas, a reapparição da secreção láctea pela faradisação da glândula mammaria, e a cura das frieiras, tirando scintillas das par-tes affectadas.

CAPITULO IX

APPLICAÇÕES OBSTÉTRICAS

Poucas experiências ha a tal respeito. Herder e com elle um grande numero de medicos tem provocado o parto prematuro pela

ex-citação eléctrica.

Clevaud, Hewgton, Mackensie empregaram a electrisação para des-pertar as contracções uterinas na occasião da expulsão do feto, e

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sus-— 31 sus-—

pender as hemorragias consecutivas ao parto e devidas á falta da re-tracção da utero.

CAPITULO X

APPUCAÇÕES MfcMCA*

Engorgitamento chronico do utero, ou metrite

chronica

A precedente secção contém uma ordem de factos, pertencendo inteiramente ao domínio cirúrgico. Por transição chegamos a esta se-gunda secção, que será consagrada completamente a doenças do foro medico, começando pela metrite chronica, que serve como de bahsa entre as doenças cirúrgicas e medicas.

Para Scanzoni o caracter anatómico d'esta doença vem a ser a hy-pertrophia do tecido cellular e a atrophia dos músculos das suas pare-des. O tratamento eléctrico teria por fim provocar contracções, que des-pertariam a nutrição muscular.

Eis o modo d'applicar este tratamento: um excitador olivar e in-troduzido no recto, e um segundo levado até ao collo do utero por meio do speculo.

Cada secção não pode durar mais que cinco minutos, e como as contracções uterinas são mui dolorosas, é preciso começar por corren-tes fracas.

Os engorgitamentos uterinos podem comphcar-se de versões ou flexões, e segundo sua direcção assim se dirigirão os excitadores de modo a provocar contracções, que obrem ao mesmo tempo trazendo o órgão doente á sua posição normal.

PARALYSIAS

Ha paralysias, nas quaes a contractilidade electro-muscular se açtft abolida, outras em que sómento é diminuida, outras emfim, em que se encontra normal; da sensibilidade podemos dizer outro tanto: segue-se d'aqui pois o haver paralysias da sensibilidade, e do movimento; as primeiras ainda subdivididas em paralysias de sensibilidade geral, de sensibilidade sensorial, e de sensibilidade orgânica.

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Paralysas de sensibilidade geral, ou Analgesia

Esta affecção pôde ser superficial ou profunda. A maior parte das vezes encontra-se combinada com outras paralysias, ou différen-tes doenças como o hysterismo, rheumatismo, etc., etc., e também como uma das consequências da angina couennosa. Duchenne tirou bons resultados da electrisação localisada.

Paralysias da sensibilidade sensorial

Amaurose ou cegueira: sendo uma affecção, onde a electricidade

produz excellentes resultados, diremos mais circumstanciadamente al-guma cousa acerca do seu processo operatório.

Saussure obteve uma cura completa por commoções dirigidas do globo do olho para a nuca. Magendie localisou as correntes por meio das agulhas d'acupunctura.

Duchenne aconselha o emprego das correntes de segunda ordem com tensão propria a provocar a apparição de phosphenas. Purkingi re-correu ás correntes continuas do seguinte modo: no principio da amau-rose, em que ha producção de cores subjectivas, colloca elle o polo ne-gativo o mais perto do olho, sobre que quer actuar, fazendo assim desapparecer a luz subjectiva, que o doente percebe segundo a direc-ção do eixo óptico. Quando sao ao contrario amauroses, que princi-piam por um enfraquecimento da retina, colloca então o polo positivo o mais proximo do olho, cuja retina quer excitar, e o negativo a uma certa distancia, como na mucosa bocal.

Becquerel opina pelo emprego da electrisação localisada, servindo-se de conduetores húmidos e applicando-os na visinhança das orbi-tas. As secções devem ser curtas, e repetidas muitas vezes durante um longo espaço de tempo. Quando porém se seja mal suecedido, acon-selha então o recorrermos á galvano-punctura de fraca corrente: as agu-lhas devem ser implantadas nas orbitas. Este processo é um dos mais efficazes: o único contra, é o medo que inspira aos doentes, sobre-tudo aos meticulosos.

Surdez ou cophose. E' sobre tudo á corda do tympano que se

de-vem dirigir todas as nossas attenções.

Duchenne obteve dous resultados pelo processo seguinte, sobre-tudo na surdez hysterica. Primeiro obrava com uma corrente fraca, depois augmentava gradualmente sua intensidade até que o doente sen-tisse uma impressão dolorosa.

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As interniittencias devem ser raras, correspondendo uma por se-gundo pouco mais ou menos, a não ser que haja uma completa dimi-nuição de sensibilidade na membrana do tympano.

Perda do olfacto, ou anosmia. Esta paralysia cede facilmente a

qualquer meio eléctrico: costuma collocar-se um excitador na parte posterior do occiput, girando com o outro por toda a superficie da membrana de Schneider.

Perda da sensação tactil. Os différentes meios d'electrisaçao tem

dado sempre bons resultados.

Perda do gosto. Paralysia mui pouco estudada, debaixo do ponto

de vista da electrotherapia.

O que nunca devemos perder de vista em todas estas paralysias, « o tratamento appropriado da affecção principal.

Paralysias da sensibilidade orgânica

N'esta classe entra as anesthesia da bexiga, e dos testículos. A fa-radisação da superfície vesical interna tem dado bons resultados. A anesthesia dos testículos, quando não é a consequência d'abusps vené-reos, pôde segundo Duchenne ser modificada pela faradisação, que apesar de tudo deve ser sempre empregada com muita prudência.

Paralysias do movimento

Subdividem-se em paralysias parciaes, ou dos muscuios da vida orgânica, e paralysias geraes do movimento.

Paralysias parciaes

Paralysia da bexiga: contra ella ha a electrisação localisada;

tam-bém se tem colhido vantagens da introducção na bexiga duma sonda de metal, isolada em toda a sua extensão, excepto na sua extremidade, e d'um excitador na parte do recto, correspondente ao baixo-fundo ve-sical.

Paralysia dos intestinos. Tem-se chegado a vencer constipações

rebeldes, remediar a queda do recto e a do sphincter do anus. A electri-sação recto-epigastrica com correntes intensas, e intermittencias rápi-das, é a que mais aproveita.

Paralysia dos órgãos genitaes ou impotência. Combate-se muitas

vezes este estado, collocando nos testículos dous excitadores húmidos, ou melhor um na região lombar, e o outro na região perineal, penis, e scroto.

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