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Capacitar para cuidar - Capacitação de cuidadores formais de pessoas idosas

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Academic year: 2021

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ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE

UNIVERSIDADE DE ÉVORA

ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE SÃO JOÃO DE DEUS

INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA

ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE

INSTITUTO POLITÉCNICO DE SETÚBAL

ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE

INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO

ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DR LOPES DIAS

Capacitar para Cuidar – Capacitação de

Cuidadores Formais de Pessoas Idosas

Susana Compadrinho de Sousa

Orientação: Professora Doutora Sandra Xavier

Mestrado em Enfermagem

Área de especialização: Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública

Relatório de Estágio

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INSTITUTO POLITÉCNICO DE PORTALEGRE

ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE

UNIVERSIDADE DE ÉVORA

ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DE SÃO JOÃO DE DEUS

INSTITUTO POLITÉCNICO DE BEJA

ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE

INSTITUTO POLITÉCNICO DE SETÚBAL

ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE

INSTITUTO POLITÉCNICO DE CASTELO BRANCO

ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DR LOPES DIAS

Capacitar para Cuidar – Capacitação de

Cuidadores Formais de Pessoas Idosas

Susana Compadrinho de Sousa

Orientação: Prof. Doutora Sandra Maria Miranda Xavier

Mestrado em Enfermagem

Área de especialização: Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública

Relatório de Estágio

Portalegre, 2020

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CAPACITAR PARA CUIDAR – CAPACITAÇÃO DE CUIDADORES FORMAIS DE PESSOAS IDOSAS

Susana Compadrinho de Sousa

Relatório de Estágio especialmente elaborado para a obtenção do grau de Mestre e Especialização em Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública

Júri:

Presidente: Professora Doutora Ana Paula Gato Rodrigues Polido Rodrigues Arguente: Professor Doutor Mário José de Oliveira Martins

Orientador: Professora Doutora Sandra Maria Miranda Xavier

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«O intervalo de tempo entre a juventude e a velhice é mais breve do que se imagina. Quem não tem prazer ao penetrar no mundo dos idosos não é digno da sua juventude (...) o ser humano morre quando, de alguma forma, deixa de se sentir importante.”

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AGRADECIMENTOS

A elaboração deste relatório não seria possível sem o apoio de alguns intervenientes. Neste sentido, pretendo agradecer a todos os que me apoiaram e contribuíram para a realização e concretização desta etapa final na minha formação, o Mestrado em Enfermagem na área de especialização de Enfermagem Comunitária e Saúde Pública.

Deste modo, agradeço:

Aos meus colegas do curso de Mestrado pelo apoio e companheirismo!

Aos meus colegas do serviço de Medicina pelas palavras de incentivo a todo o momento, não esquecendo o enfermeiro chefe que fez os possíveis para a conciliação do percurso académico com a vida profissional!

À minha enfermeira orientadora pela disponibilidade que sempre demonstrou e pelas orientações e sugestões que sempre me deu!

À UCC onde decorreu o estágio pela maneira como fui recebida, desde a enfermeira coordenadora e à equipa de enfermagem e aos outros profissionais pela simpatia e cordialidade!

Às direções técnicas das instituições do concelho que sempre se mostraram disponíveis e abertos a este projeto e que sem a sua intervenção o projeto não teria sido concretizado!

À minha prima Marta por toda ajuda que me deu quando necessitei! Um obrigada gigante é pouco! Ao meu companheiro por ter tido a paciência de me aturar quando eu achava que estava a chegar ao limite e pelas palavras de apoio e carinho quando mais precisei!

Ao meu filho que apesar de ainda ser pequenino, sei que sentiu a minha ausência nos momentos mais complicados deste Mestrado!

Aos meus pais por todos os valores que sempre me transmitiram que fizeram de mim uma pessoa lutadora e persistente que não desiste facilmente e pelas suas palavras sempre certas, apesar de toda a distância física que nos separa!

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Ao meu irmão que apesar de ser de poucas palavras, sempre me deu força para continuar! À restante família que me apoiou incondicionalmente!

Aos amigos verdadeiros pelas palavras de confiança e força e pelos encontros de descontração que me proporcionaram!

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RESUMO

O envelhecimento acarreta perdas funcionais nomeadamente ao nível da autonomia dos idosos. Esta perda de autonomia leva à dependência e consequentemente à institucionalização. Nas instituições para idosos são prestados cuidados ao idoso por parte dos cuidadores formais. Estes cuidadores nem sempre têm formação na área da prestação de cuidados pelo que cabe ao enfermeiro comunitário desenvolver estratégias para capacitar e empoderar este grupo profissional com vista ao aumento de conhecimentos e à melhoria da qualidade dos cuidados por eles prestados.

Este relatório de estágio pretende apresentar o projeto “Capacitar para Cuidar – capacitação de cuidadores formais de pessoas idosas no domínio do envelhecimento” que teve como objetivo promover a capacitação e o empoderamento destes profissionais na melhoria da prestação de cuidados ao idoso dependente. Este relatório baseou-se na metodologia do planeamento em saúde, tendo sido realizadas sessões de educação para a saúde na área das Feridas e das Úlceras por Pressão e na área do Stress do Cuidador/Burnout, consequência do trabalho árduo desenvolvido por eles. Estas sessões de formação capacitaram os cuidadores formais contribuindo para a melhoria dos cuidados prestados e para a melhoria da relação do Cuidador/Idoso.

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ABSTRACT

Aging causes functional losses, namely in terms of the autonomy of the elderly. This loss of autonomy leads to dependence and consequently to institutionalization. In institutions for the elderly, formal care-givers provide care for the elderly. These carecare-givers are not always trained in the area of care, so it is up to the community nurse to develop strategies to train and empower this professional group with a view to increasing knowledge and improving the quality of care provided by them.

This internship report intends to present the project “Training to Care – training of formal caregivers of elderly people in the field of aging” which aimed to promote the training and empowerment of these professionals in improving the provision of care to the dependent elderly. This report was based on the health planning methodology, and health education sessions were held in the area of Wounds and Pres-sure Ulcers and in the Caregiver / Burnout Stress area, as a result of the hard work they developed. These training sessions enabled formal caregivers to contribute to the improvement of care provided and to the improvement of the Caregiver / Elderly relationship.

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 – Análise de Conteúdo: Identificação de Categorias ... 43

Quadro 2 – Método de Hanlon ... 46

Quadro 3 – Método da Grelha de Análise (nos problemas empatados) ... 47

Quadro 4 – Indicadores de Atividade e Resultado e respetivas Metas ... 49

Quadro 5 – Preparação Operacional ... 53

Quadro 6 – Recursos e Custos do Projeto ... 54

Quadro 7 – Sessão de Formação: Feridas e Úlceras por Pressão ... 56

Quadro 8 – Sessão de Formação: Stress do Cuidador ... 56

Quadro 9 – Participação dos Cuidadores Formais na Sessões de Formação: Feridas e Úlceras por Pressão e Stress do Cuidador ... 58

Quadro 10 – Resultados da Ficha de Avaliação de Conhecimentos da Sessão de Formação: Feridas e Úlceras por Pressão ... 59

Quadro 11 – Taxa de Satisfação dos Cuidadores Formais em relação à Sessão de Formação: Feridas e Úlceras por Pressão ... 60

Quadro 12 - Taxa de Satisfação dos Cuidadores Formais em relação à Sessão de Formação: Stress do Cuidador/Burnout ... 61

Quadro 13 – Percentagem de Cuidadores Formais que classificam o desempenho do formador como Bom ou Muito Bom ... 61

Quadro 14 – Percentagem de Cuidadores Formais que consideram ter um aumento de conhecimentos com as sessões de formação ... 62

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Percentagem de Participação dos Cuidadores Formais na Sessão de Formação: Feridas e Úlceras por Pressão ... 58 Gráfico 2 – Taxa de Satisfação dos Cuidadores Formais em relação à Sessão de Formação: Feridas e Úlceras por Pressão ... 60 Gráfico 3 - Taxa de Satisfação dos Cuidadores Formais em relação à Sessão de Formação: Stress do Cuidador/ Burnout ... 61 Gráfico 4 – Percentagem de Cuidadores Formais que classificam o desempenho do Formador como Bom ou Muito Bom ... 61 Gráfico 5 – Percentagem de Cuidadores Formais que consideram ter um aumento de

conhecimentos com as sessões de formação ... 62

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Esquema Ilustrativo do Modelo Teórico de Betty Neuman ... 35 Figura 2 – Grelha de Análise para Determinação de Prioridades ... 47

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ÍNDICE DE APÊNDICES

ANEXOS ... LXXIX Anexo 1 – Parecer da Comissão de Ética da ULSNA ... LXXXX APÊNDICES ... LXXXIX Apêndice 1 – O Modelo Teórico de Betty Neuman aplicado à população alvo ... XC Apêndice 2 – Guião da Entrevista Semiestruturada aos Diretores Técnicos ... XCIV Apêndice 3 – Pedido de Autorização à Comissão de Ética da ULSNA ... XCVI Apêndice 4 – Pedido de Autorização e Colaboração às Instituições... CV Apêndice 5 – Consentimento Informado Livre e Esclarecido ... CVII Apêndice 6 – Cartaz de Divulgação do Projeto ... CX Apêndice 7 – Ficha de Inscrição nas Sessões de Formação ... CXII Apêndice 8 – Diapositivos em PowerPoint da Sessão de Formação de Feridas e Úlceras por Pressão ... CXV Apêndice 9 – Diapositivos em PowerPoint da Sessão de Formação de Stress do Cuidador/ Burnout ... CXXVIII Apêndice 10 – Ficha de Avaliação de Conhecimentos da Sessão de Formação de Feridas e Úlceras por Pressão ... CXXXIV Apêndice 11 – Ficha de Avaliação da Sessão de Feridas e Úlceras por Pressão pelos

formandos ... CXXXVII Apêndice 12 – Ficha de Avaliação da Sessão de Stress do Cuidador/Burnout pelos

formandos ... CXXXIX Apêndice 13 – Ficha de Avaliação da Sessão de Feridas e Úlceras por Pressão pelo

formador ... CXLI Apêndice 14 – Ficha de Avaliação da Sessão de Stress do Cuidador/Burnout pelo

formador ... CXLIII Apêndice 15 – Certificado de Presença para os Cuidadores formais... CXLV Apêndice 16 – Cronograma do Projeto ... CXLVII Apêndice 17 – Dados Estatísticos da Ficha de Inscrição ... CXLIX Apêndice 18 – Plano de Sessão de Formação: Feridas e Úlceras por Pressão... CLVIII Apêndice 19 – Plano de Sessão de Formação: Stress do Cuidador/Burnout ... CLX Apêndice 20 – Resumo do Artigo Científico ... CLXII

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SIGLAS, ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS

% - Percentagem

ACES – Agrupamentos de Centros de Saúde ARS – Administração Regional de Saúde DGS – Direção Geral da Saúde

DSM – Diagnóstico Social de Marvão INE – Instituto Nacional de Estatística

IPSS – Instituição Particular de Solidariedade Social NPUAP – Nacional Pressure Ulcer Advisory Panel OE – Ordem dos Enfermeiros

OMS – Organização Mundial de Saúde

PNSPI – Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas UCC – Unidade de Cuidados na Comunidade

UCSP – Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados UE – União Europeia

ULSNA – Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano URAP – Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados USF – Unidade Saúde Familiar

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ... 15

I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO ... 18

1. ENVELHECIMENTO E DEPENDÊNCIA ... 18

1.1 INSTITUCIONALIZAÇÃO E CUIDADORES FORMAIS DE IDOSOS ... 21

1.2 FORMAÇÃO DE CUIDADORES DE IDOSOS ... 23

1.3 CUIDADOS AO IDOSO DEPENDENTE NA PREVENÇÃO DE ÙLCERAS POR PRESSÃO ... 24

1.4 STRESS NOS CUIDADORES FORMAIS/BURNOUT ... 26

2. EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE E CAPACITAÇÃO ... 28

3. A METODOLOGIA DO PLANEAMENTO EM SAÚDE ... 30

4. ENFERMAGEM COMUNITÁRIA E DE SAÚDE PÚBLICA – O PAPEL DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA NA PROMOÇÃO DA CAPACITAÇÃO DO CUIDADOR FORMAL ... 32

5. MODELO TEÓRICO DE BETTY NEWMAN ... 34

5.1 O MODELO TEÓRICO DE BETTY NEUMAN APLICADO À POPULAÇÃO ALVO ... 36

II. ENQUADRAMENTO PRÁTICO... 37

1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTÁGIO ... 37

1.1 A UNIDADE DE SAÚDE ... 37

1.2 A COMUNIDADE ... 38

2. O DIAGNÓSTICO DE SITUAÇÃO... 41

2.1 POPULAÇÃO E AMOSTRA ... 41

2.2 O INSTRUMENTO DE COLHEITA DE DADOS ... 42

2.3 QUESTÕES ÉTICAS E DEONTOLÓGICAS ... 42

2.4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ... 43

3. DETERMINAÇÃO DE PRIORIDADES ... 45 4. DEFINIÇÃO DE OBJETIVOS ... 48 4.1 METAS E INDICADORES ... 49 5. SELEÇÃO DE ESTRATÉGIAS ... 51 6. PREPARAÇÃO OPERACIONAL ... 53 6.1 PREVISÃO DE RECURSOS ... 53 7. EXECUÇÃO ... 55

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8. AVALIAÇÃO ... 58 9. OUTRAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ... 65 III. REFLEXÃO CRÍTICA – COMPETÊNCIAS ADQUIRIDAS ENQUANTO ENFERMEIRO

ESPECIALISTA EM ENFERMAGEM COMUNITÁRIA E DE SAÚDE PÚBLICA ... 66 CONCLUSÃO ... 70 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 72

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INTRODUÇÃO

O envelhecimento é um fenómeno mundial que tem repercussões ao nível social, económico e cul-tural. Em Portugal, a população é envelhecida e segundo o PORDATA (2018), o índice de envelhecimento tem vindo a aumentar e atualmente existe 153,2 pessoas com 65 e mais anos por cada 100 pessoas me-nores de 15 anos.

É na fase do envelhecimento que ocorrem mais mudanças funcionais e como consequência, perdas, nomeadamente a perda de autonomia. Este facto leva a que os idosos necessitem de cuidadores formais ou informais na realização das suas atividades de vida.

Em Portugal continuam a subsistir dois tipos de redes de suporte às pessoas em situação de dependência, as denominadas redes informais, nas quais se inclui a família, os vizinhos ou amigos e as redes formais de proteção social.

Para Gonçalves et al. (1992; cit. por Sequeira, 2010), o cuidador formal é a pessoa capacitada para auxiliar o idoso que apresenta limitações para realizar as atividades e tarefas da vida quotidiana, fazendo elo entre o idoso, a família e serviços de saúde ou da comunidade, é geralmente remunerado e tem como funções ajudar nas atividades da vida. Carrilho (2012) refere-se aos cuidadores formais como sendo profissionais contratados, com remuneração, para a prestação de cuidados no domicílio ou em instituição. Deste modo, deve haver uma preparação específica para o desempenho deste papel. De acordo com a mesma autora, o que contribui para a qualidade dos cuidados prestados a idosos institucionalizados é a preparação eficaz dos profissionais, ou seja, a garantia que a equipa de cuidados tem os conhecimentos e capacidades necessários para desempenhar os seus papéis com competência e sensibilidade. Neste sentido, a intervenção do enfermeiro pode ser essencial para contribuir para uma melhoria da qualidade dos cuidados prestados à pessoa idosa através da formação a estes cuidadores.

Este relatório surge no âmbito do Mestrado em Enfermagem em Associação na área de especialização de Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública e pretende descrever o projeto de intervenção comunitária desenvolvido durante o Estágio Final. Este estágio decorreu entre 17 de setembro de 2019 a 31 de janeiro de 2020, numa UCC da ARS Alentejo. Para além de descrever o projeto de intervenção comunitária, este relatório, visa também fazer uma reflexão acerca das atividades

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desenvolvidas baseada nas competências específicas do enfermeiro especialista em Enfermagem Comunitária e Saúde Pública e refletir também acerca das condições para obtenção do grau de mestre.

Segundo o Regulamento das Competência Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária e de Saúde Pública, o Enfermeiro detém a capacidade de avaliar o estado de saúde de uma comunidade, identificando os problemas e as necessidades dessa mesma comunidade, tendo por base a metodologia do Planeamento em Saúde. A metodologia do Planeamento em Saúde pretende racionalizar os recursos escassos com vista a atingir os objetivos fixados para reduzir os problemas de saúde considerados como prioritários (Imperatori & Giraldes, 1993). Assim, neste projeto utilizou-se a metodologia do Planeamento em Saúde.

O projeto “Capacitar para Cuidar – capacitação de cuidadores formais de pessoas idosas no domínio do envelhecimento” baseou-se na Estratégia Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas e pretendeu dar resposta a algumas das necessidades formativas deste grupo.

O diagnóstico de situação permitiu identificar o envelhecimento como uma problemática evidente do concelho e, neste sentido, atendendo ao elevado número de idosos considerou-se pertinente intervir nas instituições destinadas às pessoas idosas deste concelho. Foram selecionadas, através de critérios de seleção, três instituições para a realização de entrevistas aos diretores técnicos com vista a identificação das necessidades formativas dos cuidadores formais com o objetivo de capacitar e empoderar os mesmos. Assim, após a definição de prioridades, selecionaram-se duas áreas para a realização de sessões de formação: as Feridas e Úlceras por Pressão e o Stress do Cuidador/Burnout.

O projeto de intervenção contou com a colaboração da equipa da UCC deste concelho, as direções técnicas das instituições para idosos e com a população alvo deste projeto, os cuidadores formais das referidas instituições.

Relativamente à estrutura deste relatório, encontra-se dividido em três partes principais, o enquadramento teórico, o enquadramento prático e a reflexão crítica acerca das competências adquiridas enquanto especialista em enfermagem comunitária e de saúde pública e as condições para obtenção do grau de mestre.

Na primeira parte pretende-se descrever o suporte teórico necessário à compreensão e contextualização da área de intervenção, nomeadamente os aspetos relacionados com o envelhecimento e a dependência que são geradores de processos de institucionalização de idosos, o papel dos cuidadores formais durante este processo e a formação dos mesmos nas áreas definidas como prioritárias. De

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seguida, desenvolvem-se os conceitos de educação para a saúde e de capacitação, descreve-se a metodologia do planeamento em saúde, descreve-se o papel do enfermeiro especialista na promoção da capacitação do cuidador formal e, por último, e apresenta-se o Modelo Teórico de Betty Neuman em que se baseia este projeto.

Na segunda parte deste relatório, é apresentada a unidade de saúde onde decorreram os estágios e posteriormente são apresentadas as várias fases da implementação do projeto com base na metodologia do planeamento em saúde, nomeadamente o diagnóstico de situação que aborda a metodologia utilizada no mesmo, a população alvo e a amostra, o instrumento de recolha de dados, as questões éticas e deontológicas associadas à implementação do projeto e a apresentação e discussão de resultados. Segue-se a determinação de prioridades, a definição de objetivos, a Segue-seleção de estratégias, a preparação operacional que faz a previsão de recursos, a execução e a avaliação do projeto. Este capítulo aborda ainda outras atividades desenvolvidas durante este último estágio.

A terceira e última parte deste relatório, faz uma reflexão crítica sobre as competências adquiridas para aquisição do grau de mestre e para enfermeira especialista em enfermagem comunitária e de saúde pública.

A redação deste relatório obedeceu às normas e indicações definidas pela instituição onde decorreu este mestrado, o Instituto Politécnico de Portalegre (Escola Superior de Saúde) e também obedeceu às normas da American Phychological Association [APA] – 6ª Edição.

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I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

De forma a dar o suporte teórico necessário à compreensão e contextualização do problema do envelhecimento e da dependência dos idosos em contexto de lares para pessoas idosas, foi realizada uma pesquisa bibliográfica que pretende fundamentar todas as intervenções desenvolvidas no projeto de intervenção comunitária.

1. ENVELHECIMENTO E DEPENDÊNCIA

O envelhecimento da população é um fenómeno que afeta quase todos os países do mundo. A população continuará a envelhecer enquanto a natalidade continuar a diminuir e a esperança média de vida continua a aumentar. Segundo o INE (2014), a tendência de envelhecimento demográfico verifica-se há várias décadas na Europa, com um aumento da proporção de pessoas idosas e um decréscimo do peso relativo de jovens em idade ativa na população total.

O fenómeno do envelhecimento é uma questão atual que merece uma reflexão aprofundada face às implicações sociais, culturais e epidemiológicas.

Segundo as projeções da população residente em Portugal entre 2015 e 2080 do INE (2017), o número de idosos passará de 2,1 para 2,8 milhões. O índice de envelhecimento mais do que duplicará entre 2015 e 2080, passando de 147 para 317 idosos por cada 100 jovens.

A DGS (2004) define envelhecimento como “um processo de mudança progressivo da estrutura biológica, psicológica e social dos indivíduos que se inicia mesmo antes do nascimento e se desenvolve ao longo da vida” (DGS, 2004:3).

Para a OMS (2002), a classificação da população idosa tem em conta o desenvolvimento do país de origem, ou seja, nos países desenvolvidos, idoso é aquele que possui idade igual ou superior a 65 anos, enquanto que nos países em desenvolvimento, o limite é fixado nos 60 anos.

Em suma, o envelhecimento é um processo influenciado por vários fatores. O envelhecimento populacional está associado ao aumento da esperança média de vida e à baixa natalidade, bem como a profundas transformações nos estilos de vida e nos padrões culturais.

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Fernandes (2002) afirma que a maioria dos problemas ligados ao envelhecimento, nas pessoas idosas, não são causados pela diminuição das funções cognitivas, mas sim por outro tipo de problemas, como a doença, o cansaço, a perda de papéis, as diversas situações de stress, o desenraizamento e outros traumatismos que vão complicar a adaptação das pessoas idosas. O indivíduo terá de reequacionar os seus objetivos pessoais para superar estas situações, de forma a adaptar-se, conservando a sua autoestima, para continuar a viver com o melhor bem-estar possível.

Existe uma grande preocupação em relação ao número de idosos que vivem sozinhos. Segundo dados do INE (2014), cerca de 60% dos idosos vive só ou na companhia de outros idosos. Segundo os censos 2011, houve um aumento da população envelhecida em Portugal e, consequentemente, do número de idosos a viverem sozinhos, o que produz um grave problema de isolamento social (OMS, 2015).

Segundo os Censos 2011, cerca de 1200 milhares de pessoas com mais de 65 anos viviam sozinhas e 800 milhares viviam exclusivamente com outras pessoas idosas. A nível nacional existem grandes diferenças no que toca à situação de idosos a viverem sozinhos. A região da Grande Lisboa é onde se encontram mais idosos a viverem sozinhos (22,3%), seguindo-se as regiões do Alentejo (21,9%) e Algarve (20,7%). A maior percentagem de idosos que vivem exclusivamente com outros idosos é na região do Alentejo que se verifica a mais elevada (43,5%), seguido da Região do Centro (42,9%) e da Região do Algarve (41,2%).

O problema do isolamento emerge, assim, como um fator relevante de vulnerabilidade.

O aparecimento de complicações próprias da idade surge como outro fator de vulnerabilidade. Estima-se que 80% das pessoas com idade igual ou superior a 65 anos padeçam de, pelo menos, uma doença crónica.

A saúde está intimamente relacionada com o envelhecimento na medida em que o aumento da esperança média de vida está associado a mais anos de dependência e de prevalência das doenças crónicas. A fragilidade surge como uma interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais ao longo da vida de um indivíduo e que culmina num estado de maior vulnerabilidade.

Geralmente, a capacidade funcional de modo independente diminui com a idade devido a um conjunto de alterações fisiológicas associadas a fatores biológicos, psicológicos e sociais. Neste sentido, a capacidade funcional, especialmente a dimensão motora, é um importante indicador de um envelhecimento bem-sucedido e da qualidade de vida dos idosos.

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A funcionalidade do idoso relaciona-se com a sua autonomia e independência para manter as suas atividades quotidianas, resultado não apenas das capacidades físicas, mas também das capacidades cognitivas.

Com o progressivo declínio da funcionalidade, a pessoa idosa isola-se e perde confiança nas suas capacidades, tornando-se cada vez mais sedentário e dependente, necessitando de apoio de familiares e de cuidadores de saúde, acabando por traçar um percurso que termina com a institucionalização.

A OCDE revelou que até 2050 os custos com a população mais idosa deverão duplicar, ou mesmo triplicar, como resultado do envelhecimento da população. Refere também que a quantidade de pessoas a necessitar de cuidados de longa duração deverá afetar 1 em cada 10 pessoas, ou seja, 10% da população (OCDE, 2013).

Segundo os dados do Eurostat, Portugal aparece como o segundo país da EU com as mais elevadas taxas da população idosa com limitações nas atividades de vida.

Segundo estudos feitos anteriormente estima-se que entre 2 a 4% dos idosos dependentes nas atividades de vida são cuidados por cuidadores informais (mulheres, pais, maridos, filhos). Mas, face à evolução da estrutura, composição e dimensão das famílias portuguesas nas últimas décadas em que se verifica o aumento das famílias, nomeadamente dos idosos a viverem (cerca de 20% da população de acordo com os dados estatísticos dos Censos 2011) e o aparecimento de novas formas de conjugalidade, levam a um aumento dos idosos institucionalizados.

O envelhecimento acarreta mudança funcionais, havendo um maior número de doenças crónicas e consequentemente uma diminuição da capacidade funcional do idoso que é a caraterística mais marcante nesta fase, aparecendo como consequência a perda de autonomia.

A deterioração dos sistemas fisiológicos é uma consequência do processo normal de envelhecimento que envolve a perda de capacidade funcional mais ou menos significativa.

Para Paúl (1997), a principal razão para a institucionalização é a perda de capacidade funcional. Neste sentido, a capacidade funcional constitui-se como um importante indicador na avaliação do idoso.

Martins (2006) considera que idosos sós, com perdas de independência funcional ou ainda com ausência de familiares (ou estando estes longe) são uma população para quem será aconselhável a institucionalização.

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Born e Boechat (2002) concluíram que os mais relevantes foram os seguintes: idade, diagnóstico, limitação nas AVD, morar só, estado civil, situação mental, etnia, ausência de suportes sociais e pobreza.

1.1 INSTITUCIONALIZAÇÃO E CUIDADORES FORMAIS DE IDOSOS

Uma das etapas mais marcantes do processo de envelhecimento é, sem dúvida, a admissão do indivíduo idoso numa instituição. Esta realidade é vivida todos os dias pelos idosos, pois estes não encontram na sua família ou na comunidade uma resposta satisfatória às suas necessidades.

A família que tinha um compromisso de ajudar e prestar cuidados aos seus progenitores, deixa hoje de assumir esse mesmo papel. Segundo Guedes (2012), “as modificações nas estruturas económicas, sociais e familiares que limitam a capacidade de acompanhar e cuidar das gerações mais velhas e implicam a restruturação de toda a organização social e das relações entre as gerações” (Guedes, 2012:16).

Por um lado, é a família que não apresenta condições nem capacidades de prestar cuidados ao idoso. Por outro lado, os programas do Estado não são suficientes para dar resposta aos problemas que se impõem à família que não vê outra alternativa que não seja a institucionalização dos idosos.

Segundo Cardão (2009), a institucionalização é entendida como recurso a serviços sociais de internamento de idosos em lares, casas de repouso e afins, onde recebem assistência e também como vivência de perda, simbolizada pela presença de estados depressivos, significando uma das formas como o idoso sente e vive o ambiente institucional.

Atualmente, as instituições passam ser o suporte formal da prestação de cuidados, substituindo a rede de cuidados informais e familiares.

A solidão e o isolamento, juntamente com a precaridade de condições económicas e habitacionais, surgem a par com a dependência física, nos motivos da institucionalização da pessoa idosa.

A pessoa idosa vê-se cada vez mais limitada a nível das suas capacidades físicas e psicológicas, os recursos do seu meio ambiente envolvente diminuem e levam sem dúvida ao processo de institucionalização.

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Para Sousa (2011), o aumento do número de idosos e as alterações das estruturas familiares levou ao apoio formal aos idosos. A diminuição ou indisponibilidade dos cuidados informais reflete-se na expansão dos serviços formais.

Os cuidadores formais são definidos como profissionais contratados, com remuneração, para a prestação de cuidados no domicílio ou instituição, tendo de haver uma preparação especifica para este papel, estando integrados numa atividade profissional, que inclui tarefas inerentes ao conteúdo do exercício laboral, de acordo com competências próprias (Sousa, 2011)

Em Portugal existem muitas designações de cuidadores formais como, por exemplo, ajudantes de lar e centro de dia, auxiliares de apoio a idosos, ajudantes de ocupação, entre outros (Sousa, 2011).

Nas instituições, nomeadamente, nos serviços destinados à população idosa, os cuidadores formais cuidam dos idosos segundo as regras estabelecidas e as linhas orientadoras específicas das instituições. Normalmente, os principais objetivos são zelar pelo bem-estar biopsicossocial do idoso, prestando serviços de saúde, cuidados básicos, de educação, de animação, de lazer e sociais.

Segundo Pimentel (2001), o cuidador deve identificar as necessidades físicas e psíquicas do idoso e avaliar as potencialidades; envelhecer não implica uma rutura com os hábitos de vida nem uma mudança profunda ao nível das necessidades, para prestar o cuidado individualizado e estimulador para que o idoso seja autónomo na realização das suas atividades básicas de vida.

Sousa (2011), refere que geralmente os cuidadores formais têm pouca escolarização, não têm formação especifica e têm uma baixa remuneração. A soma de todos estes fatores afeta a qualidade do desempenho, já que produz desmotivação e influencia negativamente a prestação de cuidados ao utente. Os cuidadores de ação direta cuidam de uma população numerosa e com patologias associadas e grau de dependência elevada. Prestam cuidados como a higiene (banho), mudam a fralda, alimentam, posicionam, reposicionam e transportam (Sousa, 2011).

Os cuidadores formais pouco qualificados são insuficientemente acompanhados na fase de integração nas instituições, sendo responsáveis pelos cuidados mais diretos aos utentes. A instabilidade laboral as saídas frequentes das instituições, a ausência de motivação, a insatisfação no trabalho, o deficiente desempenho profissional, o distanciamento e desumanização nas relações pessoas e profissionais gera um comprometimento do nível da qualidade dos cuidados prestados à população idosa (Sousa, 2011).

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Segundo a legislação do Contrato Coletivo de Trabalho de Portugal e em particular na Região Autónoma dos Açores, em 2007, o conteúdo funcional do Cuidador Formal, designadamente o trabalhador de ação direta pressupõe: a limpeza e arrumação das instalações, a prestação de cuidados de higiene e conforto aos utentes, o transporte de alimentos e outros itens, o serviço de refeição em refeitório, o transporte de cadáveres, o tratamento de roupas, a condução de veículos da instituição, a medicação previamente prescrita ao utente, acompanhamento de idosos em deslocações e outras tarefas não especificadas. Determina ainda a idade mínima de 18 anos e a escolaridade mínima obrigatória para o ingresso na profissão. A progressão na carreira prevê a frequência, com aproveitamento de um mínimo de 700 horas de formação profissional específica, mas não existem condições criadas nas instituições para que o cuidador formal frequente essa formação, para que possa progredir na carreira dessa forma. O legislador prevendo essa situação, considera que no caso de não ser possível às instituições procederem à formação referida, os trabalhadores passam à categoria de principal, independentemente do número de horas efetivos de formação específica.

1.2 FORMAÇÃO DE CUIDADORES DE IDOSOS

A sociedade está em constante mudança, por isso ninguém pode adquirir conhecimentos para a vida toda, é necessária uma constante atualização dos mesmos. Neste sentido, a formação contínua contribui para o aperfeiçoamento da formação já existente, facilitando a tomada de decisões na vida profissional. Para a prática profissional é necessário que exista um sistema organizado de promoção da formação contínua pois esta pretende articular o suporte teórico com a forma de atuar (saber fazer). Entre a formação contínua e o local de trabalho existe uma interação permanente. É um processo contínuo que possibilita ao indivíduo estar sempre atualizado e prestar um melhor serviço na instituição onde trabalha, criando-se uma valorização pessoal e institucional.

Segundo Sousa (2011), tem existido uma falha ao nível da formação destes profissionais e este facto não constitui uma prioridade para os governantes. Para que haja qualidade nos cuidados prestados aos idosos é importante haver investimento na formação e na valorização da profissão.

A formação profissional contínua é um fator muito importante no desenvolvimento pessoal e profissional de cada indivíduo, tal como das organizações. Este desenvolvimento ajuda-os a

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se às inovações, derivadas de um mundo em constante mudança, e possibilita uma melhoria do seu desempenho, que se traduz na melhoria da qualidade de cuidados prestados (Sousa, 2003).

Sousa (2011), refere que “a formação em ordem à profissionalização e ao reconhecimento desta categoria profissional encontra-se ainda condicionada por fatores comuns a outras áreas” (Sousa, 2011:29) como são a escassez ou ausência de oferta formativa direcionada, escassez ou inexistência de quadro técnico nas instituições que dê respostas formativas, número reduzido de funcionários para o volume de trabalho, pouca motivação dos funcionários para formação pós-laboral, órgãos de gestão com pouca sensibilidade para a importância da formação e falta de formadores com preparação técnico pedagógica na área.

Atualmente, as instituições são confrontadas com exigências cada vez maiores e por isso, é necessário melhorar as qualificações dos seus funcionários. A formação nas instituições direciona-se para as necessidades da instituição, dos funcionários e da sua população alvo. Neste sentido, a formação deve estar sempre a ser atualizada, reciclada e deve ser realizada no contexto de trabalho. A formação neste contexto fomenta o desenvolvimento de novas competências, condicionando e promovendo as possibilidades formativas, desempenha uma ação socializadora e contribui para a construção das identidades profissionais.

Almeida (2008), refere que os funcionários são bastante importantes para os idosos. Neste sentido, a existência de formação contínua nomeadamente quanto às características dos idosos e o ao seu processo de envelhecimento, poderá facilitar os contactos entre os dois intervenientes, fomentando um melhor entendimento e uma melhor relação.

1.3 CUIDADOS AO IDOSO DEPENDENTE NA PREVENÇÃO DE FERIDAS E ÚLCERAS POR PRESSÃO

Como consequência do aumento da esperança média de vida, observa-se um crescente aumento das doenças crónicas e incapacidades oriundas dessas doenças que exigem maior rigor no processo da prestação de cuidados, provocando aos idosos e aos cuidadores maior atenção, tempo e dedicação. Advêm dessas doenças crónicas e dessas limitações uma capacidade funcional comprometida, especialmente em idosos com alguma limitação física que afetam a mobilidade, tornando-os vulneráveis ao surgimento de lesões, nomeadamente as úlceras por pressão.

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Segundo o NPUAP (2014), as úlceras por pressão são lesões localizadas na pele e/ou tecido mole subjacente geralmente localizada sobre uma proeminência óssea. Ocorrem sobretudo por uma pressão prolongada sobre essas proeminências ósseas.

Os cuidadores formais presentes nas instituições para idosos têm como principal função, entre outras, acompanhar e auxiliar os idosos na execução das suas atividades de vida diária (Gratão et al, 2013).

Estes cuidadores devem promover a manutenção de uma pele integra para evitar maiores danos à saúde do idoso. Se os cuidadores formais estiverem capacitados para prevenir as úlceras por pressão, contribuem para a qualidade dos serviços prestados e para a qualidade de vida dos idosos.

A prevenção de Úlceras por Pressão nos idosos dependentes passa pela aplicação de medidas preventivas para reduzir o aparecimento destas lesões, bem como diminuir os danos e complicações por elas causadas.

As atividades de vida diárias como os cuidados de higiene e conforto, as mobilizações, a troca de fraldas entre outras, são oportunidades para se observar a pele e fazer o exame da mesma. Os cuidadores formais devem observar a existência de alguma parte do corpo que apresente alguma alteração na pele e estas devem receber atenção redobrada. Sinais referidos pelos idosos como o desconforto, a dor, o calor e o endurecimento da região são sinais que podem ser de alerta. Todos as avaliações da pele devem ser registadas em local próprio para facilitar o acompanhamento entre os profissionais e as reavaliações podem ou devem ser feitas de acordo com as necessidades dos idosos (NPUAP, 2014)

Os cuidadores formais devem limpar a pele dos idosos diariamente, hidratando-a com creme sem massajar as proeminências ósseas. A pele seca é considerada um fator de risco e por isso deve ser hidratada. (NPUAP, 2014)

A mudança de fralda deve ser feita com frequência evitando a humidade excessiva da pele, pela presença de urina e/ou fezes e transpiração. A pele humida tem tendência a abrir lesão mais facilmente. A pele deve ser protegida com cremes barreira para evitar lesões por humidade ou mesmo úlceras por pressão. (NPUAP, 2014)

A hidratação e a nutrição são muito importantes na prevenção de úlceras por pressão, pois evitam perda de massa muscular e de peso. A nutrição e a hidratação inadequadas resultam na diminuição do fluxo de sangue para a pele, facilitando o surgimento de lesões. (NPUAP, 2014)

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Os cuidadores formais devem saber que a mudança de posição é de extrema importância para redistribuir a pressão nas diferentes partes do corpo do idoso, mantendo assim, uma boa circulação de sangue no local. As mobilizações devem ser realizadas para reduzir o tempo e a força da pressão exercida nas proeminências ósseas. Os cuidadores formais devem ter em conta as condições de saúde do idoso, bem como a superfície em que está apoiado. Os peritos recomendam os reposicionamentos de duas em duas horas, mas deve ter-se em conta a fragilidade e o desconforto apresentado por cada idoso. (NPUAP, 2014)

Em cada posicionamento deve adequar-se os materiais de alívio de pressão de acordo com a posição em que se vai deixar o doente, utilizando colchões, almofadas, almofadas para cadeiras de rodas, entre outros. Devem ajustar-se os materiais ao próprio idoso considerando a sua mobilidade, o seu estado de geral saúde e o seu estado psicológico (Blanes e Ferreira, 2014).

1.4 STRESS NOS CUIDADORES FORMAIS/BURNOUT

O trabalho representa um papel central no bem-estar físico e psicológico do indivíduo, um maior suporte social, satisfação de vida, maior autoestima, assim como a sua justa remuneração económica. No entanto, poderá resultar em stress, quando existirem exigências maiores que a capacidade profissional e pessoal de cada indivíduo. (Maslach & Leiter, 2001).

Atualmente em vários domínios ocupacionais, os profissionais são constantemente confrontados com exigências, nem sempre passíveis de serem cumpridas ou geridas de forma adaptativa tendo em conta os recursos pessoais e do meio em que se inserem. Entre estas exigências, que no fundo expressam incompatibilidades ou falta de correspondência entre o trabalhador e o posto de trabalho, encontram-se fatores como a carga de trabalho excessiva, a falta de controlo/autonomia no desempenho das funções, a falta de recompensas e reconhecimento do trabalhador, a falta de comunidade (no sentido do fornecimento de suporte social), as injustiças no contexto de trabalho, e o conflito entre valores pessoais e organizacionais (Bogalho, 2017).

De entre as várias áreas profissionais, o trabalho dos cuidadores formais é entendido como stressante, tanto física como mentalmente, o que os torna vulneráveis a doenças relacionadas com o stress ocupacional (Bogalho, 2017).

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Quanto ao stress ocupacional, Steven (2005) define-o como as respostas físicas e psicológicas, consideradas uma ameaça para o indivíduo, que ocorrem quando os requisitos de um trabalho não são compatíveis com as capacidades, recursos, ou necessidades do trabalhador. O que pode levar à doença ou mesmo à lesão física ou psicológica do indivíduo.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (2004), o stress relacionado com o trabalho pode dar lugar a comportamentos disfuncionais e pouco habituais no trabalho e com isso contribuir para a doença física ou mental do individuo. Em casos extremos, o stress relacionado com o trabalho pode originar problemas psicológicos, propícios a transtornos psiquiátricos que podem impedir o individuo de voltar ao trabalho (OMS, 2004).

Quanto ao stress do cuidador, como já foi referido anteriormente, a prestação de cuidados é considerada uma atividade desgastante, com repercussões a nível físico, psicológico e social para o cuidador, resultado da pluralidade de tarefas que este tem de desempenhar, e às mudanças que a adoção deste papel representa na sua vida. Desta forma, ser cuidador implica um elevado gasto de tempo e energia, um conflito com o desempenho de outros papéis pessoais, familiares e sociais. O que conduz, muitas vezes, à exaustão, à ansiedade e ao stress (Figueiredo, 2007).

As respostas utilizadas pelo cuidador para diminuir o nível de stress experienciado podem ser definidas como estratégias de coping, cada sujeito elege as estratégias que perceciona como as mais eficazes. Torna-se importante referenciar que as estratégias de coping utilizadas pelos cuidadores para lidar com os níveis de stress associados ao ato de cuidar desempenham um papel determinante nos níveis de saúde física e mental dos mesmos (Sequeira, 2010).

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2. EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE E CAPACITAÇÃO

O conceito de saúde tem evoluído ao longo dos tempos. A OMS (1946) define saúde como “um estado completo de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.

Após a 1ª Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde em que foi emitida a Carta de Otava em 1986, a OMS acrescentou uma nova ideia, referindo que a Saúde constituiu “um recurso para a vida e não uma finalidade”, em que o individuo tem a capacidade de se adaptar às alterações do meio contribuindo assim para o bem-estar dum grupo ou de uma comunidade.

Assim como o conceito de Saúde, o conceito de Educação para a Saúde também sofreu alterações decorrentes da evolução das novas perspetivas de saúde e de bem-estar individual, comunitário e social. Em 1990, a OMS definiu a Educação para a Saúde como “um processo baseado em regras científicas que utiliza oportunidade educacionais programadas de forma a capacitar os indivíduos, agindo isoladamente ou em conjunto, para tomarem decisões fundamentais sobre assuntos relacionados com a saúde”. Nesta perspetiva evidencia-se o papel formativo e fomentador de estilos de vida saudáveis do educador.

É através da Educação para a Saúde que o indivíduo toma decisões conscientes sobre o que são as suas escolhas mais saudáveis, e estimulado a interagir com os indivíduos da sua comunidade, promove ações para uma vida saudável e participa responsável e ativamente no processo educativo. Os intervenientes não devem ser apenas meros divulgadores de informação, devem sim ser dinamizadores da reflexão dos grupos e da comunidade, de forma a estimulá-los a interpretar o seu modo de vida e a refletir os seus contextos, de forma a identificarem e a mobilizarem os recursos disponíveis para se manterem saudáveis.

A Educação para a Saúde pode ser entendida como a promoção da literacia em saúde e a atividade educativa tem como principais finalidades: aumentar a consciencialização das comunidades sobre as questões relacionadas com a saúde dos seus membros, auxiliar na aquisição de conhecimentos e competências e promover atitudes favoráveis à saúde e à promoção de valores de bem-estar e equilíbrio. A Educação para a Saúde tem como principal objetivo a capacitação de grupos ou comunidades e, para a OMS, a Educação para a Saúde é “uma ação exercida sobre os indivíduos no sentido de modificar

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os seus comportamentos, a fim de adquirirem e conservarem hábitos de saúde saudáveis, aprenderem a usar os serviços de saúde que têm à sua disposição e estarem capacitados para tomar, individual ou coletivamente, as decisões que implicam a melhoria do seu estado de saúde e o saneamento do meio em que vivem” (OMS, 1969). Neste sentido, as intervenções de Educação para a Saúde têm um carater formativo, uma vez que conseguem integrar processos cognitivos que permitem a modificação de comportamentos, tornando-se numa ação permanente, consciente, racional e voluntária.

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3. A METODOLOGIA DO PLANEAMENTO EM SAÚDE

Segundo Imperatori & Giraldes (1993), a metodologia do planeamento em saúde é um instrumento que permite realizar ações com vista ao desenvolvimento deste setor. Neste sentido, planear em saúde permite que todas as ações sejam realizadas de forma racional, que tenham capacidade de modificar a realidade e que se projetem no futuro.

Para Tavares (1990), o planeamento em saúde é um processo dinâmico e contínuo no qual são analisados e previstos todos os recursos e serviços necessários para que os objetivos sejam atingidos, de forma a redistribuir e utilizar os recursos de forma mais eficiente, uma vez que em muitos casos existe escassez de recursos. Este processo permite também a utilização mais lógicas e coerente das infraestruturas e equipamento necessários.

A metodologia do planeamento em saúde divide-se em várias etapas: o diagnóstico de situação, definem-se prioridades relativamente os problemas identificados, delineiam-se objetivos e selecionam-se as estratégias para os atingir, em selecionam-seguida elabora-selecionam-se um programa ou projeto, prepara-selecionam-se a operacionalização do mesmo, executa-se e no final faz-se a avaliação do mesmo (Imperatori & Giraldes, 1993).

O diagnóstico de situação é a primeira fase do planeamento em saúde. Deve incluir-se informação sobre os setores económicos e sociais, identificar os principais problemas de saúde e quais os fatores que os condicionam. Esta informação deve ser aprofundada e alargada, mas ao mesmo tempo sucinta e clara de modo a corresponder às necessidades do próprio planeamento (Imperatori & Giraldes, 1993; Tavares, 1990)

A segunda fase do planeamento em saúde passa por se definirem as prioridades. Nesta fase são hierarquizados os problemas identificados e verifica-se qual ou quais são mais prioritários. Deve ter-se sempre em consideração o tempo limite que se dispões para a realização da intervenção (Imperatori & Giraldes, 1993).

A terceira fase diz respeito à fixação de objetivos de forma a atingir os problemas identificados. Estes devem ser quantificáveis e o mais realistas possíveis, de modo a serem avaliados posteriormente (Imperatori & Giraldes, 1993).

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A seleção de estratégias corresponde à quarta fase deste processo em que se pretende escolher determinadas técnicas de modo a alcançar um objetivo, devendo realizar-se também nesta fase uma estimativa dos recursos a utilizar (Imperatori & Giraldes, 1993).

Em seguida, na quinta fase do planeamento em saúde, elabora-se o programa ou o projeto que deve analisar minuciosamente as atividades que deverão ser realizadas de forma a atingir os objetivos propostos e definidos espaços temporais para a sua realização, apresentando um cronograma como orientador de todo o processo (Imperatori & Giraldes, 1993).

A fase final do planeamento em saúde corresponde à fase da avaliação, onde se verifica o grau de sucesso dos objetivos (Tavares, 1990). Para Imperatori & Giraldes (1993), depois de terminado todo o processo, deve ser mantida a sua continuidade e dinamismo, voltando à fase inicial para atualizar o diagnóstico de situação e melhorar a informação disponível.

A metodologia do planeamento em saúde parece ser a mais adequada para trabalho a efetuar pois este destina-se à comunidade. Neste sentido, todo o projeto desenvolvido foi elaborado tendo como base esta metodologia.

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4. ENFERMAGEM DE SAÚDE COMUNITÁRIA – O PAPEL DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA NA

PROMOÇÃO DA CAPACITAÇÃO DO CUIDADOR FORMAL

Segundo a Ordem dos Enfermeiros (2005), a abordagem multidisciplinar ou transdisciplinar tem um objetivo que é melhorar a qualidade de vida da população e da comunidade.

Para Militar (2012), os cuidados têm um caráter universal e multidimensional, adequado às crenças, valores e culturas da população alvo. Qualquer que seja o nível da prestação de cuidados, o enfermeiro terá de identificar os recursos existentes, por forma a responder às necessidades identificadas, para uma continuidade de cuidados que promovam a saúde e o bem-estar da comunidade.

Neste sentido, a alínea a) do Artigo 80º do Código Deontológico dos Enfermeiros, refere que a responsabilidade do enfermeiro para com a comunidade centra-se na “promoção da saúde e na resposta às necessidades em cuidados de enfermagem”. Para isso, é necessário que o enfermeiro identifique as necessidades utilizando os instrumentos apropriados. A alínea c) do mesmo Artigo, refere-se à colaboração do enfermeiro com outros profissionais de saúde em programas que correspondam às necessidades da comunidade, incluindo nesta colaboração os fatores que podem influenciar a saúde, tais como os fatores psicológicos, sociais, económicos ou ambientais (OE, 2005).

A área da Saúde Pública é, ainda hoje, influenciada por dois documentos de referência: a Declaração de Alma-Ata (OMS, 1978) e a Carta de Ottawa (OMS, 1986).

A Declaração de Alma-Ata é a carta resultante da 1ª Conferência Internacional sobre os Cuidados de Saúde Primários para o combate das desigualdades entre os povos e tinha como meta a “Saúde para todos no ano 2000”. Nesta carta apelou-se à responsabilidade de governos, organizações supranacionais e comunidade internacional para a implementação e colaboração na organização dos Cuidados de Saúde Primários como elemento chave na “Saúde para Todos” (OMS, 1978).

Foi atribuída aos Cuidados de Saúde Primários uma grande importância resultante da forma continuada e de proximidade com e para as populações, constituindo-se assim como um pilar de segurança e autoconfiança para as mesmas.

A Educação para a Saúde constitui-se como uma das áreas prioritárias de intervenção dos Cuidados de Saúde Primários que tem como principal objetivo a capacitação dos indivíduos para tomarem decisões

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fundamentais sobre assuntos relacionados com a saúde, agindo isoladamente ou em conjunto (OMS, 1990).

A Carta de Ottawa define a promoção da saúde atual. Este conceito está interligado com a qualidade de vida, a saúde, a solidariedade, a equidade, a democracia, a cidadania, o desenvolvimento, a participação e a parceria. Está também relacionado com um conjunto de estratégias que envolvem ações do Estado, da comunidade, dos indivíduos, do sistema de saúde e de parcerias intersectoriais implicando uma responsabilização conjunta (OMS, 1986).

Este documento assenta em cinco áreas fundamentais: a elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis, a criação de ambientes favoráveis à saúde, o reforço da ação comunitária, o desenvolvimento de habilidades pessoais e a reorientação do sistema de saúde (OMS, 1986).

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5. MODELO TEÓRICO DE BETTY NEUMAN

O Modelo Teórico de Betty Newman, desenvolvido em 1970, também conhecido pela Teoria de Sistemas de Cuidados de Saúde, teve origem a partir das seguintes teorias: Gestalt, Filosóficas de Chardin e Bernard Marx, Geral dos Sistemas de Bertalanffy, Stress de Hans Seyle e a de Crise de Gerls Caplan (Pearson e Vaughan, 1992).

Trata-se de um modelo dinâmico, flexível e global, que garante uma estrutura, organização e orientação para responder à complexidade de intervenções e processos na comunidade (Tomey e Alligood, 2004).

A organização do modelo teórico de Neuman contempla a existência de um núcleo central (pessoa, família, comunidade) protegido por linhas concêntricas (recursos de energia do núcleo). As linhas de resistência representam condições internas e são a última barreira face aos stressores. A sua ineficácia pode resultar na morte da pessoa; se eficazes ajudam a restabelecer o estado normal de bem-estar (Martins, 2014).

A linha normal de defesa corresponde ao estado normal de bem-estar e diz respeito às capacidades e habilidades da pessoa a partir das vivências, representa o equilíbrio ou a adaptação aos stressores. A quebra desta linha leva ao aparecimento de sinais e sintomas de desequilíbrio no continuum saúde/doença. A linha mais externa, a de defesa flexível é uma proteção adicional às de defesa normal e resistência, tendo a função de amortecedor. Estas linhas, ao serem dinâmicas, permitem intervenção preventiva em saúde (Martins, 2014). Assim, a pessoa sujeita a stressores necessita que as suas linhas de defesa sejam reforçadas para atingir o equilíbrio. É justamente sobre este aspeto que a enfermagem pode intervir de modo a identificar os problemas e a potenciar os recursos para atingir o reequilíbrio (Braga e Silva, 2011).

O Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária tendo como suporte o modelo de Betty Neuman, reconhece as variáveis que influenciam o cliente e pode assim fundamentar as suas intervenções (Braga e Silva, 2011).

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Figura 1 – Esquema Ilustrativo do Modelo Teórico de Betty Neuman Fonte: Adaptado de Jeremias, R. & Rodrigues, F. (2010)

De acordo com a perspetiva de Beddome (1995), a comunidade é percebida sob dois focos de abordagem: a comunidade geopolítica como cliente ou o grupo populacional como cliente. Na primeira, a comunidade corresponde a um lugar, a uma área geográfica específica e delimitada; na segunda refere-se a grupos de indivíduos associados por caraterísticas refere-semelhantes tais como estatuto socioeconómico, cultura, idade, valores ou políticas.

Em ambas as abordagens, aplicam-se os conceitos de contexto intrasistémico, intersistémico e extrasistémico do Modelo Teórico de Betty Neuman.

Segundo Beddome (1995), no grupo populacional como cliente, o contexto intrasistémico corresponde ao grupo de pessoas que possuem caraterísticas comuns. Também em relação à comunidade geopolítica como cliente, o contexto intrasistémico é toda a população que reside dentro de uma região, ou seja, corresponde às pessoas. Neste contexto, a apreciação da pessoa/grupo ou comunidade é vista como um sistema composto de variáveis fisiológicas (estrutura física do corpo, biológica e química), psicológicas (emoções e processos mentais), de desenvolvimento (processos relacionados com o desenvolvimento ao longo da vida), socioculturais (relações e expectativas sociais/culturais) e espirituais (influência de crenças religiosas na vida da pessoa) constituindo em conjunto a essência do ser (núcleo). No que respeita aos contextos intersistémico e extrasistémico do grupo populacional ou da comunidade geopolítica como cliente, essa apreciação é efetuada a partir de oito subsistemas, designados: Educativo, Saúde e Segurança, Sociocultural, Comunicação e Transportes, Recreativo e Lazer, Político e Segurança, Económico e Religioso.

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Nesta linha de pensamento, o grupo populacional implicado no contexto do trabalho são os Cuidadores Formais, ou seja, são o sistema cliente. A apreciação do público alvo com base neste modelo teórico encontra-se nos quadros em Apêndice 1.

5.1 O MODELO TEÓRICO DE BETTY NEUMAN APLICADO À POPULAÇÃO ALVO

Uma das principais funções da enfermagem comunitária consiste em conhecer e compreender a comunidade como cliente, identificando as suas necessidades, os problemas e as forças e recursos.

A apreciação da comunidade implica a colheita de dados e a sua interpretação resulta numa lista de problemas e capacidades da comunidade. Cada problema precisa de ser identificado e apresentado sob a forma de diagnóstico.

Segundo Stanhope e Lancaster (2011), o diagnóstico de enfermagem permite expor o problema, clarificar quem recebe os cuidados e identificar os fatores que contribuíram para o problema.

Com base no modelo teórico da Betty Neuman e na análise de conteúdo das entrevistas resultaram os seguintes diagnósticos: “Ameaça à linha de defesa dos cuidadores formais relacionada com stressores intrapessoais” evidenciado por:

− Défice de conhecimentos em relação às feridas e úlceras por pressão; − Défice de conhecimentos em relação ao Stress do Cuidador/Burnout;

Estes diagnósticos serviram de suporte à realização do projeto de intervenção comunitária e tentam responder às necessidades identificadas.

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II. ENQUADRAMENTO PRÁTICO

Na segunda parte deste relatório descreve-se a unidade de saúde e da comunidade onde decorreram os estágios, bem como se apresentam todas as fases de desenvolvimento do projeto de intervenção, de acordo com a metodologia do planeamento em saúde.

1.

CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTÁGIO

1.1

A UNIDADE DE SAÚDE

O estágio realizou-se numa Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) inserida na Administração Regional de Saúde do Alentejo (ARS Alentejo).

O Decreto-Lei nº28/2008 cria o agrupamento de centros de saúde do Serviço Nacional de Saúde, abreviadamente designados por ACES. Os ACES são serviços de saúde com autonomia, constituídos por várias unidades funcionais que integram um ou mais centro de saúde. O Centro de saúde componente dos ACES é um conjunto de unidades funcionais de prestação de cuidados de saúde primários, individualizados por localização e denominação determinadas. Tem por missão garantir a prestação de cuidados de saúde primários à população de determinada área geográfica, através do desenvolvimento de atividades de promoção da saúde e da prevenção da doença e ligação a outros serviços para continuidade dos cuidados. Também desenvolvem atividades de vigilância epidemiológica, investigação em saúde, controlo e avaliação dos resultados e participam na formação de diversos grupos profissionais nas suas diferentes fases, pré-graduada, pós-graduada e contínua.

Os ACES compreendem as seguintes unidades funcionais:

a) Unidade de saúde familiar (USF);

b) Unidade de cuidados de saúde personalizados (UCSP); c) Unidade de cuidados na comunidade (UCC);

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ago-20 | Página 38 e) Unidade de recursos assistenciais partilhados (URAP);

f) Outras unidades ou serviços, propostos pela respetiva ARS, I. P., e aprovados por despacho do Ministro da Saúde, e que venham a ser considerados como necessários.

As UCC são definidas no mesmo Decreto-Lei no artigo 11º como:

A UCC presta cuidados de saúde e apoio psicológico e social de âmbito domiciliário e comunitário, especialmente às pessoas, famílias e grupos mais vulneráveis, em situação de maior risco ou dependência física e funcional ou doença que requeira acompanhamento próximo, e atua ainda na educação para a saúde, na integração em redes de apoio à família e na implementação de unidades móveis de intervenção. (Ministério da Saúde, 2008, p. 1184)

A equipa da UCC é composta por enfermeiros, assistentes sociais, médicos, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas da fala e outros profissionais, consoante as necessidades e a disponibilidade de recursos. O ACES participa, através da UCC, na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, integrando a equipa coordenadora local. À UCC compete constituir a equipa de cuidados continuados integrados, prevista no Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de junho.

1.2 A COMUNIDADE

O projeto de intervenção comunitária realizado no âmbito deste estágio decorreu na área geográfica de intervenção da UCC que abrange e inclui uma área de 154,6 Km2 e é composto por quatro freguesias. Este concelho é afetado pela desertificação do território e pela dispersão da população e consequente isolamento da mesma.

Relativamente à sua estrutura demográfica, constata-se que em 2019, de acordo com os dados estatísticos do PORDATA, nas estimativas anuais da população residente, a densidade populacional (Intensidade do povoamento expressa pela relação entre o número de habitantes de uma área territorial determinada e a superfície desse território) deste concelho era de 26,0 indivíduos por Km2. Segundo os Censos de 2011, constata-se que a população residente era de 3512 habitantes, sendo que a população feminina é ligeiramente superior à população masculina.

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Nos dados estatísticos do PORDATA verifica-se que o índice de envelhecimento deste concelho (Relação entre a população idosa e a população jovem, definida habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com 65 ou mais anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos) tem vindo a aumentar de forma exponencial sendo que em 1960 era de 48,0% e em 2011 era de 348,3%, ou seja, em 2011 existiam 348 idosos por cada 100 pessoas menores de 15 anos. Verifica-se que este valor é muito superior ao do continente que Verifica-se situa em 127,5%. Em relação ao índice de dependência de idosos (Relação entre a população idosa e a população em idade ativa, definida habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com 65 ou mais anos e o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos), constata-se que, segundo os Censos de 2011, entre 1960 e 2011 houve um grande aumento, passando de 17,2 idosos para 57,5 idosos, respetivamente.

No que se refere à população residente por grupo etário verifica-se um decréscimo da mesma em todos os grupos etários, tanto em 2001 como em 2011. O grupo etário com maior número de população é o grupo da população em idade adulta (25-64 anos), que corresponde a 49,12% da população do concelho. Em seguida, está o grupo etário com 65 ou mais anos que representa 33,03% da população, seguido do grupo etário dos 0-14 anos com 9,48% e, por último, o grupo etário dos 15-24 anos que representa 8,37% da população com concelho.

Relativamente à rede de serviços e equipamento sociais, verifica-se que o concelho dispõe de vários recursos cujas respostas sociais são de acordo com a área de intervenção. Assim sendo, verifica-se que na área de intervenção da infância e da juventude, existem creches destinadas a crianças até aos 3 anos. Para crianças e jovens com deficiência e em situação de perigo, existe um centro de atividades ocupacionais que acolhe não só crianças, mas também adultos. Para a população em situação de dependência e idosos, existem Centros de Convívio e Centros de Dia, Serviços de Apoio Domiciliário, estruturas residenciais para idosos (Lares) e Unidade de Média Duração e Reabilitação e Unidade de Longa Duração e Manutenção(DSM, 2015).

No que se refere à atividade económica, constata-se que o setor dos serviços é o setor de atividade económica mais relevante. A agricultura surge apenas como um complemento da atividade profissional e também como meio de subsistência económica para muitas famílias do concelho. O turismo surge como um forte impulsionador da economia local, pois o concelho é detentor de uma enorme e diversa riqueza ao nível do património natural, cultural, histórico e urbanístico (DSM, 2015).

Relativamente aos estabelecimentos de educação e ensino, existem duas escolas de Ensino Básico que reúnem os primeiros três ciclos do ensino obrigatório. Estas duas escolas integram o Agrupamento

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de Escolas do concelho. Estas escolas situam-se em 2 das quatro freguesias do concelho. O concelho possuí ainda 3 estabelecimento de ensino que se destinam às crianças entre os 3 anos e a idade de ingresso no ensino básico (DSM, 2015).

Relativamente ao número instituições para idosos do concelho, verifica-se que estas representam 72% do número de respostas sociais para idosos, sendo que se dividem em 1 de Apoio Domiciliário Integrado, 2 Centros de Convívio, 4 Centros de Dia, 4 Estruturas Residenciais para Idosos e 3 de Serviço de Apoio Domiciliário (DSM, 2015).

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2. DIAGNÓSTICO DE SITUAÇÃO

O diagnóstico de situação é o primeiro passo da metodologia do planeamento em saúde. Só a partir da definição do diagnóstico de situação é que é possível começar a atuar.

Para Imperatori & Giraldes (1993), o diagnóstico da situação de saúde funcionará como justificação das atividades e como padrão de comparação no momento da avaliação. O diagnóstico é o ponto de partida para medir o avanço alcançado com as nossas atividades.

O diagnóstico de situação de saúde deverá corresponder às necessidades de saúde da população. No diagnóstico temos de caracterizar não só a população e as suas necessidades de saúde, mas também os serviços (Imperatori & Giraldes, 1993).

O conhecimento das necessidades sentidas e expressas pela população é importante no diagnóstico, mas também o será na fase de escolhas de prioridades e no momento da formulação de estratégias e programação. A qualidade do diagnóstico depende da qualidade e quantidade da informação (Imperatori & Giraldes, 1993).

O diagnóstico de situação deste projeto foi realizado durante o Estágio I que decorreu de 20 de maio de 2019 a 28 de junho de 2019. Devido ao concelho onde foi realizado o estágio ser um concelho muito envelhecido como já foi referido anteriormente, houve a preocupação de intervir na área do envelhecimento. Como a maioria das respostas sociais do concelho são destinadas a idosos decidiu intervir-se nestas.

Para a realização do diagnóstico de situação, realizou-se um estudo descritivo, observacional de forma a caraterizar a situação e perceber quais as dificuldades/necessidades dos cuidadores formais em termos formativos.

2.1

POPULAÇÃO ALVO E AMOSTRA

Segundo Fortin (1999), a população alvo é constituída pelos elementos que satisfazem os critérios de seleção (…) e para os quais o investigador deseja fazer generalizações. A população alvo raramente é acessível ao investigador na sua totalidade, sendo necessário recorrer a uma amostra.

Imagem

Figura 1 – Esquema Ilustrativo do Modelo Teórico de Betty Neuman  Fonte: Adaptado de  Jeremias, R
Figura 2 – Grelha de Análise para determinação de prioridades  Fonte: Pineault & Daveluy, (1986) por Tavares, (1990)
Gráfico 1 - Participação dos Cuidadores Formais na Sessão de Formação: Feridas e Úlceras por Pressão e Stress do  Cuidador/Burnout por instituição
Gráfico 2 - Taxa de Satisfação dos Cuidadores Formais em relação à sessão de Formação: Feridas e Úlceras por Pressão 0%
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Referências

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