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Dinâmicas recentes da população indígena no Nordeste brasileiro

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Academic year: 2021

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Dinâmicas recentes da população indígena no Nordeste brasileiro

Tomas Paoliello Pacheco de Oliveira

Palavras-chave: Censo; População Indígena; Nordeste; Território Indígena

Trabalho apresentado no XVIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Águas de Lindóia/SP – Brasil, de 19 a 23 de novembro de 2012.

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I. Introdução

O presente trabalho se insere na linha de pesquisa sobre uma leitura dos indígenas do Nordeste através dos Censos Nacionais, analisados como um fenômeno sociológico e contextualizado historicamente. Neste âmbito identificamos o artigo ‘Pardos, mestiços ou

caboclos: os índios nos censos nacionais no Brasil’ (PACHECO DE OLIVEIRA, 1997), o

texto ‘Uma etnologia dos “índios misturados”? Situação Colonial, territorialização e fluxos

culturais’ (PACHECO DE OLIVEIRA, 2004), a monografia ‘O crescimento da presença indígena nos censos nacionais: a região Nordeste’ (PAOLIELLO, 2007), a qual foi adaptada,

apresentada e publicada nos Anais do XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais (PAOLIELLO, 2008), o texto ‘Trama histórica e mobilizações indígenas atuais: uma

antropologia dos registros numéricos no Nordeste’ (PACHECO DE OLIVEIRA, 2011), e

finalmente, a apresentação ‘Dinâmicas da população indígena no Nordeste brasileiro: o

Censo do IBGE 1991, 2000 e 2010 e outras quantificações’ (PACHECO DE OLIVEIRA e

PAOLIELLO, 2012), na 28ª Reunião Brasileira de Antropologia.

Nestes trabalhos citados persistiu o interesse em analisar a espacialização das identidades étnicas através de dados estatísticos, apontando uma convergência disciplinar entre a geografia e a antropologia. Para tanto foi ressaltado o caráter histórico dos processos sociais em foco, tanto através do resgate de antigas narrativas esquecidas ou apagadas, quanto na sensibilidade às atuais questões e movimentações étnicas, as quais apontam escolhas e demandas políticas.

Especificamente para esta comunicação nos concentraremos na discussão dos primeiros resultados do Censo 2010 já divulgados pelo IBGE2

A análise estatística tem como característica oferecer um rápido deslocamento entre escalas geográficas, que são agrupadas e desagrupadas arbitrariamente, do mesmo modo que são definidos cortes, faixas e classes de grandeza na população. O enorme recorte espacial escolhido, a região Nordeste, ocupa 18,3% do território nacional, contendo nove unidades da federação, 1.794 municípios, e mais de 53 milhões de pessoas. Nossa análise restringiu-se basicamente às escalas da região Nordeste (como universo) e dos municípios (como unidades particulares). Desta maneira o trabalho principal consistiu na criação de diferentes leituras e rearranjos sobre estes dados, com base em perspectivas historicamente contextualizadas. Assim objetivamos nos aproximar de um retrato mais fiel e complexo sobre as recentes dinâmicas da população indígena do Nordeste brasileiro.

, os quais serão comparados com os Censos 1991 e 2000 e a outras quantificações oficiais sobre os indígenas, promovidas pela FUNAI e FUNASA. A estrutura apresentada no texto acompanhará a proposta em trabalhos anteriores (PAOLIELLO, 2007 e 2008).

II. Presença indígena no Brasil e Nordeste: censos de 1991, 2000 e 2010

O crescimento da população indígena brasileira caiu de quase 150% entre os censos de 1991 e 2000 para 11,4% de 2000 a 2010 (Tabela 1). No primeiro período o acelerado crescimento ocorreu em todas as regiões, apesar de surpreendentemente ter sido muito mais

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Os dados disponíveis não incluem ainda as novas variáveis pesquisadas no Censo 2010, como etnia, língua falada e terra indígena, previstas para divulgação pelo IBGE em julho de 2012. Assim, todas as análises aqui executadas baseiam-se nos dados do Censo 2010 similares aos dos dois censos precedentes.

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significativo nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste do que nas regiões de marcada presença indígena, Norte e Centro-Oeste. Já entre os censos de 2000 e 2010 a distribuição do crescimento indígena pelas regiões foi radicalmente alterada: no Sudeste foi detectada uma enorme queda no contingente que se declarou indígena (-63.229, que equivaleu a uma diminuição de -39,2%); no Sul também houve diminuição, porém menor (-9.802, ou -11,6%).

Porém na região Nordeste este quadro não é semelhante, e apesar do ritmo de crescimento ter caído (de 205% para 22,5%), o total de indígenas no Censo 2010 aumentou em 38.302 pessoas. Esta situação é semelhante a da região Centro-Oeste, na qual o crescimento caiu de 97,8% para 25%, mas a população indígena teve um acréscimo de 26.134 indivíduos. A região Norte foi a que menor queda teve no seu crescimento, passando de 71,3% para 43,3% e tendo 92.430 novos autodeclarados indígenas no último censo.

Tabela 1

População residente autodeclarada indígena brasileira e variação absoluta e relativa, segundo as Grandes Regiões - 1991, 2000 e 2010

Região Geográfica

Variável X Ano População residente

autodeclarada indígena Variação 1991/2000 Variação 2000/2010 1991 2000 2010 Absoluta Relativa (%) Absoluta Relativa (%) Norte 124.618 213.443 305.873 88.825 71,3 92.430 43,3 Nordeste 55.854 170.389 208.691 114.535 205,1 38.302 22,5 Sudeste 30.584 161.189 97.960 130.605 427,0 -63.229 -39,2 Sul 30.342 84.747 74.945 54.405 179,3 -9.802 -11,6 Centro-Oeste 52.750 104.360 130.494 51.610 97,8 26.134 25,0 Total Brasil 294.148 734.127 817.963 439.979 149,6 83.836 11,4 Fonte: IBGE - 1991, 2000 e 2010

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Este novo panorama identificado pelo Censo 2010 consolidou a região Nordeste como a segunda em população indígena no país, somente superada pela região Norte, a qual possui 37% desse total (Gráfico 1). Em relação ao Censo 2000 os novos dados apontaram um crescimento da participação do Centro-Oeste, pequena redução da região Sul e grande queda da região Sudeste (de 21% para 12%). Observando a divisão destes dados pela situação de domicílio sinalizamos uma maior aproximação das tendências na distribuição de indígenas por região com os números da população rural indígena (Norte 48%, Nordeste 20%, Centro-Oeste 19%, Sudeste 3,7%, e Sul 8,1%). Por outro lado, a distribuição dos indígenas brasileiros em área urbana mostra a região Nordeste com o maior percentual (33%) seguida pelo Sudeste (25%), Norte (19%), Centro-Oeste (10%) e Sul (10%).

Aqui ressaltamos esse acelerado crescimento (até o Censo 2000) e consolidação (2010) da população autodeclarada indígena no Nordeste, primeiramente, pois a região não acompanhou as tendências de retração verificadas no Sul e principalmente no Sudeste no último censo. Neste sentido as interpretações de que o Censo 2000 teria superestimado erroneamente os indígenas não se confirmaram no que diz respeito à região Nordeste.

Tabela 2

População indígena do Nordeste

segundo situação de domicílio, 1991, 2000 e 2010 Censo 1991 Censo 2000 Censo 2010

Urbana 15.991 105.728 106.150

Rural 39.870 64.661 102.541

Fonte: IBGE - 1991, 2000 e 2010

A divisão da população indígena pela situação de domicilio ajuda a esclarecer parcialmente aonde ocorreram as principais mudanças (Tabela 2). A tendência de crescimento nas áreas urbanas foi interrompida, porém não representou uma queda no número total de indígenas urbanos da região. Já nas áreas rurais o ritmo de crescimento

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acelerado se manteve, e em números absolutos a população indígena rural do Nordeste, que havia aumentado em 24.791 pessoas de 1991 para 2000, foi acrescida de 37.880 indígenas entre 2000 e 2010. Continuando com a fragmentação dos dados, verificamos a distribuição por Unidade da Federação da evolução dos indígenas segundo situação de domicílio entre 1991 e 2010 (Gráficos 2.1 e 2.2).

Esse desmembramento mostra que a queda no crescimento acelerado da população indígena urbana do Nordeste foi bem pontual (Gráfico 2.1). A diminuição desse segmento populacional entre 2000 e 2010 (processo que ocorreu em vários outros locais brasileiros) restringiu-se, nessa região, aos estados da Bahia (-9.956), Maranhão (-1.125), Sergipe (-876) e Rio Grande do Norte (-773). Nos demais estados a população indígena urbana aumentou significativamente. O ritmo de crescimento não foi similar ao verificado no período 1991/2000, porém atingiu 75% na Paraíba (4.041), 52% no Ceará (4.295), 48% em Alagoas (2.031), e 31% no Piauí (558). Em Pernambuco o crescimento foi menor percentualmente (9%), entretanto significativo em números absolutos (2.227).

Em relação à população autodeclarada indígena rural nordestina vemos um grande aumento no ritmo de crescimento de 2000/2010 quando comparada ao período anterior (Gráfico 2.2). Analisando este crescimento por estado encontramos Pernambuco com o ritmo mais acelerado (147,4% ou 16.387 novos indígenas), seguido por Paraíba (106,7%), Ceará (73%), Alagoas (69,8%), Rio Grande do Norte (64,1%), Maranhão (45,2%) e Bahia (11,7%). Por outro lado tivemos uma diminuição da população autodeclarada indígena entre 2000/2010 nos estados de Sergipe (-44,6%) e Piauí (-32,1%).

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No sentido de verificar mais minuciosamente como se distribuiu o enorme crescimento da população autodeclarada indígena entre os Censos de 1991 e 2000, havíamos destacado (PAOLIELLO, 2007, p.35) que dos 170.389 autodeclarados indígenas em 2000, 26% (ou 43.790) são residentes em municípios onde em 1991 não havia nenhum indígena (Gráfico 3). Portanto, excetuando-se a hipótese de movimentos migratórios significativos, temos a identificação de um grupo populacional que não se declarava indígena e no Censo posterior passou a se declarar. Esse surgimento de novos indígenas em municípios nos quais não haviam índios foi apurado novamente no último recenseamento: foram 7.603 índios distribuídos em 470 municípios com ausência de índios em 2000 e presença de índios em 2010.

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Uma outra hipótese para o crescimento acelerado indígena entre 1991/2000, a de que teria havido um grande crescimento vegetativo, não foi confirmada:

Os índios de 0 a 14 anos declinaram entre 91 e 2000, de 42,8% para 29,9% do total de autodeclarados indígenas, enquanto a faixa de 15 a 64 anos aumentou de 51,9% para 63,6% do total de indígenas (IBGE, 2005). Isso demonstra não existir exclusivamente um processo de explosão demográfica da população indígena, com o crescimento acelerado do nascimento de crianças indígenas, reafirmando a tese deste crescimento acontecer através de pessoas que no censo de 1991, por diferentes razões, não se declararam como indígenas (PAOLIELLO, 2007, p.36).

Igualmente, no período 2000/2010 não encontramos dados que apontem uma mudança na estrutura etária que explicasse a dinâmica da população indígena do Nordeste (Tabela 4).

Tabela 4

População indígena do Nordeste, segundo os grupos de idade - 2000 e 2010

0 - 14 15 - 59 > 60 Total

2000 Total 50 990 103 692 15 707 170389

% 30 61 9 100

2010 Total 64 728 124 521 19 442 208691

% 31 60 9 100

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 e 2010.

III. Análises específicas dos dados do Censo IBGE, 2000 e 2010

Para efeito de uma análise mais aprofundada dos dados do censo do IBGE e permitir uma visualização em diferentes escalas espaciais, foram determinados três grupos de municípios, classificados quanto à sua população total (Gráfico 4). A partir desta nova tabulação dos dados, a população nordestina foi dividida em três faixas de magnitude de habitantes dos municípios: os municípios com mais de 100.000 habitantes (no Mapa 1, em azul) possuem 40% do total da população do Nordeste; os municípios com menos de 25.000

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(no Mapa 1, em vermelho) tem 29%; e os municípios entre 25.000 e 100.000 habitantes (no

Mapa 1, em rosa) possuem 31% da população nordestina.

A comparação com essa mesma divisão por classes no censo de 2000 (Gráfico 4) mostra a existência de um movimento de concentração da população nordestina em grandes cidades, apesar do número absoluto de moradores em municípios com menos de 25 mil habitantes ter tido leve acréscimo. Em municípios entre 25.000 e 100.000 habitantes o aumento de população foi um pouco maior, porém em números relativos essa classe de municípios também diminuiu. De qualquer maneira consideramos que o recorte proposto, apesar de não representar mais uma divisão tão igualitária, responde aos objetivos de enfatizar a grande diferença existente entre estas três classes de municípios definidas pelos tamanhos de suas populações.

III. 1. Número Absoluto de Indígenas

Primeiramente analisaremos a inserção da população indígena nas classes de município definidas acima (Tabelas 5.1, ano 2000 e 5.2, ano 2010). Assim podemos visualizar o cruzamento dos municípios por suas faixas de população indígena, com as classes de municípios (definidos pela população total).

Observando as Tabelas 5.1 e 5.2 destacamos os municípios sem presença indígena (primeira coluna): em 2000 existiam 733 municípios sem autodeclarados indígenas, número que cai para 379 no Censo 2010. Em termos relativos temos autodeclarados indígenas em aproximadamente 60% dos municípios do Nordeste em 2000. Já em 2010 esse número passa para 79% dos municípios da região (1.411 em 1.785). Esse aumento da distribuição espacial indígena ocorre tanto nos municípios médios (entre 25.000 e 100.000 habitantes), nos quais apenas quatro não tiveram autodeclarados indígenas em 2010, como nos municípios pequenos, com menos de 25.000 habitantes. Os municípios com mais de 100.000 moradores já apresentavam indígenas na sua totalidade em 2000 e mantiveram esses números em 2010.

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8 Tabela 5.1

Distribuição da população indígena do Nordeste, segundo as classes de municípios - 2000 Classes de

Municípios

População Total Indígena, por Município

0 < 250 250 - 500 500 - 1.000 1.000 - 5.000 > 5.000 Total

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9 25.000 - 100.000 46 259 30 9 11 0 355 < 25.000 687 667 9 11 11 0 1.385 Total 733 935 48 33 35 2 1.786 Fonte: IBGE - 2000 Tabela 5.2

Distribuição da população indígena do Nordeste, segundo as classes de municípios - 2010 Classes de

Municípios

População Total Indígena, por Município

0 < 250 250 - 500 500 - 1.000 1.000 - 5.000 > 5.000 Total > 100.000 0 20 11 13 12 2 58 25.000 - 100.000 4 332 15 7 15 2 375 < 25.000 375 953 9 7 14 3 1.361 Total 379 1305 35 27 41 7 1.794 Fonte: IBGE - 2010

Outro ponto de grande interesse nas Tabelas 5.1 e 5.2 são as suas últimas colunas, que indicam municípios com mais de 5.000 indígenas. Em 2000 o Censo retratou apenas dois municípios do Nordeste nesta condição, os dois capitais com mais 100.000 habitantes (Salvador, com 18.712 autodeclarados índios e Recife, com 5.094). Já em 2010 temos sete municípios com mais de 5.000 indígenas: dois com mais de 100.000 habitantes (Salvador – BA, com 7.563 e Porto Seguro – BA, com 5.329); dois entre 25.000 e 100.000 habitantes (Pesqueira – PE, com 9.335, e Amarante do Maranhão – MA, com 5.090); e três com menos de 25.000 habitantes (Marcação e Baia da Traição na Paraíba, com, respectivamente, 5.895 e 5.687, além de Jenipapo dos Vieiras – MA, com 5.437). Esses números opõem-se as conclusões de que o crescimento indígena no Nordeste estaria acontecendo principalmente nas grandes cidades. Essa primeira análise aponta para um crescimento em regiões de presença indígena consolidada, com terras indígenas demarcadas, o que pode sinalizar um fortalecimento da identidade indígena nestas regiões.

Uma mudança significativa entre os dois últimos censos pode ser demarcada através das capitais. Das nove apenas três não diminuíram o número de autodeclarados indígenas – Maceió, Teresina e João Pessoa. Este movimento totalizou menos 14.996 índios nas outras seis capitais nordestinas entre 2000 e 2010. Ainda assim notamos que as capitais continuam como municípios concentradores de indígenas. Este processo de diminuição de indígenas verificados pelo Censo aconteceu também nas grandes cidades. De 2000 para 2010 apenas 18 municípios (entre os 53 com mais de 100.000 habitantes, no Mapa 1 indicados em rosa) tiveram um aumento no número de índios, totalizando 2.886 novos autodeclarados. Os outros 36 grandes municípios do Nordeste tiveram queda na sua população indígena, o que representou menos 24.050 indígenas. Além destes 53 municípios com mais de 100.000 habitantes temos outros quatro que possuem terra indígena: na Bahia, Ilhéus e Porto Seguro; e Caucaia e Maracanaú, no Ceará. Estes quatro tiveram aumento no número de autodeclarados indígenas entre os dois últimos censos.

Um terceiro ponto de destaque nas Tabelas 5.1 e 5.2 é o grande número de municípios com até 250 indígenas. Esta faixa de municípios aumentou de 935 em 2000 para 1305 em 2010. Estes municípios podem ser visualizados no Mapa 1, nos numerosos pequenos círculos espalhados na região. Este seria um contingente populacional que se declara indígena com uma presença dispersa e esparsa. Ainda que estes números possam não ser expressivos, se

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com a ajuda dos mapas, trabalharmos tendo como referência a totalidade da região Nordeste, podemos observar que esta presença é constante em toda a região.

No censo 2010 do IBGE, apesar ampla distribuição dos autodeclarados indígenas, percebe-se no Mapa 1 que existem algumas regiões ou municípios que concentram maior número total. São 48 os municípios com mais de 1.000 autodeclarados índios no Nordeste, outros 27 municípios com entre 500 e 1.000 índios, e 27 com entre 250 e 500 índios. Deste grupo de 48 municípios (com mais de 1.000 autodeclarados índios), 14 são municípios com mais de 100.000 habitantes (sendo oito capitais, com exceção de Natal, que tem 866 índios), 17 são municípios com entre 25.000 e 100.000 habitantes e por fim outros 17 são municípios com menos de 25.000 habitantes. Nestes mesmos 48 municípios o Censo de 2010 totalizou 142.820 indígenas, o que representa a concentração de 68,4% do total de índios da região.

Entre estes 48 municípios existem 35 que possuem terra indígena, com 109.773 autodeclarados índios, representando 52.6% dos indígenas do Nordeste. Todos esses 35 municípios com mais de 1.000 índios e presença de terra indígena tiveram aumento no numero de indígenas (totalizando 60.422 índios a mais). Esse processo de aumento contrasta com os outros 14 municípios com mais de 1.000 índios, porém sem terra indígena. Destes, a metade diminuiu a sua população indígena, totalizando menos 16.062 autodeclarados indígenas em apenas sete municípios.

Portanto concluímos esta parte da análise destacando:

 O aumento do alcance da distribuição espacial indígena no Nordeste. Em 2010 existiam autodeclarados índios em 79% municípios da região (em 2000 eram 60%).

 A queda em 2010 do crescimento acelerado verificado entre 1991 e 2000 está fortemente concentrada nos grandes municípios, com mais de 100.000 habitantes. Somente 36 municípios do Nordeste totalizaram uma queda de menos 24.050 indígenas na região entre 2000 e 2010.

 Os municípios com terra indígena tiveram um grande aumento de autodeclarados índios entre 2000 e 2010, o que demonstra um processo de fortalecimento da identidade indígena nestes municípios nos quais já existiram ações de reconhecimento étnico e garantia de direitos diferenciados pelo governo federal.

III. 2. Número Percentual de Indígenas

No Mapa 2 pode-se visualizar, através das cores dos municípios as suas classes de população total, e através dos círculos pretos a participação percentual da população indígena na população total por município. Devemos sinalizar que apesar do baixo número de municípios nas faixas de mais de 1% de participação na população total, a distribuição dos indígenas é bastante abrangente, capilarizada em toda a superfície da região.

Com relação à participação indígena na população total (representada no Mapa 2 pela variação do tamanho dos círculos pretos), podemos identificar, como maior círculo preto, o município de Marcação – PB, com o maior percentual do Nordeste (77,5% da sua população total se autodeclara indígena), seguido por Baía da Traição, também na Paraíba (70,9%), Jenipapo dos Vieiras – MA (35,2%), Carnaubeira da Penha – PE (33,6%) e Pariconha – AL (32,2%). São 71 municípios com mais de 1% da sua população total autodeclarada indígena. Destes, 17 são municípios com mais de 10% de indígenas na sua população total, outros 18 entre 5 e 10% de participação indígena entre o número de habitantes e mais 36 entre 1 e 5%, além de 1.331 com entre 0,01 e 1%.

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Todos os municípios com mais de 1% da sua população total autodeclarada indígena – com exceção de Ilhéus e Porto Seguro na Bahia, e Maracanaú, no Ceará – tem menos de 100.000 habitantes. Dos 71 municípios com mais de 1% da população autodeclarada indígena, existem 37 municípios nos quais a população indígena é igual ou superior a 1.000 pessoas.

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Destes 71 municípios com mais de 1% de população indígena 56 tem terra indígena e 15 não. Estes 15 municípios podem ser apontados como locais com grande possibilidade de aparecimento de grupos reivindicando-se indígena.

IV. Comparação entre diferentes fontes

Como colocado em trabalho anterior,

Cada quantificação segue objetivos diferenciados, procurando responder diferentes perguntas. Neste sentido, metodologicamente é importante na pesquisa a comparação das diversas fontes existentes, buscando suas especificidades e finalidades. Desta maneira o trabalho busca obter respostas diferentes das apresentadas nas quantificações analisadas. (PAOLIELLO, 2008, p. 11)

Os números apresentados pelos censos do IBGE foram comparados com outros censos, de diferentes fontes. No caso foram utilizados também dados da FUNAI, órgão indigenista oficial do governo federal, de 2007 e 2011, e da FUNASA, responsável pela prestação dos serviços públicos de saúde para os indígenas, de 2007 (Tabela 6). Estes dois outros censos empregam divisões de áreas distintas do censo do IBGE (operam principalmente por povos indígenas), e seu universo de pesquisa são os municípios com reconhecimento oficial da presença indígena, mesmo que em alguns casos o processo de demarcação de suas terras esteja muito atrasado. A diferença encontrada entre os números da FUNAI (78.613), da FUNASA (130.397) e do IBGE (208.691) quanto ao total de índios no Nordeste é bastante significativa não pode ser explicada apenas pela pequena diferença nas datas das quantificações.

Tabela 6

Índios do Nordeste, por diferentes quantificações, segundo as Unidades da Federação

Unidade da Federação

Total de índios

IBGE - Censo Demográfico FUNASA FUNAI Total FUNAI - em T.I. ano 1991 2000 2010 2007 2007 2011 Maranhão 15.672 27.571 35.272 24.477 18.371 19.174 Piauí 316 2.664 2.944 0 0 0 Ceará 2.692 12.198 19.336 11.044 5.365 2.635

Rio Grande do Norte 394 3.168 2.597 0 0 0

Paraíba 3.783 10.088 19.149 13.505 7.575 8.214 Pernambuco 10.578 34.669 53.284 43.218 23.256 28.599 Alagoas 5.689 9.074 14.509 8.516 5.993 8.631 Sergipe 705 6.717 5.219 364 310 230 Bahia 16.025 64.240 56.381 29.273 16.715 11.130 Total Nordeste 55.854 170.389 208.691 130.397 77.585 78.613

Fonte: IBGE 1991, 2000 e 2000, FUNASA 2007, e FUNAI 2007

Os dados da FUNASA quantificam indígenas em 69 municípios do Nordeste, portanto um universo bem reduzido, frente ao censo do IBGE (o qual pesquisa nos 1794 municípios do Nordeste). No entanto, considerando apenas estes municípios a totalização da FUNASA (130.397) é um pouco superior à do IBGE: são 125.920 autodeclarados indígenas nestes 69 municípios. Destes indígenas 30,5% (38.426) estão em área urbana e 69,5% (87.494) em área rural. Esta mesma comparação FUNASA e IBGE foi feita para os dados do Censo 2000.

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Nestes mesmos 69 municípios o total de autodeclarados índios em 2000 foi de 57.149 (26,1% em área urbana e 73,9% em área rural). Observamos uma aproximação dos números do IBGE aos divulgados pela FUNASA, o que representa não apenas um crescimento vegetativo da população indígena nestes municípios, mas um processo de mudança na identidade étnica.

Como visto, a FUNAI e a FUNASA não reconhecem índios nos estados do Piauí e do Rio Grande do Norte. No censo 2010 do IBGE o primeiro tem 2.944 (dos quais 1.333 estão na capital do estado, Teresina), e o segundo tem 2.597 (dos quais 866 estão na capital do estado, Natal) autodeclarados indígenas. Em relação ao Censo 2000 o Piauí aumentou um pouco sua população indígena e também a concentração desta na capital, enquanto o Rio Grande do Norte apresentou uma diminuição de autodeclarados indígenas. Em relação a comparação FUNAI (2007) e FUNASA:

Existe uma grande diferença também entre os dados da FUNASA e FUNAI, apesar das duas terem o mesmo universo de pesquisa (os indígenas reconhecidos). A primeira é muito superior à segunda (52.812 pessoas a mais). Esta diferença (Tabela

6) chega a ser o dobro, ou quase no Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia. No

Maranhão, em Alagoas e em Sergipe as diferenças são menores, mas também significativas. Esta discrepância nas quantificações pode ser explicada em parte pela defasagem dos dados da FUNAI frente aos da FUNASA. (PAOLIELLO, 2008, p.13)

Com relação às diferenças entre IBGE e FUNAI (Tabela 6), vemos uma enorme vantagem numérica para o primeiro (130.078). Na Bahia temos 45.251 índios a mais no IBGE, e em Pernambuco 24.685. A menor diferença encontra-se na Paraíba, e mesmo assim é bastante significativa: 2.597 pessoas. O universo da contagem da FUNAI se restringe às 78 terras indígenas reconhecidas no Nordeste (Tabela 7). Como explicitado na Tabela 7 estas terras indígenas encontram-se em diferentes fases no processo de demarcação, sendo que quase metade delas ainda não estão homologadas. A evolução destes números (FUNAI 2007 - 2011) e IBGE (2000 - 2010) mostrou um aumento na divergência entre as quantificações.

Tabela 7

Terras indígenas do Nordeste, por situação de demarcação, segundo as Unidades da Federação – 2011

Unidade da Federação

Terras Indígenas – FUNAI

Total Regularizadas Homolo

gadas Encaminhada RI Delimitada Declaradas Em estudo Maranhão 17 15 1 1 Ceará 9 1 1 2 5 Paraíba 3 2 1 Pernambuco 14 7 2 5 Alagoas 9 2 5 1 1 Sergipe 1 1 Bahia 25 11 3 3 2 2 4 Total 78 39 3 11 3 6 16 Fonte: FUNAI – 2011

V.Revisão da tipologia proposta para espacialização dos índios do Nordeste

Acompanhando os trabalhos precedentes iremos realizar uma revisão da proposta de tipologia para espacialização dos indígenas nordestinos. Na ocasião do lançamento da primeira proposta explicitamos sua construção:

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Considerando as análises feitas no trabalho, foram estabelecidos três principais tipos ideais (caracterizadores) da população indígena no Nordeste. No entanto estes tipos não podem ser exatamente recortados nos dados dos censos, pois não contemplam a totalidade da diversidade da população autodeclarada indígena no censo, mas foram utilizados, pois nos ajudam a melhor entender a espacialidade dos indígenas no Nordeste, representando tendências encontradas nas análises dos censos do IBGE. (PAOLIELLO, 2007, p. 54-55)

Algumas destas tendências se confirmaram e mesmo se intensificaram, porém outras modificaram-se, a partir da entrada dos dados do Censo 2010 na linha comparativa de 1991/2000. Mesmo considerando essas mudanças mantemos as linhas gerais da proposta de tipologia, pois pensamos que esta ainda representa uma representação espacial eficaz. Embora mudanças significativas tenham ocorrido entre os três últimos censos na população indígena do Nordeste pensamos que os três tipos ideais sugeridos retratam diferentes agrupamentos sociais, definidos precisamente de acordo com a análise de dados estatísticos e contextualizações históricas. Veremos que as variações de tendências entre estes três censos não afetam as possíveis análises baseadas na tipologia criada.

Por melhor descreverem os recortes feitos nos dados censitários, utilizaremos a nomenclatura para a tipologia indicada em Pacheco de Oliveira (2011, p. 676-681): ao invés de população indígena territorializada, trataremos de população indígena que habita

municípios com Terra Indígena em diferentes etapas do processo de demarcação; população

indígena urbana será renomeada para população indígena que reside em cidades com mais de

100.000 habitantes, vivendo, desagregados ou não, nas grandes cidades, provenientes, em sua

maioria, de fluxos migratórios em direção aos centros urbanos (êxodo rural); população indígena dispersa, ou espraiada, será considerada como população indígena à margem de

políticas públicas específicas, com pequena participação na população total, mas presente em

grande número de municípios, espraiam-se por toda a região. Este último tipo de indígena está fora das duas definições anteriores, e só é percebido através dos Censos do IBGE.

A quantificação destes tipos caracterizadores (Gráfico 5, Tabelas 8 e 9) efetuou-se a partir dos dados dos dois censos mais recentes do IBGE. O primeiro ponto de destaque (Gráfico 5) é que a divisão em partes bem semelhantes da população indígena pelos tipos ideais, observada no Censo 2000, não se manteve em 2010. Os dados do último censo apontaram para um enorme crescimento (120,5 %) da população indígena que habita

municípios com Terra Indígena: de 57.149 (ou 33,8% do total da população indígena) em

2000, para 126.019 (60,4%) em 2010. Em outro sentido os indígenas que residem em cidades

com mais de 100.000 habitantes diminuíram em -28,1%, e os à margem de políticas públicas específicas em -24,2%.

Como já colocado no início do trabalho essa diminuição dos indígenas nas grandes cidades foi um movimento circunscrito a poucas cidades, com grande magnitude de população indígena, principalmente as capitais Salvador (-11.149 índios), Recife (-1.429), e São Luis (-1.315). Em recente publicação do IBGE a hipótese para a diminuição é a de que:

A estrutura espacial ora revelada, diferentemente da observada em 2000, pode ser fruto da redução do número de pessoas que se autoclassificaram genericamente como indígenas no Censo Demográfico 2000 e que não possuíam identificação com etnias específicas. A investigação do pertencimento étnico pode ter inibido esse grupo de se classificar na categoria indígena. (IBGE, 2012, p. 9)

Por outro lado, embora tenham diminuído em números absolutos, os indígenas fora dos municípios com terra indígena ainda representam 39,6% do total da população autodeclarada indígena no Nordeste. Neste sentido notamos que embora essa “inibição do

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15

indígena genérico” possa ter acontecido ela não explica totalmente a aceleração do crescimento 1991/2000 e sua queda entre 2000/2010. Considerando esta hipótese não alcançamos expressivos contingentes populacionais que passaram a declararem-se como indígenas recentemente, como veremos adiante.

Tabela 8

População indígena do Nordeste, por tipos ideais, segundo as Unidades da Federação - 2000 e 2010

UF

Que habita municípios com Terra Indígena

Que reside em cidades com mais

de 100.000 À margem de políticas públicas específicas Total 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 MA 15.965 28.886 3.896 3.362 7.388 3.024 27.249 35.272 PI 0 0 1.113 1.519 1.526 1.425 2.639 2.944 CE 2.616 8.434 5.505 4.257 5.140 6.645 13.261 19.336 RN 0 0 1.669 1.246 1.473 1.351 3.142 2.597 PB 5.230 13.960 2.392 2.828 2.442 2.361 10.064 19.149 PE 14.672 39.274 12.482 9.052 7.149 4.958 34.303 53.284 AL 5.106 6.130 2.018 2.845 1.942 5.534 9.066 14.509 SE 134 375 3.335 2.911 3.244 1.933 6.713 5.219 BA 13.426 28.960 29.499 14.962 22.064 12.459 64.989 56.381 Nordeste 57.149 126.019 59.793 42.982 52.368 39.690 169.310 208.691 Fonte: IBGE-2000 e 2010. Tabela 9

Evolução percentual da população indígena entre 2000 e 2010, por tipos ideais, segundo as Unidades de Federação do Nordeste

Unidades da Federação

Que habita municípios com Terra Indígena

Que reside em cidades com mais de 100.000

À margem de políticas públicas específicas

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16

Maranhão 80,9 % -13,7 % -59,1 %

Piauí 0,0 % 36,5 % -6,6 %

Ceará 222,4 % -22,7 % 29,3 %

Rio Grande do Norte 0,0 % -25,3 % -8,3 %

Paraíba 166,9 % 18,2 % -3,3 % Pernambuco 167,7 % -27,5 % -30,6 % Alagoas 20,1 % 41,0 % 185,0 % Sergipe 179,9 % -12,7 % -40,4 % Bahia 115,7 % -49,3 % -43,5 % Nordeste 120,5 % -28,1 % -24,2 % Fonte: IBGE-2000 e 2010.

A fragmentação dos dados pelos estados do Nordeste (Tabelas 8 e 9) possibilita visualizar que em relação aos indígenas que habitam municípios com Terra Indígena, todos (com exceção do Rio Grande do Norte e Piauí, que não tem terra indígena, e Alagoas) aumentaram largamente. A população indígena que reside em cidades com mais de 100.000

habitantes teve uma diminuição na maioria dos estados, porém no Piauí, Paraíba e Alagoas

cresceu. Por fim, a população indígena à margem de políticas públicas específicas teve uma diminuição grande no Maranhão, Pernambuco, Sergipe e Bahia, uma diminuição menor no Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba, e um aumento Ceará e Alagoas (bem maior). Essa variação das tendências entre as unidades da federação só poderá ser explicada numa análise mais específica, na escala municipal.

Tabela 10

Pessoas que não se classificavam como indígenas e no Censo posterior o fizeram, segundo os tipos ideais

Tipos Ideais Período Número de

municípios

População indígena total destes municípios À margem de políticas

públicas específicas

2000-2010 464 7.223

1991-2000 684 30.854

Que reside em cidades com mais de 100.000

2000-2010 1 204

1991-2000 3 469

Que habita municípios com Terra Indígena

2000-2010 5 176

1991-2000 22 11.666

Total 2000-2010 470 7.603

1991-2000 709 42.989

Fonte: IBGE-2000 e 2010.

O Mapa 3 mostra a distribuição espacial dos tipos caracterizadores da população indígena. Cada círculo representa um município que teve autodeclarado índio no Censo 2010. Percebemos a predominância dos grandes círculos em vermelho, sinalizando os índios que

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17

espacial alcançado pelos indígenas à margem de políticas públicas específicas, os círculos verdes, e mesmo alguns municípios com populações bastante significativas. A população indígena que reside em cidades com mais de 100.000 habitantes está representada nos círculos em azul.

Numa tentativa de melhorar a descrição da tipologia apresentamos novamente a variável das pessoas que não se classificavam como indígenas e no censo posterior o fizeram, agora relacionadas com os tipos ideais (Tabela 10). A principal constatação é a de que esse movimento de surgimento de ‘novos indígenas’ embora tenha diminuído bastante continuou existindo entre 2000/2010, se não tanto em termos de população absoluta (7.603 novos indígenas), certamente em alcance espacial, com 470 municípios a mais com autodeclarados indígenas. Um segundo ponto a ser destacado em relação à Tabela 10 é de que o crescimento de ‘novos indígenas’ foi um fenômeno que pode ser localizado essencialmente no tipo ideal à

margem de políticas públicas específicas, tanto no período 1991/2000 quanto 2000/2010.

Neste sentido torna-se mais instigante e difícil a qualificação da população indígena classificada como à margem de políticas públicas específicas e, portanto buscaremos novas desagregações desta categoria, agora em relação à situação de domicilio (Gráficos 6 e 7). Uma primeira observação sobre o Gráfico 6 é o enorme crescimento da população indígena

que habita municípios com Terra Indígena em situação de domicilio urbano. Podemos

compreender este segmento populacional como estando, em alguns casos, fora das terras indígenas existentes no município.

(19)

18

No Gráfico 7 vemos a distribuição percentual da população dos tipos ideais nas situações de domicilio rural e urbano. Nas populações indígenas que habitam municípios com

Terra Indígena e que residem em cidades com mais de 100.000 habitantes a variação nesta

distribuição rural/urbano não foi muito significativa entre os Censos 2000 e 2010. Ressaltamos a distribuição da população indígena à margem de políticas públicas específicas,

(20)

19

que no ano 2000, estava 39% em situação de domicílio rural e em 2010, 35%. Esses dados contrariam a hipótese do crescimento indígena estar circunscrito às áreas urbanas.

VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS

Com base nas análises efetuadas e nas considerações metodológicas tecidas apontaremos alguns tópicos que retomam conclusões apresentadas ao longo do texto:

 O aumento do alcance da distribuição espacial indígena no Nordeste. Em 2010 existiam autodeclarados índios em 79% municípios da região (em 2000 eram 60%). Simultaneamente a esta dispersão, 68,4% da população indígena do Nordeste se concentra em 48 municípios com mais de 1000 autodeclarados indígenas;

 A queda em 2010 do crescimento acelerado verificado entre 1991 e 2000 2010 não foi uniformemente distribuída. Essa desaceleração no ritmo de crescimento da população indígena nordestina de 1991/2000 para 2000/2010 está fortemente concentrada nos grandes municípios, com mais de 100.000 habitantes. Somente 36 municípios do Nordeste nesta categoria totalizaram uma queda de menos 24.050 indígenas na região entre 2000 e 2010;

 Os municípios com terra indígena tiveram um grande aumento de autodeclarados índios entre 2000 e 2010, o que demonstra um processo de fortalecimento da identidade indígena nestes municípios nos quais já houveram ações de reconhecimento étnico e garantia de direitos diferenciados pelo governo federal. A despeito da presença indígena nas áreas rurais ser mais expressiva numericamente, existem também povos indígenas territorializados em situação de domicílio urbano;

 Apesar da diminuição das populações indígenas dos tipos que habitam as grandes

cidades e à margem de políticas publicas específicas, esses dois tipos ideais representam

(21)

20

maior do que o total de índios reconhecidos pela agência indigenista oficial, a FUNAI (82.672 e 78.613).

Portanto, não obstante a existência de eventuais falhas de continuidade provocada por mudanças na metodologia pelo IBGE, concluímos ser a análise dos dados censitários uma poderosa ferramenta para o estudo dos povos indígenas:

 O Censo do IBGE é o único instrumento que permite a visualização de extensos contingentes populacionais, que não são reconhecidos pela FUNAI.

 Esta característica é destacada quando detectamos um período atual de grande crescimento de reivindicações por reconhecimento como indígena. O crescimento confirma, portanto, um processo de refortalecimento da identidade indígena, frente à sociedade nacional, numa negativa ao seu desaparecimento, enquanto um conjunto de população que se reconhece diferente do restante da sociedade, e que acredita possuir vínculos com uma população autóctone.

Por fim, sugerimos como continuação deste trabalho avaliar a possibilidade/utilidade de operar com esta classificação aqui proposta para as microanálises, tendo em vista identificar um fenômeno social objetivo, a demanda de reconhecimento por parte de indígenas no Nordeste.

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