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Determinantes da Mobilidade por Classes Sociais: Teoria do Capital Humano e a Teoria da Segmentação do Mercado de Trabalho

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Determinantes da Mobilidade por Classes Sociais:

Teoria do Capital Humano e a

Teoria da Segmentação do Mercado de Trabalho

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Daniel Biagioni2

Palavras-Chave: mobilidade social, capital humano, segmentação do mercado de

trabalho, aglomerado sub-normal.

RESUMO

Contrapondo as perspectivas da Teoria do Capital Humano e da Teoria da Segmentação do Mercado de Trabalho, tentou-se entender os determinantes das taxas absolutas de mobilidade social por meio das chances relativas de movimentação na estrutura de classes neoweberiana para o Brasil. A hipótese central testada foi de que as taxas de mobilidade social variam o seu efeito de capital humano de acordo com segmentos no mercado de trabalho (multipolarizado). Os resultados indicaram que o efeito do capital humano se mantém forte para todas as taxas, no entanto, o efeito dos segmentos do mercado de trabalho se mostrou determinante para o entendimento da estrutura de classes. Destaque para a variável aglomerado sub-normal que possui efeito elevado e persistente. Os efeitos desvantajosos das variáveis gênero (mulheres) e raça (negros) se mostraram significantes para todos os modelos testados, comprovando a teoria firmada. O achado proeminente foi à acumulada desvantagem da mulher negra moradora de favela inserida no mercado de trabalho.

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Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu – MG – Brasil, 18 a 22 de setembro de 2006.

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Determinantes da Mobilidade por Classes Sociais: Teoria do Capital

Humano e a Teoria da Segmentação do Mercado de Trabalho

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Daniel Biagioni4

1. INTRODUÇÃO

Este texto propõe estudar os determinantes da mobilidade social entre gerações (mobilidade intergeracional) que compuseram a estrutura ocupacional em meados da década de 90 utilizando o esquema de classes sociais neoweberiano (Erikson e Goldthorpe, 1992; Scalon, 1999; Costa-Ribeiro, 2002). São cinco classes definidas pelas “relações de mercado”, ou seja, pelas situações de mercado e pelas localizações no processo produtivo.

Duas teorias são utilizadas para elucidas os determinantes da mobilidade: a Teoria do Capital Humano (Schultz, 1964) e a Teoria de Segmentação do Mercado de Trabalho (Piore, 1970; Doeringer e Piore, 1971). A primeira tem as variáveis de capital humano como determinantes do sucesso dos indivíduos no mercado de trabalho. Se qualificado, mais elevada a produtividade e a sua empregabilidade. A Teoria de Segmentação do Mercado de Trabalho, por sua vez, tem a estrutura ocupacional como um todo segmentado e possui preferências na seleção dos indivíduos ao ocuparem postos de trabalho. Assim, existe o mercado de trabalho primário e o secundário; um com bom retorno para o trabalhador e outro com baixo retorno.

O banco de dados utilizado é a Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (PNAD/ IBGE) de 1996. Ele foi escolhido devido a representatividade nacional de seus dados e por conter variáveis que possibilitem o estudo da mobilidade social.

Os resultados demonstraram o importante papel do capital humano na ascensão social. Em geral, todas as variáveis auxiliam, em pesos diferentes, a mobilidade ascendente (experiência, educação e migração, respectivamente). A Teoria de Segmentação do Mercado de Trabalho também se mostrou determinante para a ascensão social. Os efeitos das variáveis desta teoria superaram os efeitos das variáveis de capital humano. Dois resultados se destacam. Primeiro, a segmentação rural e urbano foi a variável que apresentou o maior efeito no modelo. Este resultado demonstra a profundidade das mudanças ocorridas na estrutura ocupacional brasileira e a concentração de oportunidades de ascensão social na área urbana. Segundo, a segmentação aglomerado subnormal foi a única que permitiu concluir a favor da segmentação do mercado de trabalho em detrimento do capital humano, pois seu efeito aumentou no modelo contendo todas variáveis das duas teorias (intercambialidade dos modelos). Isto é, mesmo as condições previstas pela teoria de diminuição dos efeitos de todas as variáveis, morar na favela reduz as possibilidades de ascensão social se disputado com outros indivíduos que não moram nestes espaços. As variáveis gênero e raça seguiram as tendências gerais, com diminuição de seus efeitos no modelo completo.

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Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu – MG – Brasil, 18 a 22 de setembro de 2006.

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Por meio do método de modelos de elaboração, a amostra foi dividida segundo as variáveis gênero e raça no intuito de visualizar melhor o efeito da variável aglomerado sub-normal. O resultado foi efeitos desvantajosos e acumulativos para as mulheres de cor negra.

2. TEORIA

2.1. Mobilidade Social: Mapa de Classes

Erikson e Goldthorpe (1992) elaboraram um mapa de classes sociais segundo diferentes “relações de emprego” determinadas pela situação de mercado e pela localização no processo produtivo. Há dois tipos de relações de emprego: proprietário (empregadores e autônomos) e empregados. Estes se distinguem entre os que possuem contratos de trabalho restrito (supervisionado) e contratos delegando amplas possibilidades (autoridade). Os proprietários distinguem-se entre proprietários empregadores e proprietários autônomos ou por conta-própria. Entre as classes existe também a separação entre ocupações rural/ urbano e manual/ não-manual, completando, assim, os critérios utilizados para a construção do esquema.

Na classe dos proprietários há a divisão entre os empregadores, os auto-empregados sem auto-empregados e auto-empregados. Os empregadores se dividem em grandes (I) e pequenos. Os pequenos empregadores estão subdivididos em empregadores da indústria (IVa) e da agricultura (IVb). Está separação é interessante, pois são os pequenos empregadores que compõem o maior volume da classe de empregadores na estrutura ocupacional, principalmente na agricultura com pequenas propriedades (Neves, 1997).

Em meio os auto-empregados, aqueles que possuem empresa e não empregam, há a distinção entre os auto-empregadores industriais (IVb) e agrícolas (IVc). Esta classe vem continuamente crescendo no Brasil. Ela pode aparecer o mercado de trabalho de duas formas: como empreendimento estratégico de inserção no mercado de trabalho e prestação de serviços ou como estratégia de sobrevivência de condições precárias.

Os empregados possuem três divisões definidas pelas formas de regulamentação de emprego. São as relações de serviços, as classes intermediárias e os contratos de trabalho. As relações de serviços são ocupadas pelos profissionais, especialistas, administradores e gerentes. Dentro dessa categoria ainda há a divisão entre o grau mais elevado (I) e o grau mais baixo (II) das relações de emprego. As classes intermediárias estão entre as relações de serviço e os contratos de trabalho. Ela é dividida em não-manual de rotina, com grau mais elevado (IIIa) e grau mais baixo (IIIb), e supervisores de nível baixo e trabalhadores técnicos (V). Na relação de contrato de trabalho estão os trabalhadores manuais industriais, separados em treinados (VI) e não-treinados (VIIa), e agrícolas (VIIb) (Erikson e Goldthorpe, 1992: 36; Evans, 1992). Vejamos o gráfico 1 com a separação das classes e suas propriedades.

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Busca-se nas divisões das classes operacionalizar as situações de mercado por meio das ocupações. Estas são fonte de informação aproximada mais adequada sobre o posicionamento dos indivíduos inseridos no mercado de trabalho que traduzem a posição de classe. Classe, neste sentido, é anterior à inserção dos indivíduos no mercado de trabalho. Elas estão como “lugares vazios” que combinam propriedades relacionadas às relações de mercado que são sistematizadas em propriedade, perícia e poder gerencial. A situação de classe, como aqui entendemos, é a probabilidade de ocupar um lugar com certas características de condição de mercado.

A mobilidade social, foco deste trabalho, é fundamental para o entendimento da composição do esquema de classes neoweberiano. Na definição de classe por Weber (1979), classe social é definida pela sua própria dinâmica, ou seja, é a constância do fluxo entre posições sociais (e econômicas, vale lembrar) que evidencia uma classe. A mobilidade social marca a estrutura ocupacional e revela, por contraste, os canais de fluxo na sociedade. A estrutura é um todo móvel e as classes são os frutos desta.

Ao estudar classes no sentido weberiano, Giddens (1975) propôs três hipóteses, hoje clássicas, a respeito da mobilidade e a formação das classes sociais. A primeira é o fechamento social que aponta que o maior fluxo de mobilidade é realizado em curta distância. Assim, a mobilidade de longa distância fica menos ocorrente e mantém uma certa estabilidade da condição de classe. A segunda é a hipótese de zona de contenção. Ela afirma que o maior fluxo de mobilidade se dá na fronteira manual e não-manual, impedindo mobilidade de grande distância das classes mais baixas para as mais altas. Por fim, a hipótese de contramobilidade. Ou seja, o incremento da mobilidade da primeira ocupação é compensado pelo decréscimo da mobilidade ao longo da vida. A mobilidade inicial é compensada pela contramobilidade posterior.

As três hipóteses foram testadas por Scalon (1999) e todas foram aceitas fazendo uso de uma tipologia de classes sociais inspirada nos trabalhos de Goldthorpe. Como o objetivo da autora foi de evidenciar as diferenças de chances de mobilidade social por gênero, os testes de hipótese foram realizados segundo sexo. Assim, o fechamento social é válido para ambos sexo, sendo que as mulheres têm menores chances de descender socialmente. A zona de contenção é válida para ambos os sexos e em intensidade semelhante. No entanto, as mulheres têm menos chances, em relação ao homem, de mudar de classe uma vez nela inserida. Isto se dá muito pelo grande fluxo de mobilidade entre as posições manual e não-manual. A contramobilidade é verdadeira para o homem e não para a mulher. Enquanto o homem reduz a probabilidade de ascender em relação a sua primeira ocupação ao longo da sua vida no mercado de trabalho, a mulher tende a ascender aceleradamente em relação a ocupação do pai.

Como Santos (2002: 52) bem aponta, a mobilidade social é fundamental para se entender a estrutura e a natureza das classes ao longo do tempo. É necessário entender os mecanismos que geram e estabilizam as coletividades demográficas não só como estrutura de classes, mas como elas são formadas dentro dela. É exatamente essa a concepção de estrutura de classes que buscamos, a tipologia de classes sociais de inspiração weberiana. A noção de estrutura social como coletividade demográfica foi atendida ao se testar e aceitar as três hipóteses sobre a composição das classes. É sabido, portanto, como as classes são formadas em suas dinâmicas particulares amarrando fortemente a teoria de classes de inspiração weberiana com o resultados empíricos5.

5

Mais informações sobre a construção da tipologia de classes sociais weberiana ver Scalon (1999, 2000) e Costa-Ribeiro (2002).

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2.2. Capital Humano e Segmentação do Mercado de Trabalho

Duas teorias são colocas neste texto para explicar os determinantes da mobilidade social. A Teoria do Capital Humano com a visão da oferta e a qualificação da mão-de-obra no mercado de trabalho. A Teoria da Segmentação do Mercado de Trabalho possui a visão de demanda das instituições empregadoras de mão-de-obra. Portanto, cada teoria possui uma visão oposta do mercado de trabalho. Uma pela oferta, outra pela demanda. Essa distinção justifica a escolha de ambas teorias no estudo dos determinantes da mobilidade social. Vejamos cada uma mais detidamente.

A teoria do Capital Humano tem como foco observar os efeitos da qualificação, principalmente a educação, no incremento da produtividade. A maior produtividade geraria maior rendimento para o empregador e, por isso, maior aceitação dos indivíduos qualificados no mercado de trabalho. A produtividade e empregabilidade são fatores de ingresso no mercado de trabalho, assim como contribuem para a elevação do rendimento (e da mobilidade ascendente). Para Schultz (1964), a educação é tida como um investimento feito como garantia de entrada no mercado de trabalho e acesso a boa remuneração mediante o desempenho de ocupações que demandem qualificação. Mas não só a escolaridade é fator de capital humano. O treinamento no desempenho do cargo (experiência) e a migração são tidos como formas de capital humano. O treinamento como complemento da qualificação para o desempenho satisfatório de funções do cargo mediante as exigências do posto; a migração como um indicador de ambição pessoal, onde o trabalhador dará o máximo de si para conseguir ingressar em boa situação ocupacional e maximizar os rendimentos do seu trabalho.

Como bem escreveram Neves e Fernandes (2002: 137) sobre as variáveis que compõe o capital humano: “O primeiro representa, sem dúvida, o principal fator de capital humano. O segundo representa uma proxy para o chamado on the job training. Finalmente, o terceiro é comumente utilizado em análises sobre o efeito do capital humano, pois representa, entre outras coisas, uma proxy para o nível de ambição dos indivíduos”. A elevação da produtividade deve ser vista principalmente nas duas primeiras variáveis. A maior produtividade geraria, portanto, maior rendimento para o empregador e, por isso, maior aceitação dos indivíduos qualificados no mercado de trabalho. Portanto, a teoria do capital humano mostra como a aquisição de status e as posições de ocupação são determinadas pelas características individuais.

De acordo com Fernandes, Neves e Haller (1999), dois conjuntos de teorias foram utilizados como contraponto a Teoria do Capital Humano no estudo dos determinantes de rendimentos para o Brasil. De um lado, a Teoria Credencialista (Berg, 1971; Collins, 1979) e a Screening Hypothesis (Thurow, 1975). A primeira reforça a importância do título para a seleção dos trabalhadores no mercado de trabalho; a segunda sustenta que o treinamento no trabalho é a garantia de maior produtividade. De outro lado, a Teoria da Correspondência (Bowles e Gintis, 1975) e a Teoria da Reprodução (Bourdieu, 1973). A primeira vê na aquisição de escolaridade algo imposto pelas demandas do capitalismo e não ligada às demandas dos empregadores por qualificação e produtividade. A segunda salienta o papel da origem socioeconômica e enfatiza a importância do capital cultural não cognitivo na distinção de status do grupo dominante.

A Teoria do Capital Humano se mostrou preferível às outras teorias por melhor explicar os determinantes do rendimento por meio do efeito positivo dos anos de escolaridade, experiência (anos de trabalho) e a interação entre elas. A migração também se mostra positiva, mas com sentido mais restrito (variável de controle).

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Num sentido geral, a Teoria do Capital Humano leva menos em consideração os determinantes estruturais do mercado de trabalho e salienta as capacidades individuais. Assim, a imobilidade e mobilidade descendente (insucesso na mobilidade social) como desempenho individual seria de responsabilidade dos próprios indivíduos. De acordo com essa abordagem, a mobilidade ocupacional é determinada pela discrepância entre a demanda do empregador e a oferta de empregados no mercado de trabalho (teoria liberal). Portanto, espera-se que as variáveis tenham efeitos positivos e estatisticamente significantes na mobilidade ascendente nas três variáveis aqui utilizadas para compor o capital humano, quais sejam: escolaridade, experiência e migração.

Fazendo frente à Teoria do Capital Humano está a Teoria da Segmentação do Mercado de Trabalho (Doeringer e Piore, 1971). Ela busca observar os determinantes estruturais do mercado de trabalho no acesso a cargos (teoria posicional do mercado de trabalho). Neste sentido, a estrutura social é relevante no estudo das desigualdades sociais por definir a demanda no acesso a diferentes posições (chances de mobilidade por classe no nosso caso). A disponibilidade de emprego não significa igualdade de acesso a estes postos. A demanda por postos no mercado de trabalho impõe limitação por meio das segmentações no próprio mercado (barreiras institucionais e econômicas) (Sorensen, 1996).

No caso da mobilidade social, as chances de mobilidade ascendente são maiores, segundo a Teoria da Segmentação do Mercado de Trabalho, no mercado primário (Piore, 1970). No mercado de trabalho primário os postos possuem melhores rendimentos, condições de trabalho, estabilidade e possibilidade de ascensão. No mercado secundário estão as ocupações e as condições de trabalho que não favorecem a melhoria da situação do posto de trabalho já inferior. Ou seja, o mercado de trabalho primário é melhor em termos de condições que o secundário e oferece melhores oportunidades de ascensão (mobilidade ascendente).

A mobilidade ascendente segue padrões de acordo com segmentos do mercado de trabalho. Quando há o impacto das mudanças estruturais no mercado de trabalho, a mobilidade ascendente é ainda mais dificultada (aumento da mobilidade circular) e diferentes segmentações no mercado de trabalho são acirradas e funcionam como limitadores de inserção e acesso a melhores postos na estrutura de classes. Por isso, o mercado não pode ser tratado como algo homogêneo, mas sim por possui preferências que não estão ligadas necessariamente com o capital humano.

São utilizadas três variáveis de segmentação do mercado de trabalho: mercado formal e informal, moradores em aglomerados subnormais e normais (favelas e não favelas) e moradores em áreas rurais e urbanas. A primeira é um indicador de mercado de trabalho com empresas de grande porte e que exigem dos empregados elevada produtividades ou desempenho (Sorensen e Kalleberg, 1981). A segunda trata da discriminação do local de origem, onde as características dos indivíduos são vinculadas à instabilidade e ausência de regras e disciplina (Wilson, ??). Os segmentos rural e urbano são um indicador da desigualdade de oportunidades em cada área (Lipset e Bendix: 1959).

O que se espera, segundo a Teoria de Segmentação do Mercado de Trabalho, é que haja efeito positivo e estatisticamente significante para as variáveis de segmentação. Controlados os efeitos do capital humano, o efeito da segmentação do mercado de trabalho será estatisticamente significantes e altamente positivos. Portanto, a Teoria da Segmentação do Mercado de Trabalho, em contraposto a Teoria do Capital Humano, coloca em evidência a demanda do mercado de trabalho segundo diferentes

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relações de trabalho, aqui colocado por meio das classes sociais. O capital humano dos indivíduos é determinante para a mobilidade ascendente, no entanto a sua importância flutua nas oscilações da demanda do mercado de trabalho segundo os diferentes segmentos.

Por fim, com este breve apanhado dessas duas teorias, buscamos, por meio dos dados empíricos, obter uma idéia geral de como a estrutura ocupacional aloca os indivíduos pertencentes a diferentes classes, cada qual com “relações de trabalho” diferentes (classes), quantidades de capital humano e segmentos de mercado de trabalho. Uma teoria enfatizando a oferta de qualificação. A outra por meio da demanda de mão-de-obra. Portanto, não se trata de excluir uma teoria em detrimento da outra, mas sim de observarmos os efeitos das variáveis em relação a mobilidade ascendente.

3. HIPÓTESES

O que se busca é o efeito do capital humano (Schultz, 1964) levando-se em consideração o impacto das mudanças estruturais no mercado de trabalho e seus efeitos na mobilidade ascendente. Para tanto é utilizado o conceito de segmentação do mercado de trabalho (Piore, 1970; Doeringer e Piore, 1971) onde há maiores chances de mobilidade ascendente no mercado primário controlados os efeitos da capital humano. Portanto, as hipóteses são:

Hipótese 1: Controlado por origem social, sexo e raça, o efeito do capital humano (migração, experiência e educação) será positivo e estatisticamente significante na mobilidade ascendente. Segundo a Teoria do Capital Humano, qualquer aquisição que possa elevar a produtividade eleva as chances de empregabilidade. Como nosso foco é a mobilidade social, nós entendemos que o capital humano eleva as chances de mobilidade ascendente.

Hipótese 2: Controlado por origem social, sexo e raça, o efeito do mercado primário (formal, não favela e urbano) será positivo e estatisticamente significante na mobilidade ascendente. Ou seja, segundo a Teoria de Segmentação do Mercado de Trabalho, o efeito da demanda é positivo. O mercado secundário terá o efeito oposto, ou seja, maiores chances de imobilidade e mobilidade descendente.

Hipótese 3: Controlado por origem social, sexo e raça, os efeitos do capital humano e do mercado primário serão positivas e estatisticamente significantes. Devido a ampla mobilidade estrutural ocorrida no Brasil entre as gerações, acredita-se que o efeito da segmentação do mercado (mercado primário) seja mais elevado em relação as variáveis de capital humano.

4. METODOLOGIA

As classes sociais propostas por Scalon (1999) tem como base a escala de status socioeconômico (Valle Silva, 1974; Pastore e Valle Silva, 2000). O índice de status socioeconômico é elaborado por meio da função entre os anos de escolaridade e a renda de cada título ocupacional segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO – IBGE). O índice de status socioeconômico varia entre as diversas ocupações do valor o a 100. Após atribuir o escore de status, são utilizados critérios substantivos para a agregação das ocupações. Uma delas é a separação entre empregadores, auto-empregados e auto-empregados; outra é a distinção entre ocupações rurais manuais/ urbanas manuais/ urbanas não-manuais (exatamente como a teoria weberiana executa). Com o

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banco de dados da PNAD para 1996, Valle Silva (2000) chegou a 16 estratos ocupacionais. Destes, Scalon utilizou critérios teóricos dos esquemas de classes sociais neoweberianos e de técnicas estatísticas para agregar as ocupações, chegando ao final a nove classes sociais. Vejamos no quadro 2 as classes definidas pela metodologia weberiana (títulos), os critérios de relações de mercado utilizados para a definição das classes e a hierarquia de classes utilizada para o cálculo das taxas de mobilidade social. A mobilidade só ocorrerá quando há passagem entre gerações de um nível da hierarquia para outro. A não alteração é tida como imobilidade.

Quadro 2

Classes sociais neoweberianas adaptadas para o Brasil segundo Scalon Hierarquia* Relação de trabalho** Títulos** 1º Trabalho com autonomia e autoridade Profissionais

3º Supervisionado e com autonomia Administradores e Gerentes

2º Empregador Proprietários empregadores

4º Trabalho supervisionado Não manual de rotina 1º Trabalho com autonomia e autoridade Proprietários conta própria 4º Trabalho supervisionado Manual qualificado 4º Trabalho supervisionado Manual não qualificado

2º Empregador Empregadores rurais

5º Trabalho supervisionado Empregados rurais *: Costa-Ribeiro (2004: 396); **: Scalon (1999: 71).

Os esquemas de classes sociais se diferem das escalas de estratos por serem variáveis categóricas e não continuas, como no índice de status socioeconômico. As classes são relacionais e não hierárquicas (Ossowski, 1961). No entanto, como o pano de fundo do esquema construído por Scalon é o índice de status, podemos, implicitamente, pensar as classes compartilhando as duas propriedades. Costa-Ribeiro (2004: 394-5) ao comentar o modelo neoweberiano CASMIN (Comparative Analysis of Social Mobility in Industrial Nations)6, coloca que embora este modelo não é de todo hierárquico, envolve algumas formas de ordenação entre as classes, facilitando as conclusões. Para o esquema de classes de Scalon é ainda mais enfático este argumento. A organização quantitativa das ocupações em estratos, anteriormente às agregações substantivas de ocupações em classes, legitima tratar as classes hierarquicamente, além de poder ser tratada relacionalmente, mantendo a natureza do esquema de classes.

Para o estudo da mobilidade social é comparada a posição de classe do pai quando o filho deste tinha 15 anos e a posição atual de classes do filho (indivíduo de referencia para o nosso estudo). A esta comparação é chamada de mobilidade intergeracional total (Pero, 2002). A mobilidade pode ser estudada por meio de várias

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O modelo CASMIN é um projeto encabeçado por Erikson e Goldthorpe. Para ver mais, consultar Erikson e Goldthorpe (1992) e Treiman e Ganzeboom (2000).

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taxas. Neste trabalho nós utilizamos taxas absolutas (mobilidade ascendente e descendente e imobilidade) e taxas relativas (razões de chances).

As taxas absolutas de mobilidade social (ou oportunidades agregadas de mobilidade) são obtidas mediante cálculos percentuais tanto dos fluxos de entrada e de saída na tabela de mobilidade, cruzando-se classe de origem nas linhas com classe de destino nas colunas. Essas taxas descrevem a evolução da estrutura ocupacional de um determinado país ao longo do tempo ou podem ser usados na comparação entre países. A variável dependente deriva de duas taxas de mobilidade: a imobilidade e a mobilidade. A imobilidade são aqueles que não alteraram de classes em relação ao seu pai. A mobilidade, por complemento, são aqueles que experimentaram movimentação. A mobilidade por ser ascendente ou descendente. A mobilidade ascendente ocorre quando o indivíduo ascende na estrutura ocupacional. A descendente, quando se descende na estrutura ocupacional. Portanto, como o objetivo deste estudo é identificar os determinantes da mobilidade, a variável dependente possui duas categorias, em ordem: (a) mobilidade descendente e imobilidade, e; (b) mobilidade ascendente.

As variáveis independentes se dividem entre as que possuem interesse substantivo e as que são utilizadas como controle para o modelo. As variáveis de interesse substantivo são as correspondentes ao capital humano. São elas: migração, experiência e educação. É também utilizada variáveis de segmentação do mercado (Teoria da Segmentação do Mercado de Trabalho). São elas: mercado formal, oradores em local de não favela e moradores da área urbana. As variáveis de controle são a classe do pai (classe de origem social), sexo indicadora e raça indicadora. Todas elas são utilizadas para homogeneizar o modelo.

As taxas relativas de mobilidade são calculadas mediante chances relativas de mobilidade social visando observar a fluidez da estrutura de classes, comparando as chances de movimentação das classes uma em relação à outra e entre gerações. O grau de fluidez social da estrutura de classes é analisado a partir das taxas relativas de mobilidade social que são razões de chances (odds ratio) obtidas através de modelos log-lineares e regressões logísticas que descrevem o grau de associação estatística entre classes de origem e de destino. Neste texto é utilizado o modelo de regressão logística binominal (Agresti, 1990; Powers e Xie, 2000). Ele apreende as chances relativas do indivíduo permanecer na mesma classe ou ter acesso à outra por meio da mobilidade social. A expressão pode ser escrita da seguinte forma, onde y é a variável dependente e β são as variáveis independentes:

(

)

(

)

[

= − =

]

=α+β +ε

= p x p x ixi

y) 1 /1 1

As variáveis independentes são:

β1 = origem social (pai trabalhador supervisionado rural como referência); β2 = sexo (homem como referência);

β3 = raça (branco como referência); β4 = educação centralizada;

β5 = experiência (anos de trabalho);

β6 = migração (migrante como referência);

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β8 = aglomerado subnormal (moradores em não favela como referência), e; β9 = área de residência (urbano como referência).

5. ANÁLISE DOS DADOS

Sabe-se que o Brasil é um dos paises que apresentaram maiores taxas de mobilidade social do mundo, juntamente com outros países de industrialização rápida, forte crescimento econômico e passagem majoritária da população morando em área rural para a área urbana. Essas transformações afetaram a distribuição das classes em decorrência a expansão da planta industrial e do setor de serviços e, ao mesmo tempo, a redução maciça dos trabalhadores rurais eu migraram para áreas urbanas a procura da expansão dos empregos que oferecessem melhores condições de vida. Como apontaram Costa-Ribeiro e Scalon (2001: 59), houve a expansão das relações de trabalho capitalistas (aumento da PEA) assim como o aumento dos estratos ocupacionais intermediários (chamadas classes médias) e o processo de burocratização do trabalho (acirramento da implementação da regulação do mercado de trabalho). As classes médias inflaram para alocar os trabalhadores industriais e do setor de serviços (Neves, 1997) impulsionados pelo extraordinário desempenho econômico acarretando no elevado fluxo de mobilidade estrutural (criação de novos postos de trabalho) em detrimento da mobilidade circular (competição pelos postos já existentes).

Como vemos no gráfico 1, há redução de 32,2% da classe de trabalhadores rurais e, por outro lado, a houve absolvição de grande parte da mão-de-obra rural para a classe seguinte de trabalhadores supervisionados, que cresceu 26,6%. A expansão das classes intermediarias se deu pelo aumento do trabalho supervisionado e com autonomia com aumento de 1,1% e os empregadores (categoria não homogênea, vale lembrar) com redução de 0,4% mais com crescimento em números absolutos. O crescimento de 4,9% da classe de trabalho com autonomia e autoridade se deu principalmente pela expansão do mercado de trabalho mais competitivo e da educação de ensino universitário.

Vale lembrar que essas transformações tiveram alguns efeitos nocivos ao final da década de 80 com o fim do crescimento econômico que chegou perto da estagnação. A informalidade do trabalho foi uma alternativa dos desempregados devido o processo de “desindustrialização” e a contínua urbanização do Brasil. As oportunidades de postos de trabalho se concentraram no comércio de bens e outros serviços, ocupações vulneráveis as oscilações da economia e de retorno salarial baixo. Esta situação é o que Antunes (2002) chamou de “proletarização da mão-de-obra”. Ou seja, a qualidade das ocupações começou a cair.

(Gráfico 1 em Anexo)

Analisando a matriz de razões de chances (tabela 1 em Anexo), podemos observar a mobilidade circular ocorrida entre as gerações. Vemos que há uma barreira na classe com relação de mercado de supervisão e com autonomia (7,7 chances). Este dado reforça a hipótese de barreira de contenção pela imobilidade das classes de empregadores (acima) e dos trabalhadores supervisionados rurais (abaixo) ser mais fluida. As chances de imobilidade também é a maior em relação às outras células na matriz de mobilidade. Ou seja, o auto-recrutamento é muito elevado nessa classe assim como a entrada em outras classes dos indivíduos com esta origem social. Indivíduos de outras classes apresentavam grande dificuldade de inserção nesta classe. Os trabalhadores supervisionados e trabalhadores supervisionados rural estavam

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praticamente restritos as classes abaixo da classe com relação de trabalho de supervisão e autonomia.

Chama atenção que as chances de mobilidade ascendente dos indivíduos pertencentes à classe de trabalhadores supervisionados rurais. Tendo a imobilidade como chance de referência (1 chance ou zero porcento), as chances de mobilidade ascendente são quase nulas, com exceção da classe de trabalhadores supervisionados (5,4 chances de ascender uma classe). Este resultado já era previsto tendo em vista o grande volume de migração rural-urbano nas décadas passadas e a presença maciça da industria (principalmente a tradicional) e do setor de serviços (comércio e prestação de serviços) que possibilitam oferta de trabalho para indivíduos com baixa qualificação, mesmo que baixa.

Podemos também observar os efeitos das variáveis sexo, raça e educação centralizada na matriz de mobilidade acima referida (tabela 2 em Anexo). O sexo possui efeito diferenciado por classe social, onde ser homem ajuda na inserção das classes de empregadores (2,8 mais chances) e de relação de trabalho de supervisão e autonomia (1,6 mais chances). As mulheres têm maior acesso às classes com relação de trabalho de autonomia e autoridade e de trabalho supervisionado, no entanto essas chances são muito sutis se comparadas às vantagens dos homens acima posto. Em ambas as classes, ser homens reduz em 0,9 a chance de mobilidade ascendente. Uma análise interessante seria testar a hipótese de que há diferenciais de acesso ao mercado de trabalho por gênero, mas com um esquema de classes sociais razoavelmente desagregadas para podermos aferir com precisão esses nichos ocupacionais e não tão somente com alguns poucos estratos de status ocupacional que dizem pouco sobre esses mecanismos7.

A raça dos indivíduos apresenta a seu maior efeito na classe de empregadores, se controlado por sexo e educação, onde ser branco eleva em 2,3 as chances de ascender em relação aos negros. A raça é barreira para a mobilidade ascendente para a classe abaixo da classe de trabalhadores com autonomia e autoridade. Nesta classe, ser branco eleva as chances de ascender em 1,5 chance. Assim, como os efeitos de ascensão de classes em relação ao gênero, os efeitos de ascensão de classes em relação à raça são maiores nas classes de empregadores e de trabalhadores supervisionados e com autonomia.

A educação possui efeito em todas as classes. Quanto mais educação maior a probabilidade de inserção no mercado de trabalho e de mobilidade. O maior efeito da escolaridade está na classe de trabalho supervisionado e com autonomia, onde cada ano de escolaridade eleva as chances de ascender em 1,7 chance. Quanto às classes acima mencionadas (empregadores e trabalhadores supervisionados e com autonomia), a educação não apresenta um efeito homogêneo como nas variáveis gênero e raça.

Testando as hipóteses temos três modelos para o cálculo da taxas relativas (tabela 3 em Anexo). O primeiro modelo (modelo 1) visualiza os efeitos nas chances relativas segundo as variáveis de controle classe do pai, sexo e raça. Além dessas, as variáveis de capital humano são inseridas (educação, experiência e migração). Todas as variáveis apresentaram efeito positivo e estatisticamente significante para a mobilidade ascendente. A educação eleva a probabilidade de mobilidade ascendente em 26,7% para

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Consultar Sorensen (2002) para um resumo extenso sobre estudos da estratificação e gênero, seus impasses e possibilidades.

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cada ano completo estudado. A experiência eleva a probabilidade de mobilidade ascendente em 0,3% para cada ano trabalhado. A migração eleva a probabilidade de mobilidade ascendente em enormes 90,5%. Neste modelo, ser mulher eleva a probabilidade de mobilidade ascendente em 6,3%. Ser branco eleva a probabilidade de mobilidade ascendente em 16,3%.

No modelo seguinte (modelo 2), foram excluídas as variáveis de capital humano e inseridas as variáveis de segmentação do mercado de trabalho. A variável que mais apresentou efeito foi o setor urbano/ rural. Estar em área urbana eleva em mais de 13 chances a probabilidade de ascensão social. Em seguida vem o segmento formal/ informal. Estar no mercado formal eleva em mais de 2 chances a probabilidade de ascensão social. Por último é o segmento de morar ou não em favelas. Não morar em favelas eleva em 1,125 chance de ascensão social. Neste modelo, o sexo perde efeito e a raça eleva o seu (ser branco eleva em 1,4 chance de ascensão social).

No modelo (modelo 3) são incluídas as variáveis de capital humano e de segmentação do mercado de trabalho, além do controle já mencionado. Os efeitos seguiram o mesmo valor os modelos anteriores (com exceção da variável aglomerado sub-normal), no entanto a intensidades das variáveis alteraram.

No capital humano, educação perdeu efeito de 6,2%, mantendo-se ainda forte com probabilidade de mobilidade ascendente elevada a 20,5% por ano de estudo. A experiência manteve o mesmo efeito de elevar a probabilidade de mobilidade ascendente em 0,3% para cada ano de trabalho. A migração, por sua vez, perdeu efeito quase pela metade indo para ainda forte probabilidade de mobilidade ascendente elevada em 42,2% para o migrante. Todas as variáveis de capital humano perderam efeito neste modelo, mas seus efeitos permaneceram fortes e significantes.

Na segmentação do mercado de trabalho ocorreu o efeito semelhante às variáveis de capital humano com exceção da variável aglomerado subnormal. A formalidade perdeu efeito, mantendo-se com a forte probabilidade de mobilidade ascendente em 90,3%. E morar em área urbana também perdeu efeito neste modelo, no entanto ela é a variável que em muito possui o maior efeito. Morara em área urbana eleva a probabilidade de mobilidade ascendente em 1058,4%.

A variável aglomerado sub-normal se mostrou com redução do efeito, ou seja, morara em região de favela, controlando-se pelo capital humano e pelas outras segmentações do mercado de trabalho, reduz ainda mais a probabilidade de mobilidade ascendente. É uma desvantagem que reduz em 30,3% a probabilidade de mobilidade ascendente! Ou seja, o efeito do capital humano é determinante para a mobilidade ascendente para os moradores em favelas, mais que aos moradores em área de não de favelas, por apresentar menor impacto nas probabilidades de ascensão. Ela foi a única variável que auxiliou a nortear a nossa análise a favor de uma das teorias em estudo. A Teoria de Segmentação de Mercado de Trabalho se sustenta com o resultado desta variável por apresentar resultado persistente ao controle da Teoria do Capital Humano. As variáveis de formalidade e área rural/ urbana não apresentaram este comportamento

No modelo, a variável de controle sexo manteve o efeito intermediário entre os dois modelos. Ser homem reduz a probabilidade de mobilidade ascendente em 19,3%, controlados os efeitos de capital humano e segmentação de mercado de trabalho. Possivelmente este é um efeito da agregação das ocupações em poucos estratos. A variável raça apresentou o efeito mais baixo entre os três modelos, mas mantendo elevado efeito de ascensão social. Ser branco eleva da probabilidade de mobilidade ascendente em 12,4%. Essas variáveis foram fundamentais para o controle do modelo

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ao lado da origem social (classe do pai) que não apresentou dados substantivos para análise, mas auxiliou a encontrarmos os efeitos das demais variáveis em interesse.

No entanto, quando olhamos de perto os efeitos das variáveis sexo e raça por meio do método de elaboração (onde separamos os efeitos das variáveis em modelos de regressão diferentes) concluímos o seguinte. Segundo a tabela 4 (tabela 4 em Anexo), o modelo 3 (saturado) indica que não morar em área de aglomerados sub-normais é determinante para a ascensão social dos indivíduos negros mas que nos brancos. Se controlado pelas variáveis de capital humano e segmentação do mercado de trabalho, as chances de ascensão do homem negro são elevadas para 64,20% e para a mulher negra 77,50%. Já o homem branco se eleva para 15,30% e as mulheres brancas para 50,10%.

Ainda na mesma tabela, observando a diferença das chances entre os modelos 2 e 3, o efeito do capital humano é maior para as mulheres em relação aos homens, pois houve aumento do efeito mais entre as mulheres que nos homens entre os modelos 2 e 3. Em outras palavras, as mulheres sofrem mais os efeitos de se morar em favelas. Assim, em média para todas as classes, o capital humano é primordial para a ascensão social para as mulheres mais que nos homens, moradores de aglomerados sub-normais (favelas). Destaque para a mulher negra que não morar em favelas eleva a sua chance de ascensão social em 77,70%, em oposição do homem negro que eleva 22,50%.

6. CONCLUSÃO

Neste artigo se propôs analisar os determinantes da mobilidade social vista através da Teoria de Capital Humano e A Teoria de Segmentação do Mercado de Trabalho. A metodologia de classes sociais empregada foi a neoweberiana cujo foco está nas relações de trabalho.

Os resultados principais formam os efeitos positivos, significantes e homogêneos dos anos de escolaridade para a ascensão social, controlado por gênero e raça. Há barreira de acesso a mobilidade ascendente entre as classes de trabalhadores supervisionados e trabalhadores supervisionados e com autonomia. O efeito da educação também reflete esta barreira. Também houve elevado efeito das variáveis de capital humano (oferta) e de segmentação do mercado de trabalho (demanda) para a mobilidade ascendente. Ambas teorias no mesmo modelo apresentam redução dos efeitos das variáveis que se mantêm positivas e significantes, com exceção do aglomerado sub-normal.

É curioso observarmos os efeitos desvantajosos de se morar numa favela. Vimos que colocadas as variáveis de capital humano e de segmentação do mercado de trabalho, ambas perdem efeito com exceção de uma: o aglomerado sub-normal. Ou seja, se comparado indivíduos em situação idêntica de acordo com as teorias aplicadas, morar em favela reduz a probabilidades de ascensão social ainda mais, com perda de efeito de variáveis como escolaridade (em anos completos), de se morar em área urbana e estar no mercado formal. A explicação pode vir pelas condições de vida de se morar em uma favela e as expectativas negativas por parte da demanda por empregados no mercado de trabalho. Como Costa-Ribeiro (2002) mostrou, as classes mais baixas melhoraram muito as suas condições de vida com a passagem do Brasil arcaico e agrícola para um urbano e industrial. No entanto, as desigualdades persistem sejam em acesso a estrutura de saneamento básico e saúde pública e, por outro lado, trafico de drogas e violência (Beato, 2004). E isto explicaria a redução da probabilidade de ascensão social por serem pessoas de lugares indesejáveis para o mercado de trabalho

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O jornal Estado de São Paulo (2006) fez um apanhado sobre quantas são e as condições das favelas no Brasil. Segundo o IBGE atualmente são 4,2 milhões de pessoas vivendo em favelas no Brasil, 65% dessas pessoas moram nas capitais8. O gráfico 2 (gráfico 2 em Anexo) mostra a porcentagem de pessoas que moram em favelas. Não é de surpreender que os estados do Rio de Janeiro (1.092.476 moradores) e São Paulo (909.628 moradores) lideram a lista. São estados com grande população e que apresentam alto desenvolvimento econômico e, portanto, desigualdade no mercado de trabalho que privilegia os indivíduos mais qualificados. A saída mais apontada pelos pesquisadores entrevistados foi o projeto de urbanização para vitalizar as favelas e não a criação de loteamentos em outros locais que não a da própria favela. A experiência de Porto Alegre é marcante e reforça esta posição ao demonstrar que as redes sociais e as estratégias de sobrevivência são intimamente ligadas às condições de vida peculiares do local (Azevedo, 2000) No entanto, os projetos, assim como financiamento para a execução destes, são escassos para um número tão grande de famílias que moram nesses espaços. Portanto, fica difícil pensarmos em soluções estruturais para o problema de moradia inadequada e possível redução do impacto negativo de se morar em favelas no mercado de trabalho. 7. BILBIOGRAFIA AGRESTI AZEVEDO ANTUNES BEATO

BENDIX, R. e LIPSET, S. (1959) Social Mobility in Industrial Society. Berkley, University of California Press.

BERG BOURDIEU

BOWLES e GINTIS COLLINS

COSTA-RIBEIRO, A. e SCALON, M. (2001) Mobilidade de Classe no Brasil em Perspectiva Comparada. Rio de Janeiro. Dados, vol. 44, nº 1.

COSTA-RIBEIRO, A. e SCALON, M. (2001) Mobilidade de Classe no Brasil em Perspectiva Comparada. Rio de Janeiro. Dados, vol. 44, nº 1.

COSTA-RIBEIRO, A. e SCALON, M. (2001) Mobilidade de Classe no Brasil em Perspectiva Comparada. Rio de Janeiro. Dados, vol. 44, nº 1.

DOERINGER E PIORE

ERICKSON, R. e GOLDTHORPE, J. (1992) The Constant Flux: A Study of Class Mobility in Industrial Societies. Oxford, Oxford University Press.

8

Vale ressaltar que aglomerado sub-normal definido pelo IBGE é um conceito questionável no sentido qualitativo, pois a qualidade de vida não se limita apenas à qualidade da moradia e adjacências.

(15)

EVANS

FERNADNES, NEVES E HALLER GIDDENS

HALLER, A.. (2000) A Estrutura de Estratificação no Brasil: um Porgrama de Trinta e Cinco Anos de Pesquisa. T&S. UFMG. 2000.

NEVES E FERNANDES

NEVES, FERNANDES E HALLER

PASTORE, J. e VALLE SILVA, N. (2000) Mobilidade Social no Brasil. Rio de Janeiro. Makron.

PERO

PIORE, D. (1985) The dual labor of market. ASR.

POWERS D. XIE, Y. (2001) Statistical methods of cateorical data analysis. AP.

SCALON, M. (1999) Mobilidade Social no Brasil: padrões e tendências. Rio de janeiro. Revan/ Iuperj – UCAM.

SCHULTZ

SORENSEN E KALLEBERG

SORENSEN, A E KALLEBERG, x. (1981

SORENSEN, A. (2000) Toward a sounder basics for class analysis. American Journal of Sociology. Vol. 105, nº 6, p. 1.523-558.

TREIMAN E GANZEBOOM THRUROW.

VALLE SILVA, N. (1974) Posição Social das Ocupações. Rio de Janeiro, mimeo. WEBER, M (19720 ?

WESTERN, M e WRIGHT, E. (1994) The Permeability of Class Boundaries to Intergenerational Mobility among Men in the United States, Canada, Norway, and Sweden. American Sociological Review, Vol. 59, p. 606-629.

(16)

8. ANEXO

Quadro 1

Esquema de classes sociais neoweberiano

Grande I Indústria IVa Pequeno Agricultura IVc Indústria IVb Agricultura IVc Alto I Relação de serviço Baixo II Alto IIIa Intermediário Baixo IIIb V VI Indústria

Contrato de trabalho VIIa

Agricultura VIIb

Não qualificado Qualificado Posição básica de classes

Empregadores

Empregados Auto-empregados

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Gráfico 1

Percentagem por classes segundo relações de mercado por gerações. Brasil.1996

12,2 7,3 4,5 4,9 2,5 1,4 56,9 30,3 23,9 56,1 0 10 20 30 40 50 60 pe rc e n ta ge m Trabalho com autonomia e autoridade Empregador Supervisionado e com autonomia Trabalho supervisionado Trabalho supervisionado rural filho pai

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (microdados) de 1996.

Gráfico 2

Porcentagem da população residente em favelas por capital. 2005

0 10 20 30 40 Belem Rio Fortaleza Teresina Belo Horizonte Manaus João Pessoa Porto Alegre Salvador Recife Curitiba São Paulo Ca p it a is

porcentagem de m oradores em favelas

(18)

Tabela 1

Matriz de chances relativas de mobilidade. Brasil. 1996 Filho

Pai 1 2 3 4 5

Trabalho com autonomia e autoridade 7,7 6,5 6,4 4,1 1,0

Empregador 2,3 4,8 2,5 1,6 0,1

Supervisionado e com autonomia 6,0 5,1 7,7 3,7 0,1 Trabalho supervisionado 4,8 4,0 6,8 6,8 5,4 Trabalho supervisionado rural - - - - -

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (microdados) de 1996.

O modelo foi controlado pelas variáveis sexo, raça e anos de estudo centralizada.

Tabela 2

Matriz de chances relativas de mobilidade segundo sexo e raça. Brasil. 1996

Classes Sexo Raça Anos de estudo

(centralizada) Trabalho com autonomia e autoridade 0,9 1,1 1,5

Empregador 2,8 2,3 1,4

Supervisionado e com autonomia 1,6 1,5 1,7

Trabalho supervisionado 0,9 1,1 1,3

Trabalho supervisionado rural - - -

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (microdados) de 1996.

O modelo foi controlado pelas pela origem social. * : p>0,01 e p<0,05.

(19)

Tabela 3

Parâmetros estimados das taxas relativas de mobilidade ascendente. Brasil. 1996

Variáveis Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3

Interceptor 2,246 0,295 0,679

Trabalho com auton. e autoridade 0,000 * 0,000 * 0,000 *

Empregador 0,029 0,036 0,013

Supervisionado e com autonomia 0,047 0,078 0,020 Trabalho supervisionado 0,045 0,039 0,018 Sexo 0,937 0,732 0,807 Raça 1,163 1,431 1,124 Educação centralizada 1,267 - 1,205 Experiência 1,003 - 1,003 Migração 1,909 - 1,422 Formal - 2,611 1,903 Aglomerado subnormal - 1,125 1,435 Área urbana - 13,499 11,584

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (microdados) de 1996.

N = 70349. Com peso por indivíduo N = 33165735. (-): variável não utilizada no respectivo modelo. * p > 0,05. As demais chances possuem p < 0,000.

Tabela 4

Efeitos de chances relativas na variável aglomerado sub-normal e no Constant da regressão segundo modelos 2 e 3

Homem branco Homem negro Mulher branca Mulher negra

Segmentação (modelo 2) 0,826 1,417 1,064 0,998 Saturado (modelo 3) 1,153 1,642 1,501 1,775

Diferença (Sat - Seg) 0,327 0,225 0,437 0,777 * Chances relativas de pertencer à classe de trabalhadores rurais segundo os controles do respectivo modelo.

Referências

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