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Think Tanks e a sua influência nas políticas energéticas europeias

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Academic year: 2021

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FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA GEOGRÁFICA, GEOFÍSICA E ENERGIA

Think Tanks e a Sua Influência nas Políticas Energéticas Europeias

MARIA MARGARIDA MARQUES GALO COSTA

Mestrado Integrado em Engenharia da Energia e do Ambiente

Dissertação orientada por:

Professor Doutor José Almeida Silva (FCUL)

Professora Doutora Cátia Miriam Costa (ISCTE)

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iii

Agradecimentos

A presente dissertação é o final de uma etapa que recordo com carinho e saudade. Não poderia deixar de agradecer a todos os que contribuíram para o final desta etapa da minha vida.

Gostaria primeiro de deixar um especial agradecimento aos meus orientadores, o Prof. José e a Prof. Miriam, por todo o auxílio prestado, a disponibilidade para esclarecerem todas as minhas dúvidas e a paciência demonstrada ao longo deste tempo.

De seguida, gostaria de agradecer aos meus amigos que me acompanharam no percurso académico durante os últimos cinco anos e que contribuíram para que chegasse a esta etapa, nomeadamente à Bea, Gonçalo, Pedro, Farrancha, António, Diogo, Tiago e Rúben.

À ESN, que me proporcionou ferramentas essenciais durante o meu percurso, e todas as pessoas fantásticas que conheci e hoje se tornaram os meus grandes amigos, nomeadamente ao Azevedo, Panini, António, Gonçalo, Victoria, Henrique, Airton, Stefany, Marta, Mariana e Ivo. Um agradecimento especial à Joana pelo auxílio na revisão do documento.

Por fim, quero dar um agradecimento muito especial à minha família, nomeadamente aos meus pais e à minha irmã por terem sido incansáveis e terem estado sempre ao meu lado em todos os momentos. Nada disto teria sido possível sem vocês e o vosso carinho.

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Resumo

A complexidade técnica da área energética e das matérias políticas, sociais e económicas abordadas em torno deste tema necessitam de uma ligação entre o conhecimento e a política, visto que os governos e os estados por muitas vezes lidam com contextos nos quais é difícil obter informação relevante, atualizada e conhecimento para justificar algumas das suas decisões e respetivas consequências. Os think tanks assumem assim um papel fundamental no que toca às decisões das políticas energéticas, exercendo uma influência crucial, nomeadamente na União Europeia.

Dado o panorama energético, não só na escala europeia mas também a nível mundial, e as constantes mudanças que se têm observado nas últimas décadas, com um maior enfoque nas interconexões das redes entre países da UE, na integração das energias renováveis e num compromisso cada vez maior para atingir as metas de descarbonização impostas pelo objetivos traçados para 2020 e 2030, é importante entender quem são os think tanks que podem influenciar os decisores políticos, como pensam, de que forma são eles próprios influenciados e que políticas promovem.

Deste modo, a presente dissertação teve como objetivo avaliar o papel de quatro dos principais e mais influentes think tanks junto da União Europeia na área de política energética. Foram numa primeira fase avaliados alguns dos seus comportamentos típicos e de que forma podem influenciar ou ser influenciados pelo lóbis de empresas ou organismos governamentais. Foi ainda analisada a linha de pensamento para cada área de enfoque energética, de forma a estudar a sua evolução de pensamento e de que modo se encontram alinhados com os pacotes energéticos lançados pela União Europeia, com o intuito de entender como poderão ter influenciado os decisores políticos. Os resultados obtidos permitiram concluir uma possível influência dos think tanks estudados sobre o pacote Clean Energy For All Europeans e em algumas metas estipuladas no pacote An

Energy Policy For Europe. Quanto ao seu comportamento, de acordo com a literatura estudada e

a metodologia implementada, foram analisados possíveis lóbis por parte de empresas que financiam os think tanks em determinadas áreas abordadas por estas instituições. No entanto, é necessário um estudo posterior que permita avaliar mais concretamente esta possível influência.

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Abstract

The technical complexity of the energy area and the political, economic and social issues raised around this theme need a connection between knowledge and politics, since governments and states deal frequently with contexts on which it is hard to obtain relevant and actualized information and knowledge to justify some of their decisions and consequences. The think tanks assume a fundamental position in energy political decisions, having a crucial influence, especially inside the European Union.

Considering the energy panorama, not only on the European scale but also worldwide, and the constant changes that are observed on the last decades, with a major focus on the network connections between the EU countries, the integration of the renewable energy and a bigger compromise to reach the decarbonization imposed by the goals established for 2020 and 2030, it is important to understand who are the think tanks that can influence the political policy makers in their decisions, how they think, the way that are themselves influenced and what kind of politics they promote.

The present dissertation had the purpose of evaluate the role of the four most influential think tanks on the European Union, regarding energy politics. On a first phase, it was evaluated some of their typical behaviors and how they can influence or be influenced by companies lobbies or political bodies. It was also analyzed how they think in each energy area, so that it could be possible to study t’s evolution of thought and if they coincide with the energy packages launched by the European Union, with the purpose of understanding how they could have influenced the policy makers.

The results obtained in this study allowed to conclude a possible influence of the think tanks analyzed, over the package Clean Energy For All Europeans and also over some stipulated objectives on the package An Energy Policy For Europe. Regarding their behavior, according to the studied literature and the methodology implemented, it was analyzed possible lobbies from companies that finance think tanks in some areas. Meanwhile, it is necessary a posteriors study to evaluate more precisely this possible influence.

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Índice

Agradecimentos ... iii Resumo ... iv Abstract ... v Índice de Figuras ... ix Índice de Tabelas...x Simbologia e Notações ... x1 1. Introdução ... 1 2. Fundamentos Teóricos ... 2

2.1 Think tanks e a sua Influência nas Políticas Públicas ... 2

2.1.1 O seu papel nas políticas públicas da UE ... 4

2.2 Enquadramento da Geopolítica Energética Mundial ... 6

2.2.1 O Sistema EU ETS ... 7

2.2.2 O Protocolo de Quioto ... 10

2.2.3. Conferência de Copenhaga ... 11

2.2.4. Acordo de Paris ... 11

3. A Política Energética da UE ... 13

3.1. An Energy Policy For Europe ... 14

3.2. 2020 climate & energy package ... 17

3.3 Clean Energy For All Europeans ... 21

4. Metodologia ... 24

4.1. Áreas de enfoque dos artigos publicados ... 24

4.2 Tendência da linha de pensamento ... 25

4.3. Atividades e Eventos ... 25

4.4. Financiamento ... 25

4.5. Autores ... 26

5. Comportamento dos think tanks ... 27

5.1. CEPS ... 27

5.1.1 Autores ... 27

5.1.2 Financiamento ... 28

5.1.3 Eventos e Atividades ... 29

5.1.4 Áreas de Enfoque Energéticas ... 29

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Maria Galo Costa viii

5.2.1 Autores ... 37

5.2.2. Financiamento ... 37

5.2.3. Eventos e Atividades ... 38

5.2.4. Áreas de Enfoque Energéticas ... 38

5.3. IFRI ... 43

5.3.1. Autores ... 44

5.3.2. Financiamento ... 44

5.3.3. Atividades e Eventos ... 45

5.3.4. Áreas de Enfoque Energéticas ... 45

5.4 OIES (Oxford Institute of Energy Studies) ... 51

5.4.1 Autores ... 51

5.4.2 Financiamento ... 52

5.4.4 Áreas de Enfoque Energéticas ... 53

6 A Influência dos Think Tanks nas Políticas Energéticas Europeias ... 55

6.1. Áreas de enfoque energéticas ... 55

6.1.1. Descarbonização ... 55 6.1.2. Petróleo ... 56 6.1.3. Gás ... 57 6.1.4. Carvão ... 58 6.1.5. Energia Nuclear ... 58 6.1.6. Energias Renováveis ... 59 6.1.7. Mobilidade ... 59

6.2. Cruzamento dos think tanks com acontecimentos relevantes da política energética ... 60

6.3. Influência dos think tanks no pacote An Energy Policy For Europe ... 61

6.4. Influência dos think tanks no pacote Clean Energy For All Europeans ... 61

7 Conclusões e Considerações Futuras ... 63

8 Referências Bibliográficas ... 65

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ix

Índice de Figuras

Figura 1.1: Encontros entre Instituições e Comissários. Fonte :[10]……….….4

Figura 2.1: Funcionamento do Sistema de Troca de Emissões da EU. Fonte: [14]………….…...7

Figura 2.2: Volumes de Troca de Licenças de emissão da UE (milhões). Fonte: [15]…………...9

Figura 3.1: Emissões de GEE entre 1990-2016. Fonte: [26]……….……….14

Figura 3.2: Estado de setor no Pacote de Energia para todos os Europeus [40]………..……23

Figura 5.1.: Principais fontes de financiamento do CEPS [44] ……….28

Figura 5.2: Previsão das rotas de gás e infraestruturas em 2020 [61]………33

Figura 5.3.: Metas para a variação da fração de energias renováveis no mix energético, assumindo um cenário de eficiência energética em vez de um cenário de referência [71]…… ………..36

Figura 5.4.: Alternativa do balanço do sistema energético [83]………...…..40

Figura 5.5.: Previsão da utilização do gás natural até 2050 [85]………...….42

Figura 5.6.: Previsão da evolução mercado do gás até 2050 [85]………...…43

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x

Índice de Tabelas

Tabela 1.1: Nível de consumo absoluto em 2020 como notificado pelos estados membros em 2013. Fonte: [36]………...………31 Tabela 9.1.: Cruzamento cronológico entre os principais eventos/medidas energéticas dos últimos anos e a posição dos think tanks estudados……….77 Tabela 9.2.: Cruzamento cronológico entre as principais medidas para o pacote Na Energy

Policy For Europe e a posição dos think tanks estudados………...78

Tabela 9.3.: Cruzamento cronológico entre as principais medidas para o pacote Na Energy

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1

xi

Simbologia e Notações

CCS Carbon Capture System CE Comissão Europeia

CEPS Centre of European Policy Studies GEE Gases de Efeito de Estufa

CO2 Dióxido de Carbono

GNL Gás Natural Liquefeito

IFRI Institut Français des Relations Internationales OIES Oxford Institute of Energy Studies

ONG Organizações Sem Fins Lucrativos

OPEC Organização dos Países Exportadores de Petróleo UE União Europeia

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1. Introdução

Nos últimos anos, a Europa tem vindo a dedicar-se a uma transição energética que acompanhe a tendência mundial de diminuição das emissões de GEE (Gases de Efeito de Estufa). Os políticos que são responsáveis pela gestão da energia na Europa têm a ambição de criar uma União Energética democrática, inovadora, e economicamente viável para os cidadãos europeus. A falha por parte dos decisores políticos de alcançar esta meta leva a que estejam dependentes de fornecedores externos instáveis, como a Rússia ou o Médio Oriente, o que coloca em risco a estratégia adotada pela UE (União Europeia). Esta estratégia coloca à frente da política energética europeia até 2020 uma promoção da eficiência energética, redução de GEE e a aposta no desenvolvimento das energias renováveis [1]. Deste modo, a União Energética estabelece nos seus objetivos condições para que a energia possa fluir livremente entre fronteiras dentro do espaço da UE, promovendo deste modo a criação de novos postos de trabalho, corte dos preços da eletricidade tal como o crescimento da exportação de energia, levando a um estímulo de uma economia de baixo carbono [2].

Os think tanks, sendo instituições que integram pessoas altamente qualificadas para estudar vários assuntos da nossa sociedade, desde os estudos sociais até à economia ou ambiente, tornam-se importantes no molde da política energética europeia. Sendo uma área extremamente complexa, muitos estudam e analisam as políticas, com a ambição de poder ter algum impacto nas políticas públicas, nomeadamente os que têm maior dimensão. Eles são indispensáveis para a contribuição da discussão política da UE, fazendo uma análise dos seus programas e políticas, promovendo também as suas próprias ideias através da divulgação em vários meios de comunicação, estimulando assim o debate [3].

A presente tese tem como principal objetivo avaliar o papel de quatro dos principais e mais influentes think tanks europeus junto da União Europeia. A análise da sua influência nas políticas públicas consistiu na avaliação de vários critérios sobre o comportamento dos think tanks e na evolução das suas linhas de pensamento ao longo do tempo sobre as várias temáticas energéticas, tal como a avaliação do impacto direto no planos estratégicos An Energy Policy For Europe e o

Clean Energy for All Europeans. O primeiro documento pretende estabelecer os objetivos a serem

cumpridos até 2020 (sendo que em 2009 através do documento Europe 2020 foram assim estabelecidas as metas para serem alcançados estes objetivos), enquanto que o segundo documento consiste num pacote legislativo com o qual se espera alcançar uma União Energética que garanta o funcionamento interno de gás e eletricidade, resolva problemas de segurança de abastecimento, promova recursos de energia renovável, encoraje a eficiência energética e reduza significativamente os GEE.

Por fim, dada a complexidade da análise dos think tanks, pretende-se com os vários elementos que tipicamente caracterizam o comportamento destas instituições poder efetuar uma comparação relativamente às temáticas abordadas pelos think tanks considerados mais influentes, e para cada sector energético analisar a linha de pensamento abordada por estes, relacionando assim com as políticas energéticas tomadas nos últimos anos.

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Maria Galo Costa 2

2. Fundamentos Teóricos

Neste capítulo serão apresentados alguns pontos base a partir dos quais surge o objetivo desta dissertação. Será apresentada a finalidade dos think tanks, enquanto influenciadores nas políticas públicas, tal como a contextualização dos objetivos propostos pela UE na sua política energética e os acontecimentos mais relevantes que ditam algumas das metas propostas para 2020 e 2030.

2.1 Think tanks e a sua Influência nas Políticas Públicas

Os think tanks podem ser considerados numa definição simplificada, instituições com uma reputação pela sua competência, relevância, influência e independência. O seu principal objetivo prende-se com o desenvolvimento de ideias e argumentação sobre dados e factos, utilizando métodos científicos. Os think tanks apareceram nos EUA e na Europa no início do século XX, sendo que o Brookings (1914), Kiel Institute of World Economics (1914) e o Royal Institute for International Affairs (1920) foram os primeiros a ser estabelecidos. O termo foi introduzido nos EUA durante a II Guerra Mundial, de modo a caracterizar o ambiente seguro na qual os especialistas militares e civis estavam situados, de modo a que pudessem desenvolver os planos de invasão e outras estratégias militares. Após este período, o termo foi aplicado para o recrutamento de investigadores, que fizeram uma mistura de pensamento profundo e programa de avaliação para os militares. Apenas nos anos 60, o termo foi expandido para outras áreas, de modo a descrever grupos de especialistas que formulavam várias recomendações políticas. Em 1970, o termo think tank foi incluído em instituições focadas não só em política externa, como também em defesa estratégica e assuntos políticos, económicos e sociais [4].

Estas instituições têm vindo a tomar cada vez mais um papel influenciador na opinião pública em assuntos de política doméstica e internacional, tal como as opiniões dos vários decisores políticos. Os think tanks podem tornar-se fulcrais na mediação entre os governos e o público, através da identificação, articulação e avaliação de assuntos atuais e emergentes, problemas ou propostas, transformação de ideias e problemas em assuntos políticos, assumindo assim uma voz independente e informada em debates políticos. Várias definições afirmam que estas instituições atuam de forma independente dos partidos políticos, governos ou grupos de interesse, no entanto é difícil definir tal facto visto que existem think tanks com mais ou menos autonomia, dependendo muito da forma como são financiados [4]. Existem várias instituições com laços de financiamento com o Governo (dependendo dos contratos de receitas) que podem limitar a sua independência, mas por outro lado o financiamento privado também pode ter exatamente o mesmo efeito. Uma função muito importante dos think tanks passa por providenciar recomendações para assuntos políticos presentes que estão a ser considerados por chefes de estado. Estes podem projetar as suas recomendações através de vários estágios no processo de decisão política através de vários canais, como por exemplo a organização de seminários ou debates para os decisores

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Maria Galo Costa 3 políticos ou os média. Também se podem projetar dentro da comunicação social, através de recomendações escritas em forma de opinião em jornais.

O que distingue então os think tanks de outros centros institucionais como as Universidades? Ao contrário das universidades, os think tanks têm como objetivo a influência direta nas políticas públicas tendo assim uma maior capacidade de se projetarem graças às ligações permanentes aos decisores políticos, ao contrário das universidades que têm apenas objetivos educativos e científicos, tal como menor rapidez na formação de equipas de trabalho de investigação.

Acompanhar a influência que estas instituições têm sobre as políticas públicas trata-se de um trabalho muito complexo, no entanto existem alguns comportamentos que podem ser alvo de estudo. Estas instituições normalmente disseminam estudos de avaliação, como a sua pesquisa básica e recomendações de políticas públicas de modo a aumentar a sua influência junto dos decisores políticos e o público. Os think tanks de maiores dimensões serão aqueles que exercem mais influência dado que possuem maior financiamento e consequentemente uma maior estrutura, permitindo deste modo obter análises mais profundas e projetar-se melhor sobre os decisores políticos a partir de conferências ou debates (por exemplo), visto que a rede de contactos criada por estes é fulcral para o seu funcionamento. O financiamento internacional dos think tanks tornou-se frequente, permitindo assim o desenvolvimento destas instituições nomeadamente em países com economias de transição. No entanto mantêm um grande problema relativamente à credibilidade das suas recomendações políticas, visto que os financiadores poderão exercer influência sobre as conclusões apresentadas. Para além da possibilidade de sofrerem lóbis dos seus financiadores, estas instituições ficam “presas” aos investidores caso eles decidam cortar ou diminuir os seus fundos. Estes grupos de interesse que tem “como objetivo influenciar a

formulação política e as tomadas de decisão das instituições europeias” devem encontrar-se

registados na base de dados do Registo de Transparência, dando assim informação sobre os interesses promovidos tal como o seu financiamento, de modo a que os cidadãos tenham acesso às atividades de lóbi e de controlo público dos mesmos [4] [5].

Atualmente a ferramenta mais útil para medir a influência dos think tanks nas políticas públicas é o ranking publicado pela Universidade da Pennsylvania, o Global Go-To Think Tank Index, contendo várias categorias que incluem os tópicos abordados por estas organizações e a forma como se projetam junto dos decisores políticos. Dentro da Europa já existem algumas categorias de prémios e rankings dos think tanks, como por exemplo o Observatoire des Think Tanks em França, uma cerimónia de prémios para estas instituições. Isto significa por um lado que cada vez mais existe uma popularização da atividade destas instituições à parte das Universidades, como uma crescente institucionalização numa esfera pública da Europa. Uma estratégia adotada por alguns think tanks com vista a uma aproximação de Bruxelas prende-se com a colaboração com outras organizações estabelecendo assim redes internacionais e projetos, como por exemplo o

European Policy Institute Network, uma rede de 31 think tanks de estados membros da UE com

foco no debate da política europeia [6]. Estas redes permitem assim melhores introspeções das várias matérias europeias e incluir diversos pontos de vista sobre áreas diferentes [7].

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2.1.1 O seu papel nas políticas públicas da UE

Os think tanks assumem um papel importante no funcionamento das várias matérias da UE, pois moldam as perceções e ideias das políticas da UE. É difícil quantificar a influência que estes têm, dado que existe alguns obstáculos metodológicos e comportamentais que impedem de quantificar o papel direto destes [5].

Existem várias empresas que mantêm interesse nos vários assuntos abordados e montam os seus próprios think tanks, com o propósito de criar um criticismo “correto” ou financiam outras instituições. Um fator interessante deve-se ao facto de existirem vários antigos ex-comissários europeus que trabalham para estes think tanks, levando a questionar até que ponto estas instituições são totalmente independentes.

Durante vários anos os think tanks recusaram registar-se no Registo de Transparência, sendo que apenas mais recentemente muitos decidiram aderir, pois aperceberam-se que este registo poderia facilitar o seu acesso aos decisores políticos e aumentar a sua imagem pública. Porém, ainda existe um número considerável que continua a optar pela opacidade. Existe no entanto alguma disparidade entre o que é registado quanto aos custos dos think tanks, os lobistas a tempo inteiro e o número de registos de encontros com Comissários europeus.

Entre Dezembro de 2014 e Março de 2016 foram considerados pelo Transparency International’s

Integrity Watch 5, 385 encontros entre think tanks e Comissários europeus, sendo que um terço Figura 1.1 - Encontros entre Instituições e Comissários

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Maria Galo Costa 5 foi entre apenas 8 instituições (CEPS, E3G, Bruegel, Bertelsmann Stiftung, Counseil de Coopération Economique, CER, Friends of Europe e EPC), tendo deste modo mais encontros com membros da Comissão Europeia que muitas consultoras (377) e sindicatos (363). Recentemente o BEPA (Bureau des Conseillers de Politique Européene) relacionou o crescimento de think tanks próximos de Bruxelas ao crescimento significativo do capital da UE como um centro de formulação política. Isto, devido à concentração existente de lobistas, empresários e decisores políticos que permitem assim criar condições favoráveis a estas instituições de se projetaram junto do centro político europeu.

Os think tanks europeus são moldados também devido à forma como são financiados e mostram-se mais ou menos transparentes sobre este aspeto, mostram-sendo que alguns são mais abertos ao publicarem informação nos seus websites. No entanto, mesmo havendo alguma transparência sobre os seus membros, muitos deles exigem um nível elevado de participação nas suas atividades, sendo por norma proporcional à sua taxa de adesão. A atividade dos think tanks é muitas vezes moldada pela UE através de apoio financeiro, incluindo programas estruturais para organizações de pesquisa de política pública ou mesmo contratos com os diretores gerais dos think tanks.

No Registo de Transparência, 17 instituições encontram-se registadas como “think tanks”, sendo que metade delas têm escritório sediado em Bruxelas, à exceção de um think tank, todas elas tem registados pelo menos cinco encontros com membros da Comissão desde 2014. Mais de metade declararam a presença de mais de cinco lobistas trabalhando para elas, sendo ainda que nove reclamaram os seus custos de lóbi abaixo de 9999 €, o que pode sugerir um custo demasiado baixo para a atividade, levando a suspeitar sobre aquilo que é declarado no Registo da Transparência [8][9].

Ainda existe pouca literatura que permita definir o impacto que os think tanks têm sobre as políticas da UE. Um dos casos mais notáveis ocorreu em 2010 com os Eurobonds, quando o CEPS e o Bruegel’s levantaram esta ideia ao mesmo tempo que o Primeiro-Ministro de Luxemburgo da época, Jean-Claude Juncker. Dado que os dois think tanks são diretamente financiados por instituições da UE, encontram-se ao mesmo tempo dependentes dos objetivos dos seus investidores. Visto que o Governo alemão está incluído na gama de investidores, a ideia dos

Eurobonds foi suavizada pelo Bruegel’s e atacada pelo CEPS, pois Angela Merkel (Chanceler da

Alemanha neste ano) opôs-se publicamente, ameaçando cortar nos fundos de investimento dos think tanks [11].

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Maria Galo Costa 6

2.2 Enquadramento da Geopolítica Energética Mundial

Desde sempre que a energia foi um foco central nos aspetos sociais, económicos e políticos da vida humana. Havendo capital suficiente para investimento em infraestruturas e um compromisso dos governos, as várias formas de energia são facilmente convertidas em produtos utilizáveis [12]. A política energética tem-se tornado cada vez mais complexa nos últimos anos, nomeadamente devido aos sistemas de transportes baseados em diversos recursos energéticos, com especial enfâse no petróleo, em que disrupções neste mercado pode trazer efeitos devastadores em várias economias que dependem deste recurso.

Os dois maiores consumidores globais de energia do século XX, os EUA e a UE, têm necessidades energéticas semelhantes, porém com importações energéticas diferentes. Enquanto os EUA são dependentes do petróleo, com muitas empresas a operar especialmente no Médio Oriente, a UE depende largamente da importação de gás, tendo a Rússia como principal fornecedor. Depois da crise económica mundial em 2008, deu-se um aumento da procura de gás e petróleo, o que levou a um aumento dos preços destes recursos e o aumento da produção em países como a Rússia, Venezuela e Irão. Atualmente verifica-se uma tendência mundial de diminuição do consumo dos recursos tradicionais, nomeadamente na Europa e nos EUA. Tal tem levado a uma diminuição dos preços do petróleo, o que significa que os países cujas economias dependem largamente nas receitas das exportações estão expostos a um grande risco económico e político.

Os recursos energéticos fósseis têm sido os principais causadores do aumento da concentração de GEE na atmosfera, resultando num aumento da temperatura do planeta e consequentemente na perda de massa de gelo nos pólos, o aumento do risco de inundações em vários pontos do planeta e a devastação de produção de comida. Estima-se que nos anos 90 cerca de dois mil milhões de pessoas foram afetadas por desastres relacionados com a meteorologia,. Isto levou à urgência da necessidade de mudar a forma como é consumida energia e a política praticada sobre a segurança energética, sendo que o debate em volta do consumo de energia fóssil vs. redução do consumo através da aposta de novas tecnologias tem sido alargado mundialmente. O maior receio nesta mudança debruça-se nomeadamente no custo da instalação de novas tecnologias e infraestruturas que permitam suportar os recursos energéticos alternativos, levando a que a cooperação entre os vários países relativamente às metas a alcançar de descarbonização seja fulcral para que efetivamente se alcance o sucesso na transição energética. Neste ponto, serão analisados assim os principais objetivos climáticos nos últimos anos, que têm afetado a geopolítica energética mundial [13].

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2.2.1 O Sistema EU ETS

O Sistema de Troca de Emissões da UE (EU ETS) é o primeiro sistema a nível mundial de troca de emissões de GEE e um dos pilares da política climática da UE, contribuindo para os objetivos de redução dos GEE ao definir um teto máximo de emissões permitidas para os setores cobertos por este e garantindo deste modo que as emissões totais são mantidas num nível pré-definido. Ao mesmo tempo existe uma troca das licenças de emissões, consoante as necessidades do setor.

~

Este sistema define também a possibilidade de comprar quantidades limitadas de créditos internacionais de outros projetos a nível mundial.

As licenças de emissões podem ser alocadas de forma gratuita ou serem leiloadas, oferecendo deste modo flexibilidade suficiente para que as empresas cobertas por este sistema tomem medidas ou comprem licenças consoante o preço destas. Se as empresas emitirem menos que o teto estabelecido, é permitido que vendam excesso de licenças de carbono para empresas que estejam a emitir mais CO2, incentivando então as empresas que poluem menos a lucrarem mais

dado que a venda de licenças é maior [14].

O sistema cobre os seguintes setores e gases, para que possam ser medidos de forma precisa:  Dióxido de Carbono (CO2):

 Geração de calor e eletricidade;

 Indústrias grande consumidoras de energia;  Aviação comercial.

 Óxido nitroso (N2O):

 Produção de nítrico, ácido adípico e glioxilicos

 Perfluorcarbonatos (PFCs):

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Maria Galo Costa 8  Produção de alumínio

Este sistema contêm até agora quatro fases diferentes de ação, com início em 2005. As diretivas do EU ETS foram adotadas em 2003, tendo sido dividido posteriormente pelas seguintes fases:

 Fase I (2005 – 2007)

Consistiu numa fase experimental, de modo a que o sistema fosse de encontro com as metas exigidas no Protocolo de Quioto. Nesta fase foram cobertas as seguintes ações:

 Estabelecimento de um preço para o carbono;  Livre comércio nas licenças de emissão;

 Cobertura das emissões de CO2 para geração de energia e indústrias grandes

consumidoras de energia;

 Quase todas as licenças foram distribuídas gratuitamente;

 A multa para não conformidade foi estabelecida em 40 € por tonelada.

Na ausência de dados específicos nesta fase, os tetos foram baseados em estimativas, levando a que as licenças emitidas excedessem as emissões reais, e com a oferta a exceder significativamente a procura, resultando em 2007 que os preços das licenças na Fase I caíssem para valores nulos. Segundo os Relatórios de Mercados de Carbono do Banco Mundial, em 2005 existiam cerca de 321 milhões de licenças, passando para cerca de 1,1 mil milhões em 2006 e 2,1 mil milhões em 2007.

 Fase II (2008 – 2012)

A fase 2 coincidiu com o primeiro período de implementação do Protocolo de Quioto, o que significa que já existiam metas concretas de redução de emissões de GEE. Nesta fase, já se verificou a existência de dados da fase anterior, pelo que o teto das licenças foi reduzido nesta fase, tendo a crise em 2008 contribuído para uma redução ainda maior do que o esperado. As principais ações nesta fase foram:

 Tetos de licenças mais baixos (atingindo uma redução até 6,5% desde 2005);  A presença de três novos países – Islândia, Liechtenstein e Noruega;  Emissões de óxido nitroso da produção de ácido nítrico foi incluído por

alguns países;

 A proporção de licenças gratuitas caiu 90%;  Vários países implementaram leilões;

 A multa por não cumprimento foi aumentada para 100€ por tonelada;  Foi permitido às empresas comprarem créditos internacionais, totalizando

em cerca de 1,4 biliões de toneladas de CO2;

 Foi criado um registo único ao invés de registos nacionais;  O setor de aviação foi incluído em Janeiro de 2012.

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Maria Galo Costa 9 Nesta fase, os EU ETS continuaram a ser o principal impulsionador do mercado internacional de carbono, contando em 2010 com 84% do valor total do mercado de carbono. Em 2008 contava com cerca de 3,1 mil milhões de licenças, aumentando para 7,9 mil milhões em 2012, o equivalente a cerca de 56 mil milhões de euros [15].

 Fase III (2013 – 2020)

Neste momento os EU ETS encontram-se na Fase III, tendo tido as seguintes alterações relativamente às duas fases anteriores:

 Foi definido um teto único de emissões ao invés de sistemas nacionais;  O leilão é o método principal de definição de licenças, terminando assim as

alocações gratuitas;

 Foram incluídos mais setores e gases;

 Foram retiradas 300 milhões de alocações da Nova Reserva de Operadores para financiar a implementação de novas tecnologias de energias renováveis e CCS (Carbon Capture Storage) através do programa NER 300.

 Fase IV (2021 – 2030)

Durante este ano (2018), foi revista a estrutura legislativa da fase IV de modo a alcançar os objetivos de redução de emissões em 2030, como parte da contribuição da UE ao Acordo de Paris. Esta revisão foca-se nomeadamente em:

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Maria Galo Costa 10  Reforçar os EU ETS aumentando o ritmo das reduções anuais de licenças para 2,2% em 2021 e reforçar a Reserva do Mercado de Estabilidade (mecanismo estabelecido pela EU em 2015 para reduzir o excesso de licenças de emissões no mercado de carbono);

 Continuação da alocação gratuita de licenças como forma de aumentar a competitividade dos setores industriais, estabelecendo ao mesmo tempo regras que determinam esta alocação e reflitam o avanço tecnológico;  Inovar o setor industrial e o da energia, indo ao encontro da transição para o

baixo carbono através de vários mecanismos de financiamento de baixo carbono [16].

2.2.2 O Protocolo de Quioto

O Protocolo de Quioto trata-se do primeiro acordo internacional ligado à Convenção do Quadro das Nações Unidas das Mudanças Climáticas, que tem como objetivo principal definir metas internacionais comuns de redução de emissões de GEE. Foi adotado em Quioto, no Japão, a 11 de Dezembro de 1997, tendo arrancado a 16 de Fevereiro de 2005 [17].

O Protocolo contempla os países no Anexo I, o que equivale a países desenvolvidos e em desenvolvimento económico, pois existe um reconhecimento que a maior parte das emissões de GEE dá-se nomeadamente nestas áreas, resultado de mais de 150 anos de atividade industrial. As metas gerais para países desenvolvidos ditam uma redução de emissões de GEE em cerca de 5% abaixo dos níveis de 1990. As metas assinaladas individualmente para os países varia entre 7% de redução de GEE para os EUA (se bem que o Protocolo encontra-se bastante limitado pela não-ratificação dos EUA) e 8% para a UE, sendo distribuível para os seus vários estados membros. No entanto, nem todos os países estão abrangidos para esta redução, pelo que existem casos em que são permitidos aumentar as suas emissões, como por exemplo a Islândia (pode ir até 10% de aumento de emissões) ou Portugal (permitido um aumento até 27% das emissões).

O Protocolo de Quioto permite alguma flexibilidade nos métodos implementados pelos países assinantes quanto à redução de emissões de GEE. Os principais são:

 Aumento do número de sumidouros de carbono como forma de compensação de emissões. É permitido aos países a criação de sumidouros de carbono fora do seu próprio território;

 Troca de licenças de emissões entre países, permitindo assim reduzir emissões onde é mais económico fazê-lo;

 Mecanismo de desenvolvimento limpo, promovendo desta forma investimento de baixo carbono por países industrializados em países em desenvolvimento, sendo posteriormente auxiliados ao atingirem um desenvolvimento sustentável;

 Implementação conjunta, permitindo desta forma aos países desenvolvidos o patrocínio de pesquisa estrangeira de redução de emissões de GEE em países de transição económica. Por outro lado, os países que recebem auxílio económico providenciam ao investidor créditos de carbono, podendo ser utilizados para ir de encontro às suas reduções impostas pelo Protocolo de Quioto [18] [19].

(22)

Maria Galo Costa 11

2.2.3. Conferência de Copenhaga

A Conferência das Mudanças Climáticas das Nações Unidas de Copenhaga teve lugar em Dezembro de 2009, marcando mais uma reunião de negociações internacionais sobre as alterações climáticas entre os vários estados pertencentes à ONU. A Conferência teve uma grande adesão por parte da comunicação social e do público, contando com a presença de cerca de 40 000 pessoas, incluindo representantes governamentais, ONG, entre outros.

A expetativa sobre esta Cimeira foi muito elevada na época, com a esperança de que fosse fechado um acordo ambicioso e justo, levando a um compromisso sério no combate às alterações climáticas. No entanto, esta Conferência foi muito controversa, nomeadamente devido à falta de transparência com que ocorreram as negociações durante este encontro, levando a que os resultados tenham ficado muito aquém das expetativas. Desde logo não foi possível adotar um acordo jurídico internacional para o período pós-2012.

Mesmo assim, esta Conferência representou um ponto de viragem na diplomacia internacional de clima e ambiente, levando mesmo à criação do Acordo de Copenhaga. Este Acordo providenciou emissões específicas para todas as grandes economias – incluindo pela primeira vez a China – no entanto, não existe um caminho claro traçado com compromissos obrigatórios. Incluí ainda pela primeira vez compromissos convergentes para um número significativo de países que representam mais de 80% das emissões globais de GEE [20] [21].

Os pontos-chave principais do Acordo de Copenhaga são:

 Objetivos de limitação do aumento da temperatura global em 2ºC;

 Processo para os países incluídos no Acordo divulgarem as suas medidas de mitigação específicas em Janeiro de 2010;

 Um compromisso dos países desenvolvidos para novos recursos adicionais em 2010-2012 no valor de 30 milhões de dólares de ajuda aos países em desenvolvimento na redução de emissões e preservação de florestas;

 Objetivos de 100 mil milhões de dólares em financiamento público e privado por volta de 2020 de modo a alocar as necessidades dos países;

 Estabelecimento do Fundo Verde Climático de Copenhaga, como forma de examinar o estabelecimento de objetivos financeiros para 2020 [22].

2.2.4. Acordo de Paris

Seguido do Acordo de Copenhaga, realizou-se em Dezembro de 2015 a Cimeira de Paris com o objetivo principal de alcançar a descarbonização da economia mundial e limitar o aumento da temperatura global em 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais (ao invés dos 2ºC estabelecidos na Conferência de Copenhaga), reduzindo assim os impactos das alterações climáticas.

O acordo entrou em vigor 30 dias depois da data estabelecida, com a representação de 55 países, o que equivale a pelo menos 55% das emissões de GEE globais. Em Outubro de 2016, a UE e os

(23)

Maria Galo Costa 12 seus estados membros ratificaram o Acordo, o que permitiu deste modo alcançar o limiar estabelecido para a entrada em vigor [23].

Os principais pontos estabelecidos pelo Acordo de Paris são:

 Planos de ação nacionais apresentados pelos países antes e após a Conferência que visassem a mitigação das alterações climáticas;

 Acordo entre os Governos de comunicar num período de cinco em cinco anos os seus contributos no estabelecimento de metas mais ambiciosas;

 Apresentação de relatórios a outros Governos e ao público geral relativamente ao seu desempenho na execução das metas;

 Os países desenvolvidos continuarão a prestar apoio financeiro no combate das alterações climáticas, nomeadamente aos países em desenvolvimento na redução das emissões de GEE;

 Reforçar a limitação do aumento da temperatura média global ao envidar esforços para limitar em 1,5 ºC ao invés dos 2ºC estabelecidos previamente [24].

(24)

Maria Galo Costa 13

3. A Política Energética da UE

A política energética é um dos assuntos políticos mais relevantes da nossa sociedade, dado que dependemos fortemente da energia para satisfazer todas as necessidades. A energia é um dos pilares da política da UE e um dos tópicos mais complexos, pelo que a colaboração de todos os estados membros é fulcral para que efetivamente se possa atingir um equilíbrio na transição energética que se tem verificado nos últimos anos.

No passado, as políticas energéticas eram idealizadas a nível nacional, mantendo-se este panorama até hoje em alguns países. Muitas das áreas de desacordo focam-se nomeadamente no

mix energético dos países e o financiamento do futuro energético. Porém, tem havido cada vez

mais uma sensibilização por parte dos cidadãos e dos decisores políticos da UE sobre os desafios da política energética e da necessidade de elevar muitos deles a nível da UE e não num panorama nacional.

Em 1951, o Tratado que estabeleceu a Comunidade Europeia de Carvão e do Aço foi assinado, marcando assim o início da integração de uma união europeia no setor energético. O objetivo do acordo passava pelo controlo coletivo de duas comodidades essenciais para as guerras e reconstrução, tal como a criação de uma política comum e o aumento da cooperação. Seis anos mais tarde foi ainda estabelecida a Comunidade Europeia da Energia Atómica (EURATOM), marcando um importante passo na cooperação energética europeia. A convergência das políticas energéticas na Europa deveriam visar uma Comunidade Europeia mais competitiva e aumentar a segurança de abastecimento. Esta cooperação aumentou significativamente após a crise do petróleo em 1973/1974, com a implementação de um Conselho de Resolução que visasse a criação de uma estratégia energética para a Comunidade Europeia adotando assim diretrizes no que toca ao abastecimento de energia por fontes como a energia nuclear ou hidrocarbonetos e a utilização mais racional de energia.

Apenas anos mais tarde, as alterações climáticas foram integradas nas preocupações dos decisores políticos da CE, através da inclusão da proteção ambiental no Ato Único Europeu em 1987. No entanto, o foco dado ainda é nomeadamente económico, com a ambição da criação de um Mercado Interno de Energia. Os anos 90 não marcaram ainda grandes progressos na integração das alterações climáticas no foco da política energética, sendo que nem o Tratado de Amesterdão (1999) nem o Tratado de Nice (2003) trouxeram grandes avanços para uma política comum de energia. O regulamento mais relevante veio nas Diretivas Renováveis (2001 e 2003) e a introdução de um sistema de trocas de emissões em 2005 com base numa regulação ambiental. Com o Protocolo de Quioto em 1997, as mudanças climáticas e os problemas energéticos convergiram cada vez mais na agenda mundial, sendo estabelecidos objetivos e metas ambiciosas. Em 2007 foi discutido o primeiro Plano de Ação Energético, sendo criado a estratégia An Energy

Policy For Europe, marcando assim o princípio da união energética europeia. Foram

estabelecidos neste documento objetivos concretos, sendo chamadas as metas 20/20/20 que consistem em:

 Redução dos GEE da UE pelo menos 20% abaixo dos níveis de 1990;  20% do consumo energético da UE proveniente de recursos renováveis;

(25)

Maria Galo Costa 14  20% de redução em energia primária, a ser alcançado através do aumento da eficiência

energética.

O Tratado de Lisboa complementou um plano de ação que incluísse um título relativo à energia, sendo que o Artigo 12 refere a um “funcionamento de um mercado interno” de energia. Outros pontos relevantes referem também a segurança energética na UE (eram previamente preservados pelos estados membros).

No entanto, divergências nas rotas de transporte do petróleo, mix energético ou da estrutura do mercado de energia marcaram as diferenças entre os vários estados membros na cooperação energética. Nas décadas seguintes, foram feitos vários esforços no sentido de tornar a política energética uma base formal através de acordos e diretrizes que visassem convergir para uma união energética. Até ao início desta década, os combustíveis fósseis representavam ainda grande parte do mix energético da UE, sendo que o petróleo ainda ocupa grande parte (37%), seguido do gás (24%), carvão (16%) e as energias renováveis que ainda ocupam cerca de 9% apenas.

A política atual energética da UE visa aumentar cada vez mais a quota de energia proveniente por energias renováveis, promover a eficiência energética e tecnologias de CCS, através de papéis estratégicos lançados pela Comissão Europeia [25].

3.1. An Energy Policy For Europe

Este pacote de medidas foi implementado em 2007, após uma revisão estratégica da situação energética europeia, tendo como objetivo comprometer os estados membros para uma economia de baixo consumo, baseado numa energia mais segura, competitiva e sustentável. A política pretende assim focar-se nomeadamente nos seguintes setores:

 Mercado competitivo

Tem como objetivo principal haver uma separação entre a gestão das redes de gás e eletricidade e as atividades de produção ou venda por parte de empresas que controlam ambas as atividades. Isto acontece pois existe um risco elevado de abuso por parte das empresas, nomeadamente na

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Maria Galo Costa 15 sua falta de interesse em aumentar a capacidade da rede, levando a um aumento de competição no mercado e uma queda acentuada nos preços.

O documento prevê assim uma possível separação de poderes através de um Sistema de Operador Independente, responsável pela manutenção e operação das redes, que permanecem como propriedade das empresas verticalmente integradas, ou através da separação total da propriedade.

 Mercado interconectado

Este fator está dependente do fluxo de energia entre fronteiras, sendo que se pode tornar um obstáculo devido à disparidade existente entre standards técnicos e diferenças na capacidade de rede dos vários países da UE. Para convergir do mercado energético, é necessário que os reguladores de energia definam aspetos técnicos e regulatórios e standards de segurança. Deste modo, o Plano Prioritário de Interconexão enaltece a importância de apoio político e financeiro para as infraestruturas identificadas como essenciais e de nomear especialistas que identificam os projetos prioritários.

 Serviço de energia pública

A Europa tem como compromisso o combate à escassez energética através do desenvolvimento da Carta Europeia de Energia, com o objetivo que encorajar a implementação de estratégias de auxílio para os cidadãos mais vulneráveis aos aumentos dos preços de energia e também ao desenvolvimento da informação que os consumidores recebem de fornecedores diferentes.

 Segurança de abastecimento

Com este ponto, pretende-se minimizar a dependência das importações, tais como falhas de abastecimento ou possíveis crises energéticas. Isto ocorre nomeadamente nos países dependentes da importação de gás, nomeadamente proveniente da Rússia. Pretende-se assim reforçar o armazenamento de petróleo tal como investigar formas de aumentar a segurança de abastecimento do gás.

 Redução das emissões de GEE

A UE compromete-se em reduzir pelo menos 20% das emissões de GEE até 2020, pelo que este ponto pretende concluir um acordo sólido internacional que obrigue os países a reduzirem as suas emissões até 30% por 2020. Assim, a UE pode traçar novos objetivos de redução das emissões em 30% comparativamente a valores de 1990.

(27)

Maria Galo Costa 16  Eficiência Energética

Visto que a UE tem como objetivo reduzir o consumo de energia em 20% até 2020, são necessários esforços concretos neste campo, nomeadamente no setor da mobilidade, o desenvolvimento de requerimentos mínimos de eficiência para aplicações de energia, ações de sensibilização entre os consumidores, aumentar a eficiência de produção e a performance nos edifícios. A UE pretende também atingir metas concretas na eficiência energética através de um acordo internacional.

 Energias Renováveis

As energias renováveis são vistas pela UE como um meio de mitigação das alterações climáticas, tal como auxiliam o aprovisionamento de energia e de emprego na Europa. Porém, neste pacote as energias renováveis ainda são referidas como um meio dispendioso no mix energético da Europa, pelo que o Roteiro de Energias Renováveis, uma estratégia lançada pela CE para as energias renováveis na UE, traça objetivos que visam aumentar a sua integração no mix energético na Europa até 20% em 2020 e 10% em biocombustíveis.

Em 2007 muitos estados membros não cumpriam a meta de contribuição de biocombustíveis para o consumo total de combustíveis, estabelecido em 5,75% pela Diretiva 2003/30/EC [27], tendo sido cumprido até à época apenas os objetivos intermédios por dois estados membros. A CE defende que o setor de aquecimento, que contribui com cerca de 50% do consumo total de energia, encontra-se estagnado na procura de outras opções de produção de energias alternativas, pelo que em 2005 estas representavam menos de 10% da energia utilizada para aquecimento ou arrefecimento. Nesta fase, a Europa não tinha ainda adotado nenhuma diretiva ou legislação que promovesse a integração de energias renováveis no setor de aquecimento, contando com a biomassa como principal fonte renovável na época. Foram assim propostas emendas no Roteiro à Diretiva 98/70/EC [28] que remete à qualidade dos combustíveis, de modo a incluir a contribuição feita pelos biocombustíveis.

Relativamente aos objetivos traçados de 20% de energias renováveis, foram definidas metas ao nível europeu que consigam garantir políticas nacionais estáveis. Como tal, este mapa fornece assim para cada estado membro metas específicas e planos de ação que vão ao encontro com o seu potencial. Deste modo,devem foram incluídos três pilares essenciais: eletricidade (integração de energias renováveis e produção de eletricidade através de combustíveis fósseis através da implementação de tecnologia CCS e sistemas de armazenamento), biocombustíveis e setor de aquecimento e arrefecimento [29].

 Desenvolvimento de tecnologias de energia

A UE pretende consolidar a sua posição como líder global do setor das energias renováveis com este pacote, tal como tomar uma posição de liderança no mercado de tecnologias de baixo carbono. Assume assim a necessidade de desenvolver tecnologias de eficiência energética, pois mesmo que a UE diversifique o seu mix energético, continua dependente do petróleo e do carvão, pelo que o desenvolvimento de tecnologias CCS torna-se fulcral. Automaticamente, a emergência

(28)

Maria Galo Costa 17 destas tecnologias vão ao encontro da estratégia da Comunidade Europeia em promover a empregabilidade neste setor. Deste modo, é proposto neste pacote um esboço no Plano Estratégico Europeu de Energia que permita cobrir todo o processo de inovação, apoiando assim o Sétimo Programa-Quadro de Investigação e Desenvolvimento [30] que prevê um aumento de 50% de gastos em programas de pesquisa no setor energético.

 Considerações no futuro da energia nuclear

A energia nuclear é considerada pela UE em 2007 como uma das fontes de energia de baixo carbono mais estáveis a nível económico e de abastecimento de energia. Mesmo sendo uma decisão que cabe aos estados membros, o programa nuclear realça a necessidade de ter uma abordagem que vá de encontro à segurança e não proliferação, tal como ao desmantelamento de instalações de gestão de lixo nuclear.

 Implementação de uma política energética comum

A UE apenas consegue atingir os objetivos de uma energia segura, competitiva e sustentável através da cooperação entre os vários estados membros, tal como os seus consumidores (EUA, India, Brasil ou China), países produtores (Rússia, Noruega e OPEC) e transportadores (como a Ucrânia), de modo a reforçar a estabilidade económica e a segurança geopolítica. A UE deve deste modo, desenvolver os acordos internacionais de energia, nomeadamente reforçar a Carta Europeia de Energia [31] – que estabelece uma estrutura de cooperação internacional entre os países da Europa e outros países industriais com o objetivo de desenvolver o potencial dos países centrais e de leste e assegurar o abastecimento de energia da UE – tomando a iniciativa de estabelecer um acordo na eficiência energética e participando ativamente no esquema pós Protocolo de Quioto. O pacote refere ainda a importância de reforçar parcerias com estes países, nomeadamente com os países vizinhos, propondo ainda estender uma parceria com África. A UE pretende ainda com este ponto auxiliar os países em desenvolvimento na descentralização dos serviços de energia

low-cost e sustentáveis [29].

3.2. 2020 climate & energy package

O pacote de medidas traçadas para 2020, trata-se de uma legislação que pretende assegurar o cumprimento dos objetivos da UE traçados previamente. O pacote estabelece três pontos-chave essenciais:

1. 20% de redução de emissões de GEE (a partir dos níveis de 1990); 2. 20% de energia proveniente de renováveis;

3. 20% de aumento da eficiência energética.

Estes objetivos foram estabelecidos pela UE em 2007 e colocados em legislação em 2009, sendo traçados na estratégia Europa 2020 para um crescimento sustentável e inclusivo. Como tal, estas

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Maria Galo Costa 18 metas estão divididas nas várias áreas de intervenção da UE, sendo elas estabelecidas da seguinte forma:

 Sistema ETS

Sendo um dos setores fulcrais da descarbonização da UE, cobrindo cerca de 45% das emissões de GEE da UE, os objetivos traçados para 2020 pretendem que haja uma redução de 21% destes valores a níveis de 2005.

 Redução de emissões nacionais

Este ponto cobre os setores que não estão previstos dentro do sistema ETS, representando assim 55% das emissões totais de GEE, incluindo os edifícios, agricultura, lixo e mobilidade (excluindo a aviação). Deste modo foram estabelecidas metas anuais para os estados membros até 2020 no que toca a descarbonização destes setores, estando estabelecido dentro da Legislação de Esforço Compartilhado [32], contemplando metas anuais de GEE para os estados membros nos períodos de 2013-2020 e 2021-2030.

Os objetivos diferem de acordo com o poder económico nacional, tendo para os países mais ricos um corte de 20% e para os países mais pobres um crescimento até 20% de emissões (se bem que mesmo assim está projetado haver esforços no sentido de limitar as emissões). Os progressos são posteriormente monitorizados pela CE anualmente, sendo que todos os países devem de enviar um relatório com as suas emissões.

 Metas nacionais para as energias renováveis

Foram estabelecidas também metas nacionais para os estados membros de modo a aumentarem a quota de energias renováveis no consumo de energia até 2020. As metas variam consoante o ponto de arranque dos diferentes países na integração das energias renováveis no seu plano energético, tal como na forma como são capazes de aumentar a sua capacidade. Deste modo, no nível europeu foram estabelecidas no geral 20% de metas para 2020 e 10% de renováveis integradas no setor da mobilidade.

 Inovação e financiamento

A UE apoia o desenvolvimento de tecnologias de baixo carbono através da criação de fundos que visem aumentar a inovação deste setor. Existem pacotes de financiamento como o NER300, um fundo com dimensões consideráveis que visa financiar programas para projetos inovadores de tecnologias de baixo carbono, ou o Horizonte 2020, um Programa-Quadro Comunitário de Investigação e Inovação que conta com um orçamento superior a 77 mil milhões de euros entre 2014 e 2020, oferecendo apoio à investigação através de um apoio financeiro com base em concursos de competição. [33] [34]

(30)

Maria Galo Costa 19  Aumento da Eficiência Energética

Para promover a eficiência energética, a UE lançou dois documentos fulcrais:

1. Plano de eficiência energética

Este plano lançado em 2011, vai ao encontro dos objetivos de aumento de 20% na eficiência energética. Como tal, a UE adotou as seguintes medidas:

 Redução anual de 1,5% em vendas de energia nacionais;

 Renovação de edifícios possuídos ou ocupados pelos governos em 3% de modo a aumentar a eficiência energética destes;

 Certificados de eficiência energética obrigatórios acompanhados pela venda e rentabilidade dos edifícios;

 Standards mínimos de eficiência energética para uma variedade de produtos como embalagens, aplicações de construção, iluminação ou televisões;

 Preparação de planos de ação nacionais de eficiência energética a cada três anos pelos países da UE;

 O lançamento de aproximadamente 200 milhões de medidores inteligentes de eletricidade e 45 milhões para o gás até o ano de 2020;

 Auditorias a serem conduzidas em grandes empresas a cada quatro anos;

 Proteção dos direitos dos consumidores para receberem acesso gratuito ao seu historial de consumos energéticos;

 Publicação por parte da CE de diretrizes de boas práticas na eficiência energética [35].

2. Diretiva de Eficiência Energética

Estabelecida em 2012, a diretiva conta com uma série de medidas que auxiliam a UE a cumprir as suas metas em 20% até 2020, auxiliando os países a atingirem uma utilização mais eficiente de energia. Outras medidas específicas são:

 Distribuidores de energia têm de atingir poupanças de energia em 1,5% por ano através da implementação de medidas de eficiência energética;

 Os países da UE podem optar pelo mesmo nível de poupanças através de outros meios, como por exemplo o melhoramento dos sistemas de aquecimento, instalação de janelas duplas ou telhados insuladores;

 Os consumidores de energia devem ser auxiliados para gerirem melhor o seu consumo, sendo que tal inclui melhor acesso gratuito aos dados de consumo;

 Incentivos nacionais para pequenas e médias empresas submeterem-se a auditorias;  Monitorizar os níveis de eficiências em nova geração de energia [36].

(31)

Maria Galo Costa 20 Estado membro da União

Europeia

Nível absoluto de consumo de energia em 2020 (Mtoe) como notificado pelos estados

membros em 2013, no NEEAP 2014, relatórios anuais ou em notificações em separado para a CE em 2015 e 2016 Consumo de energia final Consumo final de energia Austria 31,5 25,1 Bélgica 43,7 32,5 Bulgaria 16,9 8,6 Croácia 11,15 7 Chipre 2,2 1,8 República Checa 39,6 25,3 Dinamarca 17,4 14,4 Estónia 6,5 2,8 Finlândia 35,9 26,7 França 219,9 131,4 Alemanha 276,6 194,3 Grécia 24,7 18,4 Hungria 24,1 14,4 Irlanda 13,9 11,7 Itália 158 124 Letónia 5,4 4,5 Lituânia 6,5 4,3 Luxemburgo 4,5 4,2 Malta 0,7 0,5 Holanda 60,7 52,2 Polónia 96,4 71,6 Portugal 22,5 17,4 Roménia 43 30,3 Eslováquia 16,4 9 Eslovénia 7,3 5,1 Espanha 119,8 80,1 Suécia 43,4 30,3 Reino Unido 177,6 129,2

Somatório das metas indicativas

da UE28 1526 1077

Metas 2020 UE28 1483 1086

(32)

Maria Galo Costa 21

3.3 Clean Energy For All Europeans

Este pacote foi criado em 2016 com o objetivo de integrar a ambição da CE de criar uma União Energética, tal como preservar a competitividade da UE. No sentido de serem cumpridas as metas estabelecidas em Paris em 2015, foram mobilizados adicionalmente 177 mil milhões de euros de investimento público e privado anualmente a partir de 2021, o que permite desta forma gerar até 1% de aumento do PIB na próxima década e criar até 900 000 novos empregos.

A criação deste pacote permite ainda assim também diminuir em 2030 cerca de 43% das emissões de GEE, com as energias renováveis a representar cerca de metade do mix energético da UE. O pacote vai de encontro a três objetivos principais:

 Promoção da eficiência energética;

Um dos objetivos do pacote passa por reduzir em 30% o consumo de energia. As regras dos mercados de eletricidade lançadas em 2016 permitiram incentivar uma geração mais eficiente, contribuindo assim para que fossem evitadas perdas de energia do lado da oferta e da procura. Esta meta também é alcançada com uma otimização da eficiência do sistema energético através de uma rede flexível, levando a uma redução de custos para os utilizadores. Com sistemas de monitorização, os consumidores poderão controlar melhor os seus consumos e identificar as principais perdas de energias.

Este pacote também tem um grande foco nos edifícios, visto que representam 40% do consumo energético da UE. Como a Diretiva de Performance de Edifícios não cobre os edifícios já existentes, tal pretende colmatar esta falha pois dois terços dos edifícios da UE foram construídos antes da existência de standards de performance de energia, e a sua taxa de renovação anual ronda apenas 1%. Ao existir uma revisão da Diretiva, isto significa que existe um aumento da competitividade da indústria europeia através da criação de um mercado de renovação de edifícios para pequenas e médias empresas com um valor entre 80 a 120 mil milhões de euros em 2030 [37].

 Alcançar a liderança global das energias renováveis;

Estima-se que em 2030 metade da geração de eletricidade provenha de energias renováveis, tendo um papel importante na transição para um sistema de energia limpa. Deste modo, a Europa estabeleceu uma meta de pelo menos 27% de energia proveniente de energias renováveis até 2030. Estes objetivos permitiram integrar a energia solar e tecnologias de vento on shore, tal como o acesso a tecnologias mais limpas e baratas. Também contribui significativamente para a empregabilidade, empregando mais de um milhão de pessoas, sendo que o setor eólico perfaz cerca de 320 000 empregos criados. As soluções das energias renováveis, alinhadas ao cumprimento das metas de descarbonização são estimadas valer 6 800 mil milhões de euros no mercado global entre 2014-2035, sendo que o investimento neste setor representa cerca de 85% dos investimentos de geração.

A UE prevê que o pacote irá ser um potenciador para as renováveis através da Diretiva das Energias Renováveis, alinhando com as propostas do novo desenho do Mercado de Eletricidade,

(33)

Maria Galo Costa 22 permitindo assim montar uma estrutura regulatória que oriente o investidor. É expectável assim que as energias renováveis aumentem a quota de mercado, sendo que as novas regras irão permitir que os geradores de eletricidade proveniente de fontes renováveis ganhem juros maiores que as suas receitas do mercado. O pacote prevê também apoio nacional através de princípios que facilitem uma abordagem rentável, orientada para o mercado europeu, tais como apoios entre fronteiras a longo prazo.

O setor do aquecimento e arrefecimento também está incluído neste ponto, pois é maioritariamente alimentado por combustíveis fósseis, correspondendo a 68% da importação do gás europeu, representando metade das necessidades energéticas na Europa. A Diretiva inclui uma gama de opções para os estados membros aumentarem a sua quota de energias renováveis neste setor, cerca de 1% por ano até 2030.

Quanto ao setor da mobilidade, visto que a UE ainda depende largamente dos combustíveis fósseis (94% do abastecimento do petróleo é utilizado na frota automóvel europeia em 2016), este pacote pretende acelerar o desenvolvimento da mobilidade de baixas emissões tal como a integração das energias renováveis na mobilidade, com tecnologias avançadas de biocombustíveis e energia. Tal pretende ser encorajado através de um mandato de mistura nos fornecedores de combustíveis, enquanto os biocombustíveis provenientes de alimentos são previstos reduzirem progressivamente a sua contribuição para as metas da UE. Como tal, foi adotado uma estratégia nos Sistemas Cooperativos de Transporte Inteligente (C-ITS) (uma iniciativa que promove uma mobilidade cooperativa, conectada e automatizada).

Dentro da bioenergia, a CE pretende que a biomassa continue a ser utilizada de forma sustentável, ou seja, que continue a emitir menos GEE que os combustíveis fósseis, não causando desflorestação ou degradação de habitats, sendo convertida eficientemente em energia. Deste modo, as alterações à Diretiva incluem para um período pós-2020:

 Os biocombustíveis devem de emitir menos de 70% de GEE que os combustíveis fósseis;

 Um novo critério relativo à biomassa proveniente da floresta, de modo a evitar a sobre-exploração;

 80% de poupanças de GEE para o aquecimento e produção de energia de biomassa e biogás;

 A eletricidade proveniente da biomassa é utilizada utilizando tecnologia combinada de aquecimento. [38] [39]

 Promover um acordo justo para os consumidores.

Para alcançar esta meta, a CE espera um papel ativo dos cidadãos através da geração de eletricidade para o seu próprio consumo ou venda à rede, permitindo assim controlar os seus consumos e responder aos preços praticados. A CE pretende também acelerar o desenvolvimento de sistemas de monitorização de consumos e assegurar contratos de preço de eletricidade dinâmicos.

Esta proposta pretende ainda auxiliar na criação de emprego, estimando que as metas climáticas e energéticas para 2030 possam fortalecer a economia da UE em 190 mil milhões de euros. A

(34)

Maria Galo Costa 23 transição energética e a descarbonização também irão permitir que a Europa possa desenvolver produtos e serviços competitivos relacionados com soluções de sustentabilidade. Espera-se que haja um aumento da empregabilidade com o processo da transição energética, pois haverá uma maior necessidade com a geração de eletricidade por fontes renováveis, tal como será essencial pessoal altamente qualificado e uma oferta maior de trabalhadores que superem as perdas de emprego na geração convencional de energia.

Este pacote também pretende chegar aos cidadãos com menores possibilidades económicas, visto que na UE aqueles que recebem salários mais baixos têm despesas energéticas próximo dos 9% das suas despesas totais. O pacote pretende assim que os estados membros também contribuam para uma igualdade energética através da redução de custos de energia para os cidadãos mais pobres apoiando investimentos de eficiência energética. Deste modo, os estados membros terão de apresentar relatórios relativos à pobreza energética, permitindo que a Comissão facilite a troca de boas práticas e coordene os esforços de monitorização ao nível da UE através do Observatório Energético da Pobreza [37].

O pacote ainda se encontra a ser negociado dentro da Comissão, pelo que o estado de cada ponto pode ser consultado na figura 3.3 [40].

Imagem

Figura 1.1 - Encontros entre Instituições e Comissários  europeus [10]
Figura 2.1:Funcionamento do Sistema de Troca de Emissões da UE [14]
Figura 2.2: Volumes de Troca de Licenças de emissão da UE (milhões) [15]
Figura 3.1: Emissões de GEE entre 1990-2016 [26]
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Referências

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