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Projectar com o lugar

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA

FACULDADE DE ARQUITECTURA

Projectar com o Lugar – Quinta do Cosme (Sintra): Centro de Medicinas Alternativas e Bem-Estar

Joana Isabel Tomásia Silva (licenciada)

Projecto para a obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura

Orientador Científico: Doutor Amílcar Gil e Pires Co - Orientador Científico: Doutor Paulo Almeida

Júri:

Presidente: Doutora Ana Marta Feliciano

Vogais: Doutor Fernando Pinheiro (arguente principal) Doutor Amílcar Gil e Pires (orientador)

Doutor Paulo Almeida (co - orientador)

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II

Tìtulo: “Projectar com o Lugar” - Quinta do Cosme (Sintra): Centro de Medicinas

Alternativas e Bem-Estar

Nome do Aluno: Joana Isabel Tomásia Silva Orientador Científico: Doutor Amílcar Gil e Pires Co-Orientador Científico: Doutor Paulo Almeida Mestrado: Integrado em Arquitectura

Data: Março 2013

Resumo

O Tema deste trabalho é “Projectar com o Lugar” e tem como objectivo estudar a importância do Património como meio de preservação da memória e o potencial da reabilitação das Ruínas como veículo gerador de valor para a sociedade.

O lugar de intervenção é a Quinta do Cosme (Sintra) que actualmente apresenta apenas algumas ruínas de uma residência renascentista. A propriedade tem vários moradores cujas habitações foram construídas, na maioria, sem consideração pelo pré-existente

Paralelamente à criação de um programa dinamizador para este local, propõe-se uma reflexão sobre o Património, analisando a importância que foi adquirindo ao longo do tempo e as variadas posições em relação à sua conservação, com casos de estudo que abordam os diferentes métodos de intervenção e preservação gerando no Património um potencial transformador.

Palavras-Chave: Património; Quinta do Cosme; Quintas de Recreio; Reabilitação, Medicinas Alternativas.

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III Title: "Designing with the Place" - Quinta do Cosme (Sintra): Center of Alternative Medicines and Health & Wellbeing

Student´s Name: Joana Isabel Tomásia Silva

Scientific Advisor: Professor Amílcar de Gil e Pires

Scientific Co-advisor: Professor Paulo Almeida

Master's Degree in: Integrated Architecture

Date: March 2013

Abstract

The theme of this work is "Designing with the Place" and aims to study the importance of heritage as a means of preserving the memory and the potential rehabilitation of Ruins vehicle as generating value for society.

The place is the intervention of the Quinta do Cosme (Sintra) currently has only some ruins of a Renaissance residence. The property has several residents in that most built their homes indifferent to these pre-existing.

Alongside the creation of a program facilitator for this site, there is a reflection on the issue of Heritage, analyzing the importance that has been historically and acquiring the various positions in relation to their conservation, with case studies that cover different methods of intervention and preservation Heritage in generating a potential transformer.

Key Words: Heritage; Quinta do Cosme; Farm Recreational; Rehabilitation; Alternative Medicines.

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IV Agradecimentos

Quero agradecer ao Professor Amílcar Pires pelo acompanhamento e por todo o conhecimento transmitido e ao Professor Paulo Almeida por todos os esclarecimentos e apoio prestados.

Agradeço especialmente à Dona Leonor, a primeira pessoa que acreditou em mim, à minha mãe, meu exemplo de persistência, às minhas irmãs, Sandra, Dirce e ao mais recente Tomásia, meu sobrinho Rafael, que só por existir dá-me luz aos meus dias. Um obrigado à Dra. Ana Paula Nascimento pelas perguntas sempre pertinentes, mas essencialmente por me ouvir.

Quero também agradecer ao Professor João Nuno por ter estado presente nos momentos fundamentais do meu percurso.

Por fim agradeço a todas as minhas colegas e amigas que me acompanharam durante esta jornada: Diana Ferreira, Susana Afonso, Beatriz Martins e mais recentemente, Ana Gil.

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V Índice

I– Resumo ………. I II- Abstract ……….II III– Agradecimentos ……….III 1- Introdução ………. 1 - 4 1.1- Objectivos ………4 - 6 1.2- Metodologia ………6 - 7 1.3 - Estado da arte ………...7 - 9 1.3.1- Património e o Lugar ………. 9 - 10

2.[Investigação

]

- Investigação para a Realização do Projecto (a Ruína E Casos de estudo-obras)

2.1- “Projectar com o Lugar” ……….10 - 13 2.1.1- Conceito de Lugar ……….10 2.2- A Quinta de Recreio séc. XV/XVI ……….13 - 15 2.3- Projectar como meio de Reabilitar a Ruína ………15 - 17 2.3.1– Casos de Estudo ……… 17 - 21 3.[O Lugar] –A Quinta do Cosme – Lugar a Reabilitar

3.1- Análise Histórica ……….22 - 23 3.2- Análise Física e Morfológica ……….23 - 26 3.3- Análise Espacial e Fenomenológica ………26 - 27 3.4- Reconstituição Formal e Espacial da Quinta de Recreio ………...28 - 32

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VI 4. [OProjecto] Proposta de Reabilitação e Intervenção

4.1- A Ideia Estruturante do Projecto ………32 - 34 4.2- O Programa Funcional e Espacial da Proposta ……….34 - 37 4.3- O Projecto – Descrição e Caracterização do Processo Conceptual…….. 37 - 41 4.4- O Habitar ………41 - 42 5- Conclusões………..42 - 44 6- Fontes e Bibliografia……….45 - 46 6.1- Lista de imagens ………..47 - 48 7- Anexo I………...49 - 53 Anexo II………..54 - 78 Anexo III………....79 Anexo IV……….80 - 86

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1-Introdução

Como trabalho final de Mestrado, escolhi Reabilitar um Lugar que outrora foi uma Quinta de Recreio. Foram vários os factores que me induziram a esta escolha. A Quinta do Cosme tem um contexto actual complexo, onde apenas restam algumas ruínas que guardam o testemunho da memória deste lugar.

Cada ruína torna-se única pelo estado de preservação a que chegou aos nossos dias, não evidenciando homogeneidade na escala que cada uma adquire no terreno e no diálogo entre si. Apesar destas pré-existências, em tempos terem feito parte de um todo, hoje encerram espacialidades diferentes; umas que se afirmam pela sua escala, outras que funcionam quase como negativo, umas com carácter cénico e outras anuladas pela densa florestação. A Quinta do Cosme encontra-se fragmentada por diversas habitações, quase todas edificadas com indiferença pelo património que subsistia há séculos. A nível de usos, as habitações da quinta funcionam maioritariamente como primeira residência.

Todo este contexto pareceu-me aliciante como objecto de reabilitação que devolvesse identidade à Quinta do Cosme, partindo do entendimento do lugar como meio de apoio a uma proposta de programa visando a sua sustentabilidade e transformando-a numa mais valia para a sociedade.

A ideia de transformar a antiga Quinta de Recreio num centro de medicinas alternativas surgiu pouco depois de visitar a Quinta e com o contacto de alguns dos seus residentes. Os proprietários tornaram-se numa mais-valia para o meu projecto. Numa das parcelas da quinta vive uma médica de “medicina alternativa chinesa” (Dra. Kitty) com a particularidade de ter na sua propriedade algumas ruínas e de ter feito um esforço notório de preservação das mesmas, resultando apenas da sua sensibilidade e dedicação pessoal.

O testemunho da Dra Kitty sobre a sua profissão do tratamento da mente e do corpo contribui bastante para a escolha do programa para a reabilitação da Quinta do Cosme

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2 Existe a crença, entre os moradores de que o cubelo (“torreão de planta circular”1

) que se encontro junto ao Portal, na fachada Este seria uma antiga prisão destinada a escravos. A forma deste espaço remete para outro tipo de utilidade, mas este mito também me ajudou me a criar uma ideia para uma futura Quinta, com espaços dedicados à harmonia, sossego e descanso. Foi assim que nasceu o programa para um Centro de Medicinas Alternativas. O principal propósito não é juntar uma amálgama de terapias convencionadas de alternativas e circunscrevê-las num espaço. A própria designação de Medicina Alternativa pode ser muito vasta. O critério de filtragem está ligado ao que o próprio no mercado oferece, o que implica desde já aceitação de um público-alvo e disseminação das práticas. Apesar de serem terapias e filosofias oriundas de vários pontos do globo, as que fazem parte da minha proposta, são complementares e todas, por meios diferentes, se propõem a tratar do corpo e da mente.

Para concluir, há uma conciliação plena entre o espaço físico e o programa. Sintra é um local privilegiado devido às suas caracteristicas, com um exuberante património natural, contribuindo para isso particularidades próprias como a sua orografia originando um “micro-clima” sendo a serra de Sintra uma consequência dessa particularidade, por outro lado, o facto de ter sido povoada desde muito cedo e de forma continuada faz com que ainda tenha memórias e testemunhos de várias períodos, transformando-a num local muito rico, a nível patrimonial (natural e histórico) geográfico, climático botânico entre outros.

A Quinta do Cosme situa-se numa das freguesias de Sintra - São Martinho, com características rurais, uma localidade com construção pouco densa, onde predominam quintas e algumas ainda ligadas à agricultura a própria quinta, para além da área de habitação já mencionada, tem áreas de cultivo beneficiando da ribeira que corre a Sul da propriedade e a Oeste de uma enorme área de vegetação.

Tendo o meu programa o propósito de também funcionar como retiro, todas estas características contribuíram para a validação do Centro de Medicinas Alternativas e Bem Estar.

A maior dificuldade deste trabalho prendeu-se com a falta de informação, tanto histórica - quantos edifícios existiam quando foi edificado? Quais eram as suas

1

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3 funções? Qual era a sua disposição e traça original (a nível de alçados e plantas)? Quantos restauros houve? O que foi demolido? De que período histórico pertencem as ruínas que chegaram aos nossos dias?

Actualmente - quantas pessoas moram na Quinta do Cosme? Quantas habitações funcionam como segunda moradia? quais são os espaços que estão alugados, quantas casas estão devolutos? Quais são as condições actuais das habitações? Qual é o grau de degradação actual das ruínas? Assim como há necessidade de um levantamento das plantas e alçados de agora que vão sendo alteradas pelos proprietários.

Todo este vazio de informação tornou a interpretação e percepção do espaço mais morosa, a nível de entidades desde a Câmara de Sintra (que só disponibilizou uma planta de implantação muito primária) à junta de freguesia, a bibliotecas, simplesmente não há nada. Este espaço que decidi trabalhar, é um Imóvel classificado como “IM - Interesse Municipal” e o máximo de informação que os funcionários das já mencionadas entidades davam, era a sugestão que para melhor esclarecimento deveria falar com um dos moradores que já tem 80 anos e que saberia tudo sobre a Quinta em questão.

Mais um motivo para a criação de laços com os moradores, eles são detentores da história, melhor, de uma história que foi passada de geração em geração, que já é impossível discernir e de verificar o que é facto o que é ficção, mas eram estes os dados que tinha e foi com eles que trabalhei, tentando, através das versões que me contavam, confrontar com os vestígios e redesenhando espaços, validar histórias com as possíveis funções das ruínas, tudo isto auxiliada pela tese de doutoramento do meu orientador e outras obras, que tem pistas fundamentais para perceber o Tipo arquitectónico. Apesar de só restarem ruínas, o edificado teria de eventualmente obedecer a determinadas regras típicas da época do renascimento. O acompanhamento prestado pelo meu orientador foi ajudando a criar bases para a abordagem de um caso tão peculiar, em que historicamente quase não existe, para lá das Ruínas.

A sensação de intervir às escuras por falta de pistas históricas foi-se dissipando, sem dúvida que a história tem um peso importante, mas, mais do que o ou os edifícios foram, há o hoje, o que é , como está e do que precisa.

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“Podem aqui entrar em linha de consideração argumentos como os da necessidade de objectivar o que é a memória de um monumento (a memória que dele temos existe somente a partir do momento em que o vemos e experimentamos, e daí a sua potencial transformabilidade, uma vez que o restauro é sempre feito “no nosso tempo” e é sempre, por muito minimalista que seja, um intervenção marcada pelo contexto e pela conjuntura).”2

O meu trabalho está dividido em cinco partes, primeiro Introdução, uma segunda parte dedicada à Investigação teórica para a realização de projecto, a terceira parte debruça-se sobre o Lugar, a quarta apresenta-se uma a exposição do projecto e, por fim, a quinta parte direcionada para conclusões.

1.1 - Objectivos

Os principais objectivos do meu trabalho prendem-se com o entendimento e reabilitação da Quinta do Cosme que obriga a redesenhá-la por forma a tornar o seu espaço um lugar arquitectónico e sustentável.

Um problema que se repete com alguma frequência na reabilitação de imóveis é a escolha imprópria do programa, isto é, um programa que não gera valor, que não seja independente e capaz de sustentar o edifício. Não chega restaurar o uso do que foi determinado edifício/ruina se actualmente esse mesmo uso não responde às necessidades da população

Partindo destas premissas, a meta foi, para além de interpretar o lugar e retribuir -lhe uma identidade: propor um programa que adicionasse valor à comunidade. Fazendo, assim, um apelo ao turismo, trazendo visitantes e ajudando a criar dinâmicas tanto sociais como comerciais e em simultâneo garantindo que esse mesmo programa fosse sustentável, gerador de trabalho, e que primasse pela inovação e diferenciação, sem nunca colocar em causa aspectos que caracterizam a localidade como: a manutenção da cércea, a preservação dos limites, a densidade construtiva, os materiais, a presença arbórea, entre outros.

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5 O próprio programa acabaria por dar vida e identidade à quinta que se encontra descaracterizada devido à má construção e ao parcelamento da propriedade.

Houve um esforço para que a temática do programa fosse pertinente; criar um lugar, em Sintra, onde se pudesse fugir à rotina, usufruindo de um complexo dedicado a várias terapias que pretendem tratar da mente e do corpo. Neste complexo também há a possibilidade de utilização parcelar, ou seja, qualquer pessoa poderia usufruir de uma parte, como deslocar-se à Quinta do Cosme para ir ao Restaurante, ir a uma consulta de nutrição, utilizar só o ginásio por ser dos poucos da zona ou somente ir passear pela mata ou ir conhecer o jardim japonês. Esta estratégia visa ampliar o leque de utilizadores, não restringindo o público-alvo somente a pessoas conhecedoras e com uma posição favorável à medicina alternativa.

No mercado existem espaços dedicados a terapias alternativas, mas que funcionam sob regime de aluguer, indiferenciados. Um lugar pensado para a prática de medicinas e terapias alternativas, podendo também funcionar como retiro, com uma envolvente projectada por forma a participar do todo, tem como um carácter único a nível nacional. A freguesia de Galamares ganharia outra dimensão geográfica.

O objectivo maior que sustenta todo o meu trabalho está relacionado com o facto de adquirir conhecimentos e bases de como intervir num lugar com edifícios ou até mesmo ruínas que têm valor arquitectónico reconhecido, mas ou estão devolutos porque deixaram, no tempo, de ter a função para o qual foram projectados, acabando por ser abandonados ou por falta de investimento e complicações de outras ordens. John Ruskin, um teórico inglês, que na sua obra reflectiu sobre vários aspectos ligados à Arte, assim como o Património, afirma que:

«Não há senão dois fortes vencedores do esquecimento dos homens, Poesia e Arquitectura. E a última de algum modo inclui a primeira e é mais forte na sua realidade»3

Esta citação traduz a importância que tem o acto de preservar pode adquirir. Primeiro esta relação da Arquitectura com a memória, que John Ruskin defende, quer tão

3

John Ruskin citado por Pedro Marques de Abreu-Arquitectura Monumento e Morada - Investigação do pensamento de Ruskin sobre o Património,op.cit.,§The Seven Lamps of

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6 somente dizer que a Arquitectura ajuda-nos a saber quem fomos e o que somos, são testemunhos que falam de nós; da humanidade e apesar de ter havido movimentos artísticos que revogassem o passado, a própria história ensinou-nos que para progredir precisamos de entender o que se passou anteriormente.

A dimensão singular que Ruskin atribui à Arquitectura em comparação às outras Artes, prende-se pelo facto de esta ser mais “Pública” e de não sendo considerada melhor ou pior que as outras, engloba-as, isto é, nenhuma existe sem a Arquitectura.

Reabilitar não se esgota na intenção de refuncionalizar algo que perdeu uso; a interpretação, conhecimento e valor histórico que determinado imóvel tem num lugar, são questões que necessitam de refleção e critica para quando se intervir, mais de validar uma função, devolver uma memória e um símbolo ao lugar.

A nível de conhecimento teórico, a questão da reabilitação já foi levantada há muitos anos e existe toda uma história que é imperativo conhecer para intervir; desde alguns teóricos como Viollet-le-Duc, Jonh Ruskin, as “Cartas”, documentos redigidos resultante de encontros de figuras ilustres de várias áreas relacionado com Arquitectura e Património visando criar normativas de intervenção, à posição actual de cada Arquitecto que marca esta profissão.

Por último, mas não menos importante, como meta desde trabalho, pretendo contribuir para o enriquecimento de informação sobre a Quinta do Cosme, desde perceber o que foi outrora, deduzindo, com os dados que possuo, o que poderia ter sido a nível morfológico e espacial, a sua função e os seus habitantes ao contexto actual, levantamentos, desenhos técnicos, análises, diagnósticos, realidade social entre outros. Apesar do meu esforço de tentar trazer aos dias de hoje o maior número de dados em relação a este lugar, o hiato de informação que há do séc. XV ao séc. XXI, em que o máximo de informação se encontra na memória dos habitantes que ouviram falar ou que o bisavô contou ao avô, faz com que seja, eu diria, impossível recriar a traça original da antiga quinta de recreio, impossível de determinar a que época pertence o que subsiste, impossível de perceber a dimensão de intervenções que sofreu. Contudo não é impossível de reabilitá-la, devolvendo dignidade, identidade e valor social.

1.2 - Metodologia

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7 A primeira parte prende-se com a análise fenomenológica do lugar que é alcançada através da

Percepção Sensível Percepção Intelectual

– Análise Geométrica, Morfológica e Espacial Através do Desenho

Geometria Espaço

Sistemas de Ordem Orientações

– Análise do Contexto do Lugar

Físico

Cultural e Histórico

Posteriormente à análise fenomenológica fez-se um diagnóstico edificado existente, e por fim proposta do programa funcional. Paralelamente, e como forma de complementar os vários passos, investigou-se vários casos práticos de reabilitação do património e as teorias dos estudiosos do tema por forma a fundamentar as opções apresentadas.

1.3 - Estado da arte

Projectar com o Lugar

De forma sumária, desde os nossos ancestrais que o acto de construir tem uma unívoca relação com o lugar: construía-se em função da orientação solar, perto de fontes naturais, locais onde a agricultura vingasse, o habitar era a extensão do lugar. Mesmo com a complexidade crescente civilizacional, permaneceu, em diversas culturas sob diferentes interpretações a ligação entre o construir, habitar e o Lugar.

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8 As cidades romanas que eram construídas de raiz, assentavam numa malha ortogonal (cardo-decumanos) e antes de ser lançada a primeira pedra, eram convocados sacerdotes que, se por um lado havia uma carga mística e mágica, de oração a deuses, sacrifício de animais, havia um lado de avaliação, interpretação e entendimento do lugar (orientação solar, conhecimento de fauna, flora, ventos, percursos de água…).

“As cidades medievais - de entre os séculos XI e XV - dividem-se em diversas categorias:

- as cidades de génese romana, que podem ter sido abandonadas em determinada época e depois reocupadas ou ainda, no declínio do Império Romano do Ocidente, ter decrescido;

- as cidades que evoluíram a partir de aldeias;

- as que têm na sua base um núcleo militar e que foram aceitando e implementando o

comércio, chamadas normalmente de burgos;

- as cidades novas;

- e as denominadas cidades bastide, que surgiram no País de Gales, em Inglaterra e

em França e se desenvolvem à volta de um castelo.

Somente a partir do século X a Europa começou a atingir uma certa estabilidade económica, comercial e política que permitiu o crescimento das cidades que tinham entrado em declínio após a queda do Império e o desenvolvimento dos burgos, sendo que o século XIII é usualmente considerado como aquele que mais propiciou a vida e

a evolução da cidade.

As tipologias variam de cidade para cidade, pois algumas, sobretudo as que datam do período romano, correspondem a um planeamento urbano em forma de retícula, enquanto que outras, resultantes de adaptações e evoluções, apresentam uma estrutura muito mais caótica, de crescimento orgânico e descontrolado. Existem, contudo, estruturas coincidentes em quase todas elas, como, por exemplo, as muralhas, os edifícios e jardins, os circuitos viários, o mercado e a igreja. As muralhas, para além de servirem de defesa, funcionavam também como portagem ao comércio, e, como eram barreiras físicas ao crescimento urbano, tinham de ser sucessivamente criadas novas cinturas, como aconteceu, por exemplo, na cidade de Florença. As ruas, que começaram a ser pavimentadas e por onde circulavam bestas de carga e pessoas, revestiam-se de importância especial por ligarem todos os sítios onde se comerciava, que era praticamente em toda a cidade. Ao lado das ruas cresciam os edifícios, sobretudo em altura e muito juntos, uma vez que o espaço confinante com a via era social e comercialmente valorizado. A praça do mercado situava-se normalmente no centro da urbe ou junto à rua principal, e encontrava-se rodeada de edifícios de cota mais ou menos igual, com galerias por baixo. Esta praça

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9

podia ter diversas formas, desde a triangular à oval e à quadrada. Em frente à igreja situava-se igualmente uma praça (por vezes confinante com a do mercado), que se revestia de importância particular por ser lá que se reuniam, em convívio, os fiéis antes e depois da missa, e onde eram também deixados os cavalos dos não residentes.”4

As cidades medievais, a nível formal, desenvolvem uma traça orgânica e todas elas têm elementos em comum como a igreja, o mercado, as muralhas, sendo referências espaciais importantes para a vivência destas cidades.

Em condições especiais e num contexto muito particular que foi o da Europa do Séc. XX, a crescente importância da ciência e desvalorização da religião, as novas filosofias sociais, políticas, surge um novo entendimento do lugar. O arquitecto Le Corbusier considerava que as cidades não satisfaziam as necessidades do Ser- Humano do novo século, desenvolveu vários planos urbanos para várias cidades eliminando a pré-existência, criou os cinco pontos que ele considerou como fundamentais para Arquitectura, inventou a máxima de a casa como “máquina de habitar” e, como consequência, o Lugar e as suas particularidades foram deixadas para segundo plano.

Com o Estilo Internacional, movimento que nega as referências históricas e que aplica as mesmas soluções arquitectónicas nos diferentes pontos do globo, o Lugar é todo o lugar ou qualquer lugar. Surgiram vários estudiosos e teóricos contra este movimento, como Jane Jacobs e Henri Lefebvre, criticas que se prendiam com o resultado do espaço urbano e a sua homogeneização desenvolvido pelo movimento moderno e o estilo internacional. Estes autores foram os primeiros, por assim dizer, mas houve muito mais como Gordon Cullen com o estudo das cenas urbanas, os irmãos Krier com o a investigação exaustiva a nível de tipologias, Kevin Lynch preocupado com a imagem da cidade e a sua identidade.

Aldo Rossi fala-nos muito de permanências. Ao contrário de Le corbusier, para Rossi a cidade não nasce de um ideal mas sim do real, reconhecendo no lugar aspectos que devem ser preservados, conservados servindo de referencia para a nova construção, assim a cidade cresce em constante reconhecimento e transformação.

4

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10 Com o pós-modernismo houve uma tentativa de voltar às origens - o lugar e as suas particularidades interagem com a arquitectura, a nível de materialidade, escala, orientação, etc. Em vários países tentou-se redescobrir a arquitectura popular, fazendo uma crítica contemporânea, com o objectivo de encontrar uma identidade cultural. Actualmente, a relação da Arquitectura com o Lugar não é unívoca, há diversas interpretações, deixando esta tema sempre em aberto.

No final do séc. XX existiram enormes mudanças a nível do contexto social, cultural, científico… Se no início do século a Ciência ganha uma enorme centralidade, com o fim do séc. XX a Tecnologia substitui - a, a nível de importância e protagonismo. Já não é a velocidade do automóvel que interessa, mas sim a velocidade da tecnologia que acabará por influenciar alguns arquitectos nas suas criações e relações espaciais entre o Lugar e o construído. Peter Eisenman é um exemplo.5 O computador para além de servir como uma ferramenta de trabalho também possibilita uma nova maneira de conceber e pensar a arquitectura. Neste sentido podemos dizer que há alguma proximidade com Le Corbusier em que há uma vertente conceptual mais presente do que as permanências do Aldo Rossi.

“ A arquitectura que parte da radical separação entre a escala do humano e a escala

do mundo autónomo das formas geométricas”6

As poucas semelhanças com Le Corbusier terminam por aqui, esta afirmação evidencia o afastamento do ser Humano como gerador de escala da arquitetura que o aproximasse mais das filosofias desconstrutivistas de Derrida. Para Eisenman a arquitectura tem uma ordem própria que só diz respeito ao funcionamento geométrico. Estas são algumas abordagens de relações com o espaço,hoje o Lugar tem um papel central na concepção do projecto com diversas abordagens.

1.3.1 Património e o Lugar

Património - “conjunto de elementos pertencentes ao passado que pela sua relevância, estética, artística, simbólica, importa preservar e representa um interesse,

5

http://www.arquiteturarevista.unisinos.br/index.php?e=2&s=9&a=9

6

Montaner, J.M. Depois do Movimento Moderno: arquitectura da segunda metade do seculo XX. Barcelona, 2000, p.167

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11

não só para a comunidade que o produziu ou à qual pertence, mas a uma escala Global.”7

O reconhecimento, a importância para a identidade cultural, as técnicas de conservação e preservação do património tiveram várias abordagens consoante o período histórico.8

Viollet-Le-Duc (1814-1879), adoptou a teoria do restauro estilístico em que incluía a possibilidade de restituição de parte do monumento mesmo que esta nunca tivesse existido e desde que copiasse o estilo artístico. Tentava restabelecer o original, do que tinha sido o monumento e eliminava todas as adições posteriores.9

Por sua vez Jonh Ruskin (1819-1900) defende uma atitude anti-intervencionista, considerando que o construído tem um limite de vida, logo tem o direito à morte natural, negando, contrariamente a Viollet-Le-Duc, a tentativa de acabamento do edifício.10

Numa perspectiva moderna foram redigidos alguns documentos que resultaram de encontros com directivas sobre a conservação do património; em 1931 foi criada a Carta de Atenas que reconheceu o valor do património e de todos os períodos históricos que nele estivessem presentes e o principal método de conservação seria a contínua manutenção. Com a Carta de Veneza de 1961, o património passou a ser visto como intocável.11

A Carta de Cracóvia, do ano 2000, veio reconhecer a individualidade de cada intervenção, afirmando que a importância do património está interligada com a memória colectiva das sociedades. Esta Carta veio, por um lado reconhecer o trabalho

7

http://home.fa.utl.pt/~al7531/pedidos/Seminarios/ (Ana Monteiro).p.4

8

- http://home.fa.utl.pt/~al7531/pedidos/Seminarios/ (Ana Monteiro).p.5

9 -Ibidem p.6 10 - Ibidem p.7 11 - Ibidem p.8

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12 que já vinha a ser feito por muitos arquitectos que partilhavam a mesma sensibilidade quando intervinham no património.12

2.[Investigação] - Investigação para a Realização do Projecto

2.1-“Conceito Lugar”

Já na Grécia Antiga, o conceito de lugar despertava o interesse dos filósofos desde Platão a Aristóteles. Aristóteles parte de Platão mas tem uma definição diferente; enquanto Platão pensa o lugar como algo infinito, sendo que o lugar de uma coisa é essa mesma coisa o seu corpo é o seu limite. Aristóteles pensa o lugar como algo mais empírico e finito como algo que contém corpos usando o termo “topos”13

Só depois do movimento moderno, relacionado com áreas do saber como a fenomenologia e a geografia, é que, pela primeira vez, a problemática do Lugar ganha maior ênfase a começar pela sua própria definição e sendo introduzida pela relação do conceito de Lugar com a arquitectura

As novas reflexões tiveram consequências directas no modo de fazer e pensar arquitectura. Ligado à definição clássica, vários escritores definem Lugar como coisa concreta, diferenciando do espaço que é abstracto, ideal, ou seja, Lugar é um espaço real e empírico. Heiddeger, por exemplo, dá grande relevo à ideia de habitar; habitar é a maneira do Homem estar no Mundo e com isto gera ordem, cria lugares.

Relacionado com Lugar há sempre conteúdo histórico e cultural transmitindo por quem o apropria . As opções, a ordem estabelecida, a geometrização de um dado lugar por um povo com determinadas características transmite o “genius loci”, ou seja atribui um carácter a esse espaço concreto

2.1.1“Projectar com o Lugar”

12

- Ibidem p.8

13

Amílcar de Gil e Pires - Vilegiatura e Lugar na Arquitectura Portuguesa, Tese de Doutoramento em Arquitectura,Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2008

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13 “Projectar com o Lugar” tornou-se num tema que ganhou maior ênfase no final do séc. XX, pensar o lugar como meio de fundamentar uma proposta de arquitectura funcionou como resposta ao movimento moderno, que neste período foi bastante criticado tanto por arquitectos como profissionais de outras áreas nomeadamente da antropologia, sociologia, filosofia. Jane Jacobs ou Henri Lefebvre reprovavam o resultado do espaço urbano e a homogeneização da arquitectura fruto do estilo internacional.

Projectar com o lugar resultou da tomada de consciência através de exemplos concretos, da fractura entre o acto de projectar e o lugar. Acabou por não ser a única proposta como alternativa do Movimento Moderno e do Estilo Internacional, mas esta proposta assenta na ideia da concepção de um projecto implica um grau de conhecimento enorme do lugar: e é à procura de uma simbiose entre o sítio e o projecto que surge a arquitectura, com uma identidade própria e um carácter afirmativo, integrada na paisagem.

O entendimento do Lugar pode passar por várias análises fundamentais; análise morfológica que ajuda na interpretação da geometria da paisagem, a descobrir os eixos visuais e percursos e a sua hierarquização, assim como os eixos estruturantes, a definição dos limites, conhecimento da orientação, da topografia, identificação da vegetação, levantamento dos ventos dominantes entre outros aspectos.

A análise fenomenológica pode funcionar como complemento de todos os outros estudos possíveis uma vez que parte de uma interpretação sensitiva e pessoal que traduz uma experiência de um individuo com um objecto. Nesta experiência, ausente de factores pré-conceptuais e sendo o sujeito um indivíduo activo, prevalece uma precepção sensitiva como a apreensão da luz, da cor dominante, cheiros, volumetria, proximidades entre outros, contribuindo também para uma experiencia estética do lugar. Nobert- Schulz foi um dos autores que se dedicou ao estudo e teorização da fenomenologia com particular ênfase na arquitectura, concebendo ideias chaves como “percepção imaginativa”.

Para culminar qualquer análise é imperativo conhecer as pessoas que habitam o lugar, para lá de uma maneira mais objectiva e funcional no entendimento da demografia, ou da classe social predominante, saber das pessoas, o seu contexto, da sua cultura que define o seu regionalismo.

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14 “Projectar com o lugar”14

foi o tema da disciplina de Projecto 5º do primeiro semestre que consistiu na intervenção na Quinta do Espírito Santo, do séc. XVIII em Odivelas. O objectivo principal seria reabilitar o lugar propondo um programa para a Quinta, programa esse que ajudaria a tornar a quinta, que se encontra devoluta, uma mais valia para o concelho de Odivelas. Com este trabalho acabo por concluir um ciclo de aprendizagem sobre este tema.

O Professor Amílcar Pires leccionou esta disciplina sensibilizando-me para o tema e transmitindo conhecimentos de como actuar em casos concretos e reais, com uma vertente mais direcionada para Quintas de Recreio.

Este também é o tema de um trabalho da investigação, Faculdade de Arquitectura, dirigida por este professor com título “O lugar da Vila Renascentista na Arquitectura

Portuguesa”

Alguns dos mais conceituados Arquitectos Portugueses obtiveram reconhecimento internacional através da afirmação da temática do Projectar com o Lugar, nomeadamente Arq. Eduardo Souto Moura, Arq. Álvaro Siza, Arq. José Luís Carrilho da Graça, Arq. Gonçalo Byrne entre outros.

2.2. A Quinta de Recreio séc. XV/XVI

É em Florença, no Séc. XV, através da família Medici que se dá um crescente aparecimento das Villas. Esta vontade de construir encontra-se relacionada com o sentimento de segurança, sendo desnecessárias casas de campo fortificadas, mesmo quando se tratava de residências fora dos limites das cidades. Estes factos ajudaram a desenvolver a ideologia de Vilegiatura.

“A Vilegiatura, como expressão do ideal cultural do habitar no ambiente rural, é impulsionada por uma elite humanista que venerava e tentava pôr em prática os ideais provenientes da cultura clássica. Estes eram, porém, integrados numa estrutura de cultura cristã, onde o ócio se contrapunha ao negócio. Para as famílias com posição social ou eclesiástica de destaque, a Villa passaria a ser o lugar ideal

14 “Projectar com o Lugar” foi o tema do meu 5º ano da disciplina de Projecto (ano lectivo

2011/2012, na Faculdade De Arquitectura – Universidade Técnica de Lisboa), cujo autor é o Professor Doutor Amílcar Pires.

(21)

15

para a recuperação da fadiga e das obrigações directamente relacionadas com a cidade.”15

A Quinta de Recreio Portuguesa, enquanto tipologia arquitectónica, pode estar enquadrada no conceito de Vilegiatura, mas não de forma exclusiva.16

Associado às Villas desenvolveu-se quase um mito ligado ao modo de vida que representava refugio, ócio e deleite, com muita frequência representado na Arte, como a literatura e na pintura, nível arquitectónico, Vilegiatura tem um programa base estrutural que se mantém idêntico desde o do Renascimento.17

Ligado ao ócio das classes cultas e privilegiadas, os jardins e a envolvente assumem um maior destaque, na Villa. A casa e a envolvente fazem parte de um todo em que a arquitectura dita a estruturação de matriz geométrica. Existem elementos caracterizadores ligados a este modelo habitacional, não é imperativo existirem todos os elementos e em simultâneo para a definição de Villa mas estão todos ligados ao tratamento da envolvente; Patamar/terraço, bosque, ninfeo, gruta, cascata, espelho de água, jardim secreto, arcadas pérgulas.18

Houve arquitectos que teorizaram o programa da Villa nomeadamente Andrea Palladio, que sintetizou os elementos que estes espaços deveriam ter como:

O Vestíbulo - é um espaço central e mais importante da habitação com várias funções desde festas a centro de administração.19

O Pórtico - está directamente relacionado com o Vestíbulo, cria um enquadramento

visual com a entrada visual.20

15

Amílcar de Gil e Pires - Vilegiatura e Lugar na Arquitectura Portuguesa, Tese de Doutoramento em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2008,p.17 16 Ibidem, p.9 17 Ibidem, p.18 18 Ibidem, pp. 19 e 20 19 Ibidem, p.72 20 Ibidem, p.72

(22)

16

O Pátio - é aberto, serve como espaço de distribuição para os restantes espaços

exteriores poderá eventualmente ter lagos, zona de relvado.21

O Frontão - elemento arquitectónico com um enorme peso simbólico disposto na

fachada principal conferindo nobreza ao edifício, desenvolvendo-se na vertical onde constam o escudo de armas da família, esculpido ao centro.22

Escadaria- Ao elevar o piso, a entrada adquire um caráctar afirmativo e cénico,

confere distinção à casa e ao mesmo tempo, tem uso mais práticos como a possibilidade da criação de uma semi-cave para empregados e uma vista mais amplas sobre os terrenos.23

Quintas de Recreio

“Chama-se quinta de Recreio à propriedade rústica que, independentemente da dimensão, inclui terrenos de cultivo, hortas e pomares, edifícios de apoio à exploração agrícola e pecuária, habitações de trabalhadores rurais e, junto à residência do proprietário, zonas de lazer, designadamente jardins, pavilhões, fontes, lagos, pombais e matas, variando em função do estatuto social dos moradores”24

Estas quintas apareceram depois dos descobrimentos. Não funcionavam como primeira residência de um fidalgo, mas sim como segunda casa de nobre com ligações directas ao Rei. Funcionavam como espaços de descanso e refugio, poderiam servir apenas para um passeio pelas produções agrícolas ou para a caça, ou eventualmente para fugir a epidemias que deflagravam na corte.

As quintas tinham um papel fulcral na produção agrícola como o vinho o azeite as árvores de fruto e abasteciam a cidade, há uma dependência mútua o que vai ditar a localização estratégica e periférica das mesmas.

21 Ibidem, p.72 22 Ibidem, p.72 23 Ibidem, p.72 24

Marieta Dá Mesquita, História da Arquitectura, Uma Proposta de Investigação – O Palácio

dos Marqueses de Fronteira Como situação Exemplar da Arquitectura Residencial Erudita em Portugal, Tese de Doutoramento em História de Arquitectura, Faculdade de Arquitectura

da Universidade Técnica de Lisboa,Lisboa,1992 (policopiado),p.241.citada por Amílcar de Gil e Pires - Vilegiatura e Lugar na Arquitectura Portuguesa, p. 350

(23)

17 A construção desta tipologia variava com a paz do reino que atraía a nobreza e a sua prosperidade, na segunda metade do séc.XVI, a assinatura da tratado de paz com Espanha foi logo notória o aumento de quintas de Recreio, contudo, a habitação nem sempre espelhava o grau socio-económico do dono, que variava com a utilidade da construção, proprietário e arquitecto. O ouro e os diamantes provenientes do Brasil trouxeram uma melhoria geral a nível económico o que contribuiu para o melhoramento geral e alterações das quintas de Recreio, no séc XVIII.

2.3 Projectar como meio de Reabilitar a Ruína

“É por isto tudo que creio ser de novo defensável o chamado “ruinismo”.Não já com os velhos e datados critérios românticos que prevalecem, mas antes e exclusivamente a necessidade de consolidação pura e simples da ruína, com uma demarcação bem clara do terreno em que se implantam. Trata-se de proceder à avaliação da memória acumulada e da memória evocativa, remetendo para o conhecimento cumulativo de um sítio na sua relação com a envolvente. Deste modo, os critérios relativos à preservação da paisagem são mantidos.”25

Pensar o Património e que posições a tomar perante o mesmo são questão que foram levantadas há séculos, com atitudes que foram variando com o tempo, directamente ligado a um contexto cultural, social e económico. Desde o reconhecimento da importância do património à sua consequente musealização, à criação de “ruínas” e à romantização das mesmas, muitas vezes com carácter cénico, à intervenção no património tentando a sua reprodução/imitação, a operações de “fachadismo” (restauro da fachada independentemente dos novos usos) até à Carta de Cracóvia que incentiva pensarmos cada intervenção como única atendendo ao seu contexto e inserção, que é irrepetível e assumindo em simultâneo a contemporaneidade. Todas as decisões e posições sobre o Património e a sua respectiva história, deveriam funcionar como um legado ou base de arranque de qualquer intervenção de hoje porque o que se sabe actualmente é que as opções anteriores não caducaram no tempo e estão activas.26

Intervir no Património não gera consenso, ou seja, existem “correntes” que defendem atitudes diferentes, a relação que há com o Património em Portugal não será, por

25

Paulo Pereira, Património edificado-Pedras angulares.Lisboa,2004,pp.88 e 89

26

(24)

18 certo, a mesma que em Itália e será diferente do que se defende em Inglaterra mas o que une todas as teorias é a presença da importância do Património para as sociedades.

Existem conceitos que actualmente estão em foco quando se procede a uma intervenção no património como “obra mínima” ou “reversibilidade”, reutilização. Em Portugal começa-se a apostar em acções muito mais leves, com uma melhor adequação de programas, fisicamente tende-se a salvaguardar o monumento, ou seja, uma posição mais de consolidação das pré-existências do que anexar obra nova aparatosa. Esta atitude obriga a aprofundar conhecimentos e transforma qualquer acção sobre o património multi-disciplinar, necessitando do contributo de vários técnicos de variadíssimas áreas desde aspectos mais antropológico aos mais técnicos e científicos , por exemplo, aprender como se construía antigamente. A introdução de uma nova estrutura de ser pensado de tal modo a ser reversível.

No caso da Quinta do Cosme, as pré-existências são díspares e apesar de estarem localizadas na mesma Quinta têm âmbitos diferentes, através do desenho projectaram-se relações e ordem integrando-as num sistema novo de tal forma flexível que permitiu uma apropriação de cada ruína de modo único, ou consolidá-las de forma diferente; essencialmente atribuiu-se uma nova função consoante o programa e se tirou também partido do caracter cénico em alguns casos.

2.3.1 Casos de estudo

A reabilitação, os vários tipos de intervenção no património e propostas de programas similares foram as três vertentes em que se tentou encontrar e estudar casos de estudo práticos. Os mais pertinentes foram:

Reabilitação

Biblioteca de Sintra – arquitecto Alexandre Marques Pereira

A biblioteca de Sintra encontra-se actualmente instalada num complexo composto por dois edifícios, a Casa Mantero, antigo palacete do século XIX que foi recentemente restaurado e um outro edifício totalmente novo.

A estratégia do arquitecto passou por manter a traça original das fachadas e no seu interio

r

Fig. 2 Biblioteca de Sintra

(25)

19 adaptou-o a um novo uso. A nova construção foi adicionada para responder ao extenso programa da Biblioteca.

Programa

Casa Mantero: Cibercafé, Bar e Loja. Edifício novo:

PISO 0 – Bengaleiro, Sala polivalente,

depósitos;

PISO 1 – Serviços técnicos, depósitos,

anfiteatro, Galeria;

PISO 2 – Átrio/Recepção, Sala de

Leitura geral, serviços para invisuais e deficientes motores, Sector de

Periódicos, Biblioteca Infantil e Juvenil, Bebéteca, Reprografia, Serviços Técnicos, WC’s;

PISO 3 – Sala de Leitura geral, Sector

Multimédia e de Autoformação, Sector de Reservados, Gabinetes de

(26)

20 Estudo e consulta de reservados, Sala

do Conto;

Quinta da Gruta- arquitecto João Álvaro Rocha

Neste caso temos a reabilitação de uma quinta. A Quinta da Gruta foi construída no início do século XX, onde havia um palacete decorado com influência da “art nouveau”.

Este espaço situa-se na cidade de Maia com dois hectares de extensão. O arquitecto João Álvaro Rocha agregou à casa uma escola de formação ambiental.

Desenvolvendo geometricamente uma composição horizontal de módulos para responder ao programa proposto.

Tipos de intervenção

Reconversão de uma ruína no Gerês- arquitecto Eduardo Souto Moura (1980-1982)

Fig.3 Quinta da Gruta

Fig.4 Quinta da Gruta, vista

(27)

21 1 - “Completar e Re-funcionalizar a Ruína”27

“Um celeiro abandonado foi aquilo que

eu encontrei: Por detrás uma porta para o monte./ À frente era aberto em madeira. /Por cima um telhado que caiu./ Ficou assim:/ Atrás, tudo igual com porta nova. /À frente, tudo em vidro para a água./ Por cima, um telhado para todos. / Por dentro, foi o que a planta deu (30m2)./Por fora, foi ler Apollinaire:”Preparer au lierre et au temps une ruine plus belle que les autres…”28

Este foi um comentário que o arquitecto fez em relação ao projecto de reconversão de uma Ruína no Gerês (1980-82), em que perante uma ruína, consolidou-a e atribuí-lhe um novo uso ficando completamente integrada na paisagem, conferindo-lhe carácter pitoresco.

2-Casa II de Nevogilde

Construir imitando a ruína

27

- http://home.fa.utl.pt/~al7531/pedidos/Seminarios/ (Ana Monteiro)

28 - Luís Trigueiros, Eduardo Souto Moura, Lisboa, 1994,pag.37

Fig.8 Casa II de Nevogilde Fig.7 Casa II de Nevogilde

(28)

22 Nesta intervenção, o arquitecto simula a ruína, usa-a como pretexto de construção até mesmo a escolha dos materiais juntamente com a composição dos planos remete-nos para uma pré-existência.

Programas:

1 - Programas de uso similares à proposta deste trabalho foram difíceis de encontrar. Existem diversos espaços onde se fazem terapias mas normalmente são edifícios alugados como, por exemplo:

Associação cultural Art of Living- Um espaço onde decorre vários eventos mais ligados ao yôga e meditação existindo ao mesmo tempo outras actividades como palestras, conversas, apresentações de projectos, encontros de associados, exposições, concertos, caminhadas, grupos de leitura e teatro ou pintura, ligadas a associados ou à população do concelho em geral.

Esta associação situa-se em Sintra, em que se tenta tirar a maior rentabilidade de um espaço polivalente.

2 - A nível internacional, existe um caso pertinente, não é o programa que determina o espaço mas sim uma filosofia de vida que congrega pessoas e vivem em comunhão.

Este movimento chama-se New Age, nasceu no ocidente em meados da década de 60. Junta pessoas de várias pontos do mundo numa propriedade com uma ligação

Fig. 9 New Age centre Cittá della Luce

(29)

23 muito próxima ao meio ambiente, em que o grande objectivo é um bem estar holístico (físico, mental e religioso).

O público - alvo da New Age são pessoas que atravessam alguma crise de identidade, que têm vontade de viver em harmonia com o meio ambiente, nostálgicas, indivíduos que desejam tratamentos naturais e pessoas saturadas do modo de vida ocidental, em que há uma enorme crença na tecnologia e onde vários factores levam à destruição do meio ambiente.

3.[O Lugar]- A Quinta do Cosme- Lugar a Reabilitar

3.1 Análise Histórica

“Na estrada de Sintra a Colares, mais de meio caminho andado, avistam-se à mão esquerda umas ruínas, imediatamente inferiores à estrada macadamisada. Mas ruínas de tomo, de antigas e nobres edificações, a cuja frente ainda se pode admirar um portão quinhentista encimado por um mutilado brazão "29

“são este troço de parede e de duas construções cilíndricas ainda com cobertura do lado esquerdo de quem entra, o que mais bem conservado se apresenta(…). Estas duas construções cilíndricas, adossadas uma à outra, sendo a de maior diâmetro a mais recuada e como uma janela a sueste, diz a tradição que serviam de

29

http://riodasmacas.blogspot.pt/2011/02/quinta-do-cosmo.html

Fig.11 - Quinta do Cosme

(30)

24

prisão."30

A Quinta do Cosme situa-se em S.Martinho, na margem direita do Rio das Maçãs, junto à estrada principal, Sintra/ Colares.

Restam algumas ruínas do que outrora fora uma Quinta de Recreio, mandada edificar por João Francisco de Lafetá por volta do séc XVI.

Este fidalgo ganhou importância na sociedade portuguesa através do seu poderio económico e pelas relações estabelecidas com outros nobres, nasceu em Itália e veio para Porugal no reinado de D. Manuel, foi elevado a fidalgo por D. João III e morreu entre 1591 e 1597. A família Lafetá dedicava-se às rotas comerciais proporcionadas pelos descobrimentos, nomeadamente Portugal-Índia. Terão começado pela comercialização do açúcar da Ilha da Madeira, dedicando-se depois às especiarias. Esta família italiana está também associada ao tráfico de escravos, o qual nunca abandonou. Encontra-se no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa uma coleira de escravo encontrada em Carvalhal de Óbidos com a seguinte designação” Este preto he de Agostinho de Lafetá”.31

João Lafetá nunca se casou mas teve seis filhos de duas portuguesas cristâs-novas. Devido à sua riqueza e posicionamento na corte portuguesa, construiu alguns palácios como o solar da Quinta dos Loridos, profundamente alterado no séc. XVII e XVIII, assim como uma Quinta de Recreio, por volta de 1540 na serra de Sintra. O primeiro Proprietário foi o seu filho Cosimo Affaitat cujo nome da Quinta deriva do nome do seu dono.32

A Quinta do Cosme foi registada numa conservatória em 20-12-1879 por Francis Cook, primeiro Visconde de Monserrate, que deixou em herança a Herbert Frederick Cook que acabou por vendê-la a António de Almeida Guimarães, em 1922, que é o bisavô de um dos proprietários actuais, Sr. António Lavrador de 80 anos. Esta

30 ibidem 31 http://colombo.do.sapo.pt/indexPTColomboItal08.html 32 ibidem

(31)

25 propriedade passou de pais para filhos e encontra-se dividida em parcelas entre familiares, sendo que para alguns funciona como segunda habitação.33

Para além de se saber que esta Quinta já foi uma quinta de recreio, pouco mais está datado, é impossível de saber a campanha de obras que já sofreu; o que resta dessa data está a paredes meias com construção recente.

3.2-Análise Física e Morfológica

Localização:

A Quinta do Cosme pertence à freguesia de S.Martinho, concelho Sintra, muito próxima de uma estrada principal que liga Sintra a Colares.(ver anexo II)

Morfologia do terreno: é uma área não totalmente plana, mas sem grandes diferenças de cota, uma vez que grande partes dos terrenos circundantes serviam para a prática agrícola.

33

http://arrumario.blogspot.pt/2005/05/quinta-do-cosmo.html

Fig. 13 - Cheios e vazios Fig.32 – Morfologia do terreno

(32)

26 Ruínas (ordem geométrica)

Elementos Arquitectónicos Fig. 19 – Localização das ruínas

(33)

27 A Quinta do Cosme tem os limites bem marcados e definidos ajudando a entender onde começa e onde não interessa ultrapassar a nível de intervenção. Quanto aos eixos organizadores, independentemente da importância que teve, ou não, o eixo que parte do portal e vai até à antiga adega, hoje em dia é a via mais importante de circulação pública da quinta, dividindo também as propriedades. Existem eixos secundários, como o perpendicular ao eixo principal, marcado por outro portão, réplica pobre da entrada principal. Com a partilha do terreno tornou-se prático uma segunda entrada e inspirado no pórtico quinhentista reproduziu-se outro com uma escala mais modesta.

Estando a quinta integrada num meio rural, ainda permanecem muitos percursos pedonais. De forma geral todas as circulações são deficitárias e pouco consolidadas. A Este encontramos uma fachada que subsiste de traça quinhentista e, analisando-a, nota-se uma composição regrada, o recurso a rectângulo e quadrados de proporções áureas assim como quadrados raiz de dois.

A maior parte dos elementos arquitectónicos relevantes encontram-se em mau estado de conservação: na fig. 1 é o brasão que se encontra no cimo do pórtico; a fig. 2 é um cunho nobre da habitação que se encontra no extremo da fachada Este; a fig.3 é um elemento estrutural onde assentam as abóbadas de um pequeno espaço, perto da antiga adega. A fig. 4, situa-se perto deste espaço, uma pequena fenestração, a fig.5 é um vão original da antiga adega, a fig.6 o espaço completo abobadado.

3.3 Análise Espacial e Fenomenológica

Da intuição sensível à intuição intelectual.

Para conhecer a Quinta desloquei-me de carro e de autocarro, todas as vezes aconteceu passá-la e ter de voltar atrás ou andar simplesmente perdida, não há nenhum marco, qualquer pessoa que venha pela estrada, que denuncie a presença deste local.

Essencialmente para quem vem de autocarro, quando se sai numa paragem ao pé da estrada caminha-se numa berma estreita e se desce por uma via transversal para chegar ao portal, a primeira sensação acontece ao nível da audição; a via estrada principal para além de representar algum perigo por não contemplar a circulação dos

(34)

28 peões, oferece um barulho constante mas chegando ao portal, apesar de ser em só alguns passos, dissipa logo a sensação de confusão.

A divisão entre o público e o privado da Quinta tem uma linha muito ténue. Não há à vontade em tirar fotografias sem pedir licença e transpor o portal é tornarmo-nos quase intrusos, a rua que a atravessa é ladeada por portões, para além desta via, não há espaço público comum. As casas fazem frente de rua e resta um vazio entre a casa e os portões onde brincam crianças e se ouvem cães.

Devido à partilha do terreno, depois de transpor o Pórtico, não se tem qualquer noção ou relação com o que era o jardim e hortas, e, excluindo a habitação que fica ao fundo da quinta, não há qualquer espaço verde.

A paleta de cores muda quando saímos do pórtico e se continua a descer a rua perpendicular à via principal, o verde predomina com árvores bastante altas que formam uma parede verde que ladeia a ribeira que se ouve timidamente. Apesar de desta zona estar orientada a Sul é o local com mais sombra e mais agradável da Quinta. Em sentido oposto temos a frente de rua virada para uma estrada principal muito movimentada.

A nível formal, a fachada Este é um dos limites de um rectângulo que faz frente com um condomínio privado. O eixo do portal divide a propriedade em duas, a maior concentração de construção prevalece a Norte, as casas já são antigas, herdadas de uma geração para a outra e apresentam exteriormente mau estado de conservação, construídas pelos próprios habitantes.

O espaço que fica entre a habitação e o portão é descaracterizado tendo como principal função o estacionamento, visto que não há nenhum espaço pensado para o efeito.

A nível de pisos, toda a construção varia entre um e dois pisos; a habitação mais a Oeste da quinta, onde termina a “via pública” torna-se excepção em muitos aspectos que a difere das restantes residências. A proprietária restaurou uma antiga adega e transformou-a na sua habitação. Nesta parte da propriedade existiam várias Ruinas e toda a intervenção apesar de ser fruto da sensibilidade e bom senso da proprietária, revela um enorme esforço para consolidá-las e integra-las, servindo de elementos cénicos do seu jardim com variedades de plantas, materiais e decoração.

(35)

29 3.4 Reconstituição Formal e Espacial da Quinta do Cosme como Tipo Arquitectónico

Com base nos testemunhos dos habitantes mais idosos da quinta e considerando a permanência da propriedade na mesma família desde 1922, e tendo como base teórica a Tese de doutoramento “Vilegiatura e lugar na Arquitectura Portuguesa” recriei o que poderá ter sido a disposição física e espacial deste Lugar, que em tempo foi uma quinta de recreio.

Existem elementos, que pela sua própria disposição espacial não levantam dúvidas, como o caso da entrada. O acesso à Quinta era feito a Este onde ainda subsiste a fachada e o pórtico de entrada com o Brasão da família Lafetá. A zona dedicada à horta e jardins situava-se a Sul, apesar de não ser a orientação mais comum (seria NE) a ligação directa à Ribeira das Maçãs que delimita a propriedade justifica a sua posição.

A pequena Torre que se encontra muito próxima da fachada de entrada é um “cubelo”, apesar de os moradores afirmarem que serviria de prisão para escravos ,a forma não satisfazia a função, as dimensões seriam pequenas para o efeito, um pequeno vão no cimo ajuda a corroborar a falta de sentido para interpretação e até mesmo a sua posição, junto ao portão de saída, ajuda a refutar esta ideia. O cubelo, que advém da Arquitectura militar costuma servir como reforço de muralhas e até mesmo a sua forma ajudaria a desviar projécteis inimigos, sendo assim o mais provável seria servir de torre de vigia. Existiam duas torres, uma vez que a moradora da propriedade mais a Oeste admite ter encontrado outra torre no seu terreno já com muito mau estado de conservação e sendo impossível consolidá-la aproveitou as pedras para revestir os limites do jardim anexo à casa.

Esta seria uma versão possível para estas torres pelo poderio económico e até mesmo pelo facto de existir uma enorme possibilidade de terem trabalhado escravos neste local, haveria necessidade de vigia. Existem aspectos contraditórios em toda a quinta, onde elementos arquitectónicos nos dão algumas pistas, mas insuficientes para tirar conclusões definitivas.

(36)

30 1ª hipótese:

O Eixo e a relação com a casa senhorial - Através do Pórtico podemos delinear um eixo finito, que seria organizador de toda a Quinta criando uma simetria espacial que nos conduzia à casa senhorial antecedida por um pátio. Contudo, o eixo termina num edifício que não tem escala nem proporções para ter sido a casa senhorial. A proprietária que reabilitou o edifício por iniciativa própria, tendo transformado o que era uma antiga adega na sua residência. A adega remete para a função agrícola da quinta, nomeadamente para a produção de vinho, o que se adequa ao facto de Colares ser uma região vinícola

A hipótese mais viável é que a Casa Senhorial e todos os seus compartimentos se desenvolvessem a Norte, existem ruínas de algumas abóbadas nas habitações actuais de algumas pessoas e reflectindo sobre o acto de construir é plausível que as casas de hoje se tivessem erguido sobre o que foi restando, com necessidade de ampliações e restruturação do espaço conduzindo à destruição da construção quinhentista.

(37)

31 Uma das grandes questões que se coloca é que o edifício, na sua traça original, seria uno, ou seja, seria um todo disposto em L unido o quadrante Norte e Oeste. Esta dúvida surge porque actualmete existe uma via de circulação que corta qualquer relação possível entre os dois corpos. A versão da Quinta disposta em L é a mais defendida pelos moradores se recordam existirem ruínas a ligar os dois corpos antes da via. Sendo assim, o corpo principal estaria a norte virado para os jardins a Sul. A Oeste, ao lado da antiga adega há um conjunto de ruínas que podem ter sido uma capela, encontra-se uma parede com mais de sete metros, um espaço cilíndrico (pequena abside?) e algumas paredes. Outro elemento curioso que apesar de estar em relativo bom estado de consolidação é um pequeno espaço abobadado que se encontra a Norte numa cota abaixo ao nível da rua. Pela sua cota e pela existência de um poço perto pode-se levantar a hipótese de ter sido

uma cisterna e, em principio o pomar seria por detrás do que é hoje a adega. Em simultâneo, o tratamento da cobertura é tão cuidado que pode remeter para um espaço de cariz religioso, ficando a dúvida para que serviria exactamente este espaço. Toda a Quinta seria murada, sendo que a Sul o muro teria tombado numas cheias há mais de 25 anos (segundo moradores). O telheiro que se encontra na fachada Oeste teria sido acrescentado mais tarde, funcionado como local para mantimentos.

(38)

32 2ª hipótese:

Fig. 23 - 2ª Hipótese de reconstituição

A segunda hipótese seria mais hermética em relação a testemunhos dos habitantes e mais direcionada para o que se mantém actualmente, baseado na Quinta existiram dois corpos, um a Oeste e outro a Norte mas sem estarem ligados, surge a opção de um outro tipo de Quinta, a nível morfológico, não muito comum, mas que funcionaria com vários corpos dispostos de forma a obedecerem a uma geometria bastante regrada mas autónomos entre eles.

Segundo James Ackerman existem dois tipos de Villa, a “Villa cúbica/compacta” (ver anexo III) e a “Villa aberta/extendida”. Pela organização assimétrica da disposição dos volumes, a Quinta do Cosme enquadrar-se- ia no conceito de “Villa aberta/Extendida”34

O tipo de “Villa aberta/extendida” é, também, de acordo com Ackerman, mais facilmente identificável com o ambiente envolvente, com uma vivência saudável e

34

Amílcar de Gil e Pires - Vilegiatura e Lugar na Arquitectura Portuguesa, Tese de Doutoramento em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2008,p.53

(39)

33

com o recreio. Esta estende-se, informalmente, em blocos assimétricos e pórticos, e em níveis variados de implantação. Por vezes cresce como um organismo quando o proprietário com poder económico é tentado a ampliar a sua estrutura existente, pela adição de novos espaços, pátios e pórticos (…).”35

Não chegou aos dias de hoje nenhum alçado, nem pistas do que poderá ter sido a traça original e muito menos as influências arquitectónicas que poderá ter tido.

4.[O Projecto] Proposta de Reabilitação e Intervenção

4.1- A Ideia Estruturante do Projecto

Antes de reflectir sobre a ideia que seria estruturante de todo o meu projecto, houve decisões que tiveram de ser tomadas em relação ao que está construído e às ruínas que em alguns casos são o prolongamento de outra. Como o meu primeiro intuito seria, reabilitar a Quinta do Cosme, devolvendo-lhe o seu carácter e, em simultâneo, respeitando a sua memória. As opções eram claras, ou tentava manter a habitação e as Ruínas ou eliminava a habitação, essencialmente as casas que precisam de obras, e recuperava as ruínas. A coabitação de ambas as realidades, manter todas as habitações e as ruínas pareceu-me impossível porque foi o construir de forma desregrada que fez com que se perdesse totalmente os edifícios característicos da quinta de recreio e, ao mesmo tempo, a disposição da construção coloca em perigo o que se mantém até aos dias de hoje, porque parte foi vetada ao abandono ou está devoluto, como acontece com a maior parte dos elementos da fachada Este. A decisão tomada visa eliminar as habitações, com a excepção da antiga adega, e reabilitar as ruínas.

Desta decisão obtenho um conjunto de ruínas dispostas um pouco por toda a propriedade, com características bastante diferentes entre elas, tanto a nível de escala, de estado de conservação e orientação solar - ao todo oito elementos: o Pórtico; os dois edifícios que completam a fachada; o cubelo; a réplica do portal; a parede que faz frente com à estrada principal; a parede de sete metros e as restantes ruínas que pertenciam à igreja e, por fim, o espaço abobadado que se situa a uma cota inferior à cota da estrada.

35

Imagem

Fig. 2 Biblioteca de Sintra
Fig.  9  New  Age  centre  Cittá  della  Luce
Fig. 13 - Cheios e vazios  Fig.32 – Morfologia do terreno
Fig. 19 – Localização das ruínas
+4

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