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Direito e Literatura: uma análise da canção “Amanhã será um outro dia” e da censura entre os anos de 1964 a 1985

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REPATS, Brasília, V.6, nº 1, p 329-357, Jan-Jun, 2019

Direito e Literatura: uma análise da canção “Amanhã será um

outro dia” e da censura entre os anos de 1964 a 1985

Law and Literature: an analysis of the song "Tomorrow will be

another day" and censorship between the years 1964 to 1985

José Eduardo Sabo Paes

*

Graciane Cristina M. Celestino

**

Júlio Edstron S. Santos

***

RESUMO: Atualmente no Brasil há uma crise generalizada que vem impondo

desafios para a Literatura, Direito e à própria democracia. Neste sentido, é preciso revisitar as experiências do passado e (re) aprender lições, pois é valiosa a liberdade de expressão e odiosa a censura. Assim, utilizando os métodos da revisão bibliográfica, análise hipotética dedutiva e da fenomenologia para analisar pontualmente, o passado autoritário, sobretudo o período de 1964 a 1985, que se utilizou da censura como meio de cercear informações, ideias, músicas entre outras manifestações artísticas e intelectuais, e assim buscar a sua manutenção do poder ilegitimamente. Como forma de contestação àquele momento, compositores como Chico Buarque de Holanda criaram canções que expressavam os seus sentimentos e de grande parte da população de época, sendo por isto, perseguido, censurado e exilado. Assim, efetivaram-se a seguinte análise pesquisas literárias e jurídicas sobre a relevância e repercussões de Apesar de Você durante o último regime militar. Destaca-se que a canção é marcada por uma proposta de dialogismo inclusivo e pela busca por restauração do ambiente democrático.

Palavras chave: canção, Chico Buarque, dialogismo, censura, ditadura

Recebido em: 05/04/2019 Aceito em: 06/05/2019

*Doutor em Direito pela Universidade Complutense de Madri. É professor do Programa de

Mestrado em Direito da Universidade Católica de Brasília e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas Avançadas do Terceiro Setor (NEPATS) e do Grupo de Pesquisa: Terceiro Setor e Tributação Nacional e Internacional: formas de integração repercussão na sociedade, ambos da Universidade Católica de Brasília. Editor chefe da Revista de Estudos e Pesquisas Avançadas do Terceiro Setor – REPATS.

**Doutoranda em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB). Licenciada em Letras

(Português/Inglês) pela Universidade Estadual de Goiás (UEG). Mestra em Educação pela UnB. Professora Adjunta III, de Língua e Literatura de expressão Portuguesa e Inglesa no Centro Universitário Planalto do Distrito Federal (UNIPLAN).

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ABSTRACT: Currently in Brazil there is a generalized crisis that has imposed

challenges for Literature, Law and democracy itself. In this sense, it is necessary to revisit the experiences of the past and to (re) learn lessons, since freedom of expression is valuable and hateful censorship. Thus, using the methods of bibliographic review, deductive hypothetical analysis and phenomenology to analyze punctually, the authoritarian past, especially the period from 1964 to 1985, that used censorship as a means of restricting information, ideas, music among other artistic manifestations and intellectuals, and thus seek their maintenance of power illegitimately. As a way of contestation to that moment, composers like Chico Buarque de Holanda created songs that expressed their feelings and of great part of the population of the time, being for this, persecuted, censored and exiled. Thus, the following analysis was carried out on literary and legal research on the relevance and repercussions of Despite of You during the last military regime. It should be noted that the song is marked by a proposal of inclusive dialogism and by the quest for restoration of the democratic environment.

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INTRODUÇÃO

Em análise à conjuntura política e social da atualidade brasileira pode-se notar que tanto dados oficiais quanto alternativos demonstram a instabilidade e turbulência vivenciadas no Brasil desde 2003, ambas marcadas por uma aguda crise financeira, agravada por uma sensível instabilidade político partidária, testando, inclusive, as raízes da nossa terceira República e a qualidade da atual democracia brasileira.

Evidencia-se no presente trabalho que o Brasil de seu nascedouro até a atualidade vivenciou vários períodos autoritários, marcados por Constituições que foram impostas por regimes totalitários como ocorreram com os textos ápices de 1937, 1967 e 1969. Sendo que estes documentos possibilitaram tanto o cerceamento da democracia em nosso país, quanto a aplicação da censura, que é uma afronta ao direito de expressão.

Demonstra-se que há uma conexão entre o Direito e a Literatura no sentido de que ambos, cada um a seu modo, promovem o sentimento de pertencimento da pessoa à humanidade, o estabelecimento de direitos humanos e fundamentais, tais como o direito de liberdade de expressão atuam como esferas de proteção à própria democracia. Aponta-se aqui que autores especializados e consagrados em Direito ou em Literatura foram engajados nos tortuosos labirintos ideológicos da construção ou na desconstrução dos momentos autoritários que foram experimentados em nossa história e como demonstra-se, não foram poucos.

Como recorte metodológico, optou-se por demonstrar como a canção: “Apesar de Você”, do escritor, compositor e interprete Chico Buarque é um exemplo de produção artística amparada pelo direito à liberdade de expressão, que continha expressa previsão na Constituição de 1967/1969, contudo, foi censurada, basicamente por utilizar metáforas críticas, para demonstrar os seus sentimentos e de uma significativa parcela da população que era oprimida pelo regime autoritário civil-militar que se instaurou de 1964 a 1985 em nosso país.

Para tanto serão utilizados os métodos de revisão bibliográfica, com a finalidade de enquadrar a análise à situação da época, buscando utilizar autores

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que experimentaram aquele momento e logo se posicionaram a favor ou contra o ocorrido. Também se utiliza a técnica hipotética dedutiva tendo por finalidade realizar ilações entre os institutos utilizados pelo regime autoritário, sobretudo a censura e os efeitos específicos na canção pesquisada. Por fim, também se aplica o método fenomenológico, para analisar a canção de Chico Buarque e seu reflexo enquanto um protesto contra o sistema ditatorial que havia se instaurado no Brasil, através da compreensão de sentimentos e intenções que não se contentava com o regime autoritário instaurado a partir de 1964.

Apontam-se as técnicas metodológicas descritas, além de apresentar os principais conceitos sobre liberdade de expressão, destacando seu âmbito de proteção no ambiente jurídico nacional e internacional, demonstrando que este direito é ao mesmo tempo juridicamente fundamental, por expressar previsão constitucional, quanto um direito humano, devido a sua positivação em um conjunto de Tratados e Convenções Internacionais, sendo que alguns foram apresentados, em parte específica deste trabalho. Portanto, a liberdade de expressão impõe a sua proteção pelo Estado e pela Sociedade Internacional.

Porém, contrário àquela previsão jurídica, fruto da atualidade, o Brasil tem uma larga tradição, desde a nossa época imperial, de controle de publicações e aplicação de instrumentos de censura. Sendo que conceitualmente a censura é o ato prévio ou concomitante de se proibir a circulação de ideias e informações, geralmente contrárias ao governo, sendo considerada uma prática ditatorial. Salienta-se no texto que atualmente a censura é inconstitucional e ilegal, sendo que sua atuação fere o espírito democrático e requer vigilância da academia e dos demais setores da sociedade civil para que não seja novamente instaurada no Brasil.

Entende-se que o controle e a indicação etária de informações não é censura e sim uma atuação democrática, como por exemplo, a obrigação de identificação do autor, já que o resultado da divulgação de ideias ou informações, pode gerar responsabilizações aos seus autores, tal como ocorrem com calúnias, difamações ou mesmo distribuição de fake news, afinal todos os direitos tem limites, inclusive, a liberdade de expressão.

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Em seguida o presente texto analisa literariamente a canção: “Apesar de Você”, do consagrado compositor Chico Buarque, utilizando o método fenomenológico e a teoria de Mikhail M. Bakhtin, aponta seus principais pontos dialógicos, que compõe uma sofisticada técnica de construção de um texto referência, indica os jogos de palavras, refletindo acerca do tempo em que buscou burlar o aparelho de censura e demonstrou seus sentimentos de indignação contra o regime autoritário de 1964 a 1985.

Destarte, na análise literária daquela canção evidencia-se que a possibilidade de um dialogismo na canção que se esmera em abarcar momentos de inclusão social, tanto ao envolver em coro vozes, que dizem acreditar que: “apesar de você amanhã há de ser outro dia”, quanto também se insere toda uma gama de sentimentos populares que eram reprimidos pelos aparelhos estatais autoritários, entretanto se tornaram latentes na sociedade, especialmente entre estudantes e acadêmicos.

Por fim, aponta-se a relação Direito e Literatura que tiveram representantes que apoiaram ou se opuseram ao regime militar de 1964 a 1985, gerando um rico acervo que serve de referência sobre os momentos democráticos e autoritários brasileiros, sendo constituídos, sobretudo, como legados que podem ser utilizados com a finalidade de apontar caminhos para a manutenção do ambiente democrático, que devido à atual crise pode estar, mais uma vez, ameaçado.

1. CRISE E CENSURA NO BRASIL

Crise! Recessão, tensão econômica, sucessivas acusações de corrupção, desmandos, apropriação da Administração Pública, enfraquecimento político, exclusão social, intensa manifestação da mídia e uma aguda desconfiança da população com o seu governo ameaçam a democracia, República e o direito brasileiro. Sendo este cenário quase um roteiro de ficção ou mesmo de terror, porém estas são condições cotidianas em nosso país. Desta maneira, aqueles fatos nos levam a seguinte constatação feita por Raimundo Faoro, sobre os

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nossa experiência e tradição iberista apontam que: “Amanhã há de ser, outro dia” (HOLANDA, 2018, p. 1970).

Também se nota que a situação de crise brasileira é potencializada pela participação de eruditos, intelectuais e artistas, que atuam em prol dos lados opositores, com ferrenhas disputas ideológicas e geralmente com pouca comprovação científica dos fatos que são alegados, mas criam massas de apoiadores e descontentes que atuam com a reverberação das ideias apresentadas. Assim, uma aproximação entre o Direito que é um sistema social de criação de normas heterônomas, já a Literatura é uma arte que proporciona condições para criação de normas autônomas, ao aproximar a pessoa dos seus sentimentos de pertencimento à humanidade.

Não se deve olvidar ainda que esta conjuntura quase caótica de crise poderia se referir aos fatos ocorridos no Brasil em 1889, tal como descrito por Laurentino Gomes (2013), as revoluções de 1930, principalmente as revoltas tenentistas analisadas por Boris Fausto (1997), o regime autoritário de 1964 e os seus labirintos de apoiadores e opositores, que constantemente mudaram de lado, narrados por Hélio Silva (1978) ou a grave crise institucional vivenciada em 2016, que culminaram com as ações políticas e jurídicas que levaram ao impedimento da Presidenta Dilma Rousseff para o exercício de seu mandato tal como pesquisado por Leonardo Avritzer (2017).

Portanto, em uma síntese histórica, podemos afirmar que o Brasil presenciou sucessivas ondas de golpes de Estado, relações governamentais autoritárias e alguns avanços institucionais e democráticos, como a Proclamação da República em 1889, a Promulgação da Constituição de 1946 e a elaboração da Constituição cidadã de 1988. Estes movimentos foram de adiantamentos e retrocessos da democracia e das causas sociais brasileiras e foram fartamente registrados, tanto por escritores clássicos como Tobias Barreto (2011) e Olavo Bilac (1917), quanto por juristas cardinais tais quais: Rui Barbosa (1896), Pontes de Miranda (2002) e Miguel Reale (1965).

Assim, entre os movimentos de “sístoles e diástoles”, discutidas por Golbery do Couto e Silva (2003), que para além da opinião de seus críticos a apoiadores, presenciou grande parte das decisões tomadas pela cúpula do

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regime autoritário que governou o Brasil de 1964 a 1985, no maior período continuo de estado de exceção constitucional brasileiro, proporcionado suporte burocrático, para a acentuação do controle imperioso, inclusive, através da censura artística, cultural e científica que assolou nosso país em diversos períodos, especialmente durante o último regime militar de 1964 a 1985.

Uma consequência histórica daquele período, em que houve um regime de exceção com participação de civis, militares e inicialmente com apoio popular, foi demonstrada por Aarão Reis, para quem: “Em 1968, o país vivia sob o segundo governo ditatorial. Ele veio com promessas de “diálogo” e “humanização”, porém, estas boas palavras não mereciam crédito da opinião pública (2018, p. 2). Exemplificando, o regime militar viveu fases distintas e sucessivas ondas de perseguições políticas e, consequentemente, de menor ou maior rigor na prática de censura e repressão aos seus opositores.

Constata-se que em comum a cada momento histórico brasileiro de grave crise institucional, é que houve a atuação da criação das “verdades oficiais”, que atuaram como um catalizador dos instrumentos utilizados para motivar a opinião pública a aceitar a retidão dos atos estatais praticados em seu nome, como, por exemplo, o lema: “Meu Brasil eu te amo”. Bem como a atuação de um aparato estatal para realização da censura de opiniões contrárias ao grupo que estava no poder, como será narrado à frente.

Assim, pontuamos que na história brasileira, principalmente em momentos de graves crises intestinas, presenciamos um constante engajamento artístico, político e literário em causas de transformações sociais e estatais, possibilitando um rico acervo cultural, que possibilita traçar paralelos entre a realidade da época e os seus desafios, através de olhares díspares que se contrapõe em prol em crenças e intenções, que inclusive, auxiliaram a moldar a identidade multifacetada do nosso país, podendo ser exemplificado neste sentido, a obra “A luneta mágica” de Joaquim Manoel de Macedo (2009). Sendo que esta obra nos ajuda a compreender realidade nacional, com uma metáfora sobre o maniqueísmo, costumeiro do cidadão brasileiro, sobretudo sobre a política e a aplicação da censura no Brasil.

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1.1 Uma análise jurídica da censura no Brasil

Juridicamente “a liberdade de expressão é um dos mais relevantes e preciosos direitos fundamentais correspondendo a uma das mais antigas reivindicações dos homens de todo o tempo”, tal como expuseram Gilmar Mendes e Paulo Gonet (2017, p. 263). Neste sentido, a liberdade é um direito humano por ter previsão em vários tratados e acordos internacionais, como o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos1 e a Convenção Americana

sobre Direitos Humanos2, inclusive, decisão da Corte Interamericana sobre este

assunto, com a Opinião Consultiva OC n. 5/19853 e também é um direito

fundamental por expressa positivação em diversas constituições brasileiras, inclusive, na Constituição Brasileira de 1988.

Portanto, o direito a liberdade tem uma hierarquia superior no ordenamento jurídico brasileiro, vinculando ações estatais e particulares, no sentido de que todas as pessoas podem fazer tudo aquilo que a lei não proíbe, enquanto a Administração Pública somente poderá realizar ações com base nas especificas previsões legais, tal como é o espírito do Estado Democrático de Direito.

O direito a liberdade, ainda por expressa previsão constitucional tanto se desdobra em condições específicas como liberdade de locomoção, religião,

1 O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos foi ratificada pelo Brasil por meio do

Decreto n. 592, de 6 de julho de 1992.

2 A Convenção Americana sobre Direitos Humanos foi ratificada pelo Decreto no. 678, de 6 de novembro de 1992.

3 Segundo a Corte Interamericana de Direitos Humanos: “O artigo 13 (Pacto São José) afirma

que a liberdade de pensamento e de expressão "compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e ideias de toda natureza..." Estes termos estabelecem literalmente que quem está sob a proteção da Convenção tem não apenas o direito e a liberdade de expressar seu próprio pensamento, mas também o direito e a liberdade de buscar, receber e difundir informações e ideias de toda natureza. Portanto, quando se restringe ilegalmente a liberdade de expressão de um indivíduo, não é apenas o direito desse indivíduo que está sendo violado, mas também o direito de todos a "receber" informações e ideias, do que resulta que o direito protegido pelo artigo 13 tem um alcance e um caráter especiais. Põem-se assim de manifesto as duas dimensões da liberdade de expressão. De fato, esta requer, por um lado, que ninguém seja arbitrariamente prejudicado ou impedido de manifestar seu próprio pensamento e representa, portanto, um direito de cada indivíduo; mas implica também, por outro lado, um direito coletivo a receber qualquer informação e a conhecer a expressão do pensamento alheio” (CIDH, 2018, p. 7)

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informação e de expressão, sendo que cada uma de suas facetas tem o seu âmbito de proteção e um claro limite de restrição que pode ser aplicado.

Já a liberdade de expressão se caracteriza como tentativa: “participar a outros suas crenças, seus conhecimentos, suas concepções do mundo, suas opiniões políticas ou religiosas, seus trabalhos científicos”, como lecionou o constitucionalista. José Afonso da Silva (2007, p. 88). Cabendo a lembrança que nenhum direito ou garantia é absoluto, ou seja, todos eles comportam limitações, tendo como exemplo o artigo 5°, IV da Constituição de 1988 que assim positivou: “é livre a manifestação de pensamento vedado o anonimato” (BRASIL, 2018, p 2), apontando a possibilidade do cidadão se posicionar sobre as suas opiniões em publico, sem prévia autorização da Administração Pública, mas impondo a sua identificação, para que caso seja necessário, haja a sua responsabilização, no âmbito civil ou criminal.

Nesta linha de pensamento, se destaca no âmbito da demonstração das limitações a está espécie de liberdade, o seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal (STF), que é a última instância interpretativa dos direitos fundamentais brasileiros, sobre a transmissão televisiva, que é uma concessão de serviço público, sendo que a nossa Corte Suprema assim sentenciou sobre este tema na atualidade:

O Plenário (...) julgou procedente pedido formulado em ação direta para a inconstitucionalidade do § 1º do art. 4º da Lei 9.612/1998. O dispositivo proíbe, no âmbito da programação das emissoras de radiodifusão comunitária, a prática de proselitismo, ou seja, a transmissão de conteúdo tendente a converter pessoas a uma doutrina, sistema, religião, seita ou ideologia. [ADI 2.566, rel. p/ o ac. min. Edson Fachin, j. 16-5-2018, P, Informativo 902.] (BRASILb, 2018, p. 5)

No caso da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n° 2.566. houve a análise jurídica sobre a aquisição de espaços em horário televisivo por grupos religiosos que buscam divulgar a suas convicções, amparadas pelo direito fundamental à liberdade, inclusive, a de expressão. Porém, a transmissão de programas de televisão é uma concessão de serviços públicos e deve ser

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realizado com a função educativa. Sendo que o resultado foi o reconhecimento pelo STF de uma limitação a esta modalidade de liberdade.

Contudo, há um ponto daquele julgado que devemos clarear que é limitação não significa censura. Enquanto o limite ao direito de expressão proporciona um âmbito de atuação dos envolvidos, dentro de um parâmetro democrático, como ocorre com o dever estatal de evitar o acesso de material pornográfico a crianças, ou a indicação de faixas etárias para programas abertos ao público em geral.

Já a censura é um instrumento ditatorial que protege apenas o arbítrio e a ilegitimidade da circulação de ideais na sociedade. Sendo que a academia jurídica vem se posicionando que este instrumento contra a liberdade, comporta graus de aplicação, que atuam desde a atuação do executivo até a aprovação de leis pelo Poder Legislativo, que possibilitem a repressão e a própria censura, atuando como camadas de controle estatal e podendo ser descrita da seguinte maneira:

Pode-se adotar uma definição estrita de censura, ou preferir conceitos mais amplos. Em sentido estrito, censura é a restrição prévia a liberdade de expressão realizada por autoridades administrativas, que resulta na vedação à vinculação de um determinado conteúdo. Este é o significado mais tradicional do termo. Neste sentido, a censura envolve um controle preventivo das mensagens cuja a comunicação se pretende realizar. Trata-se do mais grave atentado à liberdade de expressão que se pode conceber, que é absolutamente incompatível com os regimes democráticos. Esta forma de censura posta em prática no Brasil em períodos ditatoriais foi completamente banida pela Constituição e não pode ser objeto de relativizações, estando a margem de quaisquer ponderações. (WEINGARTNER NETO, 2018, p. 284)

Portanto, em sentido estrito a censura é o impedimento prévio ou a posteriore pela Administração Pública de veiculação para o público de qualquer forma de demonstração cultural, social, política e etc. Assim, registramos, mais uma vez, a censura é incompatível com a democracia. O espirito do Estado Democrático de Direito impede o exercício da censura, já que o Preambulo Constitucional declara que nosso texto jurídico fundamental foi: “destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança,

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o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos” (BRASIL, 2018, p.1).

Quanto à vedação de censura no Brasil atualmente três lições devem ser aprendidas a partir de nossas experiências históricas e jurídicas: a primeira é que, sob a égide da Constituição de 1988, o cerceamento prévio de informações é completamente incompatível com o nosso ordenamento jurídico. Cabendo, apenas limitações de ordem protetivas e democráticas, como as que já foram descritas.

Portanto, livros, músicas, manifestações artísticas, opiniões pessoais não podem ser censuradas previamente. Porém, pode (e deve) ocorrer à responsabilização de autores que causem ameaças ou lesões a direitos de outras pessoas, tal como ocorrem com a divulgação de fake news, ou a difamações pessoais, tais como o que acontece repetidamente nas redes sociais.

A segunda lição é que a aplicação da censura em nosso país é uma herança que foi aceita e abraçada pela tradição estatal do Brasil, do ponto de vista histórico, lembramos que o governo monárquico português por pressões laicas e religiosas estabeleceu formas redundantes de controle sobre a publicação e circulação de livros, assim, em: “1794, na regência de D. João VI, a censura volta a ser exercida pelas três instâncias: a Inquisição, o Ordinário e a Mesa do Desembargo do Paço” (MARTINO; SAPATERRA, 2006, p. 240). Sendo que este modelo foi exportado para o Brasil com a vinda estratégica da família real para o nosso Estado.

A prática da censura em terras brasileiras tem raízes portuguesas e constituiu-se num fenômeno histórico de longa duração com trajetória sinuosa. Nos períodos democráticos, a função social de combate à licenciosidade e o papel pedagógico na formação do indivíduo justificaram a existência de censura enquanto que, nos regimes autoritários, os governos brasileiros não só se apropriaram de uma estrutura preexistente que se orientava pela moral vigente como também incorporaram a censura política que se amparava na manutenção da ordem. (SOUZA, 2010, p. 235).

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Propaganda (DIP) e o regime militar de 1964, que empoderou deus censores com autoridade, inclusive, de distribuir “bilhetinhos4” proibindo exibições de

eventos artísticos e culturais, que aconteciam em tempo real, tal como estudou Lucas Carvalho (2014). A título de exemplo:

a VEJA (revista) ficou submetida à censura de 1968 a 1976. No período da censura prévia, em que tudo era lido pelos censores antes de ser publicado, foram vetadas 10.352 linhas de texto, 44 fotos e vinte ilustrações. (VEJA, 2018, p. 8)

A terceira lição é que a Constituição de 1988 e logo todas as leis brasileiras que estão vinculadas a ela não podem coadunar com a censura, isto porque o constituinte de 1988 buscou marcar nosso texto ápice, com instrumentos que impedem a reutilização dos instrumentos que foram utilizados pelo regime militar de 1964 para censurar as manifestações populares e sociais, reconhecendo-se:

Dessa forma, a censura de diversões públicas não foi criada na ditadura militar para atender às demandas da época, mas redefinida por lideranças do governo conforme determinações políticas. Assim, a re-significação da censura e a centralização do serviço responderam às necessidades conjunturais dos governos militares de assumir o controle nacional da produção artística que transgredisse preceito ético-moral ou que veiculasse mensagem político-ideológica. (SOUZA, 2010, p. 235).

Sendo que esta situação foi causada porque o nosso último regime militar brasileiro criou duas Constituições a primeira em 1967 e uma segunda em 19695

estabelecendo condições jurídicas para a sua manutenção no poder e consequentemente, para a aplicação da censura. Além é claro do Ato

4 “no que concerne aos famosos bilhetinhos, cabe mencionar que, muitas vezes, esses eram

escritos à mão e não possuíam sequer a indicação da autoridade responsável pela ordem. Além disso, seguindo característica presente em toda a censura na ditadura militar, as determinações eram muito seletivas, no sentido de que atingiam mais alguns veículos do que outros” (CARVALHO, 2014, p. 85)

5 Há uma divergência sobre a existência de uma nova Constituição de 1969, já que ela surgiu

de uma emenda constitucional. Contudo, seguimos a posição do Supremo Tribunal Federal para quem ao extrapolar os limites do poder reformador, a Emenda 1/1969, se transformou em uma nova Constituição, ainda que autoritária.

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Institucional n°. 5 que concedeu poderes praticamente totalitários para a chefia do Poder Executivo.

À luz da Constituição de 1967 e de 1969, verificamos o engajamento de intelectuais e acadêmicos, que previam a liberdade de expressão os estudiosos do Direito da época se esforçaram para interpretar a previsão constitucional, como por exemplo, para Pontes de Miranda para quem: “Não há censura (pré-censura) por se tratar de qualquer das espécies do art. 150, § 8°6, in fine: há

apenas punição, incluída a apreensão imediata à divulgação ou ato mesmo de a começar” (1968, p. 156).

O contraponto necessário, sob a atual legislação é: - Ora bola, apreensão prévia é censura! Não comportando nenhuma ponte hermenêutica em contrário. Bem como, o reconhecido lente, explicando os institutos jurídicos da sua época continuou sua doutrina demonstrando o alinhamento do direito a “Liberdade de não emitir o pensamento” com o instituto jurídico do abuso do direito (1968, p. 157), possibilitando hermeneuticamente a atuação da censura.

Além da previsão constitucional o regime militar impôs um conjunto de leis, que agora são consideradas autoritárias devido ao seu conteúdo que invadia a liberdade de expressão como: o Decreto n. 56.510 de 1965, que regulamentou as funções da Polícia Federal, estabelecendo competências para a prática da censura. O Decreto-lei 43 de 1966, que criou o Instituto Nacional de Cinema, com poderes para fiscalizar e censurar roteiros e filmes nacionais e estrangeiros e o Decreto-lei 1077 de 1970, que regulamentou a previsão constitucional do art. 150, § 8°, que previa a liberdade de expressão, limitando-o ao controle estatal mediante a aplicação de censura.

Uma nota necessária para se afastar o maniqueísmo presente na literatura sobre o nosso último regime militar, foi que de 1964 a 1985, cidadãos,

6 Art 150 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pais a

inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. § 8º - É livre a manifestação de pensamento, de convicção política ou filosófica e a prestação de informação sem sujeição à censura, salvo quanto a espetáculos de diversões públicas, respondendo cada um, nos termos da lei, pelos abusos que cometer. É assegurado o direito de resposta. A publicação de livros, jornais e periódicos independe de licença da autoridade. Não será, porém, tolerada a propaganda de guerra, de subversão da ordem ou de

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militares e servidores civis sofreram, tanto com a censura, quanto com os Inquéritos Penais Militares (IPMs), que eram utilizados para perseguir opositores do governo autoritário, ou seja, todos aqueles que potencialmente eram contrários ao regime militar foram perseguidos, reconhecendo-se doutrinariamente que: “Uma das marcas da ditadura vivida pelo Brasil entre 1964 a 1985 foi à prática da cesura” (PAIXÃO; CARVALHO, 2016, p. 336).

Como costuma ocorrer em países que viveram regimes políticos de cerceamento das liberdades, as primeiras descrições detalhadas sobre a Ditadura Militar brasileira vieram de uma memorialística que se tornou abundante e variada. Havia a imprensa, por certo, que em alguns momentos produziu matérias reveladoras, no arrebatamento de campanhas indignadas, como as de Carlos Heitor Cony e de Marcio Moreira Alves, ou nos desvãos de textos sinuosos que buscavam contornar a censura. (FICO, 2002, p. 251)

Assim, uma das formas de se evitar a censura e a perseguição dos IPMs, constantemente incentivada por populares e instituições que enviavam cartas a censores e autoridades como demonstrou Fico (2002), foi à produção de obras artísticas com duplo sentido interpretativo, se aproveitando que o aparelhamento estatal, não havia se preparado e equipado para um país de dimensões continentais como o nosso e que, além disso, já possuía uma intensa e rica produção cultural, tal como apontou Maria Gouveia (2014).

Neste contexto a música teve um grande impacto na população, tanto pelos avanços da indústria radiofônica, quanto à introdução da televisão em nosso país, que foi mais uma fonte de entretenimento para a população, ou ainda, conforme pesquisa sobre este assunto:

No Brasil, a música popular, provavelmente mais do que qualquer outra manifestação cultural, por sua penetração indubitável na camada média urbana da população, teve papel fundamental na formação de uma identidade nacional. A introdução do sistema elétrico de gravação, já em 1927, proporcionou um enorme alcance deste tipo de manifestação cultural. Entretanto, foi nos anos 1970, com o processo de consolidação da indústria fonográfica e da televisão, que a música teve seu período de maior crescimento. (CAROCHA, 2006, p. 190) Destacando-se que: “O clima de censura que se instalou no Brasil, especialmente no após-68, com a edição do AI-5, transformou a música no

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principal recurso de diálogo com o povo” (MAIA; STANKIEWIECZ, 2018, p. 12). Neste contexto de exposição pública, os autores e intérpretes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Geraldo Vandré e Gilberto Gil e tantos outros foram assistidos, censurados e perseguidos e às vezes exilados, pelo aparato autoritário do nosso último regime militar.

Nesta linha de pensamento: “as canções retratavam a repressão militar do período e denunciavam também o clima de terror e tensão trazidos pelo regime” (MAIA; STANKIEWIECZ, 2018, p. 16), Sendo um dos exemplos, a situação do compositor Chico Buarque de Holanda, que após um período de auto exilio na Itália, retornou ao Brasil e em resposta ao recrudescimento das ações estatais escreveu e musicou a canção “Apesar de você”, que “ele considera uma de suas únicas músicas realmente de protesto”, conforme analisou Wagner Homem (2009, p. 87).

Uma prova da força da censura naquela época é demonstrada pela edição do Jornal Tribuna da Imprensa do dia 28 de junho de 1971, que apontava que o disco “Apesar de Você”, estava em sétimo lugar na lista dos mais vendidos no Brasil, contudo, a hemeroteca da Biblioteca Nacional indica apenas duas referências sobre aquele álbum em toda a década de 1960, ou seja, uma das músicas mais compradas por consumidores/cidadãos, não tinha espaço na mídia devido à atividade dos censores.

2 DIALOGISMO NA CANÇÃO: “APESAR DE VOCÊ”: Uma forma de protesto

Tal como demonstrado entre os anos de 1961 a 1985 o Brasil experimentou um regime de exceção, com um governo civil e militar, que através de instrumentos autoritários, como a censura, controlou nosso país por “anos de chumbo”. Sendo que uma das formas de contestação aquela situação foi a construção de músicas, peças de teatro e obras literárias com duplo sentido, para se evitar a atuação dos aparelhos repressivos.

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Assim, este texto se focará na análise interdisciplinar, mas fortemente influenciada pelo pensamento de Mikhail M. Bakhtin7 da canção: “Apesar de

Você”, do compositor Chico Buarque que é tida como umas das mais significativas na história da contestação artística e musical brasileira, inclusive, tendo sido censurada, por àquele regime militar brasileiro

Entende-se por linguagem, especialmente a musical, aquilo que se usa para estabelecer uma relação, o que pode estar implícito ou explícito entre dois elementos da linguagem humana. Fator importante para a compreensão e estabelecimento de estruturas da língua, fala e pensamento (KOCH, 2003). São atos da fala, contexto da situação, interação interlocução, tensão comunicativa, que formam as características de recepção, emissão, fala, linguagem e interação, questão emissor/receptor. A linguagem humana, refere-se ao conjunto de fatores ou situação vivenciada em sociedade, passível de se reconstituir.

As noções de polifonia e dialogismo foram formuladas para dar conta das intenções dos emissores e das atitudes dos receptores. Ambas as funções podem ser tomadas em dois sentidos: um restrito e o outro amplo. As maneiras de produção de conhecimento são intimamente ligadas a elementos unificados apenas no espaço e no tempo, de maneira externa (BAKHTIN, 2006). A polifonia expressa à atitude do receptor de aceitar a manifestação do autor em seu enquadramento. Linguagem, portanto seria a unidade de responsabilidade histórica, social e cultural que garante a vivência e a compreensão da sociedade enquanto estrutura dialógica e ao mesmo tempo polifônica.

A presente análise reflete acerca de uma concepção de linguagem enquanto signo ideológico, um caminhar dialógico, o dialogismo têm um corpo

7 Mikhail M. Bakhtin surgiria em uma Rússia Bolchevique de pensamento

filosófico-religioso-científico, buscava teorizar sua estruturação a partir das ideias de Marx e não do Partido Comunista, stalinista e leninista, de matriz radical, pois sua discussão era acerca do modelo ocidental, que era positivista, uma contradição que foi sua marca durante toda obra (RIBEIRO, 2006). A fim de dar continuidade ao conhecimento filosófico que embasaria seus estudos literários, pois as facilitações positivistas ou marxistas oficiais o fizeram romper com algumas opções, sua escolha foi pelo movimento de filosofia da linguagem ou translinguística, que mais tarde o afastaria das filosofias da forma, pois essas trabalhavam com um mundo pronto e imutável.

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de ideias macro. Na percepção bakhtiniana de polifonia ocorreria, portanto, a diferenciação no interior da canção, de uma unidade de vozes, assim como existe a individualidade de cada voz na unidade da composição, além da diversidade de versos e melodias que formam um conjunto em sua singularidade.

Em consonância com Bakhtin, Koch (2003) observa que a linguagem é o sistema que proporciona ao homem comunicar suas ideias e sentimentos, nesse sentido ao utilizar a canção “Apesar de você”, após sua composição e tessitura, Chico Buarque indica os elementos linguísticos que compõem sua escrita, além de direcionar a percepção da comunicação humana como sendo mediada por linguagens, entre elas a linguagem musical, que é integrada pela composição, melodia, canto, e pela linguagem não-verbal, que é a utilização de recursos como imagens, desenhos, símbolos, músicas, gestos, tom de voz (FARACO; MOURA, 1998).

Essas linguagens segundo os autores são a relação de interação entre comunicação e sociedade, pois uma não pode existir sem a outra. Sendo assim, a linguagem não é uma prisão onde muros e grades se esforçam para impedir a influência de fatores externos, ela é sim, influenciada e influenciadora de circunstâncias econômicas, políticas e culturais de cada época. Como seu maior ponto referencial é a formação reflexiva e cultural de um povo as questões polifônicas, de acordo com Schaefer (2011), são resultados de fatores econômicos e sociais discutidos no interior da sociedade, tendo, por conseguinte uma repercussão, que seria a consequência externa, enquanto as razões psicológicas seriam as consequências internas. ”Hoje você é quem manda/ Falou, tá falado/ Não tem discussão, não/ A minha gente hoje anda/ Falando de lado/ E olhando pro chão, viu”.

Na estrofe acima apresentada há uma combinação de movimentos melódicos que traduzem mensagens e intenções, e nessa categoria metafórica (CEREJA; MAGALHÃES, 2000). Essa, por sua vez, é um sistema de significações e movimentos que emitem significado ao ser utilizado na comunicação musical, especialmente na canção de protesto, principalmente

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Nesse sentido, a linguagem musical se utiliza tanto da melodia quanto da linguagem verbal que são integrados simultaneamente por imagens, símbolos e diálogos. Contudo, para que a canção como construção linguística possa explicitar seu caráter de contestação às imposições sofridas por pessoas pelo sistema coexistem fatores que explicitam seu teor (FARACO; MOURA,1998).

Na seguinte estrofe: “Você que inventou esse estado/ E inventou de inventar/ Toda a escuridão/ Você que inventou o pecado/ Esqueceu-se de inventar/ O perdão“, não há negação da repercussão de condições infra estruturais desse estado, bem como não nega que uma perturbação conduzida pela psique, ao se referir à escuridão possa contribuir para que vozes interiores traduzam modos polifônicos (SCHAEFER, 2011). Ambos os termos, “estado e toda a escuridão“ podem explicar a polifonia no interior do samba como música em que as múltiplas vozes que estabelecem as condições para a linguagem ocorrem de maneira efetiva, como é o caso do coro, logo ao início da canção, dando ideia de unidade e dialogismo internos que externam a potencialidade crítica do compositor.

Em consonância com a perspectiva bakhtiniana, Schaefer (2011), conduz à reflexão de que as novas formas artísticas são gestadas durante os séculos, e a evolução da linguagem é, pois uma das condições ideais que se apresentam, para que haja uma realização de novas formas estéticas e linguísticas. Sendo que cada uma das formas é gestada ao longo da história, pois a arte é influenciada pela história e vice-versa, assim como a música e suas demais vertentes como é o caso da canção.

Destarte, a composição de Chico Buarque deve ser compreendida a partir de sua insatisfação com um regime e sociedade advindos do regime militar, como no trecho a seguir: “Eu pergunto a você/ Onde vai se esconder/ Da enorme euforia“ que em suas condições sociais e culturais, denotam uma forma estética que propicia a compreensão de seus processos de criação, essas condições e seus desdobramentos vinculam sua dominação com a transposição filosófica ou científica para o disperso senso comum.

A compreensão de linguagem como um processo de signos que se relacionam e formam um sistema, em seu fator primordial, é entendido como

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uma organização sistêmica que serve como meio de comunicação entre os indivíduos (FARACO; MOURA, 1998). A canção, linguagem musical, como “um universo particular, o universo de signos”, pode ser entendida em seus construtos (BAKHTIN, 2009, p. 10). São, portanto, objetos naturais e adquirem com o passar do tempo particularidades que tornam seu significado amplo e indicador do significante, pois pode ser que distorça, reflita e retrate a realidade que se apresenta.

O conceito “bakhtiniano” aqui compreendido é o de objeto do discurso que se liga ao sujeito, e é intermediado pelo significante. Neste momento o autor-compositor é reconhecido como sujeito da obra, essa concepção de Bakhtin (2009) é sua marca. O teórico estudava a linguagem e suas incursões no contexto social, cultural, histórico e econômico, “tudo que é ideológico possui um valor semiótico” (BAKHTIN, 2009, p. 32), pois no domínio dos signos na linguagem, o ato de representar e simbolizar os campos de criatividade provêm de seu valor ideológico que dá sentido à obra, e o valor semiótico de relações no interior da obra. Um bom exemplo, para esse valor semiótico é o seguinte trecho da canção: “Quando chegar o momento/ Esse meu sofrimento/ Vou cobrar com juros, juro/ Todo esse amor reprimido/ Esse grito contido/ Este samba no escuro”. Ao demarcar o autor-compositor, aquele que tem o labor, aquele que cria o sujeito da obra, sua atuação faz com que esse sujeito abandone a tendência monológica, (SCHAEFER, 2011), um exemplo: “Apesar de você/ Amanhã há de ser/ Outro dia“, essa tendência é muito comum nas utilizações tradicionais que são estruturadas pela linguagem.

Sendo assim, o autor teria a tarefa de criar condições para que as vozes da canção, portanto, não ocorreria uma sobreposição de estrofes em relação à sonoridade ou melodia, ele na verdade os conduziria em uma dinâmica de diversidade, de um eu em relação a outro eu (BAKHTIN,2006).

Linguagem é o dialogismo da palavra, e estaria em constante interação com o mundo e a realidade que o cerca, tanto no interior da obra literária quanto em sua relação com o mundo exterior (BAKHTIN, 2006). Assim, ao se pensar que: "tudo na vida é diálogo, ou seja, contraposição dialógica" (BAKHTIN, 2009,

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palavra não pode ser concretizada como coletiva, pois sua formação não é monológica ou homofônica, demonstrando, portanto, que a canção representava os sentimentos de grande parte da população que não aceitava o regime autoritário que se instaurou e era coagida por instrumentos de repressão como a censura.

A forma estética não pode ser fundamentada de dentro da personagem, de dentro do seu propósito semântico, material, ou seja, de dentro da significação puramente vital; a forma é fundamentada do interior do outro – do autor, como sua resposta criadora à personagem e sua vida, resposta que cria valores que por principio são transgredientes à personagem e à sua vida mas mantêm com elas uma relação essencial. Essa resposta criadora é o amor estético. (BAKHTIN, 2003.p.82)

Contrariamente à posição adotada (BAKHTIN, 2003) em que a forma estética e a significação, precisam ser apuradas no interior do outro, para que sejam estabelecidos valores, tanto à personagem quanto à relação criadora. A linguagem desempenharia funções de acordo com a ênfase que se daria aos processos de comunicação, seria a compreensão da linguagem como uma construção organizada internamente. (CEREJA; MAGALHÃES, 2000). Os conceitos de polifonia e dialogismo não eram apenas relacionados às teorias linguísticas ou literárias, mas sim em relação imediata com as questões de prática cultural, que com o passar do tempo, tentam se impor aos discursos monológicos (BAKHTIN, 2006).

A canção traz os seguintes versos: “Eu pergunto a você/ Onde vai se esconder/ Da enorme euforia/ Como vai proibir/ Quando o galo insistir/ Em cantar/ Água nova brotando/ E a gente se amando/ Sem parar.“ O discurso, sustenta a diversidade dialógica "não se trata da ausência (do autor), mas da mudança radical da posição do autor" no caso desta canção, o compositor Chico Buarque (BAKHTIN, 2006, p. 5). Nesta concepção coexiste uma construção de significados na canção. A distinção da linguagem musical como construto, mas também como singularização e instrumento de percepção/recepção das informações, emoções, conteúdos, imagens e demais linguagens, na

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perspectiva de diferenciação de linguagem e conceitos de polifonia e dialogismo (BRAIT, 2010).

Essa concepção de uma representação da realidade relaciona-se com a percepção da arte em constante catarse para a construção de um pensamento reflexivo, pois o homem acumula conhecimentos, por utilizar e empregar a linguagem (BAKHTIN, 2006). Essa capacidade de aprender é diferente nos humanos e nos animais, a acumulação de conhecimentos pelo homem e sua transposição para a outra geração é o que permite a mudança constante na linguagem humana, pois a humanidade passa por transformações, e as atividades sociais e linguagem se correlacionam, com essas mudanças (FARACO; MOURA,1998).

Ao objetivar uma indicação dos estudos de signos, como formas constitutivas para os estudos acerca da canção pode-se sentir, como no trecho: “Você que inventou a tristeza/ Ora, tenha a fineza/ De desinventar/ Você vai pagar e é dobrado/ Cada lágrima rolada/ Nesse meu penar“, assim como as diferenças que podem estabelecer-se entre o “discurso” e a “língua”, o “discurso particular” e o “discurso corrente” denota o diálogo traçado entre essas estruturas como inter-relação de aspectos contrários e opostos (SCHAEFER, 2011).

Em consonância com o seguinte trecho da canção: “Apesar de você/ Amanhã há de ser/ Outro dia/ Inda pago pra ver/ O jardim florescer/ Qual você não queria/ Você vai se amargar/ Vendo o dia raiar/ Sem lhe pedir licença/ E eu vou morrer de rir/ Que esse dia há de vir/ Antes do que você pensa“, neste sentido, se comprovará que os problemas fundamentais da linguagem, não são apenas linguísticos, mas também se repetem nas estruturas e domínios artísticos. A relação entre linguagem, canção e discurso reaparece então como o espaço geral onde essas questões são dispostas (SCHAEFER, 2011).

O diálogo com o restante da obra de Chico, em que o samba e o Carnaval (que, em apesar de você, se materializam nesse DIA) resgata esse horizonte utópico de libertação da repressão que é retratada em “O Carnaval é outra das metamorfoses do ‘Dia’ – essa entidade mítica e utópica, cuja chegada propiciará a liberação e a redenção.” (MENESES, 2000, p. 69).

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A construção da identidade na linguagem humana, deve configurar-se em relação profunda com outras expressões culturais, o conhecimento de mundo permite a realização de processos de compreensão e saber, que conduzem à valorização do discurso e linguagem na sociedade que a integra (KOCH,2003). Cultura é a tradição de fazer humano que é transmitido de geração a geração, o que desenvolve no ser uma soma de realizações que confluem em linguagem, sendo ao mesmo tempo uma condição para sua existência (FARACO; MOURA,1998).

A canção como arte em interação, orienta a construção da fala como questão individual na língua a partir da melodia (PERRONE-MOISÉS,1998). Os meios de comunicação e práticas sociais colaboram na interpretação da evolução social, essa contextualização da melodia e podem ser canção utilizadas mais vezes no trecho a seguir: “Apesar de você/ Amanhã há de ser/ Outro dia/ Você vai ter que ver/ A manhã renascer/ E esbanjar poesia/ Como vai se explicar/ Vendo o céu clarear/ De repente, impunemente/ Como vai abafar/ Nosso coro a cantar/ Na sua frente“, nessa concepção Faraco e Moura (1998) pontuam a finalidade do compromisso ético com a linguagem musical durante o regime ditatorial.

Encontramos o relacionamento de interesses e objetivos que fizeram com que Chico Buarque produzisse a linguagem de protesto que orienta toda a composição da canção Apesar de Você, o conhecimento de mundo é visto pela autora como uma espécie de dicionário enciclopédico que dá origem aos conhecimentos e à cultura que dispostos na mente, necessitam de um trabalho mais elaborado por meio da macroestrutura na linguagem (KOCH, 2003). Para conceituar a linguagem humana é necessário que se compreenda que os objetos reais e materiais estão ambos dispostos com a finalidade de entender o sentido da sociedade (BAKHTIN, 2003).

3.1 Discurso/canção monológico versus dialógico

O discurso, a canção no caso, não pode ser vista como algo fechado e acabado, ela é um processo heterogêneo de conjunção entre sujeitos. Uma

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relação dialógica se produz entre discursos interpessoais (FREITAS; MARTINS, 2009). A questão da alteridade, leva em consideração a relação entre o eu e o outro, originado no processo de aquisição de um discurso que leve em consideração a aplicação dos elementos culturais, sociais, linguísticos e musicais, considerando que cada um dos envolvidos é um sujeito de direito a quem deve ser garantido o direito de expressão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O atual momento brasileiro de crise generalizada impõe o dever de cuidado por parte da sociedade e especialmente da academia que deve buscar fontes no passado e no presente para auxiliar na resolução dos problemas que estão se instaurando com cada vez, mais força. Entre estas situações é inadmissível a restauração de regimes autoritários que foram tão pressentes em nosso contexto.

Assim, esta pesquisa e análise de documentos, reportagens, músicas e vídeos situados acerca do regime autoritário que se estabeleceu no Brasil em 1º de abril de 1964, teve por finalidade oferecer uma modesta colaboração, afinal as considerações são sugestivas, para que possam ser apresentadas outras análises e leituras do processo composicional. Reconhecemos a importância da figura de Chico Buarque na construção identitária da canção de protesto e como suas marcas na letra e melodia aproximam a música de uma realidade social.

Sendo assim, chegamos à fase final desse artigo com a convicção de que se faz necessária a compreensão da influência dessas narrativas artísticas para a construção de um imaginário coletivo que caracterize como se deu a censura, o regime autoritário e as perseguições pelas quais intelectuais, artistas, estudantes, professores e outros membros da sociedade civil passaram no decorrer dos chamados “anos de chumbo”. Nessa concepção utilizamos do ponto de vista metodológico a revisão bibliográfica em uma contextualização histórica, o método hipotético dedutivo para estabelecermos as ilações necessárias entre o período autoritário, os procedimentos de censura no Brasil e a canção: “Apesar de você” de Chico Buarque. Além de uma análise

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fenomenológica da referida produção musical e sua cotextualização dentro da teoria literária e de análise do discurso como produtor da interação sociedade – homem.

O direito a liberdade de expressão estão intrinsecamente relacionados à criação artística, e nesse sentido o autor - compositor estabelece vínculo com seu público ao sistematizar a canção de protesto, que de acordo com Chico Buarque é sua música mais latente no sentido de questionamento ao regime imposto. Destarte, ao sofrer censura de sua canção o autor – compositor indica essa limitação entre linguagem musical e melodia, além de denotar a problemática vigente, as contradições do período são estabelecidas pelo amplo engajamento políticos dos intelectuais, estudantes e outras parcelas da sociedade civil.

Por conseguinte ao compor a canção, Chico Buarque posiciona-se em relação ao autoritarismo que se instauraria, sua criticidade se constrói no interior da melodia, sendo desenvolvida por toda a letra da canção e se denota na observação do movimento histórico e social que apresenta. Os signos ideológicos de sua composição então se manifestam como metáforas linguísticas que representam contrariedade e um provável rancor. As relações entre dialogismo e polifonia constroem-se no interior do samba tendo por mote diversas as diversas vozes que se coadunam para efetivar a indignação da sociedade civil com a situação estabelecida.

Analisamos que Mikhail Bakhtin filósofo russo, um dos fundadores do ciclo de Moscou, responsável por estudos literários relacionados com o Formalismo Russo, destarte seu movimento na filosofia da linguagem estabelece um parâmetro interessante com as questões de cultura e arte. Ao situar a perspectiva bakhtiniana pode-se observar que as estruturas sistematizadas pelo filósofo partem das ideias de Marx, tendo mais tarde se distanciado, seu posicionamento científico foi contraditório em alguns pontos, contudo exemplificam as marcas e rupturas sofridas.

A questão postulada pela canção se constrói em uma compreensão da melodia como processo de construção de signos que ao se relacionar no interior da melodia discutem a forma estética para salientar o fator primordial da

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composição que é a organização de uma sociedade que convive com um período autoritário, percebe suas limitações, em seu domínio dos signos da linguagem trata de representar e simbolizar a insatisfação vigente. O dialogismo na canção de protesto seria, portanto, a linguagem e sua interação com a realidade que a cerca, tanto no interior da canção quanto em sua relação com o mundo exterior. Essa contraposição ideológica que se estabelece no interior da canção pode ser observada como polifonia, pois compreende o pensamento reflexivo e seu emprego na melodia por meio da canção como arte em interação, que orienta a construção de uma individualidade consciente. Nesse intuito o presente artigo buscou refletir acerca do ato subjetivo de composição em Chico Buarque a partir de sua experiência com a censura, sendo compreendido aqui como aquele que tem a possibilidade de discutir as configurações de experiência e como essas podem ser indicativas do processo de ruptura que se configuraria em tempos de regime autoritário.

Destarte, nossa intenção durante o processo de pesquisa e leituras para escrita do presente material levou em consideração a possibilidade de análise da canção por uma vertente dialógica, além de apresentar dados, fatos e reportagens que exemplificaram a real situação da sociedade na época. Nesse contexto, as reflexões aqui postuladas nasceram com a intenção de estimular e quiçá problematizar a expressão “ a canção está morta”, em tempos de ausência de sentido, incompreensão da identidade pessoal, exclusão social, inadequação às diferenças, ainda uma vez é preciso dizer: “amanhã vai ser outro dia, amanhã vai ser outro dia”. Deste modo, o presente artigo, buscou colaborar para a apresentação de pontos de vista que inter-relacionam direito e literatura, em seu processo de metalinguagem por meio da canção.

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