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Controvérsias sobre o uso do óleo de coco para fins estéticos e nutricionais

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CONTROVÉRSIAS SOBRE O USO DO ÓLEO DE COCO PARA

FINS ESTÉTICOS E NUTRICIONAIS

CONTROVERSIES ABOUT THE USE OF COCONUT OIL FOR

AESTHETIC AND NUTRITIONAL PURPOSES

CONTROVERSIAS SOBRE EL USO DEL ACEITE DE COCO

PARA FINES ESTÉTICOS Y NUTRICIONALES

Camila Costa Silveira1

Amanda dos Reis Correia2

Lucas Henrique Ferreira Sampaio3

Fernanda Melo Carneiro4

Resumo: O óleo de coco para fins estéticos tem indicações para perda de peso, hidratação capilar e cutânea, além de ação antioxidante. O objetivo desse trabalho foi caracterizar a produção científica sobre o óleo de coco para fins estéticos comparando a uma webmetria. Há poucos registros de artigos, mas muitas citações na rede. Os artigos abordaram principalmente a perda de peso e a rede a estética capilar. Pesquisas se concentraram em países ricos, já as buscas na rede em ilhas caribenhas. As múltiplas indicações do óleo de coco para fins estéticos estão ocorrendo sem a devida comprovação científica.

Palavras-chave: Perda de peso. Estética Capilar. Webmetria. Cienciometria.

Abstract: Coconut oil for aesthetic purposes has several indications such as weight loss, hair and skin hydration besides antioxidant action. The aim of this work was to characterize the scientific studies on coconut oil related to aesthetics and compare them with the webmetric. We found a few scientific publications, as opposing to a major dissemination on the web. Scientific researches were mainly about the weight loss, while the web citations were primarily about hair aesthetic. Researches were concentrate in countries with strong research traditions, whereas the web citations were recorded in Caribbeans inland. The multiple indications of coconuthave been occurring with no scientific evidence.

Keywords: Weight Loss. Hair Asthetics. Webometric. Scientometric.

Resumen: El aceite de coco para fines estéticos tiene indicaciones para pérdida de peso, hidratación capilar y cutánea, además de acción antioxidante. El objetivo de este trabajo fue caracterizar la producción científica sobre el aceite de coco para fines estéticos contraponiéndose a una webmetría. Se produjeron pocos artículos, pero hay muchas citas en la red. Los artículos abordaron principalmente la pérdida de peso y la red la estética capilar. Las investigaciones se concentraron en países ricos, ya las búsquedas en la red en islas caribeñas. Las múltiples indicaciones del aceite de coco para fines estéticos están ocurriendo sin l debida comprobación científica. Palabras-clave: Pérdida de peso. Estética capilar. Webmetria. Cientometría.

Envio 09/04/2018 Revisão 09/04/2018 Aceite 06/08/2018

1 Graduanda em Estética e Cosmética e graduada em Ciências Biológicas. Universidade Estadual de Goiás.

E-mail: k-mila.costa@hotmail.com

2 Especialista em Gestão e Biossegurança em Estética e Cosmética. Instituição. E-mail:

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Introdução

Nos dias atuais, a sociedade impõe padrões de estética, provocando uma crescente busca pelo mercado da beleza por meio do uso de cosméticos. Assim, os fabricantes de cosméticos estão atentos às principais tendências, criando e aperfeiçoando produtos, já que esse setor está em franca expansão (SHMIDTT; OLIVEIRA; GALLAS, 2008).

O óleo de coco é um produto derivado do fruto da espécie Cocos nucifera L. 1753 (Arecaceae Schultz Shc.), sendo composto por ácidos graxos saturados, como o caprílico, láurico, mirístico, capróico, palmítico e por ácidos insaturados, como o oleico e linoleico. O óleo de coco é rico em ácido láurico (concentração acima de 40%), bastante utilizado pela indústria de cosméticos. As gorduras láuricas são resistentes à oxidação e, diferente de outros óleos, possui baixo ponto de fusão (SANTOS et al., 2013; DAUBER, 2015).

O óleo de coco vem ganhando destaque na mídia com supostos inúmeros benefícios estéticos. Dentre eles se destaca para a capacidade auxiliar na diminuição da gordura corporal, no aumento da hidratação capilar e cutânea, além de possuir propriedades antioxidantes com efeito antienvelhecimento (SCALFI; COLTORTI; CONTALDO, 1991; LIAU et al., 2011; RUETSCH et al., 2001). Diante das suas múltiplas indicações, o óleo de coco vem passando por diversos questionamentos quanto a sua eficácia, principalmente quando indagado sobre a perda de gordura corporal. A Associação Brasileira de Nutrologia posicionou-se sobre a não comprovação da eficácia do óleo de coco, enfatizando que há poucos estudos sobre seu uso, e alguns resultados são controversos (ABRAN, 2017).

Apesar de a estética ser uma área que está em constante inovação e crescimento, ainda é corriqueiro que as ações de profissionais desta área sejam baseadas no senso comum e não em bases científicas comprovadas (CRUZ; UENO; MANZANO, 2015). Assim, o uso de óleo de coco na estética parece estar sendo amplamente adotado, baseando-se apenas em impressões pessoais e rotineiras do senso comum (ABRAN, 2017). Contudo, na estética, assim como em outras áreas, a produção sistemática de conhecimento de forma científica é fundamental para a comprovação da eficácia de novas técnicas (CRUZ; UENO; MANZANO, 2015).

A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) regulamenta que é de total responsabilidade da empresa a realização de testes que comprovem a eficácia dos produtos cosméticos. Os resultados desses testes devem ser armazenados na empresa, sob a forma de

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dossiês e relatórios com comprovação dos benefícios atribuídos para serem apresentados sempre que exigidos (ANVISA, 2012). Assim, a possibilidade de liberação do uso de alguns cosméticos, sem a devida realização de testes de eficácia, pode colaborar com a falta de investimentos em estudos científicos na área e a disseminação do seu uso de acordo com senso comum.

Diante do frequente uso do óleo de coco na estética e cosmética, esse trabalho pretende: i) fazer um levantamento sobre a informação científica existente sobre o assunto, por meio de um estudo cienciométrico, e ii) comparar o conhecimento científico com o que existe de disponível na rede web.

Metodologia

A cienciometria permite avaliar quantitativamente a produção científica em determinada área do conhecimento e extrair informações para se conhecer as principais tendências e o desenvolvimento científico da área estudada (SILVA, 2014). Já a webmetria permite quantificar o acesso e disseminação de determinados assuntos na rede web como meio de avaliar o fluxo informacional existente (SILVA; GOUVEIA, 2017).

Para a análise cienciométrica foram considerados todos os trabalhos que utilizaram o óleo de coco associado à estética e cosmética, presentes na base de dados Web of Science. Para a pesquisa, foi realizada uma busca de todos os trabalhos que possuíam os termos: (“coconut

oil” and ("hair" or "body" or "skin" or "nutricosmetic*" or "cosmetic*")) no título, no resumo

ou nas palavras chaves. O asterisco foi utilizado no final das palavras-chave com objetivo de abranger estas palavras com sufixos diferentes (Ex.: singular e plural). Após a obtenção da lista de trabalhos publicados, foi feita uma triagem para selecionar as publicações que estavam relacionadas com a estética e cosmética. Os trabalhos foram analisados no período de 1992 a 2016. Foi desconsiderado o ano de 2017, por ser o ano da realização da pesquisa. As informações obtidas para cada trabalho foram: i) o ano de publicação, ii) tipo de trabalho, iii) periódico em que o artigo foi publicado, iv) autores/coautores, v) país do autor, vi) idioma e vii) número de citações.

Com base nos dados obtidos, realizou-se a leitura do resumo de cada trabalho para identificar o principal objetivo e verificar se os estudos eram experimentais ou revisionais.

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Quando experimental in vivo, considerou-se qual o organismo utilizado no experimento. Também foram analisadas as principais indicações e as categorias de uso (tópico, oral).

Para determinar as tendências dos estudos ao longo dos anos, foi feita uma análise de correlação de Pearson entre o ano de publicação e o número de trabalhos. Para análise dos objetivos, foi atribuída uma palavra chave para cada estudo, resumindo todos os artigos avaliados em 11 temáticas gerais, sendo elas: i) Perda de peso: estudos que avaliaram o uso do óleo de coco na diminuição do peso corporal; ii) Veículo cosmético: trabalhos que avaliaram a capacidade de formulações com óleo de coco em transportar os principais ativos cosméticos; iii) Cosmético capilar: estudos que avaliaram o uso do óleo de coco para produção de cosmético para aplicação capilar; iv) Toxicidade cosmética: trabalhos que abordaram os aspectos toxicológicos dos cosméticos com óleo de coco, tais como efeitos adversos e testes de segurança; v) Potencial cosmético: pesquisas que investigaram o potencial de plantas para fins cosméticos; vi) Dermato-estética: trabalhos que abordaram as alterações estéticas da pele causadas por disfunções; vii) Cosmecêutica: estudos que abordaram cosméticos com ação terapêutica; viii) Permeabilidade tópica: trabalhos que avaliaram a capacidade de penetração de certas substâncias, de acordo com sua natureza química; ix) Mercado cosmético: artigos que avaliaram a popularidade dos produtos cosméticos; x) Antioxidante: trabalhos que abordaram a capacidade de formulações com óleo de coco de evitar a formação de radicais livres; xi) Bloqueador UV: estudos que abordaram a capacidade de formulações com óleo de coco de proteção da pele contra os raios ultravioletas.

Para a análise webmétrica, realizou-se coleta de dados obtidos via ferramenta Google

Trends. Conforme Dinis et al. (2015), o Google Trends é uma ferramenta que identifica as

principais tendências e comportamentos coletivos de busca para os conteúdos no âmbito da web por meio da utilização do motor de busca Google Search. O volume de dados informados pela ferramenta utiliza-se de índices relativos. A quantidade de vezes em que os termos são utilizados para busca na web pelos internautas é dada em porcentagem. O Google Trends fornece informações por meio da geolocalização dos internautas, mostrando tabelas e gráficos estatísticos, e determina os principais termos relacionados com a pesquisa (Dinis et al., 2015).

As buscas foram feitas utilizando os termos “coconut oil” e “óleo de coco” para a obtenção de resultados em inglês e português, respectivamente. Assim, os dados do Brasil foram analisados de forma separada. A pesquisa foi delimitada entre 2008 a 2016 para todo o

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mundo. Realizou-se a busca pela categoria “condicionamento físico e beleza” (“fitness and

beauty”). Para identificar os principais locais em que o assunto era abordado na rede, como

vídeos de Youtube ou páginas de venda de produtos, pesquisou-se nas seguintes opções: i) Toda a rede (TR), ii) Youtube e iii) Google Shopping. Para tabulação e análise dos dados da cienciometria e webmetria foi utilizado o software Microsoft Excel 2010.

Resultados

Foram encontrados na Web of Science 96 trabalhos científicos sobre óleo de coco relacionado à estética e cosmética. O primeiro trabalho foi publicado em 1992 (Figura 1). O número de trabalhos teve um aumento ao longo dos anos (r= 0,65). Ao analisar o gráfico foi possível observar um aumento considerável no número de publicações entre 2004 e 2016.

Figura 1. Número de trabalhos publicados sobre o óleo de coco aplicado a estética e cosmética, entre os anos de 1992 a 2016, disponíveis na base de dados Web of Science.

O principal tema dos trabalhos analisados ao longo dos anos foram: perda de peso (n=32), veículo cosmético (n=12), cosmético capilar (n=10), potencial cosmético (n=10),

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toxicidade (n=8), dermato-estética (n= 8), cosmecêutica (n= 5), permeabilidade tópica (n= 5), antioxidante (n= 4), bloqueador UV (n= 1) e mercado cosmético (n= 1) (Figura 2).

O primeiro estudo que utilizou óleo de coco testou a toxicidade cosmética (1992). O ano que apresentou a maior diversidade de temas foi 2016. Alguns temas, como perda de peso, foram relatados desde 1993 até 2016. Trabalhos que tratam sobre o uso de óleo de coco na cosmética capilar começaram a aparecer somente em 1999. Foi encontrado apenas um trabalho sobre o mercado cosmético e outro sobre uso do óleo de coco na formulação de bloqueador solar, ambos publicados em 2016 (Figura 2). Dos 32 trabalhos que tinham como objetivo avaliar a associação entre a perda de peso e o consumo de óleo de coco, 17 apresentaram resultados satisfatórios quanto ao emagracimento associado ao óleo. Por outro lado, 15 estudos não evidenciaram esse efeito emagrecedor.

Figura 2. Principais objetivos dos trabalhos sobre o óleo de coco aplicado à estética e cosmética entre os anos de 1992 a 2016.

A maioria dos trabalhos foram apresentados em forma de artigo científicos (85% do total de trabalhos). Os outros tipos de trabalhos encontrados foram artigos sobre descrição de

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novas técnicas em eventos (8%), revisão (6%) e material editorial (1%). O idioma utilizado na escrita de 96,9% dos trabalhos foi o Inglês (n=93).

Nas pesquisas realizadas, o óleo de coco foi utilizado na forma tópica em 62,5% dos trabalhos e sob a forma oral nos demais trabalhos (37,5%). A maioria das pesquisas tinham caráter experimental com teste em humanos (38,5%), ratos (31,2%), in vitro (20,8%) e coelhos (1%) (Figura 3). O restante das pesquisas foram revisões bibliográficas (8,5%).

Figura 3. Organismos utilizados nos trabalhos experimentais analisados.

Os trabalhos foram publicados por instituições de 25 países diferentes (Figura 4). Os EUA foram responsáveis pela maior parte das publicações, seguido pela Inglaterra. A maioria dos artigos foram elaborados em regime de coautoria, apresentando em geral de 3 a 5 autores (Figura 5).

No total, 69 periódicos foram os responsáveis pelos 96 trabalhos publicados. Dentre as revistas com o maior número de publicações destacam-se: Journal of Cosmetic Science (7 artigos, Fator de Impacto – FI= 1,5810), Nutrition research (4 artigos, FI= 2,7370), Lipids (4 artigos, FI= 1,934) e International Journal of Toxicology (3 artigos, FI= 1,205). Quanto às citações obtidas pelos artigos, constatou-se que os trabalhos com o maior número de citações foram os publicados nas seguintes revistas: Journal of Nutrition (137 citações), American

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Journal of Physiology (104 citações) e International Dairy Journal (88 citações). A maioria

dos trabalhos apresentaram nenhuma (26%) ou apenas uma citação (12%) (Figura 6).

Figura 4. Número de trabalhos publicados de acordo com o país do autor principal.

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Figura 6. Número de citações dos artigos analisados sobre óleo de coco na estética e cosmética.

As análises mostraram que os autores estavam vinculados a 82 unidades diferentes. A maioria dos estudos (63%) foram realizados em instituições de ensino e 37% foram feitos por laboratórios e empresas de cosméticos. A Silpakorn University (Tailandia) e a West Virginia

University (EUA) foram responsáveis por três trabalhos cada, e a Cosmetic Ingredient Review

(EUA) e a Marico Industries Limited (India) por dois trabalhos cada.

Ao analisar a busca por informações relacionadas ao óleo de coco na rede, na categoria “condicionamento físico e beleza” (fitness and beauty), foi possível observar um aumento contínuo ao longo dos anos, no período entre 2008 e 2016. Esse aumento de ocorrência dos termos de busca foi observado para TR, assim como no Youtube e no Google Shopping (Figura 7). Nas páginas de compra no Google Shopping, as frequências aumentaram muito a partir de 2015. Quando os termos foram buscados em português, observou-se uma tendência de crescimento ao longo dos anos em TR, no Youtube e no Google Shopping, com pico de ocorrência em 2012.

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Figura 7. Porcentagem de ocorrência do termo “coconut oil” entre os anos de 2008 e 2016 no

Google para toda rede (a), para o Youtube (b) e para o Google Shopping (c).

A maior porcentagem de busca do termo “coconut oil” em toda a rede e no Youtube foram observadas nas ilhas Caribenhas, já para o Google Shopping as maiores buscas vieram de países como Estados Unidos, Reino Unido e Austrália (Figura 8).

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Figura 8. Porcentagem de ocorrência do termo “coconut oil” entre os anos de 2008 e 2016 por localização geográfica para toda rede (a), para o Youtube (b) e para o Google Shopping (c).

A pesquisa pelo termo de busca “coconut oil” foi frequentemente relacionada com ao cabelo, seguido de pele, tanto para TR quanto para Youtube e Google Shopping (Figura 9). Comparando com a produção científica, foram encontrados apenas dez artigos sobre o óleo de coco associado ao uso capilar. As pesquisas associadas à pele tratavam sobre o uso de óleo de coco na dermato-estética (8), cosmecêutica (5), como antioxidante (4) e filtro solar (1) (Figura 2).

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Figura 9. Termo de maior frequência de ocorrência (%) associado ao termo cocconut oil entre os anos de 2008 e 2016 no Google para toda rede (a), para o Youtube (b) e para o google

shopping (c).

Discussão

Apesar do aumento de estudos científicos sobre o óleo de coco aplicado à estética e cosmética ao longo dos últimos anos, observou-se que o número de trabalhos publicados é ainda muito pequeno. Principalmente, quando comparado com a frequência de busca pelo tema na web. Em geral, o aumento no número de trabalhos publicados reflete o grau de interesse dos pesquisadores pela área, sendo uma das medidas para se avaliar o progresso e o desenvolvimento científico e tecnológico da mesma. Pesquisadores tendem a investir em áreas que garantem maior retorno e credibilidade (VERBEEK et al., 2002).

O volume de citações é uma indicação de prestígio e reconhecimento dos autores, sendo uma métrica para a avaliação da dispersão da produção científica (MARCHIORI, 2006). No geral, uma boa parte dos trabalhos sobre óleo de coco não apresentaram citação (26%). Apenas três trabalhos tiveram número alto de citações (número de citação = 137, 104 e 88) e tratavam sobre perda de peso. Esses trabalhos podem ser denominados de hot papers, que são artigos com maior impacto científico (CASTIEL; VALERO, 2007).

O fator de impacto (FI) das revistas que publicaram sobre o tema abordado foi baixo, com apenas uma revista com FI maior que dois (FI= 2,73). O FI de um periódico avalia a qualidade da revista, levando-se em consideração o número de citações recebidas pelos artigos publicados no periódico nos dois anos anteriores à avaliação, dividido pelo número de artigos publicados neste período. O FI também é considerado uma ferramenta acadêmica de avaliação de produtividade e obtenção de fundos, pois agências de fomento, bem como o governo, utilizam o FI para a decisão e distribuição de recursos destinados à pesquisa. Assim, as revistas almejam a publicação de artigos com alto potencial de citação, visando a elevação de seu FI (CASTIEL; VALERO, 2007; MARZIALE; MENDES, 2002).

Dentre todos os trabalhos avaliados, apenas um foi desenvolvido por um único autor. As autorias múltiplas são um indicativo de que a colaboração científica traz vários benefícios para a pesquisa científica, como o aumento da produtividade, maior visibilidade, compartilhamento de técnicas, habilidades, conhecimentos e diminuição do tempo da pesquisa (VILAN; SOUZA; MUELLER, 2008; FILHO, 2010).

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A maioria dos trabalhos deu-se por experimentos testados de forma tópica, o que demonstra o interesse da utilização do óleo de coco voltado para a pesquisa na área cosmética. A perfumaria e cosmética são seguimentos fortes na economia mundial. Estados Unidos, China, Japão e Brasil ocupam os primeiros lugares no consumo de produtos de beleza (ABIHPEC, 2016). Apesar da grande demanda econômicas, as principais instituições envolvidas nas pesquisas foram universidades. Ao menos para o Brasil os programas de pós-graduação das universidades tem sido o principal determinante da produção científica sobre diferentes temas (BORGES, 2008; NABOUT et al., 2015). Um dos principais pilares da universidade compreende a produção de conhecimento científico e tecnológico (CHIARINI; VIEIRA, 2012). A inovação tecnológica deve ser produzida em conjunto por indústrias e universidades. Contudo, indústrias e universidade possuem muitas vezes diferentes focos, objetivos e maneiras de trabalhar. A academia (universidades) possui uma maior tradição científica e tem um tempo maior para gerar o conhecimento científico quando comparada as indústrias (WALLIN; ISAKSSON, 2014).

Os países que apresentaram o maior número de pesquisas científicas na área foram Estados Unidos e Inglaterra. Nota-se que há uma centralização da produção científica em nível mundial em países que possuem índice de desenvolvimento humano (IDH) e índice de avanço tecnológico (IAT) maiores, mostrando uma relação entre desenvolvimento e tecnologia. Assim, os Estados Unidos lideram mundialmente a ciência e tecnologia, por possuírem alto investimento em pesquisa devido ao seu alto poder econômico (SILVA; FILHO, 2001).

No Brasil, a ANVISA possui algumas diretrizes regulamentadoras para eficácia e segurança dos seus produtos (BRASIL, 2012). Entretanto, os testes de eficácia para cosméticos são realizados apenas para produtos indicados para um fim específico (ver RDC Nº 211/05 Anexo III, BRASIL, 2005). Essa não obrigatoriedade sugere a diminuição do interesse das instituições de pesquisa na realização de testes com cosméticos. Nos Estados Unidos, existem agências e instituições como o FAD (Food and Drug Admisnistration) e o NAD (National

Advertising Division) que controlam a qualidade da produção e comercialização da indústria

cosmética. Algumas instituições, inclusive, seguem diretrizes a fim de verificar se o produto está realizando propaganda enganosa. Se um produto não oferecer os resultados a ele atribuídos, pode-se recorrer à NAD. Em caso de queixas repetitivas, a NAD encaminha ao fabricante uma

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comprovação for negativa, o fabricante é solicitado a retirar a publicidade do produto (MICHALUN; DINARDO, 2016).

As pessoas que mais pesquisaram na web sobre o óleo de coco associada à estética e cosmética são habitantes de países insulares pequenos (Trinidad e Tobago e Jamaica). O óleo de coco apresenta uma grande popularidade em países insulares, pois é um ingrediente local largamente utilizado para tratamento de pele e cabelo (PARWAT, 2016).

Nos anos mais recentes, como 2016, ocorreram trabalhos com maior diversificação nos objetivos quando comparado aos anos anteriores. Isso reflete uma tendência natural da ciência, tanto sobre o aspecto de que à medida que novos conhecimentos são produzidos novas perguntas aparecem. Como sobre a perspectiva do aumento do uso popular refletindo no aumento do interesse da comunidade científica. Nesse caso, o conhecimento/uso popular é utilizado como critério para escolha de uma espécie de planta para estudo científico, sendo chamado de critério etnodirigido. Ocorrendo uma cooperação de saberes com a não subestimação do conhecimento popular (ALBUQUERQUE; HANAZAKI, 2006).

Apenas dez trabalhos científicos encontrados na Web of Science tinham como objetivo principal a pesquisa cosmética capilar. Entretanto, nas buscas via internet, verificou-se que a maior demanda foi por produtos capilares contendo óleo de coco. A perda de peso apresentou menor procura que cabelo e pele. Vale ressaltar que na internet não há nenhum controle sobre o conteúdo gerado pelos usuários, não garantindo assim qualidade nas informações disponibilizadas (SILVEIRA, 2010). Na categoria Google Shopping, países que apresentam maior poder econômico foram também os que mais adquiriram produtos cosméticos com óleo de coco.

Em conformidade com o que foi defendido pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN, 2017), o presente estudo indicou que o número de trabalhos sobre a perda de peso associada ao consumo de óleo de coco ainda é pequeno, destacando a necessidade da realização de mais estudos, ou mesmo de um trabalho meta-analítico que consiga sintetizar esta informação. Em uma meta-análise é possível atribuir pesos diferentes a cada estudo conforme o tamanho amostral dos mesmos e o desvio dos resultados obtidos (BORESTEIN et al., 2009). Portanto, através de uma meta-análise os resultados de cada trabalho individual seriam ponderados e contribuiriam para resultados conclusivos sobre o tamanho do efeito do óleo de coco na perda de peso bem como sua significância.

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Vivemos na era da sociedade digital, na qual a informação circula de forma muito rápida na rede, por isso produção científica nem sempre acompanha a velocidade desta circulação. A disseminação da informação, ocorre de forma instantânea, principalmente em redes sociais. Nessa configuração da sociedade, os blogueiros (digital influencers) não se preocupam com a veracidade das informações transmitidas na maioria das vezes, apenas com sua popularização na rede (BAQUIT, 2015). Assim, é importante que os usuários de internet avaliem as fontes e a responsabilidade intelectual das informações disponibilizadas.

Conclusão

Os levantamentos realizados mostraram que há poucos estudos científicos sobre o óleo de coco aplicado à estética e cosmética, e que, as pesquisas sobre o tema foram publicadas em revistas de baixo impacto.

Apesar da demanda informacional sobre o tema na internet ser grande, concentrando em ilhas caribenhas sem tradição em pesquisa científica, os estudos científicos concentram-se em países com tradição em pesquisa científica consolidada.

Nem sempre a informação que circula na rede apresenta veracidade e comprovação científica. Muitas pessoas disseminam a informação sem conhecer a fonte, e estas informações propagam-se muitas vezes de forma pouco consequente. Espera-se que o presente trabalho desperte o interesse dos pesquisadores para o desenvolvimento de mais estudos voltados para esta área, uma vez que a pesquisa deve atender a uma demanda existente na comunidade, evidenciada neste estudo.

Agradecimentos

Os autores Lucas Henrique Ferreira Sampaio e Fernanda Melo Carneiro agradecem ao Programa de Bolsa de Incentivo à Pesquisa e Produção Científica da Universidade Estadual de Goiás (PROBIP-UEG) pelas bolsas concedidas.

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Figura 1. Número de trabalhos publicados sobre o óleo de coco aplicado a estética e cosmética,  entre os anos de 1992 a 2016, disponíveis na base de dados Web of Science
Figura 2. Principais objetivos dos trabalhos sobre o óleo de coco aplicado à estética e cosmética  entre os anos de 1992 a 2016
Figura 3. Organismos utilizados nos trabalhos experimentais analisados.
Figura 4. Número de trabalhos publicados de acordo com o país do autor principal.
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