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Escola de Conselhos de Goiás: desafios na formação de conselheiros tutelares e conselheiros dos direitos

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ESCOLA DE CONSELHOS DE GOIÁS:

DESAFIOS NA FORMAÇÃO DE

CONSELHEIROS TUTELARES

E CONSELHEIROS DOS DIREITOS*

ELIZABETE BICALHO**

Resumo: este artigo apresenta a experiência da Escola de Conselhos de Goiás, realizado numa parceria da Pontifícia Universidade Católica de Goiás com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República do Brasil. O objetivo é discutir os desafios desta ação, na perspectiva da formação para a proteção dos direitos humanos de crianças e adolescentes, no estado de Goiás, de 2010 a 2014.

Palavras-chave: Direitos Humanos. Crianças. Adolescentes. Formação.

* Recebido em: 07.11.2014. Aprovado em: 27.11.2014.

** Mestre em Ciências da Religião, pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás PUC Goiás. Especializada nas temáticas da Infância, Adolescência, Juventude e Família. Coordenadora da Pró-Reitoria de Extensão e Apoio Estudantil - PROEX, da PUC Goiás. Coordenadora do Instituto Dom Fernando - IDF. Professora adjunta de sociologia da PUC Goiás. E-mail: elizbicalho@pucgoias.edu.br.

O

presente artigo registra uma história e, problematiza uma experiência na PUC Goiás, no campo da vigilância, da formação, do controle e da defesa dos direitos humanos das crianças e adolescentes, no período de 2010 a 2014. A chamada Escola de Conselhos é um projeto do Governo Federal, instalado na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), organizado pela Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNPDCA) e Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), situa-se dentro da escola de operadores do Sistema de Garantia de Direitos (SGD). A sua execução é realizada por Instituição cuja proposta tenha sido aprovada em Edital Público do CONANDA.

Em recente Encontro Nacional das Escolas de Conselhos realizado, em Recife, ca-pital do Estado de Pernambuco, no Brasil, em fevereiro de 2014 participaram representações destas Escolas de 25 estados brasileiros. Algumas, mais consolidadas, outras em processo de consolidação e, apenas em dois estados a Escola de Conselhos ainda não havia sido formada.

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Estes dados foram colhidos nas apresentações durante o referido evento. Os projetos estão sendo executados, em sua maioria, por universidades públicas e ONGs. A PUC Goiás é a única universidade católica a executar o Projeto Escola de Conselhos.

A EXPERIÊNCIA DO INSTITUTO DOM FERNANDO NA EXECUÇÃO DO PROJETO ESCOLA DE CONSELHOS

Em 2009, a PUC Goiás por meio do Instituto Dom Fernando (IDF), constituído na Pró-Reitoria de Extensão e Apoio Estudantil (PROEX), especializado nas temáticas da in-fância, adolescência, juventude e família participou de edital e foi escolhida para a capacitação de conselheiros tutelares e de direitos dos 246 municípios goianos. Este primeiro convênio executou suas ações de março de 2010 a maio de 2011, capacitando 685 conselheiros via cur-so básico. Destes, 343 conselheiros tutelares, 176 de direitos e 166 não responderam na ficha de inscrição a qual conselho pertencia. Dos participantes, 68.75% eram mulheres e 31,25% homens (CARDOSO, p. 8). Em dezembro de 2011, um novo convênio foi assinado entre a PUC Goiás e a SDH/PR, também através de concorrência pública, o que garantiu o funcio-namento da Escola de Conselhos de Goiás (ECG) até abril de 2014, com o oferecimento de quatro cursos: Básico e Temáticos I, II, III. Este novo convênio recebeu um termo aditivo, que permitiu a capacitação de 1.321 participantes, de 176 municípios de Goiás (71,5% dos 246 municípios existentes no estado). Do total de participantes de 2012 a 2014, 1.241 eram conselheiros tutelares e 107 conselheiros dos direitos, sendo 896 mulheres e 425 homens, em quatro cursos (BICALHO, 2014, p. 10).

De 2012 a 2014, os quatro cursos trabalharam com os seguintes currículos:

Curso Básico Introdutório (agosto-setembro/2012) Módulo I

Concepções de infância e adolescência;

Direitos humanos e proteção de crianças e adolescentes;

Políticas públicas de atenção à criança e ao adolescente.

Módulo II (não presencial)

Atividade prática de diagnóstico sobre violações de direitos e política de atendimento a crianças e adolescentes.

Módulo III

Sistema de Garantia de direitos, Redes de proteção e SIPIA Web;

Conselho dos direitos;

Conselho tutelar;

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Curso Temático de Aprofundamento I (outubro-dezembro/2012) Módulo I

Atribuição dos conselheiros dos direitos e tutelares: papel do Conselho e atribuições de conselheiros;

Gestão (diagnóstico, planejamento e monitoramento): conhecendo e trabalhando com a realidade do município;

As políticas públicas para a infância: intersetorialidade;

As violações de direitos contra crianças e adolescentes: identificando e conhecendo.

Módulo II (não presencial)

Atividade prática a ser desenvolvida no município pelos conselheiros: diagnóstico situacional e plano de ação dos conselhos.

Módulo III

O diálogo e a articulação com os planos nacionais de garantia de direitos da criança e do adolescente;

Orçamento Criança e Adolescente (OCA) e FIA;

Planejamento e revisão/construção do plano de ação dos conselhos dos municípios.

Curso Temático de Aprofundamento II (fevereiro – abril/2013) Módulo I

História social da família: concepções, mudanças estruturais e práticas educativas;

Família e políticas públicas brasileiras;

O Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária.

Módulo II (não presencial)

Atividade prática a ser desenvolvida no município pelos participantes: levantamento/ diagnóstico do acolhimento institucional, constituindo-se num importante balanço de dados para subsidiar pesquisas e ações.

Módulo III

Plano Nacional de Convivência Familiar – retomada;

A Política de intersetorialidade e articulação SUAS e SGDCA;

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Curso Temático de Aprofundamento III (novembro/2012-fevereiro/2014) Módulo I

Desastres Naturais e proteção da criança e do adolescente: introdução, caracterização e prevenção;

Crianças e Adolescentes Desaparecidos: uma abordagem introdutória;

Crianças e Adolescentes Desaparecidos: impactos sociais e psicológicos;

Desaparecimento de Crianças e Adolescentes: Redes de proteção.

Módulo II (não presencial)

Atividade prática a ser desenvolvida no município pelo levantamento/diagnóstico a respeito da drogadição, crianças desaparecidas, vulnerabilidade de crianças e adolescentes vítimas de desastres naturais, constituindo-se num importante balanço de dados para subsidiar pesquisas e ações.

Módulo III

Drogas: conhecer para prevenir;

Plano Nacional de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas;

ATIVIDADES DA ESCOLA NO ÂMBITO ESTADUAL E NACIONAL

A Escola de Conselhos de Goiás marcou presença no Fórum Mundial dos Direitos Humanos, realizado pela SDH/PR, em Brasília, no período de 10 a 14 de dezembro de 2013, como organizadora, representando a PUC Goiás. Nessa oportunidade, juntamente com a Escola de Conselhos de Pernambuco realizou uma oficina sobre as temáticas e ações dessas escolas. No mês de fevereiro de 2014, de 10 a 13, participou do V Encontro Nacional das Escolas de Conselhos - ENEC, fortalecendo a rede nacional de formação continuada dos conselheiros, com relatos de experiência em mesa de apresentações e debates e, em trabalhos durante todo o evento. Esses momentos foram eficazes no aprofundamento de especificidades de atuação, bem como para o fortalecimento de noções, funções e ações no compartilha-mento de desafios, presentes no exercício da defesa dos direitos humanos das crianças e dos adolescentes.

A integração e a articulação são incentivadas pela SDH/PR e, pelo CONANDA, na construção da política nacional de formação de conselheiros e na busca de uma cultura dos direitos humanos, valorizando as vivências e práticas educativas destes atores sociais. A ideia apontada pelos eventos é de que a formação dos conselheiros exija a compreensão e a defesa incondicional dos direitos humanos. Para tanto, eles deverão ser preparados para a função de articuladores, em potencial, entre as políticas públicas e a convivência intersetorial.

No fechamento de suas ações, a Escola de Conselhos realizou o Encontro Estadual de Formação Continuada de Conselheiros Tutelares e dos Direitos: ação permanente para

proteção dos direitos de crianças e adolescentes, no dia 05 de junho de 2014, e contou com a

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coor-denadora do IDF e o coordenador geral da política de fortalecimento de conselhos da SDH/ PR e, de diversas entidades governamentais e não governamentais do Estado de Goiás. Pciparam 104 municípios, 365 pessoas, sendo 335 conselheiros. O exercício da formação arti-culadora se fez presente, apresentando a ECG como centro de fomento da rede de proteção dos direitos das crianças e adolescentes. Materiais produzidos foram entregues, numa visão de formação continuada também não presencial, com o incentivo ao estudo para garantia de conhecimento e qualificação sobre as tarefas colocadas aos conselheiros.

EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: PRINCÍPIOS NORTEADORES

O encontro da PUC Goiás com o Projeto Escola de Conselhos/SDH/PR represen-ta o reconhecimento do trabalho desrepresen-ta instituição há mais de 30 anos, no campo da extensão, notadamente na área da infância e adolescência. A PUC Goiás é uma instituição católica de ensino superior, comunitária e filantrópica, com data de fundação em 17 de outubro de 1959. Primeira universidade do Centro Oeste brasileiro é referência de qualidade na educa-ção superior em Goiás e no Brasil. Ela traz no seu histórico, o compromisso com a excelência acadêmico- cientifica e com o desenvolvimento social.

O princípio de compromisso social que embasa as práticas sociais e pedagógicas, conso-lidadas na Universidade, se caracteriza pelo enraizamento de ações, projetos, programas e políticas nas áreas temáticas de: infância, adolescência, juventude e família, direitos humanos, educação, planejamento urbano e ambiental, gerontologia social, gênero, etnia, saúde coletiva, trabalho, gestão de políticas sociais e apoio ao planejamento de municípios do Estado/Região, promoção e valorização do fazer artístico e criação em diversas modalidades, incentivo à pesquisa e eventos sobre a cultura da região e do país... Na temática da infância, adolescência, juventude e família o Instituto Dom Fernando (IDF) da PUC Goiás desenvolve várias ações na linha do atendimento, da capacitação, da pesquisa e da articulação com as políticas públicas... (PROJETO..., 2011, p. 3).

Constituem como programas e projetos permanentes de extensão oferecidos e ga-rantidos pela PUC Goiás, responsáveis por ações nas temáticas da infância, adolescência, juventude e família: Aldeia Juvenil - CEPAJ (1983), Centro de Educação Comunitária de Meninas e Meninos – CECOM (1984), Aprender a Pensar – PAP (1989), Escola de Circo Dom Fernando – ECDF (1996), Escola de Formação da Juventude – EFJ (2006) enquanto que, a Escola de Conselhos (2010-2014), não é projeto permanente e, neste momento, aguar-da edital para novo convênio com a SDH/PR.

O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (2003) representa um

im-portante instrumento norteador das ações de educação nesta temática. Ele aponta como linha geral de ação “promover a ampla formação em direitos humanos, integrada, continuada e sus-tentável, considerando variadas metodologias, materiais e tecnologias, dirigidas aos membros das organizações da sociedade civil e do Governo” (p. 15). Neste sentido o trabalho realizado com os conselheiros tutelares e dos direitos representa muito mais do que uma capacitação, porque envolve uma formação para a defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes, o que significa envolvimento de vidas, de visões de mundo e de concepções sobre o

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protago-nismo dos envolvidos. O Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos, elaborado pela ONU, estabelece que a “educação em direitos humanos é o conjunto de atividades de capacitação e de difusão de informação, orientado para criar uma cultura universal na esfera dos direitos humanos, mediante a transmissão de conhecimentos, o ensino de técnicas e a formação de atitudes” (ONU, 2012, p. 4).

A Escola de Conselhos, enquanto um Núcleo de Formação Continuada de Conse-lheiros (NFCC), pauta suas finalidades no compromisso com o respeito aos direitos huma-nos, às liberdades fundamentais e à dignidade do ser humano; contribui para a existência de uma cultura de paz, de relações sociais pautadas na tolerância e na aceitação às diversidades e, para a compreensão da igualdade entre os sexos e a amizade entre os grupos raciais; nega qualquer forma de discriminação; respeita as diferenças de opiniões, tratadas no diálogo. Em sua experiência, a Escola de Conselhos trabalha no fortalecimento desses objetivos, num processo educacional não formal, enquanto uma escola de direitos humanos. A problemati-zação da realidade social representa uma visão pedagógica e acredita que interferir, questionar e participar, representam importantes ferramentas de inclusão social, como a pedagogia do oprimido, trabalhada por Paulo Freire.

Quanto mais problematizam os educandos, como seres no mundo e com o mundo, tanto mais se sentirão desafiados. Tão mais desafiados, quanto mais obrigados a responder ao desafio. Desafiados, compreendem o desafio na própria ação de captá-lo. Mas, precisa-mente porque captam o desafio como um problema em suas conexões com os outros, num plano de totalidade e não como algo petrificado, a compreensão resultante tende a tornar-se crescentemente crítica, por isso, cada vez mais desalienada. Através dela, que provoca novas compreensões de novos desafios, que vão surgindo no processo da resposta, se vão reconhecendo, mais e mais, como compromisso. Assim é que se dá o reconhecimento que engaja (FREIRE, 1987, p. 70).

DESAFIOS NAS AÇÕES DA ESCOLA DE CONSELHOS DE GOIÁS

São vários os desafios para a construção e a consolidação de uma Escola de Con-selhos. Em primeiro lugar é preciso ter uma decisão política. Esta não pode vir sozinha. Se um governo ou uma administração decide por investir na formação em direitos humanos, as parcerias deverão ser formadas para que se tenha eficácia. Parcerias dependem de envolvimen-to de instituições, conselhos representativos, movimenenvolvimen-tos sociais, organizações não governa-mentais e, a vontade de participação daqueles para quem o projeto se destina. Formar para a proteção de direitos humanos envolve engajamento social e experiência.

Em Goiás as ações propostas, pelo NFCC, contou com diversas parcerias como da PUC Goiás, executora do projeto, da Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio do Núcleo de Assistência a Saúde do Adolescente (NECASA) e do Movimento de Meninos e Meninas de Ruas (MMMR-Go).

A parceria estabelecida por essas instituições expressa a presença ativa e histórica na produção de conhecimento comprometido com as demandas sociais e na contribuição com a efetivação de políticas públicas que promovam e defendam direitos humanos de crianças e adolescentes (PROJETO..., 2011, p. 4-5).

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Um grupo gestor participativo e compromissado representa outro desafio nas ações da Escola de Conselhos. Em Goiás este grupo foi formado pela PUC Goiás, Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA), Associação dos Conselheiros e ex-Con-selheiros Tutelares do Estado de Goiás, Movimento de Meninos e Meninas de Rua (MMMR de Goiás), Secretaria de Cidadania e Trabalho do Estado de Goiás e a Universidade Federal de Goiás (UFG). Com reuniões mensais, esse grupo participou da formação e da consolidação da Escola. Não foi possível uma assiduidade permanente de todos os membros, em todos os momentos, por motivos de outros compromissos dos representantes. O CEDCA foi parceiro constante, o que indiretamente, permitiu a integração de outras entidades, que participam do Conselho, as quais, em reuniões desse órgão puderam opinar sobre as ações da Escola.

O Ministério Público de Goiás (MPGo), por meio do Centro Operacional da In-fância e da Juventude e a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás via sua Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente também representaram parcerias eficazes. Ressalta-se o MPGo, na divulgação dos cursos da Escola junto aos conselheiros tutelares dos direitos e, sua presença em eventos realizados pela Escola.

As parcerias somaram experiências no âmbito estadual, no campo da capacitação, voltada para a formação nos diversos setores do SGD e, nas ações de fortalecimento da im-plementação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, de seu acompanhamento e, de diversas outras propostas voltadas para a defesa e proteção dos direitos de crianças e adolescentes.

A ECG representou oportunidade até então não existente no Estado de Goiás: a formação de conselheiros tutelares e dos direitos, através de cursos de capacitação. O primeiro convênio 2010-2011 não alcançou a sua meta inicial de capacitar 1.400 conselheiros, dos 246 municípios. “Em sua maioria os conselheiros participantes declararam em instrumentos de sondagem, preenchido durante o curso, que era a primeira vez que participavam de um curso de formação” (PROJETO..., 2011, p. 7). Já para o segundo convênio 2012-2014, a meta era de capacitação de 1.300 conselheiros, foram capacitados 1.321, superando o previsto.

A aceitação da formação cresceu num processo de divulgação e mobilização, reu-nido na experiência da execução das ações da ECG e, no apoio das parcerias desenvolvidas. Esta análise nos coloca frente a frente com a responsabilidade de continuação da formação de conselheiros, desenvolvendo cotidianamente estratégias para lidar com o acreditar na forma-ção, como desafiadora no combate à violação de direitos humanos de crianças e adolescentes. Se os conselheiros tutelares participaram em maior número do que os conselheiros dos direitos, esta questão representa outro desafio a ser enfrentado: os conselhos dos direitos estão organizados? Por que não compareceram nos cursos? Eles são responsáveis por ação em rede e pela construção e fiscalização de políticas públicas, que operacionalizem os direitos previstos no ECA.

Os Conselhos dos Direitos de Crianças e Adolescentes são órgãos responsáveis pela elaboração das diretrizes da política de atendimento aos direitos da criança e do ado-lescente, bem como pelo acompanhamento, controle e avaliação dos programas e ações desenvolvidas (CONANDA, 2007, p. 21).

Têm papel normativo, porém, suas normas não podem substituir ou contradizer as normas criadas pelo Legislativo. São compostos a partir de uma natureza colegiada,

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entre o Governo e a comunidade, com posição paritária e de caráter deliberativo. Sua cons-tituição jurídica, prevista no livro II – Parte Especial, na seção intitulada - Da Política de Atendimento do ECA, coloca como missão institucional de um conselho dos direitos: de-liberar e controlar as ações da política de atendimento e outras atribuições como: elaborar o Plano de Ação da Política de Atendimento; gerir politicamente o Fundo da Infância e da Adolescência; promover o registro das entidades não governamentais e, a inscrição dos pro-gramas governamentais de atendimento à criança e ao adolescente; promover e coordenar o processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar que, conforme o artigo 131 do ECA, tem como tarefas medidas de proteção: “órgão permanente e autônomo, não jurisdi-cional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente” (BICALHO, 2014, p. 75). Não integra o poder judiciário “... quando criado, retirou da Justiça os casos chamados de sociais, ou seja, os casos que não exigem, a priori, uma decisão judicial e que podem ser resolvidos no âmbito das relações comunitárias e administrativas” (ASSIS et al., 2009, p. 149).

Se o ECA não estabelece nenhum vínculo entre os conselhos dos direitos e os conse-lhos tutelares, as práticas sociais apontam para a necessidade desta relação no controle das po-líticas públicas para a defesa dos direitos da infância e da juventude, na construção do plano de ação, nas ações fiscalizadoras do cumprimento dos direitos assegurados nas legislações e, nas decisões que envolvem o Fundo da Criança e do Adolescente. Segundo o ECA, políticas públicas de proteção aos referidos direitos devem ser objetos de apreciação e deliberação dos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente. As redes são importantes como espaços de articulação política, elas representam a sociedade civil organizada, exigindo que os órgãos públicos assumam o compromisso legal de prioridade absoluta da criança e do adolescente. Os conselhos são essenciais como articuladores, para assegurar a cidadania infanto-juvenil. Portanto, formar conselheiros é um desafio para o SGD. A Escola de Conselhos, ao oferecer formação para os conselheiros possibilita um diálogo entre a prática e a teoria, que fundamen-ta o cotidiano de atendimentos e ações, no trabalho desses atores.

Apesar de avanços na legislação, ainda persistem ideias e práticas que não conseguem ver, que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos.

Dentro desta perspectiva, a mudança caminha no sentido de substituir os paradigmas que até então vinham orientando políticas e ações sociais. Repudiam-se as práticas assis-tencialistas, estigmatizadoras e segregadoras que sustentam por muitas décadas a divisão entre “crianças” e “menores”. Procura-se redefinir os grupos sobre os quais as políticas devem incidir. Na realidade, esses grupos não mudam: continuam sendo os mais vul-neráveis aos efeitos da pobreza e da exclusão social e os que representam algum tipo de ameaça à sociedade – o que é incompatível com as propostas da garantia de direitos em curso (RIZZINI; BETTEGA; SILVA, 1998).

A presença dos conselhos dos direitos na proposta da formação continuada deve vir, para se estimular mudança de atitudes, na defesa do desenvolvimento integral de crianças e adolescentes.

Quais seriam alguns dos possíveis caminhos? ... acreditar na criança (investir nas suas competências, em todos os seus potenciais); “resgatar a família (idem, modificar a atitude

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de ressaltar deficiências/fracassos); formar redes de apoio e de solidariedade. Estabelecer formas de apoio aos pais (ou pais substitutos) e à comunidade (investir nos elos antes que se deteriorem e se rompam) ; despertar, sensibilizar e capacitar as pessoas para conduzir estas mudanças (todos aqueles que lidam com as crianças devem ter a oportunidade de ampliar e aprofundar seu conhecimento para terem melhores condições de exercer seus papéis de formadores de gerações de crianças: pais, professores, educadores sociais etc. (RIZZINI; BETTEGA; SILVA, 1998).

Neste caminho, ideias são coloridas e outras florescem, no processo de uma edu-cação não formal, continuada, desafiadora e ousada, proposta pela Escola de Conselhos, na interação em rede e na compreensão de uma criança e de um adolescente, possíveis de serem felizes, se entendidos como sujeitos sociais e de direitos, num processo de exercício de cida-dania. A revisão de valores e práticas tem que ser oportunizada. No prefácio, do livro Temas

contemporâneos em extensão das instituições de ensino superior comunitárias. Extensão, direitos humanos e formação da cidadania, o Reitor da PUC Goiás, Professor Wolmir Therezio

Ama-do, afirma:

a Universidade ao se inserir e se integrar na realidade contemporânea regional e nacio-nal, assume um compromisso social, ético e político, contribuindo, de forma critica e propositiva, para a construção de uma sociedade efetivamente plural e equitativa. Nessa perspectiva, cidadania se torna o conceito chave para a compreensão do sentido da ex-tensão na universidade contemporânea. A elaboração de estratégias para a promoção da cidadania passa necessariamente pela discussão das condições de existência e persistência dos direitos fundamentais do cidadão como pessoa humana, em seus níveis de estratifi-cação histórico-política (SOUZA, 2014, p. 11).

A função extencionista de uma universidade deve romper barreiras da tradição en-sino-pesquisa, entendendo ser papel acadêmico, proposituras junto à realidade social. Comu-nidades em processo de vulnerabilidade social representam não só um fenômeno social a ser pesquisado enquanto objeto de estudo, mas a ser tomado enquanto espaço para intervenção, formação e controle social. O SGD da criança e do adolescente constitui-se na articulação e integração das instâncias governamentais e da sociedade civil, na aplicação de instrumentos normativos e no funcionamento dos mecanismos de promoção, defesa e controle para a efeti-vação dos direitos humanos da criança e do adolescente, nos níveis federal, estadual, distrital e municipal.

A PUC Goiás ao abraçar o Projeto Escola de Conselhos em parceria com a SDH/ PR, assumiu seu compromisso histórico na atenção a populações em situação de vulnerabili-dade social, violentadas em seus direitos, em especial crianças e adolescentes. Essa IES renova intenções e as amplia com o atendimento na capacitação de conselheiros tutelares e conselhei-ros dos direitos. Contribui assim, com o desenvolvimento social e o enfrentamento aos atuais níveis de desigualdade social, que se manifestam nas discriminações, explorações e violências, com consequentes violações de direitos humanos, baseadas em razões de classe social, gênero e raça/etnia. Direitos humanos de crianças e adolescentes estão consagrados em instrumentos normativos nacionais e internacionais, fazendo-se necessário suas aplicabilidades, conheci-mento e formação para o controle social destes direitos.

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COUNCIL SCHOOL OF GOIAS: CHALLENGES IN FORMING CHILD PROTECTION BOARD MEMBERS AND DIRECTORS OF RIGHTS

Abstract: this article presents the experience of Council’s School of Goias, held from a part-nership with the Pontifical Catholic University of Goias with the Human Rights Secretariat of the Presidency of Brazil. The aim is to discuss the challenges of this action, in the context of training for the protection of human rights of children and adolescents in the state of Goiás, 2010-2014.

Keywords: Human Rights. Children. Adolescents. Training. Referências

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Referências

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