Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p. 64719-64725, sep. 2020. ISSN 2525-8761
Avaliação das atividades antioxidante e fotoprotetora da espécie syzygium
cumini (L.) Skeels
Evaluation of antioxidant and photoprotective activities of the species
syzygium cumini (L.) Skeels
DOI:10.34117/bjdv6n9-055
Recebimento dos originais: 08/08/2020 Aceitação para publicação: 03/09/2020
Artur Moura Fernandes
Graduado em Licenciatura Plena em Química pela Universidade Estadual do Ceará Instituição: Universidade Estadual do Ceará
Endereço: Av. Dr. Silas Munguba, 1700 – Campus Itaperi - CEP 60.714-903 - Fortaleza-Ceará. E-mail: artur.fernandesquim@gmail.com
Sônia Maria Costa Siqueira
Doutora em Química Orgãnica pela Universidade Federal do Ceará Instituição: Universidade Estadual do Ceará
Endereço: Av. Dr. Silas Munguba, 1700 – Campus Itaperi - CEP 60.714-903 - Fortaleza-Ceará. E-mail: sonia.costa@uece.br
Milena Lira Furtado
Graduanda em Licenciatura Plena em Química pela Universidade Estadual do Ceará Instituição: Universidade Estadual do Ceará
Endereço: Av. Dr. Silas Munguba, 1700 – Campus Itaperi - CEP 60.714-903 - Fortaleza-Ceará. E-mail: milena.furtado@aluno.uece.br
Alissa Ellen Queiroz Ribeiro Campos
Graduanda em Licenciatura Plena em Química pela Universidade Estadual do Ceará Instituição: Universidade Estadual do Ceará
Endereço: Av. Dr. Silas Munguba, 1700 – Campus Itaperi - CEP 60.714-903 - Fortaleza-Ceará. Email: ellenqueirozr22@gmail.com
Nádia Aguiar Portela Pinheiro
Mestranda em Ciências Naturais pela Universidade Estadual do Ceará Instituição: Universidade Estadual do Ceará
Endereço: Av. Dr. Silas Munguba, 1700 – Campus Itaperi - CEP 60.714-903 - Fortaleza-Ceará. Email: nadia.portela@aluno.uece.br
Antônia Fádia Valentim de Amorim
Doutora em Química pela Universidade Federal do Ceará Instituição: Universidade Estadual do Ceará
Endereço: Av. Dr. Silas Munguba, 1700 – Campus Itaperi - CEP 60.714-903 - Fortaleza-Ceará. Email: antonia.fadia@uece.br
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p. 64719-64725, sep. 2020. ISSN 2525-8761 RESUMO
Os protetores solares são preparações cosméticas com objetivo de inibir os danos ocasionados pela radiação ultravioleta. Nesse cenário, buscam-se modelos alternativos de protetores solares capazes de inibir a ação dos raios UV e os processos oxidativos ocasionados pela radiação, por meio do uso de produtos naturais em novas formulações cosméticas. A espécie Syzygium cumini (L.) Skeels é uma planta com uma extensa atividade na medicina popular, e que também apresenta diversos estudos atestando seu potencial farmacológico. Deste modo, este trabalho teve como objetivos avaliar as atividades antioxidante e fotoprotetora dos extratos etanólicos das folhas e sementes da espécie S. cumini. Os resultados da pesquisa mostraram que os extratos das folhas e sementes possuem atividade antioxidante frente ao radical DPPH, com valores de LC50 15,31±1,13 µg/mL e 7,89±0,43 µg/mL, respectivamente. A espécie também apresentou atividade fotoprotetora, os valores encontrados para os Fatores de Proteção Solar dos extratos em concentração de 100 mg/L foram de 4,9373 ± 0,0653 para as folhas e 8,5650 ± 0,1162 para as sementes. Os ensaios realizados com a espécie exibiram sua eficiência quanto as atividades fotoprotetora e antioxidante, demostrando o potencial da S. cumini na inibição do estresse oxidativo e prevenção dos males ocasionados pela exposição da radiação UV.
Palavras chave: Syzygium cumini, antioxidante, fotoproteção ABSTRACT
Sunscreens are cosmetic preparations in order to inhibit the damage caused by ultraviolet radiation. In this scenario, alternative models of sunscreens capable of inhibiting the action of UV rays and oxidative processes caused by radiation are sought through the use of natural products in new cosmetic formulations. The species Syzygium cumini (L.) Skeels is a plant with an extensive activity in folk medicine, and which also presents several studies attesting its pharmacological potential. Thus, this study aimed to evaluate the antioxidant and photoprotective activities of ethanol extracts of leaves and seeds of the species S. cumini. The results of the research showed that leaf and seed extracts have antioxidant activity against the radical DPPH, with values of LC50 15.31±1.13 μg/mL and 7.89±0.43 μg/mL, respectively. The species also presented photoprotective activity, the values found for the Solar Protection Factors of extracts at a concentration of 100 mg/L were 4.9373 ± 0.0653 for the leaves and 8.5650 ± 0.1162 for the seeds. The tests performed with the species showed their efficiency as to photoprotective and antioxidant activities, demonstrating the potential of S. cumini in inhibiting oxidative stress and prevention of diseases caused by UV radiation exposure.
Key-words: Syzygium cumini, antioxidant, photoprotection. 1 INTRODUÇÃO
A radiação ultravioleta (UV) corresponde uma faixa do espectro eletromagnético de 100 a 400 nm, sendo dívida em radiações UVC (100-280 nm), UVB (280-320 nm) e UVA (320-400 nm). A exposição prolongada a radiações UV ocasionam danos a pele, formação de eritemas, queimaduras solares, fotoenvenlhecimento, produção de radicais livres e espécies reativas oxigenadas, danos ao DNA e o surgimento de câncer de pele. (SINGER; KARRER; BERNEBURG, 2019; SHARMA et al., 2017). Segundo a Organização Pan-americana da Saúde, em 2018 o câncer de pele não-melanoma foi o quarto em número de casos registrados no mundo.
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p. 64719-64725, sep. 2020. ISSN 2525-8761 No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA) o câncer de pele não melanoma é o tumor mais frequente em ambos os sexos (BRASIL, 2018).
Devido aos danos ocasionados a exposição excessiva a luz solar, torna-se necessário o uso de protetores solares. Esses protetores ou bloqueadores solares são filtros cosméticos que tem como finalidade principal absorver, refletir ou dispersar a radiação UV, quando entrarem em contato com a pele. (FLOR; DAVOLOS; CORREA, 2007).
Sabe-se, entretanto, que os filtros solares existentes apresentam impactos significativos à saúde humana. As oxibenzonas, por exemplo, são bloqueadores orgânicos utilizados frequentemente em filtros UV, shampoos, fragrâncias e cosméticos, que quando absorvidos pela pele podem ocasionar um desequilíbrio hormonal, levando a uma serie de complicações em ambos os sexos (SCHNEIDER; LIM, 2019).
Como proposta alternativa na busca de solucionar os problemas ocasionados pelos filtros “tradicionais” existe a sugestão do uso de extratos de plantas e seus derivados. As plantas possuem uma diversidade de substâncias conhecidas como metabolitos secundários, dentre elas se destacam os compostos fenólicos que possuem a capacidade de proteger os raios solares e combater o processo inflamatório e o estresse oxidativo ocasionado pela exposição aos raios UV (CATELAN
et al., 2019).
Diante disso, esta pesquisa teve como finalidade avaliar o potencial antioxidante e fotoprotetor dos extratos das folhas e sementes da Syzygium cumini, popularmente conhecida como azeitona preta, para o seu potencial uso na elaboração de filtros cosméticos capazes de inibir a atividade dos raios UV. Devido ser uma espécie com uso popular para tratamento de diversas doenças e rica em diversos metabolitos secundários, a S. cumini apresenta um interesse no mercado farmacológico e como possível constituinte na elaboração de protetores solares a partir de produtos naturais (AYYANAR; SUBASH-BABU, 2012).
2 METODOLOGIA
O material vegetal foi coletado na Universidade Estadual do Ceará, Av. Dr. Silas Munguba, 1700 - Campus do Itaperi, Fortaleza – CE. As folhas e sementes foram limpas e secas em temperatura ambiente por cerca de sete dias. Após secagem, foram submersas em etanol durante quinze dias. A solução resultante foi filtrada e concentrada em equipamento de evaporador rotativo para ser utilizado nas análises seguintes.
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p. 64719-64725, sep. 2020. ISSN 2525-8761 3 AVALIAÇÃO ANTIOXIDANTE POR INIBIÇÃO DO RADICAL LIVRE DPPH (1,1-DIFENIL-2-PICRIL-HIDRAZIL)
Todo ensaio ocorreu de acordo com a metodologia proposta por Yepez et al. (2002), em aparelho espectrofotométrico. Foi preparada uma solução metanólica de DPPH em concentração molar de 6,5. 10-5 M. Em seguida realizou-se uma leitura para determinar a faixa de absorção da solução de DPPH preparada que devia estar entre 0,6 e 0,7 nm e os devidos ajustes foram ajustados com metanol P.A. até que a solução estivesse dentro desta faixa de comprimento de onda. A avaliação antioxidante dos extratos etanólicos ocorreu em triplicata, com uma solução mãe de 10.000 ppm, preparada com dissolução de 15 mg em 1,5 mL metanol (MeOH). A partir da solução mãe produzida foi diluída em MeOH nas seguintes concentrações: 5000 ppm,1000 ppm, 500 ppm, 100 ppm, 50 ppm, 10 ppm e 5 ppm. A inibição do radical livre DPPH em porcentagem foi calculada a partir da fórmula: IV%=(Abs(DPPH)- Abs(amostra))/ (Abs(DPPH) ×100
4 DETERMINAÇÃO DO FATOR DE PROTEÇÃO SOLAR (FPS)
O fator de proteção solar in vitro seguiu a metodologia proposta por Mansur et al. (1986). A Fórmula proposta por Mansur correlaciona o efeito eritematogênico (EE), a intensidade da luz em um determinado comprimento de onda (I) e a absorbância da amostra (abs). A relação entre EE x I (tabela 1) nos comprimentos de onda correspondentes entre 290 a 329 nm foram padronizadas por Mansur, e esses valores foram posteriormente incorporou a sua formula. No ensaio os extratos foram diluídos em etanol P.A, nas seguintes concentrações, 5 ppm, 10 ppm, 25 ppm, 50 ppm, 100 ppm. As concentrações foram lidas em espectrofotômetro UV-Vis na faixa de 290 a 320 nm, em intervalos de 5nm, com o branco sendo o etanol. Todo experimento ocorreu em triplicata e as absorbâncias obtidas foram adicionadas na equação de Mansur (1986) para obtenção dos valores de FPS espectrofotométrico in vitro.
Tabela 1. Relação entre efeito eritematogênico (EE) e Intensidade Solar (I)
λ(nm) EE(λ) x I (λ) 290 0,0150 295 0,0817 300 0,2874 305 0,3278 310 0,1864 315 0,0839 320 0,0180
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p. 64719-64725, sep. 2020. ISSN 2525-8761 Fator de proteção solar espectrofotométrico
𝑭𝑷𝑺 = 𝑭𝑪 ∗ ∑ 𝑬𝑬(λ) ∗ 𝑰(λ) ∗ 𝒂𝒃𝒔(λ) 𝟑𝟐𝟎
𝟐𝟗𝟎
Legenda: FC: fator de correção = 10; EE: efeito eritematogênico;
I: intensidade luminosa; Abs: absorbância da amostra.
Fonte: Mansur et al. (1986)
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A exsicata da S. cumini foi depositada no herbário Prisco Bezerra na universidade federal do Ceará e está arquivada sobre numeração EAC 62637.
3.1 AVALIAÇÃO ANTIOXIDANTE POR INIBIÇÃO DO RADICAL LIVRE DPPH DOS EXTRATOS ETANOLICOS
Os valores obtidos através das medias das absorbâncias (triplicata) dos extratos das folhas e sementes da S. cumini foram empregados na construção da curva analítica que relaciona o índice de varredura e a concentração dos extratos analisados. A partir desses gráficos, obteve-se a equação da reta, que permitiu o cálculo do valor de IC50 (concentração mínima necessária para o antioxidante reduzir em 50% da concentração inicial do DPPH), a avaliação da atividade antioxidante frente ao radical livre de DPPH dos extratos das folhas e sementes apresentaram valores de LC50 15,31± 1,13 µg/mL e 7,89 ± 0,43 µg/mL, respectivamente.
Diante dos resultados encontrados e sabendo que um extrato apresenta bom potencial antioxidante se for capaz de decrescer a concentração inicial do DPPH em 50% (IV50), ou seja, capaz de inibir a oxidação do radical em 50%, os extratos das sementes e folhas da S. cumini apresentam atividade antioxidante, e em destaque as sementes, cujo valor ficou bem próximo do padrão utilizado, Quercetina, que apresentou LC50 5,0±0,18 µg/mL.
3.2 DETERMINAÇÃO DO FATOR DE PROTEÇÃO SOLAR (FPS)
A tabela 2 apresenta os resultados do Fator de Proteção Solar in vitro obtidos para os extratos da azeitona roxa.
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p. 64719-64725, sep. 2020. ISSN 2525-8761 Tabela 2. Resultados do Fator de Proteção Solar dos extratos de S. Cumini
Concentração
S. Cumini Valores de FPS
nas Folhas por concentração. Valores de FPS nas Sementes por concentração. 5 mg/L 0,2598 ± 0,0034 0,5868 ± 0,0078 10 mg/L 0,6222 ± 0,0082 1,03331± 0,0140 25 mg/L 1,2811 ± 0,0169 2,2519 ± 0,0305 50 mg/L 2,5173 ± 0,0337 4,4848 ± 0,0608 100 mg/L 4,9373 ± 0,0653 8,5650 ± 0,1162
Fonte: próprio autor
Observa-se que nas concentrações de 100 mg/L, as folhas e sementes apresentam FPS de 4,9373 ± 0,0653 e 8,5650 ± 0,1162, respectivamente. Essas amostras apresentaram FPS satisfatórios, pois seus valores foram próximos ou superiores ao valor encontrado no regulamento proposto pela ANVISA (2012), em que o protetor solar deve possuir fator de proteção mínimo de 6.
4 CONCLUSÃO
Os extratos da espécie S. Cumini apresentaram compostos fenólicos que podem estar relacionados a elevada atividade antioxidante obtida, bem como a capacidade para proteção solar frente aos raios UV. Sendo assim, os extratos de folhas e sementes da espécie vegetal estudada apresentam-se como uma fonte promissora para elaboração de filtros solares que auxiliam a proteção aos raios UV e possam proteger a pele de danos oxidativos, ocasionados pela exposição a essa radiação.
Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 9, p. 64719-64725, sep. 2020. ISSN 2525-8761 REFERÊNCIAS
ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Regulamento Técnico Mercosul sobre Protetores Solares em Cosméticos – RDC 30 de 1° de Junho de 2012.
AYYANAR, M.; SUBASH-BABU, P. Syzygium cumini (L.) Skeels: A review of its phytochemical constituents and traditional uses. Asian Pacific Journal of Tropical Biomedicine, [s.l.], v. 2, n. 3, p.240-246, mar., 2012.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, Exposição Solar. 2018. Disponível em <https://www.inca.gov.br/causas-e-prevencao/prevencao-e-fatores-de-risco/exposicao-solar> Acesso em 12 de agosto de 2019.
CATELAN, T. B. S. et al. Evaluation of the in vitro photoprotective potential of ethanolic extracts of four species of the genus Campomanesia. Journal of Photochemistry and Photobiology B: Biology, [s.l.], v. 197, p.1-21, ago. 2019.
FLOR, J.; DAVOLOS, M. R.; CORREA, M. A. Protetores solares. Química Nova. São Paulo. v. 30. n.1, p. 153-158, Jan/Fev, 2007.
MANSUR J. S. et al. Determinação do fator de proteção solar por espectrofotometria. Anais Brasileiros de Dermatologia, v.61, p. 121-124, 1986.
MANSUR, M. C. P. P. R. et al. In vitro and in vivo evaluation of efficacy and safety of photoprotective formulations containing antioxidant extracts. Revista Brasileira de Farmacognosia, [s.l.], v. 26, n. 2, p.251-258, mar. 2016.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, OPAS BRASIL. Folha informativa –
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SCHNEIDER, S. L.; LIM, H. W. Review of environmental effects of oxybenzone and other sunscreen active ingredients. Journal of the American Academy of Dermatology, [s.l.], v. 80, n. 1, p.266-271, jan. 2019.
SHARMA, P. et al. Tea polyphenols for the prevention of UVB-induced skin cancer. Photodermatology, Photoimmunology & Photomedicine, [s.l.], v. 34, n. 1, p.50-59, 20 nov. 2017.
SINGER, S.; KARRER, S.; BERNEBURG, M. Modern sun protection. Current Opinion In Pharmacology, [s.l.], v. 46, p.24-28, jun. 2019.
YEPEZ B. et al. Producing antioxidant fractions from herbaceous matrices by supercritical fluid extraction. Fluid Phase Equilibria, [s.l.], v. 194-197, p.879-884, mar. 2002.
