• Nenhum resultado encontrado

Associação entre a Excreção Urinária de Potássio e a Adesão à Dieta Mediterrânica em Idosos Portugueses

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Associação entre a Excreção Urinária de Potássio e a Adesão à Dieta Mediterrânica em Idosos Portugueses"

Copied!
41
0
0

Texto

(1)

Associação entre a

Excreção Urinária de

Potássio e a Adesão

à Dieta Mediterrânica

em Idosos Portugueses

Marta Isabel Babo Leal

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências da

Universidade do Porto e Faculdade de Ciências da Nutrição e

Alimentação da Universidade do Porto

Mestrado em Ciências do Consumo e Nutrição

2018

M ar ta Isa b el Babo Leal FCUP FCNAUP 2018 2.º CICLO A ss oc iaç ão en tre a E xc reção U ri ri a de P otáss io e a A de o à D ieta M ed it errâni ca em Ido so s P ort ug ue se s

(2)

Associação entre a

Excreção Urinária de

Potássio e a Adesão à

Dieta Mediterrânica

em Idosos

Portugueses

Marta Isabel Babo Leal

Mestrado em Ciências do Consumo e Nutrição

Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território

2018

Orientador

(3)

O Presidente do Júri,

(4)

“Never give up on a dream just because of the time it will take to accomplish it. The time will pass anyway.”

- Earl Nightingale.

“It's fine to celebrate success but it is more important to heed the lessons of failure.”

(5)

Agradecimentos

Um obrigada…

À minha orientadora, pelo tempo, orientação e pelas palavras de ânimo e paciência.

Aos coautores, Pedro Moreira, Nuno Borges, Alejandro Santos, Cláudia Afonso, Teresa Amaral, Patrícia Padrão e àqueles que contribuíram para a realização deste projeto.

Aos meus pais, por serem meus pais e pelo amor.

Aos meus irmãos, por serem os melhores do mundo. Aos meus avós, pela preocupação.

À minha família, por ser tão especial. Ao homem da minha vida, porque tudo.

Aos meus melhores amigos, pelo apoio incondicional. À Margarida, pela disponibilidade a cada pergunta.

À Ângela, pela amizade, pelo companheirismo e pela troca de conhecimentos. Às amizades que nasceram neste mestrado, espero ver para toda a vida! Por fim, aos meus sonhos, que espero um dia concretiza-los um a um.

(6)

Resumo

O potássio é um mineral essencial na regulação da pressão arterial, sendo que a adequada ingestão deste nutriente se associa à redução do risco de doenças cardiovasculares (DCV). A Dieta Mediterrânica (DM) foi recomendada como preventiva para o desenvolvimento de várias doenças, nomeadamente as DCV, sendo que é expectável que seja uma boa fonte de potássio, dada a inclusão de quantidades generosas de hortofrutícolas. O objetivo deste trabalho consistiu em quantificar a associação entre a excreção urinária de potássio e DM na população idosa portuguesa. Este estudo esta englobado no projeto Nutrition UP 65 com um desenho observacional transversal realizado em Portugal (2015-2016). Incluiu uma amostra representativa da população idosa portuguesa (≥65 anos) em relação à idade, sexo, escolaridade e região. Uma amostra de urina 24h foi recolhida por cada participante, sendo analisado o volume e a excreção de creatinina e de potássio, tendo 1318 participantes cumprido os critérios de elegibilidade da urina 24h. A ingestão adequada

de potássio foi definida como ≥ 3510 mg/dia, conforme recomendado pela

Organização Mundial da Saúde, sendo para a análise logística binária, agrupada em duas classes de acordo com a mediana da ingestão por sexo. A adesão à DM foi avaliada pela implementação do questionário PREDIMED. Os indivíduos foram classificados com boa adesão à DM, quando a pontuação final era ≥10 e baixa adesão à DM, quando a pontuação final era <10. Um modelo de regressão logística binária foi conduzido para avaliar a associação entre a excreção urinária de potássio (de acordo com a mediana) e a adesão à DM. Os Odds Ratio (OR) e os respetivos intervalos de confiança a 95% (IC 95%) foram calculados. Observou-se uma excreção adequada de potássio em 4,4% das mulheres e 22,0% dos homens, sendo a mediana de ingestão diária de potássio de 1989 mg para as mulheres e 2652 mg para os homens, enquanto uma boa adesão à DM foi relatada por 54,5% das mulheres e 46,0% dos homens. Após ajuste para potenciais confundidores, a excreção adequada de potássio foi associada a uma boa adesão à DM nas mulheres (OR, IC 95% =0,65, 0,49-0,86) e nos homens (OR, IC 95% = 0,79, 0,62-0,99). Estes resultados enfatizam uma associação positiva entre o consumo adequado de potássio e uma boa adesão à DM, assim como, a necessidade da implementação de estratégias que permitam aumentar a ingestão de potássio, através da promoção da adesão à DM, como uma prioridade na população idosa portuguesa.

(7)

Abstract

Potassium is an essential mineral in the regulation of blood pressure, and its adequate intake is associated with a reduction in the risk of cardiovascular diseases (CVD). The Mediterranean Diet (MD) has been recommended has prevention for the development of several diseases, particularly CVD, and it is expected to be a good source of potassium, given the inclusion of generous amounts of horticultural crops. The objective of this study was to quantify the association between urinary potassium excretion and MD in the Portuguese elderly population. This study is included in Nutrition UP 65 project with a transversal observational design carried out in Portugal (2015-2016). It included a representative sample of the Portuguese elderly population (≥65 years) in relation to age, gender, schooling and region. A 24h urine sample was collected by each participant, volume creatinine and potassium \excretion were analyzed, ending with 1318 participants meeting the 24h urine eligibility criteria. Adequate potassium intake was defined as ≥ 3510 mg/day, in accordance to the recommended by the World Health Organization, and for binary logistic analysis, it was grouped into two classes according to the median intake by gender. Adherence to MD was assessed by the implementation of PREDIMED questionnaire. Subjects were classified with good adherence to MD, when the final score was ≥10 and low adherence to MD, when the final score was <10. A binary logistic regression model was conducted to evaluate the association between urinary potassium excretion (according to the median) and adherence to MD. Odds Ratio (OR) and their 95% confidence intervals (95% CI) were calculated. Adequate potassium excretion was observed in 4.4% of women and 22.0% of men, with a median daily potassium intake of 1989 mg for women and 2652 mg for men, while good adherence to MD was reported by 54.5% of women and 46.0% of men. After adjusting for potential confounders, adequate potassium excretion was associated with good adherence to DM in women (OR, 95% CI= 0,65, 0,49-0,86) and in men (OR, 95% CI = 0,79, 0,62-0,99). These results emphasize a positive association between adequate potassium consumption and good adherence to DM, as well as the need to implement strategies to increase potassium intake through the promotion of adherence to MD as priority in the population.

(8)

Índice

Agradecimentos ... I Resumo ... II Abstract ... III Índice ... IV Lista de Tabelas ... V Lista de Abreviaturas ... VI 1. Introdução ... 1

1.1. Efeito do Potássio na Saúde ... 1

1.2. Recomendações para uma Ingestão Adequada de Potássio e Fontes Nutricionais ... 3

1.3. Ingestão de Potássio na População ... 4

1.4. Padrão Alimentar Mediterrânico ... 5

1.5. Dieta Mediterrânica em Portugal e a Adequação na Ingestão de Potássio ... 7

2. Objetivos ... 9

2.1. Objetivo Geral ... 9

2.2. Objetivos Específicos ... 9

3. Métodos ... 10

3.1. Desenho do Estudo e Amostragem ... 10

3.2. Considerações de Ética ... 10

3.3. Recolha de Dados ... 11

3.4. Análise Estatística ... 14

4. Resultados ... 16

4.1. Excreção de Potássio e Adesão à Dieta Mediterrânica em Idosos Portugueses ... 16

4.2. Associação entre a Adesão à Dieta Mediterrânica e a Excreção de Potássio………..19

5. Discussão ... 20

6. Conclusão ... 25

(9)

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Características sociodemográficas, antropométricas e de estilo de vida dos

participantes do sexo feminino com idades ≥ 65 anos de acordo com a excreção urinária de potássio e adesão à dieta mediterrânica..………..…..…17

Tabela 2 - Características sociodemográficas, antropométricas e de estilo de vida dos

participantes do sexo masculino com idades ≥ 65 anos de acordo com a excreção urinária de potássio e adesão à dieta mediterrânica..………....…18

Tabela 3- Odds ratios para a associação entre adesão à dieta mediterrânica e

adequação da excreção de potássio em idosos portugueses com idades ≥ 65 anos.………..…….………....…19

(10)

Lista de Abreviaturas

AVC - Acidente Vascular Cerebral

DCV - Doenças Cardiovasculares

DM - Dieta Mediterrânica

EFSA - European Food Safety Authority

FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação

FMUP - Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

HTA - Hipertensão Arterial

IAN-AF - Inquérito Alimentar Nacional e de Actividade Física

IC - Intervalos de Confiança

IMC - Índice de Massa Corporal

IPAQ - International Physical Activity Questionnaire

MMSE - Mini Mental State Examination

MNA - Mini Nutritional Assessment

NUTS II - Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticas

OMS - Organização Mundial da Saúde

OR - Odds Ratio

PREDIMED - PRevención com DIeta MEDiterrânica

PHYSA -Prevalence, awareness, treatment and control of hypertension and salt intake in Portugal: changes over a decade

SPSS - Statistical Package for the Social Sciences

(11)

1. Introdução

As projeções demográficas mostram que a população europeia tenderá a envelhecer, estimando-se que a população com idade ≥ 65 anos, sofra um aumento de 17% em 2008, para mais de 25% em 2035 e 30% em 2060. Com este envelhecimento da população, espera-se que a proporção de pessoas com idade superior a 80 anos aumente de 4,4% em 2008 para 12,1% em 2060 (1). Mais especificamente na população portuguesa, segundo o Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF), realizado em 2015-2016, 19% da população era idosa (≥65 anos) (2), por sua vez, já tinha existido um aumento de 18,7% na população mais velha entre 2001 e 2011 (3).

Estas projeções são de grande preocupação, porque o envelhecimento está associado a um declínio cognitivo e funcional, alterações emocionais, sintomas depressivos, e, em particular, alteração no estado nutricional (4). Os idosos em situações de risco que vivem na comunidade, institucionalizados em lares, centros de dia ou internados em hospitais têm um maior risco associado a distúrbios nutricionais (5).

Por outro lado, hoje em dia, a maioria da população idosa portuguesa passa por problemas financeiras, o que se traduz num impacto direto sobre a segurança em termos alimentares, levando a implicações nutricionais (4). Desta forma, o comprometimento do estado nutricional em idosos é um grave problema de saúde pública (6).

1.1. Efeito do Potássio na Saúde

O potássio é um mineral essencial na alimentação humana sendo um elemento fundamental na regulação da pressão arterial. Este mineral é crítico quando se avalia os efeitos do consumo de sódio em excesso na pressão arterial (7). A hipertensão arterial (HTA) é reconhecida como um fator de risco primário na doença cardíaca e acidente vascular cerebral (AVC). Em Portugal, no ano 2012, as doenças cardiovasculares (DCV) são as principais causas de morte (8). A prevalência, conhecimento e controlo da HTA no nosso país foi avaliada pelo estudo Prevalence,

(12)

changesover a decade (PHYSA) numa amostra representativa da população adulta

portuguesa, constituída por 3.720 pessoas, com idades entre os 18 e os 90 anos. A prevalência de HTA em Portugal encontrada foi de 42,2%, sendo significativamente mais elevada nos homens e nos indivíduos com idade superior a 64 anos com uma prevalência de 74,9%, descrita em 2012 (9). Dados recentes relacionados com a ingestão de sódio mostram que as populações a nível mundial estão a consumir mais sódio do que é fisiologicamente necessário (10).

O potencial efeito benéfico da ingestão de potássio na pressão arterial já é conhecido desde a década de cinquenta do século XX (11). Numa revisão sistemática com meta-análise realizada em 2013, foram incluídos todos os ensaios clínicos (n=22) e estudos de coorte (n=11) que avaliaram o efeito da ingestão de potássio na pressão arterial, perfil lipídico sanguíneo, concentração de catecolaminas e mortalidade (geral, cardiovascular, AVC e eventos coronários). Este trabalho concluiu que a promoção do aumento da ingestão de potássio para reduzir a pressão arterial em doentes com HTA é suportada por dados de elevada qualidade. O consumo mais elevado de potássio foi associado a um risco inferior em 24% de AVC. Nesta meta-análise a redução da pressão arterial atingia 7,6mmHg quando a excreção urinária de potássio variava entre 3591 e 4788 mg/dia. A maior ingestão de potássio não afetava negativamente o perfil lipídico, as catecolaminas ou a função renal em adultos (7). Segundo McDonough, et

al, 2017, uma inadequação na ingestão de potássio potencia a sensibilidade da

pressão arterial à ingestão de sódio e consequentemente ao risco de HTA (12).

Importa referir que a fisiopatologia da HTA é de extrema complexidade pois resulta da inter-relação de múltiplos fatores. De entre estes fatores, o balanço de sódio e potássio é essencial na manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico, do volume sanguíneo e da atividade celular (13). Uma adequada ingestão de potássio é fundamental para regular a pressão arterial e os efeitos pressores da ingestão de sódio, pois o potássio atenua os efeitos negativos do consumo de sódio em excesso através da redução da pressão sanguínea (12). O desenvolvimento de um balanço de sódio negativo devido à indução de uma marcada natriurese é o principal mecanismo renal que explica o efeito redutor da pressão arterial de uma elevada ingestão de potássio. A maior natriurese após elevada ingestão de potássio é parcialmente explicada por sub-regulação do co-transportador sódio-cloreto, sendo que uma alimentação com baixo teor de potássio aumenta a atividade deste transportador reduzindo a natriurese (14).

(13)

Além disso, os benefícios de uma maior ingestão de potássio são particularmente mais importantes quando a ingestão de sódio é elevada(15). O conjunto destes efeitos sustentam o papel do potássio no controlo da pressão arterial, mas também na prevenção da HTA, reduzindo assim as taxas AVC e risco cardiovascular(12).

1.2. Recomendações para uma Ingestão Adequada de

Potássio e Fontes Nutricionais

A Organização Mundial da saúde (OMS) recomenda uma ingestão de potássio de pelo menos 3510 mg/dia para adultos, relativamente ao efeito redução da pressão arterial e do risco cardiovascular (16). O Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies da

European Food Safety Authority (EFSA) definiu como valor de ingestão adequada um

valor semelhante ao da OMS (3500 mg/dia). Este painel baseou esta recomendação na relação entre a ingestão de potássio e a pressão arterial e o risco de AVC (17).

Será sempre necessário salvaguardar as situações clínicas, como a doença renal crónica, ou o uso de diuréticos poupadores de potássio, em que o risco de hipercalemia obriga a controlar a ingestão de potássio. Contudo, uma alimentação rica em potássio pode ser recomendada sem receio no doente hipertenso com uma taxa

de filtração glomerular >60mL/min/1.73 m2 (18).

A suplementação com potássio tem revelado efeito significativo e dependente da dose na redução pressão arterial sistólica e diastólica, pelo que é plausível o uso de suplementos de potássio como agente anti-hipertensor. No entanto, a adoção de um padrão alimentar com maior densidade nutricional parece mais interessante, pois não só aporta mais potássio e menos sódio, diminuindo o quociente Na/K com os potenciais benefícios que daí resultam, mas fornece muitos outros nutrientes que são essenciais para a prevenção/tratamento de doenças associadas ao estilo de vida (19).

O potássio está presente em todos os alimentos de origem natural destacando-se raízes e tubérculos amiláceos, hortícolas, frutos e leguminosas (17). No caso português, o padrão alimentar mediterrânico ou “Dieta Mediterrânica (DM)”, devido às suas características, é expectável que seja uma boa fonte de potássio. No entanto, a associação entre as duas variáveis ainda não foi evidenciada (20).

Assegurar a recomendação da OMS para o consumo de pelo menos 400 g de hortofrutícolas por dia é uma das estratégias para aumentar a ingestão de potássio,

(14)

uma vez que diversos hortícolas apresentam quantidades apreciáveis deste mineral. Segundo Santos, et al, 2018 a presença da sopa nas duas refeições principais permite assegurar cerca de 79% da recomendação diária para a ingestão de potássio (2756 mg). A presença de leguminosas como feijão, em uma das sopas também contribui de forma relevante para o aumento do seu teor de potássio. O consumo de fruta em quantidades adequadas, nomeadamente o consumo de 3 porções de fruta por dia, permite assegurar cerca de 30% da recomendação diária para a ingestão de potássio (1046 mg). Deste modo, cumprir as recomendações para a ingestão de pelo menos 400 g de hortofrutícolas, por exemplo através do consumo diário de duas sopas de hortícolas e três peças de fruta por dia pode ser uma estratégia para conseguir atingir as recomendações para a ingestão de potássio. A utilização de métodos de confeção, como a sopa, que preserva uma maior quantidade de nutrientes e a presença de leguminosas na sopa, são também algumas estratégias que permitem obter teores de potássio mais elevados no dia-a-dia alimentar (20).

1.3. Ingestão de Potássio na População

Atualmente a média de consumo de potássio pelas populações a nível mundial varia entre 2730 e 3120 mg/dia, apresentando valores inferiores às recomendações da OMS e EFSA. Os dados internacionais mostram que muito poucas são as populações que cumprem as recomendações de ingestão de potássio. A ingestão média de potássio na América do Norte e Europa varia entre 2500 e 2700 mg/dia, em África e na América do Sul é de 2000 mg/dia (21), na Suíça é de 2600 mg/dia (22).

Em Portugal, segundo o estudo PHYSA, que determinou a excreção urinária de potássio estimada pelo método urina 24h, permitiu calcular a ingestão média de potássio (3857 mg/dia, valor calculado considerando que apenas 70% do potássio ingerido é excretado por via urinária). Neste estudo, os dados sobre o consumo de potássio são fornecidos através de uma amostra adulta total, não permitindo a caracterização de indivíduos idosos (9).

O IAN-AF determinou que a ingestão diária média de potássio em Portugal era de 2999 mg/dia em idosos dos 65 aos 84 anos (2). No presente estudo a ingestão de potássio foi de 2262 mg/dia, sendo que, apenas 4% das mulheres e cerca de um quinto dos homens tinham uma ingestão adequada de potássio (23).

(15)

Estes dados expostos evidenciam a necessidade de promover uma adequada ingestão de potássio de forma a cumprir as recomendações da OMS.

1.4. Padrão Alimentar Mediterrânico

Embora nos anos 60 houvesse um núcleo de países bem distinto dos outros países da União Europeia, com a proximidade de um padrão alimentar mediterrânico, com o passar dos anos, estes países afastaram-se uns dos outros e a tendência mediterrânea diminuiu (24). Um dos maiores problemas da DM é a dificuldade de se definir, pois mais de 15 países fazem parte do Mediterrâneo possuindo culturas, religiões e diferentes hábitos alimentares (20).

Em 1992, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos emitiu a primeira Pirâmide Alimentar para os americanos. Em 1993, na Conferência de Boston sobre DM, foi apresentada a primeira Pirâmide da DM e desde então foi adaptada para a população da Grécia, Espanha e Itália, de acordo com os seus diferentes hábitos alimentares (25). Considerando o interesse mundial na DM em 2009, durante a terceira Conferência Internacional de Estudos Universitários sobre Culturas Mediterrâneas em Parma, foi definida uma posição consensual sobre uma nova Pirâmide da DM, partindo do conceito de apenas um modelo de alimentação saudável, para um conceito de estilo de vida e bem-estar (26).

Já em 2010, o Padrão Alimentar Mediterrânico foi considerado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como Património Intangível da Humanidade sendo reconhecido como padrão alimentar, criado e transmitido ao longo de vários séculos. É vista como uma forma única de usar a comida como base para a construção de uma comunidade em que tradições alimentares, como o comer em comunidade, são elementos de um código alimentar. No decorrer do ano de 2012, o Padrão Alimentar Mediterrânico foi incluído no grupo das Dietas mais Sustentáveis do Mundo pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) (27), pelo facto de ser um padrão de baixo impacto ambiental devido à preferência pelo consumo de alimentos de origem vegetal, ao invés, de origem animal (28).

A definição de Alimentação Mediterrânica tem evoluído e variado ao longo do tempo. Numa primeira instância foi definida com sendo uma dieta baixa em gordura saturada e rica em óleos vegetais por Ancel Keys, após observações na Grécia e Sul de Itália

(16)

nos anos 60. Uma das limitações metodológicas de estudar a Alimentação Mediterrânica são as diferentes definições que lhe são atribuídas, o que dificulta a compreensão dos seus efeitos e benefícios para a saúde. A solução passará pela formulação de uma definição mais universal que combine exemplos modernos e tradicionais. No entanto, a comunidade científica está de acordo em duas características: a contribuição dos macronutrientes para a ingestão energética total e a qualidade da gordura ingerida (29).

O Padrão Alimentar Mediterrânico caracteriza-se por privilegiar o uso do azeite como principal gordura; o consumo abundante de alimentos de origem vegetal (fruta, produtos hortícolas, leguminosas e frutos gordos, como as nozes e amêndoas); o consumo diário e generoso de batatas e de cereais e derivados, como arroz, pão e massa; consumo de alimentos pouco processados, frescos e de época; consumo moderado de produtos lácteos com baixo teor de gordura; consumo moderado de peixe e ovos; menor consumo de carne vermelha (preferência pelas carnes magras); consumo moderado de vinho (geralmente às refeições), integrados num estilo de vida saudável (26, 29, 30).

Assim sendo, é um padrão alimentar completo e equilibrado, que tem sido extensivamente associado a um impacto positivo na saúde, devido à sua riqueza em fibra, vitaminas, minerais, compostos fenólicos e ácidos gordos mono e polinsaturados. Alguns dos seus constituintes individuais como o azeite, o peixe, a fruta, os produtos hortícolas e as leguminosas, os frutos gordos e o vinho têm reconhecido papel na regulação dos mecanismos para o desenvolvimento de risco cardiovascular (31, 32). Diversos trabalhos científicos têm consistentemente sugerido que a DM está associada a uma menor incidência de DCV, cancro, obesidade, diabetes tipo 2, HTA, doenças degenerativas e melhor saúde metabólica, e qualidade de vida e maior longevidade (32-35).

O estudo PRevención com DIeta MEDiterrânica (PREDIMED) foi desenvolvido em Espanha e teve duração de 4 anos, com o objetivo de testar a eficácia da DM na prevenção primária da doença cardiovascular (31, 36). Este estudo piloto observou um efeito positivo a longo prazo em participantes com elevado risco cardiovascular, durante um acompanhamento de 3 meses (31), e relatou que o PREDIMED se trata uma ferramenta válida para avaliar a adesão ao padrão alimentar mediterrânico na população (37).

(17)

1.5. Dieta Mediterrânica em Portugal e a Adequação na

Ingestão de Potássio

Segundo Durão, et al, 2018, Portugal tem todas as potencialidades para obter uma padrão alimentar mediterrânico, pela sua geografia e clima, de norte a sul do país, produz-se ou acede-se aos alimentos que constituem este tipo de alimentação. Assim, é possível também preservar os princípios da sazonalidade e tradicionalidade dos alimentos, característicos da DM. No entanto, a alimentação dos portugueses, há semelhança do que se tem vindo a observar noutros países mediterrânicos tende a afastar-se da alimentação tradicional tipo mediterrânica (24).

Recentemente em Portugal foi criada uma nova Roda da Alimentação Mediterrânica, que tem como base a roda dos alimentos portugueses (38-39). Pela primeira vez, esta, incorpora os princípios sobre o estilo de vida saudável associados ao Padrão Alimentar Mediterrânico. Esta representação gráfica mostra os alimentos mediterrânicos mais relacionados com o padrão alimentar português: óleos e gorduras (azeite/azeitonas - alimento e respetivo fruto de origem); hortícolas (cebola, alho, couve galega, grelos, tomate, pimentos, beldroegas…); fruta (melão, figo, ameixa, citrinos, nêspera, romã…); cereais e tubérculos (batata doce, castanha, massa e arroz integrais, flocos de aveia, pão de centeio, broa…); carne, pescado e ovos (peixe, em especial sardinha, carapau, cavala, atum…); laticínios (queijo e iogurte); leguminosas (todas) (40).Sendo assim, a DM em Portugal caracteriza-se por 10 princípios:

❖ Frugalidade e cozinha simples que tem na sua base preparados que protegem os nutrientes, como as sopas, os cozidos, os ensopados e as caldeiradas; ❖ Elevado consumo de produtos vegetais em detrimento do consumo de

alimentos de origem animal, nomeadamente de produtos hortícolas, fruta, pão de qualidade e cereais pouco refinados, leguminosas secas e frescas, frutos secos e oleaginosos;

❖ Consumo de produtos vegetais produzidos localmente, frescos e da época; ❖ Consumo de azeite como principal fonte de gordura;

❖ Consumo moderado de lacticínios;

❖ Utilização de ervas aromáticas para temperar em detrimento do sal; ❖ Consumo frequente de pescado e baixo de carnes vermelhas;

❖ Consumo baixo a moderado de vinho e apenas nas refeições principais; ❖ Água como principal bebida ao longo do dia;

(18)

Este padrão inclui produtos locais e sazonais com menor impacto ambiental e, ainda, variadas soluções culinárias de grande aceitação pelos consumidores portugueses. De sublinhar a necessidade de reduzir substancialmente o sal na confeção, de um modo geral, e em particular nas sopas. E ainda reduzir o consumo de certos produtos da tradição mediterrânica curados e conservados com quantidades elevadas de sal (20).

Por sua vez, os alimentos que a nova Roda dos Alimentos Mediterrânica Portuguesa destaca como sendo os “alimentos mediterrânicos” são praticamente todas boas fontes de potássio, como por exemplo a romã, o tomate, a batata-doce e a aveia, as leguminosas, entre outros (20). Deste modo, considera-se que a DM apresenta um balanço adequado no que diz respeito à ingestão de potássio, uma vez que integra fontes importantes deste nutrimento, como os hortofrutícolas. Por sua vez, Feart, et al, 2012, indicam uma relação significativa entre a adesão da DM e o consumo médio de potássio, devido ao alto teor em frutas, hortícolas, e leguminosas sendo que esse consumo aumenta com o aumento da adesão ao padrão da DM, em ambos os homens e mulheres (35).

A literatura existente evidencia uma associação significativa entre a adesão à DM e o consumo de potássio, por sua vez, tal evidência proveio de estudos em que a ingestão alimentar foi estimada através de questionários de frequência alimentar e inquéritos às 24h anteriores (35). Segundo o nosso melhor conhecimento este estudo é o primeiro trabalho publicado que visa relacionar a adesão à DM e a ingestão de potássio em idosos recorrendo a dados de excreção urinária de 24h, sendo este método considerado o método gold standard para avaliar a distribuição e o consumo médio de potássio numa população (41).

Atendendo à baixa prevalência de adequação da ingestão de potássio na população e concretamente na população idosa portuguesa, ao contrário do que poderia ser esperado dada a expectável adesão por parte deste grupo populacional ao padrão alimentar mediterrânico (2), o presente estudo tem como objetivo quantificar a associação entre a excreção urinária de potássio e adesão ao padrão alimentar mediterrânico na população idosa portuguesa.

(19)

2. Objetivos

2.1. Objetivo Geral

Este estudo tem como objetivo estudar a associação entre a excreção urinária de potássio e adesão ao padrão alimentar mediterrânico na população idosa portuguesa.

2.2. Objetivos Específicos

Os objectivos específicos deste estudo são:

1. Quantificar a excreção urinária de potássio;

2. Caracterizar a adequação da excreção de potássio e a adesão à DM de acordo com as características sociodemográficas;

3. Quantificar a associação entre a excreção urinária de potássio e a adesão à dieta mediterrânea na população idosa portuguesa.

(20)

3. Métodos

3.1. Desenho do Estudo e Amostragem

Este estudo insere-se no projeto Nutrition UP 65, que consiste num estudo observacional transversal, realizado em Portugal. Incluiu uma amostra de 1500 idosos portugueses (65 anos ou mais de idade), representativa da população idosa portuguesa em relação à idade, sexo, escolaridade e região (definido na Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticas - NUTS II), conforme descrito no protocolo previamente publicado (43).

Foram incluídos indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos de nacionalidade portuguesa e residência fiscal em Portugal.

Em cada área regional, três ou mais câmaras municipais com mais de 250 habitantes, foram seleccionadas aleatoriamente. Os potenciais participantes residentes na comunidade foram contactados através de uma abordagem domiciliar, telefone, ou através de instituições tais como câmaras municipais e centros paroquiais. Os indivíduos institucionalizados em lares de idosos foram contactados através das instituições. Os potenciais participantes foram contactados pelos entrevistadores que forneceram informações sobre os objetivos do estudo e a metodologia e os convidaram a participar. A amostra foi composta por indivíduos idosos residentes no seu domicílio ou institucionalizados, sendo os últimos na proporção igual à observada na população idosa portuguesa.

Os indivíduos que apresentavam qualquer condição que invalidasse a recolha de urina, tal como demência ou incontinência urinária, não foram incluídos no estudo.

3.2. Considerações de Ética

Esta pesquisa foi realizada de acordo com as diretrizes estabelecidas com a Declaração de Helsinkia (1989) da Associação Médica Mundial (44). O protocolo do estudo foi submetido à aprovação da Comissão Nacional Portuguesa de Proteção de Dados (n.º 9427/2015), e foi aprovado pelo Comitê de Ética para a saúde do

(21)

Universidade do Porto (FMUP) (n.º PCEDCSS - FMUP 15/2015). Todos os participantes, ou dois representantes por participante, foram convidados a ler e assinar um formulário duplicado “consentimento informado”.

3.3. Recolha de Dados

Os dados foram recolhidos entre dezembro de 2015 e maio 2016.

Dados demográficos, desempenho cognitivo, ocupação atual, ex-profissão, práticas de estilo de vida, estado de saúde, história clínica, estado nutricional, estado de coabitação e de renda familiar e adesão a um padrão da DM foram recolhidos através de um questionário estruturado. Oito nutricionistas previamente treinados foram responsáveis pela aplicação do questionário e também pela recolha dos dados antropométricos.

Dados Sociodemográficos

Os dados sociodemográficos incluíram: sexo, data de nascimento, área regional, estado civil, escolaridade e tipo de residência.

O nível de escolaridade foi determinado pelo número de anos de escolaridade concluídos e foram utilizadas as seguintes categorias: <4 anos de escolaridade; primeiro ciclo (4 anos de estudo); segundo ciclo (6 anos de estudo); terceiro ciclo (9 anos de estudo); secundário (12 anos de estudo); pós-secundário (> 12 anos de escolaridade, mas sem ensino superior); ensino superior (educação profissional académica, profissional e avançado).

As áreas regionais utilizadas são definidas na NUTS II: Alentejo, Algarve, Açores, Área Metropolitana de Lisboa, Centro, Madeira e Norte.

O estado civil foi classificado como solteiro, casado, divorciado, em união de facto ou viúvo. Foram agrupados em duas categorias: casado (casado, união de facto) e não casado (solteiro, divorciado ou viúvo). O tipo de residência foi definido como casa ou instituição.

(22)

Dados Clínicos

O desempenho cognitivo foi avaliado pela versão em Português do Mini Mental State

Examination® (MMSE)® (45). Este teste avalia as funções de orientação, registo,

atenção e calculo, memória, linguagem e a capacidade de seguir instruções simples. É composto por 30 perguntas, em que cada uma corresponde a um ponto, se correta. Os pontos de corte para défice cognitivo são os seguintes: indivíduos sem escolaridade, ≤ 15 pontos; 1 a 11 anos de escolaridade concluídos, ≤ 22 pontos; e >11 anos de escolaridade concluídos, ≤ 27 pontos.

Os indivíduos identificados com défice cognitivo, o “consentimento informado” foi assinado por dois representantes e todos os dados foram fornecidos por uma pessoa próxima ao participante tais como um membro da família ou cuidador.

Dados Antropométricos

A antropometria foi avaliada através de procedimentos padrão(46). A altura foi obtida através de um estadiómetro calibrado (Seca 213) com uma resolução de 0,1 centímetros. Para os participantes com cifose visível, ou quando era impossível medir a estatura devido à paralisia do participante, ou devido a alguma limitação de mobilidade, ou de equilíbrio, a estatura foi obtida indiretamente a partir do comprimento da mão não-dominante (em centímetros) (47), medida com um paquímetro calibrado de Fervi com uma resolução de 0,1 centímetros.

O peso corporal (em quilogramas) foi obtido recorrendo a uma balança digital portátil calibrada (Seca 803) com resolução de 0,1 quilogramas, com os participantes vestindo apenas roupas leves. Quando não foi possível pesar um participante, pelas mesmas razões de ser incapaz medir a altura, o peso corporal foi estimado a partir da medida do antebraço e circunferência da barriga da perna(48) através de uma fita métrica de metal (Lufkin) com uma resolução de 0,1 centímetros. O índice massa corporal (IMC)

foi calculado através da fórmula [Peso Corporal (kg) /Altura2 (m)]. Os pontos de corte

da OMS foram utilizados para classificar o IMC em peso normal (<25,0 kg/m2),

excesso de peso (25-29,9 kg/m2) e obesidade (> 30,0 kg/m2).

A versão em Português do Mini Nutritional Assessment® (MNA) - Short Form também foi aplicada (49, 50). Esta consiste em seis perguntas dirigidas à ingestão alimentar, perda de peso, estado físico, mental e antropometria através do IMC. Enquadrou-se a

(23)

subnutrição, pontuações entre 8 e 11 estava em risco de desnutrição e uma pontuação entre 12 e 14 pontos foi considerado bem nutrido (50).

Atividade Física

A atividade física foi avaliada pela forma abreviada do IPAQ (International Physical

Activity Questionnaire) (51). Este questionário reúne informações sobre os sete dias

anteriores, ou seja, quantos dias e quanto tempo o participante passou: a pé ou a caminhar; sentado; em atividades moderadas como carregar objetos leves, jardinagem ou andar de bicicleta num ritmo normal; em atividades vigorosas como levantar objetos pesados, agricultura, jogar futebol ou andar de bicicleta a um ritmo acelerado.

Estimado o gosto semanal de energia, foi possível categorizar o nível de atividade física em baixa ou alta, por sexo. A atividade física foi considerada baixa para os homens quando a energia despendida, foi inferior a 383 kcal e 270 kcal para as mulheres.

Adesão ao Padrão Alimentar Mediterrânico

A adesão ao padrão alimentar mediterrânico foi avaliada pela versão portuguesa de PRevención com Dieta MEDiterrânica (PREDIMED) (52). Esta ferramenta foi desenvolvida com a finalidade de estimar a adesão ao padrão alimentar mediterrânico na prevenção primária da doença cardiovascular. O PREDIMED é composto por 14 itens cotados como zero ou um ponto. A pontuação final corresponde ao somatório das respostas, realizadas no próprio questionário. De acordo com a pontuação final os padrões de consumo alimentar são classificados em função do grau de adesão à DM, em que, ≥ 10 indica uma boa adesão à DM, e <10 indica uma baixa adesão à DM (31).

Recolha de Urina e Excreção de Potássio

Uma amostra de urina de 24h foi recolhida por cada participante. Os entrevistadores transmitiram aos participantes um conjunto de instruções orais e escritas sobre o procedimento para a recolha e armazenamento das amostras de urina. Foi fornecido um recipiente de urina de 24h para posterior análise no laboratório certificado, Labco (Lisboa, Portugal).

Os seguintes marcadores urinários foram quantificados: volume de urina (ml); creatinina urinária (mg/dia), medido pelo método de Jaffe (reação com o picrato alcalino) (53); potássio urinário (originalmente expressa em mEq/dia, que foi

(24)

convertido para mg/dia, utilizando o peso molecular de potássio (39 mg K=1 mmol de K ou 1mEq N), para fins de comparação). A excreção de potássio pela urina 24h é reconhecida como o método mais rigoroso para determinar o consumo de potássio (41).

A validação das amostras de urina de 24h, foi realizada considerando a excreção urinária de creatinina consoante o sexo. Considerou-se a amostra como inadequada, quando o nível de creatinina foi inferior a 0,4 g/24h para mulheres e 0,6 g/24h para os homens (54).

A ingestão de potássio analisada neste estudo, corresponde à quantidade de potássio excretado através da conversão de 24h da excreção urinária de potássio. De acordo com as recomendações da OMS, classificou-se como uma ingestão de potássio inadequada <3510 mg/dia (16).

3.4. Análise Estatística

Na análise descritiva, as variáveis categóricas são apresentadas como frequências (n) e percentagens (%). Os participantes foram comparados de acordo com a adequação da excreção de potássio (adequada vs. inadequada) e a adesão à DM (boa adesão vs baixa adesão) de acordo com as características sociodemográficas, antropométricas e estilo de vida dos participantes, utilizando o teste qui-quadrado de Pearson para as variáveis categóricas.

A normalidade das variáveis contínuas foi analisada através do teste de Kolmogorov-Smirnov, uma vez que a amostra é superior a 30 participantes. A comparação das variáveis, com distribuição não normal entre os grupos em estudo, foi realizada utilizando o teste não paramétrico para 2 amostras independentes, teste de Mann-Whitney.

Um modelo de regressão logística binária foi conduzido para avaliar a associação entre a excreção urinária de potássio e a adesão ao padrão alimentar mediterrânico na população idosa portuguesa, por sexo. A variável excreção de potássio foi recodificada numa variável categórica dicotómica, sendo o ponto de corte a mediana da excreção de potássio por sexo. A variável PREDIMED também foi recodificada, numa variável

(25)

respetivos Intervalo de Confiança (IC) a 95% foram determinados. Foi realizado um modelo bruto e um modelo usando a idade como variável de ajuste.

Um valor de p <0,05 foi considerada para a significância estatística das hipóteses testadas. As análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa IBM SPSS Statistics© (Statistical Package for the Social Sciences) versão 25.0 para Windows.

(26)

4. Resultados

4.1. Excreção de Potássio e Adesão à Dieta Mediterrânica

em Idosos Portugueses

A partir dos 1500 indivíduos idosos portugueses recrutados, 178 foram excluídos porque as amostras de urina não foram consideradas válidas. Quatro participantes foram excluídos devido à impossibilidade de medir ou estimar o peso. A amostra final deste estudo é composta por 1318 participantes, 57,3% são do sexo feminino e 42,7% do sexo masculino.

Uma excreção de potássio adequada foi observada em 4,4% das mulheres e 22,0% dos homens, sendo a mediana de ingestão diária de potássio de 1989 mg para as mulheres e 2652 mg para os homens. Uma boa adesão à DM foi relatada por 54,5% das mulheres e 46,0% dos homens

As características sociodemográficas, antropométricas e de estilo de vida dos participantes de acordo com a excreção de potássio (adequada e inadequada) e adesão à DM (boa ou baixa), por sexo, são apresentadas nas tabelas 1 e 2.

Os indivíduos mais novos de ambos os sexos apresentaram maior prevalência de adequação da excreção urinária de potássio (Tabelas 1 e 2). O mesmo se verificou nas mulheres com atividade física normal (Tabela 1) e nos homens casados, com atividade física baixa e nos residentes nos arquipélagos da Madeira e Açores (Tabela 2).

A prevalência de indivíduos classificados com boa adesão à DM foi superior nos indivíduos casados de ambos os sexos (Tabelas 1 e 2), nas mulheres mais novas e com excesso de peso (Tabela 1) e nos homens com escolaridade mais elevada e nos residentes no Alentejo e Algarve (Tabela 2).

(27)

a A adesão à DM foi classificada como boa adesão e baixa adesão (ou seja, ≥10, <10pontos no PREDIMED) (10).

DM, Dieta Mediterrânica; IMC, Índice de Massa Corporal.

Tabela 1. Características sociodemográficas, antropométricas e de estilo de vida dos participantes do sexo feminino com idades ≥ 65 anos de acordo com a excreção urinária de potássio e adesão à dieta mediterrânica.

Variável

Excreção de Potássio Adesão à DM

Inadequada (<3510 mg/dia) Adequada (≥3510 mg/dia) p Boa (≥10 pontos)a Baixa (<10 pontos) p N 722 33 319 436 Idade (anos) 65-79, n (%) 529 (94,5%) 31 (5,5 %) 0,008 254 (45,4%) 306 (54,6%) 0,003 ≥80, n (%) 193 (99,0%) 2 (1,0%) 65 (33,3%) 130 (66,7%) Escolaridades (anos) 0, n (%) 121 (96,8%) 4 (3,2%) 0,918 44 (35,2%) 81 (64,8%) 0,063 <4, n (%) 160 (94,7%) 9 (5,3%) 67 (39,6%) 102 (60,4%) 4, n (%) 336 (95,5%) 16 (4,5%) 154(43,8%) 198 (56,3%) 5 a 12, n (%) 76 (96,2%) 3 (3,8%) 35 (44,3%) 44 (55,7%) < 12, n (%) 29 (96,7%) 1 (3,3%) 19 (63,3%) 11 (36,7%) Residência Casa, n (%) 686 (95,4%) 33 (4,6%) 0,189 304 (42,3%) 415 (57,7%) 0,942 Instituição, n (%) 36 (100,0%) 0 (0,0%) 15 (41,7%) 21 (58,3%) Região

Norte centro, AM Lisboa, n (%) 602 (95,1%) 31 (4,9%)

0,235 276 (43,6%) 357 (56,4%) 0,088 Alentejo, Algarve, n (%) 92 (98,9%) 1 (1,1%) 36 (38,7%) 57 (61,3%) Madeira e Açores, n (%) 28 (96,6%) 1 (3,4%) 7 (24,1%) 22 (75,9%) Estado Marital Casado, n (%) 271 (95,1%) 14 (4,9%) 0,571 142 (49,8%) 143 (50,2%) <0,001 Não casado, n (%) 451 (96,0%) 19 (4,0%) 117 (37,7%) 293 (62,3%)

Estação do Ano da Colheita da Urina

Outono, Inverno, n (%) 458 (96,0%) 19 (4,0%) 0,495 191 (40,0%) 286 (60,0%) 0,107 Primavera, Verão, n (%) 264 (95,0%) 14 (5,0%) 128 (46,0%) 150 (54, 0%) IMC Normal, n (%) 100 (98,0%) 2 (2,0%) 0,237 35 (34,3%) 67 (65,7%) <0,001 Excesso de peso, n (%) 302 (96,2%) 12 (3,8%) 157 (50,0%) 157 (50,0%) Obesidade, n (%) 320 (94,4%) 19 (5,6%) 127 (37,5%) 212 (62,5%) Atividade física Normal (383 kcal) 595 (94,7%) 33 (5,3%) 0,008 270 (43,0%) 358 (57,0%) 0,359 Baixa (<383 kcal) 127 (100,0%) 0 (0,0%) 49 (38,6%) 78 (61,4%) Excreção de Potássio Inadequada (<3510 mg/dia) --- --- --- 301 (94,4%) 18 (5,6%) 0,144 Adequada (≥3510 mg/dia) --- --- --- 421 (96,6%) 15 (3,4%) Adesão à DM Boa (≥10 pontos) 301 (41,7%) 18 (54,5%) 0,144 --- --- --- Baixa (<10 pontos) 421(58,3%) 15 (45,5%) --- --- ---

(28)

a A adesão à DM foi classificada como boa adesão e baixa adesão (ou seja, ≥10, <10pontos no PREDIMED) (10).

DM, Dieta Mediterrânica; IMC, Índice de Massa Corporal.

Tabela 2. Características sociodemográficas, antropométricas e de estilo de vida dos participantes do sexo masculino com idades ≥ 65 anos de acordo com a excreção urinária de potássio e adesão à dieta mediterrânica.

Variável

Excreção de Potássio Adesão à DM

Inadequada (<3510 mg/dia) Adequada (≥3510 mg/dia) p Boa (≥10 pontos)a Baixa (<10 pontos) p N 439 124 319 436 Idade (anos) 65-79, n (%) 344 (76,1%) 108 (23,9 %) 0,031 208(46,0%) 244 (54,0%) 0,875 ≥80, n (%) 95 (85,6%) 16 (14,4%) 52 (46,8%) 59 (66,7%) Escolaridades (anos) 0, n (%) 43 (89,6%) 5 (10,4%) 0,175 15(31,3%) 33 (68,8%) 0,003 <4, n (%) 58 (78,4%) 16 (21,6%) 33 (44,6%) 41 (55,4%) 4, n (%) 236 (74,9%) 79 (25,1%) 139 (44,1%) 176 (55,9%) 5 a 12, n (%) 76 (80,0%) 19 (20,0%) 50 (52,6%) 45 (47,4%) < 12, n (%) 26 (83,9%) 5 (16,1%) 23 (74,2%) 8 (25,8%) Residência Casa, n (%) 428 (78,0%) 121 (22,0%) 0,957 251 (45,7%) 298 (54,3%) 0,169 Instituição, n (%) 11 (78,6%) 31 (21,4%) 9 (64,3%) 5 (35,7%) Região

Norte centro, AM Lisboa, n (%) 359 (76,4%) 111 (23,6%)

0,018 216 (46,0%) 254 (54,0%) <0,001 Alentejo, Algarve, n (%) 66 (90,4%) 7 (9,6%) 42 (57,5%) 31 (42,5%) Madeira e Açores, n (%) 14 (70,0%) 6 (30,0%) 2 (10,0%) 18 (90,0%) Estado Marital Casado, n (%) 267 (73,0%) 99 (27,0%) 0,000 181 (49,5%) 185 (50,5%) 0.029 Não casado, n (%) 171 (87,2%) 25 (12,8%) 78 (39,8%) 118 (60,2%) Estação do Ano da Colheita da Urina

Outono, Inverno, n (%) 149 (78,8%) 40 (21,2%) 0,702 91 (48,1%) 98 (51,9%) 0,465 Primavera, Verão, n (%) 288 (77,4%) 84 (22,6%) 167 (44,9%) 205 (55,1%) IMC Normal, n (%) 83 (83,8%) 16 (16,2%) 0,267 47 (47,5%) 52 (52,6%) 0,953 Excesso de peso, n (%) 220 (77,5%) 64 (24,5%) 131 (46,1%) 153 (53,9%) Obesidade, n (%) 136 (75,6%) 44 (24,4%) 82 (45,6%) 98 (54,4%) Atividade física Normal (383 kcal) 371 (76,2%) 8 (10,8%) 0,012 225 (46,2%) 262 (53,8%) 0,967 Baixa(<383 kcal) 66 (89,2%) 124 (22,1%) 34 (45,9%) 40 (54,1%) Excreção de Potássio Inadequada (<3510 mg/dia) --- --- --- 203 (78,1%) 57 (21,9%) 0,957 Adequada (≥3510 mg/dia) --- --- --- 236 (77,9%) 67 (22,1%) Adesão à DM Boa (≥10 pontos) 203 (46,2%) 57 (46,0%) 0,957 --- --- --- Baixa (< 10 pontos) 236 (53,8%) 67 (54,0%) --- --- ---

(29)

4.2. Associação entre a Adesão à Dieta Mediterrânica e a

Excreção de Potássio

A excreção de potássio adequada foi associada a uma boa adesão à DM nas mulheres, tanto no modelo bruto (OR=0,61;IC 95%: 0,46-0,80) como no modelo ajustado (OR= 0,65; IC 95%: 0,49-0,86). Tal associação foi verificada também nos homens tanto no modelo bruto (OR=0,76; IC 95%:0,61-0,96) como no modelo ajustado (OR= 0,79; IC 95%: 0,62-0,99) (Tabela 3).

OR, odds ratio; IC 95%, intervalo de confiança de 95%.

Tabela 3. Odds ratios para a associação entre adesão à dieta mediterrânica e adequação da excreção de potássio em idosos portugueses com idade ≥ 65 anos.

Excreção de Potássio de acordo com a Mediana

Feminino Masculino OR Bruto (IC 95%) OR Ajustado (IC 95%) R 2 OR Bruto (IC 95%) OR Ajustado (IC 95%) R 2 Adesão à DM Boa (≥10 pontos) 1 1 1 1 Baixa (<10 pontos) 0,61 (0,46-0,80) 0,65 (0,49 - 0,86) 0,073 0,76 (0,61 – 0,96) 0,79 (0,62-0,99) 0,018

(30)

5. Discussão

Neste estudo foi possível observar uma associação positiva entre a ingestão adequada de potássio e uma boa adesão à DM, tanto em homens como em mulheres, idosos. Estes resultados corroboram com os de um estudo realizado em França e que incluiu 1595 indivíduos idosos, com o objetivo de descrever a associação entre uma boa adesão DM e a ingestão de energia, macronutrientes e micronutrientes. Verificou, que o consumo de potássio aumentou com uma boa adesão à DM em homens e mulheres (35). A associação negativa entre uma boa adesão à DM e a ocorrência de HTA, também foi descrita por Verde, et al, 2018, que estudou uma amostra de 1937 adultos. Os resultados deste estudo indicaram que uma boa adesão à DM, foi inversamente associada à HTA, no entanto, esta associação não permaneceu significativa após o ajuste para a ingestão de sódio e de potássio. O facto de neste último estudo os resultados não incluírem a ingestão de potássio, não terem sido estratificados por idade e os indivíduos acima de 64 anos representarem apenas 23,3% do total da amostra, limita a comparação com o presente estudo (55, 56).

A DM é considerada um padrão alimentar completo e equilibrado, que se traduz em inúmeros benefícios para a saúde, tendo em conta a sua riqueza em fibras, ácidos gordos mono e polinsaturados, vitaminas e minerais, dos quais se destaca o potássio (34, 42). Caracteriza-se por privilegiar o uso do azeite como principal gordura; o consumo abundante de alimentos de origem vegetal (fruta, produtos hortícolas, leguminosas e frutos gordos, como as nozes e amêndoas); o consumo diário e generoso de batatas e de cereais e derivados, como arroz, pão e massa; consumo de alimentos pouco processados, frescos e de época; consumo moderado de produtos lácteos com baixo teor de gordura; consumo moderado de peixe e ovos; menor consumo de carne vermelha (preferência pelas carnes magras); consumo moderado de vinho (geralmente às refeições), integrados num estilo de vida saudável (34, 42, 29).

Diversos trabalhos científicos têm consistentemente sugerido que a DM está associada a um menor risco cardiovascular (34, 57). Entre os principais fatores de risco, o menor peso corporal parece associar-se à adesão à DM, e por sua vez, melhoria da saúde metabólica, aumentando assim a longevidade e a qualidade de vida (32-34). Numa meta-análise recente com ensaios em ambiente controlado, randomizados com o objetivo de avaliar o efeito dos diferentes padrões alimentares na

(31)

redução da HTA, concluiu-se que um padrão como a DM era eficaz na redução da pressão arterial (36).

O potássio está presente em todos os alimentos de origem natural, destacando-se, raízes e tubérculos amiláceos, hortícolas, leguminosas e frutas (17). Segundo o estudo de McDonough, et al, de 2017, o potássio é um mineral crítico na regulação da pressão arterial, porque atenua os efeitos negativos da ingestão de sódio em excesso através da redução da pressão sanguínea, diminuindo assim o risco cardiovascular (12).

O estudo PREDIMED foi desenvolvido em Espanha e teve duração de 4 anos, com o objetivo de testar a eficácia da DM na prevenção primária da doença cardiovascular (31, 58). Este estudo piloto observou um efeito positivo a longo prazo em participantes com elevado risco cardiovascular, durante um acompanhamento de 3 meses (31), e relatou que o PREDIMED se trata de uma ferramenta válida para avaliar a adesão ao padrão alimentar mediterrânico na população (37). No presente estudo, a adesão à DM foi avaliada pela ferramenta PREDIMED, a qual se revelou efetivamente interessante para indicar a adequação (indiretamente) da ingestão de potássio. Embora, esta ferramenta não tenha sido validada para a população portuguesa.

A excreção de potássio foi utilizada na caracterização da ingestão alimentar de potássio através do método urina 24h. A quantidade da excreção de potássio neste

estudo, encontra-se abaixo do valor mínimo recomendado pela OMS (≥3510 mg/dia,

para adultos) (16). O mesmo se verificou em sub-grupos da população portuguesa de outras faixas etárias, como numa amostra de 250 adolescentes portugueses entre os 13 e 18 anos, em que a excreção urinária média de potássio foi de 2237 mg/dia para os rapazes e 1904mg/dia nas raparigas. Os autores discutem que a baixa ingestão pode ser explicada pela baixa adesão à dieta tradicional mediterrânica e ao alto consumo de alimentos processados e ao baixo consumo de hortícolas nestes indivíduos (42), embora não tenha sido avaliada a adesão à DM nesta amostra de adolescentes.

Os indivíduos mais novos de ambos os sexos apresentaram maior prevalência de adequação da excreção urinária de potássio. Embora neste estudo não se tenha avaliado a ingestão energética, a diferença entre os indivíduos idosos mais novos e os mais velhos, pode ser explicado pela menor ingestão energética com o envelhecimento (59). As necessidades energéticas (taxa metabólica de repouso, termogénese e atividade física) diminuem e consequentemente a ingestão alimentar e

(32)

deste micronutriente pode estar comprometida, uma vez que, pode estar positivamente correlacionado com a ingestão energética total (60).

Os homens casados apresentam uma maior prevalência de adequação na ingestão de potássio, já a prevalência de indivíduos classificados com boa adesão à DM foi superior nos indivíduos casados de ambos os sexos. Por outro lado, especula-se que indivíduos divorciados, separados ou viúvos possam apresentar uma alimentação nutricionalmente mais pobre, consumindo refeições mais industriais e ingerir menos refeições preparadas em casa ricas em hortofrutícolas, como sopas e saladas (61, 62), o que pode explicar a sua menor adequação na ingestão de potássio e uma menor adesão à DM. Pelo contrário, a adequada ingestão de potássio aliada a uma boa adesão à DM em indivíduos casados, pode refletir escolhas alimentares saudáveis e refeições preparadas em família (63, 64).

Conclui-se também que os indivíduos do sexo masculino residentes nos arquipélagos da Madeira e Açores obtinham uma maior adequação na ingestão de potássio e os residentes no Alentejo e Algarve uma boa adesão à DM. O clima, características

geomorfológicas, história, cultura e tradições alimentares, marcadamente

mediterrânicas, são os principais responsáveis nesta análise (65). Pela sua posição geográfica, o Alentejo e o Algarve, apresentam um clima temperado, com mais de 3000 horas de sol por ano e baixa pluviosidade anual. Apresenta características morfológicas e geológicas próprias que permitem a produção de produtos agrícolas, assim como uma agricultura mais intensiva, como a horticultura e a produção de citrinos. Nesta zona podemos ainda encontrar o cultivo de cereais como o trigo e a cevada, e de leguminosas. A cozinha tradicional algarvia e a cozinha alentejana apresentam similitudes, na medida em que, ambas se caracterizam pela frugalidade e parcimónia, nomeadamente no que concerne ao consumo de alimentos de origem animal, que nunca representam o elemento principal na alimentação quotidiana. É uma cozinha familiar, de carácter rural, que faz uso dos recursos alimentares locais, os quais rentabiliza com criatividade, respeitando a sazonalidade e a biodiversidade, proporcionando uma alimentação saudável e nutricionalmente adequada. Muitos destes alimentos e formas de os combinar estão intimamente ligados às várias civilizações, a maioria oriundas de países mediterrânicos, que se fixaram no Algarve e no Alentejo. As raízes mediterrânicas da cozinha algarvia e Alentejana estão evidentes nos seus elementos fundamentais, dos quais se salientam o pão, o azeite, as leguminosas, os produtos hortícolas, os frutos, o alho, o peixe, as ervas aromáticas

(33)

condimentares e o vinho (64, 65). Assim sendo, é explicável a boa adesão à DM nestas regiões.

Relativamente à escolaridade, homens com um nível de instrução superior, apresentaram maior prevalência de boa adesão à DM. Estudos publicados anteriormente, indicam que um nível de ensino superior se traduz numa maior literacia nutricional associada a maior poder de compra que facilitam a adesão à DM (66).

Considerando a ingestão inadequada de potássio e a baixa adesão à DM no presente estudo, considera-se pertinente a implementação de estratégias no sentido de aumentara ingestão de potássio através da promoção da adesão à DM, como uma prioridade na população idosa portuguesa, dada a elevada prevalência de HTA nesta população. A ingestão inadequada de potássio tem efetivamente sido associada a uma maior prevalência de HTA e DCV (67), existindo evidências científicas sobre o papel de uma ingestão adequada de potássio na diminuição do risco cardiovascular (7) e na redução da pressão arterial em hipertensos.

Assegurar a recomendação da OMS para o consumo de pelo menos 400 g de hortofrutícolas por dia é uma das estratégias cruciais para aumentar a ingestão de potássio, uma vez que diversos hortícolas apresentam quantidades apreciáveis deste mineral. Segundo Santos, et al, 2018, a presença da sopa nas duas refeições principais permite assegurar cerca de 79% da recomendação diária para a ingestão de potássio (2756 mg). A presença de leguminosas como feijão, numa das sopas também contribui de forma relevante para o aumento do seu teor de potássio. O consumo de 3 porções de fruta por dia, permite assegurar cerca de 30% da recomendação diária para a ingestão de potássio (1046 mg). Deste modo, cumprir as recomendações para a ingestão diária de pelo menos 400 g de hortofrutícolas, por exemplo, através do consumo de duas sopas e três peças de fruta por dia pode ser uma estratégia para conseguir atingir as recomendações para a ingestão de potássio (20).

No entanto, nesta faixa etária as restrições económicas podem ser uma barreira, considerando que a adoção a padrões alimentares com alta densidade nutricional e baixa densidade energética, nomeadamente no caso da DM, poderá acarretar custos económicos mais elevados (68). Desta forma, incentivos a uma política de preços que permita aumentar a acessibilidade a estes alimentos, poderão facilitar uma maior adesão à DM e consequentemente uma maior ingestão de potássio.

(34)

Campanhas de sensibilização com mensagens direcionadas aos consumidores, sobre o impacto deste mineral na saúde e os benefícios deste padrão alimentar deverão ser implementadas, com foco não só em crianças e adultos, mas também para idosos.

Apesar das forças deste trabalho, devem também ser tidas em conta algumas limitações. O estudo Nutrition UP 65 é um estudo transversal e, portanto, nenhuma associação causal entre a excreção urinária de potássio e adesão à DM pode ser inferida. Além disso, o estudo inclui uma única recolha de urina 24h por participante, podendo não abranger a variabilidade biológica da excreção de potássio em 24h, o que pode não representar o comportamento alimentar habitual dos indivíduos. No entanto, o método utilizado também pode ser considerado como uma força do estudo, já que a excreção urinária de 24h é considerado o método gold standard para a avaliar a distribuição e o consumo médio de potássio numa população (41).

Os recursos disponíveis e o cronograma do projeto Nutrition UP 65 não permitiram a inclusão da avaliação da ingestão alimentar dos participantes, o que impede a estimativa das fontes alimentares de potássio, que seriam úteis na definição de estratégias para melhorar a sua ingestão nas populações mais velhas.

(35)

6. Conclusão

O presente estudo observou que a excreção de potássio adequada se associou a uma boa adesão à DM numa amostra representativa de idosos portugueses de ambos os sexos. Estes resultados enfatizam a necessidade da implementação de estratégias que visem aumentar a ingestão de potássio através da promoção da adesão à DM, na população idosa, com vista à diminuição do risco cardiovascular e a uma melhor saúde.

A DM é um padrão alimentar saudável, com outros benefícios para a saúde, e deve ser, portanto, incentivado. Assim sendo, devem ser incentivadas preparações culinárias que privilegiem o uso de produtos hortícolas como as sopas, onde se preserva uma maior quantidade de nutrientes. Produtos hortícolas, leguminosas e fruta são fundamenteis fontes de potássio, permitindo obter e atingir a adequada ingestão deste mineral e potenciar o seu efeito na redução da pressão arterial e consequentemente no risco cardiovascular.

(36)

7. Referências Bibliográficas

1. Eurostat. Populationprojections 2008-2060. 2008.

2. Lopes C, Torres D, Oliveira A, Severo M, Alarcão V, Guiomar S, et al. Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física IAN-AF 2015-2016: Relatório Parte II. Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física. 2017.

3. Instituto Nacional de Estatística I. Censos 2011 resultados definitivos-Portugal. Lisboa-Portugal: Instituto Nacional de Estatística, IP. 2012.

4. Álvares L, Amaral TF. Food insecurity and associated factors in the Portuguese population. Food and Nutrition Bulletin. 2014;35(4):S395-S402.

5. Maseda A, Gómez-Caamaño S, Lorenzo-López L, López-López R, Diego-Diez C, Sanluís-Martínez V, et al. Health determinants of nutritional status in community-dwelling older population: the VERISAÚDE study. Public Health Nutrition. 2016;19(12):2220-8.

6. van der Pols-Vijlbrief R, Wijnhoven HA, Molenaar H, Visser M. Factors associated with (risk of) undernutrition in community-dwelling older adults receiving home care: a cross-sectional study in the Netherlands. Public Health Nutrition. 2016;19(12):2278-89. 7. Aburto NJ, Hanson S, Gutierrez H, Hooper L, Elliott P, Cappuccio FP. Effect of increased potassium intake on cardiovascular risk factors and disease: systematic review and meta-analyses. British Medical Journal. 2013;346:f1378.

8. George F. Causes of deaths in Portugal and challenges in prevention. Acta Médica Portuguesa. 2012;25(2):61-3.

9. Polonia J, Martins L, Pinto F, Nazare J. Prevalence, awareness, treatment and control of hypertension and salt intake in Portugal: changes over a decade. The PHYSA study. Journal of Hypertension. 2014;32(6):1211-21.

10. Chockalingam A, Campbell NR, Fodor JG. Worldwide epidemic of hypertension. The Canadian Hournal of Cardiology. 2006;22(7):553.

11. Meneely G, Ball C, Youmans J. Chronic sodium chloride toxicity: the protective effect of added potassium chloride. Annals of Internal Medicine. 1957;47(2):263-73. 12. McDonough AA, Veiras LC, Guevara CA, Ralph DL. Cardiovascular benefits associated with higher dietary K+ vs. lower dietary Na+: evidence from population and mechanistic studies. American Journal of Physiology-Endocrinology and Metabolism. 2017;312(4):E348-E56.

(37)

13. Adrogué HJ, Madias NE. Sodium surfeit and potassium deficit: keys to the pathogenesis of hypertension. Journal of the American Society of Hypertension. 2014;8(3):203-13.

14. Penton D, Czogalla J, Loffing J. Dietary potassium and the renal control of salt balance and blood pressure. European Journal of Physiology (PflügersArchiv). 2015;467(3):513-30.

15. Kotchen TA, Cowley Jr AW, Frohlich ED. Salt in health and disease - a delicate balance. New England Journal of Medicine. 2013;368(13):1229-37.

16. World Health Organization. Guideline: potassium intake for adults and children. Geneva: World Health Organization; 2012.

17. Turck D, Bresson JL, Burlingame B, Dean T, Fairweather‐Tait S, Heinonen M, et al. Dietary reference values for potassium. European Food Safety Authority Journal. 2016;14(10).

18. Malta D, Arcand J, Ravindran A, Floras V, Allard JP, Newton GE. Adequate intake of potassium does not cause hyperkalemia in hypertensive individuals taking medications that antagonize the renin angiotensin aldosterone system. The American Journal of Clinical Nutrition. 2016;104(4):990-4.

19. Poorolajal J, Zeraati F, Soltanian AR, Sheikh V, Hooshmand E, Maleki A. Oral potassium supplementation for management of essential hypertension: A meta-analysis of randomized controlled trials. PLOS ONE. 2017;12(4):e0174967.

20. Santos A, Gregório MJ, Sousa S, Anjo C, Martins S, Bica M, et al. A importância do potássio e da alimentação na regulação da pressão arterial. Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. 2018.

21. Mizéhoun-Adissoda C, Houinato D, Houehanou C, Chianea T, Dalmay F, Bigot A, et al. Dietary sodium and potassium intakes: Data from urban and rural areas. Nutrition. 2017;33:35-41.

22. Glatz N, Chappuis A, Conen D, Erne P, Péchère-Bertschi A, Guessous I, et al. Associations of sodium, potassium and protein intake with blood pressure and hypertension in Switzerland. SwissMedWkly. 2017;147:w14411.

23. Moreira P, Sousa AS, Guerra RS, Santos A, Borges N, Afonso C, et al. Sodium and potassium urinary excretion and their ratio in the elderly: results from the Nutrition UP 65 study. Food&Nutrition Research. 2018;62.

24. Durão C, Oliveira J, Almeida MDV. Portugal e o Padrão Alimentar Mediterrânico. Revista de Alimentação Humana. 2018. 14(3), 115-128.

Imagem

Tabela 1. Características sociodemográficas, antropométricas e de estilo de vida dos participantes do sexo feminino com idades   ≥ 65 anos de acordo com a excreção urinária de potássio e adesão à dieta mediterrânica.
Tabela 2. Características sociodemográficas, antropométricas e de estilo de vida dos participantes do sexo masculino com idades   ≥ 65 anos de acordo com a excreção urinária de potássio e adesão à dieta mediterrânica.
Tabela 3. Odds ratios para a associação entre adesão à dieta mediterrânica e adequação da excreção de potássio  em idosos portugueses com idade ≥ 65 anos .

Referências

Outline

Documentos relacionados

Basicamente, pelo estudo da casuística, destacam-se os seguintes principais pontos: 1 a condenação dos Estados Unidos à revisão e reconsideração das sentenças de morte; haja vista

Acreditamos que o estágio supervisionado na formação de professores é uma oportunidade de reflexão sobre a prática docente, pois os estudantes têm contato

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

Assim, este estudo buscou identificar a adesão terapêutica medicamentosa em pacientes hipertensos na Unidade Básica de Saúde, bem como os fatores diretamente relacionados

[r]

- Alteração ou destruição da Plaqueta de Identificação do Produto; - Alteração no equipamento ou de qualquer característica original; - Abusos ou negligências para com

Quando os Cristais são colocados a menos de 20 cm do nosso corpo, com uma intenção real, eles começam a detectar o que está a mais no físico, no emocional, no mental e no

Com este conjunto de perguntas pretendemos aferir quais os locais que onde esta população gosta de ocupar o tempo livre, que género de actividades gostam de