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ONSELHO
N
ACIONAL DA
J
USTIÇA
Eminente Conselheiro Relator Rui Stoco
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200910000000060
COLÉGIO REGISTRAL DO RIO GRANDE DO SUL,
associação civil sem fins lucrativos, com sede na Avenida Borges de
Medeiros 2105, sala 1303, em Porto Alegre-RS, CEP 90110-150, com
administração no Estado do Rio Grande do Sul, neste ato
representada por seu Presidente Oly Érico da Costa Fachin, pelo
presente, na melhor forma de direito e em atenção ao r. despacho
datado de 12jan2009, vem manifestar sua irresignação à pretensão do
Ministério Público do Estado do Mato Grosso, conforme razões a
seguir:
1.
Esclarece-se,
inicialmente,
que
a
entidade
peticionária tem por fins institucionais, entre outros, propugnar por
legislação que resguarde e enalteça a dignidade da classe e discipline
os serviços de notários e registradores; promover estudos,
conferências, cursos e jornadas para o aperfeiçoamento das
atividades notariais e registrais; vigiar pelo decoro da classe e definir
normas de ética profissional; representar os associados perante
terceiros e os poderes constituídos em tudo que seja de interesse
profissional, sem participar em opinião de corrente política partidária;
promover a publicação e divulgação de assuntos de interesse da
classe; levantar o cadastramento dos notários e registradores por
município; e, assessorar agentes dos Poderes do Estado, quando
solicitado, sobre assuntos da especialidade notarial ou registral, na
forma da lei.
2.
O Pedido de Providências versa, resumidamente, na
pretensão de reconhecimento por este Colendo Conselho Nacional de
Justiça, da extensão das regras relativas à proibição de nepotismo
aos serviços notariais e de registro.
3. Alegam, em suma, que os serviços notariais e de
registro, embora exercidos em caráter privado, possuem natureza
pública e, por isso, devem ser submetidos às normas que proíbem a
prática do nepotismo nos órgãos públicos, com base na Resolução nº
07/2005-CNJ e na Súmula Vinculante nº 13 do STF.
4. Para melhor compreender a real repercussão da
pretensão, imprescindível visitarmos o teor da Resolução nº
07/2005-CNJ, da Súmula Vinculante nº 13 do STF e do Enunciado
Administrativo nº 1-Nepotismo-CNJ.
5. A Resolução nº 07/2005-CNJ possui o seguinte teor:
"RESOLUÇÃO Nº 07, DE 18 DE OUTUBRO DE 2005 (Atualizada com a Redação da Resolução Nº 09/2005 e Nº 21/2006)Disciplina o exercício de cargos, empregos e funções por parentes, cônjuges e companheiros de magistrados e de servidores investidos em cargos de direção e assessoramento, no âmbito dos órgãos do Poder Judiciário e dá outras providências.
O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, no uso de suas atribuições,
CONSIDERANDO que, nos termos do disposto no art. 103-B, § 4°, II, da Constituição Federal, compete ao Conselho zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de oficio ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei;
CONSIDERANDO que a Administração Pública encontra-se submetida aos princípios da moralidade e da impessoalidade consagrados no art. 37, caput, da Constituição;
RESOLVE:
Art. 1° É vedada a prática de nepotismo no âmbito de todos os órgãos do Poder Judiciário, sendo nulos os atos assim caracterizados.
Art. 2° Constituem práticas de nepotismo, dentre outras: I - o exercício de cargo de provimento em comissão ou de função gratificada, no âmbito da jurisdição de cada Tribunal ou Juízo, por cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, dos respectivos membros ou juízes vinculados;
II - o exercício, em Tribunais ou Juízos diversos, de cargos de provimento em comissão, ou de funções gratificadas, por cônjuges, companheiros ou parentes em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, de dois ou mais magistrados, ou de servidores investidos em cargos de direção ou de assessoramento, em circunstâncias que caracterizem ajuste para burlar a regra do inciso anterior mediante reciprocidade nas nomeações ou designações;
III - o exercício de cargo de provimento em comissão ou de função gratificada, no âmbito da jurisdição de cada Tribunal ou Juízo, por cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, de qualquer servidor investido em cargo de direção ou de assessoramento;
IV - a contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, dos respectivos membros ou juízes vinculados, bem como de qualquer servidor investido em cargo de direção ou de assessoramento;
V - a contratação, em casos excepcionais de dispensa ou inexigibilidade de licitação, de pessoa jurídica da qual sejam sócios cônjuge, companheiro ou parente em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, dos respectivos membros ou juízes vinculados, ou servidor
investido em cargo de direção e de assessoramento.
§ 1° Ficam excepcionadas, nas hipóteses dos incisos I, II e III deste artigo, as nomeações ou designações de servidores ocupantes de cargo de provimento efetivo das carreiras judiciárias, admitidos por concurso público, observada a compatibilidade do grau de escolaridade do cargo de origem, a qualificação profissional do servidor e a complexidade inerente ao cargo em comissão a ser exercido, vedada, em qualquer caso a nomeação ou designação para servir subordinado ao magistrado ou servidor determinante da incompatibilidade.
§ 2° A vedação constante do inciso IV deste artigo não se aplica quando a contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público houver sido precedida de regular processo seletivo, em cumprimento de preceito legal.
Art. 3º São vedadas a contratação e a manutenção de contrato de prestação de serviço com empresa que tenha entre seus empregados cônjuges, companheiros ou parentes em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive de ocupantes de cargos de direção e de assessoramento, de membros ou juízes vinculados ao respectivo Tribunal.
Art. 4° O nomeado ou designado, antes da posse, declarará por escrito não ter relação familiar ou de parentesco que importe prática vedada na forma do artigo 2°.
Art. 5° Os Presidentes dos Tribunais, dentro do prazo de noventa dias, contado da publicação deste ato, promoverão a exoneração dos atuais ocupantes de cargos de provimento em comissão e de funções gratificadas, nas situações previstas no art. 2°, comunicando a este Conselho.
Parágrafo único Os atos de exoneração produzirão efeitos a contar de suas respectivas publicações.
Art. 6° O Conselho Nacional de Justiça, em cento e oitenta dias, com base nas informações colhidas pela Comissão de Estatística, analisará a relação entre cargos de provimento efetivo e cargos de provimento em comissão, em todos os Tribunais, visando à elaboração de políticas que privilegiem mecanismos de acesso ao serviço público baseados em processos objetivos de aferição de mérito.
Art. 7° Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Ministro NELSON JOBIM"
6. A Súmula Vinculante nº 13 do STF possui o teor
abaixo reproduzido:
"A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica, investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança, ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta, em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal."
7.
Vejamos, igualmente, o Enunciado Administrativo nº
1-Nepotismo-CNJ:
"Enunciado Administrativo nº 1 - Nepotismo
O) Aplica-se a Resolução 7 deste CNJ às nomeações não-concursadas para serventias extrajudiciais.
(Precedente: Pedido de Providências nº 861 - Julgado em 27 de maio de 2008 - 63ª Sessão Ordinária)
Ministro Gilmar Mendes Presidente
8. Do Enunciado Administrativo citado extrai-se a
determinação de aplicação da Resolução 7-CNJ às nomeações
não-concursadas para serventias extrajudiciais.
9.
Tal Enunciado tem origem no Pedido de
Providências nº 861-CNJ, do qual, no que diz respeito ao nepotismo,
vislumbra-se: "c) Recomende que uma instituição de ensino
especializada na aplicação de provas para concursos públicos realize
o certame, com intuito de evitar favorecimento pessoal aos parentes
de Juízes, Promotores e demais agentes da justiça".
9.1 Notícia publicada no site do CNJ revela a motivação
da decisão no Pedido de Providências:
"Titulares interinos de cartórios são atingidos pela Resolução antinepotismo Terça, 25 de Março de 2008
A indicação de servidor não concursado para exercer interinamente o cargo de titular de cartório deve respeitar as mesmas restrições impostas pela resolução antinepotismo do CNJ (Resolução 7). "Como os cargos de titulares interinos funcionam como cargo de confiança, pois são indicados por um juiz, parentes diretamente ligados aos magistrados estão impedidos de ocupar tal função" diz o relator, conselheiro Joaquim Falcão.
A indicação de servidor não concursado para exercer interinamente o cargo de titular de cartório deve respeitar as mesmas restrições impostas pela resolução antinepotismo do CNJ (Resolução 7). "Como os cargos de titulares interinos funcionam como cargo de confiança, pois são indicados por um juiz, parentes diretamente ligados aos magistrados estão impedidos de ocupar tal função" diz o relator, conselheiro Joaquim Falcão. A decisão, tomada nesta terça-feira (25/03), responde ao Pedido de Providências 861, que denuncia irregularidades nos cartórios de Goiás. Dentre elas, a indicação de parentes de juízes como titulares de cartórios e a inexistência de concurso público para preenchimento das vagas como prevê a Constituição.
Segundo o relator, o tribunal não informou com precisão quais as serventias vagas, ocupadas interinamente e ocupadas por parentes de magistrados. A Corregedoria Nacional de Justiça vai apurar a falta de informações do tribunal Goiano. O Conselho estabeleceu prazo de seis meses para realização de concurso público que sane as irregularidades. Com a publicação de edital do processo seletivo em até 60 dias." (Fonte: http://www.cnj.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3874&Itemid =167, acessado em 06fev2009). (grifamos)
10. Diante da determinação de aplicação da Resolução
nº 7 do CNJ "às nomeações não-concursadas para serventias
extrajudiciais" não podemos perder de vista o ensinamento de HELY
LOPES MEIRELLES (in Direito Administrativo Brasileiro, 25ª ed., São
Paulo : Malheiros Editores, 2000, p. 398), segundo o qual "A
nomeação é o ato de provimento de cargo".
11. No mesmo sentido DE PLACIDO E SILVA (in
Vocabulário Jurídico, 27ª ed., Rio de Janeiro : Editora Forense, 2008,
p. 959) ao conceituar nomeação acentua "No sentido do Direito
Administrativo, entende-se o ato pelo qual o poder público faz a
designação de uma pessoa para que seja promovida no exercício
de um cargo ou função pública".
12. Nota-se do o art. 2º da Resolução nº 7 do CNJ seu
direcionamento ao exercício de um cargo ou função pública:
"Art. 2° Constituem práticas de nepotismo, dentre outras:
I - o exercício de cargo de provimento em comissão ou de função gratificada, no âmbito da jurisdição de cada Tribunal ou Juízo, por cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, dos respectivos membros ou juízes vinculados;
II - o exercício, em Tribunais ou Juízos diversos, de cargos de provimento em comissão, ou de funções gratificadas, por cônjuges, companheiros ou parentes em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, de dois ou mais magistrados, ou de servidores investidos em cargos de direção ou de assessoramento, em circunstâncias que caracterizem ajuste para burlar a regra do inciso anterior mediante reciprocidade nas nomeações ou designações;
III - o exercício de cargo de provimento em comissão ou de função gratificada, no âmbito da jurisdição de cada Tribunal ou Juízo, por cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, de qualquer servidor investido em cargo de direção ou de assessoramento;
IV - a contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, dos respectivos membros ou juízes vinculados, bem como de qualquer servidor investido em cargo de direção ou de assessoramento;
V - a contratação, em casos excepcionais de dispensa ou inexigibilidade de licitação, de pessoa jurídica da qual sejam sócios cônjuge, companheiro ou parente em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, dos respectivos membros ou juízes vinculados, ou servidor investido em cargo de direção e de assessoramento." (grifamos)
12.1 No mesmo sentido a Súmula Vinculante nº 13 do
STF.
13. Sendo assim, onde se enquadrariam os funcionários
dos Notários e Registradores?! São celetistas, pagos à conta de
receita não pública, cuja responsabilidade dos atos recai diretamente
sobre o empregador, não exercentes de cargo ou função pública.
14. No Serviço Notarial e Registral só quem exerce
cargo ou função pública é o titular, sendo todos os demais contratados
funcionários seus, e por conseguinte, não detentores de cargo ou
função pública.
15. As vedações perpetradas na Resolução citada e na
Súmula Vinculante nº 13-STF dizem respeito exclusivamente à
situação prevista no § 2º do art. 39 da Lei nº 8.935/94, verbis:
"Art. 39. ...
§ 2º. Extinta a delegação a notário ou a oficial de registro, a autoridade competente declarará vago o respectivo serviço, designará o substituto mais antigo para responder pelo expediente e abrirá concurso."