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CARTA DE TIRADENTES BELO HORIZONTE, 10 DE MARÇO DE 2016.

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CARTA DE TIRADENTES

APROVADA PELO CONGRESSO DA MAGISTRATURA E DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS SOBRE O NOVO CÓDIGO DO PROCESSO CIVIL

REALIZADO DE 25 A 27 DE NOVEMBRO DE 2015.

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CARTA DE TIRADENTES

Congresso Estadual da Magistratura e do Ministério Público sobre o Novo CPC – A Transição para o Novo Processo Civil e os Desafios do Acesso à Justiça

1O novo sistema jurídico brasileiro

O sistema jurídico brasileiro tem passado por grandes transformações nas últimas décadas. A maior delas ocorreu com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, ao consagrar o Estado Democrático de Direito, tendo por objetivo fundamental a criação de uma sociedade justa, igualitária e solidária. Na verdade, a partir da Carta de 1988, implantou-se no Brasil um novo sistema jurídico, em que o acesso à justiça passa a ser garantia fundamental de aplicabilidade imediata da tutela dos direitos individuais e coletivos.

Depois do advento da Constituição, foram aprovadas importantes leis, a fim de se ampliar e se facilitar o acesso do cidadão à justiça. Destacam-se, a título de ilustração, as Leis dos Juizados Especiais, o Código de Defesa do Consumidor, os Estatutos da Criança e do Adolescente, do Idoso e, mais recentemente, da Pessoa com Deficiência.

2O CPC/1973 e as suas minirreformas: o surgimento de uma crise de coerência e de unidade no sistema processual civil

Paralelamente às novas leis aprovadas no Congresso Nacional depois da CR/1988, o CPC/1973, ainda em vigor – influenciado na sua gênese por uma técnica processual de tutela individual e distante dos vários problemas que envolvem o acesso à justiça –, sofreu centenas de alterações, algumas destinadas a ampliar as tutelas jurisdicionais diferenciadas, outras para valorizar os mecanismos alternativos de resolução de conflitos, e a maioria para tornar o CPC mais ágil, eficiente e efetivo. Neste terceiro aspecto, destacam-se as alterações no sistema recursal, na execução das

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decisões judiciais, na concessão das tutelas provisórias, cautelares e na antecipação dos efeitos da tutela final.

Essas importantes reformas melhoraram em muito o CPC/1973. Contudo, tendo sido implementadas por minirreformas, uma das suas consequências foi o enfraquecimento da coerência e da unidade do CPC, que são características inerentes a qualquer código. Além disso, as inúmeras alterações não foram suficientes para ajustar o CPC/1973 ao modelo de princípios e de tutela jurídica consagrado na CR/1988.

3 O Novo CPC para o Brasil (Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015) e seus desafios

Nesse contexto, surgiu a proposta de um novo CPC para o Brasil. Entre o Ato nº 379, de 30 de setembro de 2009, do Presidente do Senado, que nomeou a Comissão de Juristas encarregada de elaborar o Anteprojeto do Novo Código de Processo Civil, e a sanção presidencial ao Projeto de Lei aprovado no Congresso, que resultou na Lei nº 13.105 de 16 de março de 2015 (Novo Código de Processo Civil), decorreram, aproximadamente, cinco anos e meio; o que representa um período de tempo curto para a criação de um novo sistema de processo civil materializado em um novo Código.

O Brasil vive, assim, um momento de transição para um novo sistema de processo civil. Surgem, com isso, desafios na implantação da nova cultura e da nova prática idealizadas no Código de Processo Civil de 2015, ainda em período de vacatio

legis.

As novas categorias processuais do CPC suscitam polêmicas. Sobressaem, por exemplo, a priorização da resolução consensual como dever do Estado (art. 3º, § 2º), a estabilização da tutela antecipada (art. 304), o incidente de resolução de demanda repetitiva (arts. 976 a 987), a flexibilização do acesso ao STF e as questões ligadas ao novo sistema recursal.

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4 Homenagem ao Ministro Eros Grau

A homenagem ao Ministro Eros Grau é o reconhecimento do Ministério Público e do Judiciário mineiros por tudo que o grande jurista, professor e juiz produziu na sua carreira, em especial pelas teses inovadoras por ele defendidas em suas publicações. Importa destacar a consagrada obra O direito posto e o direito

pressuposto, na qual assim se explica o momento de transição do processo civil

brasileiro:

A atividade humana, pois, modifica as relações sociais. Assim, o direito pressuposto brota da (na) sociedade, à margem da vontade individual dos homens, mas a prática jurídica modifica as condições que o geram. [...] O direito pressuposto condiciona a elaboração do direito posto, mas este modifica o direito pressuposto. O direito que o legislador não pode criar arbitrariamente – insisto – é o direito positivo. O direito pressuposto condiciona o direito posto (positivo). Mas o direito posto transforma sua (dele) própria base. (GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. São Paulo: Malheiros, 1996. p. 44).

O Congresso Estadual de Tiradentes – A Transição para o Novo Processo

Civil e os Desafios do Acesso à Justiça – presta essa justa homenagem a Eros Grau,

neste momento de transição para um novo direito processual civil posto, na esperança de que a boa prática jurídica do Novo CPC modifique as condições que o geraram, a fim de implantar no Brasil um sistema de justiça civil em que o acesso à justiça seja mais eficiente, justo e humanizado.

5Enunciados aprovados

PARTE GERAL

1 O dever de priorização da resolução consensual dos conflitos, previsto no § 2º do art. 3º do Novo CPC, abrange a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias, fundações e empresas públicas.

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aprovado por unanimidade

2 Em atenção ao disposto nos §§ 2º e 3º do art. 3º do Novo CPC, o Ministério Público deve priorizar, sempre que possível, a resolução consensual dos conflitos em todas as suas áreas de atuação jurisdicional ou extrajurisdicional.

aprovado por maioria

3 O rol dos métodos de resolução consensual dos conflitos, previsto no § 3º do art. 3º do Novo CPC, é meramente exemplificativo, de modo que, além da conciliação e da mediação, também podem ser destacadas a negociação e as práticas restaurativas.

aprovado por unanimidade

4 A resolução consensual dos conflitos, prevista no § 2º do artigo 3º e em outros dispositivos do Novo CPC, deverá ser priorizada pelos juízes, em todos os graus de jurisdição, inclusive na fase recursal e no processo de execução (art. 139, V, do Novo CPC).

aprovado por maioria

5 Deverá ser priorizada a resolução de mérito com a flexibilização, sempre que possível, das questões referentes à formalidade dos atos processuais, a teor do art. 4º do Novo CPC.

aprovado por unanimidade

6 O prazo razoável para a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa, previsto nos arts. 4º e 6º do Novo CPC, deverá atender as necessidades concretas do direito material, de modo que permita, conforme o caso, a aceleração ou até o alargamento do procedimento.

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7 A cooperação constante do art. 6º do Novo CPC deve ser entendida como coparticipação, que se liga ao contraditório consistente nos princípios informação, reação, diálogo e influência na construção da decisão.

aprovado por maioria

8 Para se atender aos fins sociais e às exigências do bem comum na aplicação do ordenamento jurídico, conforme estatui o art. 8º do Novo CPC, serão admissíveis todas as medidas e técnicas de tutelas jurídicas, inclusive a produção de provas atípicas legítimas, tais como as provas por estatísticas ou por amostragem.

aprovado por unanimidade

9 A aplicabilidade do Novo CPC ao direito processual coletivo, a teor do disposto nos arts. 18 e 506 do referido Código e de outros dispositivos, continuará limitada e condicionada à presença de compatibilidade formal e material.

aprovado por maioria

10 A isenção do pagamento de custas finais para o caso de transação, prevista no art. 90, § 3º, do Novo CPC, não abrange as custas que incidiram até a data do acordo.

aprovado por maioria

11 A disciplina do pagamento das despesas dos atos processuais, prevista nos §§ 1º e 2º do art. 91 do Novo CPC, é incompatível, do ponto de vista formal e material, com o direito processual coletivo, diante da existência de norma especial sobre a matéria (art. 87 do CDC e art. 18 da LACP).

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12 Os acordos processuais disciplinados no art. 190 do Novo CPC não poderão restringir os poderes do juiz no processo.

aprovado por unanimidade

13 Os acordos processuais disciplinados no artigo 190 do CPC não poderão restringir ou afastar a atuação do Ministério Público.

aprovado por unanimidade

14 Os acordos processuais disciplinados no artigo 190 do CPC não poderão restringir ou afastar os princípios e as garantias constitucionais do processo.

aprovado por unanimidade

15 A aplicabilidade da estabilização de tutela provisória disciplinada no art. 304 do Novo CPC deve ser requerida na petição de tutela provisória antecedente.

aprovado por maioria

16 É cabível tutela de evidência antecedente nas hipóteses previstas nos incisos II e III do art. 311 e no parágrafo único, inciso II, do art. 9º do Novo CPC, aplicando-se, quanto ao procedimento, o disposto no art. 303 do Novo CPC, no que for compatível.

aprovado por maioria

PARTE ESPECIAL

17 Nos termos do art. 322, § 2º, do Novo CPC, em caso de demanda que verse sobre direitos fundamentais relacionados à vida ou a sua existência com dignidade, a interpretação do pedido será extensiva e ampliativa.

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aprovado por maioria

18 A previsão de reconvenção em face do autor na qualidade de substituto processual, prevista no art. 343, § 5º, do Novo CPC, é incompatível materialmente com o sistema do direito processual coletivo.

aprovado por maioria

19 A regra do art. 489, § 1º, IV, do Novo CPC não obriga o juiz a apreciar todos os argumentos invocados pelas partes no processo, mas sim a analisar o núcleo central das questões colocadas em debate e relevantes para a decisão, observado o contraditório e o devido processo legal.

aprovado por maioria

20 A disciplina da tutela inibitória e da tutela de remoção do ilícito, prevista no parágrafo único do art. 497 do Novo CPC, é norma geral de eficácia transcendente, aplicável também aos procedimentos especiais previstos no citado Código ou em legislação extravagante, assim como no processo de execução e na fase de cumprimento de sentença.

aprovado por unanimidade

21 O legitimado à execução de Termo de Ajustamento de Conduta, em vez de executar o título, pode optar pelo ajuizamento da ação de conhecimento para obter título judicial, a teor do art. 785 do Novo CPC.

aprovado por maioria

22 Não é exigida a pertinência temática para a suscitação do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas pelo Ministério Público, que é legitimado para tanto, nos termos do art. 977, III, do Novo CPC.

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23 A exigência de que pelo menos um dos processos repetitivos esteja no Tribunal para que o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas seja instaurado aplica-se somente na hipótese em que a instauração for determinada pelo relator, nos termos do art. 977, I, do Novo CPC.

aprovado por maioria

24 É inconstitucional a previsão de suspensão de ações coletivas, prevista no Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (arts. 976 a 987 do Novo CPC) e no procedimento dos Recursos Especial e Extraordinário Repetitivos.

aprovado por maioria

25 Ainda que vitoriosa a tese do Ministério Público, o órgão de execução poderá avaliar, diante de sua missão constitucional de defesa da ordem jurídica, a possibilidade de recorrer da decisão final proferida no Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, a fim de dar abrangência nacional aos efeitos do julgamento (§ 2º do art. 987 do Novo CPC).

aprovado por maioria

26 Suscitados Incidentes de Resolução de Demandas Repetitivas concomitantes no mesmo Tribunal, todos serão apensados e processados conjuntamente; instaurados os Incidentes em Tribunais Estaduais e Regionais diversos, poderão tramitar paralelamente.

aprovado por maioria

27 O Ministério Público intervirá obrigatoriamente no Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, ainda que verse a questão sobre direitos disponíveis (art. 976, II, do Novo CPC).

aprovado por maioria

28 Na expressão Fazenda Pública contida no § 3º do art. 1.026 do Novo CPC, inclui-se o Ministério Público.

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CARLOS ANDRÉ MARIANI BITTENCOURT PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA PEDRO BITENCOURT MARCONDES

PRESIDENTE DO TJMG aprovado por maioria

29 A decisão proferida pelo Oficial Registrador é o título hábil a ser lançado na matrícula do imóvel no pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião. A ata notarial constitui um dos meios de prova, conforme o disposto no art. 216-A, I, da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, na redação dada pelo art. 1.071 do Novo CPC.

aprovado por unanimidade

30 O art. 216-A, § 5º, da Lei nº 6.015/73, na redação dada pelo art. 1.071 do Novo CPC, confere ao Oficial Registrador de Imóveis a direção do procedimento da usucapião extrajudicial, o qual poderá realizar diligências acerca da posse do imóvel usucapiendo.

aprovado por unanimidade

31 A Ata Notarial para o procedimento extrajudicial da usucapião deve ser lavrada pelo Tabelião de Notas da comarca na qual estiver situado o imóvel usucapiendo.

aprovado por unanimidade

Carta aprovada pelos Magistrados e Membros do Ministério Público participantes do “Congresso de Magistratura e do Ministério Público do Estado de Minas Gerais sobre o novo Código do Processo Civil”, e que vai assinada pelo Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais e pelo Procurador -Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais.

Referências

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