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Clipping SCA. Data de Criação: 21/12/2020. Criado por: Biblioteca

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Data de Criação: 21/12/2020

Criado por: Biblioteca

Clipping SCA

Os artigos reproduzidos neste clipping de notícias são, tanto no conteúdo quanto na forma, de inteira responsabilidade de seus autores. Não traduzem, por isso mesmo, a opinião legal ou manifestação de integrante da SiqueiraCastro.

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Sumário das

Matérias:

Estímulos globais contra a crise somam US$ 25 trilhões Valor ––21 de dezembro...01 Para juristas, desoneração da folha é legal

Valor ––21 de dezembro...07 Saúde, paz, união...e reforma tributária

Valor ––21 de dezembro...11 Da independência do regulador financeiro

Valor ––21 de dezembro...14 Formação de preço à vista preocupa setor elétrico Valor ––21 de dezembro...17 Natura compra créditos de carbono da Engie

Valor ––21 de dezembro...20 Natura compra créditos de carbono da Engie

Valor ––21 de dezembro...21 Brasileiras vão à Justiça contra Essure, da Bayer

Valor ––21 de dezembro...24 Especialistas não veem chances de União derrubar desoneração da folha no STF

Valor ––21 de dezembro...26 Selic será aplicada em 4 milhões de ações trabalhistas Valor ––21 de dezembro...29 Novos ventos para a reforma tributária em 2021 Valor ––21 de dezembro...31 Brasil dá salto em inclusão digital

Folha ––21 de dezembro...33 Empresas poderão exigir vacina de funcionários, afirmam advogados

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Bomba fiscal: Projetos no Congresso para ajudar estados e municípios podem custar R$ 589 bi à União

Globo ––21 de dezembro...37 Reguladores antitruste da União Europeia aprovam fusão de US $ 38 bilhões de Fiat Chrysler e PSA

Globo ––21 de dezembro...41 Processo para repor perda de concessões por covid trava e ameaça investimentos

OESP ––21 de dezembro...43 Casal é condenado a pagar multa por injúria racial contra babá

Conjur ––21 de dezembro...45 Bolsonaro sanciona lei que altera crime de denunciação caluniosa

Migalhas ––21 de dezembro...47 STF julga inconstitucional lei que dava desconto para idosos em farmácias

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Valor Econômico

Caderno: Primeira Página,

segunda-feira 21 de dezembro de 2020.

Estímulos globais contra a

crise somam US$ 25 trilhões

Em proporção do PIB mundial, esse montante chega a quase

29%, tendo como base os

cálculos do FMI (US$ 83,84 trilhões, dado de 2019)

Por Roberta Costa, Gabriel Roca,

André Mizutani e Rafael

Vazquez — De São Paulo

A pandemia mudou todo o cenário da economia global e provocou respostas inéditas nos tempos modernos. Levantamento do Bank of America, englobando 97 países, indica que

01

houve uma injeção global de estímulos de US$ 25 trilhões neste ano, sendo US$ 15,23 trilhões oriundos da política fiscal e US$ 9,32 trilhões da monetária (via bancos centrais). Esse valor equivale a 29% do PIB mundial, tendo como base o produto calculado pelo FMI, de US$ 83,84 trilhões em 2019.

A lista dos países com maiores volumes de estímulos em proporção do PIB é liderada por Japão, Itália e Alemanha (veja gráfico). Entre os organismos internacionais, o FMI injetou US$ 200 bilhões para combater a crise e o Banco Mundial, outros US$ 12 bilhões.

Em 2021, avaliam economistas ouvidos pelo Valor, os estímulos devem ser menores, principalmente na área monetária, porque os bancos centrais estão ficando “sem munição” - os juros já são muito baixos ou negativos. A política fiscal, portanto, é tida como fundamental para evitar novas desacelerações na economia. “Precisamos de uma ponte para lidar com essa última rodada da crise da covid-19”, diz Ethan Harris, do Bank of America. Nos EUA, proposta em discussão envolve estímulos de US$ 900 bilhões. Prevê uma nova rodada de pagamentos em dinheiro aos americanos, além das subvenções semanais de US$ 300 herdadas dos projetos anteriores.

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Estímulos representam 29%

do PIB global

Pandemia empurrou governos a uma escalada de gastos fiscais, o que deu suporte às ações de política monetária

Por Roberta Costa — De São Paulo

O surgimento da pandemia do novo coronavírus mudou todo o cenário para a economia global em 2020, exigindo uma resposta rápida e vigorosa de bancos centrais e de forma praticamente sincronizada, algo inédito nos tempos modernos, já que não foi uma ação combinada de antemão, como na crise de 2008. Segundo levantamento do Bank of America (BofA) feito com 97 países, além da União Europeia, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, a injeção total de estímulos chega a cerca de US$ 25 trilhões, sendo US$ 15,23 trilhões vindos da política fiscal e US$ 9,32 trilhões da política monetária. Em proporção do PIB global, esse montante chega a quase 29%, tendo como base os cálculos do FMI (US$ 83,84 trilhões, dado de 2019).

Trata-se de um volume impressionante de recursos, mesmo levando em consideração que esses cálculos podem ser diferentes de instituição a instituição, a depender de como são computados os estímulos advindos de uma gama enorme de ações, programas e ferramentas. Na lista do BofA dos dez maiores volumes de estímulos em proporção do PIB figuram grandes e pequenas

02 economias, que são, pela ordem, Japão, Itália, Alemanha, Cingapura, Reino Unido, Bulgária, Suécia, Polônia e Romênia. Já na análise das dez maiores economias do mundo (pela paridade do poder de compra), o resultado fica assim: Estados Unidos (28,1% do PIB), China (8,2%), Japão (63,7%), Alemanha (54,2%), Índia (16,7%), Reino Unido (41,6%), França (37,5%), Itália (58%), Brasil (11,2%) e Coreia do Sul (14%). Entre os organismos internacionais, o FMI injetou US$ 200 bilhões e o Banco Mundial, US$ 12 bilhões, para combater a crise do coronavírus. Os bancos centrais das economias avançadas reagiram a partir de março com prontidão, implantando toda a gama de ferramentas de crise em semanas. A resposta inicial concentrou-se principalmente em aliviar o estresse financeiro e garantir um fluxo regular de crédito para o setor privado não financeiro.

Foi o caso do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA), que derrubou os juros em 150 pontos-base, para o limite inferior zero (“zero lower bound”), e estendeu linhas permanentes de swap com cinco bancos centrais: Banco do Canadá, Banco da Inglaterra (BoE), Banco do Japão (BoJ), Banco Central Europeu (BCE) e o Banco Nacional da Suíça (SNB), e criou linhas com mais nove países, incluindo o Brasil.

Entre os bancos centrais de economias desenvolvidas, além do Fed, apenas o BoE também cortou juros em março, para 0,25% (de 0,75%), sendo que os demais já estavam com as taxas nas mínimas históricas. O estímulo dos bancos centrais veio, portanto, também de outras frentes, como as compras de

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títulos públicos e privados e no mercado de ETFs (fundos negociados em bolsa).

Segundo o BIS, nas cinco maiores economias avançadas, projeta-se que os balanços destas instituições cresçam em média de 15% a 23% do PIB antes do final de 2020 e permaneçam elevados no futuro próximo. Olhando para toda a massa de bancos centrais, ainda segundo o BIS, os balanços devem subir em 6,3% do PIB em média, em comparação com cerca de 2,5% durante a crise financeira de 2008. No caso do Fed, a carteira de ativos chegou na semana passada a US$ 7,2 trilhões, 70% maior do que o teto atingido na crise do subprime.

Outra característica fundamental da resposta dos bancos centrais foi a ampla implantação de empréstimos de longo prazo e medidas de apoio ao fluxo de crédito às famílias e sociedades não financeiras. O Fed, o BoJ e o BoE estabeleceram programas de empréstimos direcionados projetados para fornecer fundos para bancos em termos favoráveis, condicionados à concessão de crédito a pequenas e médias empresas (PMEs), enquanto o BCE estendeu a elegibilidade de compras de “comercial papers” não financeiros. Ademais, tanto nos EUA como no Canadá os BCs passaram a comprar também títulos emitidos por Estados e municípios. Em muitos casos, entretanto, algumas linhas tiveram baixíssima demanda, mesmo no cenário de forte contração econômica. A crise da pandemia empurrou os governos para uma escalada de gastos fiscais, o que deu suporte às ações de

03 política monetária. Segundo estudo do Citibank, citando o FMI, os multiplicadores do investimento público são muito mais altos quando a incerteza econômica é grande e quando a política monetária é favorável porque ele catalisa o investimento privado. Para cada 1% do PIB em gasto dos governos, há impulso de 2,7% no PIB em dois anos, contra apenas 0,6% em tempos sem crise.

Para a consultoria britânica TS Lombard, embora a resposta fiscal à covid-19 tenha sido enorme, a maior expansão orçamentária desde a Segunda Guerra Mundial, há dúvidas sobre se os países voltarão à austeridade assim que a pandemia acabar. “Em princípio, isso não deveria ser necessário”, já que os programas de suporte ao emprego, à renda e outros programas devem diminuir automaticamente à medida que as economias se recuperam, “levando a uma melhora natural nas finanças públicas”.

José Júlio Senna, do Ibre/FGV, acredita que levará muito tempo até que os déficits contraídos tomem trajetória de queda. Para o economista, houve uma ação que parecia sincronizada de resposta dos países porque a crise atingiu igualmente os agentes econômicos, os segmentos financeiros e as classes de ativos, mas, a partir do advento das vacinas - o verdadeiro “turning point” no cenário -, a recuperação vai depender das características de cada nação, da saúde de seus organismos, da cultura em relação à imunização e ao aspecto fiscal. “A boa notícia é que a crise de 2008 ensinou muito aos BCs e aos Tesouros, além de ter

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impelido uma maior vigilância sobre os bancos e esta experiência deve fazer toda a diferença na retomada”, afirma Senna.

Em 2021, política fiscal terá

papel principal no suporte à

economia

Após injeção global de US$ 25 tri como resposta à pandemia, estímulos de BCs e governos tendem a ceder

Por Gabriel Roca, André

Mizutani e Rafael Vazquez — De São Paulo

Ethan Harris, do BofA: bancos centrais já fizeram cerca de 95% do que podiam — Foto: Silvia Costanti/Valor

A pandemia do novo coronavírus colocou o ano de 2020 na história, não só por provocar uma das maiores crises sanitárias do planeta, mas por exigir uma resposta rápida e vigorosa

04 de governos e bancos centrais sem precedentes: a injeção de US$ 25 trilhões, entre políticas monetárias e fiscais, segundo levantamento do Bank of America (BofA). Em 2021, os estímulos tendem a ser menores, até por conta da expectativa de avanço da vacinação no mundo, mas caberá à política fiscal o papel fundamental, especialmente no curto prazo, de evitar uma desaceleração ainda mais forte da economia no início do ano. Especialistas consultadas pelo Valor apontam que os bancos centrais vão ter um protagonismo menor no suporte à economia no ano que vem. Com juros perto de zero ou negativo nas principais economias do mundo e programas de compras de ativos bastante elevados, eles estão ficando “sem munição”.

Na avaliação do chefe de economia global do BofA, Ethan Harris, mais apoio por parte dos governos é fundamental no curto prazo, já que ele estima que os bancos centrais fizeram cerca de 95% do que podiam. “Você precisa de uma ponte para lidar com essa última rodada da crise de

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covid-19. E não podemos contar com os bancos centrais para fazer este trabalho. Eles estão com pouca munição”, diz.

A relevância do debate sobre uma nova rodada de suporte governamental à economia ficou evidente nas últimas semanas, quando os investidores globais acompanharam de perto as negociações por um novo pacote de estímulos fiscais em Washington. Atualmente, a proposta que está sendo discutida alcança os US$ 900 bilhões, e inclui uma nova rodada de pagamentos em dinheiro para os americanos, além dos pagamentos semanais de US$ 300, herdados dos projetos anteriores.

Harris diz que a ausência da aprovação de novas medidas de estímulo nos EUA pode provocar uma contração econômica no primeiro e no segundo trimestre de 2021. Na Europa, que já deve registrar uma retração no quarto trimestre devido às medidas para conter a pandemia, a fraqueza econômica pode se estender para o primeiro trimestre do ano que vem, caso medidas fiscais não sejam aprovadas no continente.

“A questão aqui é concluir o processo de recuperação e fornecer uma ponte para um período de maximização. As principais economias do mundo estão enfrentando um período de fraqueza econômica, com o inverno no Hemisfério Norte, a escalada real da pandemia e mais medidas de contenção acontecendo”, afirma. A visão de protagonismo da política fiscal é compartilhada pela estrategista global do J.P. Morgan Asset Management, Gabriela Santos.

05 De acordo com ela, são os governos que precisam aprovar seus estímulos agora, porque os bancos centrais já fizeram o que podiam. “O [Federal Reserve] não consegue tapar esse buraco, porque ele não tem as ferramentas necessárias. O próprio presidente do Fed, Jerome Powell, tem dito isso várias vezes nos últimos meses”, diz.

No mesmo sentido, a estrategista-chefe de renda fixa nos EUA do Société Générale, Subadra Rajappa, afirma que o Fed não conseguiria substituir o espaço deixado para trás pela política fiscal. “A questão é o que o Fed pode fazer, e o quão efetivo isso seria. Eles têm muitas ferramentas à disposição, mas a questão é se elas serão efetivas para ajudar a economia com o que ela está enfrentando neste momento. Anunciar mais QE [afrouxamento monetário] ou a extensão das compras de ativos não ajudaria de maneira significativa as pessoas que estão desempregadas neste momento.”

Apesar da expectativa de um começo de 2021 ainda com a crise pesando sobre as economias, o início da vacinação maciça nos países desenvolvidos deve contribuir para uma recuperação mais sustentada nos principais mercados do mundo. Com as perspectivas de um crescimento mais robusto e níveis de inflação ainda muito deprimidos por conta do choque provocado pela pandemia, o ano deve ser de relativa tranquilidade para os principais BCs do mundo. De acordo com Gabriela, do J.P. Morgan, a economia não deve receber mais um empurrão vindo de estímulos em 2021, “mas isso é diferente de retirar o apoio”. Ela diz

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acreditar que, para os bancos centrais das economias desenvolvidas, o suporte monetário não deve ser retirado até pelo menos 2024, que é quando devem acontecer os primeiros aumentos de juros.

“A perspectiva para o próximo ano, do ponto de vista da economia, é que você estará no início da expansão, em que tipicamente há forte crescimento e baixa inflação”, diz Harris, do BofA. “Portanto, não acho que os bancos centrais farão muito. As únicas ações a serem tomadas serão tentativas modestas de garantir que você não tenha uma venda acentuada no mercado de títulos. Os BCs vão ficar cada vez mais confortavelmente no modo de espera.”

Harris também refuta a ideia, amplamente especulada por parte dos agentes financeiros, de que a combinação de estímulos monetários e fiscais deve gerar pressão inflacionária nos próximos anos. “Para que as políticas monetária e fiscal criem inflação, o primeiro passo é criar uma economia totalmente recuperada para, em seguida, haver um aumento dos preços, o que ainda está distante neste momento. Uma alta da inflação seria altamente improvável”, argumenta.

O BNP Paribas também vê uma dinâmica de preços comportados no curto prazo. No entanto, segundo o chefe global de estratégia para mercados emergentes no BNP Paribas, Gabriel Gersztein, o cenário base de inflação baixa pode abrir caminho para novas pressões por estímulos sobre os bancos centrais no ano que vem. “Acreditamos que há forças estruturais que continuam puxando a inflação para baixo”,

06 afirma, citando a maior propensão das pessoas de poupar do que de consumir em meio ao ambiente de crise, além da tendência de maior automação incentivada pela pandemia e desemprego mais alto. “Os bancos centrais vão estar de prontidão. Se os dados econômicos não vierem conforme o esperado, com uma pressão mais desinflacionária do que inflacionária e uma recuperação aquém do esperado, as autoridades vão, sim, aumentar os estímulos”, acredita Gersztein.

As preocupações dos analistas, no entanto, são maiores com os mercados emergentes. Para Harris, haverá uma disparidade entre os países desenvolvidos e os emergentes em relação à distribuição de vacinas. “Alguns mercados emergentes devem demorar mais para obter a vacina. Isso significa um período ainda mais longo de restrições à atividade”, diz. Esses países, de acordo com ele, são muito mais vulneráveis do que os mercados desenvolvidos quando se trata de crise de dívida e tolerância dos investidores globais.

É isso que, na avaliação de Gabriela, do J.P. Morgan, faz a retirada de estímulos fiscais ser mais urgente no mundo emergente. “Nos países emergentes, essa retirada de estímulos fiscais é uma questão mais urgente. São só os países desenvolvidos que podem se dar ao luxo de não se preocupar com a retirada de todo esse apoio fiscal”, diz.

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A recuperação também deve ter tempos diferentes em cada país, de acordo com ela. “O exemplo principal é a China, que foi o único país com uma recuperação em V, com uma economia que já está 2% maior do que no começo do ano”, afirma. Ela espera que a recuperação nos EUA chegue no fim de 2021, na Europa, em 2022 e na América Latina, apenas em 2023. https://valor.globo.com/impresso/notici a/2020/12/21/estimulos-globais-contra-a-crise-somam-us-25-trilhoes.ghtml

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Valor Econômico

Caderno: Primeira Pagina,

segunda-feira 21 de dezembro de 2020.

Para juristas, desoneração da

folha é legal

Medida beneficia 17 setores da

economia, que reúnem as

empresas que mais empregam no país

Por Joice Bacelo — Do Rio

Advogados constitucionalistas não veem motivos para que o Supremo Tribunal Federal (STF) atenda o pedido do governo Jair Bolsonaro para impedir a prorrogação da desoneração da folha de pagamento até o fim do ano que vem. A medida, que foi aprovada pelo Congresso Nacional, é constitucional, afirmam os juristas, e, ao contrário do que alega a Advocacia-Geral da União (AGU), não contraria nenhuma outra norma vigente. O governo Bolsonaro apresentou o pe-dido ao Supremo em caráter de urgência. A desoneração da folha de salários beneficia 17 setores da economia, que reúnem as empresas que mais empregam no país.

07

Especialistas não veem

chances de União derrubar

desoneração da folha no STF

Medida, considerada

constitucional, beneficia 17

setores com forte geração de vagas

Por Joice Bacelo — Do Rio

Vivien Suruagy: revogação levaria a corte de vagas nas áreas de infraestrutura de telecomunicações, informática e call center — Foto: Divulgação

A ação apresentada pelo governo no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a prorrogação da desoneração da folha de pagamento até o fim do ano que vem não tem chances de prosperar. Advogados ouvidos pelo Valor dizem que a medida, aprovada pelo Congresso Nacional, é constitucional e, ao contrário do que alega a Advocacia-Geral da União (AGU), não contraria nenhuma norma vigente.

O processo está nas mãos do ministro Ricardo Lewandowski, que na sexta-feira, ao ser designado relator, tirou as chances de o governo Jair

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Bolsonaro obter uma liminar durante o recesso do Judiciário. Ele decidiu levar para o Plenário o julgamento da ação direta de inconstitucionalidade apresentada (ADI 6632) - o que só poderá ocorrer a partir de fevereiro. A desoneração da folha beneficia 17 setores da economia. Essas empresas são as que mais empregam no país. Geram atualmente seis milhões de vagas que, em uma eventual decisão favorável ao governo, estariam em risco por conta do forte impacto financeiro da medida.

Somente a Feninfra, federação que representa as empresas de infraestrutura de telecomunicações, informática e call center, diz que o setor pode ter que cortar mais de 20% da sua mão de obra. Seriam 500 mil postos de um total de 2,2 milhões. “E isso num momento em que o índice de desemprego no país está em 14%. Nós não estamos entendendo essa posição do governo”, diz Vivien Suruagy, a presidente da Feninfra. Ela classifica a ação que foi protocolada no Supremo como “uma grande e desagradável surpresa”. Afirma que as empresas fecharam os seus programas de investimentos e contratação e qualificação de mão de obra para 2021 com base na decisão do Congresso e, agora, não sabem mais se conseguirão cumprir.

O pedido governo, se aceito, pode ser a gota d’água para o setor de transportes: há risco de paralisação das atividades e de demissões. Otávio Cunha, presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), afirma que o setor vem, ao longo dos anos,

08 sofrendo com a redução da demanda e neste ano de pandemia, especificamente, o cenário piorou muito. O número de passageiros caiu 80% nos meses de março e abril e, atualmente, está em 50% da média histórica.

A desoneração da folha foi instituída em 2011 para estimular a geração de empregos formais. Setores favorecidos com a medida, substituíram a contribuição ao INSS, de 20% sobre a folha de salários, por uma contribuição calculada sobre o receita bruta da empresa, que varia entre 1% e 4,5%.

O benefício seria extinto neste ano, mas o Congresso, ao votar a Medida Provisória nº 936, ampliou o prazo para 31 de dezembro de 2021. Essa MP, dentre outros pontos, autorizou a redução de jornada e salário de funcionários em razão da crise provocada pela pandemia.

Na conversão da MP, no entanto, o presidente Jair Bolsonaro vetou o trecho que tratava da ampliação do prazo. Mas no começo do mês de novembro, o Congresso derrubou o veto, mantendo, portanto, a prorrogação.

O governo tenta, agora, reverter a decisão por meio de uma ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de liminar, ou seja, em caráter de urgência. A AGU afirma, na petição, que a medida vai representar uma perda de R$ 9,78 bilhões para a União.

Mas, apesar desse argumento, o governo já incluiu a previsão de renúncia na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que serve

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como base para a discussão orçamentária do próximo ano e foi aprovada na semana passada.

Na ação apresentada ao STF, a AGU afirma que o processo legislativo foi concluído sem a estimativa dos impactos orçamentários e financeiros. Afirma haver violação ao artigo 113 do ADCT da Constituição Federal e também à Emenda do Teto dos Gastos (nº 95, de 2016) e à Lei de Responsabilidade Fiscal (nº 101, de 2000).

Para a advogada Cristiane Matsumoto, sócia do escritório Pinheiro Neto, esses argumentos não se sustentam. Ela diz que, ao contrário do que o governo alega, existe compensação à renúncia fiscal desde 2011, quando a desoneração da folha de pagamentos passou a ser permitida.

“A Cofins-Importação foi criada junto com a desoneração e tinha efeitos claramente compensatórios à renúncia fiscal. E existe até hoje. Só que agora a alíquota não é mais de 1%, é de 1,5%”, diz. “A alegação da União, de que houve violação ao artigo 514 da Lei de Responsabilidade Fiscal, portanto, não é verdadeira.” Sobre a suposta violação ao artigo 113 do ADCT, afirma a advogada, o governo flutua conforme os seus interesses. “Eles estão falando que se não existia previsão na LDO de 2020, não poderia haver postergação de estimativa para 2021. Só que existe um recurso legislativo que trata da renúncia fiscal e o próprio já se utilizou dele”, diz ela, citando o Fundo Nacional de Segurança Pública. “Aqui [no caso da

09 desoneração], a previsão existe desde a sua criação.”

Um outro argumento utilizado pela AGU para tentar convencer os ministros é de que a prorrogação do prazo da desoneração da folha seria inconstitucional por contrariar a Emenda Constitucional nº 103, de 2019, que instituiu a Reforma da Previdência.

A advogada Ariane Guimarães, do escritório Mattos Filho, não concorda. Ela diz que o artigo 30 da EC 103 prevê expressamente a manutenção das contribuições substitutivas à folha de salários que foram instituídas anteriormente.

“Prorrogação de prazo não equivale à criação de um novo tributo”, diz. Contribuinte, base de cálculo, materialidade, percentual, todos esses elementos estão lá atrás, quando a substituição foi criada, no ano de 2011.”

Para Ariane não há “nenhuma inconstitucionalidade na prorrogação” da desoneração da folha. “Nem do ponto de vista financeiro. A prorrogação foi aprovada no contexto orçamentário de uma pandemia, que sinaliza para a flexibilização de algumas regras. Juridicamente, os argumentos do governo não são adequados”, afirma. Entendimento semelhante consta em um parecer elaborado em julho pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. O texto diz que a prorrogação da desoneração é constitucional. Afirma que a Reforma da Previdência impediu que novos benefícios fossem criados. A MP, no entanto, teria prorrogado um

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benefício criado por uma regra anterior à reforma e, por esse motivo, não seria inconstitucional.

https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2 020/12/21/especialistas-nao-veem-chances- de-uniao-derrubar-desoneracao-da-folha-no-stf.ghtml Retorne ao índice 10

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Valor Econômico

Caderno: Politica, segunda-feira 21 de

dezembro de 2020.

Saúde, paz, união...e reforma

tributária

Reforma tributária não vai sair se todos não cederem

Se acreditassem em Papai Noel, certamente a maioria dos empresários brasileiros desejaria o fim da pandemia e uma reforma tributária em 2021.

Enquanto escrevo este texto, às 16:39h de domingo (20/12), o Impostômetro calculado pela Associação Comercial de São Paulo indicava 1,987 trilhão de reais em tributos pagos neste ano - o que indica que provavelmente ao longo desta semana ultrapassaremos a marca de R$ 2 trilhões arrecadados pelos governos de todos os brasileiros. Trata-se de apenas um de vários indicadores de nossas distorções neste campo.

Reforma tributária não vai sair se todos não cederem

Pode-se criticar a metodologia de rankings de ambiente de negócios como o Doing Business, do Banco Mundial, ou o índice de competitividade do Fórum Econômico Mundial, mas ninguém discorda que o Brasil seja um dos países que

11

demanda mais tempo e recursos humanos para o cumprimento de todas as exigências tributárias da União, 27 Estados e mais de 5 mil municípios.

Essa complexidade traz consigo uma alta litigiosidade, que congestiona o nosso Judiciário. De acordo com o relatório Justiça em Números, do Conselho Nacional de Justiça, apenas no ano de 2019 foram iniciados 5.168.177 novos processos envolvendo impostos, taxas e contribuições - um número que dá a medida da insegurança jurídica no país gerada pelo nosso sistema tributário.

Estimativas de especialistas indicam que em torno de 66% do PIB é alvo do contencioso tributário em nível administrativo (no âmbito das receitas dos três níveis federativos e conselhos de contribuintes) e judicial. São dois terços da produção anual do país que ficam empoçados enquanto não se decide se devem entrar nos cofres do governo ou serem liberados para investimento das empresas. Qualquer pesquisa que se realize com empresários aponta uma concordância quase unânime de que é necessário reformar todo o sistema, buscando sua simplificação, desburocratização e aumento da competitividade e da transparência - além da redução da carga tributária, é claro.

O problema é que na cartinha para Papai Noel ou nos desejos de Ano Novo do empresariado brasileiro sobram pedidos e faltam compromissos.

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Desde 19 de fevereiro uma Comissão Mista do Congresso Nacional discute as propostas na mesa: a PEC nº 45/2019 (“proposta Appy”), a PEC nº 110/2019 (baseada no trabalho do ex-deputado Luiz Carlos Hauly) e o PL nº 3.887/2020, encaminhado pelo ministro da Economia Paulo Guedes. Ao longo dos últimos meses dezenas de audiências públicas foram realizadas e, a se contar pelas manifestações dos representantes dos principais setores da economia, os consensos se resumem aos seus objetivos gerais. Quando se desce às medidas concretas, é cada um por si e o diabo (que mora nos detalhes) por todos.

Todos querem simplificação de impostos, mas quando se trata de unificar as alíquotas, querem tratamento especial. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), por exemplo, defende alíquotas diferenciadas por atividades e produtos, assim como a manutenção do sistema cumulativo como opcional para empresas que trabalham com lucro presumido e prestadoras de serviços. Ora, se for assim, é claro que nosso carnaval tributário vai continuar.

A Confederação Nacional dos Transportes (CNT) pretende fazer rabanadas sem quebrar ovos. No documento “Pilares para a Reforma Tributária”, ele exige que a reforma tributária não apenas mantenha a carga tributária global da economia, como também se comprometa a não elevá-la em nível setorial. Na sua lista de presentes para o bom velhinho há o abatimento de seus gastos com insumos e folha salarial no valor

12 imposto agregado devido, mas tratamento diferenciado na tributação dos negócios em transportes e infraestrutura. Impostos seletivos? Só se forem para não onerar as transportadoras - um dos setores mais poluidores de nossa matriz econômica.

Ideais de justiça e igualdade são valorizados nas mensagens de final de ano, mas quando se trata de reformar o sistema, meu interesse vem primeiro. Em carta aberta enviada ao relator da Comissão de Reforma Tributária, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), 45 associações de produtores rurais listaram os pleitos do agronegócio brasileiro. Entre elas, a manutenção da desoneração da cesta básica, a imposição de alíquota zero para os insumos agropecuários, tratamento especial para as cooperativas e exclusão dos produtores rurais inscritos como pessoa física.

As entidades filantrópicas, por sua vez, querem continuar a fazer o bem com o chapéu alheio. Um grupo de onze organizações representativas de entidades religiosas, de educação e saúde que se beneficiam de isenções fiscais lançou um manifesto contra a “taxação da solidariedade”. As intenções são as melhores possíveis, mas nenhuma palavra se vê sobre a necessidade de se separar o joio do trigo e dar o tratamento correto a atividades lucrativas travestidas de assistencialismo.

Numa velha tirinha do cartunista Bill Watterson, o garoto Calvin, de 6 anos, se pergunta como o Papai Noel consegue pagar os duendes e os brinquedos que ele distribui. Seu tigre de estimação, Haroldo, arrisca uma

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responda: endividando-se. O lobby em prol da desoneração da folha de pagamentos, que une setores tão díspares quanto a construção civil e a indústria de tecnologia da informação e o varejo, recebeu seu presente de Natal antecipado em novembro. “O problema é que, mais cedo ou mais tarde, a farra acaba e aí como é que eu fico?”, pergunta Calvin diante da perspectiva de ficar sem presentes no futuro.

Para terminar este texto pré-natalino com um pouco de poesia, fica a dica de Drummond para o empresariado brasileiro (e para cada um de nós): “Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo. Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre”. Bruno Carazza é mestre em economia, doutor em direito e autor de “Dinheiro, Eleições e

Poder: as engrenagens do

sistema político brasileiro”.

Escreve às segundas-feiras E-mail: bruno.carazza@gmail.com https://valor.globo.com/politica/coluna/saud e-paz-uniao-e-reforma-tributaria.ghtml Retorne ao índice 13

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Valor Econômico

Caderno: Opinião, segunda-feira 21

de dezembro de 2020.

Da independência do regulador

financeiro

Mais independência dos

reguladores favorece a

estabilidade financeira Por Howard Davies

Há uma vasta literatura acadêmica sobre a independência dos bancos centrais e seus governadores abordam este assunto sempre que surge uma oportunidade. A maioria dos artigos acadêmicos, e todos os governadores, argumentam que um alto grau de independência está associado à baixa inflação e estabilidade monetária. Alguns destes estudos questionam a direção da causa, perguntando se os países com populações altamente adversas à inflação - sendo a Alemanha o exemplo mais óbvio - tendem a favorecer uma independência robusta. Mas há um

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amplo apoio à afirmação geral de que tirar os políticos do processo de fixação das taxas de juro está associado a uma inflação mais baixa e mais estável. Há muitos indícios de que, anteriormente, o ciclo eleitoral influenciava as decisões sobre as taxas de juro, com consequências prejudiciais.

Há evidências de que os bancos

com envolvimento político

direto estiveram sujeitos a

supervisão indulgente e tiveram um desempenho especialmente insuficiente na crise financeira global de 2008. As suas dívidas incobráveis eram superiores ao esperado

Muito menos atenção tem sido dada à independência dos reguladores financeiros e, principalmente, dos supervisores bancários. Muitos destes últimos fazem parte dos bancos centrais, mas nem todos.

Cerca de um terço dos países com sistemas bancários significativos funciona com supervisores externos ao banco central. Isso é válido para a Suécia, o Japão e a Austrália, por exemplo. E, em alguns casos, diferentes regimes de independência aplicam-se à política monetária e à supervisão, mesmo quando ambos estão formados dentro do banco central.

A questão de quão independentes são os supervisores bancários tem mais do que interesse teórico. A independência regulatória e de supervisão é um dos princípios fundamentais do Comité de Basileia de Supervisão Bancária. No entanto,

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de acordo com o Fundo Monetário Internacional, é a que apresenta o menor nível de conformidade entre os países que o Fundo reavalia.

A percepção da falta de independência dos supervisores bancários em alguns países da zona do euro foi uma das razões para o estabelecimento da união bancária da União Europeia. Há evidências de que os bancos com envolvimento político direto estiveram sujeitos a supervisão indulgente e tiveram um desempenho especialmente insuficiente na crise financeira global de 2008. As suas dívidas incobráveis eram superiores ao esperado.

Mais recentemente, surgiram dúvidas sobre a proximidade dos supervisores alemães com o ministério das Finanças do país. Após o escândalo de contabilidade que causou a insolvência da empresa de processamento de pagamentos e serviços financeiros Wirecard, a Autoridade Europeia de Valores Mobiliários e Mercados realçou “um risco elevado de influência por parte do ministério das Finanças, dada a frequência e detalhes dos relatórios” no caso Wirecard.

Neste contexto, o Banco da Inglaterra (BoE) apresentou novas investigações oportunas sobre a ligação entre independência regulatória e estabilidade financeira. Os autores criam um novo índice de independência que se assemelha aos índices usados na cena política monetária, mas com diferenças em algumas áreas.

O documento do BoE incorpora os procedimentos para nomear a chefia do regulador: Existe um grau de

15 independência no processo? Quanto tempo dura o mandato da chefia? É fácil dispensá-lo ou dispensá-la? Os autores também analisam a capacidade do supervisor de impor regulamentos sem aprovação política e no processo orçamental. Alguns podem financiar-se através do poder de cobrar taxas a empresas regulamentadas; outros precisam de recorrer ao governo ou à legislatura à procura de dinheiro, criando a possibilidade de haver pressão política por parte dos bancos para deixar o regulador sem fundos.

Depois de elaborar o índice, os autores examinam se a independência da supervisão está positivamente correlacionada com a estabilidade financeira. Comparada com a estabilidade monetária, a estabilidade financeira é um conceito escorregadio.

Temos tendência para descobrir dolorosamente quando está ausente, mas as tentativas de desenvolver índices da sua presença têm demonstrado ser difíceis. Muitos explicam a última crise muito bem, mas são um pouco menos úteis quando o assunto é prever a próxima. Como representante da estabilidade financeira, os autores do BoE escolhem o nível de empréstimos improdutivos no sistema bancário. Talvez não seja uma medida perfeita, mas tem a vantagem de estar disponível, numa base amplamente comparável, numa variedade de países e por um número significativo de anos.

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Descrever os dois conjuntos de dados um contra o outro cria conclusões sólidas. Nos últimos 20 anos, tem havido um aumento constante da independência da supervisão. E, nas palavras dos autores, “as reformas que trazem maior independência regulatória e de supervisão estão associadas a menores empréstimos improdutivos nos balanços dos bancos [e]... em geral, os nossos resultados mostram que aumentar a independência dos reguladores e supervisores é benéfico para a estabilidade financeira.”

Além disso, eles apresentam provas de que a supervisão mais rígida associada a supervisores independentes não afeta negativamente a eficiência ou a lucratividade do sistema bancário. Pode haver uma preocupação razoável de que uma supervisão mais rígida pode impor restrições dispendiosas, mas não parece ser o caso. A eficiência bancária, definida como o rácio de eficiência, tende a melhorar quando os supervisores se tornam mais independentes. E não há impacto negativo nos resultados financeiros dos bancos.

Então, do que é que não se pode gostar? Estamos no território de “almoços grátis”?

Não exatamente. Há uma desvantagem que pode fazer com que os políticos hesitem. A relação entre a independência e a porção de empréstimos bancários é negativa. Em outras palavras, se os supervisores independentes forem mais rigorosos, os bancos tendem a emprestar um pouco menos. A escala do efeito não é dramática, mas é negativa e significativa.

16 É possível que esse efeito seja transitório e desapareça à medida que se for mantendo uma supervisão mais disciplinada. Além disso, os empréstimos que não foram concedidos poderiam ter ido para empresas inviáveis ou consumidores sobre-endividados. Não é óbvio que esses empréstimos sejam especialmente benéficos para o crescimento e a produtividade.

Pelo menos no domínio público, a independência regulatória e de supervisão (RSI) não adquiriu a reputação da independência dos bancos centrais. Não tem nem o seu próprio acrónimo, como CBI (central bank independence). Quando a RSI é utilizada, normalmente refere-se a lesões por esforço repetitivo. A investigação do BoE soma fortes razões para mudar isso.

Howard Davies é presidente do

NatWest Group. Copyright:

Project Syndicate, 2020.

www.project-syndicate.org

https://valor.globo.com/opiniao/coluna/da-independencia-do-regulador-financeiro.ghtml

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Valor Econômico

Caderno: Empresas, segunda-feira 21

de dezembro de 2020.

Formação de preço à vista

preocupa setor elétrico

Aneel discutirá caso levado à diretoria pelo BTG Pactual;

agentes do setor veem

imprevisibilidade para operar no mercado de curto prazo

Por Letícia Fucuchima — De São Paulo

Medeiros, da Abraceel: “O importante é ter a segurança de que não seremos mais surpreendidos daqui para frente” — Foto: Regis Filho/Valor

O setor elétrico entrou em estado de alerta após uma sequência de eventos ter afetado bruscamente a formação do preço da energia à vista, o PLD, no início do mês. Apesar de pontual, o

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episódio foi encarado com grande preocupação, por ter trazido imprevisibilidade às operações no mercado de curto prazo.

O tema deverá ser discutido hoje pela diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em reunião extraordinária, depois de uma medida cautelar interposta pelo BTG Pactual. Dependendo do resultado, alguns agentes do mercado apontam até risco de judicialização.

Tudo começou com uma resolução da Agência Nacional de Águas (ANA), de 3 de dezembro, aumentando a vazão dos reservatórios das hidrelétricas Três Marias e Xingó, na bacia do rio São Francisco. No mesmo dia, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou ao mercado que essa mudança seria considerada na definição do preço da semana seguinte.

A decisão pegou todo o mercado de surpresa e afetou o PLD da semana seguinte em R$ 70 por megawatt-hora (MWh), segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Na ocasião, o preço teve queda acentuada, passando de R$ 559,75/MWh para cerca de R$ 200/MWh, refletindo ainda outros fatores.

A queixa não está relacionada à queda do PLD, mas à alteração inesperada dos dados que formam o preço. Além de ter sido tomada da noite para o dia, a decisão veio um dia antes da divulgação do PLD semanal - ou seja, quando todos os agentes já haviam se programado para operar no mercado com um determinado nível de preços.

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No mercado de curto prazo, os preços são definidos por modelos matemáticos, que levam em conta uma série de fatores, como as condições hidrológicas e as projeções de carga. A CCEE divulga o preço da semana seguinte toda sexta-feira. Mas, mesmo antes disso, o mercado já consegue ter uma ideia do preço através do PMO, planejamento mensal de operação do ONS, que é revisado semanalmente. O preço divulgado pela CCEE vale para a semana inteira - essa dinâmica mudará em 2021, com a entrada do PLD horário.

Para vários agentes do setor, como a CCEE, comercializadores e até os geradores, houve violação das regras de governança dos preços. O argumento é que a decisão da ANA deve ser seguida pelo ONS para operar o sistema, mas não deveria entrar imediatamente no cálculo dos preços. A tese se baseia na resolução CNPE 07, de 2016, que prevê que algumas mudanças nos dados formadores dos preços devem ser divulgadas com antecedência de pelo menos um mês.

No entanto, a área técnica da Aneel teve interpretação diferente e negou um recurso da Abraceel (associação dos comercializadores) cobrando que a CNPE 07 fosse seguida. Para a Superintendência de Regulação dos Serviços de Geração (SGR), o caso não se enquadra nessa regra de antecedência da CNPE 07.

Depois do recurso da Abraceel ser negado, o BTG Pactual ingressou com uma cautelar na Aneel sobre o tema, pedindo que a operação excepcional dos reservatórios de Três Marias e Xingó não tenha efeito sobre os

18 preços antes de 4 de janeiro de 2021. O processo está sob relatoria do diretor Sandoval de Araújo Feitosa Neto e foi incluído na pauta da reunião de hoje.

Para Reginaldo Medeiros, presidente executivo da Abraceel, o episódio ameaça a evolução na governança dos preços construída pelo setor nos últimos anos. Segundo ele, desde que a CNPE 07 foi instituída, não houve um caso do tipo. O porta-voz das comercializadoras afirma ainda que a entidade não quer republicação dos preços. “Nos posicionamos no sentido de que a antecedência de 30 dias precisa ser respeitada. Esse caso passou, para nós, houve violação. Mas o importante é termos segurança de que não seremos mais surpreendidos daqui para frente”.

Para Raphael Gomes, sócio do Lefosse Advogados, a preocupação está no precedente que o caso pode abrir para outras mudanças repentinas na formação de preços. “Seria muito ruim para o mercado se os agentes passassem a conviver com imprevisibilidade, porque isso é risco, e risco é preço.”

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O mercado evita falar em judicialização, após o trauma com o imbróglio do risco hidrológico, mas alguns agentes apontam esse risco. “Espero não ter que enfrentar uma onda de judicialização. Esse caso é difícil de ser debatido, levar para o Judiciário seria ruim demais”, afirmou Rui Altieri, presidente do conselho da CCEE, em conversa com jornalistas no início do mês. https://valor.globo.com/empresas/noticia/20 20/12/21/formacao-de-preco-a-vista-preocupa-setor-eletrico.ghtml Retorne ao índice 19

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Valor Econômico

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de dezembro de 2020.

Natura compra créditos de

carbono da Engie

Natura fecha acordo para

compra de créditos de carbono

emitidos pela Engie Brasil

Energia

Por Gabriela Ruddy — Do Rio

A Natura fechou um acordo para compra de créditos de carbono emitidos pela Engie Brasil Energia (EBE), com o objetivo de compensar suas emissões de gases de efeito estufa em 2019. A EBE vai emitir os créditos por meio de uma usina de cogeração a biomassa de resíduos de madeira, localizada em Lages, na região serrana de Santa Catarina. O objetivo da companhia de cosméticos é compensar 100 mil toneladas de CO2. A iniciativa faz parte do programa “Compromisso com o Clima”, conduzido pelo Instituto Ekos Brasil, em parceria com a Natura e o Itaú. Por meio de uma plataforma, o instituto capta e seleciona projetos de redução ou remoção de emissões de gases de efeito estufa para empresas do setor privado. O programa conta também com o apoio da B3 e da Renner.

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A Natura conduz um programa de compra créditos de carbono para compensar as emissões desde 2007. Nos últimos seis anos, a companhia passou também a realizar compensações por meio de seus próprios processos de produção, com pagamento às cooperativas parceiras e famílias agricultoras que comprovam manutenção de área florestal conservada.

De acordo com o diretor de comercialização da EBE, Gabriel Mann, o interesse pela compra de créditos de carbono cresceu este ano no Brasil. “Desde 2012 temos projetos deste tipo habilitados, mas no começo o volume maior [de créditos] era vendido para fundos internacionais, não para empresas. As companhias agora estão buscando não somente reduzir emissões de CO2, mas também compensar o volume que ainda não conseguem reduzir, por meio da compra dos créditos”, diz o executivo.

O diretor acredita que o movimento está ligado ao aumento do interesse por práticas socialmente e ambientalmente responsáveis (conhecidas pela sigla ESG, em inglês). Até o momento, o mercado de carbono tem se movimentado principalmente por práticas voluntárias de empresas, mas Mann destaca que o eventual estabelecimento de metas compulsórias de redução de emissões por parte dos governos podem impulsionar ainda mais o setor no futuro.

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“Apesar de ser crescente, esse mercado é incipiente e pode se tornar ainda maior do que é hoje. Acreditamos que os compromissos voluntários das empresas tendem a continuar crescendo também”, diz o diretor. https://valor.globo.com/empresas/noticia/20 20/12/21/natura-compra-creditos-de-carbono-da-engie.ghtml Retorne ao índice 21

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Natura compra créditos de

carbono da Engie

Natura fecha acordo para

compra de créditos de carbono

emitidos pela Engie Brasil

Energia

Por Gabriela Ruddy — Do Rio

A Natura fechou um acordo para compra de créditos de carbono emitidos pela Engie Brasil Energia (EBE), com o objetivo de compensar suas emissões de gases de efeito estufa em 2019. A EBE vai emitir os créditos por meio de uma usina de cogeração a biomassa de resíduos de madeira, localizada em Lages, na região serrana de Santa Catarina. O objetivo da companhia de cosméticos é compensar 100 mil toneladas de CO2. A iniciativa faz parte do programa “Compromisso com o Clima”, conduzido pelo Instituto Ekos Brasil, em parceria com a Natura e o Itaú. Por meio de uma plataforma, o instituto capta e seleciona projetos de redução ou remoção de emissões de gases de efeito estufa para empresas do setor privado. O programa conta também com o apoio da B3 e da Renner.

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A Natura conduz um programa de compra créditos de carbono para compensar as emissões desde 2007. Nos últimos seis anos, a companhia passou também a realizar compensações por meio de seus próprios processos de produção, com pagamento às cooperativas parceiras e famílias agricultoras que comprovam manutenção de área florestal conservada.

De acordo com o diretor de comercialização da EBE, Gabriel Mann, o interesse pela compra de créditos de carbono cresceu este ano no Brasil. “Desde 2012 temos projetos deste tipo habilitados, mas no começo o volume maior [de créditos] era vendido para fundos internacionais, não para empresas. As companhias agora estão buscando não somente reduzir emissões de CO2, mas também compensar o volume que ainda não conseguem reduzir, por meio da compra dos créditos”, diz o executivo.

O diretor acredita que o movimento está ligado ao aumento do interesse por práticas socialmente e ambientalmente responsáveis (conhecidas pela sigla ESG, em inglês). Até o momento, o mercado de carbono tem se movimentado principalmente por práticas voluntárias de empresas, mas Mann destaca que o eventual estabelecimento de metas compulsórias de redução de emissões por parte dos governos podem impulsionar ainda mais o setor no futuro.

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“Apesar de ser crescente, esse mercado é incipiente e pode se tornar ainda maior do que é hoje. Acreditamos que os compromissos voluntários das empresas tendem a continuar crescendo também”, diz o diretor. https://valor.globo.com/empresas/noticia/20 20/12/21/natura-compra-creditos-de-carbono-da-engie.ghtml Retorne ao índice 23

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Brasileiras vão à Justiça contra

Essure, da Bayer

Mulheres afirmam que

dispositivo de esterilização

causou sangramento, dores e depressão

Por Marcos de Moura e Souza — De São Paulo

21/12/2020 05h01 Atualizado há 4 horas

O pesadelo vivido por mulheres no Brasil atribuído a um dispositivo de esterilização da farmacêutica Bayer deve chegar em breve aos tribunais na Europa.

Um escritório de advocacia sediado em Londres prepara uma ação coletiva contra a companhia em nome de cerca de 300 brasileiras, que implantaram o Essure.

Elas se queixam que, após a implantação, passaram a sofrer de sangramentos genitais constantes, dores abdominais intensas, perda de cabelo, depressão, entre outros sintomas. É um quadro semelhante ao relatado por mulheres que usam o dispositivo na Europa e nos EUA. Uma das sócias do escritório que prepara a ação, o PGMBM, a brasileira Gabriella Bianchini, disse

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ao Valor que em meados do ano, o escritório protocolou uma ação na Holanda também envolvendo mulheres que implantaram o Essure. Outra ação será ajuizada na Inglaterra nos próximos dias.

“Nós representamos por volta de 2 mil mulheres entre o Reino Unido e Holanda. No Brasil nós temos por volta de 300 clientes”, afirma Gabriella. “Pretendemos ajuizar uma ação contra a Bayer [referente a esses casos no Brasil] no começo do ano que vem em algum país da Europa. A gente acha melhor não dizer agora qual”, disse a advogada.

Gabriella afirmou que não está definido ainda o valor da indenização a ser pedido às brasileiras.

Em agosto, a multinacional alemã concordou em pagar US$ 1,6 bilhão, por meio de um acordo, a mulheres nos EUA que vinham acionando a empresa por causa do Essure. O acordo, segundo informado na época, abarcou 90% das 39 mil ações que corriam nos tribunais da Califórnia e da Pennsylvania.

Em vista desse acordo, os advogados do PGMBM acreditam que a Bayer poderá adotar uma postura favorável a negociações com vítimas também na Europa.

O Essure é um dispositivo inserido nas tubas uterinas e que provoca uma obstrução irreversível, impedindo a concepção. O dispositivo não lidera hormônios. É uma solução diferente dos dispositivos intrauterinos (DIUs), porque estes são inseridos no útero, liberam hormônios e são reversíveis.

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O Essure foi apresentado como uma opção mais prática em comparação à laqueadura.

No Brasil, ele foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2009. Mas entre 2017 e 2018, a Bayer decidiu tirar o Essure do mercado. A empresa diz que a decisão foi baseada em “motivos comerciais e estratégicos de negócios, sem relação com a segurança e eficácia do anticoncepcional”.

“Todos os produtos e procedimentos para controle de natalidade têm riscos, e a totalidade de evidências científicas demonstram que o perfil de segurança de Essure é consistente com os riscos identificados no momento de sua aprovação e é comparável a outras opções de controle de natalidade permanente”, informou a Bayer no Brasil. A empresa diz que não foi informada sobre os planos do escritório em Londres.

Gabriella afirma que não dispõe de um número oficial sobre quantas mulheres implantaram o aparelho no Brasil. Questionada, a empresa não deu essa informação. A advogada diz que deve ser algo próximo de 8 mil. “Eu implantei o Essure em 2015. Estava com 36 anos e já tinha quatro filhos”, diz Mônica Estelita, autora de uma página no Facebook chamada Vítimas do Essure BR. “Eu passei a ficar praticamente só dois dias sem fluxo menstrual, passei a ter muita queda de cabelo, a ter dores pelo corpo, dores na pélvis e um dia me vi na cama sem vontade de levantar e pensei ‘como vou ficar em depressão com quatro filhos?’, conta Mônica,

25 que é produtora de eventos em vive em Praia Grande (SP).

“Perdi dois empregos em quatro anos porque não rendia. Eu ficava menstruada sempre. Quem é que vai pagar por isso?”, questiona Rosa Germano, auxiliar administrativa, de 34 anos, que vive no Rio.

Ela e Mônica - representadas pelo PGMBM - implantaram o aparelho pela rede SUS e alguns anos depois foram operadas pelo SUS para sua retirada. No caso delas, como de outras mulheres, acabaram tendo de tirar o útero.

“A gente quer que a Bayer se responsabilize, mas eles não assumem nem que o dispositivo não deu certo”, afirma Rosa.

O Ministério Público e a Defensoria Pública também têm atuado para tentar garantir exames e as cirurgias. https://valor.globo.com/empresas/noticia/20 20/12/21/brasileiras-vao-a-justica-contra-essure-da-bayer.ghtml

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Valor Econômico

Caderno: Legislação e Tributos,

segunda-feira 21 de dezembro de

2020.

Especialistas não veem

chances de União derrubar

desoneração da folha no STF

Medida, considerada

constitucional, beneficia 17

setores com forte geração de vagas

Por Joice Bacelo — Do Rio

Vivien Suruagy: revogação levaria a corte de vagas nas áreas de infraestrutura de telecomunicações, informática e call center — Foto: Divulgação

A ação apresentada pelo governo no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a prorrogação da desoneração da folha de pagamento até o fim do ano que vem não tem chances de prosperar. Advogados ouvidos pelo Valor dizem que a medida, aprovada pelo Congresso Nacional, é

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constitucional e, ao contrário do que alega a Advocacia-Geral da União (AGU), não contraria nenhuma norma vigente.

O processo está nas mãos do ministro Ricardo Lewandowski, que na sexta-feira, ao ser designado relator, tirou as chances de o governo Jair Bolsonaro obter uma liminar durante o recesso do Judiciário. Ele decidiu levar para o Plenário o julgamento da ação direta de inconstitucionalidade apresentada (ADI 6632) - o que só poderá ocorrer a partir de fevereiro. A desoneração da folha beneficia 17 setores da economia. Essas empresas são as que mais empregam no país. Geram atualmente seis milhões de vagas que, em uma eventual decisão favorável ao governo, estariam em risco por conta do forte impacto financeiro da medida.

Somente a Feninfra, federação que representa as empresas de infraestrutura de telecomunicações, informática e call center, diz que o setor pode ter que cortar mais de 20% da sua mão de obra. Seriam 500 mil postos de um total de 2,2 milhões. “E isso num momento em que o índice de desemprego no país está em 14%. Nós não estamos entendendo essa posição do governo”, diz Vivien Suruagy, a presidente da Feninfra. Ela classifica a ação que foi protocolada no Supremo como “uma grande e desagradável surpresa”. Afirma que as empresas fecharam os seus programas de investimentos e contratação e qualificação de mão de obra para 2021 com base na decisão

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do Congresso e, agora, não sabem mais se conseguirão cumprir.

O pedido governo, se aceito, pode ser a gota d’água para o setor de transportes: há risco de paralisação das atividades e de demissões. Otávio Cunha, presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), afirma que o setor vem, ao longo dos anos, sofrendo com a redução da demanda e neste ano de pandemia, especificamente, o cenário piorou muito. O número de passageiros caiu 80% nos meses de março e abril e, atualmente, está em 50% da média histórica.

A desoneração da folha foi instituída em 2011 para estimular a geração de empregos formais. Setores favorecidos com a medida, substituíram a contribuição ao INSS, de 20% sobre a folha de salários, por uma contribuição calculada sobre o receita bruta da empresa, que varia entre 1% e 4,5%.

O benefício seria extinto neste ano, mas o Congresso, ao votar a Medida Provisória nº 936, ampliou o prazo para 31 de dezembro de 2021. Essa MP, dentre outros pontos, autorizou a redução de jornada e salário de funcionários em razão da crise provocada pela pandemia.

Na conversão da MP, no entanto, o presidente Jair Bolsonaro vetou o trecho que tratava da ampliação do prazo. Mas no começo do mês de novembro, o Congresso derrubou o veto, mantendo, portanto, a prorrogação.

O governo tenta, agora, reverter a decisão por meio de uma ação direta

27 de inconstitucionalidade, com pedido de liminar, ou seja, em caráter de urgência. A AGU afirma, na petição, que a medida vai representar uma perda de R$ 9,78 bilhões para a União.

Mas, apesar desse argumento, o governo já incluiu a previsão de renúncia na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que serve como base para a discussão orçamentária do próximo ano e foi aprovada na semana passada.

Na ação apresentada ao STF, a AGU afirma que o processo legislativo foi concluído sem a estimativa dos impactos orçamentários e financeiros. Afirma haver violação ao artigo 113 do ADCT da Constituição Federal e também à Emenda do Teto dos Gastos (nº 95, de 2016) e à Lei de Responsabilidade Fiscal (nº 101, de 2000).

Para a advogada Cristiane Matsumoto, sócia do escritório Pinheiro Neto, esses argumentos não se sustentam. Ela diz que, ao contrário do que o governo alega, existe compensação à renúncia fiscal desde 2011, quando a desoneração da folha de pagamentos passou a ser permitida.

“A Cofins-Importação foi criada junto com a desoneração e tinha efeitos claramente compensatórios à renúncia fiscal. E existe até hoje. Só que agora a alíquota não é mais de 1%, é de 1,5%”, diz. “A alegação da União, de que houve violação ao artigo 514 da Lei de Responsabilidade Fiscal, portanto, não é verdadeira.”

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Sobre a suposta violação ao artigo 113 do ADCT, afirma a advogada, o governo flutua conforme os seus interesses. “Eles estão falando que se não existia previsão na LDO de 2020, não poderia haver postergação de estimativa para 2021. Só que existe um recurso legislativo que trata da renúncia fiscal e o próprio já se utilizou dele”, diz ela, citando o Fundo Nacional de Segurança Pública. “Aqui [no caso da desoneração], a previsão existe desde a sua criação.”

Um outro argumento utilizado pela AGU para tentar convencer os ministros é de que a prorrogação do prazo da desoneração da folha seria inconstitucional por contrariar a Emenda Constitucional nº 103, de 2019, que instituiu a Reforma da Previdência.

A advogada Ariane Guimarães, do escritório Mattos Filho, não concorda. Ela diz que o artigo 30 da EC 103 prevê expressamente a manutenção das contribuições substitutivas à folha de salários que foram instituídas anteriormente.

“Prorrogação de prazo não equivale à criação de um novo tributo”, diz. Contribuinte, base de cálculo, materialidade, percentual, todos esses elementos estão lá atrás, quando a substituição foi criada, no ano de 2011.”

Para Ariane não há “nenhuma inconstitucionalidade na prorrogação” da desoneração da folha. “Nem do ponto de vista financeiro. A prorrogação foi aprovada no contexto orçamentário de uma pandemia, que sinaliza para a flexibilização de algumas regras.

28 Juridicamente, os argumentos do governo não são adequados”, afirma. Entendimento semelhante consta em um parecer elaborado em julho pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. O texto diz que a prorrogação da desoneração é constitucional. Afirma que a Reforma da Previdência impediu que novos benefícios fossem criados. A MP, no entanto, teria prorrogado um benefício criado por uma regra anterior à reforma e, por esse motivo, não seria inconstitucional.

https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2 020/12/21/especialistas-nao-veem-chances- de-uniao-derrubar-desoneracao-da-folha-no-stf.ghtml

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Valor Econômico

Caderno: Legislação e Tributos,

segunda-feira 21 de dezembro de

2020.

Selic será aplicada em 4

milhões de ações trabalhistas

Valor total envolvido, segundo levantamento da Data Lawyer, é de R$ 453,92 bilhões

Por Beatriz Olivon — De Brasília

Relator do caso, ministro Gilmar Mendes: não cabe ao Judiciário substituir o legislador nessa escolha — Foto: Divulgação

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que estabeleceu a Selic como índice de correção das dívidas trabalhistas deve afetar pelo menos 4,1 milhões de processos em tramitação, em um valor total, segundo levantamento da Data Lawyer, de R$ 453,92 bilhões. Foi uma derrota para os trabalhadores, que receberão menos e poderão ver suas ações se prolongarem ainda mais na Justiça do Trabalho.

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“A economia [para as empresas] será expressiva”, afirma José Pastore, professor da FEA-USP e presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio-SP, ao comparar a Selic com o IPCA-E mais juros de 12% ao ano, até então aplicado pela Justiça do Trabalho. Pela decisão dos ministros, tomada na sexta-feira, a Selic terá que ser adotada sem os juros de mora. Na fase pré-judicial, utiliza-se o IPCA-E. No julgamento, os ministros, por maioria de votos, consideraram inconstitucional a aplicação da Taxa Referencial (TR) para a correção monetária de débitos trabalhistas e de depósitos recursais, como previsto pela reforma (Lei nº 13.467, de 2017). Também ficou definida a modulação dos efeitos da decisão (limite temporal). Vale apenas para os processos em tramitação e os que transitaram em julgado sem especificar o índice de correção a ser aplicado.

Pastore calcula que a decisão, em apenas um ano, traz uma economia de bilhões de reais para as empresas. Tomando como base os cerca de R$ 30 bilhões alcançados em sentenças em 2019, de acordo com o levantamento Justiça em Números, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a correção referente a 2020, com a Selic, fica em R$ 600 milhões. Com o IPCA-E, seria de R$ 4,9 bilhões. “Ao aplicar IPCA-E mais 1% de juros ao mês, os valores ficam astronômicos”, afirma.

A economia, acrescenta Pastore, será sentida também pelas empresas públicas. Dados de 2018 do

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