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Entrevista em profundidade-

DUARTE, Jorge. Entrevista em profundidade. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (org.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2005.

"Entrevista é uma das mais comuns e poderosas maneiras que utilizamos para tentar compreender nossa condição humana", dizem Fontana & Frey (1994, p.361). Ela tornou-se técnica clássica de obtenção de informações nas ciências sociais, com larga adoção em áreas como sociologia, comunicação, antropologia, administração, educação e psicologia.

A entrevista em profundidade é um recurso metodológico que busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer. Desta maneira, como na análise de Demo (2001, p.10) sobre pesquisa qualitativa, os dados não são apenas colhidos, mas também resultado de interpretação e reconstrução pelo pesquisador, em diálogo inteligente e crítico com a realidade. Nesse percurso de descobertas, as perguntas permitem explorar um assunto ou aprofundá-lo, descrever processos e fluxos, compreender o passado, analisar, discutir e fazer prospectivas. Possibilitam ainda identificar problemas, microinterações, padrões e detalhes, obter juízos de valor e interpretações, caracterizar a riqueza de um tema e explicar fenômenos de abrangência limitada.

O uso de entrevistas permite identificar as diferentes maneiras de perceber e descrever os fenômenos. A entrevista está presente em pesquisas de comunicação interna (CURVELLO, 2000), comportamento organizacional (SCHIRATO, 2000), levantamentos históricos e biográficos (MARQUES DE MELO e DUARTE, 2001), processos jornalísticos (PEREIRA JR., 2000) e em vários outros tipos de estudo, usada como base ou conjugada com diferentes técnicas, como observação, discussão em grupo e análise documental.

Por meio da entrevista em profundidade, é possível, por exemplo, saber como e por que as coisas acontecem é, muitas vezes, mais útil do que obter precisão sobre o que está ocorrendo.

A entrevista em profundidade é uma técnica dinâmica e flexível, útil para apreensão de uma realidade tanto para tratar de questões relacionadas ao íntimo do entrevistado, como para descrição de processos complexos nos quais está ou esteve envolvido. São próximas no objetivo de buscar informações pessoais e diretas por meio de uma conversação orientada, no cuidado, rigor e objetivo de compreensão e na noção de que há, explicitamente, um participante interessado em apreender o que o outro tem para oferecer sobre o assunto. A entrevista como técnica de pesquisa, entretanto, exige elaboração e explicitação de procedimentos metodológicos específicos: o marco conceitual no qual se origina, os critérios de seleção das fontes, os aspectos de realização e o uso adequado das informações são essenciais para dar validade e estabelecer as limitações que os resultados possuirão.

As entrevistas em profundidade se caracterizam pela flexibilidade e por explorar ao máximo determinado tema, exigindo da fonte subordinação dinâmica ao entrevistado. Autores como Ander-Egg (1978, p.111) e Selltiz et al. (1987, p.298) identificam um tipo especial de entrevista em profundidade, a clínica, relacionada a motivações, atitudes, crenças específicas do respondente com base em sua experiência de vida.

Validade e confiabilidade

Não se busca generalizar ou provar algo com entrevistas em profundidade, mas seu caráter subjetivo exige adequada formulação dos procedimentos metodológicos e confiança nos resultados obtidos. A questão é relevante, pois não basta ouvir fontes e fazer um relato para considerar realizada uma pesquisa válida e confiável.

As condições de validade dizem respeito à capacidade dos instrumentos e a utilização adequada fornecerem os resultados que o pesquisador se propôs obter. O julgamento da validade de uma

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investigação científica pode ser obtido pela construção metodológica do trabalho, ao relacionar formulação teórica, questão de pesquisa, perguntas, critérios de seleção dos entrevistados – ou seja, é identificada já no exame do projeto.

A obtenção de confiabilidade é baseada na descrição pormenorizada dos procedimentos de operacionalização das entrevistas e uso fundamentado e consistente das respostas obtidas. Validade e confiabilidade no uso da técnica de entrevistas em profundidade dizem respeito, particularmente, a três questões:

1. seleção de informantes capazes de responder à questão de pesquisa; 2. uso de procedimentos que garantam a obtenção de respostas confiáveis;

3. descrição dos resultados que articule consistentemente as informações obtidas com o conhecimento teórico disponível.

É importante obter informações que possam dar visões e relatos diversificados sobre os mesmos fatos. Pessoas em papéis sociais diferentes, recém-chegadas ou que tenham deixado a função recentemente, podem dar perspectivas e informações bastante úteis.

Ato da entrevista

O modelo neutro faz do entrevistador um transmissor de estímulos positivos, buscando impessoalidade e equilíbrio na relação. É o mais aproximado do desejável nas entrevistas.

Kandel (1981, p.178) lembra que a entrevista em pesquisa "não é simplesmente um trabalho de coleta de informações, mas, sempre, uma situação de interação, ou mesmo de influência entre dois indivíduos e que as informações dadas pelo sujeito (o material que ele fornece) podem ser profundamente afetadas pela natureza de suas relações com o entrevistador".

Assim, temos distorções produzidas pelo pesquisador, pelo contexto e pela fonte, e minimizar os riscos é tarefa exclusiva do primeiro. "A arte da entrevista, em última instância, consiste em obter respostas válidas", diz Ander-Egg (l 978, p.113).

A seguir, sintetizamos orientações básicas referidas na literatura especializada e a partir da experiência de realizar e orientar pesquisas com o uso da técnica de entrevista.

Antes

 o pesquisador pode se surpreender como entrevistas em profundidade despertam interesse. As pessoas raramente têm oportunidade de falar abertamente e de maneira sistematizada sobre suas experiências, opiniões e percepções e tendem a ser cooperativas com entrevistadores informados e perspicazes, se percebem que as perguntas são bem fundamentadas, desafiadoras, inteligentes e oferecem a possibilidade de refletir sobre o assunto. É fundamental ler com antecedência todo material disponível, preparando-se ao máximo para cada entrevista, já que uma entrevista mal sucedida dificilmente pode ser refeita;

 o informante deve ser estimulado a escolher o local e o horário. É sempre possível negociar, mas é fundamental atender às condições do entrevistado;

 o ambiente de trabalho do informante pode ser adequado se ajudá-lo a se sentir confortável, mas não deve haver ouvintes e interrupções;

 planeje a seqüência das entrevistas, examine detidamente o roteiro de perguntas, faça uma planilha com nomes, datas, locais e horários das entrevistas;

 se existir e for viável, escolha uma fonte conhecida para realizar a primeira entrevista. Ela pode ajudar a testar o roteiro e aperfeiçoar a condução da entrevista;

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ao final, quando o volume de informação disponível permite aprofundar questões mais complexas;

 é um risco sempre presente o pesquisador influenciar o entrevistado involuntariamente, provocando distorções nas respostas. É fundamental identificar e minimizar fatores que possam causar distorções nas respostas.

Início

 comece a entrevista perguntando sobre os dados básicos do entrevistado, se não possuí-los: nome, função, tempo de experiência, idade, formação, descrição das atividades ou do papel que desempenha. São informações úteis para contextualizar as informações e para relacionar os entrevistados no relatório;

 busque o estabelecimento de um ambiente de naturalidade, confiança mútua e interesse;

 faça uma apresentação informal e curta sobre seu trabalho e objetivo. Informe o tempo que deverá durar e se será gravada;

 a primeira pergunta, costuma ser a mais abrangente, indicando o tema geral. Perguntas

 deixe o informante à vontade. Ele deve ser estimulado a fazer o relato de como percebe o assunto, a falar franca e livremente. Seja cordial, modesto, positivo, busque empatia, tenha e demonstre interesse pelo que ele sabe e pensa. Estimule a expressão e seja permissivo desde que isto facilite a obtenção de informações. Assuma o papel de ouvinte curioso e o estimule a abordar com naturalidade cada questão;

 respeite o entrevistado e desperte sua confiança, mesmo que não concorde com ele. Não tente ser astuto, nem convencer, induzir, orientar ou sugerir que está errado. O entrevistador deve obter informações e não discutir, conscientizar ou esclarecer o entrevistado. O ideal é que o entrevistado perceba seu interesse, não sua opinião;

 o entrevistador pode apresentar questionamentos e visões distintas como modo de estimular a reflexão, detalhamento ou explorar as contradições do próprio entrevistado. Para isso, frases como “ Fale mais sobre isso”, “Você afirma que .... Fale mais sobre isso”;

 lembre-se de que nem sempre o entrevistado sabe responder de maneira precisa. Dê o tempo necessário, mantendo-se em silêncio e não demonstrando impaciência;

 Cada entrevistado é único e exige compreensão, paciência e flexibilidade;

 explique e pergunte sobre conceitos e vocábulos caso possa haver dúvida. Muitas vezes, as palavras utilizadas pelo entrevistado possuem significado diferente para o informante, gerando interpretações equivocadas. Exemplo: “a Senhora disse que se sente como um menino que ganhou um doce. O que a senhora quer dizer com isso?”;

 faça apenas uma pergunta de cada vez;

 o fato do entrevistado não saber responder já é uma resposta. Também deixe claro ao informante que não há problema se não souber algo, fazendo perguntas que não exijam afirmação de conhecimento;

 não tenha pressa. Siga o tempo da fonte. Silêncios e pausas podem ser proveitosos para o entrevistado refletir ou recordar;

 se tiver dúvidas se foi suficientemente compreendido, repita a pergunta. Do mesmo modo, se a resposta não for evidente, peça esclarecimentos;

 não se perca em detalhes apenas curiosos, nem ceda à tentação de perguntas-carona, interessantes, mas irrelevantes à questão de pesquisa. A entrevista é uma ótima situação de interação para aprendizagem mútua, mas exige rigor na condução.

Além das respostas

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como o entrevistado se comporta, seus movimentos, ênfases, silêncios, pausas, gestos. Os aspectos relacionados ao comportamento do entrevistado e o contexto da entrevista ajudam a complementar a informação semântica, aquilo que se torna explícito verbalmente. As circunstâncias podem ser muito úteis para ajudar o pesquisador a descrever e analisar seu objeto de pesquisa;

 cruze todas as informações de maneira a ser convicto em seu relato de pesquisa. Verifique a consistência da argumentação e das informações das fontes durante a própria entrevista e busque sua coincidência e articulação com outros relatos e documentos no momento da redação;

 lembre-se do marco teórico de seu trabalho durante a entrevista. No relatório, será importante relacionar os resultados obtidos com os conceitos e informações apresentadas pelos diversos autores que você consultou;

 evite a tentação de buscar e valorizar apenas informações que confirmem seus pressupostos. Na realidade, o melhor é testá-los, questioná-los, verificar se estão corretos.

Ao final

 procure deixar para o fim as perguntas mais sensíveis ou complexas. Mas evite correr o risco de que o entrevistado canse ou a entrevista seja interrompida antes;

 uma entrevista em profundidade pode durar mais de 30 minutos sem aborrecer o entrevistado. Claro que diferentes variáveis podem alterar este indicador;

 não conclua abruptamente a entrevista. Antes de agradecer, dê indicações de que está terminando. Você também pode perguntar se o entrevistado gostaria de complementar alguma questão ou acrescentar algo, por exemplo.

Depois

 se necessário, realize duas ou mais entrevistas com a mesma fonte. Muitas vezes, é preciso complementar, aprofundar ou discutir novas questões. Os entrevistados tendem a ser generosos se acreditam que estão ajudando a resolver um problema;

 Cruzar as informações com a literatura, exercitar a desconfiança, a reflexão e a crítica, procurar e ouvir vozes discordantes, buscar detalhes adicionais e exemplos pode fazer toda a diferença;

 é normal que após algumas entrevistas diminuam as novidades, passando a haver repetição de informações. Isto significa que já existe uma coerência interpretativa nas respostas. Como a variabilidade se reduz, o pesquisador pode aproveitar para obter detalhes, exemplos, afirmações que ajudem a sustentar e articular as informações e antecipar a redação do relatório;

 evite a tentação de resumir a transcrição das entrevistas. Quanto mais detalhada, mais chance de aspectos relevantes serem identificados em uma leitura posterior. Às vezes, uma frase ou exemplo é suficiente para a descoberta de pontos fundamentais no tema em questão.

Anotações

Permitem registrar comportamento, ambiente, mas limitam o detalhamento e podem interromper a fluência e distrair o entrevistado. Anotações sobre questões centrais, dúvidas, aspectos relevantes, detalhes que não tenham sido verbalizados ou mesmo idéias que surjam e possam ser esquecidas devem ser feitos, inclusive quando há gravação. É importante transcrever imediatamente as anotações, registrar comentários, observações, de maneira a não esquecer pontos essenciais ou perder os registros. Anotações como instrumento básico de coleta exigem ainda maior habilidade e domínio prévio sobre o tema por parte do entrevistador.

Gravação

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que não afeta o resultado e oferece maior segurança à fonte. É importante demonstrar que irá usar o gravador e verificar se o entrevistado não se sente desconfortável. Embora possa eventualmente levar à desconfiança ou ser inibidor nas primeiras perguntas, em geral a fonte rapidamente responde com naturalidade. É interessante deixá-lo em local visível, mas discreto ao olhar. O gravador possui a vantagem de evitar perdas de informação, minimizar distorções, facilitar a condução da entrevista, permitindo fazer anotações sobre aspectos não verbalizados.

Convém transcrever com rapidez para aproveitar melhor o conteúdo, pois o ambiente e as respostas estão mais vivos na memória e as inferências, contextualização e análise são imediatas. Ouvir a transcrição ajuda o entrevistador a perceber nuances, detalhes e questões que o ajudarão nas novas entrevistas, até mesmo na correção de seus próprios erros de condução. Se possível, o próprio pesquisador deve fazer a transcrição. É uma oportunidade de aprender com a própria entrevista, identificar aspectos que não ficaram registrados, começar a estruturar o trabalho.

O ideal é manter a gravação até, pelo menos, algum tempo após a publicação do trabalho. Pequenos detalhes, grandes problemas: numerar as fitas e fazer uma lista, registrando cada fonte ao lado do número; definir a priori como serão transcritas e por quem; utilizar uma fita (ou um lado de cada uma) por entrevistado, testar as fitas e o equipamento, utilizar pilhas novas e ter sobressalentes, e, se possível, outro gravador.

Hoje dispomos de smarphones e aparelhos de mp3. Será necessário manter os equipamentos carregados e posteriormente baixar programas de software para converter numa extensão que possa ser ouvida no computador, facilitando a transcrição.

Descrição e análise dos resultados

Na redação da descrição e análise, o pesquisador assume a posse das informações colhidas nas entrevistas e as articula, com o objetivo de conduzir o leitor. Na prática, entretanto, o investigador tem por primeiro objetivo organizar suas próprias reflexões, dialogando com o papel e avançando na estruturação consistente do trabalho.

Um desafio adicional é lembrado por Berger (1998, p.57), quando alerta que "pode ser muito difícil lidar com a enorme quantidade de material que as entrevistas em profundidade geram". Por isso, o pesquisador será mais bem-sucedido se começar a escrever e a sistematizar os resultados assim que houver informações mínimas para fazê-lo. Isto permite ganhar tempo e ajuda no exame do encaminhamento da pesquisa e no surgimento de idéias, detalhes, questões que possam ser úteis nas próximas entrevistas.

Analisar implica separar o todo em partes e examinar a natureza, funções e relações de cada uma. Geralmente, a opção mais fácil e menos útil para a redação do relatório é organizar os resultados pela apresentação de cada unidade.

O pesquisador, sem perder de vista os objetivos do trabalho, classifica as informações a partir de determinado critério, estabelecendo e organizando grupos de temas comuns, como que as agrupando em "caixas" separadas para se dedicar individual e profundamente a cada uma. Esta estrutura geral assume a forma de esquema de análise e cada conjunto (caixa) é chamado categoria, uma unidade de análise completa e única em si mesma.

Transpondo as informações

 A descrição interpretativa deve ser suportada por argumentos e evidências baseadas nas diversas fontes de informação consultadas pelo pesquisador, como exame de documentos, revisão bibliográfica, observação e contexto das entrevistas.

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 Verifique a consistência da argumentação e das informações do informante durante a própria entrevista e busque sua coincidência e articulação com outros relatos no momento da redação.

 A experiência indica que muito raramente um entrevistado tenta enganar conscientemente, mas distorções perceptivas, preconceitos, dificuldades de articulação das idéias, falha de memória, erros de avaliação, exageros ocorrem.

 O informante pode estar equivocado, pode ter entendido mal a pergunta, ter sido induzido a erro, ou mesmo dar uma resposta socialmente desejável. As respostas devem ser contextualizadas, avaliadas e comparadas. Esta é uma das vantagens desta técnica: erros podem ser identificados e corrigidos na própria entrevista, no cruzamento com outras fontes ou pela reflexão do pesquisador. Se você tem motivos para desconfiar das respostas de uma fonte e não consegue outras evidências, relativize as informações no relatório.

 Procure minimizar a chance de ocorrer os erros comuns apontados por Rummel (1977, p.99): reconhecimento, quando o pesquisador minimiza ou não percebe informações importantes; omissão, se ignora, e adição, se acrescenta ou exagera no relato das observações do respondente; substituição, se apresenta sentido conotativo diferente do exposto pela fonte; e transposição, quando erra na seqüência ou na relação entre fatos.

 A entrevista é sempre uma discussão subjetiva, mas é importante tentar separar informação objetiva de interpretação e análise.

É interessante utilizar trechos das entrevistas, destacando trechos literais (por verbatim) que reforcem, esclareçam, dêem suporte, exemplifiquem o trecho em questão.

Ex. “[...] eu sou doente desde pequena, sempre fui mionzim” (Entrevistada 1)

 Deve-se manter o anonimato, a autoria de citação pode ser atribuída a "Entrevistado 1", " ou nome inventado" ou alguma outra indicação.

 Em entrevistas em profundidade, a riqueza, a heterogeneidade das respostas é não apenas esperada, como também desejável. Cada respondente apresenta sua visão que pode ter colorido, interpretações, versões diferentes.

 È papel do pesquisador organizá-las coerentemente em formato compreensível e articulado. O resultado em geral é mais descritivo, analítico, reflexivo do que conclusivo. Por isso, o uso de percentuais não é admitido em descrições com base em entrevistas qualitativas. Se for o caso, é possível utilizar palavras como todos os entrevistados, nenhum, a maioria, alguns, nenhum, para deixar claro a relatividade das informações.

 Do mesmo modo, devem ser enfatizada as limitações: “Com base nas entrevistas é concebível afirmar/deduzir/inferir...”; “A partir da análise dos depoimentos, é possível identificar...”; “A maioria dos entrevistados sugere que...”; “Problema apontado por alguns dos entrevistados indica...”.

 O pesquisador pode, depois da transcrição da fita, mostrar o resultado ao entrevistado. Geralmente nestas oportunidades é possível obter uma correção, detalhes adicionais, outros exemplos, tirar dúvidas. Também não deve se inibir e apresentar um esboço do relatório a pessoas conhecedoras do assunto. Deve ter certeza, entretanto, de que haverá apenas leitura crítica e não tentativa de influenciar o resultado.

Para concluir

Pesquisas desenvolvidas com o uso da técnica de entrevista em profundidade permitem ao analista gerar sugestões e críticas sobre o tema de estudo. Nestes casos, é útil que o autor apresente, ao final, um capítulo, trecho, talvez anexo, com um conjunto de recomendações definidas com base no conhecimento teórico disponível, na pesquisa de campo e em suas reflexões. É uma oportunidade para não apenas descrever e refletir sobre os resultados obtidos, mas também propor avanços e soluções. As recomendações serão contribuição na aplicação dos resultados e um prêmio ao esforço e colaboração dos entrevistados.

Mais do que uma técnica de coleta de informações interativa baseada na consulta direta a informantes, a entrevista em profundidade pode ser um rico processo de aprendizagem, em que a experiência, visão de

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mundo e perspicácia do entrevistador afloram e colocam-se à disposição das reflexões, conhecimento e percepções do entrevistado. E, como propõe Thiollent (1981), o uso de entrevistas pode ser imaginativo e crítico, sem que se perca o rigor metodológico.

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