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A inovação como estratégia em organizações públicas

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA SCHEINE NEIS ALVES DA CRUZ DE BASTIANI

A INOVAÇÃO COMO ESTRATÉGIA EM ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: LIMITES E POSSIBILIDADES EM RELAÇÃO AO USO DA TAXONOMIA DE BONACCORSI E

PICCALUGA (1994)

Florianópolis 2014

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SCHEINE NEIS ALVES DA CRUZ DE BASTIANI

A INOVAÇÃO COMO ESTRATÉGIA EM ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: LIMITES E POSSIBILIDADES EM RELAÇÃO AO USO DA TAXONOMIA DE BONACCORSI E

PICCALUGA (1994)

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Administração, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientadora: Taisa Dias, Dra.

Florianópolis 2014

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B32 Bastiani, Scheine Neis Alves da Cruz de, 1989-

A inovação como estratégia em organizações públicas : limites e possibilidades em relação ao uso da taxonomia de Bonaccorsi e Piccoluga (1994) / Scheine Neis Alves da Cruz de Bastiani. – 2014.

103 f. : il. color. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade do Sul de Santa Catarina, Pós-graduação em Administração.

Orientação: Profa. Taisa Dias, Dra.

1. Desenvolvimento organizacional. 2. Estratégia – Organização e administração. 3. Planejamento empresarial. 4. Organizações não-mercado. 5. Inovações educacionais. I. Dias, Taisa. II. Universidade do Sul de Santa Catarina. III. Título.

CDD (21. ed.) 658.4063

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SCHEINE NEIS ALVES DA CRUZ DE BASTIANI

A INOVAÇÃO COMO ESTRATÉGIA EM ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS: LIMITES E POSSIBILIDADES EM RELAÇÃO AO USO DA TAXONOMIA DE BONACCORSI E

PICCALUGA (1994)

Esta Dissertação foi julgada adequada à obtenção do título de Mestre em Administração e aprovada em sua forma final pelo Curso de Administração, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 01 de setembro de 2014.

______________________________________________ Prof. Orientadora Taisa Dias, Dra.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________ Prof. Simone Sehnem, Dra.

Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________ Prof. Daniel Pedro Puffal, Dr.

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Dedico esta dissertação a meus pais e a meu esposo, que, com esperança, amor e muita fé, deram-me forças para não desistir.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar a Deus, o qual me concedeu o dom da vida e nunca me deixou desamparada ou só. Sou grata também à Santa Terezinha do Menino Jesus, minha santa de devoção, que intercedeu a Deus por mim e me ajudou a não perder as esperanças, por mais que a caminhada estivesse difícil demais para suportar.

Não tem nem como demonstrar apenas em palavras o quanto sou grata a meus pais, Valmir e Marili, que desde o início sempre se mostraram presentes, desde as horas acordados esperando-me chegar até os ouvidos prontos a me ouvir quando queria compartilhar as alegrias, as tristezas e as conquistas. Obrigada por suas orações, conselhos e bênçãos, por me ensinar a ser perseverante, forte e destemida.

Ao meu querido esposo Helton, agradeço muito por ter aceitado o desafio de construirmos nossa vida juntos durante essa caminhada. Muito obrigada por todos os carinhos, beijos e abraços, principalmente quando o cansaço parecia tomar conta, fazendo com que me levantasse e continuasse mais um pouco. Tenho certeza de que Deus o colocou em minha vida para me ensinar a viver de verdade.

Agradeço à Universidade Alto Vale do Rio do Peixe – UNIARP pela confiança depositada e também ao grupo de amigos docentes que me fez o convite para juntos construirmos essa trajetória, a qual se tornou mais divertida e leve ao lado de todos. Em especial, a minha amiga Andréa, a qual me mostrou que nada é impossível.

Agradeço, também, a minha orientadora, Professora Taisa, que com paciência e muita perseverança me conduziu para a elaboração desta dissertação, ajudando-me a levantar quando tropeçava e reconhecendo quando superava os obstáculos. Por fim, agradeço a todo o corpo docente do Programa de Mestrado em Administração da UNISUL que me mostrou um mundo novo: o da pesquisa.

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"A Santíssima Virgem demonstrou que nunca deixou de proteger-me. Logo quando a invoco, quando me vem uma incerteza, um aperto, imediatamente recorro a ela, e sempre cuida de meus interesses como a mais terna das Mães” (Santa Terezinha do Menino Jesus, 1873-1897).

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RESUMO

Esta dissertação se reconhece como um levantamento descritivo-interpretativista desenvolvido a partir da análise da taxonomia da relação universidade-empresa proposta por Bonaccorsi e Piccaluga (1994). Esta pesquisa, que se caracterizou como predominantemente qualitativa, foi guiada pelo pressuposto de que as relações universidade-empresa podem ser empregadas para a geração de inovação como estratégia em organizações não mercado. Para cumprir esse objetivo, relacionou-se o perfil acadêmico, profissional e da organização campo de pesquisa dos egressos de Mestrados Profissionais em Administração Pública, que delimitaram como campo de estudo de suas dissertações as organizações em que atuavam profissionalmente. Em seguida, investigou-se a aderência da taxonomia de Bonaccorsi e Picaaluga (1994) às organizações não mercado, aplicando-a a amostra delimitada, para, então, identificar os limites e possibilidade da mesma quando empregada especificadamente em organizações públicas. Para então, finalmente, ensaiar contribuições no sentido de torná-la aplicável a esse tipo de organizações. Desenvolvida com base na existência de três diferentes formas organizacionais: de mercado, públicas e associativas (FRANÇA-FILHO, 2004), buscando a compreensão de que a estratégia de inovação não gira somente em torno daquelas que almejam o lucro (organizações de mercado), mas também está presente na realidade das demais (organização não mercado – públicas e associativas), em que os objetivos estão voltados às necessidades fundamentais da sociedade. Logo, reconhecendo que para inovar uma ferramenta possível envolve-se o estabelecimento de relações com as Instituições de Ensino Superior, as quais desenvolvem pesquisas a partir dos conhecimentos teóricos advindos das salas de aula e podem ajudar no aperfeiçoamento de produtos, processos, serviços, comunicação e gestão das organizações. Sua operacionalização se deu por meio de questionário, estruturado em três blocos de questões, respondido pelos egressos de Mestrados Profissionais em Administração Pública que obtiveram conceito 4 ou superior no triênio 2010-2013 de avaliação da CAPES, abrangendo programas da UDESC, FGV/RJ, UnB e UFBA. Os dados coletados passaram por análise através da comparação da teoria e da prática, entendendo que cada um dos tipos de relação universidade-empresa delimitados na taxonomia de Bonaccorsi e Piccaluga (1994) constitui-se como uma categoria de análise. Os resultados apontam que essa

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taxonomia pode ser aplicada às organizações públicas, já que todos os casos analisados conseguiram se enquadrar em pelo menos uma de suas categorias. Porém, para ser devidamente aplicada a esse tipo de organização, necessita de algumas adequações, principalmente no que tange às terminologias empregadas, como é o caso o termo “empresa”, denotando um foco apenas às organizações de mercado, o que não se pode observar na realidade, já que as organizações públicas também necessitam de inovação, para poder com exigência satisfazer a dignidade dos cidadãos. A pesquisa reconhece que todo esse passeio pela teoria permitiu, senão o aprimoramento, a abertura de um espaço para desenvolvimentos posteriores do conhecimento. Vale esclarecer que a pergunta de pesquisa foi devidamente respondida, verificando como a taxonomia analisada se comportou no contexto de organizações públicas, ou seja, que pode ser empregada, mas que necessita de ajustes para ficar mais perto do sucesso completo, porém tendo em mente a necessidade perene de construções e reconstruções.

Palavras-chave: Inovação. Estratégia. Relação universidade-empresa. Organizações não mercado.

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ABSTRACT

This paper is described as an interpretative descriptive research developed from the analysis of the taxonomy university-company relation, proposed by Bonaccorsi and Piccaluga (1994). This research, which characterized predominantly qualitative, was guided by the assumption that the relations university- company can be applied to create innovation as strategy in non-market organizations. To accomplish this goal, some profiles were related: the academic, the professional, and the organization which was field of research on the graduates of Professional Master in Public Management, which delimit the field of study of their essays as the organizations where they acted professionally. Later, the approval of the taxonomy of Bonaccorsi and Picaaluga (1994) to the non Market organizations was investigated, applying it to the delimited sample, so that it was possible to identify the limits and possibilities of it when applied specifically to the public organizations. And then, finally, it would be possible to experiment contributions in a way we could make them applicable to this kind of organization. It was developed based on the existence of three different forms of organizations: market, public and associations (FRANÇA-FILHO, 2004), aiming to understand that innovation strategies do not exist only around those who target profit (Market organizations), but it is also present in the reality of others (non Market organizations – public and associations), where the targets are the fundamental needs of society. So, taking for granted that for innovating a possible tool is involving the establishment of relationships with Colleges and Universities, because these are the ones that develop research from theoretical knowledge that come from classrooms. This can help improve products, processes, services, communication and organization management. It was done through a questionnaire, with questions divided in thee, which was answered by the graduates of Professional Master in Public Management. The CAPES evaluation this group had obtained in the period between 2010-2013 scores 4 upper, comprehending UDESC, FGV/RJ, UnB and UFBA Mastering Programs. The data collected went under analysis through the comparison of theory and practice, as we understand that every type of relation between university-company delimited on the taxonomy of Bonaccorsi and Piccaluga (1994) is like a category for analysis. The results show that this taxonomy can be applied to public organizations, since all cases studied can fit at least one of its categories. However, to be applied accordingly to this kind of organization, it needs

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some arrangements, especially regarding the terminology applied, as it is with the word “company”, which means only a Market organization, and this is not what is really seen actually, since public organizations also need innovations to fulfill the needs of citizens. This research understands that this entire trip throughout theory let us not only improve, but also open new space for aftermost development of knowledge. It is also worth making it clear that the main question of the research was answered, and we could check that the taxonomy analyzed behaved in the context of public organizations. It means it can be applied, but it needs arrangements to be closer to the complete success, but we have to keep in mind the need of continuous construction and reconstruction.

Key-words: Innovation. Strategy. Relation University-Company. Non Market Organizations.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 – Modelos de relação entre universidade-empresa-governo... 28 Figura 02 – Modelo Teórico de Cooperação Universidade-Empresa... 32 Figura 03 – Primeiro enquadramento, de acordo com a taxonomia da relação

universidade-empresa, evidenciada pela amostra... 65 Figura 04 – Segundo enquadramento, de acordo com a taxonomia da relação

universidade-empresa, evidenciada pela amostra... 67 Figura 05 – Terceiro enquadramento, de acordo com a taxonomia da relação

universidade-empresa, evidenciada pela amostra... 68 Figura 06 – Quarto enquadramento, de acordo com a taxonomia da relação

universidade-empresa, evidenciada pela amostra... 69 Figura 07 – Quinto enquadramento, de acordo com a taxonomia da relação

universidade-empresa, evidenciada pela amostra... 70 Figura 08 – Sexto enquadramento, de acordo com a taxonomia da relação

universidade-empresa, evidenciada pela amostra... 71 Figura 09 – Enquadramento Final das relações universidade-empresa

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Taxonomia da relação universidade-empresa... 35

Quadro 02 – Tipos de Inovação no Setor Público... 39

Quadro 03 – Programas de Mestrado Profissional em Administração... 48

Quadro 04 – Mestrados Profissionais em Administração Pública com conceito igual ou superior a 4 no triênio 2010-2013... 49

Quadro 05 – Número de Egressos X Número de Respondentes por Programa.. 51

Quadro 06 – Motivos para a escolha do Programa de Mestrado... 53

Quadro 07 – Motivos que levaram à escolha do Programa de Mestrado na modalidade Profissional... 54

Quadro 08 – Linhas de Pesquisa X Temas da Dissertação... 55

Quadro 09 – Motivos que levaram à escolha do Tema da Dissertação... 56

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. – Artigo

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CES – Câmara de Educação Superior

CNE – Conselho Nacional de Educação doc. - documento

FGV/RJ – Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro IES – Instituição de Ensino Superior

MEC – Ministério da Educação

MRE – Ministério das Relações Exteriores org. – organização

SNI – Sistema Nacional de Inovação

UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina UFBA – Universidade Federal da Bahia

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 14

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO ... 14

1.2 OBJETIVOS ... 18

1.2.1 Objetivo geral ... 18

1.2.2 Objetivos específicos ... 18

1.3 JUSTIFICATIVA ... 19

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 23

2.1 SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO (SNI) ... 23

2.2 MODELO DA HÉLICE TRÍPLICE ... 27

2.3 RELAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA ... 29

2.3.1 Modelo teórico da relação universidade-empresa ... 31

2.3.2 Taxonomia da relação universidade-empresa ... 34

2.4 A INOVAÇÃO EM ORGANIZAÇÕES NÃO MERCADO ... 36

2.5.1 Mestrados profissionais e sua relação com a inovação ... 42

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS... 45

3.1 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA... 45

3.2 PERCURSO DA PESQUISA ... 47

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 52

4.1 DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS ... 52

4.1.1 Caracterização do perfil acadêmico dos egressos pertencentes à amostra ... 53

4.1.2 Caracterização do perfil profissional e da organização campo de pesquisa dos egressos pertencentes à amostra ... 58

4.1.3 Caracterização do perfil da relação universidade-empresa que pode ser evidenciada através da perspectiva dos egressos pertencentes à amostra ... 60

4.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 63

4.2.1 Relação do perfil acadêmico, do perfil profissional e da organização campo de pesquisa dos egressos pertencentes à amostra ... 63

4.2.2 Investigação da aderência da taxonomia de Bonaccorsi e Piccaluga (1994) ao contexto de organizações não mercado, aplicando-a à amostra selecionada ... 64

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4.2.3 Limites e possibilidades da obra de Bonaccorsi e Piccaluga (1994) para

análise da inovação em organizações públicas ... 75

4.2.4 Ensaiando uma contribuição à obra de Bonaccorsi e Piccaluga (1994) ... 78

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 81

REFERÊNCIAS ... 85

APÊNDICES ... 94

APÊNDICE A – Carta de apresentação do questionário ... 95

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1 INTRODUÇÃO

Neste primeiro capítulo, apresenta-se a contextualização do tema, ou seja, a definição do que é abordado, demonstrando sua importância, originalidade e viabilidade de pesquisa. Em seguida, expõe-se a pergunta norteadora por meio da articulação da teoria e do que se analisa, passando pelos objetivos geral e específicos, e, por fim, apresentando a justificativa para a realização desta pesquisa.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO

Num contexto caracterizado por inovações, encontram-se, em destaque, as relações interorganizacionais, as quais vislumbram a cooperação entre organizações para a concretização de objetivos por meio de ações de ajuda mútua e, assim, a sustentabilidade da postura organizacional inovativa. Logo, essa cooperação interorganizacional pode ser formada: entre uma organização e seus fornecedores ou clientes; entre organizações da mesma linha de negócio, mas com mercados distantes; e, até mesmo, entre organizações fortemente rivais com o propósito de desenvolver e manter o setor como um todo (NELSON, 2006). Da mesma forma, encontra-se a relação estabelecida com as Instituições de Ensino Superior (IES), que fornecem o conhecimento científico às organizações, principalmente, para os setores de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na busca por inovação e, ainda, a relação contrária, nas quais as organizações tornam-se fontes de embasamento empírico para as pesquisas acadêmicas (NELSON, 2006), desempenhando um papel importante no ambiente do Sistema Nacional de Inovação (SNI).

Apesar da industrialização tardia do Brasil e, devido a essa trajetória histórica, o fato de ter seu SNI ainda pouco dinâmico, observa-se que a cooperação entre as IES e organizações no cenário nacional vem sendo investigada como uma opção estratégica para o desenvolvimento de competências necessárias às organizações e de novos conhecimentos (GONÇALO; ZANLUCHI, 2011). Esse fato evidencia-se, principalmente, pelas IES serem tidas como um importante componente da moderna máquina capitalista, criando e reproduzindo o conhecimento por meio do ensino e ampliando-o a partir da pesquisa (NELSON,

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2006). Além disso, os responsáveis por tomar decisões nas organizações já estão começando a perceber as alterações no processo de inovação, que não mais acontece apenas internamente, mas também é influenciado e impulsionado por atores externos para dividir custos, riscos, pesquisas e testes (BIGNETTI, 2002).

No setor público, a inovação também se mostra presente, entretanto, levantamentos bibliométricos demonstram que a produção científica sobre esse tema ainda se encontra limitada. Com isso, observa-se uma oportunidade para o desenvolvimento de mais conhecimento nessa linha, o que tange o processo de inovação; os determinantes, os indutores, os facilitadores e as barreiras; a liderança; os efeitos; a disseminação (LIMA; VARGAS, 2012; BRANDÃO; BRUNO-FARIA, 2013) e, principalmente, se a interação com as IES também pode ser uma alternativa dentro desse contexto.

Porém, é importante deixar claro que a inovação como estratégia não depende somente da disponibilidade de recursos e organizações dispostas a cooperar, mas também de processos de aprendizagem (MOTA, 1999), não apenas dentro das organizações em si, as quais só existem a partir das pessoas “em um processo de construção e reconstrução constantes” (OLIVEIRA; MONTENEGRO, 2012), porém em conjunto com outras que também promovem a construção e reconstrução do conhecimento. Dessa forma, chega-se, novamente, ao contexto acadêmico, o qual pode colaborar, pois, ao mesmo tempo em que gera esse aprendizado, cria possibilidades de inovação para tais organizações, além das já desenvolvidas no ambiente organizacional interno. Percebe-se, então, que essa relação universidade-empresa ganha destaque, pois a construção do conhecimento inovador possibilita o cultivo do “tipo mais consciente, crítico, reconstrutivo e humanizador de cidadania”, alcançando, até mesmo, a inovação na ética da sociedade e da economia (DEMO, 2007, p. 62).

Encontram-se, na literatura, inúmeras barreiras ao estabelecimento da relação universidade-empresa devido às diferenças de valores, de objetivos e cultura, bem como da estrutura e das finalidades que cada organização possui. A burocracia das IES, os baixos níveis de interdisciplinaridade acadêmica, a inabilidade das organizações em administrar acordos de pesquisas e as dificuldades de definição de patentes são exemplos evidentes, o que exige das partes envolvidas diálogo, convivência até atingir a identificação necessária para a formalização da

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interação (BONACCORSI; PICCALUGA, 1994; MOTA, 1999; GONÇALO; ZANLUCHI, 2011). Portanto, cabe lembrar que a relação universidade-empresa é composta por duas organizações com finalidades definidas e um tanto divergentes. Porém, o objetivo que as une é a troca de conhecimentos teóricos e de experiências práticas (NELSON, 2006).

Bonaccorsi e Piccaluga (1994), além de apontar possíveis barreiras, complementam seus estudos, propondo uma taxonomia dessa relação universidade-empresa, a qual pressupõe, como critérios de categorização: ser ou não intermediada por instituições; ser apenas fundamentada na união de parques tecnológicos; ser formal ou informal, ou seja, depois de superadas as barreiras e a relação estabelecida, dependendo de como foi construída receberá uma denominação específica. No entanto, até onde foi possível estudar essa taxonomia, a mesma não acolhe a realidade de organizações não mercado, não sendo, também, possível perceber se considera a inovação nesse tipo de organizações.

Esse aspecto torna-se nítido pelo fato de relações formais serem encontradas entre o indivíduo e a organização de forma trabalhista; e entre ele e a IES, tal como aluno, ou seja, consumidor do serviço educacional fornecido em sala de aula, e não entre a IES em si e a organização. Nota-se, então, que o aluno-profissional realiza uma ponte entre a IES e a organização, contudo, não está claro, se essa interação pode ser caracterizada como uma relação universidade-empresa, ou seja, se isso demanda a inclusão de mais um tipo, além daqueles presentes na taxonomia de Bonaccorsi e Piccaluga (1994). O que corrobora, com essa mediação realizada pelo aluno, é o fato de, nos países desenvolvidos, a atuação profissional ter início após a finalização da formação acadêmica, o que ocorre com menos frequência nos países em desenvolvimento, ou seja, é uma configuração presente no Brasil, mostrando que talvez a teoria não a contemple por ter sido elaborada em países de primeiro mundo.

Tendo como base os três tipos organizacionais descritos nos estudos de França-Filho (2004), ou seja, as organizações “de mercado”, “públicas” e “associativas”, pode ser delimitado mais um enfoque para a realização deste estudo, pois, através da interpretação das teorias, percebeu-se a predominância do cunho econômico e do objetivo competitivo a partir da estratégia de inovação e das relações interorganizacionais. Logo, nota-se que os conceitos básicos dessas

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relações estão constantemente ligados a organizações de mercado, ou seja, voltadas ao lucro (empresas). Com isso, tanto o governo como as organizações públicas que o alicerçam são apontados apenas como fomentadores do processo inovativo, esquecendo-se do fato que essas organizações, tais como quaisquer outras, também necessitam de inovação para o aperfeiçoamento de seus processos e, assim, satisfação com excelência da dignidade dos cidadãos. Ratificando esse contexto, Klering e Andrade (2006, p. 77) enfatizam a "ampla e diversa apresentação do conceito de inovação na literatura de administração”, contudo, observam, como oportuno, o aumento de seu entendimento a partir de outras perspectivas e setores, principalmente, dentro do contexto do setor público.

Assim sendo, encontra-se aí uma lacuna na literatura, evidenciando a necessidade de compreender a relação universidade-empresa intermediada pelo aluno, que realiza sua pesquisa através da conexão entre os aspectos teóricos e sua atuação profissional, e, também, aquela que se dá em organizações que não são empresas, doravante entendidas como não mercado e, que segundo a classificação de França-Filho (2004), referem-se às públicas e associativas. Desse modo, inúmeros questionamentos são gerados, pois não se sabe se as análises e percepções do aluno trazem algum resultado à organização na qual esse indivíduo trabalha; se o próprio aluno consegue observar tal resultado; se a organização valoriza os aspectos levantados a partir da conexão teórico-prática; se há algum impacto na formação acadêmica e profissional do aluno; e, ainda, se essa relação pode ser estabelecida com organizações públicas e associativas.

É importante destacar, então, que com o intuito de obter uma visão madura das contribuições da conexão teórico-prática proporcionada pela formação acadêmica, juntamente com o desempenho profissional, bem como da interação não apenas com organizações de mercado, mas também as organizações não mercado (FRANÇA-FILHO, 2004), buscou-se, com esta dissertação, analisar, especificamente, a taxonomia da relação universidade-empresa estruturada por Bonaccorsi e Piccaluga (1994) quando aplicada às organizações não mercado através da perspectiva dos alunos de Mestrados Profissionais em Administração Pública, valorizando, dessa forma, o campo da Administração Pública bem como as pesquisas desenvolvidas dentro dele e o resultante desenvolvimento científico da área.

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Diante dessas considerações e da realidade da taxonomia de Bonaccorsi e Piccaluga (1994), por ser considerada pelos grupos de pesquisa na área da relação universidade-empresa a mais importante, é que emerge a seguinte pergunta de pesquisa: Como se comporta a taxonomia da relação universidade-empresa, elaborada por Bonaccorsi e Piccaluga (1994), quando aplicada às organizações não mercado, na perspectiva dos egressos de Mestrado Profissionais em Administração Pública?

1.2 OBJETIVOS

Os objetivos consistem nas ações a serem executadas para a elaboração da resposta à pergunta de pesquisa, sendo divididos em geral e específicos, em que esses devem estar alinhados àquele, para que o projeto e, consequentemente, o trabalho final possam encontrar o que o pesquisador almeja.

1.2.1 Objetivo geral

Analisar a taxonomia da relação universidade-empresa de Bonaccorsi e Piccaluga (1994) quando aplicada às organizações não mercado a partir da perspectiva dos egressos de mestrados profissionais em Administração Pública que delimitaram, como campo de pesquisa para a sua dissertação, as organizações em que atuavam profissionalmente.

1.2.2 Objetivos específicos

- Relacionar o perfil acadêmico, o perfil profissional e a organização campo de pesquisa dos egressos pertencentes à amostra;

- Investigar a aderência da taxonomia de Bonaccorsi e Piccaluga (1994) ao contexto de organizações não mercado, aplicando-a à amostra selecionada;

- Identificar limites e possibilidades da referida taxonomia quando aplicada às organizações públicas;

- Sugerir adequações à taxonomia adotada para que essa possa vir a ser aplicável também quando a estratégia de inovação se dá em organizações não

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mercado.

1.3 JUSTIFICATIVA

Como justificativa para realização desta dissertação, encontram-se argumentos de natureza teórica e prática. Como argumento teórico, destaca-se o fato de que, após levantamentos bibliográficos realizados em bases de dados nacionais e internacionais (EBSCO, Portal de Periódicos da CAPES, Domínio Público e Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações), utilizando como termos de busca “relação universidade empresa”, “interação universidade empresa”, e “university-industry relationships”, até onde foi possível verificar, nenhuma pesquisa semelhante foi localizada. As publicações encontradas estão preocupadas, principalmente, com a geração e gestão da inovação a partir da relação universidade-empresa, além da transferência de tecnologia e conhecimento, sem mencionar essa configuração diferenciada por meio do aluno, nem estudos sobre a essência dos possíveis relacionamentos que podem ser estabelecidos.

Também, realizaram-se pesquisas mais específicas, incluindo os termos “mestrados profissionais”, “alunos”, “mestrandos”, “setor público”, “organizações públicas”, “inovação social”, “social innovation”, resultando em nenhuma (zero) publicação. Por isso, como já mencionado, fizeram-se buscas com termos mais genéricos e, posterior, análise dos resumos e objetivos de pesquisa, mas nenhum mostrou o mesmo foco semelhante ao aqui estabelecido.

Outra justificativa de natureza teórica pode ser mencionada: o campo da Administração não está entre as áreas do conhecimento mais interativas quando comparada às Engenharias e às Ciências Agrárias, as quais estão mais próximas da efetiva aplicação do conhecimento (Engenharias) e são de destaque econômico para o Brasil (Ciências Agrárias) (RIGHI; RAPINI, 2011). Pode-se complementar esse argumento com aspectos socioeconômicos presentes na história do país, lembrando o atraso brasileiro na criação de suas universidades e instituições de pesquisa bem como sua industrialização tardia. Além disso, as primeiras áreas de interação no contexto nacional abrangem as ciências da saúde, agrárias, mineração, aeronáutica e aquelas ligadas ao petróleo e ao gás natural (SUZIGAN; ALBUQUERQUE; CARIO, 2011), distanciando-se, significativamente, das Ciências

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Sociais e, consequentemente, da Administração.

Encontra-se, ainda, um terceiro argumento de natureza teórica: o fato de os conceitos básicos das relações entre organizações e IES estarem comumente associados às organizações de mercado, ou seja, voltadas ao lucro (empresas). Desse modo, o governo e as organizações públicas que o alicerçam ficam apenas como fomentadores do processo inovativo, esquecendo que essas organizações, tais como quaisquer outras, também, necessitam de inovação para o aperfeiçoamento de seus processos e satisfação com excelência da dignidade dos cidadãos. Com vistas nesse fato, observa-se a necessidade de analisar esses embasamentos dentro do setor público, já que pesquisas recentes demonstram a “ampliação do interesse no estudo da inovação em outros setores”, gerando novos conceitos como: “inovações sociais”, “inovações em serviços” e “inovações no setor público” (BRANDÃO; BRUNO-FARIA, 2013).

Justifica-se, também, de forma prática, o desenvolvimento deste estudo, pois a partir do entendimento da taxonomia da relação universidade-empresa, a partir da visão do aluno-pesquisador (egresso), há a possibilidade de demonstrar, aos próprios atores (IES, organizações e egressos), uma visão mais clara de como essa interação pode ser estabelecida, baseando-se na mediação do aluno-pesquisador que necessita da conexão teórico-empírica para que o conhecimento seja devidamente alcançado, bem como dentro das organizações não mercado que, também, podem ser consideradas nessa mediação. Esse contexto propicia uma analogia embasada nos estudos de Nelson (2006), o qual aponta que as conversas entre empregados de organizações, que veem a inovação como estratégia, são consideradas fontes relevantes de informação, principalmente quando itens importantes para a apropriação não estão envolvidos, ou seja, a troca de informações informais traz resultados, que, através de relacionamentos formais, seriam incapazes de alcançar, contudo sempre obedecendo aos limites éticos essenciais.

Essa analogia possibilita a compreensão de que o aluno-pesquisador pode ser considerado o caminho para a conexão das duas instituições envolvidas (IES e organização), verificando-se uma relação formal apenas entre o indivíduo com a IES, como aluno, e dele com a organização, como colaborador. A informalidade é caracterizada por não haver contratos ou convênios entre a IES e a

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organização, formando-se uma relação informal e indireta entre esses atores. Assim, a interação acontece por meio das informações provenientes das disciplinas cursadas pelo aluno e a conexão dessa teoria com a prática diária do profissional, ou seja, a constante e permanente conexão entre teoria e prática; ou, ainda, a prática como fonte de desenvolvimento científico.

Como outro argumento de natureza prática, é importante verificar de que forma os mestres e doutores podem mediar a relação universidade-empresa, facilitando a disseminação do conhecimento científico sem a relação direta e formal entre essas duas organizações, sendo apenas, então, alicerçada de maneira indireta e informal por meio das trocas realizadas no desenvolvimento desses futuros titulados e do profissional da área de Administração. Um aspecto que não pode ser deixado de lado é a diferença entre os mestrados profissionais e os tradicionais mestrados acadêmicos. Na realidade, seus objetivos estão voltados às práticas profissionais e à transferência de conhecimento para a sociedade, focando tanto o aperfeiçoamento quanto a inovação de processos para os próprios indivíduos que compõem essa sociedade como para as organizações públicas e privadas nas quais os mesmos atuam (MEC, 2009).

Com isso, tende-se a um ambiente propício para a discussão da taxonomia da relação universidade-empresa de Bonaccorsi e Piccaluga (1994), considerando a perspectiva do egresso desse tipo de mestrado, pois quando faz a escolha por essa modalidade de capacitação já está claro, pelo menos na caracterização do curso, que sua atuação envolverá a efetiva conexão da teoria com a prática cotidiana das organizações dispersas pela sociedade, independentemente de serem caracterizadas como de mercado, públicas ou associativas (FRANÇA-FILHO, 2004).

Por fim, esse foco na taxonomia da relação universidade-empresa de Bonaccorsi e Piccaluga (1994), sob o olhar dos egressos de mestrados profissionais em Administração Pública, bem como considerando as organizações não mercado para interação, proporciona ao estudo um caráter de originalidade e distinção em relação a outros estudos existentes. Isso se justifica, pois até onde foi possível pesquisar, nas bases de dados já mencionadas, não há estudos com pergunta de pesquisa semelhante.

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universidade-empresa, na verdade, já ocorre e sempre ocorreu durante, especificamente, a formação acadêmica do profissional em Administração, pois os conceitos absorvidos em sala de aula podem ser levados às organizações e analisados de forma prática ou, ainda, eles são provenientes da prática. Para tanto, falta, apenas, tanto à IES quanto às organizações, perceber que, por mais simples que sejam, os trabalhos desenvolvidos auxiliarão na gestão, na organização e na inovação do contexto organizacional.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fundamentação teórica, desenvolvida neste capítulo por meio do levantamento bibliográfico, fornecerá o embasamento teórico-científico para a realização do estudo.

2.1 SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO (SNI)

A fundamentação teórica é aquela que dá corpo às pesquisas, fornece a base de sustentação para qualquer investigação científica. Por isso, nesse primeiro momento, é preciso focar termos, conceitos e modelos que sustentem a problemática desta dissertação. Inicialmente, aborda-se o conceito de inovação para, então, alcançar o de Sistema Nacional de Inovação, foco deste subtítulo.

Inovação, genericamente, pode ser conceituada como a evolução de uma invenção, a qual, dentro do contexto organizacional, recebe a adição de sistemas produtivos, mas, principalmente, que esteja baseada na oferta de novos produtos ou serviços aos consumidores para que suas necessidades e desejos sejam satisfeitos (FIEDLER, 2011). Contudo, por mais atual que pareça ser o tema inovação, o mesmo começou a ser discutido antes da primeira metade do século XX pelo renomado economista Schumpeter (1984) em sua obra “Capitalismo, Socialismo e Democracia”. Sua descrição de inovação está baseada em motivadores para o aproveitamento de oportunidades identificadas por empreendedores mais audaciosos e competentes, exigindo características peculiares das organizações para suportar tal pressão (NUNES, 2009).

A partir desses aspectos, a inovação tem se tornado ponto central das estratégias organizacionais e, também, o foco de diversos estudos e publicações (NUNES, 2009), principalmente, pelo fato de depender mais dos processos de aprendizagem do que da disponibilidade de recursos em si, apesar da notória importância que os mesmos possuem (MOTA, 1999). Desse modo, o processo de aprendizagem tem seu alicerce na busca dos indivíduos pela condição de membro de um grupo de trabalho (prática), considerando fatores técnicos e comportamentais. Portanto, isso conduz a caracterização das organizações como ambientes de construção coletiva de sentidos, significados e geração de conhecimento, induzindo

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a busca por novas maneiras de compreender os processos de aprendizagem, principalmente aqueles de natureza informal e que fazem parte do cotidiano das pessoas, dos grupos de trabalho e das organizações como um todo (BISPO; GODOY, 2012).

Na verdade, a inovação fundamenta-se em ser o meio através do qual ocorre o desenvolvimento econômico (SCHUMPETER, 1982), desempenhando o papel fundamental de gerar mudanças de produto e processos, bem como das formas organizacionais (PUFFAL, 2011). Com isso, é importante lembrar-se do fato de que “as organizações são constituídas por pessoas em suas práticas cotidianas e que só existem a partir delas em um processo de construção e reconstrução constantes” (OLIVEIRA; MONTENEGRO, 2012).

Logo, em virtude dessa condição constante de construções e reconstruções dentro das organizações, emerge a necessidade de um processo de inovação não mais restrito aos limites organizacionais, indo além dessas fronteiras, ou seja, passando de uma atitude fechada, com objetivos internos, para uma atitude aberta, na busca por parceiros externos com o propósito de dividir os riscos, diminuir os custos e obter retornos crescentes com a P&D (BIGNETTI, 2002). Portanto, esse processo é visto como sistêmico, no qual a organização não é capaz de inovar sozinha, precisando agregar a essa dinâmica outras organizações, fornecedores, concorrentes, clientes ou, até mesmo, universidades e centros de pesquisa, além de órgãos governamentais, no sentido de “somar forças” para alcançar diferenciais e, assim, domínio e crescimento econômico (PUFFAL, 2011). Entretanto, não basta estabelecer uma discussão superficial sobre como as organizações geram conhecimento e inovação a partir das interações e do cotidiano, é importante alcançar o entendimento da atribuição de significado, da criação de sentidos que ocorrem dentro das mesmas e de que maneira tudo se relaciona e contribui para os processos de aprendizagem, anteriormente, citados como condicionante para a aplicação inovação como estratégia (BISPO; GODOY, 2012).

Sendo assim, com base nessa perspectiva, alcança-se o contexto do chamado Sistema Nacional de Inovação (SNI), cuja característica principal é o entrelaçamento entre a ciência e a tecnologia, sendo que a primeira envolve os conhecimentos gerados pelo sistema científico, e a segunda tem como responsabilidade a transformação desses conhecimentos em novas tecnologias,

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aplicáveis e úteis aos ambientes organizacionais (NELSON; ROSENBERG, 1993; SUZIGAN; ALBUQUERQUE; CARIO, 2011). Para que esse avanço científico e tecnológico aconteça, tanto nos países desenvolvidos quanto naqueles em fase de desenvolvimento, há a necessidade da existência de atores principais, os quais já foram citados, mas que merecem destaque, pois cada um faz sua parte individual, gerando resultados no todo (PUFFAL, 2011). Os mesmos são as empresas (organizações) em si, com seu conhecimento da tecnologia, onde as “tentativas e erros” levam a avanços, antes de qualquer orientação sistematizada por parte da ciência; as universidades (Instituições de Ensino Superior ou Centros de Pesquisa), com sua pesquisa científica que leva o embasamento teórico e estabelece uma vinculação palpável entre a tecnologia e a ciência que se torna responsável pela grande intensificação da pesquisa, fundamental para a sustentação da prática; e, por fim, o governo (Estado), como órgão fomentador, o qual garante os recursos necessários para a continuidade desses estudos por meio da educação e dos incentivos financeiros (PUFFAL, 2011; ROSENBERG, 2006).

A discussão do papel de cada um desses atores já havia sido realizada no início dos anos 70 com Sábato, o qual utilizou um triângulo como modelo, sendo os vértices a representação de cada um deles. Desse modo, Sábato buscou explicar a inovação, de forma mais rígida, porém podendo ser considerado o precursor do SNI, destacando o papel do Estado como indutor da inovação (SÁBATO; BOTANA, 1975), o que torna esse entendimento diferente da visão atual para geração de inovação. Sua concepção foi desenvolvida durante os anos 80, vindo a confirmar que a inovação é um processo interativo, sugerindo, desse modo, uma definição mais geral ao SNI, como sendo o conjunto das instituições econômicas, sociais, políticas e organizacionais e outros fatores que influenciam o desenvolvimento, difusão e uso de inovações (LUNDVALL, 2007; EDQUIST, 1997). Porém, é importante esclarecer as diferenças entre organizações e instituições, mesmo que já entendidos como atores do Sistema de Inovação. Compreender-se, assim, as organizações como empresas, universidades e agências públicas; e as instituições como conjuntos de hábitos comuns, normas, rotinas, práticas estabelecidas, regras ou leis que regulamentam as relações e interações entre indivíduos, grupos e organizações (EDQUIST; JOHNSON, 1997).

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visam averiguar relações entre organizações, regulamentadas por instituições específicas, para a geração de inovação e, consequentemente, desenvolvimento econômico, o qual pode ser em nível nacional, regional ou local. Portanto, a compreensão do SNI se torna determinante para a identificação dos gargalos e dos pontos de alavancagem para intensificar a atividade inovativa e, consequentemente, o desenvolvimento econômico e a competitividade global. No contexto brasileiro, por pouco dinâmico que se apresente esse sistema, está voltado à nação em si, localizando-se dentro das fronteiras nacionais, pois seu foco são os elementos e estruturas desse âmbito, tendo suas funções específicas, conforme essa nação (LUNDVALL, 2007; SUZIGAN; ALBUQUERQUE; CARIO, 2011).

Todavia, observa-se uma falta de clareza na definição e abrangência do SNI, isso porque, na verdade, não se constitui em uma teoria formal, sem conceitos objetivos para facilitar seu entendimento (EDQUIST, 2007). Logo se pode perceber que vai mais longe do que uma simples “rede de entidades que tem em comum o interesse pela inovação” (SIMANTOB, 2003), alcançando a transferência de conhecimento tácito, o qual não pode ser codificado, representando, dessa forma, fluxos entre tipos variados de organização e instituição (SCHILLER, 2008). Nelson e Winter (1982), então, afirmam que a noção de SNI foi construída pelos evolucionistas, com o objetivo de levar em consideração os fatores tecnológicos, sociais e econômicos que estão na origem da inovação.

Por fim, aspectos relevantes podem ser enumerados na tentativa de uma rápida descrição, os quais procuram caracterizar o SNI como sistêmico, interativo e de foco “bairrista”, ou seja, de uso do seu país, região ou localidade, elevando a possibilidade de melhoramentos no padrão de vida de sua população (LUNDVALL, 2007), ou seja, os fluxos de conhecimento ocorrem de maneiras diferentes entre os países e daí resulta a especificidade de cada SNI. Desse modo, um Sistema de Inovação eficiente é aquele que viabiliza e promove a ocorrência de fluxos de conhecimento, dinamizando o sistema e ampliando a capacidade inovativa. Sendo importante destacar que as novas abordagens similares ao SNI, vindas a posteriore, são elementos adicionais e não novas alternativas ao seu conceito central, vindo a agregar e não subtrair o que já foi delimitado pelo mesmo (PUFFAL, 2011).

A partir de tudo que foi descrito, pode-se dizer que o SNI permite que todos os elementos que fazem parte do contexto inovativo possam ser organizados,

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estruturados e focados, sem que esforços sejam desperdiçados. No contexto nacional, está clara a deficiência desse sistema, assim é preciso mantê-lo em permanente discussão, mostrando que, se bem alicerçado, todos serão beneficiados, e o desenvolvimento acontecerá em um âmbito muito maior.

2.2 MODELO DA HÉLICE TRÍPLICE

O modelo que será apresentado demonstra três atores importantes que precisam ser engajados para que a inovação ocorra, colaborando, assim, com os conceitos vistos sobre o SNI. É importante destacar o fato de ser um modelo relativamente novo, mas que propicia a discussão e fundamenta as relações interorganizações para inovação.

A Hélice Tríplice é um modelo formulado em 1996 pelos professores Henry Etzkowitz, da Universidade do Estado de Nova Iorque, e Loet Leydesdorff, da Universidade de Amsterdã. A partir disso, pode-se perceber que esse modelo nasceu em país desenvolvido. Porém, como a maioria das diretrizes da ciência da administração, foi importado para os países em desenvolvimento da América Latina (DAGNINO, 2003; PLONSKI, 2007). Esse modelo tem como foco viabilizar a necessária harmonia entre as iniciativas dos agentes do desenvolvimento, ou seja, da universidade, das empresas e do governo (PLONSKI, 2007). Seu propósito consiste na geração de conhecimento a partir das relações entre esses três principais participantes do Sistema de Inovação (ETZKOWITZ, 2003; ETZKOWITZ; KLOFSTEN, 2005). Com isso, enfatiza-se que o interesse de cada elo na rede precisa ser observado, lembrando-se dos interesses diferentes no processo de transferência tecnológica, o impacto cultural das entidades e os meios de comunicação adequados (DESIDERIO; ZILBER, 2014).

Segundo Etzkowitz (2002), quando se fala em relação universidade-empresa-governo podem ser citados três modelos básicos, os quais se diferenciam pelo grau de interação de cada um desses três atores. No primeiro modelo, os agentes são separados, mas tanto a empresa quanto a universidade ficam subordinadas ao governo. Já o segundo descreve uma situação um pouco diferente, na qual se encontram isolados, tal como no anterior, porém sem a existência da relação de subordinação, atuando cada um de forma individual. Finalmente, o último

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demonstra, literalmente, uma “hélice”, em que a função de cada ator se sobrepõe a do outro, construindo uma relação de cooperação. Esses modelos são representados pela Figura 01.

Figura 01 – Modelos de relação entre universidade-empresa-governo

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3

Fonte: Etzkowitz (2002).

Na atualidade, o que se observa, com intensidade, é essa sobreposição, como se cada organização (universidade-empresa-governo) absorvesse um pouco do papel uma das outras. Fatos que tornam essa compreensão mais clara são as incubadoras tecnológicas dentro das universidades, as universidades corporativas inseridas nas organizações para capacitação de seus colaboradores, e o governo como financiador de todo o processo inovativo (ETZKOWITZ, 2002). Logo, é importante perceber que a geração de inovação é algo não linear, que não segue um fluxo claro, mas que pode adotar, conforme o que se pretende, o sentido mais conveniente, ou seja, universidade não apenas gera ciência para ser transferida como tecnologias para a organização, mas essa, também, fomenta novas pesquisas científicas, através de suas dúvidas ou incertezas perante suas técnicas e processos (COHEN; NELSON; WALSH, 2002).

Portanto, a cooperação requer um novo aprendizado, permitindo aos atores a criação de uma dinâmica interativa entre si e entre os demais entes sociais, resultando na geração, na aplicação do conhecimento e, também, no progresso através de ações empreendedoras e de inovação (ETZKOWITZ, 2002; LEYDESDORFF; ETZKOWITZ, 2001; TERRA; PLONSKI, 2006). Vale lembrar que cooperação, segundo Porto (2004), “é resultante da ação conjunta de diferentes atores: a empresa, a universidade e o governo, que desenvolvem parcerias,

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envolvendo simultaneamente todos os atores ou pelo menos dois representantes deles”. O importante, segundo Etzkowitz e Klofsten (2005), é perceber que o conhecimento é a diretriz básica do modelo da Hélice Tríplice, que a universidade assume papel principal nessa conjuntura, e, ainda, que esse modelo possibilita um arranjo organizacional para a criação de um sistema de inovação sustentável.

Esses aspectos tornam-se tão evidentes que, conforme Dossa e Segatto (2010), as universidades chegam a ser colocadas “como atores econômicos e sociais na sociedade contemporânea, especialmente conhecida como sociedade do conhecimento”. Além disso, esses atores, ainda, destacam que o modelo da Hélice Tríplice “também considera que as universidades aumentarão sua dependência da economia de conhecimento, além de acrescentar um papel de identificação e guia de ações futuras na produção do conhecimento e suas implicações para a sociedade”.

2.3 RELAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA

Tanto o modelo da Hélice Tríplice quanto o SNI conduzem para o próximo tópico a ser apresentado: a relação entre as instituições de ensino superior e as organizações, ou, como se encontra na literatura, a “relação universidade-empresa”. Percebe-se que todos estão voltados para a propulsão da inovação e da criação permanente de possibilidade para inovar. Porém, não de forma isolada, mas interagindo e realizando trocas entre as experiências práticas das organizações, as teorias das IES, o conhecimento e, até mesmo, recursos governamentais.

Sabe-se que a cooperação entre organizações para a concretização de objetivos individuais, por meio de ações de ajuda mútua, pode ser formada entre uma organização e seus fornecedores ou clientes; entre organizações da mesma linha de negócio, mas com mercados distantes; e até mesmo entre firmas fortemente rivais com o propósito de desenvolver e manter o setor como um todo (NELSON, 2006). Da mesma forma, encontra-se a relação estabelecida com as universidades, que fornecem o conhecimento científico às organizações, principalmente, para os setores de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na busca por inovação, e, ainda, a relação contrária, nas quais as organizações tornam-se fontes de embasamento empírico para as pesquisas acadêmicas (NELSON, 2006).

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A cooperação entre universidade e organizações de mercado (empresas), no Brasil, vem sendo investigada como uma opção estratégica para o desenvolvimento de competências necessárias às organizações e de novos conhecimentos para o incremento da capacidade competitiva (GONÇALO; ZANLUCHI, 2011), principalmente pelo fato de as universidades serem tidas como um importante componente da moderna máquina capitalista, criando e reproduzindo o conhecimento por meio do ensino e ampliando-o a partir da pesquisa (NELSON, 2006), fato que se inicia na graduação através da preparação dos futuros gestores das organizações (SEGATTO-MENDES, 2001). Além desse indicador, os tomadores de decisão das organizações já estão começando a perceber as alterações no processo de inovação, que não mais acontece apenas internamente, mas também é influenciado e impulsionado por atores externos para dividir custos, riscos, pesquisas e testes, levando a possíveis retornos (BIGNETTI, 2002).

Portanto, segundo Marcovitch (1999, p. 15):

Há dois mitos a destruir. O primeiro, cultivado pelos empresários, de que o pesquisador acadêmico é um ser etéreo, descolado da realidade. O segundo, corrente na área de pesquisa, de que o empresário despreza a ciência. Vencidos esses equívocos, a universidade e a empresa encontrarão finalmente um novo modelo de convívio.

Superados esses mitos, a interação universidade-empresa é abordada tanto nas instituições do Sistema Nacional de Inovação como também dentro do Modelo da Hélice Tríplice. Contudo, nos dois contextos, essa relação é vista como de grande importância, principalmente, dentro do campo competitivo que as organizações estão vivenciando, vendo nas universidades grandes possibilidades na área de P&D (LEYDESDORFF; ETZKOWITZ, 2001; DAGNINO, 2003). As contribuições das universidades para o processo de inovação abrangem desde o conhecimento mais geral necessário para as atividades de pesquisa básica até o mais específico relacionado à determinada área da organização (NELSON, 1990).

No caso das indústrias de software, as universidades ganham maior destaque, pois essas organizações não são capazes de se capacitar sozinhas, sendo determinante a interação com as instituições de ensino e pesquisa (PUFFAL et al., 2012). Dessa forma, um dos papéis importantes das universidades é a ampliação do campo de abrangência do conhecimento, saindo do acadêmico e sendo aplicado no setor produtivo (PUFFAL et al., 2012). Contudo, observa-se como

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relevante evidenciar que as características da interação universidade-empresa são específicas a cada país e dependentes da infraestrutura de ciência e tecnologia do mesmo e ainda que sigam algumas fases iniciadas no diálogo, intensificadas com a convivência, até atingir a identificação cultural e a confiança (PUFFAL et al., 2012; MOTA, 1999).

Do ponto de vista das organizações, após levantamentos e análises no contexto brasileiro, chegou-se ao fato de que as mesmas percebem tal relação com a universidade como fomentadora da qualificação dos recursos humanos e, consequentemente o retorno intelectual, além de valorizarem os benefícios que os projetos, propriamente ditos, geram, como a redução de custos, o desenvolvimento de novos processos em seu ambiente interno e a captação de incentivos públicos. Como aspectos negativos ou obstáculos para a concretização dessa cooperação, encontram-se, na literatura, inúmeros fatores, principalmente devido às diferenças de valores, objetivos e cultura, bem como da estrutura e das finalidades que cada organização possui. (MOTA, 1999; GONÇALO; ZANLUCHI, 2011). Entretanto, “enfatiza-se que há transferência de conhecimento e tecnologia tanto no sentido de entrada quanto de saída das universidades” (BENEDETTI; TORKOMIAN, 2010), “pois é por meio dessa transferência que ambas as partes poderão alcançar melhores resultados no processo de pesquisa” (SEGATTO-MENDES, 2001, p. 69).

É por esses motivos que “a transferência do conhecimento deve ser estruturada e encorajada desde o início do programa de pesquisa para que uma comunicação frequente e aberta seja firmada entre os dois grupos” (SEGATTO-MENDES, 2001, p. 69). Portanto, essa transmissão é entendida como uma ferramenta para o progresso do desenvolvimento científico e tecnológico de organizações, regiões, país e, ainda, da ampliação da performance econômica (COSTA; RUFFONI; PUFFAL, 2011), sendo o seu sucesso algo fundamental para o crescimento apropriado da base de conhecimento de ambos os participantes (SEGATTO-MENDES, 2001). Assim, formam-se circuitos retroalimentadores de informações e conhecimento potencializadores de inovação (CARIO et al., 2011).

2.3.1 Modelo teórico da relação universidade-empresa

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universidade-empresa, é preciso verificar como esse processo efetivamente ocorre. É por esse motivo que o próximo tópico aborda o modelo teórico dessa relação.

A partir de todos esses conceitos, pode-se chegar ao que Bonaccorsi e Piccaluga (1994) propuseram: um modelo teórico, no qual as motivações que levam as organizações a estabelecer relações com as universidades, possui impacto direto em suas expectativas de geração, transmissão e propagação de conhecimento. O desempenho real dessa relação depende da junção das características do processo de transferência do conhecimento e das questões estruturais e processuais da própria relação. Logo, o resultado será mensurado a partir da comparação entre o desempenho esperado e o desempenho real nos termos de geração, transmissão e propagação de conhecimento, podendo ainda ser apontados novos objetivos no decorrer desse processo (BONACCORSI; PICCALUGA, 1994).

Segatto-Mendes (2001) descreve esse modelo teórico como estruturado em blocos, estando, cada um desses, relacionado a um dos fatores relevantes para o processo de relação universidade-empresa, bem como a caracterização respectiva dos mesmos. Desse modo, pode-se afirmar que o modelo demonstra, de forma esquemática, o processo até alcançar o resultado da relação interorganizacional entre a universidade e as organizações.

Quando analisado o modelo de Bonaccorsi e Piccaluga (1994) em seu documento original, observa-se certa complexidade envolvida. Porém, Segatto (1996), em sua dissertação, resumiu o modelo em um pequeno esquema, conforme a Figura 02, partindo dos motivadores, passando pelo processo de cooperação, entrando, nesse momento, as barreiras ou os facilitadores para que o mesmo ocorra e, por fim, os resultados. Com esse modelo reduzido, pode-se ter a noção do todo desse processo.

Figura 02 – Modelo Teórico de Cooperação Universidade-Empresa

Fonte: Segatto (1996).

Motivações Processo de

Cooperação Resultados

Barreiras e/ou Facilitadores

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Além de ser um modelo resumido, permite verificar que há motivações tanto provenientes das organizações como das próprias universidades, ou seja, tanto um lado quanto o outro precisam estar motivados para a cooperação acontecer. Bonaccorsi e Piccaluga (1994) enfatizam as motivações das organizações: acesso antecipado às descobertas científicas, delegação das atividades de desenvolvimento e, por consequência, redução de cursos dessas atividades, além de falta de recursos. Já as motivações das universidades são citadas por Geisler (2001), estando principalmente, relacionadas à exposição dos alunos às questões práticas, acesso à tecnologia e ajuda financeira para a realização das pesquisas.

Em seguida, parte-se para o processo em si de cooperação. Esse processo, segundo Bonaccorsi e Piccaluga (1994), envolve a transferência do conhecimento da universidade para a organização, e dessa, de maneira prática, para a universidade, contudo, levando em consideração a estrutura e os procedimentos para a concretização dessa transferência. A estrutura voltada para a formalização e para a extensão desse acordo e cooperação, bem como o procedimento, destaca a importância da relação, a intensidade de troca de informações, as recompensas que são esperadas e a caracterização da forma para resolução de conflitos (BONACCORSI; PICCALUGA, 1994). Dentro desse processo já são identificadas barreiras ou facilitadores, de forma sutil, principalmente, relacionados à formalização do acordo e especificação das responsabilidades de cada parte. Se isso não estiver definido de maneira clara e de comum acordo acaba agindo como barreira.

Contudo, é importante esclarecer que as barreiras e facilitadores podem vir tanto das universidades como das próprias organizações. A burocracia das universidades, os baixos níveis de interdisciplinaridade acadêmica, a inabilidade das organizações em administrar acordos de pesquisas e as dificuldades de definição de patentes são exemplos evidentes, exigindo, das partes envolvidas, diálogo, convivência até atingir a identificação necessária para a formalização da interação (BONACCORSI; PICCALUGA, 1994; MOTA, 1999; GONÇALO; ZANLUCHI, 2011).

Após todos os envolvidos motivados, o processo concretizado, sendo as barreiras superadas e os facilitadores aproveitados, alcançam-se os resultados, os quais serão mensurados pela comparação das expectativas de geração,

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transmissão e propagação de conhecimento e do desempenho efetivado de geração, transmissão e propagação de conhecimento (BONACCORSI; PICCALUGA, 1994). Percebe-se subjetividade nessa descrição dos resultados, por isso Bonaccorsi e Piccaluga (1994) citam exemplos práticos como novos produtos, solução de problemas da organização, invenções e inovações. Porém, é importante perceber que os resultados obtidos “podem ser distintos para cada um dos elementos da relação. De forma geral, organizações estão preocupadas com resultados de curto prazo enquanto que universidades tendem a tomar ações cujo resultado seja mais perceptível no longo prazo” (PUFFAL, 2011).

2.3.2 Taxonomia da relação universidade-empresa

Além do modelo teórico apresentado, Bonaccorsi e Piccaluga (1994) construíram uma taxonomia composta por seis tipos de relação universidade– empresa, identificando, como principal variável, os recursos organizacionais envolvidos, tal como pessoal, equipamentos e recursos financeiros de ambas as partes, levando, ainda, em consideração o prazo de duração e a formalização do acordo (BONACCORSI; PICCALUGA, 1994). São elas:

a) relações pessoais informais; b) relações pessoais formais;

c) relações com envolvimento de uma terceira instituição; d) acordos formais com definição de objetivos;

e) acordos formais sem definição de objetivos;

f) criação de estruturas focadas, específicas e permanentes para a interação.

De forma geral, a literatura relativa ao tema tem considerado que a relação entre universidade e organização é benéfica por si só, entretanto, Dutrénit (2010) e Arza (2010) apontam que há alguns tipos de interação mais efetivos que outros para atingir determinados tipos de benefícios para cada agente. Logo, esses seis tipos de relação universidade-empresa são os mais importantes para os grupos de pesquisa pelo fato de suas características ser mais pessoais do que os outros presentes na literatura, os quais utilizam a estrutura formal da universidade (PUFFAL; RUFFONI; SCHAEFFER, 2012).

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Observa-se, então, que essas relações variam conforme o nível de recursos comprometidos (pessoal, equipamentos e investimentos) (SANTORO, 2000), englobando “componentes como suporte à pesquisa, pesquisa cooperativa, transferência de conhecimento e transferência de tecnologia” (PUFFAL, 2011, p. 41).

Analisando cada um dos casos, Bonaccorsi e Piccaluga (1994) realizam uma breve descrição e, em seguida, citam exemplos práticos. Avançando nesse sentido, Puffal (2011) deu sua contribuição que ajudou a esclarecer, por meio de outros exemplos mais próximos do cotidiano do Brasil e das relações vivenciadas nas universidades e organizações deste país, o que as primeiras autoras definiram. Nesse mesmo sentido, ou seja, ilustrar a taxonomia existente juntamente com as contribuições de Puffal (2011) elaborou-se o Quadro 01.

Quadro 01 – Taxonomia da relação universidade-empresa

(continua)

Forma Descrição Exemplos

a) Relações Pessoais Informais

Ocorrem quando há troca de informações entre a empresa e um indivíduo da universidade, sem que qualquer acordo formal que

envolva a universidade seja elaborado.

Consultorias individuais (paga ou gratuita);

Publicação de resultados de pesquisas;

Trocas informais em fóruns e workshops.

b) Relações Pessoais Formais

Características semelhantes às relações informais, porém, com acordos ou convênios formais entre universidade e empresa.

Bolsas de estudo e apoio à pós-graduação;

Intercâmbio de pessoal entre empresa e universidade; Estágio de alunos;

Especialização de trabalhadores das empresas nas universidades.

c) Relações desenvolvidas por Instituições de ligação ou intermediação

Uma terceira instituição estabelece as relações entre universidade e empresa, podendo ser interna à universidade, completamente externa ou em posição de intermediação.

Associações industriais;

Institutos de pesquisa aplicada; Unidades assistenciais gerais; Fundações universitárias.

d) Acordos Formais com Objetivos Definidos

São relações em que ocorre a formalização do acordo e a

definição dos objetivos específicos desse acordo.

Pesquisas contratadas;

Desenvolvimento de protótipos e testes;

Treinamento de trabalhadores; Projetos de pesquisa cooperativa.

e) Acordos Formais sem Objetivos Definidos

Acordos formalizados, como no item d, mas possuem objetivos estratégicos mais amplos e de longo prazo. (contrato guarda-chuva).

Empresas patrocinadoras de P&D nos departamentos universitários; Doações e auxílios para pesquisa de forma genérica ou para

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