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A manutenção da impenhorabilidade da conta poupança após o falecimento do titular da conta

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ISAAC BARUFARDI NEDEFF

A MANUTENÇÃO DA IMPENHORABILIDADE DA CONTA POUPANÇA APÓS O FALECIMENTO DO TITULAR DA CONTA

Florianópolis 2019

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ISAAC BARUFARDI NEDEFF

A MANUTENÇÃO DA IMPENHORABILIDADE DA CONTA POUPANÇA APÓS O FALECIMENTO DO TITULAR DA CONTA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Henrique Barros Souto Maior Baião, Esp.

Florianópolis 2019

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, à minha família, em especial aos meus pais, por toda a dedicação, apoio e amor incondicional.

Ao meu orientador, Prof. Henrique Barros Souto Maior Baião, por toda a disposição, dedicação e assistência.

Aos meus amigos, pelo apoio ao longo deste percurso.

A todos os professores que contribuíram em minha formação acadêmica, com aprendizado e expansão dos meus horizontes.

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“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana” (Carl Gustav Jung).

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RESUMO

Este trabalho procura analisar a divergência jurisprudencial acerca da manutenção da impenhorabilidade da quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de quarenta salários mínimos (art. 833, X, do Código de Processo Civil), após o falecimento do executado, titular da conta. O método de abordagem utilizado é o de pensamento dedutivo. O método de procedimento, por sua vez, é monográfico, mediante técnica de pesquisa bibliográfica, com base em legislações, doutrinas e julgados. Os argumentos a favor da relativização são a adoção, pelo ordenamento jurídico brasileiro, do princípio da saisine (art. 1.784 do Código Civil), segundo o qual o patrimônio deixado pelo falecido transfere-se imediatamente aos herdeiros com a abertura da sucessão; e a finalidade da norma, em virtude de que, após falecimento do executado, a intenção de proteger uma reserva econômica mínima para o sustento do executado e de sua família, não mais subsistiria. Ao final, após a análise da divergência jurisprudencial e com fulcro no art. 1.784 do Código Civil, conclui-se pela possibilidade de relativização da impenhorabilidade nesses casos, uma vez que, após o falecimento do executado, titular da conta, a quantia depositada em conta poupança passaria a integrar o acervo hereditário.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

2 PROCESSO DE EXECUÇÃO ... 14

2.1 PRESSUPOSTOS DA EXECUÇÃO EM GERAL ... 14

2.2 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À EXECUÇÃO ... 18

2.3 ASPECTOS PROCEDIMENTAIS ... 23

2.3.1 Título executivo judicial ... 23

2.3.2 Título executivo extrajudicial ... 27

3 DIREITO SUCESSÓRIO ... 31

3.1 CONCEITOS, TERMINOLOGIAS E O PRINCÍPIO DA SAISINE ... 31

3.2 DA SUCESSÃO ... 35 3.2.1 Sucessão em geral ... 36 3.2.2 Sucessão legítima ... 38 3.2.3 Sucessão testamentária ... 40 3.3 INVENTÁRIO E PARTILHA ... 41 3.4 DA SUCESSÃO PROCESSUAL ... 43 4 IMPENHORABILIDADE DE BENS ... 46 4.1 PENHORA ... 46 4.2 FORMAS DE EXPROPRIAÇÃO ... 50

4.3 IMPENHORABILIDADE DA CONTA POUPANÇA ... 54

4.3.1 Hipóteses jurisprudenciais de relativização da impenhorabilidade da conta poupança após a morte do executado ... 55

5 CONCLUSÃO ... 62

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1 INTRODUÇÃO

O instituto da impenhorabilidade, previsto no Código de Processo Civil, visa assegurar o direito fundamental à dignidade da pessoa humana, de forma a resguardar ao executado um conjunto patrimonial mínimo imprescindível à manutenção de sua subsistência, à continuidade de atividade empresarial ou profissional, bem como à proteção de sua família. É com esse intuito que o art. 833, X, do Código de Processo Civil, estabelece a impenhorabilidade da quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de quarenta salários mínimos.

Não há uma pacificação quanto ao entendimento de que a impenhorabilidade da conta poupança (até quarenta salários mínimos) se mantém após o falecimento do executado, titular da conta. Na verdade, verifica-se uma divergência jurisprudencial em relação ao assunto, e, por isso, a justificativa e motivação para o presente trabalho. O primeiro contato do pesquisador com o tema ocorreu em seu local de estágio, no Tribunal de Justiça de Santa Catarina.

Sendo assim, o presente trabalho pretende analisar a possibilidade, ou não, de penhora da conta poupança após o falecimento do executado, titular da conta, a fim de contribuir na tomada de decisões e na prestação da atividade jurídica. A linha de pesquisa utilizada é referente à justiça e sociedade.

A controvérsia acerca do tema se dá pelo fato de que, após o falecimento do titular da conta, não haveria mais o que se falar na impenhorabilidade do art. 833, X, do Código de Processo Civil. Isso porque, o montante depositado em conta poupança passaria a integrar o acervo hereditário, transferindo-se aos herdeiros. Argumenta-se, ainda, que a finalidade do dispositivo em garantir uma reserva econômica mínima ao executado para situações imprevisíveis, não mais subsistiria com a morte do executado.

Desta maneira, a impenhorabilidade prevista no art. 833, X, do Código de Processo Civil, se mantém após o falecimento do executado, titular da conta poupança? O objetivo do presente trabalho é esclarecer a persistência deste instituto, a partir da transmissão do acervo hereditário no ordenamento jurídico atual e da análise de julgados sobre o assunto.

Como objetivos secundários e de apoio, propõe-se a apresentar as principais etapas do processo civil, sobretudo em relação aos procedimentos da fase de execução, princípios aplicáveis e formação dos títulos executivos; conceituar

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herança e suas hipóteses de transmissão, bem como a aplicação do princípio da

saisine; e identificar os casos de relativização da impenhorabilidade da conta

poupança após o falecimento do executado, titular da conta.

No presente trabalho, utiliza-se o método de abordagem de pensamento dedutivo, pois parte do estudo do instituto da impenhorabilidade para, ao final, verificar a possibilidade de penhora da conta poupança após o falecimento do titular da conta. Além disso, o método de abordagem é de natureza qualitativa.

Quanto ao método de procedimento, este é monográfico, mediante técnica de pesquisa bibliográfica, com base em legislações, doutrinas e julgados. A principal vantagem dessa pesquisa é que ela nos permite uma compreensão muito mais ampla dos fenômenos, em oposição às pesquisas diretas, as quais possibilitam uma rápida e simples obtenção das informações, de caráter meramente informativo, sem remeter a outras fontes.

A estruturação do trabalho é feita em cinco capítulos. O primeiro capítulo é esta introdução, que busca situar o leitor no problema de pesquisa.

No segundo capítulo, são apresentados os principais pressupostos de uma execução, os princípios específicos desta e a formação dos títulos executivos judiciais e extrajudiciais, bem como o procedimento de cada um deles. O objetivo principal do segundo capítulo é expor o momento processual em que ocorre a prática dos atos executivos, que visam a satisfação da obrigação inadimplida.

A transmissão da herança e a aplicação do princípio da saisine, matérias do direito sucessório, são abordadas no terceiro capítulo. Segundo este princípio, a transmissão patrimonial aos herdeiros ocorre imediatamente com a abertura da sucessão, o que pode ter influência sobre a relativização da impenhorabilidade. Além disso, os procedimentos de inventário e partilha, tal como de sucessão processual, também são tratados neste capítulo.

No quarto capítulo, são abordadas, ainda, a penhora e as formas de expropriação de bens. O estudo desses assuntos objetiva expor a motivação da impenhorabilidade da conta poupança, até o limite de quarenta salários mínimos. Ao final do capítulo, é feita a análise jurisprudencial acerca da possibilidade de relativização da impenhorabilidade da conta poupança em razão do falecimento do executado.

Por último, o quinto capítulo busca concluir a pesquisa, com a apresentação das respostas obtidas ao problema de pesquisa que motivou o trabalho.

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2 PROCESSO DE EXECUÇÃO

O papel da execução civil é transformar um direito reconhecido, ou melhor, declarado, em fato. Pode-se dizer que seu objetivo maior é entregar o bem da vida desejado por uma das partes em um processo. Para alcançar isso, a execução dispõe de diversos mecanismos judiciais que possibilitam a satisfação dos direitos.

Nesse capítulo, são apresentados os principais pressupostos de uma execução, bem como os seus princípios específicos, indispensáveis para um melhor entendimento do tema e para a obtenção do objetivo desta monografia.

2.1 PRESSUPOSTOS DA EXECUÇÃO EM GERAL

Com a evolução da soberania dos Estados, a autotutela dos particulares passou a ser vedada e a atividade jurisdicional, ou seja, a atribuição para solucionar os conflitos da sociedade, passou a ser de competência exclusiva do Estado-juiz, mais propriamente do poder judiciário (ASSIS, 2017).

Na busca pela consumação do direito, em determinados casos, se torna indispensável a provocação do poder judiciário para a prática de atos necessários à efetivação do crédito. Esta instigação ao Estado-juiz se dá por meio do que chamamos de ação (BUENO, 2010).

Santos (2017, p. 129) ressalta que a atividade do Estado, no exercício da jurisdição é substitutiva, ou seja, atua em lugar das partes, de maneira imparcial. Nas palavras do autor:

A atuação do juiz substitui os particulares no cumprimento daquilo que já está reconhecido, fazendo, forçadamente, realizar o pagamento ao credor pelo devedor. Diz-se que o juiz substitui o devedor no pagamento e o credor no recebimento [...] através de normas processuais preestabelecidas, para que a justiça seja alcançada em sua plenitude.

Contudo, antes da provocação do judiciário para prática de atos executivos, se faz necessária a verificação da existência deste direito pelo processo de conhecimento, fase anterior à execução, ressalvados os casos de títulos executivos extrajudiciais como é tratado adiante.

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Por este motivo, antes de adentrar ao estudo do processo de execução, deve-se fazer uma breve distinção entre as fases de conhecimento e execução nos processos judiciais.

Não há, no início do processo de conhecimento, uma certeza sobre a titularidade do direito. O reconhecimento ou não deste direito só será alcançado no momento em que o juízo prolatar uma sentença transitada em julgado, decisão esta que põe fim e faz coisa julgada do processo de conhecimento (PINHO, 2018).

Ainda, nesta primeira fase, o autor provoca o exercício da jurisdição e retrata, em juízo, a sua pretensão resistida, bem como requer a prestação da tutela jurisdicional. É com a pretensão resistida (infrutífera) que nasce uma nova potencialidade ao direito, de maneira que este, passa a ser dotado de ação (PINHO, 2018).

Pode-se definir tutela jurisdicional como a ação praticada pelo juiz para satisfazer um direito, um interesse de quem o provocou, que pode, inclusive, utilizar da força para alcançar o seu objetivo. É a atividade destinada à identificação e imposição do direito (MEDINA, 2017).

Nesse sentido, evidencia-se que o processo de conhecimento se presta tão somente ao reconhecimento da existência do direito. Por sua vez, durante a fase executória, o juiz irá agir para prestar a efetiva tutela jurisdicional.

A prática dos atos executivos é pertinente à fase executória, não há neste momento, em tese, discussão de mérito. Isso porque, pressupõe-se, necessariamente, a existência de um título executivo, seja ele judicial ou extrajudicial (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017).

A prestação da tutela jurisdicional executiva, em ambos os casos, exige o preenchimento das condições da ação, requisitos para o prosseguimento de qualquer provimento judicial, quais sejam, a legitimidade das partes e interesse processual (também conhecido como interesse de agir). O primeiro caracterizado pela existência de conflito entre as partes, bem como de uma situação prevista em lei que permite a propositura de uma demanda judicial contra alguém. Já o interesse processual, demonstrado pelo binômio da necessidade da busca da via judicial para a solução da controvérsia e da adequação entre o pedido e a proteção jurisdicional que se pretende obter (BUENO, 2010).

Além das condições da ação e verificados os pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo, existem outros dois pressupostos

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específicos de admissibilidade do procedimento executivo, sem os quais da mesma maneira não pode ser admitido: a) a exibição do título executivo; b) o inadimplemento (ASSIS, 2017).

Theodoro Júnior (2017) afirma que a inadimplência se identifica quando o devedor deixa de cumprir a obrigação no termo prefixado ou revelado no título. A partir desse momento, com o preenchimento dos demais pressupostos, é permitida a execução. O próprio Código de Processo Civil denota a necessidade do inadimplemento, conforme preceito inserido no art. 786: “A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível consubstanciada em título executivo.” (BRASIL, 2015).

Dito isso, fica claro que para proceder à execução forçada, é imprescindível a existência de um título executivo, constituído em decisão judicial, seja uma sentença ou qualquer outro ato decisório, a teor do art. 515 do Código de Processo Civil (ASSIS, 2017).

Contudo, a lei também admite que esta fase de conhecimento ocorra na via extraprocessual, extrajudicial. Nesse caso, os chamados títulos executivos extrajudiciais, que em linhas gerais “dispensam a fase processual de cognição”, possuem natureza taxativa, de sorte que apenas o legislador pode criar títulos executivos ou preceituar quais documentos serão considerados como tais. Os títulos executivos extrajudiciais estão previstos no rol do art. 784 do Código de Processo Civil e na legislação extravagante (BRASIL, 2015).

Outrossim, aplica-se o princípio da tipicidade, de maneira que, além de previsão legal dos títulos executivos, é necessária a fixação pelo legislador de moldes e padrões indispensáveis à sua criação (GONÇALVES, M., 2017).

Portanto, para que o Estado-juiz proceda aos atos executivos, utilizando as ferramentas previstas em lei para a satisfação da obrigação, é necessário que esta esteja dotada de um grau suficiente de certeza. Até porque, isso permitirá que o Estado se utilize da força para chegar ao patrimônio do devedor e atingir o seu resultado (GONÇALVES, C., 2017b).

Cumpre salientar que, conforme mencionado anteriormente, em se tratando de título executivo extrajudicial, é dispensável, porém não vedado, o ajuizamento de ação no processo de conhecimento, nos termos do art. 785 do Código de Processo Civil. Não sendo o caso, tratando-se de um inadimplemento

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consubstanciado em título executivo extrajudicial, o credor procederá com a ação autônoma de execução (BRASIL, 2015).

No que diz respeito ao título executivo judicial, após a sentença condenatória, que condena o devedor ao cumprimento de uma obrigação (fazer, não fazer, entregar coisa e pagar quantia certa), o credor mediante simples requerimento, solicita o cumprimento de sentença. Portanto, o cumprimento de sentença não se trata de procedimento autônomo (SANTOS, 2017).

Ainda sobre as sentenças condenatórias, Marcus Gonçalves (2017) conceitua obrigação como o vínculo jurídico que confere ao credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de determinada prestação. O autor expõe que tal relação, de natureza pessoal e transitória, extingue-se, sobretudo, pelo pagamento.

A teor do art. 788 do Código de Processo Civil, não é necessário o inadimplemento absoluto, basta a mora do devedor, para que o credor tenha interesse na execução. Para Abelha (2015), a diferença entre essas duas modalidades de descumprimento obrigacional está no fato de que na inadimplência, a prestação não tem mais utilidade para o credor, o que acarreta uma situação de inutilidade, ao passo que a mora corresponde à um atraso no cumprimento da prestação, mas que ainda pode ser realizada.

No que tange o título executivo, este é necessário e suficiente para desencadear os atos executivos. Os títulos possuem a característica de abstratividade, isto é, desvinculado do negócio/contrato que lhe deu origem, uma espécie de presunção que independe da efetiva demonstração do débito (ASSIS, 2017).

À vista disso, a mera apresentação do título faz com que o magistrado desencadeie atos executivos contra o devedor, inclusive de imediato, ao citar o executado para efetuar o pagamento. A eficácia do título executivo pode ser verificada no § 1º do art. 784 do Código de Processo Civil, que permite ao credor promover a execução mesmo que o débito esteja sendo questionado em juízo (BRASIL, 2015).

Todavia, a abstração dos títulos não afasta a discussão de inexistência do crédito através da impugnação ao cumprimento de sentença ou embargos à execução, nos termos dos arts. 525 e 914 do Código de Processo Civil, respectivamente (BRASIL, 2015).

Um documento só será considerado um título executivo se dele pudermos extrair que a sua obrigação é certa, líquida e exigível. Aliás, de acordo com o art. 803

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do Código de Processo Civil1, o não preenchimento de tais requisitos acarreta a nulidade da execução (BRASIL, 2015).

Segundo Donizetti (2017), obrigação certa é aquela em que não pairam dúvidas quanto a sua existência. É possível extrair todos os elementos, como a natureza da obrigação, seu objeto e seus sujeitos.

A liquidez, por seu turno, refere-se à delimitação do objeto, de modo que é possível extrair o montante da obrigação, independentemente de outras provas. O objeto é delimitado ou poderá assim ser mediante simples cálculos aritméticos, conforme retrata o parágrafo único do art. 786 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

Quanto ao requisito da exigibilidade, como o próprio nome já refere, é a obrigação passível de ser exigida, porquanto vencida, não mais sujeita a termo ou condição. O Código de Processo Civil em seu art. 798, I, “c” enfatiza a necessidade de instruir a execução com prova do vencimento da obrigação (BRASIL, 2015).

Ante o exposto, verificou-se a importância da tutela jurisdicional executiva na efetivação ao direito, previamente estabelecido pelas partes ou que foi definido por decisão judicial. Sendo assim, é fundamental analisar os princípios norteadores do processo de execução, os quais serão exibidos a seguir.

2.2 PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À EXECUÇÃO

É notório que os princípios aplicáveis ao processo de conhecimento também são aplicáveis ao processo de execução. Por consequência, é dado enfoque aos princípios norteadores desta segunda fase processual.

Em primeiro lugar, deve-se destacar o princípio da inércia da jurisdição, o qual determina que o poder judiciário deve ser provocado para que proceda à prática de atos executivos, até porque constitui exigência para todos os processos judiciais (art. 2º do Código de Processo Civil) (BRASIL, 2015).

1Lei n. 13.105/2015 – Código de Processo Civil

Art. 803. É nula a execução se:

I - o título executivo extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível; II - o executado não for regularmente citado;

III - for instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrer o termo.

Parágrafo único. A nulidade de que cuida este artigo será pronunciada pelo juiz, de ofício ou a requerimento da parte, independentemente de embargos à execução (BRASIL, 2015).

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Tanto é assim que, como é visto na seção anterior, a transição do procedimento do processo onde se proferiu a decisão com força executiva (conhecimento) para a fase executiva, só é possível com o requerimento do credor. Convém lembrar que este pedido não chega a ser nova ação, senão condição de prosseguimento do processo (SANTOS, 2017). De outra parte, a aplicação deste princípio na execução extrajudicial fica ainda mais clara, por se tratar de ação autônoma.

Nesse contexto, surge o princípio da autonomia que estabelece que a execução, no seu sentido amplo, possui regras e finalidades próprias, apartadas das outras fases processuais. Nas palavras de Assis (2017, p. 147): “Corolário da especificidade da própria função executiva, crucial se ostenta a autonomia da execução, agora compreendida no sentido funcional. Ela constitui ente à parte das funções de cognição e cautelar”.

O princípio do título executivo, por sua vez, é um dos preceitos mais importantes na execução, visto que a atividade executiva está vinculada à apresentação de um título, originado de uma decisão judicial ou de um documento representativo de negócio jurídico assim reconhecido por lei (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017). Os autores também destacam a expressão nulla

executio sine titulo (nula a execução sem título que a fundamente) materializada nos

arts. 783, 786 e 803, I, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

No que tange ao princípio da disponibilidade do processo pelo credor, este reflete a plena pretensão executiva que detém o credor. Desta forma, nos termos do art. 775, caput, do Código de Processo Civil2, o exequente tem o direito de desistir da execução no todo ou em parte, “tornando, destarte, ineficazes objeções do devedor à desistência formulada pelo exequente da execução, definitiva ou provisória, e de qualquer ato executivo particular” (ASSIS, 2017, p. 154).

Infere-se da assertiva acima que a desistência do exequente independe da concordância do executado, como é exigido no processo de conhecimento após a citação da parte ré.

2Lei n. 13.105/2015 – Código de Processo Civil

Art. 775. O exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva (BRASIL, 2015).

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Nessa mesma linha de pensamento, Neves (2017, p. 1065) complementa que não se deve confundir desistência com renúncia, ao passo que o exequente, em momento posterior da desistência, poderá ingressar “com ação idêntica, desde que comprove o pagamento das custas processuais da primeira ação (art. 486, § 2º, do Código de Processo Civil)”.

Em que pese a disponibilidade da execução pelo credor, o princípio da utilidade veda a atividade executória que apenas prejudique o executado sem trazer benefícios econômicos ao exequente. É o que dispõe o art. 836 do Código de Processo Civil: “Não se levará a efeito a penhora quando ficar evidente que o produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas da execução” (BRASIL, 2015).

Outro princípio que protege a parte executada é o da menor onerosidade, previsto no art. 805 do Código de Processo Civil, o qual preceitua que os meios utilizados para alcançar o resultado, no caso a satisfação do crédito, devem ser os menos gravosos para o executado (DIDIER JÚNIOR et al., 2017).

Nesse rumo, o princípio do exato adimplemento, também conhecido como princípio do resultado e da satisfatividade, impõe que a execução não pode se estender para além do necessário para que seja cumprida a obrigação, deve ser no exato limite do título executivo. Nas palavras de Didier Júnior et al. (2017, p. 71) “a execução deve ser específica: propiciar ao credor a satisfação da obrigação tal qual houvesse o cumprimento espontâneo da prestação pelo devedor”. A aplicação do princípio resultado é facilmente verificada, sobretudo, nos arts. 899 e 907, ambos do Código de Processo Civil3 (BRASIL, 2015).

Por fim, tem-se o princípio da patrimonialidade, também chamado de responsabilidade patrimonial, muito importante no estudo da impenhorabilidade, tema deste trabalho.

Antes de tudo, deve-se tornar clara a diferença existente entre a obrigação e a responsabilidade. A obrigação surge quando a dívida é contraída, enquanto que a responsabilidade nasce com o inadimplemento da prestação, ou seja, caso se tenha

3Lei n. 13.105/2015 – Código de Processo Civil

Art. 899. Será suspensa a arrematação logo que o produto da alienação dos bens for suficiente para o pagamento do credor e para a satisfação das despesas da execução.

Art. 907. Pago ao exequente o principal, os juros, as custas e os honorários, a importância que sobrar será restituída ao executado (BRASIL, 2015).

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adimplemento da prestação, a responsabilização não irá se manifestar (GONÇALVES, M., 2017).

O instituto da responsabilidade patrimonial encontra-se materializado no art. 789 do Código de Processo Civil, o qual dispõe que: “O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei” (BRASIL, 2015).

Abelha (2015), previamente ao estudo da patrimonialidade, observa que, muito embora o dispositivo esteja previsto na Parte Especial, Livro II, Título I (Da Execução em Geral), o dispositivo é perfeitamente aplicável à todas as situações previstas no Código de Processo Civil em que se tenha tutela jurisdicional executiva, a exemplo do cumprimento de sentença (arts. 513 e seguintes). O autor também destaca que, conquanto conste unicamente o devedor no dispositivo, a regra também se aplica a qualquer terceiro responsável que figure no polo passivo de uma execução, como por exemplo um fiador.

Theodoro Júnior (2017) complementa que toda execução é sempre real, e nunca pessoal, sendo a única exceção à regra do devedor de alimentos que poderá ser preso, nos termos do art. 5º, LXVII, da Constituição Federal e art. 528, § 3º, do Código de Processo Civil4. Além disso, denota que na hipótese de o devedor não dispor de bens exequíveis, a execução será suspensa, conforme o art. 921, III, do Código de Processo Civil (BRASIL, 1988, 2015).

Na visão do autor, até mesmo nesta exceção, a prisão se trata de medida de coação para obter do devedor o cumprimento da obrigação, não havendo relação com a execução que recaia sobre a pessoa do devedor, como nos primórdios do Direito Romano (THEODORO JÚNIOR, 2017).

4Constituição (1988) – Constituição da República Federativa do Brasil

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia [...] (BRASIL, 1988).

Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo.

§ 3º Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o juiz, além de mandar protestar o pronunciamento judicial na forma do § 1º, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses (BRASIL, 2015).

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Assim, não sendo o caso de insolvência do devedor, Assis (2017) versa que a execução operará sobre o patrimônio deste, ressalvados os bens inalienáveis e impenhoráveis (art. 832 do Código de Processo Civil5) previstos no rol do art. 833 do Código de Processo Civil6. Da leitura dos dispositivos, infere-se que nem todos os bens do devedor respondem pelas suas dívidas.

Por outro lado, o doutrinador ressalta que os bens do devedor, ainda que na posse de terceiros, também estão sujeitos à execução, nos termos do art. 790, III, do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

Santos (2017, p. 187) faz importante observação quanto à responsabilidade patrimonial secundária, casos em que não apenas os bens do devedor respondem pelas dívidas. É a situação dos herdeiros e sucessores do devedor, os quais também poderão ser responsabilizados, “cujos bens responderão até o limite de suas quotas na herança e pelos que receberam, quando foram eles objeto de execução (art. 796)”7. Da mesma maneira, também pode ser responsabilizado o espólio, conjunto de bens, direitos e obrigações, deixados pelo falecido, que possui capacidade processual, como é visto adiante.

5Lei n. 13.105/2015 – Código de Processo Civil

Art. 832. Não estão sujeitos à execução os bens que a lei considera impenhoráveis ou inalienáveis (BRASIL, 2015).

6Lei n. 13.105/2015 – Código de Processo Civil

Art. 833. São impenhoráveis:

I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução;

II - os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida;

III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor; IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º;

V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do executado;

VI - o seguro de vida;

VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;

X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos; XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político, nos termos da lei;

XII - os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra (BRASIL, 2015).

7Lei n. 13.105/2015 – Código de Processo Civil

Art. 796. O espólio responde pelas dívidas do falecido, mas, feita a partilha, cada herdeiro responde por elas dentro das forças da herança e na proporção da parte que lhe coube (BRASIL, 2015).

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A responsabilidade patrimonial secundária pode ser melhor analisada no art. 790 do Código de Processo Civil8, no qual a responsabilidade é estendida à terceiros, de modo que a execução poderá atingir esses bens, que serão penhorados em benefício do credor.

Theodoro Júnior (2017) explica que, nesses casos, de responsabilidade sem dívida, o terceiro (responsável secundário) que é titular ou dono do bem exequível, deverá ser, necessariamente, intimado previamente aos atos de expropriação ou transferência do bem. Além disso, argumenta que o terceiro completamente estranho ao processo, na figura de adquirente do bem, poderá se opor à execução por meio dos embargos de terceiro, pleiteando a exclusão de seu imóvel. Concluído o estudo dos principais princípios aplicáveis ao processo de execução, com ênfase na responsabilidade patrimonial, passa-se agora ao exame dos procedimentos distintos entre o cumprimento de sentença e a execução.

2.3 ASPECTOS PROCEDIMENTAIS

Apesar de similares, uma vez que ambos fazem parte da tutela jurisdicional executiva, os procedimentos, sobretudo a fase inicial, do cumprimento de sentença e da execução são diferentes.

Nesse cenário, fundamental o entendimento processual dessas duas modalidades procedimentais de título executivo.

2.3.1 Título executivo judicial

A prolação de uma sentença condenatória não permite, por si só, a prática de atos executivos. Isso porque, a condenação não é coercível, ela não passa de uma

8Lei n. 13.105/2015 – Código de Processo Civil

Art. 790. São sujeitos à execução os bens:

I - do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória;

II - do sócio, nos termos da lei;

III - do devedor, ainda que em poder de terceiros;

IV - do cônjuge ou companheiro, nos casos em que seus bens próprios ou de sua meação respondem pela dívida;

V - alienados ou gravados com ônus real em fraude à execução;

VI - cuja alienação ou gravação com ônus real tenha sido anulada em razão do reconhecimento, em ação autônoma, de fraude contra credores;

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exortação para que o devedor cumpra a obrigação reconhecida na sentença. Dito isso, não seria lógico, no direito moderno, o juízo se limitar a condenar ao pagamento, até porque, a execução também é função do Estado, não mais dos particulares (vedação à autotutela). Porém, como é visto na primeira seção deste trabalho, para que o Estado pratique os atos executivos, o credor deverá requerer o cumprimento de sentença (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017).

O fato é que, se a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, ou seja, sem valor especificado, é necessário, em momento anterior ao cumprimento, a liquidação da sentença. Desta maneira, Didier Júnior et al. (2017, p. 218) ressaltam que a liquidação constitui fase ainda do processo de conhecimento e que objetiva a determinação do valor da condenação em decisão judicial que se mostra ilíquida. Nas palavras dos autores:

O objetivo da liquidação é integrar a decisão ilíquida, chegando a uma solução acerca dos elementos que faltam para a completa definição da norma jurídica individualizada, a fim de que essa decisão possa ser objeto de execução. Dessa forma, liquidação de sentença é a atividade judicial cognitiva pela qual se busca complementar a norma jurídica individualizada estabelecida num título judicial.

Além disso, a fase de liquidação será iniciada a requerimento da parte interessada (credor ou devedor). É o que preceitua o art. 509 do Código de Processo Civil: “Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor” (BRASIL, 2015).

O referido dispositivo traz, em seus incisos, duas formas de liquidação do título executivo judicial (quando necessárias), quais sejam: I - por arbitramento, “quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação”, como a apresentação de pareceres técnicos e a produção de prova pericial; II - pelo procedimento comum, “quando houver necessidade de alegar e provar fato novo.” (BRASIL, 2015).

Após a fase de liquidação (ou se esta for desnecessária) o credor poderá requerer o cumprimento de sentença definitivo ou provisório (art. 513, § 1º, do Código de Processo Civil). Este último, no caso de sentença não transitada em julgado (BRASIL, 2015).

A petição que requerer o cumprimento de sentença deverá ser, obrigatoriamente, instruída com demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, e

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demais documentos exigidos pelo art. 524 do Código de Processo Civil9. Necessário consignar que o credor, sempre que possível, já indicará bens passíveis de penhora (BRASIL, 2015).

Quanto à competência, o juízo competente para processar e julgar o cumprimento de sentença será definido consoante as regras estabelecidas no art. 516 do Código de Processo Civil10. Em sua maioria, os cumprimentos ocorrerão no “juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição”, como preceitua o inciso II do referido artigo (BRASIL, 2015).

No que tange à sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, com o requerimento do credor, o juízo determinará a intimação do devedor para, no prazo de 15 (quinze) dias, cumprir a sentença, sob pena de incidência de multa de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, de 10% (dez por cento) de honorários advocatícios e expedição de mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os atos de expropriação, tudo isso na forma do art. 523 do Código de Processo Civil (MEDINA, 2016).

O devedor, caso queira, no prazo de 15 (quinze) dias, contados após o encerramento do prazo para cumprimento voluntário da obrigação, poderá se opor à execução, por meio da impugnação ao cumprimento de sentença. Tal oposição, no entanto, não é ampla, sendo permitida apenas alegações das matérias previstas no rol do art. 525, § 1º, do Código de Processo Civil11. Além disso, a impugnação, via de

9Lei n. 13.105/2015 – Código de Processo Civil

Art. 524. O requerimento previsto no art. 523 será instruído com demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, devendo a petição conter:

I - o nome completo, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do exequente e do executado, observado o disposto no art. 319, §§ 1º a 3º; II - o índice de correção monetária adotado;

III - os juros aplicados e as respectivas taxas;

IV - o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados; V - a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;

VI - especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados;

VII - indicação dos bens passíveis de penhora, sempre que possível (BRASIL, 2015).

10Lei n. 13.105/2015 – Código de Processo Civil

Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante: I - os tribunais, nas causas de sua competência originária; II - o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição;

III - o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo.

Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequente poderá optar pelo juízo do atual domicílio do executado, pelo juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem (BRASIL, 2015).

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regra, não possui efeito suspensivo, ressalvados os casos em que o juízo entenda pela sua atribuição, “desde que garantido o juízo com penhora, caução ou depósito suficientes” e se houver fundamentação relevante, cumulada com risco de dano grave de difícil ou incerta reparação (art. 525, § 6º do Código de Processo Civil) (DONIZETTI, 2017).

Importante salientar que, se o executado alegar excesso de execução ou cumulação indevida de execuções, este deverá, de acordo com o art. 525, § 4º, do Código de Processo Civil: “[...] declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e atualizado de seu cálculo” (BRASIL, 2015).

Outrossim, a atribuição de efeito suspensivo, de acordo com o art. 525, §§ 7º e 8º, do Código de Processo Civil, não impedirá a efetivação dos atos de substituição, de reforço ou de redução da penhora e de avaliação dos bens”, assim como não obstará o prosseguimento da execução em relação ao montante não impugnado (BRASIL, 2015).

Nesse sentido, o cumprimento provisório da sentença “impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo será realizado da mesma forma que o cumprimento definitivo”. Contudo, haverá um risco ao exequente, pois o cumprimento provisório “corre por iniciativa e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido” (art. 520,

caput e I, do Código de Processo Civil) (BRASIL, 2015).

No que concerne ao cumprimento de sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de fazer, não fazer ou de entregar coisa, há uma diferença. Isso porque, “o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as

Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação,

apresente, nos próprios autos, sua impugnação. § 1º Na impugnação, o executado poderá alegar:

I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia; II - ilegitimidade de parte;

III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; IV - penhora incorreta ou avaliação errônea;

V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;

VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação,

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medidas necessárias à satisfação do exequente”. Para atingir seu objetivo, “o juiz poderá determinar, entre outras medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial” (art. 536, caput e § 1º, do Código de Processo Civil) (BRASIL, 2015).

Compreendido a forma procedimental dos títulos executivos judiciais, passa-se ao estudo do procedimento inicial da execução autônoma, fundada em título executivo extrajudicial.

2.3.2 Título executivo extrajudicial

Neste momento, é sabido que a execução extrajudicial se trata de processo autônomo, que se inicia por meio de uma petição inicial. Assim como é visto, na seção anterior, para o cumprimento de sentença, a lei também define os documentos necessários ao ajuizamento da ação de execução (art. 798 do Código de Processo Civil12), entre eles, o título executivo extrajudicial e o demonstrativo do débito atualizado (BRASIL, 2015).

Além disso, da leitura do artigo, verifica-se que o exequente já poderá, na propositura da demanda, assim como na petição do cumprimento de sentença, indicar bens do devedor suscetíveis de penhora. Não obstante, poderá, ainda, indicar a “espécie de execução de sua preferência, quando por mais de um modo puder ser realizada” (art. 798, II, do Código de Processo Civil) (BRASIL, 2015).

O art. 778 do Código de Processo Civil define o legitimado originário para propor a execução: “Pode promover a execução forçada o credor a quem a lei confere título executivo”. O § 1º do mesmo artigo apresenta os demais legitimados ativos “para promover a execução forçada ou nela prosseguir, em sucessão ao exequente originário” (credor), quais sejam: ministério público; espólio, herdeiros ou sucessores

12Lei n. 13.105/2015 – Código de Processo Civil

Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente: I - instruir a petição inicial com:

a) o título executivo extrajudicial;

b) o demonstrativo do débito atualizado até a data de propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia certa;

c) a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso;

d) a prova, se for o caso, de que adimpliu a contraprestação que lhe corresponde ou que lhe assegura o cumprimento, se o executado não for obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a contraprestação do exequente (BRASIL, 2015).

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do credor; sub-rogado; cessionário. Por sua vez, os legitimados passivos da execução se encontram no art. 779 do Código de Processo Civil: devedor; espólio, herdeiros ou sucessores do devedor; novo devedor; fiador; responsável tributário; responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito (THEODORO JÚNIOR, 2017).

Quanto ao juízo competente para a execução extrajudicial há de se observar o disposto no art. 781 do Código de Processo Civil13. Impende destacar a alusão do inciso I sobre a possibilidade de eleição de foro constante do título (BRASIL, 2015).

Cumpre ressaltar, novamente, que a execução deve fundar-se em “título de obrigação certa, líquida e exigível” (art. 783 do Código de Processo Civil), bem como a ocorrência do termo ou condição, se for o caso, e que a execução será declarada nula se o título assim não corresponder (art. 803, I e III, do Código de Processo Civil) (BRASIL, 2015).

Relativamente à execução por quantia certa, espécie central deste trabalho, esta se realiza mediante a expropriação de bens do executado que consiste em: adjudicação; alienação; apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens. Tais espécies de expropriação também são aplicáveis ao cumprimento de sentença, porquanto as regras tratadas no processo de execução também se aplicam a outros atos executivos, como dispõe o art. 771 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

Após despachar a inicial, o juízo determinará a citação do executado para que cumpra a obrigação no prazo de 3 (três) dias, na forma do art. 829 do Código de Processo Civil. De plano, já são fixados honorários advocatícios de 10% (dez por cento) a serem pagos pelo executado que poderão ser reduzidos pela metade caso o

13Lei n. 13.105/2015 – Código de Processo Civil

Art. 781. A execução fundada em título extrajudicial será processada perante o juízo competente, observando-se o seguinte:

I - a execução poderá ser proposta no foro de domicílio do executado, de eleição constante do título ou, ainda, de situação dos bens a ela sujeitos;

II - tendo mais de um domicílio, o executado poderá ser demandado no foro de qualquer deles; III - sendo incerto ou desconhecido o domicílio do executado, a execução poderá ser proposta no lugar onde for encontrado ou no foro de domicílio do exequente;

IV - havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, a execução será proposta no foro de qualquer deles, à escolha do exequente;

V - a execução poderá ser proposta no foro do lugar em que se praticou o ato ou em que ocorreu o fato que deu origem ao título, mesmo que nele não mais resida o executado (BRASIL, 2015).

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cumprimento da obrigação ocorra dentro do período de pagamento (art. 827, caput e § 1º, do Código de Processo Civil) (BRASIL, 2015).

Outra característica da execução está no fato de que no mandado de citação “constarão, também, a ordem de penhora e a avaliação a serem cumpridas pelo oficial de justiça tão logo verificado o não pagamento no prazo assinalado, de tudo lavrando-se auto, com intimação do executado” (art. 829, § 1º, do Código de Processo Civil). A propósito, a lei também possibilita que o oficial de justiça, caso não localize o devedor, mas encontre bens penhoráveis, proceda ao arresto de bens, que posteriormente poderá ser convertida em penhora com a efetivação da citação e o transcurso do prazo sem pagamento (MARINONI; ARENHART; MITIDIERO, 2017).

De toda sorte, o executado pode se opor à ação, por meio dos embargos à execução, a serem oferecidos no prazo de 15 (quinze) dias da citação ou a partir de outra ocasião prevista no art. 231 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

Assim como a impugnação ao cumprimento de sentença, os embargos à execução não possuem, em regra, efeito suspensivo, mas que pode ser atribuído pelo juízo, “quando verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes” (art. 919, § 1º, do Código de Processo Civil). Contudo, como prevê o § 5º do referido artigo: A concessão de efeito suspensivo não impedirá a efetivação dos atos de substituição, de reforço ou de redução da penhora e de avaliação dos bens (SANTOS, 2017).

Quanto às matérias que podem ser tratadas em sede de oposição do executado, da mesma maneira que a lei enumera à impugnação ao cumprimento de sentença, também o faz no art. 917 do Código de Processo Civil14 para os embargos à execução. Apesar disso, diferentemente da impugnação, é permitido ao executado alegar “qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento” como faculta o inciso VI do aludido artigo (BRASIL, 2015).

14Lei n. 13.105/2015 – Código de Processo Civil

Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar: I - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; II - penhora incorreta ou avaliação errônea;

III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;

IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa;

V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;

VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento (BRASIL, 2015).

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Após o recebimento dos embargos, o juízo determinará a intimação do exequente para, no prazo de 15 (quinze) dias se manifestar. Caso os embargos sejam recebidos com efeito suspensivo, a execução será suspensa, de modo que “não serão praticados atos processuais, podendo o juiz, entretanto, salvo no caso de arguição de impedimento ou de suspeição, ordenar providências urgentes” (art. 923 do Código de Processo Civil). O art. 921 do Código de Processo Civil15 traz outras situações em que a execução será suspensa (ABELHA, 2015).

Por fim, o art. 924 do Código de Processo Civil dispõe sobre os casos em que a execução será extinta (por sentença): “I - a petição inicial for indeferida; II - a obrigação for satisfeita; III - o executado obtiver, por qualquer outro meio, a extinção total da dívida; IV - o exequente renunciar ao crédito; V - ocorrer a prescrição intercorrente.” (BRASIL, 2015).

Findo os principais aspectos procedimentais e principiológicos do processo de execução, passa-se, no próximo capítulo, ao estudo das sucessões das partes nos processos judiciais, tema que fundamenta a manutenção da impenhorabilidade após o falecimento do executado.

Ainda, convém informar que as espécies expropriatórias, conteúdo do processo de execução, são aprofundadas no último capítulo, junto à penhora/impenhorabilidade.

15Lei n. 13.105/2015 – Código de Processo Civil

Art. 921. Suspende-se a execução:

I - nas hipóteses dos arts. 313 e 315, no que couber;

II - no todo ou em parte, quando recebidos com efeito suspensivo os embargos à execução; III - quando o executado não possuir bens penhoráveis;

IV - se a alienação dos bens penhorados não se realizar por falta de licitantes e o exequente, em 15 (quinze) dias, não requerer a adjudicação nem indicar outros bens penhoráveis;

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3 DIREITO SUCESSÓRIO

Neste capítulo, são estudados os aspectos mais relevantes do direito sucessório que podem influenciar na relativização da impenhorabilidade após a morte do autor da herança.

O princípio da saisine, a aceitação da herança, bem como as modalidades e procedimentos da sucessão, são os principais temas tratados.

3.1 CONCEITOS, TERMINOLOGIAS E O PRINCÍPIO DA SAISINE

A herança, em linhas gerais, pode ser definida como o conjunto de bens, direitos e obrigações do falecido, ou melhor, todo o seu patrimônio, tanto o ativo quanto o passivo. O ramo que estuda a transmissão da herança é chamado de direito sucessório, que pode ser definido com o conjunto de normas pertinentes à passagem da titularidade de uma pessoa que faleceu à outra (GONÇALVES, C., 2017a).

Tartuce (2017) introduz que o direito sucessório tem seu fundamento na Carta Magna, mais especificamente no direito de propriedade e na função social (art. 5º, XXII e XXIII, da Constituição Federal), bem como no princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da Constituição Federal).

Nader (2016) explica que o vocábulo sucessão provém do latim succedere, que significa substituir alguém, e pode ocorrer por conta do falecimento de um indivíduo ou por ato inter vivos. Este capítulo, por conta da delimitação do tema, restringe-se ao estudo do primeiro caso, qual seja, a transmissão do acervo hereditário do de cujus.

Com a morte, apenas as relações jurídicas patrimoniais, que eram titularizadas pelo autor da herança, serão transmitidas aos sucessores. Isso porque, as relações personalíssimas serão extintas com a morte, visto que o art. 6º do Código Civil16 estabelece que a morte põe fim à personalidade (FARIAS; ROSENVALD, 2017).

16Lei n. 10.406/2002 – Código Civil

Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes,

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Neste passo, os sujeitos que recebem a herança, ou uma parte dela, denominam-se sucessores (possuem direito à sucessão), dentre os quais se destacam os herdeiros e o legatários (TARTUCE, 2017).

Os herdeiros são aqueles que receberão uma quota parte patrimonial, um percentual abstrato da herança, o qual só será determinado no momento da partilha. Eles podem ser divididos em legítimos, os quais decorrem da lei (art. 1.829 do Código Civil) e lhes é reservado 50% (cinquenta por cento) do patrimônio do falecido, e testamentários, que são criados pela vontade do testador no ato de última vontade (testamento). De outra parte, os legatários recebem um bem específico (um legado) ou parte deste, mediante estipulação no testamento (VENOSA, 2017).

Necessário frisar que o referido direito adquirido à sucessão surge exclusivamente com o falecimento do autor da herança, momento em que ocorre a abertura da sucessão. Antes disso, pode-se falar tão somente em mera expectativa de direito e, por este motivo, inexistem as figuras dos herdeiros e legatários (GONÇALVES, C., 2017a).

Com a morte do autor da herança, a transmissão patrimonial ocorre imediatamente, de sorte que os sucessores desde logo adquirem a propriedade dos bens que compõem a herança. É o que define o art. 1.784 do Código Civil17, que consagra o princípio da saisine (BRASIL, 2002).

É de se notar a importância deste princípio na manutenção da impenhorabilidade após o falecimento (tema deste trabalho), dada a transmissão imediata de patrimônio.

Pereira (2017, p. 39) elucida que tal princípio busca evitar que o patrimônio fique sem titular por um período, como ocorria no antigo Direito Romano, em que se exigia a aceitação da herança pelos herdeiros. Conforme explana o autor, no ordenamento jurídico atual, a abertura da sucessão se dá meramente com a morte e, por isso, “não é o fato de ser conhecido, ou de estar próximo que atribui ao herdeiro a posse e a propriedade dos bens. É a sucessão. Não há mister um ato do herdeiro. Não precisa requerer ao juiz o imita na posse”.

17Lei n. 10.406/2002 – Código Civil

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários (BRASIL, 2002).

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Como visto, a sucessão ocorre independentemente da prática de qualquer ato ou aceitação do herdeiro, ela se verifica de pleno direito. É possível, até mesmo, que o sucessor desconheça a abertura da sucessão.

Em complemento, Gagliano e Pamplona Filho (2019) mencionam que o reconhecimento do princípio da saisine é visível na expressão “le mort saisit le vif”, isto é, “o morto dá posse ao vivo” e que sua aplicação se propõe a evitar que o acervo hereditário tenha natureza de res derelicta (coisa abandonada) ou de res nullius (coisa de ninguém).

Muito embora o art. 1.784 do Código Civil garanta a transmissão imediata da herança, apenas a propriedade e a posse indireta dos bens são alienadas no momento da morte. A posse direta, por sua vez, só será adquirida com a homologação da partilha da herança (GONÇALVES, C., 2017a).

Ora, mas se o herdeiro já é proprietário no exato momento da abertura da sucessão, ele detém os poderes previstos no art. 1.228 do Código Civil, podendo, inclusive, alienar esta quota parte, mesmo antes da partilha, através de uma cessão de crédito hereditário, como prevê o art. 1.793 do Código Civil. Pereira (2017) frisa que a cessão somente terá validade após a abertura da sucessão, e que será nula se versar sobre herança de pessoa viva18. (BRASIL, 2002).

Todavia, no que respeita aos legatários, Venosa (2017) explica que a propriedade dos bens lhes pertence, assim como no caso dos herdeiros, a partir da abertura da sucessão, mas a posse somente será assumida após o cumprimento/pagamento dos legados pelos herdeiros. Essa é a razão pela qual constam apenas os herdeiros na disposição do art. 1.784 do Código Civil (BRASIL, 2002).

O direito à herança e o direito à sucessão aberta consideram-se bens imóveis por determinação legal (art. 80, II, do Código Civil). Isso ocorre, inclusive, quando o ativo patrimonial seja formado unicamente por bens móveis (TARTUCE, 2017).

Além da sua imobilidade, Carlos Gonçalves (2017a) ensina que a herança, por decorrência do princípio da saisine, permanecerá indivisível até o momento da

18Lei n. 10.406/2002 – Código Civil

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partilha. Isso porque, nos termos do art. 1.791 do Código Civil19, ela constitui um todo unitário, uma universalidade de direito, “ainda que vários sejam os herdeiros”. O mesmo dispositivo, em seu parágrafo único, também determina que a massa hereditária será regulada pelas normas relativas ao condomínio, quer dizer, até que ocorra a efetiva partilha dos bens, os herdeiros legítimos e testamentários, por força da lei, formarão um condomínio necessário acerca daquele conjunto de bens e direitos (um só bem pertencente a dois ou mais sujeitos) (BRASIL, 2002).

Em que pese a transmissão patrimonial ser imediata, Farias e Rosenvald (2017, p. 213) esclarecem que a aceitação da herança é “um ato jurídico necessário, com vistas à confirmação da transmissão automática do patrimônio do falecido, operada pelo droit de saisine”. Destarte, sendo aceita, a propriedade retroage ao momento da abertura da sucessão (art. 1.804 do Código Civil20).

Evidentemente, a renúncia da herança, que só pode ser praticada após o óbito, torna sem efeito a transmissão da posse e propriedade decorrente da saisine. A propósito, a renúncia se trata de ato unilateral (não pode ser inserida em cláusula contratual), indivisível, não receptivo, gratuito, irretratável, formal (instrumento público ou termo judicial) (NADER, 2016).

Em ambos os casos (aceitação e renúncia), pode ser fixado prazo pelo juiz para que o herdeiro se manifeste, e que não poderá ser superior a 30 (trinta) dias da sua citação (art. 1.807 do Código Civil). Do mesmo modo, conforme o art. 1.808 do mesmo diploma, tais atos jurídicos são indivisíveis, de modo que “não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo” (BRASIL, 2002).

De volta à aceitação, esta pode ser realizada por diferentes modalidades, ao contrário da renúncia que deve ser, necessariamente, expressa. A primeira delas é a expressa, a qual se opera por uma declaração explícita do sucessor, reduzida a escrito ou a termo nos autos. Já a declaração tácita, é a modalidade mais comum, que decorre da prática de atos pelo herdeiro que traduzem a sua aceitação, tais como a cessão de direitos ou a habilitação no procedimento de inventário ou de arrolamento.

19Lei n. 10.406/2002 – Código Civil

Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros.

Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio (BRASIL, 2002).

20Lei n. 10.406/2002 – Código Civil

Art. 1.804. Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão (BRASIL, 2002).

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Tais modalidades estão previstas no art. 1.805, caput, do Código Civil21 (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2017).

Há, ainda, a chamada aceitação presumida, que resulta da omissão/inércia do herdeiro. Ela também está prevista no Código Civil, mais especificamente na parte final do art. 1.807 que, como dito anteriormente, prevê a possibilidade de fixação de prazo (não superior a trinta dias) para manifestação do herdeiro (BRASIL, 2002).

Nader (2016) classifica estas três modalidades como aceitação direta, pois são realizadas pelo próprio herdeiro, e acrescenta a aceitação indireta, como sendo aquela emitida por terceira pessoa. A título de exemplo desta, o autor cita as situações em que: o herdeiro falece antes de manifestar sua vontade, casos em que o poder de decidir passará aos seus herdeiros (art. 1.809 do Código Civil); a aceitação ocorre pelos credores do herdeiro renunciante, na forma do art. 1.813, caput, do Código Civil (limitados aos valores de seus créditos); a aceitação é praticada por gestor de negócios.

Por fim, outro aspecto interessante da abertura da sucessão é que ela define a norma material que será aplicada àquela: “Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela.” (BRASIL, 2002).

Posto isso, consolidada a transmissão da herança e suas formas de aceitação, na próxima seção são analisadas as diferentes formas de sucessão patrimonial.

3.2 DA SUCESSÃO

Nesta seção, são estudadas as diferentes modalidades sucessórias, com a finalidade de compreender os aspectos gerais das sucessões e esclarecer seus conceitos básicos.

21Lei n. 10.406/2002 – Código Civil

Art. 1.805. A aceitação da herança, quando expressa, faz-se por declaração escrita; quando tácita, há de resultar tão-somente de atos próprios da qualidade de herdeiro (BRASIL, 2002).

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3.2.1 Sucessão em geral

Para que alguém possa ser titular de um direito sucessório, é necessária a chamada capacidade sucessória, que pode ser definida como a aptidão de alguém ser sucessor de outrem. Segundo Nader (2016), tal capacidade está associada à personalidade civil, que se forma a partir do nascimento com vida, muito embora os direitos do nascituro já estejam assegurados desde a sua concepção, como dispõe o art. 2º do Código Civil (BRASIL, 2002).

De acordo com o art. 1.798 do Código Civil: “Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão”. Como dito anteriormente, o momento da abertura da sucessão é o exato momento da morte. Desse modo, da leitura do dispositivo, compreende-se que podem ser herdeiros legítimos, as pessoas naturais nascidas ou já concebidas na data da morte do autor da herança.

É de se notar que o nascituro se enquadra entre os herdeiros legítimos, muito embora ele só irá herdar, ser proprietário de parte da herança, com o nascimento com vida. Isso porque, os direitos que a ele são assegurados encontram-se em estado potencial, pois, encontram-se o feto nascer morto, não haverá aquisição de direitos, como se ele nunca tivesse existido (GONÇALVES, C., 2017a).

A ordem de vocação, ou melhor, de chamamento da sucessão legítima, está disposta no art. 1.829 do Código Civil22, em que constam os herdeiros legítimos: descendentes, ascendentes, cônjuge ou companheiro e os colaterais até o quarto grau (BRASIL, 2002).

De outro lado, tratando-se de sucessão testamentária, conforme o art. 1.799 do Código Civil, “podem ainda ser chamados a suceder: I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a

22Lei n. 10.406/2002 – Código Civil

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente;

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sucessão; II - as pessoas jurídicas; III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação” (BRASIL, 2002).

Claro está, portanto, que o testamento pode beneficiar alguém ainda não concebido à época da morte do testador, os chamados concepturos, os quais, “salvo disposição em contrário do testador”, obedecerão ao prazo decadencial de dois anos da abertura da sucessão para sua concepção, já que, não sendo o caso, os bens reservados serão destinados ao herdeiros legítimos, consoante a regra do art. 1.800, § 4º, do Código Civil. Outrossim, qualquer pessoa jurídica pode ser beneficiária de testamento (BRASIL, 2002).

Em contrapartida, o art. 1.801 do Código Civil traz o rol de pessoas que não podem ser nomeadas herdeiras ou legatárias (pelo testador), em razão da situação que se encontram, já que poderiam comprometer a autonomia da vontade do testador. A título de exemplo, a pessoa que, a pedido, escreveu o testamento, bem como as testemunhas deste, fazem parte deste rol (VENOSA, 2017).

No que diz respeito aos institutos da herança jacente e da herança vacante, estes surgem com a abertura da sucessão em que o falecido não tenha deixado testamento e inexistirem herdeiros ou legatários aptos. Também podem ocorrer quando os herdeiros e legatários não sejam conhecidos ou se a herança for repudiada (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2017).

Com a abertura da sucessão, os bens deixados pelo de cujus serão arrecadados e administrados temporariamente por um curador (nomeado pelo juízo). Gagliano e Pamplona Filho (2017) aduzem que a arrecadação de bens ocorre para que a massa patrimonial não fique sem titular indefinidamente.

Em um segundo momento, serão expedidos editais para que haja manifestação dos herdeiros. Se decorrido o prazo de 1 (um) ano da publicação do primeiro edital sem a apresentação de qualquer herdeiro, haverá uma declaração pelo juízo de que aquela herança entrou em estado de vacância (art. 1.820 do Código Civil) (BRASIL, 2002).

Na herança vacante, os bens passam à propriedade do Estado. Contudo, trata-se de uma propriedade resolúvel, uma vez que, posteriormente, é possível que apareçam herdeiros legítimos ou facultativos. Caso apareçam, há uma reversão nesta titularidade e os bens passarão do Estado para quem de direito. Essa característica de resolutividade perdurará por 5 (cinco) anos. Ao final do prazo, os bens passarão definitivamente à propriedade estatal (FARIAS; ROSENVALD, 2017).

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Tartuce (2017) expõe que o Estado não é herdeiro, mas um sucessor irregular, de forma que o princípio da saisine não será aplicado. Assim sendo, o momento da vacância não se confunde com o da abertura da sucessão (morte do de

cujus).

Outro aspecto interessante é que, nesses casos de inexistência de testamento e herdeiros, os credores do falecido podem requerer que suas dívidas sejam pagas nos limites da herança, na forma do art. 1.821 do Código Civil (BRASIL, 2002).

Por fim, insta esclarecer a diferença entre indignidade e deserdação, hipóteses que impedem a pessoa de receber aquilo que ela deveria receber por herança, seja legítima ou testamentária. Ambas são sanções civis que acarretam na perda do seu direito sucessório por conta do cometimento de algum dos atos expressamente previstos em lei. Tanto a indignidade quanto a deserdação, precisam ser confirmadas por decisões judiciais (COELHO, 2012).

A indignidade priva os herdeiros ou legatários de receberem seus direitos sucessórios. As hipóteses que dão ensejo a indignidade são trazidas pela lei (art. 1.814 do Código Civil), de modo que, havendo a subsunção do fato à norma, independente da vontade manifestada pelo de cujus, irá ocorrer a indignidade. A lei traz três hipóteses em que ocorre a indignidade. No entanto, se ocorrer um destes fatos e houver o perdão expresso do ofendido por testamento, então a indignidade não se aplicará. Logo, a vontade do falecido só terá eficácia para reinclusão do indigno (PEREIRA, 2017).

Por outro lado, segundo Carlos Gonçalves (2017a), a deserdação é um ato unilateral por meio do qual, aquele que será sucedido, determina a exclusão dos direitos sucessórios de um herdeiro necessário. Esta manifestação deve ser feita através de um testamento válido e reconhecida pelo juízo em ação específica, bem como o seu fundamento deve ser uma das hipóteses legais (arts. 1.962 e 1.963 do Código Civil).

3.2.2 Sucessão legítima

A sucessão legítima é aquela que decorre da lei, da presunção legal da vontade do autor da herança. A necessidade de ocorrer a sucessão legítima se dá nos casos estabelecidos pelo art. 1.788 do Código Civil (BRASIL, 2002).

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