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Poder Judiciário JUSTIÇA FEDERAL Seção Judiciária do Estado de Sergipe

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Academic year: 2021

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Poder Judiciário

JUSTIÇA FEDERAL

Seção Judiciária do Estado de Sergipe

www.jfse.gov.br

_________________________________________________________________________________________________________________ PROCESSO Nº 2008.85.00.001172-4

CLASSE: 126 – MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRANTE: MARIA DE LOURDES VIEIRA LIMA

IMPETRADO: CHEFE DE SEÇÃO DE RECURSOS HUMANOS DO INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO SOCIAL – INSS

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDORA PÚBLICA. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. O AFASTAMENTO DE AGENTE PÚBLICO, EM FACE DE DECISÃO PRIVATIVA DE LIBERDADE, EM PROCESSO PENAL PENDENTE DE JULGAMENTO, DEVE SE DAR SEM PREJUÍZO DE

REMUNERAÇÃO. SEGURANÇA CONCEDIDA PARA

DETERMINAR O DESBLOQUEIO DA CONTA SALÁRIO DA IMPETRANTE, EFETUANDO O PAGAMENTO DE SUA REMUNERAÇÃO DESDE A DATA DA IMPETRAÇÃO.

SENTENÇA

MARIA DE LOURDES VIEIRA LIMA, já qualificada na inicial, impetra o presente MANDADO DE SEGURANÇA em face de suposto ato abusivo e ilegal do CHEFE DE RECURSOS HUMANOS DO INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO SOCIAL – INSS, Sra. Annalu Menezes Nascimento, consubstanciado no bloqueio de sua conta salário, em face da sua prisão preventiva, decorrente de decisão em processo criminal, na qual a impetrante foi denunciada pela suposta pratica de crimes em detrimento da previdência social.

Relata a impetrante que foi denunciada por, supostamente, fazer parte de uma quadrilha, que mantinha ativos benefícios de segurados já falecidos, e falsificar documentos para que terceiros obtivessem o benefício da Lei Orgânica da Assistência Social, destinado às pessoas que não tinham condições financeiras de contribuir para a previdência social, motivo pelo qual foi decretada sua prisão preventiva pelo Juízo Federal da 23ª Vara Federal de Pernambuco, tendo o mandado sido cumprido em 31 de outubro de 2007.

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Aduz que o impetrado não teria competência para suspender o pagamento do seu salário, informando que é mãe de dois filhos menores, um deles deficiente, e que não possuem qualquer condição de prover sua subsistência.

Menciona que, em decorrência dos fatos supracitados, o impetrado determinou o bloqueio de sua conta salário, sob o fundamento de que se tratava de medida prevista em lei. Registra, ainda, que a decisão quanto à suspensão do seu salário teve base no art. 92 do Código Penal, que trata dos efeitos da condenação.

Pede a concessão de medida liminar para que seja determinado o desbloqueio de sua conta salário.

Junta procuração e documentos de fls. 08/28.

Reservei-me para apreciação da medida liminar após informações da autoridade coatora. Nesta, alega o impetrado que o Regimento Interno atribui, ao Setor de Recursos Humanos local, as tarefas de executar atividades referentes à cadastro e pagamento, mantendo atualizado o Sistema de Administração Pessoal (SIAPE).

Assevera que o vencimento é retribuição pelo exercício do cargo e, com exceção das concessões de que trata o art. 97, a parcela remuneratória é proporcional aos atrasos, ausências justificadas e faltas injustificadas. Acrescenta que o afastamento da servidora, na forma como ocorreu, acarreta o prejuízo da remuneração, em face das disposições contidas na Lei nº 8.112/90.

Junta documentos de fls. 48/65.

Medida liminar deferida às fls. 67/70.

Instado a se manifestar, pugna o MPF, às fls. 101/103, pela denegação da segurança.

É o que importa relatar. Decido.

O Mandado de Segurança, como já nos adverte doutrinador de escol na matéria1, é remédio constitucional apto à invalidação de atos de autoridade ou à supressão de efeitos de omissões administrativas capazes de lesar direito individual ou coletivo, líquido e certo.

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É do mesmo autor também o sabido conceito do direito líquido e certo como aquele que se apresenta manifesto na sua existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercido no momento da impetração2.

A questão que aqui me é posta é de fácil deslinde, porquanto a Constituição Federal conferiu ao princípio da presunção de inocência o status de direito fundamental do homem, de modo a alcançar qualquer medida que venha a restringir direitos, ainda que na esfera administrativa, projetando-se, assim, além da dimensão exclusivamente criminal.

A suspensão do benefício da impetrante pelo fato de ter sido denunciada e estar respondendo a processo criminal, sem que tenha havido condenação, revela flagrante violação a presunção da não-culpabilidade, prevista no art. 5º, LVII, da Constituição Federal, porquanto a suspensão da remuneração, no caso posto, implica verdadeira antecipação da condenação e execução da pena.

Acresça-se, ainda, o disposto no art. 20, parágrafo único, da Lei nº 8.429/92, que dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências:

“Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória.

Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual.” (grifei).

Neste compasso, decisão veiculada, através de Informativo de Jurisprudência, no sítio eletrônico do Supremo Tribunal Federal:

“INFORMATIVO Nº 501 TÍTULO

Prisão Preventiva: Pendência de Recurso sem Efeito Suspensivo e Execução Provisória - 4

ARTIGO

Por fim, o Min. Eros Grau citou o que decidido no RE 482006/MG (DJU de 14.12.2007), no qual declarada a inconstitucionalidade de preceito de lei estadual mineira que impunha a redução de vencimentos de servidores públicos afastados de suas funções por responderem a processo penal em razão da suposta prática de crime funcional, ao

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fundamento de que tal preceito afrontaria o disposto no art. 5º, LVII, da CF. Concluiu o relator que, se a Corte, nesse caso, prestigiara o disposto no preceito constitucional em nome da garantia da propriedade, não o poderia negar quando se tratasse da garantia da liberdade. Após, o julgamento foi suspenso com o pedido de vista do Min. Menezes Direito. HC 84078/MG, rel. Min. Eros Grau, 9.4.2008. (HC-84078).” (grifei)

Colaciono, também, a ementa do HC 482006/MG, a que se reporta o relator do supracitado processo:

ART. 2º DA LEI ESTADUAL 2.364/61 DO ESTADO DE MINAS GERAIS, QUE DEU NOVA REDAÇÃO À LEI ESTADUAL 869/52, AUTORIZANDO A REDUÇÃO DE

VENCIMENTOS DE SERVIDORES PÚBLICOS PROCESSADOS

CRIMINALMENTE. DISPOSITIVO NÃO RECEPCIONADO PELA CONSTITUIÇÃO DE 1988. AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DA PRESUNÇÃO DA INOCÊNCIA E DA IRREDUTIBILIDADE DE VENCIMENTOS. RECURSO IMPROVIDO.

I – A redução de vencimentos de servidores públicos processados criminalmente colide com o disposto nos arts. 5º, LVII, e art. 37, XV, da Constituição, que abrigam, respectivamente, os princípios da presunção de inocência e da irredutibilidade de vencimentos.

II- Norma estadual não recepcionada pela atual Carta Magna, sendo irrelevante a previsão que nela se contém de devolução dos valores descontados em caso de absolvição.

III- Impossibilidade de pronunciamento desta Corte sobre a retenção da Gratificação de Estímulo à Produção Individual – GEPI, cuja natureza não foi discutida pelo tribunal a quo, visto implicar vedado exame de normas infraconstitucionais em sede de RE.

IV – Recurso extraordinário conhecido em parte e, na parte conhecida, improvido.

Com efeito, a prisão preventiva possui natureza cautelar, constituindo o seu cumprimento, portanto, motivação idônea a autorizar o pagamento da remuneração, face aos princípios da presunção de inocência, consubstanciado no inciso LVII do art. 5º da Constituição Federal, e da irredutibilidade dos vencimentos.

Destarte, a se admitir a suspensão da remuneração do funcionário público pelo cumprimento de prisão preventiva, estar-se-ia validando verdadeira antecipação de pena, sem observância do devido processo legal, antes mesmo de qualquer condenação.

Arrimado nestas razões, CONCEDO A SEGURANÇA requestada, determinado à autoridade impetrada que desbloqueie a conta salário da impetrante, efetuando o pagamento de sua remuneração desde a data da impetração deste Writ.

Sem honorários advocatícios, consoante entendimento do Egrégio Supremo Tribunal Federal na Súmula n.º 512.

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Sentença sujeita ao reexame necessário, ex vi do disposto no artigo 12, parágrafo único da Lei nº. 1.533, de 31 de dezembro de 1951.

P.R.I.

Aracaju, 09 de julho de 2008.

EDMILSON DA SILVA PIMENTA Juiz Federal

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