• Nenhum resultado encontrado

Representações sociais da AIDS entre jovens universitários: traçando a vulnerabilidade a partir das relações de gênero

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Representações sociais da AIDS entre jovens universitários: traçando a vulnerabilidade a partir das relações de gênero"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

Diálogos & Ciência

w w w. f t c . b r / d i a l o g o s

Representações sociais da AIDS entre jovens universitários:

traçando a vulnerabilidade a partir das relações de gênero

Jimi Hendrex Medeiros de Sousa*

a

e Mirian Santos Paiva

b aFaculdade de Tecnologia e Ciências (FTC), Salvador, BA, Brazil bEscola de Enfermagem,Universidade Federal da Bahia (UFBA), BA, Brazil

doi: 10.7447/dc.2012.016

1. Introdução

Sabe-se que a vulnerabilidade à infecção pelo HIV guarda relação não só com os comportamentos individuais, principalmente aqueles relacionados à sexualidade e identidade de gênero, mas, também com o comportamento dos parceiros, com as condições sociais que deveriam proporcionar acesso aos serviços de saúde e com existência de políticas públicas eficazes.

O fenômeno da AIDS está ligado às práticas sexuais e em decorrência dos papéis sexuais. Para ser compreendido é necessário conhecer melhor o papel que a variável sexo desempenha na sua evolução, pois o sexo, além de indicar uma propriedade natural dos seres humanos, indica padrões psicossociais bastantes diferentes quanto à sociabilidade dos indivíduos (SPENCER, 1993).

Sabe-se que quando a sexualidade é discutida, homens e mulheres apresentam respostas diferentes em decorrência dos

diferentes processos de socialização que experimentam ao longo de suas vidas, o que estabelece padrões diferenciados de vulnerabilidade entre eles.

Não se discute que medidas de prevenção são necessárias para modificar o estado atual da epidemia. Para Aldana (1992), se forem comparadas as possibilidades e dificuldades que cada sexo tem para implantar as medidas de prevenção, em particular, o feminino, percebe-se que elas são diferentes, pois, para as mulheres, não existem medidas realmente eficazes, já que a camisinha, mesmo quando usado por si própria, requer a negociação com o parceiro.

As dificuldades de prevenção da AIDS por parte das mulheres desvelam a importância de serem explicitadas as questões de gênero que circundam todo o enfrentamento da AIDS, já que a subalternidade de gênero tem se mostrado determinante na vulnerabilidade das mulheres.

Estudo realizado por Paiva (2000) mostra que as mulheres adquiriram o vírus HIV a partir do comportamento sexual de

I N F O R M A Ç Õ E S R E S U M O Histórico: Recebido em 04/08/2011 Revisado em: 06/02/2012 Aceito em: 03/05/2012

O papel da sexualidade na prevenção da AIDS assume um interesse particular quando se considera adolescência e a juventude, pois é nesta etapa da vida que o adolescente/jovem inicia sua vida sexual. Este estudo teve como objetivos identificar as representações sociais da AIDS, sexualidade, sexo e práticas sexuais de jovens universitários e identificar aspectos da vulnerabilidade dos mesmos ao HIV. Utilizou-se da abordagem qualitativa, tomando como referencial teórico a teoria das representações sociais. Participaram deste estudo 50 jovens universitários de uma faculdade de enfermagem da cidade de Salvador. Esta pesquisa torna-se relevante por apreender as representações sociais da AIDS, sexo, sexualidade e práticas sexuais entre jovens universitários e por nos permitir, a partir do processamento de dados pelo software Tri-Deux Mots, inferir sobre aspectos do cotidiano destes.

Palavras-chave: Representações Sociais, AIDS, Jovens Universitários Keywords: Social Representations, AIDS, Students. A U T O R E S A B S T R A C T JHMS Enfermeiro e Mestre em Enfermagem

*Autor para correspondência: jimihms@yahoo.com

MSP

Enfermeira e Doutora em Enfermagem

TITLE: Social representation of AIDS among young undergraduate students: mapping the vulnerability from gender relationships.

The role of sexuality in the prevention of AIDS takes a particular interest when one considers adolescence and youth, for it is at this stage of life that the teenager/young starts her sex life. This study had as its objective to identify the social representations of AIDS, sexuality, gender, and sexual practices of students and identify aspects of their vulnerability to hiv. We used the qualitative approach, taking as its theoretical referential theory of social representations. Participated in this study 50 students of a nursing college in the city of Salvador. This research becomes relevant by apprehending the social representations of AIDS, sex, sexuality and sexual practices among university students and for allowing us, from data processing software by Tri-Deux Mots, infer about everyday aspects of these.

(2)

seus parceiros, que tinham relacionamentos extraconjugais, embora, em muitos casos contasse com a cumplicidade delas. Simões Barbosa (1995) põe em discussão a estratégia de sexo seguro para as mulheres, e que essa discussão acaba não ocorrendo e esbarra no fato de que, culturalmente, os casais não discutem sexualidade, afeto e prazer.

Sabendo que é na adolescência que se inicia a vida sexual, é importante que nesta etapa de vida seja discutida com esta população as questões que permeiam o campo de sexualidade. Isto se reveste de importância dado que a proporção de jovens portadores do HIV está em torno de 13% do total de casos notificados.

Este projeto de pesquisa ganha relevância por permitir conhecer o cotidiano de jovens universitários, identificando práticas e comportamentos individuais e sociais que possam deixá-los mais vulneráveis à infecção pelo HIV.

Este trabalho tem como objetivos identificar as representações sociais da AIDS, sexualidade, sexo e práticas sexuais de jovens universitários e identificar, a partir das relações de gênero, o conjunto de características individuais e sociais presentes no cotidiano dos/das jovens que as/os tornam mais vulneráveis à infecção pelo HIV.

.

2. Material e Métodos

Este estudo teve como referencial teórico a Teoria das Representações Sociais. As Representações Sociais como fenômeno são formas de saber, geradas a partir do conhecimento do senso comum, considerando o sujeito como parte de um conjunto indissociável com objeto e sociedade. A partir dessa perspectiva, busca-se compreender processos que ocorrem em contextos históricos e sócio-culturais precisos, na construção do senso comum (SÁ, 1998; VEIGA et al, 2011).

Através da atividade de representar, o indivíduo constrói uma nova realidade de seu mundo, dando-lhe novos significados que o conduzem. Essa interpretação da realidade é traduzida como um conjunto lógico de pensamento que vai constituir a visão de mundo para certa coletividade (JOVECHLOVITCH, 2000). As representações sociais da AIDS têm um papel importante no modo como os grupos/indivíduos agem diante dela e da sua prevenção.

O estudo foi desenvolvido em uma Faculdade de Enfermagem, situada na cidade de Salvador, tendo como sujeitos de estudo 50 estudantes. O instrumento utilizado para coleta de dados foi um formulário construído a partir da técnica de associação livre de palavras com seis questões abertas relativas aos objetivos da pesquisa que abordavam as temáticas de sexo, sexualidade, práticas sexuais e AIDS e na parte introdutória foram inseridos os dados sócio-demográficos.

A associação livre ou evocação livre a partir de palavras, segundo Jung (1905) apud Coutinho (2001), “é um tipo de investigação aberta que se estrutura na evocação de respostas dadas a partir de um estímulo indutor”.

Para a análise dos dados apreendidos a partir da associação livre de palavras foi feita a Análise Fatorial de Correspondência (AFC) através do Software Tri-deux-Mots. Este Software, a partir da forma como foi programado, realizou o processamento dos dados coletados - construídos a partir das respostas aos formulários aplicados às profissionais do sexo. A AFC revela o jogo de oposições que são evidenciadas pelos sujeitos nas respostas aos estímulos indutores, favorecendo a identificação das representações sociais nele contido.

A análise qualitativa, realizada na perspectiva da vulnerabilidade, foi realizada através da análise de conteúdo a partir do que recomenda Bardin (1979), que estabelece três fases, a saber: pré-análise; exploração dos resultados; inferência e a interpretação.

3. Resultados e Discussão

Perfil Sócio-demográfico.

Em relação à faixa etária, os jovens deste estudo apresentam idades que variam de 19 a 32 anos. Em relação ao sexo, 25 são homens e 25 mulheres. No que se refere à parceria pode-se observar que 26 estudantes tinham parceria fixa, os outros 24 estudantes tinham parceria eventual.

Todos os participantes relataram ser heterossexuais. Em relação ao uso de drogas lícitas e ilícitas apenas 15 relataram ter em algum momento feito uso de drogas, sendo a mais citada a bebida alcoólica.

Analise Fatorial de Correspondência

O teste de associação livre de palavras destaca os universos semânticos de palavras agrupadas por determinada população. Isso ocorre em decorrência de ser ela uma investigação aberta estruturada na evocação de respostas que são dadas a partir de um estímulo indutor. Neste estudo foram quatro os estímulos indutores utilizados, quais sejam: sexo, sexualidade, práticas sexuais e AIDS.

Para a análise fatorial foram considerados três fatores: sexo, semestre e parceria, responsáveis pelas três variáveis fixas do banco de dados Tri-deux Mots. A parceria não apresentou significância diante do percentual total das respostas, esse resultado leva a constatar que o fato de ter ou não um parceiro não influencia nas representações sociais do grupo sobre o tema.

O processamento dos dados coletados foi feito pelo software Tri-deux-Mots e a interpretação dos dados se deu por meio da análise fatorial de correspondência (AFC). Segundo Coutinho (2001), o princípio básico da AFC “consiste em destacar eixos que explicam as modalidades de respostas, mostrando as estruturas constituídas de elementos do campo representacional ou gráfico”. Neste estudo, tomou-se como referência a freqüência igual ou superior a 4 (quatro), para cada estímulo indutor, para efetuar o tratamento dos dados obtidos através do teste de associação.

A Análise Fatorial de Correspondência (AFC) revelada no jogo de oposições evidenciadas pelas respostas aos estímulos indutores permitiu a análise do plano fatorial dos dados. A Figura 1 descreve a análise obtida dos dois primeiros fatores F1 (sexo – feminino e masculino) e F2 (semestre). O mapa fatorial é determinado pelas respostas aos quatro estímulos indutores para os dois grupos (feminino e masculino) mais relevantes na formação dos eixos.

O fator 1 (F1), linha horizontal, traduz as mais fortes representações ou modalidades e explica 58,6% de significância, aos quais foram somados o percentual de 30,1% relativos ao fator 2 (F2) linha vertical do gráfico, alcançando 88,7% da significância total das respostas. Foram evocadas 385 palavras pelos 50 sujeitos, das quais apareceram 148 palavras diferentes.

Para o primeiro fator (grupos feminino e masculino), destacam-se as modalidades correspondentes às respostas evocadas pelos sujeitos do grupo masculino, as quais se encontram do lado positivo do eixo um (1) e são representadas pelas palavras: mulher, prevenção, expressão sexual, satisfação, desejo, comportamento, ato sexual e opção sexual, são seguidas de um número que corresponde a cada estimulo, conforme demonstra o Quadro 1.

No gráfico, do lado negativo do eixo 1 ou primeiro fator, destacam-se as modalidades correspondentes às respostas do grupo feminino, representadas pelas seguintes palavras evocadas: carinho, prazer, sensualidade, amor, modo de vestir e desejo, que igualmente tem as evocações sinalizadas por um número ao final de sua grafia referente ao estímulo indutor.

As oposições entre as modalidades de respostas evocadas pelos sujeitos do grupo masculino e do grupo feminino

(3)

Tabela 1: Classificação ordinária dos estímulos indutores

Estímulo indutor Número do estímulo

O que é sexo? 01

O que é sexualidade? 02

O que são práticas sexuais para você? 03

O que é AIDS para você? 04

tornam-se visíveis através das representações distribuídas ao longo do eixo 1, que na Figura 1, estão situadas no lado esquerdo e direito, respectivamente. Com referência ao segundo fator (F2) ou eixo 2, o procedimento de análise baseia-se na semestralidade (parte superior e inferior do gráfico), ou seja, ocorre uma oposição entre o grupo do 1o ao 5o semestre, situado na parte superior do gráfico e o grupo do 6o ao 9o semestre que ficou situado na parte superior do desenho gráfico.

Na análise dos resultados do teste de associação livre de palavras, para o estímulo 1 (o que vem a sua cabeça quando a palavra é sexo?) pode-se apreender que as representações que o grupo feminino têm são evocadas pelas palavras amor e carinho. Enquanto que o grupo masculino representa o sexo pelas evocações desejo, mulher e satisfação. Ambas as representações são mais significativas para quem cursa do 1o ao 5o semestre.

Em estudo recente desenvolvido por SOUSA, PAIVA (2002):

“Para as mulheres, a representação social de sexo configura-se mediante aos sentimentos que estão envolvidos na relação a dois, vivenciada por homens e mulheres, haja vista que ao pensar em sexo, para elas, estão embutidas as questões de carinho, união, amor, afetividade, cumplicidade, refletindo a influência cultural do contexto social no qual foram socializadas, que as leva a agir nas questões de sexualidade a partir do paradigma sentimental”.

As diferenças entre as representações de mulheres e homens possivelmente, advêm das relações de gênero que estes vivenciam no seu cotidiano, pois na forma como são socializados, há uma reprodução de valores estereotipados para homens e mulheres.

Neste sentido, as mulheres encaram o sexo mais numa perspectiva sentimental, ao passo que os homens, representam o sexo mais tomando como paradigma o prazer e a satisfação com uma mulher, ou seja, ancorados num sistema educacional o qual valoriza a cultura heterossexista e patriarcal.

Quando estimulados (as) a responderem o que é sexualidade, as mulheres evocaram sensualidade, modo de vestir e desejo, ao passo que os homens manifestaram com maior significância opção sexual, comportamento e expressão sexual.

A sensualidade e o modo de vestir representados pelas mulheres podem está relacionados à forma como a sexualidade feminina é veiculada na mídia, a qual coloca/impõe um padrão de beleza e moda que explora a sensualidade como uma estratégia para conseguir bons resultados na vida e no trabalho, sucesso e fama e, principalmente, bom desempenho com o parceiro.

Ainda em relação à sexualidade, as mulheres a representam com a palavra desejo, percebe-se que há um sentimento quando o assunto é sexualidade, existindo uma oposição em relação às representações dos homens, pois, mesmo que o amor seja importante num relacionamento sexual, o sentimento de desejo e prazer estão presentes.

O mesmo não ocorre quando se analisa a representação dos homens, pois, estes associam a sexualidade à questão do comportamento sexual humano, o que pode está relacionado à homossexualidade mais presente entre os homens, divergindo das mulheres que apontam para questões relacionadas com o

F2+ _______________________________________EXPRESSÃO SEXUAL2_________________ ¡ SATISFAÇÃO1 ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ¡ ! CARINHO1 ! DESEJO1 1O AO 5O SEMESTRE ! ! PRAZER3 ! MASCULINO ! SENSUALIDADE2 ! ¡ MULHER1 ¡ PREVENÇÃO4 F1-___________________________________ +____________________________F1+ AMOR1 ¡ COMPORTAMENTO2 ¡ ¡ ¡ ¡ ! MODO DE VESTIR2 FEMININO ! ! ATOSEXUAL3 ! ! OPÇÃO SEXUAL2 ! ! 6O AO 9O SEMESTRE ____________DESEJO2______________________________________________________

F2-Figura 1: representação gráfica dos planos fatoriais 1 e 2. F1- (eixo negativo ou lado esquerdo) = grupo feminino; F1+ (eixo positivo ou lado direito) = grupo masculino; F2- (eixo negativo) = 1o ao 5o semestre; F2+ (eixo positivo) = 6o ao 9o semestre.

seu próprio corpo.

Quando o estímulo é o que vem a sua cabeça ao falar em práticas sexuais as mulheres as representam pela palavra prazer. Esta evocação, com maior significância, nos remete ao entendimento do sentimento que as mulheres ancoram ao falar em práticas sexuais, pois se ao falar em sexo sobressai como representação a palavra amor, nada impede de ter prazer com quem se ama.

Entre os homens, observa-se que eles representam com a palavra ato sexual. Esta representação pode ser analisada considerando que os homens não necessariamente expressam seus sentimentos nas suas relações sexuais, não divergindo, portanto das representações do sexo para estes, na qual a questão sentimental não foi evocada, mas uma vez compreendemos que a forma como homens e mulheres são educados contribuem para lhe dar com questões sexuais de forma diferenciada.

Para o estímulo AIDS, analisando na perspectiva do fator um (grupo masculino e feminino), aparece apenas à palavra prevenção fortemente evocada pelos homens, porém, com grande significância para as mulheres.

Por serem universitários e da área de saúde, esta representação pode estar ancorada nas informações obtidas no decurso de sua formação, pois, observa-se que esta evocação foi mais significativa para o grupo do 6o ao 9o semestre, o que nos remete ao entendimento de que o fato de passarem pela disciplina saúde da mulher1 e terem avançado nos conteúdos da grade curricular que tratam de forma mais profunda esta temática, estejam influenciando nas representações dos jovens estudantes de enfermagem sobre AIDS.

Naturalmente, as mulheres já possuem uma preocupação maior com os aspectos preventivos em saúde, uma vez que de acordo com o processo de socialização, o cuidado com a saúde sempre esteve mais enraizado na natureza/conduta feminina.

Vulnerabilidade à infecção pelo HIV: interfaces das representações sociais e gênero

A vulnerabilidade pressupõe um entendimento complexo e, com o advento da AIDS, vem sendo trabalhada por vários autores que tentam explicá-la tomando como contexto geral os fenômenos sociais e, em particular, as questões que perpassam a saúde. Neste sentido, ela incorpora um conjunto de

(4)

elementos como o comportamento individual, as condições sociais e as políticas públicas vigentes.

Para Oliveira (2001):

“A suscetibilidade biológica à infecção pelo HIV é uma situação comum a toda e qualquer pessoa, que pode se tornar soropositiva através da relação sexual ou do contato com sangue. Se os modos de transmissão são limitados e estão baseados em comportamento, é necessário o envolvimento de dois ou mais participantes para que uma pessoa se torne infectada pelo HIV ou para transmitir a outra”.

Reportando às representações sociais masculinas em relação a sexo/sexualidade, que permeiam o prazer e o desejo de exercê-los tornando-os vulneráveis à infecção pelo HIV, uma vez que estas condutas lhes deixam expostos, principalmente, pelo fato de que os homens têm maior número de parceiras e de relações sexuais como forma de mostrar a sua virilidade para a sociedade.

As representações sociais de sexo para as mulheres denotam padrões de subjetividade, onde os sentimentos são predominantes, em especial o amor, o que as tem colocado em situação de vulnerabilidade, principalmente, dada a dificuldade de assegurar o comportamento de seus companheiros, bem como, à cumplicidade com que acabam encarando a infidelidade masculina.

Já os homens são pressionados pelos próprios pais a enfrentarem desde cedo as diversidades da vida cotidiana, porém, a vulnerabilidade está intrínseca para ambos os sexos, pois para as mulheres estar vulnerável é estar mais exposta, receptiva, e sensível a uma determinada situação.

Para elas, a vulnerabilidade se constrói a partir de parâmetros de passividade. Para os homens não se faz diferente por conta da maior exposição, determinando um comportamento de risco, uma vez que, há a busca pelas profissionais do sexo e práticas sexuais de maior risco. (SOUSA et al, 2002)

A virilidade masculina também é apresentada como um contraponto para a vulnerabilidade ao HIV, pelo fato de que esta atitude comportamental, de mostrar que é “macho" e que “tudo pode", os levam a situação mais desprotegidas e pouco pensadas, pois, neste momento de satisfação sexual o que importa para eles é o cumprimento do dever de ser homem, e a prevenção fica mais na perspectiva abstrata, ou seja, no segundo plano.

Ao questionar os estudantes de enfermagem sobre quais as diferenças de vulnerabilidade de homens e de mulheres em relação à infecção pelo HIV, percebe-se que de acordo com as concepções masculinas tanto homens quanto mulheres são vulneráveis ao HIV.

Já na perspectiva das mulheres houve uma oposição nas respostas das mesmas, pois 50% referiram que não tem diferença de vulnerabilidade de homens e de mulheres, e o restante afirmou que há diferenças entre homens e mulheres quanto o assunto é infecção ao HIV, na qual para estas as mulheres são mais vulneráveis ao HIV.

Fica clara a forma como as mulheres encaram a vulnerabilidade, pois, são convictas da infidelidade masculina, e conscientes da alta vulnerabilidade das mulheres a infecção pelo HIV.

Neste caso, as relações de gênero que configuram num jogo de poder entre homens e mulheres, tornam-se influentes na hora de negociar práticas mais seguras, principalmente quando o uso do preservativo é solicitado pelas mulheres.

Estas de acordo com o seu próprio processo de vida ficam numa relação de submissão ao poderio masculino, muitas vezes submetendo-se a práticas de risco sem devida proteção, portanto, o gênero torna-se um recorte em pesquisas importante ao tratar de estudos com homens e mulheres e suas interações psicossociais.

4. Conclusões

Esta pesquisa torna-se relevante por apreender as representações sociais da AIDS, sexo, sexualidade e práticas sexuais entre jovens universitários e por permitir, a partir do processamento de dados pelo software tri-deux mots, inferir sobre aspectos do cotidiano destes.

Ao identificar as representações sociais de determinados grupos espera-se contribuir com o trabalho de profissionais de saúde e de outras áreas, seja no serviço ou em estabelecimentos de ensino, pois, conhecer a forma como os sujeitos representam a AIDS e as questões que norteiam a sexualidade humana (sexo e práticas sexuais), podem contribuir para a melhoria da atenção a este grupo nos serviços de saúde, de forma eqüitativa e contextualizada.

Diante deste contexto, é necessário reorganizar os serviços de saúde para oferecer um atendimento mais direcionado às questões ligadas à identidade de gênero, favorecendo a ampliação destas discussões com a missão de conscientizar os usuários, homens e mulheres, da importância do diálogo, confiança mútua, discurso sobre sexo e sexualidade para que não continuem reproduzindo padrões psicossociais que os levem a uma maior exposição à aids.

Destarte, a condição de gênero propicia a existência de diferentes comportamentos entre homens e mulheres, que implicam em vulnerabilidade dos jovens ao HIV. O fato de mulheres e homens se posicionarem de forma diferenciada, quanto ao sexo e sexualidade, fica claro que a ancoragem se estabelece a partir de uma diferença de gênero nas concepções sobre AIDS, apontando para a vulnerabilidade entre os jovens.

5. Referências

ALDANA, A. Mulher, sexualidade e sexo seguro. In : PAIVA, V. (Org.) Em tempo de AIDS. São Paulo: Summus, 1992. p.158-165.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Tradução reto La e Pinheiro A. Lisboa: edições 70, 1979, p.78.

COUTINHO, M. P. L. Depressão infantil: uma abordagem

psicossocial. João Pessoa: Editora Universitária, 2001,

215 p.

JODELET, D. Do contágio e a AIDS. In: JODELET,D. ; MADEIRA, M. (org.) Aids e representações sociais: à

busca de sentidos, Natal: EDUFRN, 1998, p.17-45.

JOVECHLOVITCH, S. Representações sociais e esfera

pública: a construção simbólica dos espaços públicos do Brasil. Petrópolis (RJ): Vozes; 2000.

JUNG, C. G. Myterium Comunictionis. Ed. Vozes, Petrópoles – RJ, 1990, p. 181.

OLIVEIRA, J. F. Mulheres (com)vivendo com drogas:

vulnerabilidade e representação da AIDS. Dissertação

(Mestrado) Escola de Enfermagem da UFBA. Salvador. 2001. 145p.

PAIVA, M. S. Vivenciando a gravidez e experienciando a

soropositividade para o HIV. Tese (Doutorado) -

Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2000. 170p.

SÁ, C. P. A Construção do objeto de pesquisa em

Representações Sociais. Rio de Janeiro (RJ): EDUERJ;

1998.

SIMÕES BARBOSA, R. As mulheres, a AIDS e a questão metodológica: desafios. In: CZRESNIA, D.; SANTOS, E.M.; BARBOSA, R. H. S.; MONTEIRO, S. (Org.) AIDS pesquisa social e educação. São Paulo: Hucitec, Rio de Janeiro: ABRASCO, 1995. p. 65-83.

SOUSA, J. H. M.; PAIVA, M. S. Vulnerabilidade de Jovens frente a infecção pelo HIV e as representações sociais da aids. Relatório Técnico de pesquisa (PIBIC/CNPq - 2001/2002). Salvador, 2002, 16 p.

(5)

choix dês stratégies de prévention. Population. V. XLVII, n.5, p.1411-1436, 1993.

VEIGA, K. C. G.; FERNANDES, J. D.; PAIVA, M. S. Estudo estrutural das representações sociais do trabalho noturno das enfermeiras. Texto & Contexto -

Referências

Documentos relacionados

Pensar o Sindoméstico Bahia a partir do conceito de sisterhood (COLLINS, 2016) e do paralelo entre quilombo e sindicato das trabalhadoras domésticas tem um grande

A forma como estas variações da brasilidade são pensadas atualmente é o interesse desse trabalho, que pretendeu investigar como a visão de um milhar de

Dos resultados anteriores, pode-se concluir que o estimador dGP HR constitui uma boa op¸c˜ao para estimar o parˆ ametro d na presen¸ca de outliers de tipo aditivo; adicionalmente,

Desse modo, pro- pusemos um olhar mais detalhado para questões de gênero e abordagens sobre corpo, presentes na literatura atual de autoria feminina, com a finalidade de dar

Mais ainda, é através da ação de sujeitos sociais agindo no espaço que é comum a todos, que a esfera pública aparece como o lugar em que unia comunidade pode desenvolver e

Objetivos: conhecer a produção científica sobre as representações sociais, vulnerabilidade ao HIV/Aids e crenças religiosas de mulheres idosas; analisar o conhecimento,

Representações Sociais dos Estudantes Universitários face a uma Relação Sexual Ocasional: Procura de Sensações Sexuais, Atitudes.. Sexuais e Comportamentos

A pesquisa trouxe a reposta à problemática identificada de que quando a empresa não tem um sistema comunicativo eficaz ela também não apresenta efetividade no alcance dos