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PSICOTERAPIA EM CLINICA ESCOLA: RAZÕES PARA O ABANDONO DE TRATAMENTO Psychotherapy in Clinical School : Reasons for Withdrawal Treatment

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Psychotherapy in Clinical School : Reasons for Withdrawal Treatment

Lionete Rodrigues da Silva1, Maria Helena Chaib Gomes Stegun2, Tanielle do Espirito Santo Batista3

A interrupção precoce de psicoterapia em clínica escola é uma realidade que deve ser investigada, por se tornar um entrave na prática clínica. Esse estudo teve como objetivo geral descrever os fatores que favorecem o abandono do atendimento psicoterápico em uma clínica escola; especificamente identificar os fatores que implicam na falta de continuidade do atendimento; descrever a dinâmica do atendimento psicológico em uma clínica escola e sugerir estratégias que possam contribuir para diminuir a falta de continuidade ao tratamento. Para tal, realizou-se um estudo descritivo de cunho qualitativo. Participaram do estudo doze pessoas que iniciaram o tratamento e interromperam sem que o terapeuta tivesse feito tal indicação. A investigação foi realizada através dos prontuários dos últimos seis meses, contando com início da coleta de dados agosto de 2015. O método utilizado para coleta de dados foi entrevista semiestruturada e os dados foram analisados através da análise de conteúdo. A partir dessa análise concluiu-se que os fatores favoráveis a interrupção de tratamento estão ligados a falhas na relação terapêutica, a fatores intrínsecos ao cliente, a abordagem terapêutica e a fatores da dinâmica institucional.

Palavras-chaves: Abandono de Psicoterapia. Clínica escola. Psicoterapia em clinica escola. ABSTRACT

The early termination of psychotherapy in clinical school is a major problem in clinical practice. This issue has become a focus of many studies whose primary objective is the identification of the abandonment related factors and provide input to the technical improvement of the therapists in training, and as a secondary, contributing to the institution, which aims to meet your academic paper and social, offering quality services to the community. This study aimed to describe the factors that favour the abandonment of psychotherapeutic care in a nursing school; the specific objectives were to identify factors that imply the lack of continuity of psychological care; describe the dynamics of psychological care in a nursing school. Suggest and strategies that can help reduce the lack of continuity to psychological treatment. A descriptive research of quantitative and qualitative study was carried out. Study participants were twelve clients entering treatment and interrupted without the therapist has made such a statement, the last six months, counting from the start of data collection (August 2015). The

1 Aluna de graduação (8º período ) do curso de Psicologia da Faculdade Integral Diferencial- FACID/DeVry da

cidade de Teresina-PI. End. Rua José Marques da Rocha 3180, bairro Memorare. Cep. 64009-100 Teresina-PI. E-mail:lionettersilva@gmail.com

2 Psicóloga, Coordenadora de pós graduação da Faculdade Integral Diferencial- FACID/DeVry da cidade de

Teresina-PI. End. Avenida Dom Severino,542, bairro de Fatima, Cep. 4049375 Teresina PI E-mail: mgomes5@facid.edu.br

3 Aluna de graduação (7º período ) do curso de Psicologia da Faculdade Integral Diferencial- FACID/DeVry da

cidade de Teresina-PI. End. Rua barroso Nº 870, bairro Centro, Cep. 64001-130, Teresina PI.E-mail: tanielebatistah@hotmail.com

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method used for data collection was semi-structured and analysis of data interviews, content analysis. From this analysis, it was possible to list categories, from the speeches of the participants, where you can identify the factors associated with treatment dropout. We conclude that the favourable factors to treatment interruption are linked to failures in the therapeutic relationship; the factors intrinsic to the client, the therapeutic approach and the factors of institutional dynamics, describe the institutional dynamics and suggest strategies in order to decrease the dropout treatment

Keywords: Abandonment of psychotherapy. School clinic. Psychotherapy in clinical scholar.

1 INTRODUÇÃO

O abandono ao tratamento psicoterápico é uma realidade vivenciada pelos estagiários de psicologia na clínica-escola. Por clinica escola entende-se o espaço em que o acadêmico vai correlacionar teoria e prática e onde o psicoterapeuta em formação vai desenvolver; por meio da prática e sob a supervisão de um psicólogo experiente, as habilidades necessárias à capacitá-lo para o exercício profissional. Dessa forma, a clínica escola tem como objetivo primordial o ensino-aprendizagem e a pesquisa, além da função social de oferecer serviços através do sus gratuitos ou preços irrisórios as comunidades menos favorecidas (BRANDÃO et al., 2013).

Gastaud (2009), coloca a dificuldade em definir abandono em psicoterapia, devido ao fato da definição depender da modalidade de tratamento, do referencial teórico que embasa a técnica utilizada e que mesmo dentro dessa modalidade não existe concordância quanto aos critérios que devem compor essa definição. Para esse trabalho, abandono ao tratamento foi definido como o caso em que o paciente compareceu a pelo menos uma sessão e decidiu interromper o tratamento, tendo ou não comunicado previamente ao terapeuta. De acordo com Eizirikt et al (2014), o abandono da psicoterapia é um fenômeno que ocorre em diferentes abordagens de tratamento, idades e grupo diagnósticos, sua compreensão é um problema e desafio para clínicos e pesquisadores.

Considerando a importância que a clínica escola tem na formação técnica do acadêmico de psicologia, o abandono do tratamento, pelos pacientes, torna-se um fator preocupante na formação profissional desses estudantes, além de provocar danos aos pacientes. Benetti e Cunha(2008) afirmam que a maioria dos casos de desistência acaba solicitando

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retorno de atendimento e que de modo geral o processo de retorno resulta no agravamento dos casos, na insatisfação profissional e em maior gasto econômico.

Nesta perspectiva o presente estudo objetivou identificar os fatores que implicam na falta de continuidade do atendimento psicológico; descrever a dinâmica do atendimento psicológico em uma clínica escola e sugerir estratégias que possam contribuir para diminuir a falta de continuidade ao tratamento psicológico.

A realização de pesquisas que visem investigar os entraves ligados ao abandono precoce de psicoterapia em clínica escola é fundamental, para que se possa identificar as situações associadas ao risco de abandono como uma forma de conhecer os caminhos para a prevenção. O interesse em estudar sobre o tema, surgiu de inquietações advindas de relatos de estagiários sobre a dificuldade em concluir a prática clínica, devido a frequente interrupção do tratamento por parte dos pacientes.

Neste contexto, surgiu o seguinte o problema de pesquisa: quais as razões para o abandono de tratamento psicoterápico em uma clínica-escola? As questões norteadoras da pesquisa foram: que fatores implicam na falta de continuidade do atendimento Psicológico? Como se dá a dinâmica do atendimento Psicológico na clínica-escola pesquisada? Quais as dificuldades encontradas pelos pacientes no que se refere ao atendimento psicológico?

2 MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho aqui disposto se configurou como um estudo descritivo de caráter qualitativo. Para captação dos participantes, foi solicitado autorização à coordenação da clínica para manusear os prontuários. Inicialmente realizou-se uma análise dos prontuários arquivados, como forma de identificar pacientes que iniciaram e que abandonaram o tratamento psicoterápico sem a indicação do terapeuta. Participaram da pesquisa 12 sujeitos de ambos os sexos e com idades entre 20 e 63 anos. Para composição da amostra da pesquisa, utilizou-se como critério de inclusão sujeitos que interromperam o tratamento, com ou sem anuncio prévio ao terapeuta, nos últimos 6 meses, a partir do início da coleta de dados, agosto de 2015.

A pesquisa foi embasada na resolução 466/12 que reporta sobre pesquisas com seres humanos, e submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição na qual a clínica escola é vinculada. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido(TCLE).

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A pesquisa privilegiou o uso de entrevista semiestruturada e um questionário sociodemográficos, os dados foram coletados, analisados e categorizados a partir das respostas dos participantes e dos objetivos da pesquisa utilizando a técnica análise de conteúdo.

A coleta de dados foi realizada através de uma entrevista semiestruturada, obedecendo a um roteiro que pretendeu elencar as informações desejadas. As entrevistas foram realizadas em locais e horários marcados pelos próprios participantes, e comum acordo com o pesquisador.

Inicialmente ocorreu o manuseio dos prontuários para identificação da demanda pretendida e posterior contato telefônico com os futuros participantes da pesquisa para agendamento da entrevista em local e horário mais conveniente ao participante.

Os dados sociodemográficos foram coletados através dos prontuários, que pretendeu identificar o perfil dos pacientes atendidos pela clínica. A entrevista compôs-se de sete perguntas que pretenderam abordar a duração do tratamento, as razões da desistência, a percepção do paciente quanto a dinâmica do atendimento psicológico da clínica e as dificuldades encontradas durante a procura por atendimento.

Após a coleta, os dados foram submetidos a análise de conteúdo, que consiste em um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimento sistemático e objetivo a descrição do conteúdo das mensagens, indicadores que permitam a inferência de conhecimento (BARDIN ,2010).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a finalidade de contextualizar e apresentar os participantes que compõem o presente estudo, o questionário sociodemográficos contemplou dados como: idade, profissão e estado civil. Os participantes foram identificados com nomes fictícios, a fim de preservar suas identidades. O quadro 1 apresenta os dados sociodemográficos. Nos itens seguintes serão descritos alguns elementos com a análise baseada nos objetivos anteriormente descritos. Constam também o tempo de permanência no serviço e recortes das falas dos participantes que se relacionam com os objetivos pesquisados.

Quadro 01- Dados sociodemográficos do sujeito

Nome Idade Profissão Estado Civil

Elisa 20 Estudante Solteira

Daiane 21 Estudante Solteira

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Sofia 22 Estudante Solteira Teresa Cristina 22 Bancária Casada

Valentina 22 Estudante Solteira

Vitória 26 Estudante Solteira

Alice 26 Psicóloga Solteira

Wendel 30 Estudante Solteiro

Aureluce 48 Técnica em enfermagem Solteira Olga 60 Assistente Administrativo Casada

Elizabete 63 Dona de casa Casada

Fonte: dados da pesquisa(2016)

Os dados da amostra demonstram predominância do sexo feminino (11) e somente um do sexo masculino, faixa etária situou-se entre 20 e 63 anos, em relação ao estado civil, nove são solteiros e três casados, de acordo com a escolaridade sete são estudantes de ensino superior , duas tem ensino superior , uma com ensino Técnico e duas com Ensino médio.

Visando um melhor entendimento foi verificado o tempo em que cada sujeito permaneceu em acompanhamento psicológico na clínica e composto o quadro abaixo

Quadro 03- Tempo de permanência no serviço Tempo de permanência no serviço Nº de participantes 1 sessão 4 3 meses 3 4meses 1 5 meses 1 7 meses 1 10 meses 1 18 meses 1 Total 12

Fonte: dados da pesquisa(2016)

Como indica o quadro, o tempo de permanência no serviço, da amostra desse estudo teve uma variação de uma sessão a dezoito meses. Nota-se que o maior índice de abandono se dá nos primeiros contatos e que, a medida que o tempo de tratamento avança, o número de pacientes cai.

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Categorias Participantes Relação cliente-terapeuta 3

Rotina de vida 2

Tempo de experiência do terapeuta 2 Falta de motivação para o tratamento 1 Acústica do Consultório 3 Tempo de experiência do Terapeuta 2 A abordagem Terapêutica 2 Fonte: dados da pesquisa (2016)

Essas categorias passam a ser analisadas abaixo a luz dos objetivos propostos e do embasamento teórico. Alguns dos participantes mencionaram mais de uma razão para o abandono, o que justifica um número de participantes superior ao da amostra, no quadro que se refere as categorias.

3.1 Relação cliente terapeuta

A relação terapêutica entre o cliente e o terapeuta é o ponto fundamental da terapia. Ela deve ser estabelecida desde o início do processo pois é através desta aliança que a terapia tem a continuidade. Peres (2009), afirma que é influenciada tanto por elementos conscientes quanto por conteúdos inconscientes, e é uma relação que se estabelece entre paciente e psicoterapeuta em prol do processo psicoterapêutico. É importante saber criar uma relação de acolhimento, empatia e que inspire confiança, para que o processo se desenvolva e possibilite o alcance dos objetivo da terapia.

“Não fiquei a vontade, aí desisti.” (DAIANA)

‘‘a questão de que eu não estava me sentindo à vontade com a estagiária que estava me atendendo, desde o princípio eu não consegui me sentir acolhida por parte dela né, então isso fez com que eu não conseguisse me abrir da forma como eu queria, eu não senti essa questão da empatia.” (SOFIA)

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‘‘Me senti totalmente desamparado, então desisti.” (WENDEL)

Os relatos indicam que a forma de condução dos terapeutas interferiu na formação da aliança terapêutica. Embora muita ênfase seja dada na formação teórica, em aspectos ligados a postura e manejo da psicoterapia, percebe-se posturas pouco acolhedora, ausência de neutralidade quanto ao conteúdo levado pelo paciente e desconhecimento das especialidades de atendimento oferecidos pela clínica por parte dos terapeutas que atenderam aos clientes acima citados. Ao falar da aliança terapêutica, Rogers (2010) fala que ela pode acontecer se o profissional assumir junto dos seus clientes, uma atitude de profundo respeito, de aceitação e total confiança nas potencialidades do cliente a fim deste resolver os seus próprios problemas. Sentir-se acolhido, aceito e perceber uma relação de empatia, possibilita ao cliente levar à terapia suas questões e trata-las. Ceitlin e Cordioli (1998) referem que o início de uma psicoterapia desperta uma variedade de sentimentos e emoções em seus participantes e que grande parte do sucesso do tratamento depende do entendimento e manejo adequado.

Estudos apontam que o sucesso de um tratamento psicoterápico está diretamente ligada a aliança estabelecida nos primeiros contatos e que a continuidade ou não de um tratamento está mais relacionada ao tipo de interação terapeuta-paciente do que com a técnica utilizada. (BENETTI e CUNHA , 2008).

3.2 Rotina de vida

AS atividades do cotidiano contribuem como preditores de abandono a psicoterapia. Outras razões são dadas como motivo de abandono do tratamento psicoterápico, como a falta de tempo, problemas de horário.

“Acho que foi o tempo. Quando fui pra lá, eu trabalhava só um período, em seguida comecei a trabalhar o dia todo. Acho que foi o tempo mesmo. (TERESA CRISTINA)

“O meu tempo era muito curto, eu estava em fase de conclusão de curso, ai você pode imaginar a correria que é.” (ALICE)

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“Quando fez três meses, é aí ficou complicado por que eu tinha uma pesquisa em andamento e fiquei remarcando e chegou uma hora que eu desisti, porque estava muito corrido. ” (VITÒRIA)

“Eu fazia acompanhamento com um psiquiatra e soube que um psicólogo que me acompanhou por um tempo estava atendendo em uma clínica próximo à do psiquiatra, então mudei por que era mais próximo, prático e eu economizava tempo”. (OLGA)

Conciliar atividades acadêmicas e laborais com atividades foras destas esferas, tem se tornado um desafio aos que procuram fazer. A psicoterapia é um investimento pessoal que demanda tempo, uma vez que a sessão tem duração média de 50 minutos, além do tempo de deslocamento até o local. A Clínica em que foi realizada o estudo , trata-se de uma clínica escola com atendimento por sistema de taxas e através do SUS, com funcionamento somente no horário comercial. O atendimento pelo SUS requer encaminhamento através de uma consulta médica, além de marcação e liberação da guia, o que faz com que a pessoa após este tramite tenham que conciliar o seu horário com o da clínica e do terapeuta, o que nem sempre é possível, como se pode identificar nas falas acima, verifica-se que, tais desencontros estão ligados a rotina de trabalho, acadêmicas ou a forma de economizar tempo. Oliveira (1999), menciona o uso da modalidade de psicoterapia breve, em função da demanda dos pacientes, que muitas vezes buscam ajuda para problemas específicos, mas não têm condições ou motivação para se envolver num processo psicoterápico prolongado.

3.3 Tempo de experiência do terapeuta

A categoria refere-se ao posicionamento de alguns clientes frente ao terapeuta em formação que, em decorrência de não ter muito tempo de experiência enquanto psicoterapeuta, demonstram dúvidas quanto a sua capacidade de ajuda, enquanto profissional.

‘‘(...)Como me deparei com muitas questões pesadas para mim, eu procurei ir atrás de uma pessoa com um pouco mais de experiência. Também tem muito a questão da segurança, da dúvida, saber se a pessoa está preparada para dá o suporte que eu precisava... Achei que era carga para uma pessoa com mais experiência” (VALENTINA)

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‘‘(...) Conversando com minha psiquiatra, ela sugeriu que eu buscasse atendimento em outro lugar por que quem atende lá são os alunos, e que não tem muita experiência, né, isso contribuiu também pra eu desistir de lá”. (AURELUCE)

Ser atendido por profissionais em formação é uma característica inerente as clinicas escola. No entanto, evidencia- uma preocupação no que concerne à competência do terapeuta frente a determinadas demandas, por parte de alguns pacientes. Tal preocupação é justificada pela falta de experiências de terapeutas que estão ali exatamente para desenvolver a parte prática do curso, sob a supervisão de Psicólogos experientes. Embora haja correlação entre tempo de experiência e competência, não se pode afirmar que sejam sinônimos, considerando que competência está ligada a habilidades, conhecimentos teóricos e práticos, capacidades e atitudes.

Embora as pessoas que procuram o serviço saibam que irão ser atendidos por estudantes concludentes e, que toda a sessão é acompanhada e supervisionada por um professor experiente, os pacientes não conseguem perceber este fato e acaba sentindo-se inseguro ou exposto, fazendo-o desistir e procurar outros locais de atendimento.

3.4 Falta de motivação para o tratamento

A psicoterapia faz surgir sentimentos e emoções nem sempre fácies de lidar, principalmente se aliada a algum diagnóstico clínico. A falta de motivação para o tratamento pode surgir em decorrência de dificuldades para lidar com as questões que surgem durante o processo psicoterápico, de crises ou a questões do cotidiano.

‘‘(...). Eu faço acompanhamento com psicólogo há algum tempo, mas quando eu desisti, eu não sentia vontade de ir para a terapia, quanto mais tempo ficasse isolada, melhor achava.” (ELIZABETE)

A falta de motivação para continuar o tratamento é um fator que dificulta a continuação do mesmo. A presença de um diagnóstico ou co-morbidade psiquiátrica está associada ao abandono do tratamento, o que pode afetar a motivação do paciente para o trabalho psicoterápico, a capacidade do paciente em relacionar fatos e significados e a sua abertura para considerar novas interpretações apresentadas na situação do atendimento clínico. Em termos

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clínicos, os transtornos de personalidade em geral, os estados psicóticos e a ocorrência de ideação paranoide são os quadros com maior dificuldade de engajamento no processo terapêutico e os que apresentam mais risco de abandono (BUENO et al., 2001).

3.5 O revestimento acústico do consultório de Psicologia

Refere-se a estrutura física do local em que se realiza a psicoterapia e que é fundamental para que o sigilo do que é levados á psicoterapia.

‘‘(...)É só essa questão da escuta das salas isso ai é bem complicado, e isso eu acredito que dificulta um pouco, que é ruim. A acústica da sala, por que é um pouco até que constrangedor pra quem está dentro pra quem passa no corredor e percebe que de acordo com sua tonalidade de voz lá dentro dá pra escutar por fora”. (SOFIA)

‘‘(...)mas a estrutura física da sala dá pra ouvir quem está fora, então uma coisa que eu acho que deveria melhorar é essa questão da acústica da sala. (ELISA)

‘‘(...)A estrutura física peca um pouco, porque dá pra escutar as outras terapias... quando você tá, ai você se cala, ai você escuta o outro”. (VALENTINA)

A acústica dos consultórios foi um ponto mencionado como um fator comprometedor do sigilo da psicoterapia, uma vez que o que é falado no setting terapêutico pode ser ouvido no meio externo. Zaro et al (1980, p.12) Afirma que “As leis estaduais que regulam as profissões ligadas a saúde mental geralmente estabelecem algumas determinações a propósito da confidencialidade das informações reveladas nas horas da terapia”. A psicoterapia evidencia uma serie de sentimentos e emoções difíceis de ser expostos em outros ambientes, o que reforça a questão colocada pela participante acima.

3.6 Mudança sazonal de Terapeuta

Refere-se a mudança de terapeuta que ocorre periodicamente na clínica escola. O acadêmico de psicologia desenvolve a parte técnica de sua formação clínica nos últimos períodos do curso, o que implica em um recomeço para o cliente, a cada mudança.

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A clínica funciona em horário comercial e atende pela Sistema Único de Saúde (SUS), e pelo sistema de taxas. O atendimento pelo SUS requer um encaminhamento por meio de uma consulta médica na unidade Básica de Saúde da região de paciente, a liberação da guia e marcação da consulta na clínica. Pelo sistema de Taxas, o paciente realiza o cadastro na clínica, e paga uma taxa de valor fixo a cada atendimento. Passado esse tramite burocrático, o paciente passa por uma triagem, cujos objetivos são: realizar acolhimento inicial, investigar o motivo da consulta, realizar hipóteses diagnósticas iniciais e decidir sobre o encaminhamento, e então é atendido pelo estagiário, no início de sua prática clínica. O estágio Clinico inicia nos dois últimos períodos do curso e tem duração de um ano. É esse o momento em que o terapeuta em formação atua como psicoterapeuta, sob orientação e supervisão de um psicólogo experiente e onde ele desenvolve as habilidades necessárias a sua atuação profissional. O paciente é acompanhado durante um ano pelo mesmo estagiário e ao término deste, é preparado para continuar o tratamento com um outro estagiário, uma vez concluído seu estágio clínico.

‘‘(...) Existe uma mudança de tempo em tempo, né...Se a pessoa que te atendesse ficasse até o final do tratamento, seria bom, mas aí tem essa mudança, complica”. (AURELUCE)

‘‘(...) A saída dos terapeuta também é chato, você trocar de terapeuta, começar tudo de novo, ter que contar tudo de novo”. (ELISA)

A mudança Sazonal de Terapeuta é inerente ao processo de formação do acadêmico, o que pode dificultar que alguns clientes permaneçam a ser acompanhado pelo mesmo terapeuta até o fim do tratamento. Perfeito e Melo (2004), afirmam que a rotina das clínicas-escola é complexa e envolve diversos segmentos e atividades diferentes com objetivos também diferentes, embora interdependentes.

O paciente que inicia a sua terapia no início da prática do terapeuta terá cerca de um ano para realizar a sua psicoterapia, após este período há a mudança de terapeuta. Analisando os dados podemos verificar que a maioria dos pacientes permanecem um curto espeço de tempo de terapia, cuja permanência concentre-se entre uma sessão a três meses, o que nos mostra que o maior índice de desistência ocorre no início do tratamento.

Embora faça parte da dinâmica da instituição, a mudança de terapeuta se configura como um entrave a continuação do tratamento. Em estudos realizados por Lhullier et al. (citado por Benetti e Cunha,2008) foi identificado que em torno de 33% dos abandonos ocorrem por causa da mudança de terapeuta.

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3.7 A abordagem terapêutica

A psicologia é rica em teorias que foram desenvolvidas ao longo da história e que geraram abordagens com diferentes métodos terapêuticos. Essas abordagens psicoterapêuticas são fundamentadas em teorias e técnicas, sendo assim, uma junção que visa utilizar todos os métodos condizentes com suas bases teóricas e técnicas tentando alcançar o melhor êxito na compreensão do indivíduo para auxiliá-lo em sua busca.

A clínica escola em estudo disponibiliza aos pacientes atendimento nas seguintes abordagens: Terapia Cognitivo Comportamental, Psicanálise, Gestalt Terapia e Abordagem Centrada na Pessoa. A informação hoje é uma realidade do mundo atual, muitas pessoas procuram conhecer as abordagens sem no entanto ter conhecimento técnico, apenas através do que pesquisa na mídia, do que ouve falar sobre a abordagem por quem já fez acompanhamento psicoterapêutico.

No caso da pesquisa verifica-se que a maioria dos participantes (07) são alunos de psicologia que, pela dinâmica do curso são orientados a realizar psicoterapia para conhecerem o processo, estando alguns já no 7º bloco e pelo conhecimento teórico ou por preferência escolhem alguma linha. Não querer fazer psicoterapia no local em que estuda com colegas ou a possibilidade de encontrar o terapeuta pelo qual é acompanhado as dependências da faculdade, também são fatores que contribuem com a interrupção ao tratamento.

‘‘(...) Eu não gostei da abordagem, era uma que falava de aqui e agora... Já tinha feito antes na Psicanálise e gostei, mas como não me identifiquei com essa, desisti” (MORGANA)

‘‘(...) Não me dei bem com a abordagem, eu percebi que não tinha uma melhora assim rápido como outras abordagens poderia oferecer. Percebi que eu procurando outra abordagem em outro lugar, eu pudesse ter essa melhora, e foi o que ocorreu. (VALENTINA)

O que irá diferir geralmente, uma abordagem da outra é a base teórica que a sustenta e também as técnicas utilizadas pelo profissional de psicologia no atendimento ao seu cliente.

Embora se comprove a eficácia de diversas abordagens e métodos psicoterápicos, Hauck et al (2007) afirmam que há variações em resultados quando se leva em consideração características individuais do paciente, como tempo de doença, comorbidades, traços de

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personalidade, diagnóstico psiquiátrico, qualidade das relações de objeto, estado defensivo, entre outros.

4 CONCLUSÃO

O abandono do tratamento psicoterápico é uma realidade nas clinicas escola. Dentre os fatores relacionados a esta problemática, mediante os resultados obtidos constatou-se que, enquanto preditores do abandono ao tratamento psicoterapêutico, há fatores ligados a relação terapêutica, ao cliente e a dinâmica institucional.

Percebeu-se com relação a dinâmica institucional uma certa burocracia o que corrobora com a questão de tempo dispendido para início do tratamento psicológico, porém algumas demandas são imperativas e causam ansiedade, o que dificulta o retorno quando o paciente não é atendido. Além da parte burocrática, notou-se que fatores inerentes a contexto da clínica interferem na continuidade do tratamento, como a mudança de terapeuta, o que implica no reinicio do processo terapêutico, e a formação de uma nova aliança; a experiência do terapeuta que, embora seja acompanhado e supervisionado por psicólogos experientes, é mencionado como entrave em decorrência de está em formação.

No entanto, o objetivo da pratica clinica é formular as bases de conhecimentos e vivencias relativas ao efetivo atendimento psicoterapêutico de pessoas com dificuldades psicológicas, além de potencializar um contexto crucial na formação do psicoterapeuta, no desenvolvimento de competências, de postura ética, metodológica, teórica e prática.

Conhecer e lidar com preditores da interrupção do acompanhamento psicológico em clinica escola, se torna mais desafiante, a cada estudo realizado sobre o tema. Muitos são os fatores comuns ao estudos sobre a problemática e novos dados surgem a cada estudo. Ao analisarmos os dados podemos vislumbrar algumas estratégias como a busca ativa a pacientes desistentes. O contato face a face, tende mais a levar a uma decisão afirmativa e permite que se lide pessoalmente com quaisquer medos, preocupações ou mal-entendidos que possam surgir, e é também uma forma de investigar os motivos da desistência e evitar que se perca o contato com o paciente, em decorrência de possíveis desencontros, via outros meios; O isolamento acústico dos consultórios de Psicologia, como forma de garantir o sigilo referente ao que for levado à terapia; Análise dos casos de desistência por estagiários e coordenadores, como forma de identificar dados comuns entre os casos. Isso possibilitará a identificação das situações potencialmente associadas a um maior risco de abandono permite o desenvolvimento de ações preventivas tanto para o paciente como para o treinamento do profissional e A realização de

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mais pesquisa sobre o tema, com amostras maiores, pois facilita a comparação dos resultados com outros estudos realizados acerca da temática, pode complementar os resultados desse estudo, facilitando a compreensão dos entraves ligados ao abandono psicoterápico.

REFERÊNCIAS

BARDIN, L..Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70,2010

BENETTI, S.P. C .; CUNHA, T, R. S. Abandono de tratamento psicoterápico: implicações para a prática clínica. Arq. Bras. Psicol. [. Online]. Campinas, v.60, n.2, p.48-59. 2008

BRANDÃO et al. O Acolhimento no Contexto da Clínica-escola: uma Intervenção?. Revista de Psicologia . [online].v. 1,p.98-100.2013

BUENO, H. A.; et al. El abandono terapéutico. Actas Espain Psiquiatría, v. 29, n. 1, p. 33-40, 2001.

CEITLIN, L.H.F.; CORDIOLI, A.V. O início da psicoterapia. In: CORDIOLLI, A.V. (org.). Psicoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre: Artes Médicas. P. 99-108. 1998.

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GASTAUD, M. B. Abandono de tratamento na psicoterapia psicanalítica de crianças.72 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Psicologia PUCRS, Porto Alegre, 2008. Disponível em < https://psicologado.com/atuacao/psicologia-clinica/formacao-do-psicoterapeuta-lidando-com-o-abandono-de-psicoterapia> acesso em:12 de jan.de 2016.

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PERES, R, S., Aliança terapêutica em psicoterapia de orientação psicanalítica: aspectos teóricos e manejo clínico. Estudos de Psicologia. Campinas, vol. 26, n.3, p. 383-389,2009. Disponível em:< http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v26n3/v26n3a11.pdf> Acesso em 10 de jan. de 2016.

PERFEITO, H. C. C. S, & MELO, S. A. Evolução dos processos de triagem psicológica em uma clínica-escola. Estudos em Psicologia, v.21 n.1, p.33-42. 2004. Disponível em< http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v21n1/a03v21n1>. Acesso em 05 de Jan.de 2016.

ROGERS, C. Tornar-se pessoa. Ed.1, Lisboa: Padrões culturais.2010.

SILVARES, E. F. M. Atendimento Psicológico em Clínicas-escola. Campinas: Editora Alínea. 2006.

Referências

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