• Nenhum resultado encontrado

Cópias dos acórdãos do Tribunal da Relação de Lisboa e do Supremo Tribunal de Justiça proferidos no processo de registo de marca nacional n

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Cópias dos acórdãos do Tribunal da Relação de Lisboa e do Supremo Tribunal de Justiça proferidos no processo de registo de marca nacional n"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

Cópias dos acórdãos do Tribunal da Relação de Lisboa e do Supremo Tribunal de Justiça proferidos no processo de registo de marca nacional n.° 250 283. Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa:

I - Patrão Rosete, Sucrs., L.da, com sede no lugar e freguesia de Gatões, concelho de Montemor-o-Velho, titu- lar da marca nacional n.° 222 196, Gatões, destinada a

assinalar arroz, farinhas e preparações feitas com cereais, protegida por despacho de 27 de Abril de 1989 do director do Instituto da Propriedade Industrial, recorreu para o Tribunal Cível da Comarca de Lisboa - processo n.° 964,

1

.ª Secção, 4.° Juízo - do despacho proferido em 22 de Julho de 1991 pelo director do Instituto Nacional de Propriedade Industrial, publicado no Boletim da Proprie- dade Industrial, que concedeu protecção à marca nacional n.° 250 283, Arroz Três Gatos. cujo registo foi requerido pela recorrida Nunes & Nunes, Sucrs., L.da, para assinalar arroz, pedindo, a final, a revogação deste despacho e a consequente negação de protecção à marca nacional n.° 250 283.

Na sua resposta, defendeu a Direcção do Serviço de Marcas não haver confusão entre as duas marcas em causa, embora a conduta da recorrida, ao pedir uma marca inspirada na marca de uma concorrente vizinha, possa ser considerada, sem melhor explicação, como concorrência desleal.

A recorrida defendeu, por seu turno, na sua contestação, a confirmação daquele despacho e, em consequência, a marca nacional n.° 250 283, Arroz Três Gatos, definitiva- mente reconhecida e aprovada.

Juntou ainda a recorrida douto parecer jurídico (fls. 51 e segs.).

Pela douta sentença recorrida, proferida a tls. 156 e segs., foi o recurso julgado improcedente.

II-Inconformada com tal decisão, dela interpôs a recorrente Patrão Lopes, Sucrs., L.da, o presente recurso de apelação, pedindo a revogação da sentença recorrida e consequente recusa de registo à marca nacional n.° 250 283, Arroz Três Gatos.

Formulou para o efeito as seguintes conclusões: 1.ª A sentença recorrida violou o disposto nos arti- gos 93.°, n.° 12.°, e 94.° do Código da Propriedade Industrial; 2.ª Nos termos dos referidos artigos, deve ser recusado o registo de uma marca quando pela sua semelhança gráfica, figurativa, fonética e ideográfica contenha imitação de outra anteriormente registada para o mesmo produto ou produtos afins e que possa induzir em erro ou confusão o consumidor menos atento ou desprevenido;

3.ª A marca nacional n.° 250 283, Arroz Três Gatos, é formada pela expressão «Três Gatos» e por um conjunto central em que consta o desenho de três gatos;

4." A marca nacional n.° 222 196, Gatões, é constituída por um conjunto onde se realçam dois gatos;

5.ª Do exame comparativo ressalta a ideia inevitável de gatos, levando a que os consumidores, por uma associação de ideias, de gatos, confundam a origem das mesmas;

6.ª Atente-se que os titulares das marcas em questão estão sediados na mesma freguesia do concelho de Mon- temor-o-Velho, factor potencial para o agravamento das situações de confusão.

Não foram apresentadas contra-alegações.

Nesta Relação, o Ministério Público, por lhe parecer que a matéria fáctica, subjacente às asserções das alíneas a), b) e c) contidas na última parte da sentença recorrida (a fl. 162), não possui suporte probatório nos autos, suscitou a questão prévia de se poder «estar perante uma nulidade de sentença, face ao disposto na 2.ª parte da alínea d) do n.° 1 do artigo 668.° do Código de Processo Civil».

(2)

Colhidos os vistos legais, cumpre agora apreciar e decidir.

III - Estão provados os seguintes factos:

Por despacho de 22 de Julho de 1991, publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 7/91, foi concedida protecção à marca nacional n.° 250 283, Três Gatos, tendo desenhados dentro de um círculo três gatos, conforme consta a fl. 9 destes autos;

A recorrente já era titular da marca nacional n.° 222 196, Gatões, contendo desenhados dois gatos, como consta a fl. 10 v.° destes autos;

Ambas as marcas pertencem à classe 30.ª e se destinam a assinalar arroz;

E a marca nacional n.° 222 196, Gatões, publicada no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 12/83, destina-se também a assinalar farinhas e preparações feitas com cereais;

As titulares de ambas as marcas encontram-se sediadas na mesma localidade, isto é, em Gatões, Montemor-o- -Velho;

Dá-se aqui ainda por reproduzido todo o teor dos documentos de fl. 7 a fl. 12.

IV - Tendo os recursos por objecto as decisões recor- ridas, o seu âmbito determina-se, no entanto, pelas conclu- sões das alegações da respectiva recorrente - artigos 684.°, n.° 3, e 690.°, n.° 1, do Código de Processo Civil.

Constatando-se que a recorrente não fez qualquer alusão, nas suas alegações e respectivas conclusões, relativamente à matéria da douta sentença em que se julgou «não poder a recorrida ser acusada de estar a fazer concorrência desleal», a questão prévia, que foi suscitada pelo Ministério Público, não se mostra pertinente.

Toda essa matéria fáctica, subjacente à asserção das referidas alíneas a), b) e c) contidas na última parte da sentença recorrida (a fl. 162), apenas diz respeito à parte da sentença que julgou sobre a não existência de concor- rência desleal.

Como é jurisprudência pacífica, é nas conclusões da alegação que se fixam o âmbito e o objecto do recurso jurisdicional, que nelas pode ser restringido, expressa ou tacitamente, não tendo o tribunal a quem de conhecer de questões nelas não incluídas.

Assim, a única questão que verdadeiramente se impõe resolver, no presente recurso, é apenas a de saber se existe alguma imitação entre as duas marcas em causa: a marca nacional n.° 250 283, Três Gatos, e a marca nacional n.° 222 196, Gatões.

Encontramo-nos, como bem se entendeu na douta sen- tença recorrida, perante duas marcas mistas, qualquer delas constituída por um conjunto de sinais nominativos e figurativos.

Na marca recorrida (n.° 250 283), o elemento nomina- tivo é constituído pela expressão «Arroz Três Gatos» e o elemento figurativo é constituído pelas cabeças de três gatos desenhadas dentro de um círculo (cf. fl. 9).

Na marca recorrente (n.° 222 196), o elemento nomina- tivo é formado pela expressão «Gatões», sendo o elemento figurativo constituído pelas cabeças de dois gatos desenha- das dentro de um rectângulo (cf. fl. 10 v.°).

A configuração destas duas marcas, como resulta do seu confronto, quer em face do conjunto dos seus elementos

nominativos e figurativos, quer em face de cada um destes elementos, é distinta.

As expressões denominativas «Arroz Três Gatos» e «Gatões» não se confundem nem gráfica nem foneticamen- te. E os desenhos dos gatos são também diferentes.

Na marca recorrida (n.° 250 283), as três cabeças de gato são de tamanho reduzido, desenhadas por baixo da expres- são «Arroz Três Gatos» e por cima do nome da firma Nunes & Nunes, Sucrs., L.da

Na marca recorrente (n.° 222 196), as duas cabeças de gato são bastante maiores, enquadradas dentro de um mesmo rectângulo juntamente com a expressão «Gatões» e o nome da firma Patrão Rosete, Sucrs., L.da

Como vem sendo jurisprudência pacífica, são requisitos de imitação de marca, nos termos dos artigos 93.°, n.° 12.°, e 94.° do Código da Propriedade Industrial de 1940 (aplicável ex vi do disposto no artigo 6.° do Decreto-Lei n.° 16/95, de 24 de Janeiro): a) que as marcas imitada e imitante digam respeito ao mesmo produto ou a produtos semelhantes; b) ou que se destinem a objectos ou produtos inscritos no reportório sob o mesmo número ou sob números diferentes mas de afinidade manifesta; c) e que pela sua semelhança gráfica, figurativa ou fonética possam induzir facilmente em erro ou confusão o consumidor menos atento (cf. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 27 de Março de 1979, Boletim do Ministério da Justiça, n.° 285, p. 352).

Assim, tendo a marca recorrente sido registada em primeiro lugar e ambas se destinando a assinalar o mesmo produto, seria necessário ainda, para haver imitação, que as mesmas marcas tivessem uma tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética que induzisse facilmente o consumi- dor em erro ou confusão, ou que houvesse um risco de associação entre elas de tal forma que o consumidor as não pudesse distinguir senão depois de exame atento ou con- fronto.

Como ensina o Prof. Ferrer Correia, a imitação de uma marca por outra existirá quando, postas em confronto, elas se confundam e ainda quando, tendo-se à vista apenas a marca a constituir, se deva concluir que ela é susceptível de ser tomada por outra de que se tenha conhecimento, devendo, no exame comparativo feito nestes termos, con- siderar-se decisivo o juízo que emitiria o consumidor médio do produto ou produtos em questão (Lições de Direito Comercial, vol. 1, 1965, p. 347).

Como bem se entendeu na 1.ª instância, achamos tam- bém que o consumidor médio do produto - arroz -, fazendo, por este processo de aferição da novidade ou de especialidade da marca, o exame comparativo das duas marcas em causa, as não confundirá.

O facto de ambas as marcas conterem gatos desenhados é a única semelhança existente entre elas, mas isso não é, só por si, suficiente para serem consideradas confundíveis. Na verdade, enquanto uma tem o desenho de dois gatos a outra tem o desenho de três e em cada uma delas o seu tamanho e disposição são diferentes. A maneira como os gatos estão representados não permite que haja confusão entre as duas marcas.

Depois, tratando-se, como se trata, de marcas mistas, cada uma delas tem de ser considerada globalmente. E, relativamente ao seu elemento figurativo, apenas se deve

(3)

atender à forma de representação e não ao conteúdo ideológico ou objectivo dos sinais, isto é, àquilo que nestes se representa.

Pois, como também refere o Prof. Ferrer Correia, «pode- rão duas ou mais marcas conter os mesmos elementos desde que, pela forma diversa como sejam representados, se exclua a possibilidade de confusão» (ob. cit., pp. 348-349).

Assim, não assiste qualquer razão à recorrente quando conclui que, por uma associação de ideias, de gatos, se confunde a origem das marcas em causa.

Na verdade, cada uma dessas marcas se apresenta com a sua função distintiva do produto, em ordem à correcta indicação da sua proveniência, não havendo, pois, confusão entre elas.

Pelo que, não tendo sido violadas as disposições legais referidas pela recorrente, têm de improceder as conclusões da sua alegação.

V - Decisão:

Nestes termos, e por tudo o exposto, acorda-se, nesta Relação, em julgar improcedente a apelação, confirmando- -se a sentença recorrida.

Custas pela apelante.

Lisboa, 23 de Abril de 1996. - (Assinaturas ilegíveis.)

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:

Patrão Rosete, Sucessores, L.da, recorreu do despacho de 22 de Julho de 1991 do director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial que concedeu protecção à marca nacional com o n.° 250 283, para assinalar arroz, a favor de Nunes e Nunes, Sucessores, L.da, já que a recorrente é titular da marca nacional com o n.° 226 196, destinada a assinalar arroz, farinhas e preparações feitas com cereais, anterior, e que a da recorrente imita. O Instituto respondeu nos termos do artigo 206.° do Código da Propriedade Industrial de 1940.

A Nunes contestou pugnando pela absolvição do pedido. O 4.° Juízo do Tribunal Cível da Comarca de Lisboa, por douta sentença de 10 de Janeiro de 1994, negou provimento ao recurso.

A Rosete apelou, mas o Tribunal da Relação de Lisboa, por douto Acórdão de 23 de Abril de 1996, confirmou a sentença.

Ainda inconformada, a Rosete pede revista mediante a qual pretende a revogação do acórdão recorrido, bem como da sentença por ele confirmada, e a recusa da marca requerida pela Nunes.

Para tanto, a Rosete ofereceu douta alegação que remata com as seguintes conclusões:

1 - Considera-se que uma marca é imitação de outra, registada anteriormente para os mesmos produtos, quando tenha tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética, que induza facilmente em erro ou confusão, ou que compreenda um risco de associação de forma que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame atento ou confronto.

2 - O acórdão recorrido fez uma errada interpretação na aplicação da lei.

3 - Muito embora, na questão da imitação de uma marca por outra, se deva ter uma visão do conjunto das marcas, há, contudo, que averiguar se do conjunto sobressai ou não um elemento prevalecente e que seja o mais idóneo a identificar as marcas.

4 - Nas marcas em questão - a marca n.° 226 196, Gatões, e a marca sub judice n.° 250 283, Três Gatos - há um elemento que pela sua preponderância, e destaque, prevalece sobre o conjunto e é o mais idóneo a identificar as marcas.

5 - Esse elemento consiste na figura de gatos. 6 - Não deixa de ser um facto a ter também em conta que a própria denominação das marcas ou, como se queira, a parte nominativa das marcas é constituída pelas expres- sões «Gatões» e «Três Gatos», o que traduz o sentido ideológico ou sugestivo das marcas.

7 - Daí que a globalidade dos elementos que formam as marcas e a existência em ambas de um elemento em lugar de destaque e, por isso, mais idóneo a identificá-las é suficiente para se concluir pela possibilidade de confusão por parte do consumidor.

8 - Mesmo que o consumidor as não confunda, a marca n.° 250 283, Três Gatos, contém todos os elementos sus- ceptíveis de criar no seu espírito um risco de associação com a marca n.° 226 196, Gatões, da recorrente.

9 - Isto é, as marcas tomadas no seu conjunto apresen- tam tais semelhanças visuais e conceptuais que o consu- midor, normalmente pouco atento, as associará, pensando estar perante duas marcas com a mesma origem.

1 0 - A recorrente considera que o douto acórdão recorrido violou os artigos 93.°, n.° 12.°, e 94.° do Código da Propriedade Industrial de 1940 [correspondentes aos artigos 189.°, n.° 1.°, alínea m), e 193.°, n.° 1.°, do Código da Propriedade Industrial de 1995].

A recorrida não alegou validamente. O recurso merece conhecimento. Vejamos se merece provimento.

No douto acórdão recorrido julgou-se provada a seguinte matéria:

1 -Por despacho de 22 de Julho de 1991, publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 7/91, foi conce- dida protecção à marca nacional n.° 250 283, Três Gatos, tendo desenhados dentro de um círculo três gatos, confor- me consta a fl. 9 destes autos;

2 - A recorrente já era titular da marca nacional n.° 222 196, Gatões, contendo desenhados dois gatos, como consta a fl. 10 v.° destes autos;

3 - Ambas as marcas pertencem à classe 30.ª e se destinam a assinalar arroz:

4 - E a marca nacional n.° 222 196, Gatões, publicada no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 12/83, destina-se também a assinalar farinhas e preparações feitas com cereais; 5 - As titulares de ambas as marcas encontram-se sediadas na mesma localidade, isto é, em Gatões, Monte- mor-o-Velho;

6 - Na marca recorrida (n.° 250 283), o elemento no- minativo é constituído pela expressão «Arroz Três Gatos» e o elemento figurativo é constituído pelas cabeças de três gatos desenhadas dentro de um círculo (cf. fl. 9);

7 - N a marca recorrente (n.° 222 196), o elemento nominativo é formado pela expressão «Gatões», sendo o

(4)

elemento figurativo constituído pelas cabeças de dois gatos desenhadas dentro de um rectângulo (cf. fl. 10 v.°);

8 - Nas duas marcas os desenhos dos gatos são dife- rentes;

9 - Na marca recorrida (n.° 250 283), as três cabeças de gato são de tamanho reduzido, por baixo da expressão «Arroz Três Gatos» e por cima do nome da firma «Nunes & Nunes, Sucrs., L.da»;

10 - Na marca recorrente (n.° 222 196), as duas cabe- ças de gato são bastante maiores, enquadradas dentro de um mesmo rectângulo juntamente com a expressão «Ga- tões» e o nome da firma Patrão Rosete, Sucrs., L.da;

11 - E m cada uma das marcas é diferente a disposição das cabeças dos gatos.

A marca pode ser constituída por um sinal ou conjunto de sinais nominativos, figurativos ou emblemáticos que, aplicados por qualquer forma num produto ou no seu invólucro, o façam distinguir dos outros idênticos ou semelhantes - artigo 79.° do Código da Propriedade In- dustrial de 1940.

Será recusado o registo das marcas que contrariem o disposto nos artigos 76.° a 79.° e seus parágrafos ou que, em todos ou alguns dos seus elementos, contenham repro- dução ou imitação total ou parcial de marca anteriormente registada por outrem para o mesmo produto ou produto semelhante, que possa induzir em erro ou confusão no mercado - artigo 93.°, n.° 12.°, do Código da Propriedade Industrial.

Considera-se imitada ou usurpada, no todo ou em parte, a marca destinada a objectos ou produtos inscritos no reportório sob o mesmo número, ou sob números diferentes mas de afinidade manifesta, que tenha tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética com outra já registada que induza facilmente em erro ou confusão o consumidor, não podendo este distinguir as duas senão depois de exame atento ou confronto - artigo 94.° do Código da Proprieda- de Industrial.

Na concorrência entre produtos, a marca é o sinal que permite ao consumidor distinguir os vários produtos postos à sua disposição.

A primeira das funções da marca é a distintiva. Para que esta função seja exercida exige-se que cada uma das marcas seja nova em relação às anteriores. Só a novidade permite que a marca tenha ou exerça eficácia ou função distintiva.

O que releva é a apreciação da marca no seu todo, no conjunto; a consideração de cada elemento de per si pode ter interesse em ordem a tirar a conclusão, mas sempre sem perder de vista que o horizonte a considerar é o conjunto; e sendo o apreciar de cada uma das partes apenas um método de trabalho.

Há que ter, sobretudo, em atenção as semelhanças entre as marcas em confronto por serem estas o que é susceptível de gerar a confusão e o erro; e não as eventuais diferenças de pormenor, sem significado.

Há que captar aquilo que, em cada uma das marcas em confronto, constitua o preponderante, o significante, de entre os vários sinais (nominativos, figurativos ou emble- máticos) que as integrem. É o elemento preponderante (ou são os elementos preponderantes) como que a sílaba tónica de uma palavra, aquele (ou aqueles) que é retido na

memória do consumidor e que, assim, adquire verdadeira eficácia distintiva.

Por outro lado, o agente em relação ao qual a eficácia distintiva deve actuar é o consumidor vulgar, pessoa que se concebe distraída e desinformada. É significativo que o artigo 94.°, § único, do Código da Propriedade Industrial de 1940, embora em especial para a marca figurativa se refira a «pessoa analfabeta» como modo de caracterizar o con- sumidor médio.

Tal agente não é, pois, o técnico do sector em que o produto se integra, o perito, o especialista. Não é, sequer, o homem culto. É o homem vulgar, aquele que apressa- damente passa com os olhos pelas prateleiras de um supermercado à procura dos produtos de que necessita. O julgador tem, por isso, que vestir a pele desse consumi- dor em ordem a decidir se as duas marcas em confronto possuem a falada eficácia distintiva.

Quando o legislador fala na possibilidade de erro ou confusão tem em mente a observação de cada um dos produtos assinalados com as marcas em concorrência de per si, separadamente.

Não é confronto tendo as duas marcas lado a lado que releva; pelo contrário, é a hipótese de confusão quando só se tenha perante os olhos um dos produtos e caiba confrontá-lo com o que na memória ficou retido acerca do outro.

Mas há também que ter em conta o disposto no § 1 ° do artigo 79.° do Código da Propriedade Industrial de 1940: Não satisfazem às condições deste artigo as marcas exclusivamente compostas de sinais ou indicações que possam servir no comércio para designar [...] e lugar de origem dos produtos [...]

Na verdade, o sinal que consista exclusivamente no nome do lugar (que tanto pode ser uma povoação como uma região) de origem do produto que assinale não o identifica em termos de o individualizar em relação a outros produtos provenientes do mesmo lugar. Assim, tal sinal carece de eficácia distintiva, a qual, como se apontou, é a primeira das funções da marca.

Por isto, sinais daquela espécie são considerados francos no sentido de que a sua integração em determinada marca não dá ao respectivo titular o direito de só ele os usar. Isso não pode ser consentido, face ao princípio da liberdade de concorrência.

O que acaba de apontar-se tem duas consequências. A primeira é esta: a composição de uma marca com a indicação do lugar de origem do produto assinalado (em conjunto com outros sinais) não impede que, posteriormen- te, se constitua outra marca na qual se integre (em conjunto com outros sinais que tenham eficácia distintiva em relação aos outros sinais da primeira) o mesmo lugar de origem. A segunda é esta: no cotejo entre duas marcas, uma primeira que já obteve o registo e na qual se inclua um lugar de origem do produto e uma segunda que requeira o registo, há que prescindir daquela indicação de origem. Assim, para assinalar laranjas, uma marca não pode ser constituída pelas palavras «Laranja do Algarve» por se tratar de expressão que designa exclusivamente a espécie e a região de origem do produto.

(5)

Mas a marca já poderá ser «Laranja Mimosa do Algar- ve», uma vez que nesta expressão se encontra um elemento nominativo com eficácia distintiva (a palavra «mimosa»). O registo desta marca não impede que venha a ser registada outra marca constituída pela expressão «Laranja Flor do Algarve».

Isto porque no cotejo das duas marcas há que prescindir das indicações que designam a espécie (laranja) e a região de origem (Algarve), procedendo-se à comparação apenas entre as palavras «mimosa» e «flor».

Passando agora à espécie submetida a julgamento, verifica-se que a marca da recorrente é composta, além do mais, também por um sinal, nominativo, que identifica o lugar de origem do produto: a palavra «Gatões», que é a sede da recorrente (e também da recorrida).

Trata-se de localidade do concelho de Montemor-o- -Velho, que é uma região produtora de arroz, um dos produtos que a marca da recorrente assinala.

Por isto, no cotejo entre duas marcas há que prescindir da palavra «Gatões» da marca da recorrente (tal como se prescinde da palavra «Arroz» da marca da recorrida por ser a designação da espécie do produto assinalado).

O cotejo tem de ser feito tendo em atenção apenas os restantes sinais da marca da recorrente, comparando-as com os restantes sinais da marca da recorrida.

Na verdade, a palavra «gatos», que é um dos elementos da marca da recorrida, não é designação do lugar de origem do produto que assinala (ainda que o possa sugerir).

Ora, o que resulta da factualidade provada como elemen- to preponderante, aquele que fica retido na memória de um consumidor vulgar, homem comum, é o elemento figura- tivo de ambas as marcas.

Este elemento figurativo é a representação das cabeças de mais de um gato.

Resulta que o homem médio, comum, que tenha retido na memória este núcleo de uma das marcas o não distin- guirá da outra que, mais tarde, lhe apareça desacompanhada da primeira.

Quer isto dizer que a marca levada a registo em segundo lugar não apresenta, à luz dos apontados critérios legais, tal como ficaram interpretados, eficácia distintiva em relação à marca registada anteriormente.

A subsistência das duas marcas pode facilmente induzir o consumidor em erro ou confusão. Para que o consumidor possa distinguir uma das marcas em causa da outra é necessário que tenha as duas na sua frente e que as compare com atenção, procurando encontrar as dissemelhanças entre ambas, precisamente como se fez no douto acórdão recor- rido.

Não é a este juízo comparativo, atento, com as duas marcas em presença, feito por pessoas sagazes como são os juízes, que a lei manda atender.

Neste caso, o que releva é o julgamento do homem comum, distraído e desinformado que compare o que tem na frente com o que reteve na memória.

Conclui-se, destarte, que deve ser recusado à Nunes protecção à marca nacional n.° 250 283, para assinalar arroz, em obediência ao disposto nos artigos 93.°, n.° 12.°, e 94.° do Código da Propriedade Industrial de 1940, disposições legais estas que foram violadas no douto acórdão recorrido.

Pelo exposto, acordam no Supremo Tribunal de Justiça em, concedendo a revista, recusar à recorrida o registo da marca nacional n.° 250 283, designada por Arroz Três Gatos ou Três Gatos, para assinalar arroz, revogando-se o despacho de 22 de Julho de 1991 do director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial, publicado no Boletim da Propriedade Industrial, n.° 7/91, que lhe concedeu protecção.

Custas pela recorrida Nunes, incluindo as das instâncias. Lisboa, 10 de Julho de 1997. -Agostinho Manuel Pontes de Sousa Inês. - Ilídio Gaspar Nascimento Cos- ta. - José Pereira da Graça. - Manuel José de Almeida e Silva. - Joaquim Lúcio Faria Teixeira.

Declaração de voto

Uma marca necessita de ter carácter distintivo. Não o tem uma marca constituída só por indicações que inculquem o lugar de origem dos produtos - artigo 79.°, § 1.°, do Código da Propriedade Industrial de 1940, hoje artigo 166.°, n.° 1.°, alínea b), do Código da Propriedade Industrial, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 16/95, de 24 de Janeiro.

Prescreve o n.° 2.° daquele artigo 166.°:

Os elementos genéricos referidos nas alíneas b) e c) do número anterior que entrem na composição de uma marca não serão considerados de uso exclu- sivo do requerente, excepto quando na prática co- mercial os sinais tiverem adquirido eficácia distin- tiva.

J. Gabriel Pinto Coelho (1) assinalou já que as indicações de proveniência dos produtos não serviam para a compo- sição das marcas.

Tais indicações servem só para assinalar a região de onde provém o produto, não tendo natureza de sinal distintivo.

Ora, a protecção da marca só abrange os elementos distintivos, como escreveu Carlos Olavo (2).

Isto em princípio - viu-se já o actual n.° 2.° do arti- go 166.°

Nada tenho a opor à doutrina geral aceite no acórdão, que apenas peca a meu ver, e ressalvado o devido respeito, por não ter considerado o aspecto focado supra.

Ambas as empresas são de Gatões (Montemor-o-Velho), conhecido centro produtor de arroz.

A palavra «gato» e respectivo desenho relaciónam-se pois com a localização da produção (Gatões), têm sentido geográfico, como é evidente.

Não me parece que qualquer dos produtores possa apropriar-se do símbolo «gato», que em Gatões será um vocábulo e um símbolo do domínio público.

(1) Lições de Direito Comercial, 1957, 1.° vol., pp. 342, 356 e 357. (2) Col. de Jur., ano XII, t. 2, pp. 23 e 24.

(6)

É natural e aceitável que ambos pretendam relacionar os seus produtos com a terra de onde são originários, usando por isso o símbolo «gato» nas suas marcas.

M a s não poderão exigir o exclusivo nessa parte. Vistas as marcas (palavras e desenho), não me parece que haja perigo de confusão.

Votei pela negação da revista. -Ilídio Gaspar Nasci- mento Costa.

Referências

Documentos relacionados

Para tal, iremos: a Mapear e descrever as identidades de gênero que emergem entre os estudantes da graduação de Letras Língua Portuguesa, campus I; b Selecionar, entre esses

Entende-se que os objetivos desta pesquisa foram alcançados, uma vez que a medida de polaridade conseguiu captar espaços com maiores potenciais de copresença (espaços

No código abaixo, foi atribuída a string “power” à variável do tipo string my_probe, que será usada como sonda para busca na string atribuída à variável my_string.. O

Dos docentes respondentes, 62,5% conhe- cem e se sentem atendidos pelo plano de carreira docente e pelo programa de capacitação docente da instituição (que oferece bolsas de

As questões acima foram a motivação para o desenvolvimento deste artigo, orientar o desenvol- vedor sobre o impacto que as cores podem causar no layout do aplicativo,

As análises serão aplicadas em chapas de aços de alta resistência (22MnB5) de 1 mm de espessura e não esperados são a realização de um mapeamento do processo

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo realizar testes de tração mecânica e de trilhamento elétrico nos dois polímeros mais utilizados na impressão