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A COMPANHIA DE JESUS E A UNIVERSIDADE DE ÉVORA NO CONTEXTO RELIGIOSO DE PORTUGAL NO SÉCULO XVI

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CONTEXTO RELIGIOSO DE PORTUGAL NO SÉCULO XVI

BORTOLOSSI, Cíntia Mara Bogo1 - UEM COSTA, Célio Juvenal2 - UEM Grupo de Trabalho – História da Educação Agência Financiadora: Capes Resumo

Neste trabalho apresentamos parte da pesquisa realizada no curso de graduação em pedagogia, na qual buscamos analisar a presença jesuíta no processo de edificação da Universidade de Évora, em Portugal. Tal universidade foi inaugurada oficialmente em 1559 e desde o início foi ligada à Companhia de Jesus. Seu objetivo inicial era a formação de teólogos, e, com isso, ela constitui-se em um espaço de propagação missionária, pois dela estudantes e professores jesuítas saíram para missões no Brasil, África e no Oriente. A fundação da Universidade de Évora está diretamente ligada ao contexto religioso presente em Portugal no século XVI, representando a força política, social e educacional que teve a Companhia de Jesus em terras lusitanas. Procuramos mostrar, também, que o religioso estava presente em diversos setores da sociedade portuguesa e não só naqueles especificamente clericais. A própria Companhia de Jesus – ordem religiosa que se concretiza em 1534 por Inácio de Loyola - é resultado desse contexto. Ela nasce em um momento de intenso movimento protestante que desafiava a Igreja dominante no Ocidente. Juntamente, a própria Igreja Católica estava passando por um processo de mudança, com pensamentos de reformulação e reforma. A Companhia de Jesus é criada, portanto, com o objetivo missionário de espalhar a fé cristã, não sendo previsto, de início, que fosse uma ordem religiosa consagrada ao ensino, o mesmo foi incluso posteriormente. As missões e a educação passaram a caracterizar os jesuítas principalmente após se estabelecerem em Portugal, a partir de 1540, após o convite do rei D. João III (1521-1557).

Palavras-chave: Companhia de Jesus. História da Educação. Portugal. Século XVI.; Universidade de Évora.

1 Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Maringá. Participa do Laboratório de Estudos do

Império Português (LEIP). E-mail: cintia_bortolossi@hotmail.com

2 Doutor em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba. Docente do departamento de Fundamentos da

Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá. Participa do grupo de pesquisa interinstitucional Educação, Cultura e História: Brasil, séculos XVI, XVII e XVIII (DEHSCUBRA) e é líder do Laboratório de Estudos do Império Português (LEIP) da Universidade Estadual de Maringá. E-mail: celio_costa@terra.com.br

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Introdução

Na história de Portugal no século XVI se destaca as ações da Companhia de Jesus em prol da propagação da fé cristã, em um momento de restruturação da Igreja Católica. A Companhia de Jesus é uma ordem religiosa que se concretiza em 1534, por iniciativa de Inácio de Loyola, em Paris, sendo constituída por um grupo de estudantes - tais como Simão Rodrigues - dos quais se preparavam para realizar um trabalho missionário na Palestina. Aos poucos a Companhia de Jesus foi se adentrando em Portugal, principalmente durante o reinado de D. João III – o monarca benfeitor da Companhia. Foi em Portugal onde mais prosperou a nova ordem, tendo crescido de tal forma, que foi preciso abraçar institutos, casas e colégios, onde se formavam e exerciam os ministérios da profissão.

A Universidade de Évora, entregue desde o início aos cuidados dos jesuítas, foi a segunda a ser fundada em Portugal, em 1559, sendo a primeira a de Coimbra, de 1290. Uma das justificativas do Cardeal D. Henrique3, ao solicitar a permissão da edificação da instituição, estava justamente na distância entre as duas cidades portuguesas. Ao estudar a história da edificação da Universidade de Évora, verificamos a contribuição jesuítica para a expansão do campo educacional de Portugal.

Estudar as instituições educativas, em especial a Universidade de Évora, é de suma importância para a nossa formação acadêmica, pois é por meio dela que podemos identificar as ideias pedagógicas presentes no período. Assim, estudar a história da educação enriquece a formação pedagógica, isto porque o que ocorreu está relacionado ao contexto atual da educação. Estudar História da Educação é poder compreender o processo histórico da mesma, percebendo seu contexto em diferentes períodos históricos, a fim de poder identificar o reflexo do passado na educação nos dias atuais.

O resultado da pesquisa realizada no curso de graduação em Pedagogia foi estruturado em quatro capítulos. Entretanto, este trabalho será baseado nos resultados dos dois primeiros capítulos, sendo que o primeiro objetivou a descrição de alguns aspectos do contexto de Portugal no século XVI, dentre eles, a criação da Universidade de Évora, e, no segundo capítulo, apresentou-se uma breve história da Companhia de Jesus. Nossa ideia foi mostrar ao leitor que a nova ordem foi criada em um contexto de reforma da Igreja Católica, com objetivos que foram se modificando ao longo do século XVI.

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Apresentamos neste trabalho o quanto o viver em sociedade no Portugal do século XVI baseava-se em conceitos da religiosidade cristã, sendo partilhada por todos. Ser português no século XVI era ser cristão, mais especificamente, era ser católico. Quando dizemos que a sociedade portuguesa era religiosa, não estamos afirmando no sentido de prática da religião, mas, sim, de uma cultura religiosa presente no cotidiano das pessoas. É nesse contexto que temos a Companhia de Jesus4, uma ordem nova que vem a serviço e obediência do papa, em um momento de reformas da Igreja Romana.

Desenvolvimento

Segundo Paiva (2012), a sociedade portuguesa de quinhentos se enxergava religiosamente e desta forma viviam o seu dia a dia. Para o autor, a melhor forma de se entender a sociedade portuguesa no século XVI é por meio do religioso, isso porque a religiosidade está relacionada à forma de ser e de viver no mundo. Podemos afirmar que tudo era realizado usando-se como justificativa a religião. O religioso estava presente em diversos setores da sociedade portuguesa, marcando, com fortes tintas, o contexto da época.

Em uma aparência imediata, a realidade se põe como religiosa, com Deus ocupando lugar central. Rei, Governador, capitães, juízes, oficiais mecânicos, padres, povo, todos justificam sua ação pele referência a Deus. As relações sociais parecem se moldar por esta, produzindo valores, modelos de comportamento, modelos de instituições, organização social. (PAIVA, 2012, p. 23)

O que não podemos fazer é aplicar conceitos contemporâneos à sociedade da época, pois corremos o risco de não nos aproximarmos da compreensão que eles tinham de sua própria realidade. Importante salientar que esta mentalidade religiosa presente na sociedade lusitana do século XVI, foi sendo construída ao longo dos séculos anteriores. Como cita Paiva (2012, p. 24), esses marcos teológicos cristãos presentes na sociedade portuguesa, foram sedimentados ao longo de pelo menos 13 séculos, pois a realidade era compreendida religiosamente, com os homens vivendo para Deus e este participando da vida dos homens.

No mesmo período a Igreja hegemônica sofre um processo de remodelação profunda. Essa situação deveu-se essencialmente a atuação da Coroa e da própria Igreja, sobretudo com

4 No momento do nascimento da Companhia de Jesus temos outras ordens já consolidadas, tais como

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o Concílio de Trento5. Ocorre uma crise religiosa que afeta praticamente toda a Europa em fins da Idade Média, com Portugal inserido nesse contexto. Dias (1960, p. 39) mostra que nos “princípios do segundo quartel do século XVI, havia em Portugal uma verdadeira chusma de tonsurados. Os privilégios do clero como classe social eram um atractivo permanente para os que viam no sacerdócio apenas uma solução para a vida”

Tinha-se, portanto, certa ambição quanto a cargos e benefícios eclesiásticos tornando-o quase um ctornando-omércitornando-o simtornando-oníactornando-o (simbtornando-olicamente, entre tornando-o céu e a terra). Desta ftornando-orma, a vida de muitos membros do alto clero estava longe de ser exemplo aos fiéis, e estava longe do ideal apostólico que se desejava. Segundo Dias (1960), o problema maior estava no próprio recrutamento, que era feito sem cuidados especiais, muitas vezes não regulando por motivos religiosos, sendo feitas considerações por influência de poder. Conforme o autor, os hábitos do clero não se diferenciavam dos leigos, a oração não fazia mais parte de sua rotina, tudo era realizado pelo interesse do lucro que os sacramentos ofereciam.6

Em virtude desta situação, tem-se o despertar de pensamentos sobre renovação e reforma. Uma das alternativas foi o estabelecimento de colégios universitários, que tinham como objetivo o combate a esta ignorância presente no clero e na sociedade como um todo. Para Dias (1960), a própria publicação das Constituições7 era um indício de que as mentalidades começavam a mudar. “Símbolo de mudança da reforma monástica, já no Portugal quinhentista, seria a Companhia de Jesus, pelos seus objetivos, características e organização (DIAS, 1960)”. Com base em uma sólida preparação – oito anos de estudos, após o noviciado – os jesuítas tinham como objetivos principais a pregação, os exercícios espirituais, as obras de piedade e beneficência e a ação pedagógica, entendida não só como instrução religiosa da juventude, como também toda uma pedagogia voltada para uma vivência cristã plena por meio da frequência de sacramentos e da conversão dos infiéis.

Os jesuítas eram vistos como os soldados da Igreja e, para esse fim, Inácio de Loyola escreve “Os Exercícios Espirituais”, antes mesmo da fundação da Companhia de Jesus, com

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O Concílio de Trento foi um encontro oficial da Igreja Católica no século XVI. Foi convocado pelo Papa Paulo III com o objetivo de discutir as questões que permeavam a religião católica naquele momento. (COSTA, 2004, P.212)

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Segundo Dias (1960), a situação na sociedade laica não era diferente. Eram frequentes os casos de bigamia, uniões ilícitas e casamentos nulos. Desprezavam-se os sacramentos e atos cultos da Igreja.

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Sobre as Constituições da Companhia de Jesus, vale lembrar que são normas e regras para o funcionamento da mesma. Entretanto, conforme Rodrigues (1931), se destaca o exercício do ministério sagrado, a educação da juventude e a evangelização dos povos infiéis.

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técnicas de conversão e de espiritualidade. Segundo Costa (2004), os Exercícios foram o principal recurso usado na formação da espiritualidade do futuro jesuíta.

Por este nome, exercícios espirituais, entende-se todo o modo de examinar a consciência, de meditar, de contemplar, de orar vocal e mentalmente, e de outras operações espirituais [...] Porque, assim como passear, caminhar e correr são exercícios corporais, da mesma maneira todo o modo de preparar e dispor a alma, para tirar de si todas as afeições desordenadas e, depois de tiradas, buscar e achar a vontade divina na disposição da sua vida para a salvação da alma se chamam exercícios espirituais. (EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS, 1985, p. 12)

Se o que dá os exercícios vê que o que os recebe está desolado e tentado, não se mostre com ele duro nem desabrido, mas brando e suave. Dando-lhe ânimo e forças para ir adiante, descobrindo-lhe as astúcias do inimigo da natureza humana, e fazendo-o preparar e dispor para a consolação que há de vir. (EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS, 1985, p. 14)

Percebe-se assim, que se trata de algo a ser lido e praticado no dia a dia, objetivando um contato íntimo com Deus.

Segundo Costa (2004), a Companhia de Jesus faz parte de um movimento interno da Igreja Católica no qual se desenvolveu a ideia da necessidade de uma reforma interna. Ela deve ser entendida, portanto, também no contexto de Reforma da Igreja.

Devido, sobretudo, à iniciativa de D. João III (1521-1557), a Companhia estabelece-se em Portugal a partir de 1540, com a vinda de dois companheiros de Santo Inácio, os padres Simão Rodrigues de Azevedo (1510-1579) e Francisco Xavier (1506-1552), a fim de desenvolverem atividades missionárias na Índia. Logo de início os jesuítas se evidenciaram e conquistaram o povo português pela virtude, disciplina rígida e pela piedade convertida em ação. Percebe-se que a atuação da Companhia de Jesus foi fundamental para a sociedade portuguesa no século XVI. “A situação era caracterizada como uma crise moral.” (DIAS, 1960). As regras eram desprezadas tanto pela sociedade laica como a religiosa. Era preciso assim o despertar de uma nova mentalidade na sociedade como um todo.

A Companhia de Jesus é uma ordem religiosa que se concretiza em 1534 por Inácio de Loyola em Paris. Seu lema foi, desde o princípio, fazer as coisas Ad Majoram Dei Gloriam-para a maior glória de Deus. Segundo Jesus Maria Sousa (2003), foi por meio da bula

Regimini militantes Ecclesiae de Paulo III, de 27 de Setembro de 1540, que se confirma

publicamente a existência jurídica da Companhia.

De acordo com Costa (2004), a história da Companhia de Jesus é também a história da modernidade, da qual precisa ser sentida conforme o contexto da época – incluem-se,

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portanto, seus conceitos e preconceitos, valores e desvalores, virtudes e vícios inseridos no contexto da época. Assim, “qualquer julgamento a posteriori que se faça daqueles padres imbuído dos padrões valorativos da atualidade, é desmantelar a própria história, deixando vazar, por entre as mãos, uma boa oportunidade de tê-la como professora”. (COSTA, 2004, p. 15)

Inácio de Loyola assume oficialmente a condução da ordem em 22 de abril de 1541. Conforme Costa (2004), diferentemente de quase todas as ordens religiosas do período, os jesuítas, desde o início, faziam além dos três votos normais característicos dos religiosos – de pobreza, caridade e obediência –, um quarto voto, de obediência irrestrita ao Papa, colocando-se sob suas ordens, em casos de missões.

Importante salientar o momento do nascimento da Companhia de Jesus. No século XVI tem-se um intenso movimento protestante que desafiava a igreja hegemônica no Ocidente. As contradições foram se multiplicando ao longo do século. Desta forma, como cita Manso (2009, p.35): “a Igreja Romana perde espaço físico, político e populações consideráveis para o protestantismo”.

Desta forma, é nesse ambiente de divisão e afrontamentos que se inicia uma reforma e renovação da Igreja romana, sendo a Companhia de Jesus um elemento crucial e fundamental.

Diferente das Ordens tradicionais e dos movimentos mendicantes, os membros fundadores da Companhia de Jesus não marcam, no entanto, uma clara ruptura com o passado eclesial e pastoral da Igreja Romana, representando, antes de tudo, uma síntese das correntes modernas de espiritualidade e devotio, sublinhando a axiologia da pietas da Paixão de Cristo, defendendo uma piedade para a acção e uma piedade para a vida. (MANSO, 2009, P. 35)

Conforme, ainda, Manso (2009), a ordem de Inácio pregava a valorização do indivíduo, defendia a iniciativa, a liberdade e a capacidade crítica. Entretanto, apelava à obediência à Igreja e ao papa romano. Essa aparente contradição se justificaria na medida em que em sua prática se evidenciava a reprovação do Luteranismo e do protestantismo, defendendo a estrutura hierárquica da Igreja romana como uma instituição divina.

A Companhia de Jesus não foi criada com fins para o ensino, sendo esse é inserido a posteriori. Assim, ela é criada com um objetivo missionário de propagar a fé católica. Lembrando que ela nasce em um momento de transformações em diversos setores da sociedade europeia. Segundo Cantos (2009), podemos citar como símbolo dessas mudanças a Reforma Protestante no campo religioso, o fortalecimento das Monarquias Nacionais no político, a descoberta e colonização da América no âmbito econômico, como também

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mudanças no comportamento e no campo das ideias. Fundada em torno de mudanças significativas, a Companhia de Jesus se tornou uma ordem essencial no contexto Português, com contribuições especialmente para a História da Educação.

Dessa forma, apesar de não ser seu objetivo inicial, a Companhia de Jesus, por meio de suas atividades educacionais – educação e instrução –, preparavam toda a formação dos padres, uma vez que os mesmos percorriam diferentes territórios e povos. Para conseguirem alcançar sua missão, por meio da religião e das letras, era preciso uma preparação adequada e rica. Inácio de Loiola, juntamente com outros membros da Companhia, para ajudar nesta formação pensaram em abrir “Casas” ou “Residências” anexas às Universidades, local onde se formariam os novos membros da Companhia. Mais tarde tais “Residências” se transformam em “Colégios”.

Como descrito anteriormente foi devido principalmente à iniciativa de D. João III, que a Companhia estabelece-se em Portugal – a partir de 1540. Como ressalta Rodrigues (1931), com merecimento o monarca é chamado de o pai da Companhia de Jesus. Inácio de Loiola chega e declarar que a ordem existia mais por conta do monarca do que por ele em si. D. João III, além de ajudar a Companhia mostrava e divulgava a todos sobre ela e sobre seu amor e admiração. Assim, recomendava a Companhia a pessoas importantes e com autoridade para que elas também a favorecessem.

Inácio de Loyola era muito agradecido pela dedicação do monarca, o qual muito fez pela sua ordem. Buscava tornar conhecidos os favores do monarca a fim de fazer despertar em todos os integrantes da Companhia um desejo de retribuição a quem foi o grande benfeitor da Companhia. No ano de 1553, enviou a todos os superiores de sua ordem uma carta circular contendo um admirável testemunho do agradecimento para com o monarca.

Olhando à grande obrigação que tôda a nossa Companhia tem, entre todos os príncipes cristãos, ao sereníssimo rei de Portugal, com cujo favor e tão liberal protecção se começou a fundar e se derramou em tantas partes a nossa Companhia, com abundante fruto do divino serviço e espiritual proveito das almas. (Apud RODRIGUES, 1931, p. 592)

Importante ressaltar que os agradecimentos da Companhia estendiam-se aos demais membros da família real, tais como a rainha D. Catarina8 (1507–1578) e os infantes D.

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Catarina de Áustria foi arquiduquesa da Áustria, princesa da Espanha e rainha de Portugal. Casou-se em 1525 com D. João III de Portugal.

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Henrique (1512–1580) e D. Luís, dos quais após os primeiros conhecimentos sobre a ordem, começaram a olhá-la de forma carinhosa.

Logo de início os jesuítas se evidenciaram pela virtude e disciplina. O primeiro jesuíta a adentrar em terras portuguesas foi Simão Rodrigues, o qual também foi o primeiro Provincial da Companhia de Jesus. Dentre os amigos que Simão Rodrigues possuía, é preciso destacar a figura do rei D. João III. Para Rodrigues (1931), os dois tinham uma convivência quase familiar, sendo que o rei sempre consultava Simão Rodrigues sobre seus negócios. Devido a tal amizade e confiança, o Rei promovia Simão Rodrigues a cargos de confiança e honra.

Segundo Rodrigues (1931), muitos escritores foram mal intencionados escrevendo suas criticas com base nas acusações duvidosas. Ainda segundo o autor, Simão Rodrigues durante o tempo que esteve em Portugal, não deu provas de ambição, tendo sempre se ocupado pelo bem e por atividades honrosas.

Percebe-se que o jesuíta Simão Rodrigues muito se dedicou e trabalhou em favor da Companhia de Jesus. Sua atuação foi de suma importância para Portugal. Isto porque, por meio de seu empenho, cativou e conquistou a confiança dos portugueses e, consequentemente, obteve uma boa aceitação da nova ordem. Assim, aos poucos, a Companhia de Jesus se adentrou em Portugal nos domínios de D. João III. Para Rodrigues (1931), não existe em nenhuma parte do mundo um local onde mais se prosperou a nova religião de Inácio de Loiola, do que em Portugal. O próprio Simão Rodrigues afirmava que a Companhia crescera consideravelmente em Portugal, mais do que outra parte do mundo. Com este crescimento, foram se estabelecendo casas e colégios, nas três principais cidades de Portugal, que eram Lisboa, Coimbra e Évora.

Como cita Sousa (2003), em 1551 Inácio de Loyola escreve a Simão Rodrigues solicitando o ensino público em várias cidades de Portugal. A primeira escola pública dos jesuítas é aberta na Casa de Santo Antão. Em 1553 os jesuítas inauguram um Colégio em Évora sendo que mais tarde assumem a direção da Universidade fundada pelo Cardeal D. Henrique. Os jesuítas, por meio de sua rede de escolas públicas que foram se espalhando pelo mundo, obtiveram um papel decisivo no campo da educação. Os colégios foram também um instrumento importante para a introjeção da religião cristã, realizada por meio do ensino. “Importante salientar que os padres da Companhia de Jesus não educaram somente por meio dos seus colégios, mas também, pelo teatro, pela atuação política e literária, pela

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evangelização, enfim, de todas as atividades inerentes à sua posição como missionários." (COSTA, 2004, p. 12)

O conceito inicial da ordem, portanto, seria como um exército de apóstolos o qual se entregavam ao combate ao “vício” e à “salvação de almas”. Segundo Rodrigues (1931), brilhou em seu espírito a ideia fecunda de uma ordem religiosa dedicada à educação literária e moral da juventude. Ele sabia que isso traria benefícios para a sociedade humana e para a Igreja. Tendo em vista o sucesso das experiências do Colégio de Messina9 e do Colégio Romano10, Inácio se lançou a transformar a sua ordem em uma grande associação de educação e ensino, mas sempre conservando a sua feição essencialmente apostólica.

Podemos considerar que o século XVI foi um período em que a Companhia de Jesus se fortaleceu e se fixou. Aos poucos, como cita Costa (2004), os interesses humanos foram se alterando, caminhando em uma direção diferente da religiosa. No século XVII e principalmente no século XVIII, a religião já não era mais vista como anteriormente. Novos interesses sobressaíram com a afirmação da sociedade burguesa, diminuindo o poder da igreja. A sociedade portuguesa presencia uma mudança entre o período do século XVI ao XVIII. Ainda no século XVII, a própria Companhia de Jesus começa a ser alvo de severas críticas vindas de outras ordens religiosas e da sociedade civil.

Dentre os inimigos que a Companhia de Jesus teve ao longo dos três primeiros séculos de existência em Portugal, destaca-se a figura do Marques de Pombal11. Para ele o atraso e subdesenvolvimento de Portugal e das colônias era devido à Companhia de Jesus. Entretanto, segundo Boxer (2002), toda e qualquer dificuldade encontrada por Pombal era atribuída como causa a Companhia de Jesus. Dessa forma, no mesmo local onde a Companhia era vista como desfrutando de mais poder – em Portugal – acaba sendo dizimada dentro das fronteiras do império português. A Companhia acaba, portanto, sendo expulsa de Portugal e das colônias em 1759, pelo Marquês de Pombal (1699-1782). Na sequência, em 1764 também é expulsa da França e Espanha em 1767. Mas, para isso, Pombal teve a ajuda de Dom José I (1750-1777): “Seu sucesso inicial deveu-se em grande parte ao fato de Pombal ter conseguido convencer

9 “Foi em Messina, na Sicília, que em 1548 Inácio de Loiola abriu o primeiro Colégio da Companhia, aquele que inspirou todos os outros. Para o Colégio de Messina foram escolhidas pessoas com uma excepcional preparação [...] todos estes professores, de várias nacionalidades, tinham em comum o facto de terem estudado na Universidade de Paris, razão que explica a opção pela Companhia do Modus Parisiensis. O êxito do Colégio de Messina levou Inácio de Loiola a pensar na criação de um Colégio em Roma que servisse de modelo aos outros e onde se podessem formar os futuros professores da Companhia.” Disponível em: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/jesuitas/_private/hj.htm

10 O Colégio Romano remonta ao ano de 1551.

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dom José de que os jesuítas estavam profundamente implicados numa conspiração destinada a assassiná-lo, malograda em setembro de 1758” (BOXER, 2002, p. 200). A ação do Marquês de Pombal não deve ser vista de forma isolada. Ela é fruto de uma sociedade que mudava sua forma de pensar a religião.

Considerações Finais

A Companhia de Jesus é fruto do contexto do século XVI. Um período da história e, em particular, de Portugal, onde a religião ocupa posição de destaque na sociedade como um todo. Dessa forma, para se entender as ações da Companhia de Jesus se torna essencial o entendimento do período.

A própria edificação da Universidade eborense encontra-se inserida nesse contexto. Ela está relacionada, em um primeiro momento, à urgência que se tinha em combater a crise moral existente tanto na esfera religiosa como na sociedade civil. Honestidade, seriedade e pudor tinham significativa importância na sociedade portuguesa. O crescimento da obra jesuítica junto à sociedade portuguesa está relacionado ao fato de que estava ocorrendo uma transformação da juventude, que demonstrava estar com bons comportamentos.

Percebe-se que os religiosos da Companhia de Jesus tinham uma sólida preparação. Isso pode ser visto ao analisarmos o quanto a família real confiava em suas ações chegando até a solicitar conselhos. Assim, a ordem de Inácio estava para além do religioso. Os mesmos adotavam uma postura de interferência nas atitudes políticas dos príncipes. Tal postura não era bem aceita por todos, pois muitas vezes era vista como algo perigoso devido as influências nas atitudes dos reis.

Durante os estudos realizados, verificamos o quanto foi importante a presença jesuítica no processo de edificação da Universidade de Évora, como também o quanto foi intenso o envolvimento dos padres na Instituição. A própria inserção do ensino foi uma atitude muito bem pensada, visto que, por meio dele, também foi possível propagar a fé católica. Assim, mesmo não sendo objetivo inicial da Companhia de Jesus, foi por meio das atividades educacionais que se preparava o encaminhamento para as missões.

Por fim, acreditamos que compreender o contexto em torno de Portugal e da Companhia de Jesus, no século XVI, colabora nas reflexões acerca não apenas da sociedade portuguesa desse momento, mas, também, das origens da cultura e educação brasileiras, já que houve a atuação direta e indireta de muitos padres jesuítas e outros dirigentes reais no

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período do Brasil Colônia. Dessa forma, acreditamos que compreender a história da cultura portuguesa nesse período é, também, compreender uma parte da origem da história da educação brasileira.

REFERÊNCIAS

BOXER, Charles R. O império marítimo português. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

BREVE História da Companhia de Jesus. Disponível

em:‹http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/jesuitas/_private/hj.htm.› Acesso em: 18 mai. 2012.

CANTOS, Priscila Kelly. A educação na Companhia de Jesus: um estudo sobre os colégios jesuíticos. Dissertação de Mestrado. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2009. COSTA, Célio Juvenal. A racionalidade jesuítica em tempos de arredondamento do mundo: o Império Português (1540-1599). Tese de doutoramento. Piracicaba: Universidade Metodista de Piracicaba, 2004.

DIAS, José Sebastião da Silva. Corrente de sentimento religioso em Portugal (séculos XVI a XVIII). Tomo I, Coimbra: Universidade de Coimbra, 1960.

EXERCÍCIOS Espirituais de Santo Inácio. São Paulo: Editora Loyola, 1985.

MANSO, Maria de Deus Beites. A Companhia de Jesus na Índia (1542-1622): Actividades Religiosas, Poderes e Contactos Culturais. Évora: Universidade de Évora; Macau:

Universidade de Macau, 2009.

PAIVA, José Maria. Religiosidade e cultura brasileira: séculos XVI e XVII. Aduem. Maringá, 2012.

RODRIGUES, Francisco. História da Companhia de Jesus na Assistência de Portugal. Porto: Apostolado da Imprensa, 1931-1950. Volume II, Tomo I.

SOUSA, Jesus Maria. Os jesuítas e a Ratio Studiorum: As raízes da formação de professores na Madeira. Islenha, 2003. Disponível em

‹http://www3.uma.pt/jesussousa/Publicacoes/31OsJesuitaseaRatioStudiorum.PDF.› Acesso em: 12 dez.2011.

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