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20 ANOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL MARIA EUGÉNIA A. ARNALDO

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20 ANOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL MARIA EUGÉNIA A. ARNALDO

Engenheira Civil, Equiparada a Assistente do 2º Triénio Instituto Politécnico de Tomar – Departamento de Engenharia Civil

Quinta do Contador, Estrada da Serra, 2300 – 313 Tomar earnaldo@ipt.pt

SUMÁRIO:

O sector da construção civil e obras públicas foi durante décadas, fruto do conhecimento e sabedoria de mestres, profissionais que podemos hoje chamar de artistas. Com o passar dos tempos, com o evoluir das tecnologias e com o aparecimento de novos materiais, muita desta sabedoria foi ignorada e com ela caíram também em desuso algumas das boas regras de construção.

Recordemos que as grandes obras edificadas ao longo dos séculos, cuja beleza e majestosidade ainda hoje podemos admirar, tinham prazos de execução que muitas vezes ultrapassavam gerações devido à sua dimensão, ao manusear dos materiais e à ausência ou escassez de tecnologia disponível.

Nesta nova Era, em que o evoluir da tecnologia é uma constante, assim como o aparecimento de novos materiais e produtos, é possível realizar-se grandes obras em períodos de tempo relativamente curtos. Contudo, o prazo de execução não é o único desafio que se coloca às empresas do sector. A abertura de fronteiras entre os países membros da União Europeia, foi responsável por mudanças significativas na organização das empresas de construção, com o objectivo de obterem uma participação mais activa nesta nova economia.

Com este trabalho não se pretende fazer um estudo aprofundado das causas que levaram à mudança, nem às mudanças em si efectuadas. Pretendeu-se apenas sumariar essas causas e a evolução sentida nestas duas últimas décadas, com base nas experiências vividas nesse período, não só em trabalhos de fiscalização de obras públicas mas também privadas.

PALAVRAS-CHAVE: Tecnologia, evolução, mudança.

1. INTRODUÇÃO

O sector da construção civil, um dos principais vectores da economia deste país, é um sector que se diferencia dos restantes sectores de actividade económica, tanto em termos produtivos como em termos de mercado de trabalho. A construção civil é uma actividade que se diferencia das restantes, pela diversidade de:

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Clientes, que poderão variar desde o Estado, às Autarquias, do particular que pretende autoconstruir, às empresas multinacionais e promotores imobiliários;

Projectos, caracterizados pelas suas diferenças, o que dificulta de sobremaneira o desenvolvimento de produtos e de processos construtivos;

Produtos, que poderão variar do simples edifício de habitação ao edifício mais complexo com aplicação de produtos inovadores como é o caso das “construções inteligentes”, das vias rodoviárias e das barragens;

Operações produtivas, em que o produto final resulta da interacção de várias especialidades com graus de exigência e tecnologia variados;

Tecnologias, próprias da intervenção na empreitada das várias especialidades e da compatibilização das tecnologias antigas com as novas;

Unidades produtivas, grandes empresas detentoras de meios e tecnologias evoluídas trabalham em parceria com empresas pequenas sem recursos tecnológicos e com a mão-de-obra como principal recurso.

Com a adesão do nosso país à Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1986, verificou-se um forte desenvolvimento no sector da construção civil e obras públicas, sobretudo na década de 90. As mudanças registadas em toda a Europa, nomeadamente a queda do muro de Berlim com a consequente reunificação da Alemanha e, a gradual liberdade de circulação dos cidadãos entre os Estados membros da Comunidade Europeia, vieram intensificar os fluxos migratórios, movidos pela evolução do sector da construção civil e obras públicas. Neste contexto, as empresas portuguesas alargaram os seus horizontes num curto espaço de tempo e puderam expandir-se, tanto no território nacional como no grupo de países da Comunidade.

O surgir deste novo mercado de trabalho, fez sentir às empresas portuguesas a necessidade de se adaptarem às novas políticas de mercado tornando-se competitivas. A estratégia adoptada pela maioria das empresas para fazer face à situação, passou pelo outsourcing ou seja, pela diminuição dos seus quadros de pessoal e pela contratação de empresas menores (subempreiteiros) para realização dos trabalhos da empreitada, reservando ao empreiteiro geral e dono de obra a função de simples coordenação dos trabalhos. Esta estratégia permitiu às empresas dar resposta às empreitadas que tinham em carteira no território nacional e às solicitações provenientes dos países da Comunidade Europeia.

O facto das grandes e médias empresas entregarem de subempreitada as suas obras a pequenas empresas, levou ao crescimento destas últimas, obrigando ao recrutamento de mais pessoal qualificado ou semi-qualificado.

De todas as mudanças verificadas, resulta que a estrutura do sector de construção civil e obras públicas actual, difere significativamente da verificada no início dos anos 90. Assiste-se agora a um aumento na escala de negócios e a uma diversificação e internacionalização da mão-de-obra do sector.

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2. A CONSTRUÇÃO CIVIL E OBRAS PÚBLICAS

A estrutura do sector da construção em Portugal, não é muito diferente do verificado nos restantes países da União Europeia (UE). Este é constituído na maioria, por empresas de pequena dimensão, muitas vezes não especializadas, que recorrem na maioria dos casos a subempreitadas para concretização das suas obras. As empresas de maior dimensão apenas representam cerca de 1% o tecido empresarial português. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 1995 cerca de 67% das empresas classificadas no sector da construção, empregavam apenas 4 trabalhadores. Isto mostra que a nova política adoptada pelas empresas, para fazer face à conjuntura, passa pela crescente diminuição da sua dimensão.

Ao nível da Europa e, apesar de se terem aberto novos caminhos para que as empresas portuguesas do sector se pudessem expandir e progredir, atendendo a que poucas possuem capacidade para fazer face aos desafios, é notória a fraca presença de empresas portuguesas do sector no mercado estrangeiro, o que vem de sobremaneira aumentar a concorrência a nível nacional.

Durante a fase expansionista que se tem verificado desde 1990, consequência do volume de financiamentos provenientes da UE, o mercado de trabalho tem conseguido manter as empresas que sobreviveram às mudanças. Com a redução no volume de financiamentos da UE e, sendo o mercado das empresas portuguesas, um mercado essencialmente nacional, prevê-se para os próximos anos um período de retracção na construção. A contenção de despesas denunciada pelas entidades governamentais deste país, vem pôr fim à fase de expansão que se vinha a verificar, com a construção de grandes infraestruturas rodoviárias e edifícios públicos. Escusado será afirmar que o sector de construção civil e obras públicas, o principal motor económico, se irá ressentir significativamente e com ele toda a economia do país.

A verificar-se esta situação, de redução significativa do volume de negócios e de uma maior exigência do mercado, as empresas terão de repensar a sua filosofia empresarial e, não sendo já suficiente a redução no quadro de pessoal, a adaptação terá de passar, forçosamente, pela modernização da empresa. Esta modernização terá de ser tanto ao nível tecnológico como ao nível dos processos construtivos, mão-de-obra especializada e, principalmente, ter como base critérios de qualidade que a aproximem do seu cliente, antecipando as suas exigências. A melhoria no planeamento das obras, articulados entre os vários intervenientes, situação que nem sempre se verifica, parece-nos ser também um aspecto a ter em conta na modernização das empresas.

A retracção no mercado interno levará à dinamização da internacionalização, obrigando a uma permanente actualização de técnicas de produção, quer sejam de construção, quer sejam relativas ao projecto.

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3. PRODUTIVIDADE VERSUS QUALIDADE

O aumento da concorrência, movido pela abertura de fronteiras entre os países membros da EU, associada à evolução tecnológica verificada desde os finais do Séc. XX, tem levado as empresas à reavaliação dos seus métodos e sistemas de produção, na busca de uma maior produtividade e competitividade. Podemos afirmar que, a este respeito, muito embora os objectivos sejam comuns a todas as empresas, o mesmo não poderemos dizer no que toca aos meios para alcançá-los. Cada empresa é uma empresa e como tal as opiniões divergem.

Para fazer face à concorrência é necessário que as empresas se tornem mais competitivas e, isso passará, forçosamente, pelo controlo de custos e pela adopção das normas da qualidade e da segurança e higiene no trabalho. Um dos grandes travões à produtividade no sector, é sem dúvida, a fraca qualificação da mão-de-obra, que obriga as empresas a disporem de verbas para a formação e informação dos trabalhadores, verbas essas que muitas vezes são escassas.

Importa aqui salientar que muitas das empresas construtoras encaram ainda o controlo tecnológico apenas como uma exigência a ser cumprida, de maneira burocrática e pelo menor preço possível. Esta atitude por parte das empresas, só revela uma profunda falta de informação a respeito desta matéria e o desconhecimento das consequências financeiras que poderão advir para o futuro da empresa, com esta tomada de posição. Queremos crer que as empresas que têm esta postura perante esta matéria, não vingarão neste sector do mercado porque os clientes são cada vez mais informados e exigentes com a qualidade do produto que pretendem, recorrendo, cada vez mais, ao apoio jurídico nos casos em que se sentem lesados.

Recordamos que muitas das empresas deram início ao processo de certificação, principalmente as de pequena e média dimensão, por se encontrarem em posição desfavorável em termos de concorrência com as de grande dimensão. Consideraram ser este o único meio de se manterem na “corrida” ao mercado de trabalho nacional. Mesmo assim, estamos em crer que há muitas empresas que ainda não admitem que o controlo tecnológico é muito mais do que um simples amontoado de papéis que é necessário preencher de modo a dar cumprimento ao estabelecido na Lei e/ou em Caderno de Encargos.

A retracção no mercado interno levará à dinamização da internacionalização, obrigando a uma permanente actualização de técnicas de produção, quer sejam de construção, quer sejam relativas ao projecto. A qualidade e inovação apresentada por uma empresa será factor determinante do seu sucesso face aos seus concorrentes.

Quando falamos em cadeia produtiva, estamos a falar obrigatoriamente de três sectores básicos: • O projecto e planeamento;

• A construção;

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O sector do controlo é aquele que regista a forma como foi realizada/construída a obra, aquele que atesta a qualidade da obra, não podendo as empresas alhear-se deste facto uma vez que poderá ser este a ditar a continuidade ou não da empresa no mercado de trabalho.

4. O CUSTO DA QUALIDADE

Reconhecemos que em muitas empresas de construção civil portuguesas, seja difícil a implementação de programas da qualidade, por estes requererem mudanças profundas nos seus padrões culturais. A dificuldade reside essencialmente na resistência de alguns sectores da organização.

A mudança acontece, frequentemente, em momentos de crise organizacional das empresas, por razões internas ou externas. São estes momentos os mais propícios à mudança, porque fazem mergulhar a empresa numa reflexão profunda sobre as razões que conduziram àquela situação, acabando por concluir que a solução poderá estar na mudança em termos de organização da empresa.

A implementação de sistemas de gestão e a certificação têm vindo a ser divulgadas no mercado, como meios para as empresas obterem qualidade do produto. A certificação deixou de ser apenas uma vantagem competitiva e passou a ser também um critério para o seleccionador de prestadores de serviços. Este facto tem-se observado, sobretudo, quando se trata de diferenciar uma empresa de outra, concorrente do mercado, transmitindo ao cliente a ideia de empresa moderna, organizada e com capacidade para fornecer um produto que satisfaz todos os requisitos.

A implementação dos serviços de controlo da qualidade em obra de construção civil implica investimentos significativos que oscilam em média entre 0,5% a 1,5% do seu custo total, podendo estes variar com o tipo de obra, a padronização e o nível de acabamentos. O que parece ser um valor elevado, pode efectivamente revelar-se insignificante no final da obra, quando se toma consciência de que os gastos por aplicação de materiais não conformes, juntamente com a aplicação defeituosa de materiais, ascendem a cerca de 12% do valor da construção para os primeiros cinco anos de vida da construção (período de garantia obrigatório por lei).

A experiência tem-nos revelado que a qualidade da obra e a satisfação do cliente proporcionam, a quem a construiu, ganhos inestimáveis, fazendo jus ao ditado que diz “sai mais caro fazer mal, que fazer bem”.

5. OS PROBLEMAS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Com base no anteriormente referido, estaremos em condições de responder à tão problemática questão – Onde residem os problemas da construção civil?

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Para se encontrar uma resposta a esta questão é necessário recordar que, nenhuma obra de construção nasce espontaneamente. Todas as obras têm um início, um meio e um fim e, nesse percurso, existem vários intervenientes ligados aos processos. Os intervenientes que contribuem para a eficácia dos processos envolvidos num empreendimento, são:

1. O dono de obra, como entidade responsável não só pela adjudicação dos projectos como também pela adjudicação da obra;

2. O projectista, como entidade responsável pelo estudo e elaboração do projecto, respeitando sempre as premissas do dono de obra no que respeita ao objectivo da construção;

3. A fiscalização, como entidade responsável pelo controlo da execução da obra, nomeadamente no respeito do projecto e da qualidade dos materiais e processos construtivos;

4. O empreiteiro, como entidade responsável pela coordenação e execução de todos os trabalhos, com fim à obtenção do produto final.

Perante factos verificados em muitas obras públicas, situações relatadas na imprensa e na comunicação social, é lícito questionar a razão porque determinada obra foi concluída e apresenta de imediato um baixo nível de qualidade, com anomalias evidentes até para o mais leigo na matéria. Será o Empreiteiro desconhecedor das boas regras de construção, conhecimento básico imposto pelos projectistas para colmatar qualquer falha ou falta de informação no projecto? Será a entidade fiscalizadora “cega” ao ponto de não detectar atempadamente as possíveis anomalias, impondo ao empreiteiro medidas para a sua correcção?

Porque razão tem o empreiteiro tanta dificuldade na execução de uma obra com qualidade? Quando questionado o empreiteiro, a regra é afirmar que o projecto era deficiente, recaindo portanto toda a responsabilidade sobre os projectistas.

Quando questionamos os projectistas da razão porque o projecto apresentava tantas lacunas, a resposta lança responsabilidades sobre o dono de obra, por este não facultar os elementos necessários e pela sua incoerência de ideias.

Esta matéria requer mais do que uma simples reflexão sobre o assunto, tanto mais que é muitas vezes razão para se tecerem críticas severas aos intervenientes no processo e também pelas consequências financeiras que por vezes estas questões acarretam.

O conceito “qualidade” deverá ser entendido como principal objectivo a atingir por todas as áreas envolvidas no processo construtivo, passando portanto, pela construção em si, pelo seu processo de gestão, pelos materiais e pelas actividades relacionadas com os projectistas e claro, pelo promotor da obra vulgo “dono de obra”.

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Estamos convictos que as mudanças no interior das empresas construtoras só terão o seu real efeito se se concretizarem igualmente, mudanças nos processos a montante destas. Isto é, não será possível concretizar uma obra com qualidade se todo o processo que antecede a construção, não apresentar também ele, a qualidade necessária. Falamos dos projectos cujos elementos são deficientes em muitos dos casos, falamos de projectos que não se adequam à realidade da obra, falamos de projectos incompletos, de projectos cujas especialidades não são compatíveis.

Para além da questão dos projectos, consideramos que seria importante rever a posição do promotor relativamente a todas estas questões. O baixo custo do projecto, associado ao curto prazo solicitado pelo promotor para entrega do mesmo, poderá ser a razão apontada como causa principal para a existência de projectos de fraca qualidade. As alterações de projecto executadas a pedido do dono de obra, no decorrer da construção, obrigando muitas vezes à adopção de soluções de recurso nem sempre as mais adequadas, contribuem significativamente para um produto final de qualidade inferior.

É interessante comparar os valores obtidos pela dupla de investigadores espanhóis, J. V. Chamosa e J. R. Ortiz, em 1984 e, pela investigadora, igualmente espanhola, A. S. Ortiz em 1997, quando juntaram à informação existente de vários países europeus relativamente às principais fontes de anomalias na construção, os dados relativos à situação espanhola. Estes estudos permitem-nos ter uma visão sobre a média europeia, no que respeita às origens das anomalias na construção (gráficos 1 e 2).

Gráfico 1 – Fontes de anomalias na construção, (Henriques, F. M. A. – A noção de qualidade em edifícios, 2001).

Projecto (42%) Execução (28,4%) Materiais (14,50%) Uso (9,5%) Projecto (40% - 45%) Execução (25% - 30%) Uso e manutenção (10%) Outras causas (4%) Materiais (15% - 20%) Vários (5,6%)

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Gráfico 2 – Origem dos defeitos na construção, (adaptado, Machado, A. P. – Gestão da qualidade na construção,

2004).

De acordo com Mawakaye (1993, apud Moraes, 1997), investigadores brasileiros, 30% dos problemas encontrados pelas empresas são atribuídos a falhas de projecto e de especificações, 16% à mão-de-obra, 16% a serviços de terceiros, 12% ao uso de manutenção e 9% aos materiais utilizados (gráfico 3).

Gráfico 3 – Causas de anomalias na construção, (Matos, K. – Mudanças tecnológicas em empresas construtoras e

sua relação com os processos projetuais., 2005).

Face à inexistência de dados estatísticos fidedignos em Portugal sobre as principais causas de deficiências nas nossas construções, somos obrigados à análise dos elementos disponíveis relativamente a outros países europeus (gráfico 4), na esperança de que as tendências reveladas se mantenham quando extrapolados para o caso português.

Com base nos valores estatísticos dos países europeus representados no gráfico 4, foi possível obter-se valores da média europeia. O gráfico 5 ilustra esses valores médios, onde é bem visível a responsabilidade que cada componente tem relativamente à origem da maioria das anomalias verificadas nas construções. Projecto e Especificações (30%) Mão-de-obra (16%) Serviços de terceiros (16%) Manutenção (12%) Materiais (9%)

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50% 40% 50% 50% 30% 40% 40% 45% 25% 40% 25% 30% 60% 50% 35% 40% 25% 20% 15% 10% 10% 10% 10% 15% 10% 10% 5% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% Alemanha R. F. A. Alemanha R. D. A. E. U. A. Finlândia França Grã Bertanha Holanda Noruega Vários Uso Materiais Execução Projecto

Gráfico 4 – Valores europeus das principais causas de anomalias na construção, (Calavera, J. - Qualidade na

construção, Ordem dos Engenheiros, 2000).

Gráfico 5 – Valores médios europeus das principais causas de anomalias na construção

Como se pode constatar através dos vários estudos aqui apresentados, é efectivamente o projecto a principal causa apontada como responsável pelas anomalias na construção, seguida com uma pequena diferença em termos percentuais, pela execução e por último, responsável por 15% das anomalias, surge a má qualidade dos materiais.

Perante a realidade dos números, somos muitas vezes levados a questionar a entidade que promove a construção ou a entidade gestora do projecto, mas as respostas são, regra geral, evasivas ou remetem as responsabilidades para os projectistas. Nesta matéria partilhamos da opinião, já manifestada por alguns projectistas, “as deficiências de projecto são na maioria devidas ao reduzido prazo para elaboração destes e às indefinições por parte dos promotores/gestores das obras”.

Tendo por base a minha experiência ao longo destes 20 anos no contacto com variados projectos e obras, poderei referir aqui algumas das falhas mais correntes ao nível dos projectos:

• Falta de coordenação entre projectos das várias especialidades, que dá origem a situações embaraçosas em obra, por vezes de difícil resolução;

Projecto (43%) Execução (38%) Materiais (14%) Outras causas (5%)

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• Soluções arquitectónicas inadequadas à funcionalidade dos edifícios, criando problemas em termo de manutenção futura do edifício;

• A incorrecta escolha dos materiais a aplicar;

• Falta de pormenorização do projecto ou existência de pormenores deficientes ou inexequíveis; • Projectos com incorrecções e muitas vezes incompletos;

• Cadernos de encargos mal elaborados e incompletos, muitas vezes com disposições contraditórias e na maioria dos casos bastante genéricas;

• Deficiências no cálculo estrutural por incorrecções na atribuição de cargas ou tensões; • Variação brusca de secção em elementos estruturais;

• Ausência ou insuficiência de juntas de dilatação, ou mesmo mal projectadas.

Quando se faz o controlo da construção, um bom projecto é a peça fundamental para a boa concretização da obra e principalmente, uma concretização que cumpra os requisitos de qualidade. Entendemos pois, ser de extrema importância, ou até mesmo, fundamental, a cedência à empresa construtora, de um projecto íntegro sobre o qual não teremos a menor dúvida em dizer “cumpra-se o projecto” ou então estampar-se o selo de “BOM PARA EXECUÇÃO”.

Na concretização desta ideia, entendemos que o dono de obra é o interveniente que mais poderá contribuir para a melhoria dos projectos de execução. A clareza nas directrizes dadas aos projectistas, sobre o objectivo da obra, a cedência de todos os elementos necessários à elaboração do projecto, é fundamental. Referimo-nos aqui, à cedência de elementos/informações sobre o terreno, sobre todas as condicionantes que poderão de algum modo influenciar na concepção do projecto e no respeito pelo projectado, se este for ao encontro do estabelecido pelo dono de obra.

Reconhecendo que, raramente uma obra é adjudicada com base num projecto isento de deficiências, falhas e incoerências, consideramos que a figura do revisor de projecto poderia dar um contributo importante na eliminação de muitas das deficiências a montante da adjudicação da obra. Desta forma, haveria ganhos não só ao nível da qualidade final do produto, pelo facto de se terem eliminado as deficiências atempadamente, mas também ao nível financeiro, pela eliminação, à nascença, de falhas que posteriormente dariam origem a trabalhos a mais na empreitada.

No que respeita à execução e, tendo presente os 16% de anomalias devidas à execução de trabalhos por mão-de-obra não qualificada, verificamos que esta é uma questão ainda por vencer e cada vez mais notória nas construções. Pelo facto dos empreiteiros recorrerem frequentemente à mão-de-obra contratada a empresas de trabalho temporário, é também frequente encontrar-se trabalhadores em obra sem qualificação para a tarefa que realizam. A postura do “desenrascanso” típica dos portugueses, em

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situações que lhe são desconhecidas, não abona a favor da qualidade, gerando muitas vezes situações indesejáveis e onerosas, tanto para o empreiteiro como para o dono de obra.

As deficiências mais correntes na execução de edifícios têm a sua origem, na maioria dos casos, na: • Utilização de mão-de-obra não especializada, desconhecedora das técnicas e processos

construtivos;

• Deficiente aplicação dos materiais;

• Aplicação de materiais defeituosos ou de qualidade inferior; • Deficiente interpretação do projecto;

• Deficiente planeamento e coordenação dos trabalhos;

• Introdução de alterações ao projecto no decorrer da execução sem a devida análise; • Falta de exactidão na implantação do edifício e na dimensão dos elementos estruturais.

6. CONCLUSÃO

Com financiamento ou sem financiamento, os “Projectos” deverão ser encarados com responsabilidade por todos os que intervêm no processo. Os projectistas deverão satisfazer as pretensões do dono de obra, aconselhando-o sempre que entendam necessário, quer no que respeita à arquitectura quer no que respeita às soluções construtivas. É obrigação do projectista adequar o projecto ao local em que este será edificado e elaborar um projecto devidamente pormenorizado, não deixando ao critério do empreiteiro a resolução de um qualquer detalhe, por mais simples que o considere.

O dono de obra, por sua vez, não deverá descorar da sua responsabilidade, não esquecendo que a qualidade do produto final também depende de si e do modo como intervém no processo. Para minorar as falhas que são frequentemente detectadas em obras públicas, durante a execução, deverá realizar antes de lançar a concurso, qualquer obra, uma revisão do respectivo projecto. Como entidade conhecedora da realidade, estará em melhores condições para detectar qualquer erro ou incompatibilidade existente no projecto. O projecto lançado a concurso deverá ser o projecto de execução e não um projecto que, embora intitulado de execução, apenas é um projecto de licenciamento.

Acreditamos que qualquer obra adjudicada com um projecto que satisfaz os requisitos relativos à aptidão ao uso e às exigências técnicas e legais, terá a sua qualidade melhorada e verá o seu valor final aproximar-se do valor previsto.

A postura do empreiteiro durante a realização da obra, poderá fazer toda a diferença entre um produto final isento de defeitos, dito com qualidade e um produto sem qualidade, independentemente do nível de

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qualidade atribuído ao projecto. Com isto pretende-se dizer que, é possível obter-se um produto final com qualidade, obviamente a um preço mais elevado, desde que o empreiteiro tenha como princípio, uma filosofia que preze as boas práticas de construção. A chave do sucesso nestes casos, está associada à capacidade técnica dos profissionais, ao longo de toda a cadeia hierárquica.

Neste campo, importa referir a importância de seleccionar a empresa que melhores capacidades possui para a realização da obra. A regra estabelecida por lei, de adjudicação da obra pela proposta mais baixa, revela-se muitas das vezes a pior das opções, por não corresponder às expectativas esperadas pelo dono de obra. Muitas vezes, a proposta mais baixa conduz a situações indesejadas, pela fraca capacidade, técnica e financeira, reflectindo-se no alongar de prazos de execução e na fraca qualidade dos trabalhos.

Reflectindo sobre a questão, será que se verificaram mudanças significativas no sector da construção civil e obras públicas nestes últimos 20 anos? Embora sejamos tentados a dizer – não, deveremos colocar a mão na consciência e saber reconhecer que efectivamente houve algumas melhorias. No entanto e, infelizmente, há erros que se perpetuam. Continua a adjudicar-se obras com projectos de execução incompletos, como acontecia há duas décadas atrás. Exige-se agora a elaboração do programa de qualidade das obras, coisa que nem se falava nessa época, mas na realidade os erros de execução sucedem-se na mesma e a qualidade do produto final continua a ser fraca.

Pode-se então questionar – está tudo na mesma? Não!... Pelo menos a certificação de qualidade das empresas de materiais dá-nos alguma garantia de que o produto que adquirimos tem qualidade, no entanto o mesmo não poderemos dizer em relação às empresas de construção, cuja qualidade do produto final continua a ser uma incógnita. Isto porque a aplicação de produtos de qualidade só por si, não garante um trabalho isento de defeitos. É fundamental associar aos produtos a qualidade na aplicação.

Apesar dos contratempos, devemos reconhecer que foi dado um grande passo na melhoria da qualidade das obras de construção civil, mas consideramos que muito há ainda a fazer nesse sentido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HENRIQUES, Fernando M. A. (2001) – Noção de Qualidade em Edifícios. Comunicação ao Congresso Nacional da Construção. Lisboa. IST, 2001.

GARCIA, Cilene de C.; LIBORIO, Jefferson B. L. (1998) – A incidência de Patologias Geradas pela Falta de Controle e de Qualidade dos Canteiros de Obras. Congresso Latino-Americano, Tecnologias e Gestão na produção de edifícios – Soluções para o terceiro Milénio. Brasil. E. P. U. São Paulo, 1998.

MATTOS, Karine G. S. (2005) – Mudanças Tecnológicas em Empresas Construtoras e sua Relação com os Processos Projetuais. Dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação em arquitectura e

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Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina para obtenção do grau de Mestre em Arquitectura e Urbanismo. Santa Catarina. Florianópolis, 2005.

MACHADO, Ana P. (2004) – Qualidade na Construção Aplicada à Geotecnia. Dissertação apresentada na Universidade de Coimbra para obtenção do grau de Doutor em Ciências de Engenharia, Especialidade em Geotecnia e Fundações. Coimbra. UC, 2002.

www.revistasim.com.br, Outubro 2006.

www.gee.min-economia.pt, Outubro 2006.

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